Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
De tão recorrente que é essa pergunta, não sei dizer quantas vezes tive que responder a ela. Seja ao vivo, à queima roupa, no nosso Workshop, como por e-mails: “Andrette, não existe nenhum amplificador decente por menos de 15 mil reais, novo?”.
Minha resposta sempre foi: estamos caçando essa ‘joia rara’.
E acreditem, não foi por falta de empenho de nossa parte. Pois reviramos cada um dos nossos parceiros comerciais, à caça dessa ‘preciosidade’.
A questão, no entanto, sempre esbarrou em vários pontos: primeiro a desvalorização de nossa moeda, o que encarece demais o produto importado, os impostos aviltantes cobrados pelo nosso governo, e uma tendência do mercado em olhar muito mais para o mercado de luxo do que o de entrada.
Também temos culpa no cartório, pelo fato de garimparmos por um integrado que tivesse uma potência ‘decente’ para empurrar caixas com sensibilidade de 85 a 88 dB, tivesse ao menos uma entrada de phono MM de bom nível, e se possível um DAC interno também de bom nível.
E nossa busca finalmente resultou em uma ótima descoberta: esse integrado de menos de 13 mil reais existe, e ainda de ‘bônus’ traz também um bom amplificador de fones de ouvido!
Um pacote tão completo já o torna uma opção segura a todos que desejam montar seu primeiro e definitivo sistema – enxuto, mas com bons atributos sonoros.
E feito por quem está no mercado há quase meio século, e mantendo sua filosofia inicial de oferecer opções seguras e baratas.
Eu sempre tive muito apreço pela marca, e tive ao longo dos anos toca-discos da Rega – começando pelo P3 quando ainda estava na Audio News, depois o modelo P25, culminando com o P9. Além da caixa Rega Ela, por quase uma década no meu segundo sistema.
Acho que testei 90% de todos os produtos lançados pela marca nos últimos 30 anos, e modestamente conheço bem o ‘DNA Sonoro’ da Rega.
Meu testemunho é que são produtos feitos para durar uma vida, se bem cuidados.
A sonoridade de seus eletrônicos está mais para o quente do que o analítico, e bem-casados costumam soar bem musicais.
O que ouço de críticas: que as pontas poderiam ter mais extensão e o soundstage poderia ser mais profundo e largo. Os modelos de eletrônicos mais top da marca, não possuem essa limitação, acreditem.
E esses produtos têm ajudado os engenheiros da Rega a buscar aplicar esse aprimoramento em seus novos eletrônicos de entrada.
Um bom exemplo é o novo amplificador integrado Elex Mk4, que em relação ao Elex-R, mostrou significativo avanço, principalmente nos graves.
Acho que a Rega tem como proposta só avançar em sua topologia quando se sente absolutamente segura.
E não podemos esquecer que se trata de produtos de entrada, com uma forte concorrência Asiática com seus Classe D, baratos e descartáveis (quebrou, compra outro).
A Rega não, continua apostando em sua topologia Classe AB, alterando apenas o tamanho do transformador de cada modelo para gerar maior potência.
E o Elex Mk4, nesse quesito, é bastante generoso com seus 72 Watts em 8 ohms e 90 Watts em 4 ohms. Para salas de até 16m quadrados, com a caixa certa (pelo menos de 88 dB), será potência suficiente para qualquer estilo musical.
Outra mudança significativa foi no acabamento, tornando essa nova versão mais limpa e elegante.
E como já cantei a bola, ele além do amplificador de fone de ouvido, possui um bom pré de phono (MM) e um DAC também de bom nível, com duas entradas digitais: coaxial e óptica.
Para o teste utilizei especificamente duas caixas: Rega Aya (seu parceiro natural, na minha opinião) e a Wharfedale Aura 2.
Mas eu indicaria, nesse hall de caixas, também a Wharfedale Linton 85 e a Denton, como parceiras a serem ouvidas.
O cabo de caixa foi o Trançado da Virtual Reality, com excelente casamento, e os cabos de interconexão foram o coaxial também da Virtual Reality, e da Sunrise Lab, e um velho e surrado van den Hul Digicoupler. O DAC usado foi o Ferrum Wandla, e o streamer foi o Nagra Streamer (leia teste edição de dezembro próximo). Cabo de força, usei o original que vem com o equipamento, e também Virtual Reality Argentum (leia teste na Edição 309).
Para ligar o phono, consegui ouvir por um final de semana emprestado de um amigo o Rega P3 com uma cápsula Ortofon 2M Red.
E como fones, utilizei o Grado SR225x (leia teste na edição de novembro da Audiofone), e o Meze 109 Pro.
O Rega Elex Mk4 veio zerado, o que exigiu uma longa queima de mais de 180 horas. Um lembrete importante: tenha paciência, pois ele parecerá escuro e sem pontas nas primeiras 100 horas. Ouvi-lo nessas condições levará a impressões erradas sobre o amplificador.
Como a caixa Aya veio junto, usei essa queima também para o amaciamento da caixa – ela foi ainda mais demorada: 250 horas!
Se você fizer a lição de casa pacientemente, garanto que irá apreciar o seu investimento. Pois o Rega entrega o que promete. Aliás, para um produto desse nível de preço, diria que a soma do pacote, vale cada centavo investido.
Seu equilíbrio tonal possui agora um grave com melhor extensão na fundação da primeira oitava, permitindo respostas rápidas e com bom corpo e energia. Tanto em instrumentos percussivos, como solos de contrabaixo e órgão de tubo!
A região média mantém aquele calor tão característico de toda eletrônica Rega, desde sempre.
Se você é adepto de maior transparência, esse tipo de eletrônica não o irá satisfazer. Mas para quem quer resgatar toda sua coleção de discos, eis uma oportunidade de ouro.
E os agudos, ainda que não tenham aquele decaimento mais extenso e suave, ele é o suficiente para se reconhecer o tamanho de salas de gravação, e a quantidade de reverberação usada nas vozes.
E nunca irá passar do ponto com estridência ou brilho excessivo.
Se isso é importante para você, o Elex Mk4 é uma ótima opção.
O soundstage realmente tem maior largura que profundidade, mas isso pode ser contornável se as caixas puderem ser ajustadas com um respiro decente entre as paredes laterais e a parede às costas delas.
Que medida é essa? Algo de pelo menos 40 cm das paredes laterais e 60 cm das paredes as costas. E o mais importante: uma distância mínima entre as caixas de pelo menos 2.50m – para que? Para poder ter espaço para a montagem correta do triângulo equilátero, claro.
Isso irá ajudar e muito a contornar a limitação de profundidade.
As texturas são um ponto alto desse integrado. Ouvindo o novo álbum do pianista Tianqi Du, tocando o Concerto para Piano e Cordas de Bach, foi possível ouvir sem esforço as paletas de cores da orquestra de cordas, em contraste com o piano, ainda que em alguns momentos estejam todos em uníssono.
O mesmo ocorreu com a gravação do Quarteto Calidore tocando Beethoven. Gravação primorosa que pode perfeitamente ser uma excelente referência para esse quesito, justamente pela qualidade dos músicos, seus instrumentos e a belíssima captação.
Falta maior arejamento nos violinos? Certamente que sim, mas isso não tira a beleza de observarmos a soma de virtuosidades do quarteto.
Os transientes, desde que conheço as eletrônicas Rega, nunca foram problema. Tempo e ritmo, sempre foi uma busca incessante deste fabricante. E o Elex cumpre com maestria esse quesito.
Os amantes de rock e blues, se sentirão recompensados ao ouvir seus discos nesse integrado.
A macrodinâmica não tem aquela ‘volúpia’ de integrados mais refinados e com maior potência. Mas será possível, com a caixa certa, se conseguir melhores ‘degraus’ entre o piano e o fortíssimo.
Já a microdinâmica, pelo Rega não ser ultra transparente, não terá a recuperação de todos os mais sutis detalhes, somente os mais bem captados e presentes na mixagem serão ouvidos (esse é um preço a se pagar com os produtos mais de entrada, não dá para ter tudo).
O corpo harmônico é excelente para o seu preço, e até nos surpreendeu em muitas gravações que achávamos que não seria tão fiel ao tamanho real do instrumento.
E a materialização física dependerá exclusivamente da qualidade técnica das gravações. Se forem magistrais, o acontecimento físico ocorrerá – do contrário, não.
CONCLUSÃO
Sinceramente acho que o Rega Elex Mk4 é um excelente integrado de entrada.
Pois o consumidor só precisará escolher sua fonte (CD, LP ou Streamer), e ligá-la ao integrado, e este ao par de caixas ideal.
Um sistema minimalista que pode dar muitas horas de prazer auditivo.
Quer melhorar as pontas, invista em um cabo de força melhor, e um par de cabos de caixas com um equilíbrio tonal impecável!
Sua sonoridade, ainda que mais para quente que transparente, é muito correta e livre de fadiga auditiva ou limitação na escolha do que ouvir.
Isso é um alento, meu amigo, para quem tem um orçamento reduzido mas sonha com um setup de maior qualidade e refinamento.
Tudo que esse pacote oferece é honesto, e pode ser a solução que tantos dos nossos leitores desejam!
Se cabe no seu bolso, eu o ouviria com enorme atenção!
PONTOS POSITIVOS
Um pacote coerente e sedutor.
PONTOS NEGATIVOS
Para quem deseja maior transparência, ele não irá atender.
ESPECIFICAÇÕES
Potência | 72W por canal (8 ohms) |
Pré de Phono | MM |
Entradas analógicas | 4x linha RCA |
Entradas digitais | Coaxial, óptica |
Saídas para Fones de Ouvido | Sim |
Dimensões (L x A x P) | 34 x 8,2 x 43,2 cm |
Peso | 11 kg |
AMPLIFICADOR INTEGRADO REGA ELEX MK4 | ||||
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Equilíbrio Tonal | 10,0 | |||
Soundstage | 10,0 | |||
Textura | 10,0 | |||
Transientes | 11,0 | |||
Dinâmica | 10,0 | |||
Corpo Harmônico | 11,0 | |||
Organicidade | 10,0 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 84,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
Alpha Áudio e Vídeo
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R$ 12.500