Christian Pruks
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Uma nova seção mensal só sobre Toca-Discos de Vinil
Eu não me importo com quem seja colecionista – mas me importo um pouco (de maneira bem pessoal) com quem coleciona aparelhos de som e não os usa, coleciona Lego e nunca montou um, coleciona discos de vinil (ou mesmo CDs) e não os ouve.
Já me é estranho o suficiente o fato de ter uma quantidade de gente no mundo que compra discos de vinil e não tem um toca-discos, e nem planeja tê-lo. Me lembra um sujeito, jovem, que andava para cima para baixo na Avenida Paulista, em São Paulo, com uma máquina de escrever antiga debaixo do braço – e nunca a usava, e nem precisaria, mas poderia ser um excêntrico que preferisse datilografar suas cartas e mandar pelo correio, em vez de usar e-mail ou WhatsApp. Não. Era só pose.
Não sei se isso já foi percebido, mas apesar do que se fala mal de audiófilos, a prioridade zero minha é a música, e não os aparelhos de som – esses são o meio, não o fim. É um meio muito interessante, legal e prazeroso, mas é um meio.
Enfim, a questão aqui em pauta é a compra de discos de vinil.
Os dois mais recentes LPs zero km 180g que comprei, foram um Dire Straits branco – o primeiro disco deles – para substituir a edição nacional que eu tinha. E o The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd, pelo mesmo motivo. O Floyd que eu tinha era uma prensagem razoável, mas já muito malhada, e o Dire Straits era tão fino que Fernando Andrette chamava de “Disco para olhar Eclipse Solar”! Fora isso, esse último era mais ruidoso que vizinho bêbado.
O resultado da nova compra? O Floyd veio empenado, algo que eu já vi em discos novos dessa mais recente geração, até cansar, infelizmente. E o Dire Straits soa chocho: é a versão audível do suflê de chuchu sem sal ou temperos.
E não é a primeira vez que ouço prensagens novas soarem sem graça alguma…
Cheguei em um ponto onde o LP zero, novo, lacrado, não mais me interessa – porque se eu não consigo um resultado soberbo, e ainda tenho que pagar um preço alto por ele, então não é por aí a busca por discos de vinil.
E o resultado não tem sido soberbo, não. E tem muita gente, muito especialista e colecionador (do tipo que ouve os discos) que têm criticado muito a má qualidade sonora, e às vezes física, das prensagens atuais. E não é segredo que as gravadoras e selos grandes estão lucrando com seus catálogos tanto pelo streamer quanto pelo relançamento de vinis – o que me leva a perguntar de onde estão vindo essas masters para prensagem desses vinis, e como elas estão sendo tratadas? Acho que jamais saberemos.
Um LP zero lacrado custa, aqui no Brasil, algo entre 250 e 350 reais. E daí para cima! Porque a especulação leva os preços à loucura. Um lojista americano desabafou que tem várias pessoas que, quando uma tiragem nova com nova remasterização, etc, de um disco sai, vão às lojas e compram 20 ou 30 cópias no dia que saiu. Esperam a tiragem se esgotar, o que acontece rápido, e vendem 29 desses 30 discos no mercado, lacradinhos do jeito que vieram ao mundo, por preços bastante mais altos, para colecionadores ou deslumbrados que não conseguiram comprá-los logo que saíram.
Especulação e ágio.
A opção 2 – e a melhor para quem procura qualidade sonora – seriam os chamados ‘importados de época’: um Dark Side of the Moon ou um Dire Straits de prensagem inglesa da década de 70, por exemplo (ou até começo de 80). Ou uma prensagem alemã ou, na sequência, uma americana. Todas essas têm ou podem ter uma fenomenal qualidade sonora. Veja: até o meu Dire Straits prensagem nacional da década de 80 soa melhor que essa prensagem nova!
Estou falando de discos que já existem, em catálogo, há décadas. Porque os discos que são lançamentos atuais de bandas, conjuntos, artistas, etc, realmente não tem como fugir de uma prensagem nova lacrada, caso haja realmente interesse em ter essa música em vinil.
Eu, hoje, ouço uns 75% streaming e 25% vinil. E olha que eu ouço bastante música atual (porém nada popular). Estou bem satisfeito com essa música via streamer, e são poucos os títulos que me interessariam ter em vinil. E, aí, dá o medo de gastar uma dinheirama e não obter um resultado que deveria pelo menos se equiparar ao som do streamer, mesmo que com suas características sonoras próprias que fazem o vinil ser interessante.
Penso em estagnar um pouco no vinil, e partir para o gravador de rolo com fitas master (ou cópias delas), as quais adquirirei com o dinheiro que ganharei na loteria – caso o despertador não toque antes… rs… Fitas de rolo são extremamente sedutoras, e conheço-as bem porque já ouvi-as (e gravei-as) bastante, em outras épocas da minha vida. Mas elas são um esporte para milionários…
Voltando ao vinil, claro que existem as prensagens que eu chamo de ‘Santo Graal’ do LP: as japonesas. De todas as prensagens existentes no mundo, as melhores são algumas selecionadas dos últimos 20 anos em 180 gramas, e as japonesas da década de 70 em diante.
Se eu queria ter um Dark Side of the Moon e um Dire Straits branco em prensagem japonesa? Absolutamente sim! Mas hoje em dia seus preços estão completamente proibitivos, também. Afinal os lojistas e vendedores já descobriram suas qualidades.
Preços de LPs usados hoje são ‘tirados da cartola’, são o que o vendedor inventar, ou o que o voo das andorinhas determinar e o humor dos arautos quiser.
Se forem prensagens especiais, como os Half-Speed da CBS, os vários LPs Direct-to-Disc, os Mobile Fidelity de várias gerações, então, aí tem até ágio em cima dos arautos!
Mas, minha ‘felicidade’ é que, tirando alguns discos como os de rock clássico citados acima, o meu gosto musical é bem eclético (e dá para ver isso bem na minha coluna Vinil do Mês, aqui na revista). E a felicidade disso é que discos mais obscuros de rock, LPs de clássico, de trilhas sonoras, de world music, etc, são mais baratos por serem menos procurados. O grosso do que vende é rock/pop antigo e rock/pop atual – porque, eu sempre digo, o gosto musical da maioria das pessoas é pura memória afetiva.
Se você quer Black Sabbath, Deep Purple, Pink Floyd, etc e tal, a etiqueta de preço do LP vai ser maior.
Mas e a etiqueta de preço normal do disco usado? E o estado do disco usado?
Como qualquer outra coisa usada, o LP é melhor ser comprado presencialmente. Quem já viu um disco novo, sabe que um usado tem que estar visualmente o mais próximo disso: limpo e sem riscos (ou quase sem).
Se você é daqueles que qualquer ocasional ruído de um LP, incomoda de sobremaneira, então esqueça comprar discos usados – porque a maioria esmagadora vai ter um ruído ou outro de superfície.
E, claro, algum tipo de familiaridade com lavar LPs, é necessária com discos usados: seja ter uma máquina de lavagem de discos, ou pelo menos um kit de limpeza com o líquido e a escova (esses de eficácia dúbia e variável, infelizmente, mas melhor que nada).
Uma vez fui ajustar o toca-discos de um cliente novato no vinil, e ele tinha um LP que adorava, comprado usado, que mal dava para ouvir. Ele estava frustrado e quase jogando o disco fora. O que eu fiz? Fui na cozinha, com uma toalha de rosto limpa sobre o balcão, pousei o disco, lavei profundamente as mãos, molhei bem o disco, pus um fio de detergente neutro de pia, e esfreguei no sentido do sulco com um pedaço algodão. Enxaguei profundamente, e sequei com cuidado com outra toalha de rosto limpa e felpuda, sem esfregar, só encostando a toalha. O resultado? Não ficou tão bom quanto um sistema apropriado para limpeza de disco, mas ele ficou feliz da vida de poder ouvir o LP com prazer.
Disco usado nacional (e tem vários bem bons de qualidade sonora), costuma ter um preço decente, bem inferior a 100 reais. E, dependendo do importado, inferior a 150 reais. Claro que lojas terão discos importados antigos usados em perfeito estado (capa e tudo), edição japonesa, por preços de sair lágrimas dos olhos. Tem até o expediente surrado de dizer que o disco é raro, em sites de vendas, e aí você faz uma busca e acha 10 exemplares do ‘raro’ para venda. Portanto, muita atenção é pouco.
Ou seja, uma questão é que as pessoas procuram capas em perfeito estado, quando na verdade pode-se achar, mais barato, capas um tanto malhadas mas com discos em excelente estado dentro. Colecionadores, principalmente, querem capas perfeitas – eu, por exemplo, quero ouvir a música bem, quero o LP em si em bom estado. Tenho inúmeros importados assim: capa feia, disco ótimo.
Usufruir de vinil é um esporte trabalhoso, inclusive para se obter os melhores resultados sonoros. Mas comprar vinil são os ‘Jogos Olímpicos’ desse esporte trabalhoso – e que costumava ser barato e muito gratificante, mas hoje se tornou caro e mais difícil, como tudo de volta à moda.
Bom novembro a todos!
E, não se esqueçam: quaisquer dúvidas, entrem em contato: christian@clubedoaudio.com.br.