Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br
Uma nova seção mensal só sobre Toca-Discos de Vinil
Um amigo antigo, Charles, entendido de toca-discos e estudioso de vibrações, ressonâncias e afins, costuma falar bastante sobre a hierarquia, a ordem de importância do que, em um toca-discos de vinil, é o mais importante, é o que mais impacta na qualidade sonora. E isso, sem dúvida, é muito importante.
Com o braço e a cápsula vindo bem antes da base e da suspensão – nessa ordem de impacto no som – mesmo assim vale a pena falar um pouco dessas duas últimas coisas, e da percepção da sonoridade das mesmas.
Meu foco – e quem já leu algum artigo meu deve ter percebido – é sempre em ‘Como Toca’. Afinal, é para isso que temos equipamentos de som. Ninguém quer trocar ou adicionar um aparelho ou acessório ao seu setup para fazer com que o leite vendido no bairro seja mais fresco – todos queremos resultados sonoros (e essa talvez seja minha maior ‘birra’ contra os Objetivistas: a falta frequente ou até completa ausência de compromisso com o resultado sonoro).
Quando trabalhei anos em TI, um chefe meu costumava dizer que “Na Prática, a Teoria é Outra”, algo que eu carrego comigo para sempre – pois o mundo real é que precisa confirmar a ciência, e toda a teoria do mundo tem que mostrar resultados. Não me entendam mal: é preciso, para as pessoas interessadas em compreender e que querem se aprofundar, trazer a teoria.
Porém, meu foco é em “Como Toca”.
TIPO DE SUSPENSÃO
Aparentemente, ao olhar o que tem no mercado de toca-discos, pensa-se que existem os ‘suspensos’ – os que têm uma suspensão por molas, e que ‘balançam’ um pouco – e os que têm a base rígida (a maioria hoje em dia).
Mas, nesse meio tempo, existem uma série de suspensões diferentes, com rigidez variável.
A função dessas suspensões é de isolar mecanicamente as bases das vibrações do ambiente – vindas, principalmente, das caixas acústicas. Mas, elas também servem para a dissipação das vibrações criadas pelo sistema de tração do toca-discos, assim como pela rotação do prato e pela operação do braço. E, dependendo da cápsula, as muitas vibrações do cantilever são dissipadas pela suspensão do mesmo, ou são dissipadas braço afora.
As suspensões mais antigas (desde a década de 60 com toca-discos como AR-XA e depois alguns Thorens) por molas postas em uma sub-base abaixo do prato, geralmente em triângulo, fazem um trabalho decente de isolamento, mas sua influência na sonoridade final do toca-discos é, na minha opinião, de graves lentos e gordos – e esse último aspecto seduziu muita gente, mas não é o melhor resultado em matéria de qualidade sonora.
Já as suspensões mistas, ou semi-rígidas, estão entre as que dão melhores resultados. E já que as vibrações têm a tendência à dissipar em direção em direção às bordas e cantos do aparelho – modelos como o VPI TNT e o Basis Debut V, entre outros, faziam uma das melhores isolações desse tipo que eu já vi em um aparelho (você praticamente podia socar a prateleira que nenhum ruído chegava na cápsula).
Esses dois, além de aplicarem suas suspensões nas pontas extremas do toca-discos, para onde as vibrações irão dissipar, fizeram suspensões mistas, onde as melhores opções traziam uma mistura de molas com elastômeros com fluidos de alta viscosidade. O resultado? Ambos aparelhos tocam magnificamente bem!
Mesmo em equipamentos antigos – como citado Acoustic Research AR-XA e os Thorens da época – muita gente fez testes, com resultados positivos, inserindo elastômeros (borracha) ou espuma dentro das molas da suspensão (suponho que cortiça, algodão e outros, tenham efeitos variados, porém semelhantes), criando um controle na ação das molas mais ou menos da mesma maneira que faz um amortecedor pneumático dentro da mola da suspensão de um carro: a mola sozinha apenas o suspende do chão, deixando lá balançando, e a adição do amortecedor controla o quanto e o quando, e o como, as molas balançam. Por isso, apoio 100% esse tipo de modificação em toca-discos com suspensão por molas.
Mas, hoje em dia, a maioria esmagadora das ‘suspensões’ dos toca-discos são estáticas – para não dizer ‘rígidas’.
Por ser o toca-discos um equipamento mecânico, as ressonâncias de cada um dos materiais (e seus formatos e pesos) dos quais eles são feitos, importam totalmente no som.
Vejam, as microvibrações do sulco do LP, que são passadas pelo diamante para o cantilever e à cápsula, são altamente influenciadas por vibrações claramente perceptíveis pelo ouvido como ruídos mecânicos.
Mas, também, influenciam a qualidade sonora as vibrações praticamente imperceptíveis – chamadas de ressonâncias. Para quem acha que, se pôs seus equipamentos em um bom rack, em um chão firme, estão imunes à influência que as ressonâncias ‘imperceptíveis’ têm no som, pegue um livro grosso e pesado, como um volume de uma enciclopédia ou um livro daqueles de arte que ficam em cima da mesa de centro da sala de visitas, e ponha em cima de seu amplificador, DAC ou player digital – e perceba a alteração no som! A maior parte das pessoas para quem eu falei desse ‘tweak’, deixou o livro lá até hoje…
TIPOS DE BASE
Por isso, pelas ressonâncias, que temos, também, as Bases com suas diferenças de peso e de materiais. Porque sim, o tipo de material e o peso fazem diferença na sonoridade do toca-discos.
Bases de hoje em dia fazem o uso dos materiais – ou mistura deles – que der na cabeça (e na pesquisa e nas experimentações) de cada fabricante.
Em um termo geral, temos: somente metal, metal com MDF, metal com acrilico, só acrílico, acrílico com MDF, sanduíche de vários materiais, entre outros. Temos o uso de materiais proprietários, materiais exóticos, polímeros, compostos, etc e tal. Temos multicamadas espaçadas por separadores, onde o prato fica em uma camada, e o braço em outra! Há combinações do uso de algum desses materiais com ter, ainda, o braço e o rolamento do prato suspensos por ar, através do uso de um compressor – como é o excelente Bergmann Audio com seu braço tangencial.
Eu apoio totalmente o uso de multi-materiais, e de materiais exóticos – simplesmente porque cada material tem a sua ressonância específica, e o que os toca-discos modernos superlativos entenderam, é que deve-se ‘tratar’ as ressonâncias, e não ‘eliminá-las’.
O porém, em relação ao resultado sonoro, é que quanto mais rígidos e pesados forem os materiais – como o uso só de metal – mais seco e analítico o som do toca-discos fica. Claro que isso tem seus apreciadores, mas eu não sou um deles, pois para mim perde naturalidade e organicidade no som.
Em resumo: os melhores resultados, acredito, são obtidos com o uso de múltiplos materiais (dois ou três), resultando em uma base decentemente pesada, para dissipar vibrações e tratar as ressonâncias. Muito rígido e denso, não é bom. Muito leve, ou sem o devido tratamento, ou usando somente MDF ou madeira, também não é a melhor solução.
Bom 2025 a todos!
E, não se esqueçam: quaisquer dúvidas, entrem em contato: christian@clubedoaudio.com.br.