Influência Vintage: GRAVADOR DE FITA MAGNÉTICA NAGRA SNST-R

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Equipamentos Vintage que fazem parte da história do Áudio

O termo Vintage tem a ver com ‘qualidade’, mais do que ‘ser antigo’. Vem do francês ‘vendange’, safra, sobre uma safra de um vinho que resultou excepcional. ‘Vintage’ quer dizer algo de qualidade excepcional – apesar de ser muito usado para designar apenas algo antigo.

Nesta série de artigos abordamos equipamentos vintage importantes, e que influenciam audiófilos até hoje!

SWISS MADE

Muito além dos relógios e do queijo – e do chocolate! – a Suíça é um país com bastante relevância financeira e comercial, tendo empresas das áreas de seguros, alimentação, saúde e farmacêutica na lista Fortune 500 das maiores empresas.

Mas, não menos importantes – e muito relevantes para nós – são as empresas da área de áudio, algumas muito antigas e tradicionais, e outras mais recentes e inovadores. Mas a maioria sinônimo de alta qualidade. E a Nagra Kudelski SA é certamente uma delas.

‘Swiss Made’ é uma distinção do país para produtos que tenham pelo menos 50% de sua manufatura essencial feita dentro do território suíço.

O GRAVADOR DE FITA MAGNÉTICA NAGRA SNST-R

Dos quatro modelos da linha de mini-gravadores de rolo de fita magnética da Nagra, o foco deste artigo é o modelo SNST-R – por ser o único deles voltado à qualidade sonora, à gravação de alta-fidelidade. Os outros três são dois mono e um estéreo sem pretensões para uso com música.

O SNST-R é um mini gravador com apenas 15cm de largura, concebido pela Nagra em 1960 quando, segundo as lendas, os serviços de inteligência dos EUA na época do Presidente JFK, encomendaram tal produto. Porém, o projeto – de Stefan Kudelski – só chegou à sua forma final, e à comercialização, em 1970. Talvez, nesse meio tempo, eles estivessem sendo usados junto com outros equipamentos que “não existiam”, como o avião espião Lockheed SR-71 – também conhecido como Blackbird. Mas não vamos falar nisso, porque o FBI pode estar gravando essa conversa… em um Nagra SN! Rs!

Com cabos

Ele usa fita magnética de 1/8” (3.81 mm) de largura em rolos de 6.7cm de diâmetro – a mesma largura da fita magnética usada no cassete comum – porém com os fatos de que o cassete é quatro pistas e o SN é duas pistas (usa o dobro de superfície de fita para gravação), e a velocidade é de 3-3/4 ips (polegadas por segundo), ou seja, o dobro da velocidade de 1-7/8 ips da fita cassete original. A fita usada nos SN, segundo a comunidade, é a mesma da fita cassete normal, ou seja Ferro Type I. Muitos proprietários de gravadores SN transferem a fita de dentro de cassetes para os rolinhos, para uso no aparelho.

Alimentado com um par de pilhas pequenas AA, com autonomia de 5 horas, e um peso de apenas 590g, o SNST-R tem a entrada para gravação – para linha ou microfone – feita com um plugue especial na lateral. E na parte de baixo há saídas para fones de ouvido (impedância de 600 ohms) e saída de linha para conexão a um amplificador, pré ou receiver.

Com tampa

Mas, o SN não foi concebido inicialmente para ser essa peça de relojoaria hi-fi. Em 1960, a Nagra já era a rainha da fabricação de gravadores de rolo portáteis à bateria, para uso profissional, principalmente para a indústria cinematográfica e TV, com aparelhos que aguentavam o tranco com confiabilidade e precisão, mesmo filmando em locações no meio de um deserto, como os célebres Nagra II, IV e IV-S. O som da maioria dos filmes feitos por mais de duas décadas foi captado com um gravador Nagra. Aliás, modelos do próprio SN foram usados para gravação de diálogos em filmes em situações que necessitavam que o gravador estivesse escondido na própria roupa do ator.

Protótipo de 1960

O Nagra SN parece, portanto, algo saído de algum filme de James Bond, ou sobre a Guerra Fria. E diz a lenda, também, que foi usado pelas missões Apollo, da NASA, chegando até à Lua!

Carretel com fita

Fabricado de 1999 até 2003, me parece que em 2012 ainda haviam peças disponíveis, com o valor de aproximadamente 1600 euros. Hoje, um desses em bom estado, funcionando, é oferecido no mercado de usados, para colecionadores e outros interessados em gadgets, por valores que facilmente chegam a 3000 euros.

O Yachta-1M, o raro clone soviético do SN, chega facilmente aos 7000 dólares! Os rolinhos de fita, então, podem facilmente oscilar entre 50 e 120 euros no mercado!

Quase todos os modelos não passam, na verdade, de curiosidades, de belíssimas peças de engenharia e relojoaria, colecionáveis. Mas o modelo SNST-R promete valer a pena para quem quer gravar e reproduzir música em seu sistema, e é esse que faz os olhos do audiófilo brilharem!

MODELOS SEMELHANTES

Na verdade, o SNST-R Hi-Fi não tem similares em ser compacto, ter precisão mecânica suíça, e usar fita magnética. Como qualidade sonora, seria interessante um dia comparar um SNST-R (que só trabalha com fita ‘Normal’ type I Ferro) com um Walkman Sony WM-D6C gravador, que grava bem fitas Normal, Cromo e Metal (porém em quatro pistas e na metade da velocidade do Nagra SNST-R).

A linha SN original compreende os seguintes: SN ‘Série Noir’ protótipo de 1960, SNN Mono full-track (1970), SNS Mono half-track (1972), SNST Stereo (1977), e o último – e mais interessante – SNST-R HiFi (de 1999 até 2003).

Como uma espécie de sucessor dos SN, havia o ainda mais compacto Nagra JBR, feito de 84 a 1998, desenvolvido em parceria com a JBR Technologies, usava um formato especial de fita cassete e era também estéreo. Apesar de não haver informações sobre sua qualidade sonora, ele rodava em velocidade baixa, para obter longo tempo de gravação – portanto sua finalidade era substituir os SN no uso por agências de inteligência e serviços de segurança. O JBR somente gravava, sendo necessário o uso de uma unidade proprietária (gigantesca) para a reprodução dos pequenos cassetes. Os modelos seguintes de mini gravadores portáteis da Nagra já passaram a ser digitais, deixando para trás o uso de fitas magnéticas analógicas.

Nagra JBR

E, para finalizar, há também o belo clone soviético Yachta-1M (às vezes grafado ‘Yacht’ ou ‘Yahta’) de 1987, que é só para gravação de voz, nada de alta-fidelidade – também utilizado para atividades ‘secretas’.

Yachta clone soviético

COMO TOCA O NAGRA SNST-R

A gravação no SNST-R tem uma resposta de frequência de 50Hz a 15kHz em ±2dB (respeitável para um gravador de fita magnética) com controle automático de nível de gravação. A própria Nagra diz que a gravação do aparelho é de “alta qualidade”, e com “excelência sônica”.

Quem ouviu demonstrações do pequeno e raro SNST-R, diz que sua qualidade sonora é surpreendente!

SOBRE A NAGRA

A Nagra Kudeslki SA foi fundada na Suíça em 1951 pelo inventor polonês Stefan Kudelski, para a produção de gravadores de rolo de fita magnética de alta precisão e durabilidade, para uso profissional – que foram, até os anos 90, o padrão da indústria de entretenimento, de cinema e TV, e também muito usados em gravações profissionais de música.

Em 1997 a marca Nagra passou a expandir sua linha de produtos com amplificadores – e depois CDs, DACs e toca-discos de vinil – para o mercado audiófilo.

Atualmente a parte de produtos de áudio é um ramo do Kudelski Group, o qual é liderado por André Kudelski – filho de Stefan, que se aposentou em 1991 e faleceu em 2013. O grupo diversificou sua área de atuação para televisão digital, soluções para proteção de conteúdo e para cibersegurança da Internet das Coisas, Inteligência Artificial, entre outros.

Um novembro musical a todos nós!

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