Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br
Uma nova seção mensal – trazendo disparates ditos sobre áudio e audiofilia!
patacoada (substantivo feminino)
1. dito ou ação ilógica; disparate, tolice.
2. gracejo desabusado.
E as seleções do mês, são:
1) ASSISTIR UM CONCERTO DE MÚSICA CLÁSSICA E DIZER QUE FALTAM AGUDOS
É como parar na frente de um pôr do sol, e dizer que aquilo não é “sol o suficiente”, ou que “está faltando amarelo”!
Eu sei que as pessoas têm uma enorme resistência a irem ouvir música acústica ao vivo e entenderem o que é referência – mas aquilo é a REALIDADE, caramba! E distorcer a realidade é como distorcer valores.
Se qualquer outra maneira de reproduzir aquela música, sejam caixas acústicas em sistemas, ou um fone de ouvido, estiverem pondo tanto brilho, tanto agudo, que a Realidade, o mundo real, parece estar faltando agudo, é preciso se tocar que tais sistemas ou fones estão errados, e provavelmente inserindo alteração no timbre dos agudos, entre outros problemas.
Em uma versão dessa patacoada, que eu mesmo presenciei, a pessoa saia da sala de concerto dizendo que “a orquestra está soando muito baixo”, estaria com volume de som baixo…rs! Não, é ele quem está ouvindo música muito alto. O mundo não tem que se adaptar à pessoa, e sim a pessoa se adaptar ao mundo – quem se dedica a querer ir na contramão disso, geralmente se frustra.
2) SE UM AMPLIFICADOR SOA DIFERENTE EM DIFERENTES SISTEMAS, COMO CONFIAR NOS TESTES?
Esse é um pensamento simplista – pois deixa de lado a Referência e o quanto a Metodologia é repetível.
Mas, como ‘dúvida’, é bastante válida.
Se você ligar o amplificador com um par de caixas de qualidade inferior à dele, você não poderá analisar e perceber tudo que o amplificador pode dar, claro. Você tem que tocar – e avaliar – esse amplificador com equipamento que seja ou da altura dele, ou melhor, para perceber até onde ele consegue ir, e quais são suas limitações.
Um amplificador é, aqui, testado com caixas, com um setup, que seja considerado ‘de referência’. E como saber se esse são? Se as caixas e componentes tiverem sido, poderíamos dizer ‘homologados’, por uma Metodologia de testes que seja repetível.
Não é feita uma avaliação leviana, ou mesmo rápida – pois se houver uma acústica e elétrica decentes, o resto do setup bem escolhido e combinado (sinergia e boas notas em testes dos mesmos), cada amplificador em testes passa, como bem diz o Fernando Andrette, por dias e dias de avaliação de cada um dos quesitos da Metodologia, chegando a passar por mais de 80 faixas de gravações de alta qualidade, também muito conhecidas pelo avaliador.
Essa Metodologia é tão repetível, que dois reviewers da revista – ou duas pessoas que tenham Referência do que é música de verdade feita por instrumentos acústicos, e que usem a Metodologia – chegam à mais ou menos às mesmas conclusões sobre cada um dos equipamentos analisados. Chega a conclusões Qualitativas semelhantes.
3) USAR DSP DETONA OU SALVA O SEU SISTEMA?
Veja, minha opinião sobre o uso de DSP em um sistema de som de Qualidade, nunca foi segredo: algumas coisas podem melhorar um pouquinho, mas várias ‘vão para o vinagre’, estragam mesmo, principalmente nos graves e médios-graves, e no timbre.
Uma discussão na Internet sobre isso trouxe – como sempre – uma variedade de respostas. As melhores, claro, são as que dizem “Detona”, já que o DSP altera demais várias características que fazem a música soar do jeito que soa. Alterou o conteúdo? Então criou distorções e perdas, então não presta – não em um sistema dedicado à Qualidade Sonora.
Claro que vários acham que DSP é a melhor coisa do universo – então, obviamente, esses não sabem nada sobre como a música deve soar e nem como um sistema decente deve soar, pois obviamente não têm Referência.
Entre as outras pérolas de ideias dadas nas respostas, está quem disse que, dependendo de como é sua sala, o DSP ajuda. Ora, se sua sala é decente, o que você precisa é de um bom posicionamento de caixas (e o DSP não salva um mau posicionamento, de maneira alguma) e de um sistema minimamente sinérgico e de boa qualidade. Aí sim você terá Qualidade Sonora, em vez de ‘Quantidade Sonora’ e conteúdo distorcido ou alterado.
Um outro disse que acha que o DSP é o único caminho para um sistema Hi-End – esse deve ser uma daquelas pessoas fanáticas por tecnologia. Já falei antes sobre o quanto tecnologia de verdade influencia como os aparelhos são projetados e desenvolvidos, e o quanto eles evoluíram ao longo dos anos – e as pessoas acham que ‘tecnologia’ é algo que irá alterar drasticamente a maneira como a música soa em um sistema para tentar corrigir, sem sucesso, problemas que os audiófilos não quiseram parar para ter o trabalho de resolver.
Por exemplo: se você puser um par de caixas apontando para frente, sem toe-in (angulação na direção do ouvinte) e encostadas na parede atrás delas, a quantidade de problemas gerados no Equilíbrio Tonal e no palco, não têm como ser corrigidos a não ser que se altere (insira distorção e alteração de timbre, textura, corpo e transientes, etc) na música. Não existe milagre.
E nenhum sistema no qual eu mexi, ouvi, ou mesmo montei e/ou ajustei na vida, toca melhor se rodar um DSP para querer fazer algum ‘ajuste fino’ nele – primeiro porque esse ajuste fino simplesmente não era necessário, e segundo porque eu não aceito as alterações citadas acima, feitas no conteúdo musical que eu estou ouvindo.
Mas, como disse alguém mais sábio que eu: “Audiofilia é um Faroeste: Sem Lei e Sem Ordem” – onde cada um tem uma opinião diferente, e quem vê de fora não faz ideia de quem está certo e quem está errado (e isso só vem com experiência, Referência e Metodologia).
É como uma frase que eu li esses dias em um site especializado: “Se você quiser três opiniões distintas, pergunte para dois audiófilos”! Essa é a frase do ano! HAHAHAHAHA!!!!
Um bom final de ano, muita família, muitos amigos e muitas risadas à todos!
Nos vemos em 2025!