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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Acho que estou me especializando em pegar para testar fones que costumam causar impressões bem díspares, dependendo do gosto pessoal do revisor.

Eu ainda estou me acostumando com conclusões tão antagônicas entre revisores internacionais do mesmo produto.
E eles costumam dar mais ênfase ao gosto pessoal e às suas equalizações individuais, para deixar o fone em teste mais ‘correto’, do que propriamente em criar uma Metodologia e um padrão de Referência tanto em termos de fone como de eletrônica, para poder ter um ‘norte’ e ajudar realmente seu leitor a separar o joio do trigo.

Vou pegar como exemplo o teste do fone ATH-AD900X, da Audio-Technica, que para um revisor carece de graves e tem os médios entre 2 e 4 kHz ‘para frente’ em relação aos agudos.

Enquanto um outro revisor disse ser o ATH-AD900X com um grave excelente para fones até 500 dólares!

Ambos não dizem em suas revisões os amplificadores de fones e fontes utilizados, e nem tampouco fazem uma lista mínima das músicas utilizadas para a avaliação do fone.

Se eu, com minha experiência não consigo sequer ter a mais simples ideia de como esse fone soa, com a avaliação desses dois revisores imagine o consumidor que está iniciando sua jornada.

Eu me pergunto se realmente essas mídias estão escrevendo para um público interessado, ou apenas para si mesmos. Pois não consegui extrair nenhuma informação importante de como soa o fone, a não ser que ambos gostaram do fato dele ser leve (menos de 300 gramas), ser um fone que, pelo seu diâmetro, se encaixa em qualquer orelha, que porém tem muito plástico passando a aparência de fragilidade, e que a haste que mantém o fone na cabeça, em crânios mais estreitos ou menores pode deslizar.

Essas impressões eu posso ter apenas vendo as imagens do fone, por diversos ângulos.

Não preciso ler um teste mal escrito para saber que ele não me respondeu ao que mais desejo: como soa o fone, afinal?

Então, prefiro ir por um outro caminho e tentar ajudar o amigo leitor a ver se esse Audio Technica é ou não um fone ideal para você.

Vamos às informações essenciais: trata-se de um fone de quase 2000 reais. É nessa faixa de preço que você está desejando investir em um fone definitivo?

Segundo: trata-se de um fone aberto – você tem ‘privacidade’ suficiente para ouvir um fone aberto, sem incomodar seus familiares?

Se uma das duas respostas foi não, então o AD900X não é o fone que você está procurando.

Porém se a resposta foi positiva a ambas questões, sigamos!

Ao fazer um fone que pesa menos de 300 gramas, com os materiais disponíveis atualmente e que tenham um baixo custo final, o plástico inevitavelmente será a opção número um. Então é óbvio que, para um fone aberto, o fabricante para diminuir peso fará uso de plástico.

Não existe milagre nessa faixa de preço.

As chamadas ‘asas’, que fazem o apoio do fone na cabeça, que um dos revisores reclamou que parecem frágeis, são muito leves por dois motivos: não aumentar o peso final do fone e não incomodar ao contato com a cabeça. E atendem às duas necessidades com perfeição.

Eu não tenho uma cabeça grande, e nem tão pouco estreita, então as asas se encaixaram perfeitamente sem passar a sensação de que iria deslizar ou incomodar.

Por ser um fone aberto, não imagino o consumidor levando-o para a rua ou escritório. Negativo – esse é o fone para quem deseja ouvir sua música em seu canto sem incomodar ninguém e nem tampouco ser incomodado.

Acho que está clara a noção exata da proposta desse fone aberto, e a quem se destina.

Então, agora podemos passar para o essencial: como ele soa?

Para o teste utilizei basicamente o trio dCS LINA (amplificador de fone, clock externo e DAC/Streamer). Ainda que o tenha utilizado também com meu smartphone Samsung, mas por curto espaço de tempo – pois a diferença entre ouví-lo nessas condições e no dCS LINA é enorme!

Sinceramente não vejo nenhum consumidor investir 2000 reais para apenas ouvir em um smartphone, pois isso será um desperdício de dinheiro.

Sua ergonomia é excelente, pois ele realmente não incomoda e nem tão pouco aperta a cabeça ou as orelhas. Eu que sou extremamente sensível a fones que causem pressão ou incômodo no uso diário, consegui realizar audições de até 3 horas diárias sem nenhum desconforto, e sem fadiga auditiva.

Como li que, para alguns revisores, o Audio Technica carece de ‘graves mais fortes’, o primeiro disco que coloquei para escutar foi o duo de contrabaixo de dois virtuoses: Christian McBride & Edgar Meyer – But Who’s Gonna Play The Melody?.

E, claro, reduzi o volume no LINA ao máximo, para ver como os pianíssimos e os fortíssimos soavam.

É importante que o leitor entenda definitivamente que, para saber se um equipamento carece de graves corretos, a melhor maneira é diminuir o volume ao mínimo sem perder toda a inteligibilidade, e observar se ainda assim se escuta as diferenças entre o pianíssimo e o fortíssimo. Se não for possível notar essas variações dinâmicas, você pode afirmar que esse equipamento carece de graves ‘precisos’ (não ‘fortes’).

Agora, se ao ouvir em volume reduzido, se nota ainda que de forma mais tênue essas variações dinâmicas, bastará abrir o volume para o ideal da gravação, e ter uma ideia exata da qualidade do grave e de todo quesito dinâmica.
Essa gravação do duo de contrabaixos é excelente por isso, pois na maioria das faixas um contrabaixo está sendo dedilhado e o outro tocado com arco. Então as variações dinâmicas são evidentes o tempo todo.

Pois bem, o AD900X não sofre de graves ‘fracos’! Seus graves são corretos, com boa extensão, incrível velocidade e corpo possível para um bom fone de ouvido.

Agora, se você gosta de graves ‘turbinados’, coloridos e de uma nota só, esse não é seu fone.

Outro mérito do AD900X: seu equilíbrio tonal é muito bom em volumes seguros, não faltando graves, médios ou agudos. E quando você eleva o volume aos níveis limítrofes do que é seguro, os médios não ficam frontalizados e os agudos não ganham aquele brilho que causa fadiga!

Sua região média é transparente sem pecar em passar do ponto, e se tornar analítica ou frontalizada.

Os agudos possuem extensão e decaimento suficiente para nos permitir ouvir o arejamento da gravação e da sala em gravações ao vivo.

Já ouço leitores reclamando que o Andrette usou para avaliar os graves um duo de contrabaixo. E com música mais agitada, como ele soa?

Bem, não esperem que eu vá escutar rap para dizer a vocês como soará com música mais ‘turbinada’, mas se algo como disco Money For All da banda Nine Horses, ajudar, aqui vai. Ouça a faixa 2 – Get The Hell Out, ultraprocessada, comprimida e que ainda assim o grau de inteligibilidade é impressionante.

Tem o mesmo peso que minha referência o Meze 109 Pro? Claro que não, mas ele custa muito mais que o Audio Technica.

O que volto a insistir é: você pode ouvir faixas como Get The Hell Out, em volumes seguros e não perder nada do que foi gravado. Pode soar menos ‘envolvente’ e adrenalínico que no meu fone de referência, sim. Sem, no entanto, deixar de ser muito prazeroso.

Lembre-se: o ótimo só é inimigo do bom em um comparativo direto. Sem você querer achar ‘sarna’ para se coçar, isso não vai ocorrer.

As texturas são muito boas e possuem refinamento o suficiente para nos fazer redobrar a atenção e o interesse em performances de alto nível, tanto do músico, quanto do instrumento usado na gravação, e no trabalho do engenheiro de gravação.

Com um fone desse patamar, já é possível sem esforço reconhecer audivelmente as nuances e sutilezas de qualquer boa gravação.

Velocidade, ritmo, andamento, não é problema para esse fone. Para provar o quanto ele é capaz de responder corretamente a transientes, nada melhor o disco do multi instrumentista Jacob Collier no seu primeiro trabalho de 2016 – In My Room. E se quer realizar a ‘prova dos nove’, ouça a faixa 1 – Woke Up Today, arranjo primoroso de voz, sintetizadores e bateria.

Em fones ‘letárgicos’, essa faixa soa confusa ou de baixo interesse, quando múltiplas vozes, bateria e sintetizadores alteram o andamento. Agora, se o fone e a eletrônica não tiverem problemas em transientes, é uma faixa arrebatadora!

Como escrevi na longa introdução, a variação dinâmica foi perfeitamente avaliada em várias gravações em volumes reduzidos, mas para fechar a nota deste quesito, usei a gravação do pianista Marc André Hamelin – Bolcom: 12 New Etudes / Wolpe: Battle Piece, gravação primorosa de 1988. Ouça as primeiras 4 faixas, e você terá uma ideia exata da variação dinâmica do AD900X da Audio Technica.

Para um fone de menos de 250 dólares é muito bom o resultado nesse quesito.

Materializar o acontecimento musical dentro de nosso cérebro, como é para esse fone? Simples, pegue gravações de alto nível técnico e tudo ocorrerá como o desejado.

Ouvindo obras de piano solo, é possível ver com os olhos fechados como as mãos do pianista deslizam no piano. Ou como a cantora se aproxima e se afasta do microfone, para este não clipar nos fortíssimos!

CONCLUSÃO

Eu não tenho a ilusão que você confie em minhas observações de cada fone que testo. Sei que o ideal é você sempre ouvir para tirar suas próprias conclusões.

Mas uma coisa você jamais poderá me acusar, amigo leitor: de não me esforçar em tentar passar de maneira exata tudo que observei do produto testado.

Pois eu me coloco do outro lado, quando eu era leitor e queria saber como os produtos publicados na edição das revistas importadas soavam.

E me frustrei muito, devo confessar, pois muitos revisores – ou por falta de metodologia, ou de referência de música ao vivo, ou até por limitação de gosto musical – não cumpriam com o seu papel de nos passar as impressões de maneira mais ‘verossímil’.

Eu, antes de sentar para avaliar um produto, eu sempre me coloco como o consumidor que estará manuseando com exclusividade aquele produto por um tempo, e quero poder extrair todas as suas qualidades e limitações, para poder transmitir a todos vocês como gostaria de ter recebido quando eu estava também do outro lado do balcão.

O problema é que fazer testes assim é trabalhoso, exige enorme dedicação, método, paciência, ter referências para poder comparar o produto testado com produtos similares na hora de fechar nota e, principalmente, imaginar a quem se destina aquele produto testado.

Temos nos esforçado há 28 anos para cumprir com esse nosso objetivo.

Espero que esteja funcionando para alguns de vocês, ao menos.

Esse é o tipo de fone para o consumidor com uma boa rodagem, e que já está querendo investir um pouco mais de grana em um fone melhor, e que o faça sossegar por um bom tempo.

Sua assinatura sônica, não servirá aos que ainda estão atrás de pirotecnia sonora. Nada nele é turbinado, colorido ou com ênfase em determinados aspectos.

É o fone para quem deseja, antes de tudo, que ele não o incomode por mais de duas horas contínuas de uso. E que, ao ouvir por longos períodos, não cause fadiga auditiva. Que possua uma boa inteligibilidade sem, no entanto, ser frio ou analítico.

Que chame a atenção pela beleza em apresentar nuances da performance do artista, da qualidade dos instrumentos e da capacidade do engenheiro de gravação em extrair o melhor de cada take.

Segue a cartilha dos fones mais recentes, que mantém seu equilíbrio tonal mesmo em volumes reduzidos, e que quando abrimos o volume ele não grita e não perde a compostura!

Para os ‘iniciantes’ nessa jornada, que necessitam de muita ‘adrenalina sonora’, ele irá parecer o ‘tiozão’ – que é legal, mas não empolga.

Existem produtos, meu amigo, que se destinam à nossa ‘maturidade sonora’ – nunca antes.

O Open Air ATH-AD900X faz parte dessa turma.

Se você já está nessa estrada, dê uma parada para conhecê-lo – certamente ele estará no Workshop Hi-End Audio Show em São Paulo, no final de abril.

Ele poderá surpreendê-lo pelo seu grau de simplicidade e neutralidade.


PONTOS POSITIVOS

Um fone leve, bem construído e com um nível de performance muito correto.

PONTOS NEGATIVOS

Um fone aberto que necessita de privacidade para não atrapalhar os familiares. E o cabo não é destacável.


ESPECIFICAÇÕES

TipoDinâmico aberto (Open Air)
Diâmetro do driver53 mm
Resposta de frequência5 – 35.000 Hz
Potência máxima de entrada1.000 mW
Sensibilidade100 dB/mW
Impedância38 ohms
Peso265 g
Cabo3.0 m
Conector3.5 mm (P2) banhado à ouro
Acessórios incluídosAdaptador para 6.3 mm (P10)
FONE DE OUVIDO AUDIO TECHNICA OPEN AIR ATH-AD900X
Conforto Auditivo 10,0
Ergonomia / Construção 9,0
Equilíbrio Tonal 10,0
Textura 10,0
Transientes 11,0
Dinâmica 10,0
Organicidade 10,0
Musicalidade 10,0
Total 80,0
VOCAL                    
ROCK, POP                    
JAZZ, BLUES                    
MÚSICA DE CÂMARA                    
SINFÔNICA                    
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