Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Acostume-se, caro leitor, pois será cada vez mais corriqueiro avaliarmos produtos hi-end do antigo leste europeu, pois eles vieram para reivindicar seu espaço nesse concorrido nicho de mercado, com enorme determinação e competência. Tanto é verdade que nesta edição dois dos três testes são de produtos desta região do planeta.
Mês passado, no caderno Audiofone, avaliamos o competente amplificador de fone de ouvido Oor, desse fabricante, e agora compartilharemos o que considero ser os dois mais expressivos produtos da Ferrum Audio: o DAC Wandla e a incrível fonte de alimentação Hypsos que pode ser um upgrade seguro para centenas de produtos de áudio de inúmeros fabricantes.
Ambos os produtos foram agraciados com o Prêmio Eisa de 2022 e 2023. Marcin Hameria, o fundador e principal projetista da Ferrum, é um estrategista ‘atento‘ às novas tendências de um mercado em que valor agregado, design, versatilidade e desempenho são parte de um mesmo pacote.
Certamente audiófilos com mais de 50 anos devem estranhar essa tendência de gabinetes menores, em que os produtos podem ficar empilhados, ocupando menos espaço em prateleiras – mas eu confesso que gosto muito, pois acho que já paguei minha cota com duas hérnias de disco em transportar de um lado para o outro equipamentos que pesam mais de 40 kg!
Poder retirar e colocar meus Nagras no rack, a todo momento, sem ter uma caixa de ‘Dorflex’ ao lado dos controles remotos, é um verdadeiro alento!
Então, receber os Ferrum Audio, que são ainda menores que os meus Nagras Classic, me fez de cara sentir uma imensa simpatia, antes mesmo de ligá-los.
Como sempre me lembram meus filhos e sobrinhos, o mundo está se adaptando a espaços cada vez menores.
Gosto imensamente do design dos Ferrum, com sua placa de aço envelhecido do lado esquerdo, onde fica seu logotipo retro iluminado, seu botão do lado direito, e no centro uma pequena tela LCD inteligente com todos os comandos à um toque apenas.
Porém, as semelhanças entre o DAC e a Fonte acabam aí, pois no painel traseiro, a Hypsos tem apenas a tomada IEC, a tomada que alimenta os equipamentos, uma gaveta de fusível e uma chave liga/desliga.
Enquanto o Wandla está recheado de entradas e saídas de áudio RCA/XLR, e entradas digitais USB, AES/EBU e Coaxial.
Na verdade, este é o teste do DAC Wandla. Mas ao receber do distribuidor os quatro produtos existentes da Ferrum Audio, a curiosidade falou mais alto e constatei que o uso dessa incrível fonte externa, elevou substancialmente a performance do Wandla. Então resolvi citá-lo no teste e dar os méritos a quem é de direito.
Mas, aguardem que em breve farei um teste da Hypsos, não só com os três produtos da Ferrum, como também com os produtos que aceitarem a Hypsos para uma turbinada em sua performance.
E, no final desse teste, publicarei a nota do Wandla sem o uso da Hypsos, e com sua parceria.
O Wandla é todo baseado em uma placa digital fabricada pela HEM (empresa controladora da Ferrum). Esse módulo digital SERCE com processador ARM foi desenvolvido para uso OEM, como uma solução completa para áudio digital, e utilizada por uma dezena de fabricantes de áudio mundo afora.
Segundo o fabricante, o chip ARM do SERCE executa a função de cinco chips, trabalhando para aprimorar os fluxos de dados PCM e DSD, habilitando o uso de filtros digitais, decodificação e renderização MQA, e habilitando funções de usabilidade ao toque em uma tela LCD.
Dados PCM são convertidos de até 24-bits/192kHz por meio da entrada coaxial e da AES/EBU. E a entrada USB Tipo C e I2S (por meio de uma porta adicional HDMI) aceitam streaming de dados até 32-bits/768kHz PCM e DSD256. Segundo ainda o fabricante, todas as entradas têm capacidade DoP (DSD por PCM).
O Wandla utiliza o chip ESS Sabre ES9038PRO DAC, com a aplicação de um estágio conversor I/V que o fabricante afirma ser o grande diferencial da sonoridade do Wandla.
Para lidar com a corrente de saída do sinal, a Ferrum utiliza dois amplificadores operacionais em cascata com feedback negativo. A Ferrum garante que com todos esses cuidados o Wandla consegue extrair muito mais dados e um desempenho superior aos concorrentes que também utilizam o ES9038PRO.
Meu ceticismo acaba quando coloco o produto em avaliação. Pois rapidamente saberei se toda essa explanação técnica é apenas marketing de ‘vendedor’ ou fato.
O Wandla possui cinco opções de filtros digitais selecionáveis.
Quando escrevo esse teste, a Wandla pediu para os usuários do produto votarem nos seus filtros preferidos, pois o fabricante vai tentar ‘democratizar’, na próxima remessa, os filtros mais votados.
Mas não faço a menor ideia de como está a participação dos usuários, e nem quando será apresentado o resultado.
Outro recurso bastante importante é que o Wandla pode ser usado como pré-amplificador, graças ao seu controle de volume por escada de resistores. Mas atenção, essa função precisa ser desligada caso ele seja apenas usado como DAC.
O fabricante especifica um THD menor que 0.000009%, e uma faixa dinâmica ponderada de 127dB.
Uma das funções que mais apreciei no Wandla, foi ele reconhecer automaticamente a entrada que foi acionada. Assim, ao ligar o streamer Innuos ZENmini Mk3 via cabo USB, ele imediatamente identifica a entrada, sem nenhum ruído. Ou a entrada AES/EBU no momento que eu ligava o transporte Nagra.
Queria que meu DAC, que custa dezenas de vezes mais, tivesse esse recurso. Pois quem já não passou o sufoco de ter duas ou até três entradas usadas no DAC e se perder em qual está sendo utilizada?
Foi um deleite assim que apertei play, e toquei a primeira faixa do Canto das Águas do violonista André Geraissati. O palco, o foco, o recorte, o silêncio de fundo e o espaço em volta de cada instrumento foram de nível superlativo.
E isso com um DAC zerado, sem nenhum amaciamento, e ligado em sua singela fonte.
Ali soube instantaneamente se tratar de um DAC totalmente diferenciado e muito acima do seu preço. Fiz sete páginas de anotações iniciais, apenas com os nossos discos.
Acabada essa primeira sessão, ele foi para 50 horas de amaciamento, mas com aquele ‘gostinho’ de querer ouvir até mesmo nessa fase.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Amplificadores integrados: Fezz Audio Titania, Norma Audio Revo IPA-140 e Soulnote A-2 (leia Teste 1 nesta edição). Caixas acústicas: Estelon X Diamond Mk2, Yamaha NS-5000 e a Audio Solutions Figaro S2 (leia Teste 2 nesta edição).
Com 50 horas, o Wandla já voltou para ser avaliado, mas primeiramente com sua fonte original.
Seu equilíbrio tonal é impecável! Graves extremamente corretos, com fundação, peso, energia, corpo e velocidade. A região média, utilizando um velho jargão da audiofilia, é uma janela aberta e escancarada para a imagem musical. E os agudos possuem extensão, velocidade e naturalidade.
Pratos são reproduzidos com enorme fidelidade, e instrumentos de sopro, como o piccolo e o sax soprano, não sofrem de dureza ou som vitrificado. Violino e piano, na última oitava da mão direita, idem. São isentos de dureza ou desconforto.
Seu palco, como já descrevi, é amplo em largura e profundidade, foco, recorte e recriação de ambiência. É de DACs muito mais caros. Muitos terão dificuldade em aceitar que o que estão ouvindo está sendo gerado por aquele ‘singelo’ gabinete.
As texturas são coerentes, tanto na apresentação da paleta de cores de cada instrumento, quanto nas nuances proeminentes na qualidade do instrumento e na habilidade do músico.
Apresentar intencionalidades para o Wandla é algo absolutamente inerente ao seu nível de refinamento.
Os transientes se comportam impecavelmente em termos de ritmo, tempo e andamento, passando aquela sensação tão vital, de apresentação firme e precisa.
Porém, quando alimentado pela fonte Hypsos, o que já era de alto nível se transforma em simplesmente impecável!
O mesmo ocorre com a apresentação da micro e da macro-dinâmica. São absolutamente convincentes, mas com a Hypsos se tornam ainda mais impressionantes. A micro se beneficia do maior silêncio de fundo que a fonte externa proporciona, e a macro com a melhor folga, permitindo ouvir com maior precisão os crescendos até o fortíssimo.
O corpo é excelente, mesmo sem a fonte Hypsos. Já a organicidade, também muda de patamar com a fonte Hypsos.
Então, vamos por partes, pois sei o quanto a maioria dos audiófilos é ansioso e propenso a pular etapas.
O que quero dizer é: O Wandla é um senhor DAC por um preço incrível para seu nível de performance. E que 90% dos nossos leitores se darão por satisfeitos em apenas tê-lo em seus sistemas.
Mas saibam que com a fonte Hypsos, o seu grau de refinamento será ainda mais impressionante.
E como é bom quando fazemos um upgrade assertivo, nos damos por satisfeitos e ainda temos uma carta na manga, se quisermos lapidar ainda mais o que já está ótimo.
Eu sempre digo que ter essa ‘possibilidade’ é o melhor dos mundos e, pois, faremos o upgrade mais seguro de todos os possíveis!
Para os nossos leitores que almejam um setup Estado da Arte Superlativo, investir nessa dupla será um gol de placa, acreditem!
Ter um setup digital de mais de 100 pontos, gastando menos de 15 mil dólares, é realmente digno de fogos de artifício. Pois bem, isso agora é possível.
Espero que ambos estejam no nosso próximo Workshop Hi-End Show, no último final de semana de abril de 2025.
Pois esse conjunto merece ser ouvido com enorme atenção!
PONTOS POSITIVOS
Um DAC digno do Século 21, com uma performance impressionante.
PONTOS NEGATIVOS
Nada.
ESPECIFICAÇÕES
DAC chip | ESS Sabre ES9038PRO |
Resolução do DAC | 768 kHz/32-bit, DSD 512 |
Entradas digitais | • USB (PCM 768 kHz/32-bit, DSD512, DoP256) • I2S (PCM 768 kHz/32-bit, DSD512, DoP256) compatível com PS Audio • ARC (PCM 192 kHz/24-bit) • AES/EBU (PCM 192 kHz/24-bit, DoP64) • Óptica S/PDIF (PCM 96 kHz/24-bit) • Coaxial S/PDIF (PCM 192 kHz/24-bit, DoP64) |
MQA | Decodificação e renderização (em todas entradas digitais) |
Entradas analógicas | RCA |
Vmax de entrada | 9.5 VRMS (2 a 3.5 VRMS recomendado) |
Impedância de entrada | 47 kΩ |
Saídas de linha | XLR, RCA |
Controle de volume | • Analógico com opção de bypass • Digital quando operando apenas como DAC |
Nível de saída | • 10 VRMS balanceada • 5 VRMS RCA |
Resposta de frequência | 10 Hz a 200 kHz (+/- 0.1 dB) |
Distorção do DAC | • -121 dB (0.00009%) • THD+N de -115 dB |
Dinâmica em analógico | 127 dB |
Dinâmica em digital | 127 dB |
Crosstalk | -120 dB para 1 kHz, >-100 dB para 20 Hz a 20 kHz |
Impedância de saída RCA | 22 Ω |
Impedância de saída XLR | 44 Ω |
Consumo | 10 W ocioso / 15 W máx |
Alimentação | • 22-30 VDC • Conector DC proprietário com FPL de 4 pinos • Conector DC de 5.5/2.5 mm (positivo no centro) |
Fonte externa | 100-240 VAC para 24 VDC |
Dimensões | 21.7 x 20.6 x 5 cm |
Peso | 1.8 kg |
FERRUM AUDIO WANDLA (COM FONTE ORIGINAL) | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 13,0 | |||
Soundstage | 13,0 | |||
Textura | 12,0 | |||
Transientes | 13,0 | |||
Dinâmica | 11,0 | |||
Corpo Harmônico | 12,0 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 98,0 |
FERRUM AUDIO WANDLA (COM FONTE HYPSOS) | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 13,0 | |||
Soundstage | 13,0 | |||
Textura | 13,0 | |||
Transientes | 14,0 | |||
Dinâmica | 12,0 | |||
Corpo Harmônico | 12,0 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 13,0 | |||
Total | 102,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
Impel
edhashioka@impel.com.br
(11) 98181.5424
Wandla: R$ 24.900
Hypsos: R$ 14.970