Teste 1: PRÉ-AMPLIFICADOR P1F E POWER A2700 ELIPSON

Teste 2: CAIXAS ACÚSTICAS AUDIOVECTOR QR 5
junho 5, 2023
TOP 5 – AVMAG
junho 5, 2023

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Foi com um misto de curiosidade e interesse que recebi a proposta de testar o primeiro conjunto de pré e power desenvolvidos pela empresa francesa Elipson.

Nossos leitores assíduos sabem que a Elipson é conhecida pela fabricação de caixas acústicas desde 1938, e que nos anos 50 passou a investir forte em desenvolvimento e projetos que foram considerados ‘futuristas’ pelo seu designs ousados e pelo uso de materiais diferenciados na construção de seus cones, e nas soluções de amortecimento de gabinetes.

Por décadas, a Elipson esteve voltada apenas para o mercado Francês, já que toda sua produção anual era consumida em seu próprio país. Foi apenas na virada do século que a empresa começou a dar passos tímidos além de suas fronteiras.

E apenas em 2015 começou a diversificar sua linha de produção, com a apresentação de seu primeiro toca-discos e, agora, foi dado mais um passo com o lançamento de seu primeiro pré e power.

Batizados de P1F e A2700, o pré e o power Elipson seguem a tradição desse fabricante de criar uma ‘identidade’ visual que diferencie todos os seus produtos da intensa concorrência mundial.

Diria que o design de ambos é muito discreto, com um estilo limpo e, o mais importante: muito funcional. Não precisamos sequer ler seus completos manuais para colocar esse conjunto a funcionar.

Por exemplo: para a escolha da entrada que estiver comutada, basta girar o grande botão da esquerda para ver aparecer no painel central todas as entradas disponíveis. Assim que você identifica a entrada desejada, o painel ficará piscando, bastando pressionar levemente esse botão para confirmar sua escolha. Simples e altamente eficiente em termos de comando.

O botão da direita é o de volume, com leitura em decibéis começando em -60 dB e indo até +12 dB. E o volume é aumentado em 0.5 dB a cada toque. E para sua segurança, e das caixas acústicas, não adianta apertar e segurar o volume no controle remoto, que ele não responderá a esse comando. Para evitar sustos, o usuário necessita ir apertando (ainda que rapidamente) e soltando para que o procedimento seja aceito. Eu aprecio muito esse cuidado, pois assim você pode com total segurança achar o ponto ideal de cada gravação. Principalmente para quem possui salas compartilhadas com toda a família, ou querem ouvir música na calada da noite, sem acordar e assustar a família.

Depois que você se familiariza com o controle, se você não tiver paciência, pode usar o comando bem rápido e você irá rapidamente ter alterações de 2 em 2 dB.

O P1F tem a opção de duas entradas RCA e uma entrada XLR, além da opção de adicionar ao pacote um estágio phono MM/MC ou um DAC baseado no chip Sabre ESS9028Q2M, com entradas digitais RCA (coaxial), ótica (TosLink) e USB.

Já o amplificador A2700 é ainda mais limpo em seu design que seu respectivo par. Para ter um gabinete tão compacto como o do pré de linha, o fabricante optou pela topologia classe D, oferecendo uma potência de 400 Watts em 8 ohms por canal, em plena carga com 1% de distorção. E com 100 Watts de potência, apenas 0.005% de distorção.

O power possui entradas RCA e XLR – no entanto, o fabricante aconselha que se o power for usado com o P1F, o ideal será utilizar a opção XLR. O fator de amortecimento, segundo o fabricante, é 1000, e ele suporta picos de curta duração de até 900 Watts.

E para aqueles que desejam ainda mais potência, o fabricante recomenda o uso de um segundo A2700, em mono, com até 1400 Watts por canal.

Para o teste, utilizamos o CD-Player Arcam SA50 (leia teste na Edição de Aniversário 295), e também o CD-Player Line Magnetic LM-515 Mk2 (leia teste na edição 294), ambos ligados ao P1F com os cabos da Sunrise Lab, e os novos top de linha da Virtual Reality (RCA e XLR). As caixas utilizadas foram Audiovector QR 5 (leia Teste 2 nesta edição), Wharfedale Linton 85 Anos (leia teste na edição 295), Harbeth 30.2 XD (leia teste na edição de julho de 2023), e Estelon X Diamond Mk2.

Depois de integralmente amaciados (180 horas ambos) eu, por pura curiosidade, cheguei a separar o par, na mera tentativa de descobrir se algum deles é que ‘carregava’ o outro, mas rapidamente percebi que não. O projeto foi todo muito bem executado, mostrando que ambos até podem trabalhar separados, mas juntos parecem ser a combinação perfeita.

Então decidi apenas publicar minhas observações do conjunto, e não separados.

Assim como o streamer, sobre o qual mensalmente escrevo que ainda existe espaço para ‘lapidações’ antes que ele possa realmente substituir a mídia física digital (óbvio que falo de níveis Estado da Arte), os amplificadores classe D também tem alguma lição de casa a ser feita. Mas também está cada vez mais claro e audível, que os fabricantes que dominam bem essa topologia estão caminhando a passos largos para resolver as pendências ainda presentes.

E quais são essas ‘pendências’? As mesmas que o digital levou décadas para solucionar. O que mais sinto falta nos amplificadores classe D é um melhor corpo harmônico – essa é ainda a maior pedra no sapato do digital, pois é fácil de perceber como todos os instrumentos e naipes de instrumentos soam menores do que na realidade.

E aí entramos na questão crucial do hi-end: é possível denominar um produto como alta fidelidade se ele ainda não atingiu o ponto de fazer nosso cérebro acreditar que estamos ‘vendo’ o que estamos ouvindo? Nosso cérebro não se engana. E sabe, como muitos descrevem, essa sensação de tudo estar corretamente apresentado e, no entanto, não nos levar ao ponto de imersão? A falta de calor, naturalidade ou musicalidade. É a maneira que encontramos para justificar que aquele sistema não nos seduziu o suficiente.

Os primeiros projetos de amplificadores classe D eram notórios em apresentar a música ali, e o ouvinte do lado de cá. Hoje, em gravações extremamente bem captadas e mixadas, com pequenos grupos, os melhores Classe D, conseguem enganar nosso cérebro. Mas não por todo tempo, pois quando ouvimos gravações tecnicamente bem resolvidas, mas não excepcionalmente, imediatamente nosso cérebro volta a nos lembrar se tratar de reprodução eletrônica.

E a segunda questão acho que tem a ver mais com a obsessão de distorções cada vez menores no Classe D, que melhoram impressionantemente o silêncio de fundo, mas correm o risco de passar do ponto, perdendo o ponto de equilíbrio entre a transparência e a naturalidade.

Não entrarei no mérito do percentual de audiófilos que querem esse grau de naturalidade, pois sei bem que uma grande maioria busca em seus sistemas o máximo de transparência. Para esses, acredito que a amplificação Classe D, assim como o digital (em streamer e mídia física), já atingiu plenamente esses objetivos. E, pelo crescimento exponencial dos projetos Classe D, acredito que o audiófilo com esse perfil seja maioria hoje!

Como os Elipson soam conjuntamente?

Em uma única palavra: Surpreendente!

Não estava preparado para o que ouvi desse conjunto, nessa faixa de preço. Pois ainda que a maior qualidade desse conjunto seja seu alto grau de transparência, permitindo ao ouvinte ‘dissecar’ as gravações, o ponto de equilíbrio entre transparência e naturalidade não foi rompido. Essa foi a mais grata surpresa: ao me familiarizar com esse conjunto, e entender sua assinatura sônica, foi possível que essa ruptura não ocorreu justamente pelo seu excelente equilíbrio tonal.

Deixe-me recordar algo que, para muitos de vocês leitores novos, certamente ainda não foi totalmente memorizado: quanto melhor o equilíbrio tonal, maior a possibilidade de termos uma boa neutralidade.

E neutralidade, ao contrário do que muitos audiófilos pensam, é uma meta que deveria ser buscada sempre. Pois ela permitirá que tudo que você aprecia musicalmente, não seja alterado pela coloração de um setup. E quando essa neutralidade surge no setup, também temos um equilíbrio maior entre transparência e naturalidade – o que, acredite meu amigo, é ótimo!

E esse conjunto da Elipson atingiu, e bem, esse ponto de equilíbrio tão crucial!

Em sua faixa de preço foi surpreendente a qualidade do soundstage, principalmente no foco, recorte, apresentação de ambiência, largura e altura do palco. Faltou aquela maior profundidade, que é sempre bem vinda em música clássica. Mas os planos, graças ao foco e recorte cirúrgicos, estão bem delineados.

O que nos surpreendeu foi como o power Elipson ‘domou’ as 4 caixas utilizadas no teste, e as direcionou bem ao lhes fornecer um sinal muito correto e coerente em todos os quesitos da nossa Metodologia.

A apresentação de texturas foi outra bela característica desse conjunto. Pois conseguiu, assim como no equilíbrio tonal, domar o grau de apresentação de paleta de cores de cada instrumento com suas intencionalidades. Confesso que não esperava esse grau de textura em um setup de nível intermediário! Ombreando com prés e powers mais caros!

Se existe um quesito em que o classe D nunca teve problema em reproduzir, foram os transientes. Aqui, os Elipson são referência para qualquer pré e power de qualquer nível de preço. O ouvinte se sentirá nas nuvens ao observar a facilidade e agilidade na apresentação de ritmo e tempo. Ouvi alguns discos de percussão e muitos pianos solo, e todas as apresentações soaram impecáveis e precisas!

A dinâmica, tanto a micro como a macro, são corretamente apresentadas, sem nenhum resquício de falta de degraus nos crescendos e nas sustentações, mesmo que por longos períodos. E na micro, graças a seu alto grau de transparência, nada se perde! Desde barulhos triviais que ocorrem no momento da gravação, como aqueles quase sussurrados que muitas vezes em outros sistemas passam despercebidos.

E o corpo harmônico, ainda que seja o item a ser alcançado, é tão bom quanto de qualquer DAC Estado da Arte, atual. O que significa muito, meu amigo, pois esse power classe D não custa o preço de um DAC Estado da Arte! E sim uma fração do preço.

A materialização física do acontecimento musical (organicidade), só não é maior pela limitação, como já disse, do corpo harmônico. Mas que, em gravações excepcionais tecnicamente, nos coloca com os músicos em nossa sala!

CONCLUSÃO

Já fui questionado centenas de vezes por inúmeros leitores, se não somos demasiadamente exigentes na maneira que avaliamos os produtos em teste. Entendo perfeitamente que possamos passar essa impressão a muitos de vocês.
Mas, pelo tamanho territorial do país e a dificuldade em ouvir o que desejamos comprar em condições adequadas, nos levaram a buscar editorialmente essa rigorosidade na maneira de avaliar e compartilhar com vocês nossas impressões.

Então, é preciso lembrar sempre que nossas conclusões se referem ao que ouvimos de cada produto ligado a seus semelhantes (em preço e performance). E apenas para fechamento de nota (se o produto apresenta maior potencial), utilizamos algum dos nossos produtos de Referência, apenas para saber o limite de performance desse produto em teste.

No caso deste conjunto Elipson, a mais importante conclusão que chegamos é que seu grau de compatibilidade com fontes digitais, cabos e caixas foi excelente! E provavelmente essa compatibilidade tem a ver com seu grau de neutralidade, que foi muito além de nossas expectativas. Porém sabemos que neutralidade é ainda hoje um ‘atributo’ difícil para quem jamais escutou um setup com alto nível de neutralidade. E já dediquei várias páginas falando de seus benefícios, e quão poucos fabricantes estão trilhando essa estrada no momento.

Se você está indo nessa direção, sugiro que ouça esse conjunto da Elipson em seu sistema, para ver se ele é compatível com suas fontes (seja analógica ou streamer), cabos e caixas.

O que alerto é que, com esse pré e power, será possível realizar uma ‘tomografia’ sonora de seu sistema e ver se é o que você deseja ou não. Ele lhe dará a noção exata do que a neutralidade pode proporcionar a um sistema em que tudo esteja na mesma direção.

E quando essa conjunção ocorre, cuidado, pois é muito difícil voltar atrás!


PONTOS POSITIVOS

Um pacote extremamente bem desenhado e executado.

PONTOS NEGATIVOS

Feitos para trabalhar em conjunto, para extrair o melhor de cada um.


ESPECIFICAÇÕES – ELIPSON P1F

Voltagem21 dBu (18.8 dBV) @ THD=1%
Crosstalk<-100 dB até 10 kHz
Impedância de entrada (balanceada / não-balanceada)500 kΩ / 1 MΩ
Relação Sinal/Ruído102 dB (A) @ 1 V; Dinâmica 120 dB
Distorção harmônica total<0.001% (sobre toda a banda audível entre -16 e +16 dBu)
BandA (Linha)2 Hz a 120 kHz (@ -3 dB)
Ganho de saída (balanceada / não-balanceada)18 dB / 12 dB
Número de entradas3
Entradas de linha2x Linha RCA + 1x XLR
Saídas1x RCA estéreo / 1x XLR estéreo / sub / trigger out
Estéreo/MonoSelecionável no painel frontal
Balanço(± 6 dB)
Fones – potência150 mW / 32 W
Fones – distorção harmônica<0,001 % (0,001%)
Fones – relação sinal/ruído100 dB @ 10 mW / 32 Ω
Fones – banda2 Hz a 120 kHz
Fones – impedâncias16 a 600 Ω
Dimensões (L x A x P)430 x 95 x 302 mm
Peso5,3 kg

ESPECIFICAÇÕES – ELIPSON A2700

Potência RMS/canal 8 Ω classe D400 W @ THD=1 % (clipping) 2 canais ligados
Distorção harmônica em 100 W @ 8 Ω<0,005 % @ 1kHz
Distorção harmônica em 1 W @ 8 Ω<0.003 % @ 1kHz
Distorção por intermodulação em 100 W<0.01%.
Potência RMS/canal 4 Ω classe D710 W @ THD=1 % (2 x 750 W pico)
Potência RMS em mono 8Ω classe D1400 W (2500 W pico)
Consumo (230 Vac / 120 Vac)250 W (potência máxima 4 Ω em 2 canais)
Número de entradas1x RCA estéreo / 1x XLR estéreo / trigger In and Out
Impedância1 MΩ
Sensibilidade (V)9,5 dBu (sym), 3,5 dBu (asym) – (2,3 V / 1,15 V)
Banda2 Hz a 60 kHz @ -3 dB em 4 Ω
Fator de amortecimento1000 em 8 Ohms (entre 20 Hz e 2 kHz)
Relação sinal/ruído (dinâmico)119 dB (entrada balanceada) em potência máxima em estéreo
Temperatura máxima de operação40° C
Configuração de saídaEstéreo / Mono bridge
Consumo em stand-by<0,5 W
Dimensões (L x A x P)430 x 95 x 333 mm
Peso6,5 kg
PRÉ-AMPLIFICADOR P1F E POWER A2700 ELIPSON
Equilíbrio Tonal 13,0
Soundstage 11,0
Textura 11,0
Transientes 13,0
Dinâmica 12,5
Corpo Harmônico 10,0
Organicidade 12,0
Musicalidade 11,0
Total 93,5

 

VOCAL                    
ROCK, POP                    
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P1F: R$ 26.150
A2700: R$ 29.940

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