Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br
Às vezes eu não consigo visualizar imediatamente a dificuldade que muita gente têm de entender certos conceitos que parecem ser auto-explicativos.
Um caso que me vem à cabeça, especialmente, é o tal do ‘Volume Realista’ – e aí eu me lembro que poucos audiófilos e melômanos assistem música ao vivo, seja ‘com pouca frequência’ ou ‘nunca’. E ainda menos desses conhecem o som de um instrumento tocando presencialmente.
Ninguém precisa ter um filho adolescente em casa que se apaixonou por dar vazão à toda sua ‘juventude’ em cima de uma bateria, para poder sacar o que é o volume de som realista de uma bateria – e ser odiado pelos vizinhos… Existem várias maneiras de se ouvir, ver, se conscientizar e entender o que é o volume de som de uma grande variedade de instrumentos musicais, a maioria dos que são usados na música que ouvimos diariamente.
Não precisa fazer como eu, que fui em um funeral militar nos EUA, anos atrás, e tive o prazer dúbio de me conscientizar de como é o som de uma gaita de foles escocesa, ao vivo e ‘à cores’ (na sequência você fica vendo cores durante alguns minutos, quando fecha os olhos…). Gaita de foles tem um som harmonicamente desarrazoado e tão alto, que a hora que o cara soltou a primeira nota, não sobrou nenhum animal de estimação na vizinhança, e eu quase engoli o chiclete! Certamente foi uma experiência que eu nunca achei que iria ter na vida…
Música ao vivo pode te informar sobre uma infinidade de aspectos sobre qualidade musical e sonora, com facilidade, se você prestar atenção. Mas o mais óbvio é o volume realista dos instrumentos. Acho que muitos audiófilos gostam de avaliar e regular seus equipamentos com vozes e violão acústico, porque todo mundo já ouviu ao vivo na vida de uma maneira ou de outra – mas isso é insuficiente porque não representa uma enormidade de aspectos, harmônicos e espectro de frequências respondidas por um sistema de som, etc, e podem incorrer ao erro! Veja, existe até fabricante de caixas acústicas que é violonista acústico amador, e esqueceu que suas caixas precisam de um grave correto, com bom corpo e articulado – e a gente fica pensando se a culpa é porque ele é focado na faixa de frequências de seu violão…rs…
Lembro até hoje quando ouvi de perto uma bateria sendo tocada ao vivo, e fiquei embasbacado com o deslocamento de ar, ataque, transientes, texturas. Foi uma verdadeira aula! Assim como sentar lá no fundo de um auditório de uma orquestra sinfônica e, em uma passagem bem suave, sentir no estômago os graves de um naipe de contrabaixos acústicos sendo tocados com arco, suavemente, e perceber a quantidade de informação e harmônicos que têm nessas frequências, mesmo em baixos volumes! Ou quando fiquei minutos de olhos arregalados assistindo bem de perto uma roda de velhinhos tocando choro em uma praça aberta, em uma feira de artesanato! Ou tomando um café espresso em um bar chique – e vazio naquele momento – perto de um contrabaixo acústico sendo tocado solo, com toda sua riqueza harmônica e de recorte, e o quão feliz o baixista ficou de ser notado! Ou um sax solo muito afinado em um corredor de estação de metrô – que ninguém prestava atenção – e o quão valorizado o cara se sentiu quando eu (só eu) parei para assistir e ouvir, e deixar uma nota de 50 na caixa do instrumento, que estava no chão! Ou o caso do restaurante grego lotado, onde um velhinho tocava – muito bem aliás – uma espécie de ‘bandolim’ grego (que eu vergonhosamente não sei o nome), com uma rica técnica de dedilhado, e eu fui o único que aplaudiu!
Aprendi muito com todas essas experiências! E muitas outras!
Música pode ser ouvida – e você aprender com ela e sobre ela – em vários lugares, acessíveis à grande maioria das pessoas, na maioria das grandes cidades. São bares de MPB, de jazz, concertos de música clássica de solistas, duos, trios, quartetos, conjuntos de câmara, grandes orquestras sinfônicas, corais. Grandes e médias cidades têm até apresentações gratuitas, ou super baratas, abertas a todos.
Ouçam como tocam todos esses, e como eles soam, seus Volumes Realistas, a realidade de seus instrumentos.
Tenham um pouco de espírito crítico, percebam as nuances, texturas e detalhes dos instrumentos e de suas técnicas – e aí suas audições de seus sistemas e fones de ouvido se tornarão imensamente mais ricas e prazerosas. E corretas.
Conhecimento, Percepção, Compreensão = Qualidade.
Como estou obviamente falando do som de instrumentos acústicos, o que é, então, o tal ‘Elefante na Sala de Visitas’? Aquele tal elefante da piada, que as pessoas ficam constrangidas de falar sobre? Bom, esse é a Música Amplificada e a Eletrônica. Mas o papel que elas têm nisso tudo, é assunto para outro artigo.
Bom 2023 para todos!