Teste 3: CÁPSULA MOVING COILLE SON LS10 MKII

Teste de Vídeo 1: TV TCL QLED MINI LED 85C855
março 6, 2025
Teste 2: TOCA-DISCOS RELOOP TURN X
março 6, 2025

Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Antes de mais nada, não confundir esta Le Son com a fábrica de agulhas e cápsulas (e microfones e tweeters) brasileira Le Son (muitas vezes grafada Leson), fundada na década de 60 e que dominou o mercado de agulhas de reposição durante nossa reserva de mercado de tecnologia.

A Le Son International, fabricante da cápsula LS10, é um nível totalmente diferente – são 50 anos, 18.000 km, 11 fusos horários, filosofias, tecnologias, expertises e mercados completamente diferentes que separam as duas empresas. A única coisa semelhante é o nome, que significa “O Som” em francês – e no caso da empresa de Gregory de Richemont e do Dr Ted Tsai, o nome evoca “O Som Absoluto” (The Absolute Sound), o moto criado por Harry Pearson, fundador da revista de mesmo nome, que diz que o som absoluto é aquele dos instrumentos acústicos reais sendo tocados em um ambiente real.

Obviamente eu simpatizo com esse princípio.

Fundada em 2015, e sediada em Shanghai, na China, a Le Son é fruto da força criativa de um executivo financeiro francês – Gregory de Richemont – audiófilo e melômano com uma paixão por rock progressivo, que viajou o mundo e dedicou-se à restauração de equipamentos de áudio vintage, como toca-discos e gravadores de rolo, e sua associação com o doutor em eletromecânica Ted Tsai, de Taiwan, apaixonado por música clássica.

Ou seja, a junção da paixão pela música com a alta fidelidade à ela! E, fica claro ao ouvir a cápsula LS10 MkII, que ela toca muito bem tanto rock progressivo quanto música clássica, especialmente a sinfônica.

A cápsula LS10 MkII é a topo de linha da empresa, e me foi enviada diretamente da sede da Le Son em Shanghai, pelo próprio Gregory de Richemont. Vale dizer que Richemont é um gentleman, uma das pessoas mais interessantes de se conversar neste mercado – e isso deriva muito de sua real paixão por música e áudio analógico, que fica facilmente espelhada em sua filosofia de trabalho: “O segredo é fornecer um som atraente aos ouvidos humanos, portanto confiamos em nossos ouvidos para ajustar um produto. As medições técnicas são importantes, mas as decisões finais são tomadas de acordo com os nossos ouvidos.”

A atual linha de produtos da Le Son compreende – além da LS10 MkII – a cápsula MC de saída alta SL1 MkII, a cápsula Denon DL-103 modificada com cantilever de boro e agulha Line Contact, cabos de interconexão de prata pura mini-DIN e RCA, e acessórios como uma arruela de bronze para dar firmeza de conexão física em headshells removíveis padrão SME, como os de toca-discos da Technics.

Outros produtos estão em desenvolvimento, no horizonte, como um headshell próprio e um pré de phono.

SUPORTE ESPECIALIZADO

Com a compra da cápsula, a Le Son oferece um suporte especializado online – incluso na compra – para auxiliar em todo o processo de instalação e setup da cápsula, e também na regulagem do pré de phono, para extrair a melhor qualidade sonora de seu analógico.

E, para a LS10, a empresa tem uma política de retip com um valor base de US$390 – além de políticas interessantes de período de testes e retorno de produto, que podem ser consultadas em seu site.

CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA LS10

A construção da LS10, em alumínio e fibra de carbono, com corpo em madeira de ébano, é tão ou mais bonita do que se vê nas fotos. Acabamento fenomenal!

Além desses materiais escolhidos contribuírem totalmente para a sonoridade da cápsula, com suas devidas ressonâncias e amortecimentos, a LS10 também é equipada com o diamante com perfil Shibata, que traz uma área de contato horizontal reduzida, mas a área vertical aumentada, lendo mais informação do sulco, indo mais a fundo no mesmo.

Ela ainda traz algumas inovações próprias da Le Son, como o cantilever feito de Nitrato de Boro, que difere de outros fabricantes, que usam o tradicional Carboneto de Boro. O Nitrato tem uma densidade menor que o Carboneto, reduzindo a massa do cantilever, mas mantendo a mesma rigidez, trazendo mais clareza e micro-detalhes.

O segundo diferencial, é uma invenção do Dr Tsai: um gerador com ECC – Eddy Current Cancellation (Cancelamento de Correntes Parasitas). Essa é uma corrente elétrica induzida dentro de um condutor, quando este é sujeito a um campo magnético variável, e que pode afetar os movimentos do cantilever.

Os geradores ECC das cápsulas LS10 MkII, fazem com que essas correntes anulem umas às outras – sendo um grande avanço no design de cápsulas magnéticas para toca-discos.

EQUIPAMENTO DE TESTES

A LS10 MkII foi testada com os seguintes equipamentos: toca-discos MoFi StudioDeck, amplificador integrado (com pré de phono) Gold Note IS-1000, amplificador integrado Aiyima D03, pré de phono Lehmann Black Cube II, caixas acústicas MoFi SourcePoint 8, e caixas torre Elac Debut 2.0 F5.2. Os cabos de caixa foram VR Audio linha Storm Trançado, cabos RCA variados, e cabo de força Transparent PowerLink MM. E centenas de discos de vinil nacionais e importados, de vários estilos musicais (rock, trilhas, clássicos, etc).

INSTALAÇÃO

Instalar uma cápsula MC – Moving Coil – de alto nível, especialmente com uma agulha de um perfil que é crítico com alinhamento, como é a Shibata, é algo que não permite erros e desalinhos. Sua natureza sempre foi crítica, caso se queira o melhor resultado sonoro. Uma cápsula mal instalada, mal alinhada, soa muito mal e acaba com o prazer de ouvir música.

A LS10 é crítica como qualquer outra MC de seu nível, mas é um produto pensado levando em conta sua instalação, tanto no formato de paredes paralelas do corpo, quanto na facilidade de ser parafusada no braço, no uso do protetor de agulha provido, e nas informações claras dadas pelo fabricante – e a já mencionada dedicação que eles têm em auxiliar você, guiar você pelo processo de instalação e setup de seus produtos.

A mais absoluta precisão que sua paciência, e sua habilidade manual, puderem prover, são os requisitos mínimos. Não vou por aqui um guia completo e detalhado de instalação de cápsulas, porque tomaria muito espaço – e seria um tema a ser desenvolvido em um artigo profundo na seção Espaço Analógico.

Basta as diretrizes básicas, presumindo a disponibilidade de todas as ferramentas e que, ou você tenha muita familiaridade com essa operação, ou tenha um profissional competente à postos.

Claro que é necessário um bom toca-discos, com um braço bem preciso que tenha todas as regulagens mínimas necessárias (alinhamento, peso, anti-skating e VTA). Dito isso, saibam que o alinhamento com um gabarito apropriado precisa ser feito milimetricamente – eu mesmo uso gabarito Baerwald de dois pontos, e sei que a variação de menos de um milímetro na posição da cápsula no headshell, terá resultados sonoros desastrosos. Mas, para tal, as laterais da LS10, assim como sua parte inferior, são completamente retas, o que facilita bastante. Depois da cápsula alinhada e com uma regulagem mínima de peso, é ideal também observar o chamado azimute: olhando a cápsula de frente, a mesma deve estar perfeitamente perpendicular à superfície do disco.

A regulagem de VTA – a altura do braço – deve estar de maneira que a parte inferior da cápsula fique completamente paralela à superfície do disco, além do peso da LS10 ser configurado idealmente para 1.9 gramas, e o anti-skating para o mesmo valor correspondente.

Resta, então, apenas que a carga do pré de phono esteja regulada para algo entre 100 e 500 ohms. Isso vai variar de pré para pré, sendo que alguns têm a capacidade de ter ganho para cápsulas MC de saída baixa, porém não têm a regulagem de carga – o que não impede de utilizar a cápsula, só não vai tirar o melhor resultado.

No pré de phono Black Cube II, da Lehmann Audio, a configuração que deu o resultado mais equilibrado em meu sistema foi: ‘cápsula MC’, ‘100 ohms de carga’, e ‘ganho médio-alto’.

Com essa carga, de 100 ohms, e vários ajustes finos nas regulagens do braço, obtive bom equilíbrio de corpo, com peso dos graves, bons agudos limpos e boa profundidade, além de ótima articulação e recorte.

Ah, todas as regulagens de braço e pré de phono têm que ser revistas, e passar por um ajuste fino, depois que terminar o período de amaciamento da cápsula que, com a LS10 MkII, é de 30 horas. Mas, não se preocupem ao sentar para ouvir, pois ela já toca muito bem depois das primeiras 10 horas.

COMO TOCA

Em uma palavra? Encantadora.

É detalhada e resolutiva, porém consegue soar natural e livre, fazendo tudo sem esforço. O lado negativo? Nesse nível de resolução, nada em uma gravação ou prensagem ruim, é mascarado. E, mesmo assim, foram poucos discos que não me deram um enorme prazer em ouvir, mesmo prensagens brasileiras da década de 80.

O Equilíbrio Tonal é sem rebarbas – ou seja, é enxuto, pois quando a gravação (ou mesmo o instrumento tocado na gravação) tem graves, esses aparecem em quantidade e extensão corretas – e o mesmo se aplica aos médios e agudos. Nada aqui é turbinado ou artificializado. Inclusive, ela tem um timbre menos ‘ardido’, menos ‘artificial’ que a maioria das cápsulas MC que eu conheço.

O Soundstage é soberbo! Com o resto do sistema no mesmo nível, não se ‘vê’ camadas, não se separa em camadas, e sim cada instrumento ou naipe – ou mesmo cada ambiência – está em seu lugar correto na profundidade.

As Texturas estão entre as melhores que já ouvi em meu sistema. Discos nos quais eu achava, há anos, que várias batidas subsequentes na caixa da bateria eram todas iguais, aqui com a LS10 a percepção de que cada batida é distinta em sua intencionalidade, é algo que fica tão claro quanto natural. Mas com um detalhe: esses não eram discos audiófilos, e sim discos de rock progressivo da década de 70! Instrumentos de sopro e metais de orquestra, agora estão mais aveludados – e as cordas, ressonam naturalmente no ouvido (porque o ouvido sabe muito bem quando algo é artificial e você está sendo enganado).

Os Transientes geraram uma situação divertida: em um disco instrumental, música de câmara em estilo neoclássico, em uma longa introdução lenta e calma, em um determinado momento os metais dão uma nota repentina em fortíssimo – e se eu estivesse mascando chiclete, teria engolido o chiclete, pois tomei um baita susto…rs…

Mas isso quer dizer que a Dinâmica é do tipo tensa, tipo ‘faca entre os dentes’, como costuma dizer o Fernando Andrette? Não, não mesmo – o nível dessa cápsula é tão bom, que os crescendos e mesmo as variações repentinas, são sempre naturais.

Aliás, acho que esse seria o melhor adjetivo para o som da LS10 MkII: Natural!

E quanto à micro-dinâmica? Veja, quando você tem um bom Equilíbrio Tonal, um Palco e Transientes da melhor estirpe, a sensação de não haver restrições artificiais indesejadas, ou seja, a sensação de inteligibilidade clara a qualquer momento ou volume sonoro, é do mais alto nível.

O tamanho do Corpo Harmônico aqui soou dependente da gravação ou do tipo de instrumento tocado. Inclusive em gravações um tanto comprimidas. Ou seja, a LS10 não inventa onde não tem, e faz muito bem onde tem.

Como o Fernando costuma dizer em seus testes, de maneira irretocável: o acontecimento musical está ali, na sua frente, que quase dá para tocá-lo.

CONCLUSÃO

A empresa Le Son International, e suas cápsulas, provocam profunda curiosidade. Mais de um reviewer já manifestou querer saber o estágio em que se encontram as cápsulas de fabricação chinesa – eu incluso.

Se você tem preconceito quanto aos produtos de áudio chineses, está na hora de rever seus conceitos, porque o trabalho conjunto de Gregory de Richemont e o Dr Ted Tsai, é superlativo em todos os sentidos: visão, tato e audição – fabricação, acabamento, projeto e qualidades sonoras!

Considero a Le Son LS10 MkII como uma das melhores opções no mercado de cápsulas MC de saída baixa – e uma opção campeã nessa faixa de preço!


PONTOS POSITIVOS

É ao mesmo tempo detalhada e resolutiva, e natural. E ainda traz lindas Texturas, intencionalidades claras e um Palco fenomenal. Toca acima de sua etiqueta de preço.

PONTOS NEGATIVOS

Precisa de um sistema equilibrado, e bons discos, para soar o seu melhor. Discos mal gravados, serão expostos.


ESPECIFICAÇÕES

TipoMC – Moving Magnet
CorpoSoquete de Alumínio e Fibra de Carbono, Carcaça de Madeira de Ébano
AgulhaDiamante com perfil Shibata em V
CantileverNitreto de boro
BobinasCobre 6N
Peso7.9 gramas
Saída0.40mV
Impedância interna6.8 ohms
Resposta de frequência15 a 45.000 Hz
Separação de canais30dB (1kHz)
Equilíbrio entre canaisMelhor que 0.5dB
Tracionamento80μm (315Hz com peso de 2g)
Compliância15μm / mN
Carga recomendada75 ohms
Peso de tracionamento (VTF)1.7 a 2.1 gramas (1.9 gramas recomendado)
Massa recomendada do braçoMédia
Período de amaciamento30 horas
AcessóriosEscova, chave hex, protetor de agulha, e jogos de parafusos de montagem com arruelas (curtos, médios e longos)
CÁPSULA MOVING COIL LE SON LS10 MKII
Equilíbrio Tonal 11,5
Soundstage 13,0
Textura 13,0
Transientes 12,5
Dinâmica 12,5
Corpo Harmônico 12,5
Organicidade 12,0
Musicalidade 12,0
Total 99,0
VOCAL                    
ROCK, POP                    
JAZZ, BLUES                    
MÚSICA DE CÂMARA                    
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