Espaço Analógico: O BRAÇO TANGENCIAL OU LINEAR TRACKING

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Uma nova seção mensal só sobre Toca-Discos de Vinil

Enquanto que em um braço normal pivotado – chamado também de ‘parabólico’ – da maioria dos toca-discos, a força centrífuga puxa a agulha de encontro à parede interna do sulco, e assim necessitando de uma força de compensação chamada de anti-skating, no caso dos braços chamados de tangenciais ou ‘linear tracking’ (tracionamento linear), essa força é imensamente menor, sem haver necessidade de anti-skating (o qual dificilmente é encontrado nesse tipo de braço, aliás).

Nos bons tangenciais – de rolamento por ar ou ‘mecânico’ de baixa fricção, onde o braço trafega livre – devido à posição constante de 90 graus entre o braço e linha que vai até o pino do prato, a força maior exercida é da agulha contra a parede externa do sulco enquanto a agulha é ‘levada’ por ele – e isso depende do braço trafegar o mais livre possível. Portanto, o rolamento por ‘ar’ – onde o braço fica com quase zero de fricção por trafegar sobre um colchão de ar (gerado por um compressor) – é claramente a melhor solução dentre os disponíveis atualmente. E é a mais usada, inclusive, em toca-discos e braços sofisticados hi-end.

Mas são essas as únicas soluções existentes para braços tipo tangencial? Na verdade, não. A ideia de que essa posição constantemente perpendicular de um braço tangencial em relação ao centro do prato, que minimiza enormemente os erros de tracionamento e leitura do disco, é uma ideia bastante antiga – inclusive usada desde sempre pelas máquinas de corte de matriz física para a prensagem de discos de vinil, as chamadas ‘cutting lathe’, desde que o vinil é vinil.

Fazer braços desse tipo que sejam funcionais na prática, para uso caseiro, sempre foi mais complicado – por isso ao longo dos anos isso foi feito sempre como um produto especial, de precisão, e de valor alto. E hoje já temos alguns braços excelentes por preços condizentes com sua qualidade, especialmente os com rolamento ‘a ar’, que eu considero os com melhores qualidades sônicas.

Os pioneiros em braço tangencial para o mercado ‘consumer’, na década de 70 – e nem sempre com as melhores soluções práticas – foram os japoneses, com equipamentos como Technics SL-10, mas principalmente com joias como o Pioneer PL-L1000, o Yamaha PX-2, e o Sony PL-X800. E, mais ao norte do mundo, a dinamarquesa B&O com o célebre e bonito Beogram 4000, e a suíço-germânica Revox com o B 790 e seus derivados e sucessores.

Pioneer

Quando falo que esses precursores mais comerciais não tinham as soluções com o melhor resultado prático, é porque eles traziam braços tangenciais que trafegavam em tubos ou trilhos, auxiliados por correias acionadas por um ou mais motores, respondendo a uma longa série de sensores que faziam o ‘micro-ajuste’ da posição do braço. E muitas vezes esse ajuste nem era tão ‘micro’ assim, mostrando grandes alterações horizontais no alinhamento da cápsula com o sulco – e isso dava resultados negativos audíveis. Ruídos desses motores, folga nas correias, sujeira e mau funcionamento dos sensores, sujeira ou ressecamento da lubrificação, etc e tal, eram e ainda são problemas quase que comuns a esses braços de acionamento eletrônico ou eletromecânico. Isso quando o próprio processamento eletrônico desse comando e desses ajustes, não dá problema. Ou seja, não são a melhor solução.

Os melhores dentre essas soluções microprocessadas, como o Yamaha PX-2 e o Pioneer PL-L1000, tinham refinamentos fenomenais, como o uso de headshell universal padrão SME (o usado em muitos toca-discos, como os Technics série 1200 até hoje) que permitem a instalação de qualquer cápsula, assim como o ajuste fácil e preciso de VTA (a altura do braço) e do contrapeso. Isso permitia, literalmente, a utilização de qualquer cápsula de alta qualidade disponível no mercado. E sua qualidade sonora? Bom, o Yamaha e o Pioneer citados neste parágrafo são excelentes!
Mas qual é a melhor solução de Tangencial / Linear Tracking para a Audiofilia?

B&O

Um toca-discos moderno com braço com rolamento por ar. Será o que deslizará mais livre, com melhor precisão, mais correto, com menor fricção e erro de tracionamento e, consequentemente, melhor qualidade sonora – a melhor que eu ouvi até agora.

Os tangenciais que trafegam livres em cima de rolamentos, têm mais dificuldades na precisão da regulagem, e sofrem influências de mudanças na temperatura e na absorção de sujeira em seus trilhos.

Quais são outros lados negativos do Tangencial?

Além dos já falados ruídos e erros pelo tracionamento variável dos de acionamento eletrônico, existem algumas reclamações, ao longo dos anos, do tangencial em geral.

1) Dificuldade de setup e regulagem – Esse se aplica aos braços hi-end, audiófilos, e alguns são bem complexos e complicados de mexer. Os mais modernos, atuais, mais bem bolados e descomplicados, já não trazem um nível de dificuldade maior que de braços normais de boa estirpe.

2) Erros de Azimute e VTA ao longo do lado do disco – Alguns braços desse tipo, acabam sendo regulados para trafegarem de maneira mais livre, cometendo um erro enorme: ele fica desnivelado! Ou seja, ele é mais alto no começo do disco, trazendo um VTA mais alto ali, e fica mais baixo perto do centro do disco, trazendo outro VTA lá – e isso é imperdoável! Assim como seu Azimute (que quando correto, a agulha e o cantilever são perfeitamente perpendiculares à superfície do disco) está de um jeito no começo do disco e de outro jeito no final. Imperdoável também! Em braços tangenciais ‘a ar’ não existe esse problema, o braço pode ter a mesma altura em toda extensão do disco, não necessitando de ‘gravidade’ para o mesmo trafegar livremente ao longo de todo o sulco. Mas isso não é mais um problema hoje, onde a maioria dos braços desse tipo são com rolamento ‘a ar’.

Marantz

Mas bizarro mesmo, no departamento do Azimute, é o belo Marantz SLT-12 com seu braço tangencial – uma das primeiras tentativas de fazer um braço de tracionamento linear comercial, cujo projeto começou ainda na década de 60. Ele vem com a má ideia de articular o braço de ‘lado-a-lado’ – em vez de ‘de trás para frente’ como todos os outros braços do universo. O resultado? Cada disco que tenha uma espessura diferente do outro irá dar uma posição de Azimute diferente, acabando com a ideia da agulha perfeitamente perpendicular ‘de lado a lado’ à superfície do disco – que é uma regulagem necessária.

3) Erros com a variação de temperatura – Já citado acima, esse problema acontece com a dilatação e contração do braço, dos rolamentos, tubos e trilhos, dando diferenças nos parâmetros da regulagem, assim como no comportamento do tráfego livre do braço. Isso hoje em dia não é mais problema com braços feitos dentro de baixas tolerâncias mecânicas com materiais menos suscetíveis à variação normal de temperatura de nosso pequeno planeta.

4) Fluxo de ar do compressor e no tubo do braço – Problemas no fluxo de ar irão impedir o movimento livre do braço, quando o mesmo for ‘a ar’. Décadas de avanços já permitem compressores silenciosos com a correta potência, que possam ficar bastante afastados do braço e mesmo assim não terem problemas de fluxo de ar. Assim com a engenharia de precisão desse tipo de braço (e seu aperfeiçoamento) garantem um fluxo de ar constante e correto.

Opera-Consonance

O sistema tangencial ou linear tracking em um braço, é um dos pináculos de alta qualidade que se pode obter na leitura de um disco de vinil. Mesmo os aparelhos ‘consumer’ que usam tangencial com controle eletrônico/mecânico, como os japoneses e europeus acima citados – entre outros – são ainda muito bem quistos por vários audiófilos, devido ao seu tracionamento mais preciso.

Quem sabe o futuro no desenvolvimento tecnológico não permita termos braços de tracionamento linear silenciosos e precisos em toca-discos cada vez mais acessíveis!

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christian@clubedoaudio.com.br

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