Christian Pruks
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Todo mês um LP com boa música & gravação
Gênero: Rock
Formatos Interessantes: Vinil Importado
Todos os que estavam ligados nas rádios brasileiras no começo da década de 80 – todos os fãs de rock e pop – lembram do The Police, primeiro pelo sucesso estrondoso de Every Breath You Take, faixa de trabalho do mais que excelente disco Synchronicity.
Depois, para quem se inteirava mais do trabalho dessa banda inglesa, o disco anterior, Ghost in the Machine chamava a atenção musicalmente, mas também por sua qualidade de gravação (superior à do Synchronicity, na minha opinião).
The Police é um dos três mais famosos ‘power-trios’ de rock da década de 70 e começo de 80 – um tipo de formação cuja sonoridade e qualidade de sua instrumentação e arranjos geralmente excedem o que seria esperado apenas de três músicos. Os outros dois seriam o trio canadense Rush, claro, e o trio inglês de rock progressivo Emerson Lake & Palmer. Claro que houveram outros power-trios antes, e depois. Assim como o termo foi muito usado de maneira inconsequente se referindo a outros grupos que não merecem a alcunha.
Na minha opinião, o som do The Police tem como seu maior trunfo, seu destaque, o fenomenal baterista Stewart Copeland, com seu trabalho complexo e mudanças de tempo. O cantor Sting é mundialmente conhecido e reconhecido por sua capacidade e qualidade como cantor e letrista – que é inegável – mas ele no Police era mais do que isso, mostrando algo que, de lá para cá, ele mostrou pouco: seu trabalho como excelente baixista, complementado pela excelente harmonia da guitarra de Andy Summers.
Veja, o Police é uma daquelas bandas de rock cujo som não é centrado na guitarra e suas pirotecnias (as quais muitas vezes podem ser lindas, mas muitas vezes são desnecessárias e nada adicionam), como acontece com muitas bandas de rock, desde que o gênero existe.
Ghost in the Machine é o quarto álbum de estúdio da banda, lançado no final de 1981, e constando no número 322 da lista dos 500 Melhores Discos da revista Rolling Stone. É um disco de rock, com toques de new wave, chamado por vezes de avant-pop, com influências de reggae e de jazz, alternativo, indie, pós-punk, etc – para todos os interessados em categorizações e etiquetas…rs…
O disco foi gravado entre janeiro e setembro de 1981, parte no Le Studio, em Quebec, no Canadá, e parte no famoso AIR Studios de Montserrat, no Caribe. A banda escolheu o AIR por causa da grande pressão da gravadora em cima de seu disco anterior, Zenyatta Mondatta, que por isso foi gravado apenas em quatro semanas. Segundo o baterista Copeland, o estúdio ficava a “12 horas de avião do escritório da gravadora mais próximo”…rs.
O estúdio AIR da Ilha de Montserrat durou pouco: quase 10 anos. O AIR Montserrat foi fundado lá, em 1979, por Sir George Martin, famoso produtor dos Beatles, e muitos artistas famosos foram gravados em seu cenário idílico, paradisíaco, como Paul McCartney, Rolling Stones, Duran Duran, Rush e Dire Straits, entre muitos e muitos outros. Em 1989 o Furacão Hugo castigou bastante a ilha e as instalações do estúdio, que acabou sendo fechado e teve suas instalações abandonadas. Martin disse que o momento coincidiu com a postura das gravadoras de não querer seus artistas tão fisicamente longe de seu controle, mas a ilha também deixou de ser paradisíaca depois de erupções de seu, até então dormente, vulcão, alguns anos depois. Um documentário chamado Under the Volcano foi feito em 2021, sobre a breve e brilhante história do estúdio, e sobre seu fim e suas ruínas.
O power-trio The Police foi fundado em 1977, em Londres, pelo cantor e baixista inglês Sting (nascido Gordon Matthew Thomas Sumner), o guitarrista inglês Andy Summers (nascido Andrew James Summers), e o baterista e percussionista americano Stewart Copeland, filho de uma arqueóloga escocesa com um oficial americano da CIA – que, segundo Stewart, foi um dos fundadores da CIA e de sua precursora, a OSS (Office of Strategic Services).
Com apenas cinco álbuns de estúdio, e uma carreira de pouco menos de 10 anos de duração, o The Police teve um intenso sucesso comercial. Copeland e Sting se conheceram durante a turnê da banda de rock progressivo Curved Air, da qual Copeland era membro. Sting (“ferrão”), que tocava na banda de jazz-rock-fusion Last Exit, obteve esse apelido por causa de uma jaqueta listrada de preto e amarelo, que costumava usar, parecendo uma abelha! Ao mudar-se para Londres, Sting montou um trio com o residente Copeland e o guitarrista francês Henry Padovani. Pouco depois, Mike Howlett da banda Gong chamou Sting para seu projeto novo, Strontium 90, onde já estava o guitarrista Andy Summers (que tinha o pedigree de ter tocado na Eric Burdon & The Animals). Porque a Strontium 90 necessitava de um baterista, Sting carregou consigo Copeland. Logo após os primeiros concertos da Strontium 90, Sting, que já estava descontente com o trabalho de Padovani, convidou Summers para entrar no The Police em seu lugar.
Apesar de ostensivamente pertencerem à cena do punk britânico, o The Police já trazia uma sonoridade mais elaborada, influenciada pelo reggae, jazz e progressivo – que permaneceu durante toda sua carreira.
Uma curiosidade: o visual adotado por eles, dos três com cabelo descolorido para loiro, foi devido à aceitarem fazer um comercial de TV para os chicletes Wrigley, que exigia que eles tivessem cabelo loiro. Aliás, o comercial – que nunca foi ao ar – foi dirigido pelo cineasta Tony Scott, que foi mais famoso por dirigir o filme Top Gun, e um pouco menos famoso por ser irmão do diretor Ridley Scott, de Blade Runner.
Para quem é esse disco? Para todos que curtem um rock clássico da virada da década de 70 para 80, todos que gostam de power-trios, todos que curtem excelentes arranjos e um trabalho de ritmo e base elaborados, com grandes vocais facilmente reconhecíveis, e a guitarra mais fazendo harmonia do que solando. Muitas das faixas são facilmente reconhecidas das paradas de sucesso, mas nenhuma delas é ‘pop tolo’ ou algo inconsequente para fazer pano de fundo.
O disco Ghost in the Machine teve, no mundo inteiro, 272 prensagens (entre LP e CD, claro), o que é normal para um disco de sucesso de uma banda de sucesso. Na década de 80 ele foi prensado várias vezes em vinil, no mundo inteiro, no universo inteiro e até, acho, na Galáxia de Andrômeda! O conselho meu permanece o mais usualmente proferido: prensagens inglesas, alemãs e americanas e – se tiverem muita sorte – uma prensagem japonesa! Desconheço a qualidade das prensagens mais recentes, proporcionadas pela própria grande gravadora detentora de seus direitos – ou seja, que eu saiba, não existem prensagens mais modernas feitas por selos pequenos audiófilos.
Boas audições a todos!