Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br
Estudar fones de ouvido, seus lançamentos, as tecnologias, significa também travar contato com um mundo estranho povoado por ideias insanas.
Mensalmente trarei aqui algumas das principais insanidades que vi, ouvi ou li sobre fones de ouvido e seu uso.
1- Conforto é mais Importante que Qualidade Sonora?
Não, mas não mesmo! É o mesmo que dizer que a decoração do restaurante é mais importante que a qualidade da comida.
Conforto, claro, é importante – e há anos existe uma dedicação da maioria dos fabricantes em fazer fones mais leves, com melhor encaixe na maior variedade de tamanhos de cabeça e formato de orelhas. Assim como material, tamanho e profundidade das almofadas dos fones estão cada vez mais permitindo conforto no uso a médio prazo, e esquentando menos as orelhas. E esse é um caminho sem retorno.
A ideia de conforto é bastante perseguida e difundida – mas o foco principal de um fone de alta performance é trazer a melhor Qualidade Sonora. Muitos fones são quase que universalmente confortáveis, então haverá algo que sirva a cada um.
Essa ideia do conforto ser o mais importante, foi dita por um analista e revisor de fones de ouvido e acessórios, na Internet. Dói mais ainda por vir da boca de um ‘profissional’ da área.
2- Os Melhores Fones são os que têm Melhor Resposta de Graves?
Claro que não! Seria o mesmo que dizer que um carro não precisa ter conforto e nem freios, só aceleração. Ou seja, ambos – o fone só preocupado com graves, e o carro – você só usaria uma vez…rs…
Existe uma tremenda dificuldade em entender o porquê do Equilíbrio Tonal – sendo que quem entende sabe instintivamente que tudo é importante, que precisa ter algo próximo de um equilíbrio entre graves, médios e agudos (para não entrar no mérito de vários qualificadores do próprio Equilíbrio Tonal), assim como precisa haver um equilíbrio entre massa e recheio na pizza, entre molho e pedaços de carne no estrogonofe, etc e tal. É uma ideia fácil de entender quando se trata de comida, e quando se trata de várias coisas na vida – mas que parece que sua importância ainda foge à ideia de muita gente, no áudio.
A maneira mais fácil de entender é: Tudo é importante, quando se procura Qualidade.
Esta foi outra ideia completamente errada vinda de um ‘profissional’ da área. Ou seja, ser um faroeste – ‘sem lei e sem ordem’ – é pouco para definir.
3- Fones têm que ter uma Curva de Resposta que agrade ao Ouvinte?
Não, se o que você quer é Qualidade Sonora – a qual se espelha na Realidade. Fones têm que ter uma curva de resposta que seja decentemente equilibrada. Ninguém vai querer comprar um pó para purê de batata, preparar o mesmo, e descobrir que tem gosto de banana e textura de espuma – esse aí vai agradar alguém, mas a maioria esmagadora quer que esse produto pareça purê de batata, ou seja, espelhe-se na Realidade.
Qualidade = Realidade, em muitas coisas, especialmente em Qualidade Sonora. E a realidade precisa de uma curva de resposta de frequência que traga um mínimo de equilíbrio, tendo então pequenas variações para satisfazer quem quer um som mais quente e quem quer um som mais detalhado. Vejam, essas variações na assinatura sônica são pequenas – e definitivamente não são o que acontece nos fones de ouvido por aí, onde as variações estão sendo enormes para ‘adequar o mundo à vontade do ouvinte’. Um dia alguém vai querer pintar uma floresta de azul, porque não gosta da cor verde…
Essa ideia é propalada pela maioria da mídia sobre fones de ouvido. Ela resulta em coisas bizarras, como um revisor dizendo que um fone não tem graves, e outro revisor dizendo que tem graves demais – sobre o mesmo fone! Isso é indulgência com a ideia do ‘vale tudo’, que só confunde a cabeça do usuário, e não serve a absolutamente ninguém. E espelha claramente o que consideramos aqui na revista como os maiores pecados capitais do áudio: a desistência, o descarte do alicerce ‘Referência & Metodologia’, que é o que permite ao leitor e aficionado entender e apreciar real Qualidade Sonora, obter o melhor pelo seu dinheiro, e a melhor e mais gratificante experiência sonora.
Mês que vem tem mais, amigos. Nos vemos em 2024!