Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Quando eu estava na revista Audio News, realizamos o evento Audio Show e, em seu segundo ano, conheci a caixa da Rega Ela Mk2 Xel, lançada em 1992 – se não me engano.
E fiquei impressionado como aquela pequena coluna de duas vias tinha um grau de sedução para vozes e instrumentos acústicos, impossível de não notar e não se encantar.
Tanto que, ao testá-la, acabei ficando com o par para o meu segundo sistema (que ficava em uma sala menor) por quase uma década!
Então, ao contrário de muitos audiófilos que tiveram seu primeiro contato com os toca-discos deste fabricante inglês, eu comecei a conhecer a fundo a ‘filosofia’ de Roy Gandy pelos seus sonofletores, inicialmente.
Então, ao saber do lançamento das caixas Aya, com seu gabinete exótico de concreto e vidro, tive curiosidade, e a certeza de que deveria testá-la.
Nas fotos parecem maiores do que são ao vivo. Com apenas 87cm de altura, e apenas 14 kg, ela será muito fácil de instalar e ajustar em qualquer sala, e garanto você irá agradecer essa facilidade de manuseio, pois elas são bastante exigentes com o posicionamento.
A escolha de concreto para a construção de gabinete não é nada comum, e o uso de fibra de vidro para dar mais rigidez ao gabinete, menos ainda.
A Rega diz que optou por essa escolha pelo fato de conseguir o mesmo resultado em termos de performance que com MDF, que é muito mais caro. E em termos de design, este gabinete permite variações de formatos que seriam impossíveis no MDF.
Apenas o painel frontal é feito de MDF, com um invólucro de vinil que imita o alumínio escovado e dá um efeito visual interessante quando se joga luz em cima da caixa.
Os pés, que dão a sustentação, são feitos de metal, mas diria para ainda assim terem cuidados com crianças pequenas e animais de estimação de grande porte. Quanto às crianças, um outro detalhe: a Aya não tem tela de proteção para os falantes, então será um convite e tanto para dedinhos curiosos.
A Rega optou por uma topologia de duas vias e meia, com um tweeter ZRR desenvolvido pelo fabricante, um falante de médio-grave de 5 polegadas e um woofer de 7 polegadas. Ambos com cone de papel tratado – usado em todos os seus falantes desde 1990.
O pórtico de graves fica abaixo do falante de 7 polegadas, e não existe a possibilidade de bicablagem na Aya.
Segundo o fabricante, sua sensibilidade é de 89dB, e sua impedância nominal de 6 ohms. Ou seja, é uma caixa compatível com qualquer amplificador de no mínimo 50 Watts, para salas de até 16m².
O fabricante não fornece dados sobre sua resposta de frequência, então tivemos que descobrir ouvindo.
Para o teste, utilizamos os integrados Rega Elex Mk4 (leia teste na edição 311), Norma Audio Revo IPA-140, e Soulnote A-3 (leia teste nesta edição). Fontes digitais: Streamers Nagra Innuos ZENmini Mk3, e DAC Wandla da Ferrum Audio (leia teste na edição 310). Os cabos de caixa foram o Virtual Reality Trançado.
A primeira dica importante: você vai precisar de paciência para o amaciamento, que será longo e gradativo. A Aya, quando instalada, será uma decepção quase que mortal! Pois os graves estão travados e os agudos engessados. Só tem médio!
Mostrar em um Show Room a Aya sem amaciar será um tiro no pé. Imagine, então, convidar os amigos audiófilos para escutá-la com dez horas de queima?
Será munição para falarem mal de sua escolha por anos!
Mas ela não soará assim para sempre. Dê o tempo certo, e ela irá florescer e mostrar que o investimento valeu a pena.
Segunda dica: se gostas de ouvir em volumes altos, e seu gosto musical está mais para Thrash Metal, esqueça-a, pois ela não foi projetada nem para tocar em nível de PA e muito menos tocar Thrash Metal.
Mas, se sua coleção de discos está mais para obras acústicas, vozes, pop e rock bem gravados, trios, quartetos, quintetos, jazz, blues e MPB, então ela pode ser uma sonora surpresa para você.
Terceira dica: no posicionamento elas precisam, apesar de seu tamanho, serem instaladas simetricamente na sala e, no mínimo, com 2.5m entre elas e 50cm das paredes laterais, e 80cm das paredes às costas.
Quarta dica: ela se sentirá à vontade em salas de 10 a 16m², com um amplificador de no mínimo 50 Watts e uma fonte digital ou analógica de bom nível, pois depois de amaciada, ela irá te surpreender com seu grau de detalhamento e musicalidade.
Quinta dica: esqueça as primeiras 100 horas, pois ela irá melhorar muito pouco e fará os ansiosos quererem jogá-las pela janela.
Mas, se acredita em amaciamento, não fará tamanha besteira e irá esperar as 180 horas mínimas para descobrir que seus graves irão desabrochar e seu agudo sairá da profunda hibernação de fábrica.
Sexta dica: enquanto espera a transformação de Patinho Feio em Cisne, você pode ir ajustando o posicionamento ideal delas na sua sala, mas deixando o ajuste fino apenas para quando ela estiver totalmente amaciada.
E quanto tempo esse processo leva, Andrette? Aqui foram 250 horas, e até 320 horas ainda ocorreram ajustes pontuais (no encaixe do médio-alto com o tweeter).
Se você for capaz de domar sua ansiedade, e se lembrar que a caixa custou menos de 15 mil reais e tem uma assinatura sônica muito convincente e sedutora, você passará de um ouvinte frustrado, para um ouvinte realizado!
Seu equilíbrio tonal depois de amaciado tem graves com peso, articulados, velozes e convincentes. Sua região média é seu ponto forte. Possui um grau de naturalidade e presença muito intenso, e os agudos, se não são a última palavra em extensão, cumprem bem com o seu papel de não soarem sujos ou brilhantes.
Se isso para uma caixa de menos de 15 mil reais é o que você procura, você achou o par perfeito para sua sala, gosto musical e eletrônica.
Seu soundstage, quando bem posicionada, possui excelente largura, boa profundidade, mas a altura será mais para uma book do que uma coluna. Mas existem maneiras de se contornar a altura, com menos toe-in, deixando-as quase paralelas com as paredes laterais, e no máximo 15 graus voltados para o ponto de audição – aí a altura será um pouco melhor.
Texturas, assim como no equilíbrio tonal, serão fáceis de notar, principalmente a paleta de cor dos instrumentos.
Os transientes são precisos e com ótimo ritmo e andamento, nenhum complicador em termos de inteligibilidade, mesmo em gravações difíceis com enorme variação de velocidade e andamento.
A dinâmica será obviamente melhor que de uma book, porém com limitações de tamanho dos falantes e do gabinete. Mas nada que impeça de ouvir com gosto os crescendos, desde que em volumes corretos.
Já a microdinâmica é bem apresentada, porém sem aquele grau de transparência que tantos apreciam.
Fiquei surpreso com a apresentação do corpo harmônico de instrumentos como órgão de tubo, tuba, piano e contrabaixo. As pequeninas são valentes ao mostrar o tamanho desses instrumentos!
Colocar os músicos à nossa frente, dependerá mais da qualidade das gravações e da eletrônica. Se estiver presente essa qualidade, a Aya será capaz de apresentar a música como se estivesse ali à nossa frente.
CONCLUSÃO
Hoje o leitor encontra excelentes opções de caixas bookshelf e de colunas até 15 mil reais no mercado.
Então o melhor a fazer antes de sair comprando, é ouvir com calma e com seus discos de referência. Munido de paciência, garanto que haverá uma opção que atenda ao seu gosto e bolso.
O que a Rega Aya tem de diferenciado em relação à concorrência?
Sua assinatura sônica está mais para o eufônico que o neutro ou transparente, sua compatibilidade com amplificadores a partir de 50 Watts, e sua facilidade e equilíbrio para tocar tanto em volumes reduzidos quanto em volumes certos e seguros.
Com a eletrônica certa, será um deleite escutar música na Aya.
Tenha a paciência para esperar seu amaciamento integral, e te garanto que ela poderá te surpreender!
PONTOS POSITIVOS
Uma caixa com um som quente e natural.
PONTOS NEGATIVOS
Precisa ser muito bem-posicionada para se extrair todo seu potencial.
ESPECIFICAÇÕES
Tipo | Gabinete band-pass |
Material do gabinete | Cimento reforçado com vidro |
Duto | Frontal |
Drivers | • Rega ZRR de alta-frequência • Rega mid-bass de 5” MX-125 • Rega woofer de 7” RR7.8 |
Impedância | 6 Ω |
Sensibilidade | 89.5dB |
Potência | 110W por canal (dependente da amplificação) |
Dimensões (L x A x P) | 258 x 871 x 215mm |
Peso (cada) | 14.1 Kg |
CAIXAS ACÚSTICAS REGA AYA | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 10,0 | |||
Soundstage | 10,0 | |||
Textura | 10,0 | |||
Transientes | 10,0 | |||
Dinâmica | 10,0 | |||
Corpo Harmônico | 12,0 | |||
Organicidade | 10,0 | |||
Musicalidade | 10,0 | |||
Total | 83,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
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