Christian Pruks
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Uma nova seção mensal só sobre Toca-Discos de Vinil
O que são ‘perfis de agulhas’?
Todo toca-disco usa uma agulha – aquela pontinha bem fininha que entra no sulco dos discos para ler as informações que lá estão. O usual, para toca-discos de qualidade (e são deles que falamos aqui), são agulhas feitas de diamante, em formatos (os tais perfis) variados, que procuram desde a simplicidade e resistência na leitura física dos sulcos, até querer extrair o último detalhe que está na gravação.
Simplicidade e resistência = geralmente um som menos detalhado em todo o espectro, pior equilíbrio tonal e, consequentemente, qualidade sonora inferior.
Detalhamento = auto-explicativo. Porém é preciso saber que maior detalhamento não significa necessariamente melhor equilíbrio tonal e maior musicalidade e, portanto, melhor qualidade sonora. Mas uma boa agulha com um perfil mais complexo não vai ser batida por uma boa agulha com perfil mais simples.
O que quer dizer esse ‘simples’ e esse ‘complexo’? Por que um perfil ‘complexo’ é melhor?
A agulha vibra de acordo com os padrões físicos, os relevos gravados nas paredes dos sulcos do LP. Quando você usa o perfil mais simples, o chamado de Cônico, ele encosta na parede do sulco, ‘captando’ esse relevo, certo?
Só que se você usar um diamante com perfil mais complexo, mais facetado e mais fino, Elíptico em vez de Cônico, a área de contato da agulha com a parede do sulco é maior verticalmente – e isso significa trazer mais informações, ‘ler’ mais informações. E, também, significa que, em perfis complexos, a maneira como essa área é ‘lida’ pela agulha, também conta.
Ou seja, os melhores perfis provêm um tracionamento melhor, com resposta de frequência mais estendida e menor distorção. Inclusive porque, ao ler uma área maior do sulco, chegam mais perto do que a agulha de corte ‘esculpiu’ quando se fez a master física para a prensagem dos LPs. A ideia é resgatar mais informações, que estão lá no sulco, mas que agulhas mais simples não conseguem.
Um par de princípios:
1) O diamante pode ser montado no cantilever de maneira ‘Nude’ (o diamante é uma peça inteiriça colada e/ou crimpada no cantilever, resultando em melhor qualidade, solidez e menor massa) ou ‘Bonded’ (onde um diamante de menor qualidade é colado em outra peça, e essa é colada no cantilever, resultando em maior massa e menor qualidade sonora).
2) Perfis mais complexos são inerentemente mais finos, para alcançar mais a parede dos sulcos e de maneira mais profunda, e por isso precisam ser feitos a partir de diamantes de melhor qualidade, mais caros e mais difíceis de fabricar, e por isso sua montagem é ‘Nude’.
O principais perfis de agulhas:
Cônico (ou Esférico) – barato de fabricar e durável, ocupa cápsulas e toca-discos mais simples, desde o começo do vinil até hoje. Foi muito usado também em broadcast (uso profissional em emissoras de rádio, por exemplo). Tem menor ruído de superfície em vários casos. Ao se olhar seu perfil, visto de baixo, é um cone, porém bastante ‘raso’, o que faz com que leia o sulco perto de sua superfície, ou seja, tira menos informações dele.
Elíptico – a forma de elipse passou a permitir o diamante ser mais fino e comprido, mais alto, permitindo entrar mais fundo no sulco e obter mais informações do mesmo – sem incorrer em um custo muito mais alto que o de um diamante cônico.
Shibata – o primeiro tipo de ‘Line Contact’ – inventado antes dela, na década de 1970 pela japonesa JVC para poder, graças à sua resposta de frequência estendida até 45kHz, decodificar os canais traseiros dos discos quadrafônicos feitos no sistema CD-4. Claro que, é até hoje muito usado por modelos de cápsulas que procuram melhor resposta de agudos e maior detalhamento dos mesmos, mas usualmente não tem o mesmo equilíbrio tonal que as agulhas Line Contact. Pode-se dizer que, das agulhas de alta definição sonora, a Shibata é a mais analítica.
Line Contact – que inclui o Fine Line, o Hiper-elíptico e o Stereohedron (Stanton & Pickering), sempre com variações de dimensões, foi inventado no Japão no final da década de 70, e é o mais usado por cápsulas topo de linha hoje, por ter um tracionamento superior, ser o mais equilibrado tonalmente, e com uma definição ou detalhamento que rivaliza perfis como o Shibata. Maximiza a área de contato vertical, com o mínimo de área de contato horizontal (ou lateral) – e daí o nome ‘Fine Line’, fazendo a leitura mais delicada dos detalhes.
MicroRidge – ou ‘MicroLine’, são considerados como um aprimoramento das Line Contact, usando a mesma ideia básica da área de contato vertical grande com uma ‘linha fina’ de contato lateral. Porém são um avanço, desenvolvidas de maneira mais precisa, com auxílio do design pelo computador e de ferramentas de corte e polimento mais avançadas, por laser. Tem tracionamento melhor, com menos erros, menor distorção, menor ruído de superfície se tiver seu posicionamento no braço (que é extremamente exigente) correto e milimetricamente regulado.
Diz-se que esse formato, por ser muito fino lateralmente, desgasta mais rápido que agulhas Line Contact normais – mas isso faz parte de mitos e lendas que ainda estão sendo discutidos.
Existe uma longa lista de perfis especiais, proprietários, baseados nos mesmos princípios da Line Contact mas também com a mesma especialização da MicroRidge. Esses surgiram da visão pessoal de vários engenheiros da área de fabricação de cápsulas e agulhas – sempre procurando a melhor trilhagem e o maior detalhamento e qualidade sonora.
Entre eles estão ‘FG’ e ‘Replicant’ da dinamarquesa Ortofon, ‘SAS’ da japonesa JICO, ‘vdH’ da holandesa van den Hul, ‘Octahedron’ da japonesa Koetsu, etc. E alguns outros nomes, como ‘Paratrace’, ‘Decca’, ‘Gyger’ e ‘Vital’ parecendo ser variações desses outros – inclusive com acusações de cópias de designs e de produção sem pagamento de royalties. Muitos são o uso de diferentes nomes por diferentes marcas de cápsulas, em perfis semelhantes – e também por diferentes empresas de retip (as que consertam cápsulas quebradas ou estragadas).
As principais fabricantes hoje – sob encomenda de empresas de cápsulas e agulhas – dos diamantes em vários perfis, tamanhos e qualidades de material, são as japonesas Ogura e Namiki, e a suíça Fritz Geiger (que dá nome a algumas variações de perfis especiais).
(MITO) Desgaste do LP por agulhas Line Contact / Fine Line – mito criado porque essas agulhas costumavam trabalhar com pesos de tracionamento de 2 a 2.7 gramas, enquanto que as Elípticas trabalham com 1.5 à 1.75 gramas, usualmente. Algumas pessoas acreditam que pelo peso ser maior e a agulha ser mais pontuda (os perfis são bem menores e bem mais pontudos que os Cônicas), vai ‘comer’ o sulco do disco.
A verdade é que a agulha Fine Line não é mais pontuda e sim menor, permitindo entrar mais fundo no sulco para a melhor leitura, assim como seu peso de trabalho considerado ‘alto’ é fruto de como foi projetada a maleabilidade (compliância) da suspensão da cápsula: uma cápsula com suspensão mais mole trabalha com braços mais leves e, portanto, com peso de tracionamento menor.
Por exemplo, algumas agulhas Stereohedron da cápsulas topo de linha da Stanton, ou as Hiper-Elípticas da linha V15 da Shure, tinham perfis Line Contact bem finos e permitiam pesos de tracionamento de 1 grama, mas geralmente em braços mais leves por causa de alta compliância (suspensão do cantilever mole) que permitia essa compatibilidade, já que a suspensão mais mole transmite menos vibrações para o braço, deixando a frequência de ressonância de graves fora da área audível – e isso resultava em melhor qualidade sonora.
Ou seja, também não é uma necessidade que esse tipo de perfil Fine Line trabalhe com peso alto ou baixo – apenas é uma necessidade de projeto para compatibilidade com braços.
Durante um bom tempo, houveram braços leves, braços ultra pesados, agulhas com alta compliância e agulhas com baixa compliância, e uma longa série de problemas sérios de compatibilidade geral: uma coisa geralmente não era compatível com outra, necessitando de casamentos específicos para se obter bons resultados.
Essa era ficou para trás – hoje os braços do mercado estão tendendo a ser de massa média ou um pouco alta, e as agulhas a terem suspensões com compliância média: compatibilidade maior entre uma quantidade maior de modelos de braços e cápsulas.
Isso se vê nas agulhas tipo Fine Line que são usadas nas cápsulas atuais, que estão descendo de 2.7 gramas para ficarem na vizinhança das 2 gramas.
E, mesmo assim, é preciso que se saiba que 2.7g não irão desgastar os sulcos de nossos preciosos LPs, assim com uma agulha Cônica em 4 gramas também não vai. O que desgasta os LPs em bons e decentes toca-discos são agulhas mal reguladas e agulhas sujas demais, ou com incrustações de detritos sólidos, ou com rachaduras por maus tratos.
Outras discussões sobre a durabilidade da agulha – o desgaste com o uso normal – são um pouco inconclusivas, e oscilam entre 2000 a 5000 horas, sendo que alguns fabricantes alegam até 10.000 horas antes de gastar o diamante.
Além do mau uso influir muito, a má regulagem, a qualidade e limpeza dos discos, e a qualidade do diamante em si, também são causas do fim da agulha a já falada falta de limpeza da mesma, assim como se fala muito na comunidade e entre especialistas, que o uso de líquidos de limpeza de agulha pode interferir com a vida útil da cola usada.
Cuide de suas agulhas e poderá ter agulhas com grande longevidade. Cuide de seus discos, e eles durarão décadas – nunca tive discos que foram gastos por uso normal de agulhas de boa qualidade.
Dúvidas sobre vinil? Mande-nos um e-mail em: christian@clubedoaudio.com.br.