Influência Vintage: CAIXAS ACÚSTICAS ADS L810

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Equipamentos Vintage que fazem parte da história do Áudio.

O termo Vintage tem a ver com ‘qualidade’, mais do que ‘ser antigo’. Vem do francês ‘vendange’, safra, sobre uma safra de um vinho que resultou excepcional. ‘Vintage’ quer dizer algo de qualidade excepcional – apesar de ser muito usado para designar apenas algo antigo.

Nesta série de artigos abordamos equipamentos vintage importantes, e que influenciam audiófilos até hoje!

MADE IN USA (VINDO DA ALEMANHA)

Mesmo durante o tempo no qual o áudio japonês desabrochou no mundo inteiro, a Europa ainda tinha uma profunda e brilhante participação em seu mercado – e até com alguns produtos seus encontrando seu espaço no enorme mercado americano, como é o caso das caixas acústicas ADS L810, um produto com DNA completamente alemão.

A tradição de marcas alemãs – e da holandesa Philips – é profunda, e mostra ainda hoje o país como um participante significativo do áudio de alta qualidade, assim como o Reino Unido, um dos berços da audiofilia, também continua com marcas e produtos relevantes no mundo inteiro.

AS CAIXAS ACÚSTICAS ADS L810

As L810 são caixas consideradas ‘bookshelf’ – de uma época onde os livros deviam ser enormes! rs… Com seus 65 cm de altura, elas eram muitas vezes utilizadas, erroneamente, no chão, ou por audiófilos mais experientes, com um tipo de pedestal, de suporte, baixo, de metal – bastante comum até hoje em caixas ‘book’ grandes – que erguia o tweeter até à altura correta e ainda inclinava as caixas um pouco para trás, melhorando direcionalidade do tweeter e resposta de médios-graves ao diminuir a reflexão no chão.

O projeto das L810 é, inicialmente e literalmente, da empresa alemã Braun. Tanto que, nessa época, mesmo a ADS licenciando linhas de equipamentos da Braun nos EUA, e até chegando a fabricar os equipamentos lá, a linha de caixas – que inclui as L810 – é claramente de estilo europeu: tweeters e médios domo, e suspensão acústica.

Com uma resposta de frequência de 35Hz a 23kHz, a L810 é um projeto de 3 vias com dois woofers de 8 polegadas e cone de papel (em suspensão acústica) – 4 ohms para as versões mais antigas, e 6 ohms para as últimas gerações, já no final de sua produção. E as últimas versões tinham também sensibilidade mais alta. Os woofers traziam bordas de borracha, e o médio e o tweeter são de domo de tecido – do tipo ‘grudento’, que pegava poeira e não soltava mais, sendo a sugestão, por isso, sempre usar elas com as telas.

Sua etiqueta de preço era, no meio da década de 70, de US$650. E, já na década de 80, de US$800. Ambos valores significam, atualizados para 2024, aproximadamente US$3.300 o par.

MODELOS SEMELHANTES

Houveram várias gerações de L810 com a marca ADS, feitas nos EUA, onde os falantes e os divisores de frequência sofreram poucas alterações.

Visualmente, as mudanças foram nos bornes de ligação atrás, variando de bornes mais simples de parafusar, passando por bornes de pressão com molas (onde só entrava fio desencapado e fino), chegando depois ao uso de bornes que permitiam tanto fios quanto forquilhas e plugues tipo banana. Claro que a versão original, a Braun L810 alemã, tinha o fio já embutido nas caixas, com terminação DIN na ponta – amplamente usado na Europa nas décadas de 60 e 70, antes deles assumirem o padrão do resto do mundo, que é usado até hoje.

Primeira geração – Made in USA
Terceira geração – Made in USA
Braun L810

A versão ADS apropria-se bem ao mercado americano, com seu estilo internacional com frente preta, o resto do gabinete com as bordas e cantos quadrados com acabamento em madeira, e com tela em tecido. Já as originais Braun feitas na Alemanha, e comercializadas em boa parte da Europa, ostentavam o tradicional e premiado design da marca pelas mãos de Dieter Rams – que caracterizou uma enormidade de produtos da marca Braun nas décadas de 60 e 70. Suas cores, como o branco e o cinza no lugar da madeira e das telas marrons, e as bordas arredondadas do gabinete, são muito mais distintas e bonitas – mas identificam facilmente as décadas de onde vieram.

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Tirando o visual e o tacanho sistema DIN de conexão de caixas, as Braun – que vieram antes, aliás – utilizavam os mesmos falantes e divisor de frequências.

A linha de caixas onde estava a L810 também compreendia seis modelos de caixas menores – inclusive duas bookshelfs muito pequenas – e um modelo acima, de caixa ‘quase torre’, a L910. Todos os modelos eram suspensão acústica.

Entre seus concorrentes, no mercado que procurava caixas desse tamanho, estavam a bass-reflex JBL L100 Century em um extremo, e as caixas Large Advent, também de suspensão acústica, em outro.

COMO TOCAM AS L810

Os depoimentos gerais sobre as L810 – que é uma das caixas queridinhas de muitos especialistas em som vintage nos EUA – era que elas tinham uma performance superior à muitas caixas semelhantes da época, com um gabinete ainda bastante compacto que provia graves com boa profundidade, e médios e agudos limpos e sem exageros.

Braun L810

Seu som é dito como limpo e bastante correto – mas faltando extensão de agudos e arejamento, e consequentemente detalhamento, quando comparadas com uma caixa moderna, claro. Era um som considerado agradável e musical, de baixa fadiga e quente.

O uso de tweeters domo de tecido, já era um indicativo de caixas de melhor qualidade sonora nos agudos – principalmente para a época. O uso de um médio de domo, então, completava o quadro trazendo frequências médias também superiores. E isso tudo, junto com a dispersão melhor desses falantes, trazia um palco maior e um corpo harmônico melhor para a época, nos médios e agudos.

Large Advent

A ‘deficiência’ desse tipo de caixa vêm de uma tendência comum na década de 60 e em parte da década de 70, onde o sistema de gabiente de suspensão acústica estava na moda – pois a ideia era que se podia fazer caixas menores em tamanho, para ambientes menores, usando suspensão acústica em vez de gabinete dutado, e ainda assim ter uma resposta mais profunda em graves.

O problema é que esse tipo de gabinete tem um som ‘preso’, apagado e com menor definição e recorte – afinal, os instrumentos acústicos todos, de frequências graves, não são ‘selados’, tendo livre seu fluxo de ar. E, claro, nessa mesma década, a suspensão acústica foi gradativamente sendo abandonada em favorecimento ao bass-reflex, porque esse trazia um grave mais livre, detalhado e realista, e a tecnologia de falantes já estava começando a permitir caixas bass-reflex de tamanho menor com boa qualidade e quantidade de graves.

SOBRE A ADS: ANALOG & DIGITAL SYSTEMS

Nos anos 60, o físico e pianista amador alemão Dr. Godehard Guenther mudou-se para os EUA para trabalhar na NASA. Ávido audiófilo, logo percebeu que o tipo de equipamento e design que procurava para montar e atualizar seu sistema de áudio, era escasso ou inexistente no mercado americano.

Logo começou gradativamente a importar os equipamentos da divisão de áudio da alemã Braun – e tanto seu negócio cresceu, que Guenther saiu da NASA em 1974 para se dedicar completamente ao áudio.

A adequação dos produtos Braun ao mercado americano, inclusive no que tange ao design mais tradicional dos gabinetes das caixas, levou à criação da marca ADS – muitas vezes grafada A/D/S – e a manufaturar os produtos licenciados da Braun, nos EUA, em Wilmington, Massachusetts.

Depois de alguns anos, o sucesso de Guenther como distribuidor americano levou-o, inclusive, a adquirir a divisão de produtos de áudio da Braun das mãos da gigante Gillette.

O Dr. Guenther se aposentou em 1993, quando a ADS se juntou à empresa canadense Museatex, e mudou seu foco para pesquisa e desenvolvimento. Guenther veio a falecer em outubro de 2014.

Um outubro bem musical a todos nós!

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