Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br
A FTC – Federal Trade Commission – é mais ou menos o Órgão de Defesa do Consumidor do governo norte-americano, com funções a mais, como o antitruste (atribuição que divide com o Departamento de Justiça). Ela é fiscalizada pelo Senado, e funciona mais profundamente, é grande, bem aparelhada e financiada – e suas regras têm que ser seguidas.
Eles sempre tiveram regras de como as especificações de aparelhos de som deveriam ser apresentadas. E agora, para chiadeira geral de um parte do mercado, a FTC promulgou, em agosto último, condições pré-definidas para a medição de potência de aparelho que tenha um amplificador de áudio dentro.
Um exemplo é que agora é necessário que a potência alegada nas especificações seja medida com 1% de Distorção Harmônica Total (THD). E que pare de ser declarada (como é feito por alguns) como a potência em uma específica frequência – ou seja, a potência declarada tem que poder ser medida em qualquer frequência.
Veja, as especificações escritas declaradas nos manuais e caixas de produtos, e nos sites dos fabricantes, deverão vir dizendo se foram medidas dentro das novas diretrizes da FTC, ou não. Se estão dentro dos padrões, ou não.
Isso tudo tem que vir dos fabricantes, dentro das novas normas, para que o cliente receba informações coerentes, e inclusive possa comparar melhor e se informar melhor.
Aí é que entra a primeira celeuma: dar a potência de um aparelho apenas em uma específica frequência, é um bocado errôneo – para não dizer desonesto – e não informa nada que chegue perto da potência real útil do equipamento. Mas essa nova diretriz, esse novo padrão de medida, vai alterar bastante o que hoje é declarado, para muitos.
E tem vários fabricantes embelezam informações como potência máxima de seus amplificadores – e isso quer dizer que, se for realmente medido com no máximo 1% de THD, várias especificações que vêm sendo declaradas há anos, podem diminuir bastante, o que não vai pegar bem para muitos deles.
Um outro problema são muitos amplificadores valvulados, notórios por trabalharem com Distorção Harmônica bastante alta, cuja potência declarada terá que passar a ser muito menor no novo sistema de medições – e isso pode torná-los bastante pouco atraentes, porque valvulado já não é conhecido por ter potência muito alta.
Alguns especialistas estão, inclusive, dizendo que se for mesmo medir alguns valvulados no mercado, para dizer qual é sua exata potência com apenas 1% de THD, que o resultado vai ser ou ‘nenhuma’ ou dezenas de vezes menor – pois dizem que esses aparelhos simplesmente quase não trabalham com distorção pequena assim, e eles têm que cumprir outros padrões não só os 1% de THD: tem que ser em qualquer e todas frequências de 20Hz a 20kHz, e medidas desde 250mW até, digamos, os 10 ou 15W declarados hoje por alguns. Maus lençois.
Vejam bem:
As regras todas listadas para medição da potência máxima incluem ser em qualquer frequência de 20Hz a 20kHz, ser em 8 ohms, desde 250mW até a potência máxima, e serem medidas após os sinais terem sido aplicados na entrada do amplificador por 5 minutos constantes nessa potência máxima. E a potência medida e declarada passará a ser chamada de “Potência Média Contínua” (Continuous Average Power) por canal! E em equipamentos multicanal, a medição tem que ser feita com todos os canais sendo alimentados continuamente ao mesmo tempo!
Já tem gente coçando a cabeça para ver qual será a potência real que obterão ao se ir baixando o volume até que se consiga estar em todas essas condições e regras! Tem gente que vai pedir reembolso de potência!
Claro que os fabricantes e especialistas já dizem que isso irá dar muito trabalho para as empresas para se adequarem às condições de teste, para adequar seus equipamentos aos resultados, reprojetar parte deles, etc e tal – e que isso irá custar dinheiro e será, claro, repassado para o consumidor final.
Boa sorte com essa ideia de jogar o problema para o consumidor final!
E também está claro que alguns produtos nunca conseguirão ser medidos dentro dessas regras…
Mas, como sempre, faz-se muito barulho sobre esse tipo de coisa, eleva-se o problema à enésima potência e, depois, no final, o resultado não é tão cataclísmico assim – vide “Bug do Milênio” (sim, eu estava lá… rs…). Veremos.
Muitos dizem, entretanto, que esse esquema tornará os produtos mais honestos para com o consumidor – o que não deixa de ser verdade. E muitos se perguntam o quanto isso tudo é aplicável a fabricantes artesanais.
Como e quais sanções serão aplicadas pela FTC, e se serão – e o quanto um fabricante poderá passar a ser mal visto se não declarar suas especificações de acordo com as novas regras.
Muitas perguntas sem resposta, ainda. Mas logo saberemos os resultados.