Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Existem dois fabricantes de caixas hi-end suecos que acompanho faz muitos anos: Marten e QLN.
E quando digo acompanho, significa até mesmo fazer esforços para saber a opinião de amigos confiáveis e experientes na arte de separar o ‘joio do trigo’, e até ouvir o que estiver aqui no Brasil, mesmo que sejam modelos fora de linha, para entender o DNA sonoro da empresa.
A boa notícia é que finalmente a Marten está oficialmente no Brasil, e quem sabe em um futuro não tão distante, algum importador se encante também pela QLN.
Acho ser ‘chover no molhado’ falar do primor na construção de caixas acústicas hi-end feitas nos países Escandinavos, pois parece estar no sangue essa paixão pela marcenaria. E a Marten certamente, nesse quesito, se destaca de maneira impressionante. Pois somente quando você as desembala é que se tem a noção dos cuidados com todos os detalhes, do primor da construção, design e escolha minuciosa dos bornes de caixa, acessório de base da caixa e os pés para manter a caixa estabilizada em qualquer tipo de piso.
Caixas com esse requinte de textura no acabamento final do gabinete, em que você passa as mãos e não sente uma ruga ou desnível na superfície, só vi igual nas caixas suíças Boenicke, que também são um primor nesse cuidado com a apresentação final do produto.
E estamos falando da série de entrada da Marten, o que me levou a ficar imaginando o grau de requinte das séries Parker, Mingus e Coltrane.
A Marten Oscar trio é uma coluna de duas vias e meia, que utiliza drivers de cerâmica, uma constante em todos os produtos deste fabricante, já que seu projetista e fundador, Leif Marten Olofsson é um apaixonado por esse tipo de falantes desde que fundou sua empresa em 1998. Para ele, esses drivers possuem uma assinatura sônica quando bem ajustados, muito natural e rica – “estilo eletrostático” diz, com o mesmo grau de resolução sem nenhuma das desvantagens dessa topologia.
Quando ele, finalmente, conseguiu os falantes de grave e médio com as especificações desejadas, lançou sua primeira caixa, a Mingus.
Pelos nomes das séries, não preciso dizer o quanto a família Marten é apaixonada por música e por Jazz.
Mas não pense que procurar os falantes ideais para dar vida às suas caixas acústicas não foi cheio de obstáculos e idas e vindas.
Olofsson mesmo fala dos desafios para projetar caixas acústicas com falantes de cerâmica ultra rígidos e leves – pois sem primeiro resolver os problemas de ressonância que todo falante de cerâmica possui, o resultado seria catastrófico.
Então, ele sempre fala que para chegar ao resultado final, foram anos de tentativas e erros.
Mas, resolvido esse ‘obstáculo’, o resultado é para ele melhor do que qualquer outro material que ele conheça – exceto o diamante, que para os tweeters ele acha que bem trabalhados tem um grau de refinamento ainda maior.
Para o sr. Leif, vencido esse obstáculo, vem a segunda etapa do problema – o gabinete. A Marten usa principalmente laminado de fibra de carbono para as duas séries mais sofisticadas (Mingus e Coltrane) e para as séries Oscar e Parker, utiliza painel de fibras especialmente escolhidos, e os reforços dos gabinetes são meticulosamente desenhados para se obter o melhor resultado possível.
Para tornar a série Oscar mais acessível a um público maior, os falantes de cerâmica foram projetados pelo fabricante e, depois, discutida e viabilizada com o fornecedor as maneiras de baratear o custo sem perder o padrão de qualidade existente nos falantes de cerâmica das séries acima.
O modelo enviado para o teste foi em Nogueira Fosca – lindo de olhar e passar as mãos para sentir as curvas na tampa superior do gabinete.
Os terminais de caixa são WBT Nextgen, e toda a fiação interna é da Jorma Design (outro fabricante escandinavo de cabos). A Oscar Trio utiliza dois falantes de médios-graves de 7 polegadas e um tweeter também de cerâmica de 1 polegada.
O crossover é uma mistura de primeira com segunda ordem, para simplificar o uso de componentes, e melhor se adequar aos drivers.
Ainda que seu tamanho não pareça dominar o ambiente, eu aconselho a ajuda de uma pessoa para desembalar e fixar os pés, e posicioná-las.
Segundo o fabricante, a Oscar trio responde de 27Hz a 20kHz (+- 3 dB), aceita potência nominal de até 250 Watts, possui uma sensibilidade de 89 dB, impedância de 6 ohms (mínima de 3.1 ohms) e corte em 2500Hz.
Ou seja, não é uma caixa devoradora de amplificadores, mas será conveniente um power que esteja à altura do desempenho, pois essa caixa tem inúmeras ‘garrafas para vender’.
Para o teste utilizei três integrados: Norma Revo IPA-140 (nossa referência em integrados), o Soulnote A-3, e o Sunrise Lab V8 Aniversário. Os powers foram o Gold Note PA-1175 MkII (leia Teste 2 nesta edição), e os monoblocos HD da Nagra. Prés de linha: Nagra Classic e Audiopax Reference. Fontes streamer: Innuos ZENmini Mk3 e Nagra Streamer (teste na Edição Melhores do Ano em janeiro), Transporte Nagra e DACs Ferrum Audio Wandla, e Nagra TUBE DAC. Analógico: toca-discos Origin Live Sovereign com braço Origin Live Enterprise Mk3, e cápsula Dynavector Te Kaitora Rua (teste na edição de março de 2025). Pré de phono: Soulnote E-2 (leia teste edição 308).
A Oscar Trio veio com aproximadamente 50 horas de amaciamento, e a excelente notícia é que já sai tocando muito bem.
Feita a primeira audição, apenas com os discos da Cavi Records, voltou para o estaleiro junto com os powers da Gold Note por mais 100 horas!
Ao ouvir novamente em nosso Sistema de Referência, as mesmas músicas dos nossos discos, no mesmo volume e na mesma posição da primeira audição com os nossos cabos de referência (tudo Dynamique Audio Apex), percebemos significativas melhoras na fundação do grave e no deslocamento de ar, médios mais bem encaixados tanto nos médios-graves, possibilitando um aumento considerável no corpo harmônico nessa região, e um encaixe perfeito na passagem em 2500Hz para o tweeter.
A Oscar Trio necessita de espaço à sua volta, se você realmente quiser tirar uma de suas maiores virtudes – uma espacialidade 3D!
Se você é um ‘tarado’ por palco sonoro, cuidado meu amigo, caso você sofra de pressão alta ou taquicardia, pois em uma sala que a deixe ‘respirar’, será um encanto ouvir sua apresentação de planos, recortes, focos, sem restrições em termos de largura, profundidade e, o mais difícil, altura (mesmo ela só tendo 1,07 m).
Como ela consegue? Essa é uma pergunta que o sr. Olofsson já deve ter ouvido inúmeras vezes. Será que tem a ver com o pequeno ângulo do gabinete, que não é reto e sim levemente inclinado para trás?
Eu apostaria que parte da magia está aí, mas isso também tem a ver com alinhamento de fase. Crossover bem construído e dispersão dos falantes tanto em termos verticais quanto horizontais.
Achei que, já que tínhamos todos esses avanços audíveis com 150 horas, antes de começar a avaliação, passei a escutá-la como nossa caixa principal até completar 200 horas, e ver se a queima havia se encerrado.
Nessas cinquenta horas restantes, eu a passei pelos três integrados, e pude perceber sua altíssima compatibilidade com todos, o que me animou a ficar atento e ‘sentir’ que poderia estar ouvindo a primeira caixa abaixo de 130 mil reais a atingir os 100 pontos de nossa Metodologia.
Estarei certo?
Mais à frente saberemos.
Com 200 horas, não escutei mais nenhuma mudança, e iniciei os testes com a escuta das 80 faixas da nossa Metodologia.
Seu equilíbrio tonal é notável, não por exceder em algum detalhe, mas sim por fazer tudo de maneira tão harmoniosa e convincente.
Ouça por exemplo algumas gravações de piano solo, para entender o que estou tentando explicar. Boas gravações deste instrumento são sempre uma casca grossa para qualquer caixa de nível hi-end. Pois o equilíbrio tonal será colocado à prova a todo momento.
E somente as que possuem um equilíbrio tonal corretíssimo, passarão por essa prova de fogo sem se ‘chamuscar’.
Os agudos não podem soar vitrificados, a região média precisa ter inteligibilidade fidedigna ao que foi captado na gravação e decentemente mixado, e os graves precisam, além de peso, decaimento correto, e possuir energia e corpo para soarem corretos.
A Marten Oscar Trio fez a lição de casa sem vacilar em nenhum exemplo, e cumpriu à risca soar o mais fidedigna possível ao que estava sendo executado. E todos sabemos o quanto gravações de piano solo são armadilhas perigosas, mesmo para caixas top.
De todas as caixas em sua faixa de preço, até 140 mil reais, testadas nos últimos três anos, foi a que mais me impressionou e me convenceu de que tinha à minha frente uma caixa diferenciada!
Ao ouvir os exemplos de vozes, é que me dei conta do nível de correção da região média da Oscar Trio. Ela consegue mesmo em corais manter a inteligibilidade a um nível de requinte que só ouvi em caixas muito mais caras. As entonações, técnicas vocais e ruídos de boca, são apresentados como foram gravados, o que me levou a já antever o que seria a avaliação de textura dessa caixa.
Os agudos são extensos, limpos, velozes, com ótimo corpo e zero de endurecimento ou brilho.
Como já adiantei alguns parágrafos acima, dê a essa caixa espaço e ela lhe presenteará com um palco sonoro estupendo!
Aqui sua melhor posição, para colocar a Filarmônica de Berlim à minha frente, ou a Osesp, elas ficaram a 1.7m da parede às costas delas, e 1m de distância das paredes laterais.
Achei que 4m entre elas seria muito, e me traria um buraco na imagem entre as caixas. Grande engano, pois elas adoraram essa disposição. Principalmente para grandes grupos orquestrais. Tentei algumas experimentações com nenhum toe-in, deixando-as paralelas às paredes laterais, e não rolou. Então as virei para a posição de escuta apenas 15 graus, e não perdi nada da profundidade e ainda coloquei os contrabaixos da Nona de Beethoven para fora da caixa direita, de tal maneira que era possível ‘ver’ o que os contrabaixos estavam executando!
Primeira dica: sua sala precisa ter pelo menos 20 metros quadrados para extrair esse soundstage incrível que ela proporciona.
Será preciso que sejam posicionadas perfeitamente em um triângulo equilátero, para a construção de uma imagem 3D, e feito isso, meu amigo, pode chamar o amigo audiófilo mais crica com soundstage, que ele sairá babando da sua sala!
E vieram os 8 exemplos de textura! Que massacre meu amigo, que massacre…
Como sempre digo, busque o melhor equilíbrio tonal possível, e o resto irá acontecer. Basta ter paciência, Referência e Metodologia.
Texturas não são apenas nos descrever a paleta de cores dos instrumentos à nossa frente. Texturas também nos mostram o grau de virtuosidade do músico, a qualidade do engenheiro de gravação na escolha e posicionamento correto dos instrumentos, a qualidade da sala de gravação, dos acertos da mixagem e masterização, das texturas, nos falam das intencionalidades e escolhas de uma apresentação musical.
Poucas caixas na faixa de preço da Oscar Trio conseguem esse pacote de intenções ser bem-feito. Ela quebrou de maneira consistente com esse paradigma. E na sua faixa de preço é, para mim, atualmente a referência nesse quesito!
Que venham outras caixas até 130 mil reais, capazes de desbancar a Oscar Trio na apresentação de texturas!
Ouvir nosso disco Timbres com a Oscar Trio, é ‘pêra doce’, pois as diferenças entre os microfones ficam muito evidentes, assim como em outras gravações, a qualidade dos músicos e de seus instrumentos.
Se você, como eu, dá a devida importância para este quesito, não perca a oportunidade de ouvir essa Oscar Trio no nosso próximo Workshop.
Os transientes da Oscar Trio são precisos, seja pela perspectiva de velocidade, andamento ou ritmo. Nada se perde, nada embola, nada fica com aquela sensação de ser uma passagem ‘nebulosa’. Na Oscar Trio temos sempre a sensação que o take que estamos ouvindo foi para valer, em que os músicos deram o seu melhor e se deram por satisfeitos com o resultado.
Muitos dos novos leitores nos perguntam como podem perceber se os transientes de um componente do sistema não são bons? Você precisa, para memorizar essa diferença, ter a possibilidade de ouvir a mesma faixa em dois sistemas – um deles onde os transientes sejam mais corretos e precisos.
O que ocorre quando os transientes não são perfeitos, é uma sensação que a música está se arrastando, algo letárgico, desinteressante. E isso ocasiona em nosso cérebro má vontade em tentar acompanhar o que estamos ouvindo.
Aí coloque essa mesma faixa em um sistema no qual esse problema não existe, e seu cérebro se acende novamente, e seu interesse retorna instantaneamente!
Venha ao nosso Workshop Hi-End Show em abril de 2025, que passarei alguns exemplos de níveis de resposta de transientes em sistemas hi-end.
Na Oscar Trio, transientes não será nunca um problema, a não ser que você a ligue em um amplificador valvulado vintage em que tudo soa letárgico, frouxo e sem vida.
Em uma eletrônica competente, nada de errado ocorrerá!
Falemos de dinâmica: a macro, o terror de caixas bookshelf e pequenas colunas. A Oscar obviamente tem sua limitação física de falantes de 7 polegadas, e as leis da física ainda valem para esse quesito. Então, não pense que será possível ter a macro de PA em sua sala. Nenhuma caixa hi-end existe para competir com PA de show.
No entanto, em volumes seguros, coloque as variações dinâmicas que você adora para mostrar o seu sistema ao cunhado, vizinho ou futuro genro – aqueles exemplos que farão o cara devolver para o copo o que estava bebendo com o susto – que a Oscar Trio cumprirá.
Não falo dos tiros de canhão da Abertura 1812 de Tchaikovsky, mas do helicóptero de Another Brick in the Wall, do Pink Floyd, por exemplo. Ou do Quinto Movimento da Sinfonia Fantástica de Berlioz, que não terá nenhum problema.
Já para a microdinâmica, se prepare, pois você provavelmente ouvirá muita coisa que jamais ouviu antes em nenhuma de suas caixas anteriores.
O corpo harmônico da Oscar Trio é também, como as texturas, um novo referencial nessa faixa de preço: impressionante o tamanho de pianos solo, contrabaixos, harpas e órgãos de tubo, se materializando à nossa frente!
E chegamos ao segundo maior ‘fetiche sonoro’, de 80% dos audiófilos: materializar à nossa frente o acontecimento musical. Com um nível tão alto de equilíbrio tonal, texturas, soundstage e corpo harmônico, é evidente que os músicos lhe farão visitas diárias nas gravações tecnicamente impecáveis!
E com a possibilidade de o dono dessas caixas escolher se desejam trazer os músicos para tocarem em sua sala, ou irem até onde eles gravaram.
Esse privilégio, meu amigo, só acontece para sistemas ou produtos acima de 100 pontos, OK?
Então pode se animar, pois a Marten Oscar Trio definitivamente nos convenceu e quebrou a barreira dos 100 pontos para a sua faixa de preço!
CONCLUSÃO
Acho que ficou claro o quanto apreciei conhecer a Marten Oscar Trio.
Foi uma surpresa? Total!
Pois nutria algumas expectativas por tudo que li esses anos todos sobre os produtos desse fabricante, e ouvi amigos e leitores me dizerem sobre suas impressões sobre a marca.
Mas ela me surpreendeu muito pelo pacote de qualidades que ela entrega.
Tudo é harmonioso em termos sonoros, a ponto de, pôr inúmeras vezes durante o longo teste, querer apenas ouvir como a Oscar Trio apresentava aquele exemplo e esquecer que ela estava em teste – pois são dias para passar e repassar as 80 faixas e para finalizar a nota, pois é preciso ouvir grande parte dessas faixas de todos os quesitos em nossa caixa de referência e, depois, na caixa em teste, e é um trabalho meticuloso e de enorme responsabilidade para não se cometer injustiças.
Esses são os produtos mais traiçoeiros para se avaliar, amigo leitor, pois passam o tempo todo nos ‘seduzindo’ para apenas escutá-las.
E, por outro lado, são os produtos que mais nos surpreendem, pois como sempre afirmo, produtos que carregam o DNA de seu criador, os famosos ‘produtos hi-end autorais’, são os que se destacam na multidão.
E ainda que seja a série de entrada deste fabricante, para mim ficou notório o quanto o projetista se dedicou a fazer um trabalho muito bem-feito.
Produtos assim, merecem ser escutados com muita atenção!
Quem sabe vocês também o achem atraente, convincente e perfeito para os seus sistemas!
PONTOS POSITIVOS
Um caixa hi-end Estado da Arte convincente.
PONTOS NEGATIVOS
Precisam de salas adequadas e eletrônica do mesmo nível para darem o seu melhor.
Drivers | 1x 1” Cerâmica 2x 7” Cerâmica |
Resposta de frequência | 27 – 20.000 Hz (+-3dB) |
Potência | 250 W |
Sensibilidade | 89 dB / 1 m / 2.83V |
Impedância | 6 ohms (3.1 ohms mínimo) |
Tipo | 2-vias |
Frequência de crossover | 2500 Hz em Segunda Ordem |
Terminais | 1 par WBT Nextgen |
Cabeamento interno | Jorma Design |
Gabinete | 25 mm fibra laminada (Nogueira Fosca, Piano Black ou Piano White) |
Base | Alumínio escovado, com cones e suportes |
Dimensões (L x A x P) | 20 x 109 x 40 cm |
Peso | 30 kg |
CAIXAS ACÚSTICAS MARTEN OSCAR TRIO | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 13,0 | |||
Soundstage | 13,0 | |||
Textura | 13,0 | |||
Transientes | 12,0 | |||
Dinâmica | 11,0 | |||
Corpo Harmônico | 12,0 | |||
Organicidade | 13,0 | |||
Musicalidade | 14,0 | |||
Total | 101,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
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