Juan Lourenço
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Olá amigas e amigos leitores da Revista Audio e Video Magazine, nesta edição gostaríamos de falar um pouco sobre a elétrica dedicada ao áudio e vídeo de alta qualidade, apresentando-lhes um guia para que, junto ao seu eletricista de confiança possam realizar uma instalação elétrica dedicada de qualidade e minimamente correta do ponto de vista da audiofilia, quais os cuidados ele o profissional deve tomar quanto a junções e emendas, além dos dispositivos de proteção que são comumente utilizados numa elétrica dedicada. Com este guia, você poderá ter um “Norte” e assim orientar e avaliar melhor as ações da empresa ou do eletricista que fará o serviço em sua residência, não mais ficando a mercê da dúvida, se o profissional fez ou não um bom serviço, do ponto de vista o áudio, claro.
Como tudo neste hobby envolve cuidado, dedicação e prazer no processo de execução, na elétrica não poderia ser diferente. Minha proposta é que, com este guia você possa participar deste processo de instalação, como se fosse um trabalho a quatro mãos e assim acrescentar mais conhecimento e experiência.
Não sou engenheiro elétrico muito menos o dono da verdade, no máximo tenho curso de eletricista, NR 10 e ABNT em dia e revisadas, por isto que irei me ater às questões práticas da elétrica, aquelas que deram certo para mim e que foram utilizadas no sistema de referência da CAVI, portanto deu muito certo, caso contrário minha cabeça já teria rolado (risos).
Muito já foi falado sobre este tema, e a única coisa que é consenso dentre todos os amantes deste hobby, é que sim, a elétrica dedicada melhora muito o resultado final tanto no áudio quanto no vídeo. Dito isto, vamos ao que não é consenso e, em áudio e vídeo, significa que quase tudo na alta fidelidade tem seu equivalente místico, sem explicação até o memento ou como alguns preferem simplesmente aceitar que estão nos domínios da física quântica.
Eu não sou gabaritado para falar de tais fenômenos quânticos ou místicos, muito menos para tentar explicar o porquê que ocorrem, o que eu sei é que muitas descobertas são frutos de observações e, muitos fenômenos são percebidos somente após uma audição ou exibição de vídeo. Alguns são confirmados em bancada de laboratório, outros ainda não. O fato é que, tais aperfeiçoamentos na elétrica, possuem resultados imediatos tanto para melhor quanto para pior e neste quesito o céu é o limite. Você pode literalmente destruir a sonoridade do teu sistema, bem como pode deixá-lo, super afinado, e com isto ganhar alguns pontos extras em alguns quesitos da metodologia, senão em todos!
Muitas destas experimentações que deram certo na elétrica nasceram na indústria de cabos de áudio de interconexão e de força, após a constatação dos efeitos benéficos, foram experimentados na elétrica com o mesmo sucesso. Considero a indústria de cabos audiófilos a força motriz que permite o avanço nos aparelhos de áudio. Sempre que os cabos sobem e permitem expandir os limites dos aparelhos expondo suas limitações, os projetistas são inspirados a um novo desafio. Então lhes pergunto: porque seria diferente com a elétrica, não é mesmo? Oras… Se o cabeamento do sistema permite mostrar gargalos, ou até eliminá-los, porque que a elétrica não poderia ser o antídoto para muitos dos problemas em nosso sistema? Assim como os cabos de interconexão e de caixa evoluem, a elétrica precisa ser aprimorada de tempos em tempos.
As conexões elétricas para áudio não fogem às normas e recomendações contidas na lei brasileira, ou pelo menos não deveria, portanto se alguém lhe indicou em algum momento passar os cabos diretamente do medidor da concessionária, livre de qualquer sistema de proteção, aconselho fortemente que reveja estes procedimentos. Não é preciso, e se tem algum ganho, é miseravelmente desprezível perto do risco do sistema e da residência pegarem fogo, além do mais, é possível recuperar esta possível perda com outras ações que falarei mais a frente no texto.
O que muda de uma instalação elétrica padrão, para uma otimizada para o áudio são pequenos macetes que garantem uma maior fluidez na condutividade elétrica e com isto, o ganho em harmônicos responsáveis pela naturalidade, correção de timbre, palco sonoro e etc. são infinitamente maiores que numa elétrica padrão.
Para começar, vamos falar dos elos numa elétrica, sabemos que os elos na cadeia de ligações dos contatos elétricos seguem a mesma lógica do cabeamento de interconexão: quanto menor for o número de pontos de interrupções (emendas) melhor será para a reprodução sonora. Menos interrupção permite ao cabo levar o sinal até o seu destino final com suas características intactas. É importante que o cabo que irá ligar as tomadas dedicadas do sistema, tenha o mínimo de interrupção possível, isto significa que ele deve ser um cabo inteiro sem emendas ou cortes, do ponto A ao ponto B, da chave seccionadora ou porta fusível até o banco de tomadas do sistema, assim evita-se a “sujeira” de toda a rede causada pelos eletrodomésticos. Lembra quando estávamos assistindo TV e alguém ligava o liquidificador e borrava toda a imagem da TV? É desta sujeira que estamos falando, todos os eletroeletrônicos sujam o sistema de estéreo ou de vídeo de alta qualidade. O que queremos é atenuar esta interferência ao máximo.
Para esta ligação aconselhamos o uso de duas opções de proteção que têm se mostrado ótimas para o uso em áudio e vídeo. São elas: Seccionadora Siemens para fusíveis NH-00 e o porta fusíveis 10,3 x 38 mm da ABB para trilhos DIN (o mesmo esquema de engate dos disjuntores comuns), sendo este último o mais cômodo para instalações, pois permite a instalação em quadros elétrico comuns. Já a seccionadora Siemens tem porte avantajado, sendo impossível sua instalação em quadros pequenos e em residências mais antigas. A qualidade é a mesma, os dois utilizam cobre eletrolítico com até 3N de pureza revestidos com banho de prata. Este porta fusível ABB foi dica do amigo Felipe Rolim, eu sequer sabia que existiam este tipo de porta fusível quanto mais que seria possível comprar aqui no Brasil.
Numa pesquisa pela internet descobri que na Europa já existe este mesmo modelo de porta fusível voltado para high end, com cobre mais puro, outros banhos como ouro e etc. e tratamento criogênico. Vale a pena uma pesquisa.
Dê preferência para cabos elétricos de cobre e de fabricantes renomados para o áudio, como, Furutech, Sunrise Lab, Power Clean ou o popular e bom Prysmian (antigo Pirelli que possui cobre eletrolítico).Quanto a bitola, é aconselhável ficar entre 4 e 6 mm² total de sessão por pólo. Não tem a ver com a capacidade de carga e sim com a qualidade sônica, o equilíbrio entre a gama de harmônicos que transitará pelo cabo é mais equilibrada dentro desta faixa. Se observar os cabos elétricos indicados, todos ficam na casa dos 4 até 5,5 mm² de sessão total.
Para as pontas dos cabos, aconselho não utilizar terminais elétricos do tipo ilhós e ponteiras metálicas, pois o material é de baixíssima qualidade e certamente irá interferir na qualidade da reprodução sonora.
Por que não um cabo com prata ou com ouro ou com qualquer outro material? Simples, a elétrica é para ser neutra, ela não tem que “apimentar” o sistema, você pode ate achar que num primeiro momento, um cabo turbinado com prata ou ouro te dará agudos mais proeminentes, mais profundidade ou algo assim, mas à medida que for subindo o sistema, trocando cabos de força IC etc. e equipamentos, as características sônicas do cabo da elétrica irão se sobressair te levando a falsas conclusões sobre determinados produtos em teste no seu sistema, e se o produto for correto, ficará evidente que algo no set está errado, o difícil será lembrar que é o cabo de elétrica, até lembrar disto, todos os cabos e aparelhos do sistema levarão a culpa. Algumas pessoas ficam anos culpando o sistema inteiro trocando tudo e não se dão conta que é a elétrica o problema.
Algumas vezes é impossível não fazer emendas, principalmente quando se trata de apetrechos que melhoram a elétrica, como é o caso do Zero Loop da Magis Audio e do Deep Line da Sunrise Lab. Para estes casos existem dezenas de maneiras de realizar a emenda. Algumas geram ruído ou loop na rede, outras são mais inertes e por tanto, melhores para ajudar a potencializar o efeito benéfico do gadget a ser utilizado.
Existe N maneiras de se fazer emenda, desde apenas enrolar o fio sobre o outro, até soldar e passar fita isolante.
Eu até gostava da solda, porém a NBR-5410 nos diz o seguinte:
6.2.8 Conexões
6.2.8.1 As conexões de condutores entre si e com outros componentes da instalação devem garantir continuidade elétrica durável, adequada suportabilidade mecânica e adequada proteção mecânica.
6.2.8.2 Na seleção dos meios de conexão devem ser considerados:
a) o material dos condutores, incluindo sua isolação;
b) a quantidade de fios e formato dos condutores;
c) a seção dos condutores;
d) o número de condutores a serem conectados conjuntamente.
NOTA: É aconselhável evitar o uso de conexões soldadas em circuitos de energia. Se tais conexões forem utilizadas, elas devem ter resistência à fluência e a solicitações mecânicas compatível com a aplicação.
É uma RECOMENDAÇÃO e não uma proibição, por tanto, pode ser utilizada sem maiores consequências legais, por outro lado devemos olhar para as fraturas por fluência, que são especialmente preocupantes acima dos 0,7 Tf. Onde, Tf é a temperatura absoluta (em kelvin) de fusão. No caso das soltas da liga estanho-chumbo está em 183°C (456K).
0,7x456K=319,2K (46,2°C). O limite de trabalho para os cabos de PVC são 70°C, ou seja, acima dos 47°C a solda não pode garantir resistência às possíveis solicitações mecânicas e pode ocorrer fratura por fluência e com isto ocorrer micro interrupções elétricas que em geral não são suficientes para desligar o aparelho, mas podem degradar o resultado sonoro.
Muitas pessoas utilizam prensa cabos, ou rosqueador do tipo copinho que são vendidos aos montes, por aí. Eu prefiro utilizar três métodos bastante eficazes para as junções, são eles:
Crimpagem de cabo seja por meio de crimpador do tipo alicate de pressão em que, após a crimpagem é preciso isolar com fita isolante de auto fusão (evite a fita isolante comum); com luvas de emendas revestidas de termoplástico não condutor que, aliás, é o método mais cômodo de todos, ou utilizar a fomosa Sindal. “Ah, mas você está sugerindo que o meu cabo de centenas de reais seja emendado com uma sindal de latão? Sim e não. Se você fizer uma boa junção dos cabos, sobrepondo-os, não deixando o material da luva ou sindal ser o ponto de contato elétrico entre os dois fios, você não terá qualquer degradação do som, pois os elétrons sempre procuram o caminho de menor resistência, trocando em miúdos, não passarão pelo material prensador, e sim pelo cobre dos condutores. Mais a baixo irei descrever como fazer.
Aqui está um segredinho que sempre faço para realizar uma boa emenda, afinal somos audiófilos, por tanto cheios de neuras e melindres (risos), preciosismo é o nosso nome do meio.
O ideal é que fiquem mais ou menos como nesta foto a seguir:
Não coloque os fios em paralelo para crimpar, é bom que fiquem sobrepostos para que os elétrons fluam de maneira harmoniosa sem “trancos de ter de seguir uma direção e de repente procurar caminho em outra direção oposta, como na foto abaixo.
Aprendi com o Ulisses da Sunrise como unir os fios elétricos de uma maneira bastante simples e intuitiva.
Primeiro é preciso separar os materiais que serão utilizados para fazer a emenda.
São eles: descascador de fio ou estilete, tesoura, fita de auto fusão e fita isolante comum (para acabamento), pedaço de teflon em folha (vendido em casas de borracha ou pela internet), fita adesiva do tipo durex, alicate para elétrica e a luva de emenda para fios de 6 mm².
Passe a luva em um dos fios e o descascador ou estilete, desencape os fios a serem emendados, em seguida desponte os fios de maneira que fiquem com os fios bem abertos, em seguida entrelace os fios e gire-os uma ponta no sentido horário outra no anti-horário como na sequência de fotos.
Passe a luva em um dos fios e o descascador ou estilete, desencape os fios a serem emendados, em seguida desponte os fios de maneira que fiquem com os fios bem abertos, em seguida entrelace os fios e gire-os uma ponta no sentido horário outra no anti-horário como na sequência de fotos.
Em seguida, corte um pedaço de teflon suficiente para cobrir toda a parte desencapada do fio, após medir tudo direitinho, enrole o teflon e com a fita durex faça o fechamento do teflon no cabo desencapado. Neste momento é preciso um pouco de paciência e perseverança, a passagem da luva é pequena, e o teflon não ajuda a encaixar a luva por cima, com calma irá conseguir!
Após finalmente passar a luva por cima do teflon, pegue o alicate e prense a luva contra o cabo, passe a fita de auto fusão para evitar contaminação do ar e impurezas, em seguida, dê acabamento com um pequeno pedaço de fita isolante, que serve apenas para manter a fita de auto fusão no lugar até a completa reação química da mesma.
Pronto! Finalizado, ufa!
Nota: O alicate utilizado serve apenas para pressionar a luva, não utilizamos alicate sem proteção para serviços elétricos.
O aterramento eu prefiro o modelo T T Este esquema possui um ponto da alimentação diretamente aterrado, estando as massas da instalação ligadas a um eletrodo de aterramento eletricamente distinto do eletrodo de aterramento da fonte, ou seja, os equipamentos são aterrados com uma haste própria, diferente da usada para o neutro.
Neste caso, costumo utilizar pelo menos duas hastes, uma para o digital e outra para o analógico mantendo-os separados. O porquê é simples, com duas hastes separadas, o digital não “suja” o sinal do analógico e vice-versa. Se for utilizar o sistema de vídeo juntamente com o estéreo, sugiro se possível, uma terceira haste para o projetor e periféricos.
Bem… É isto, espero que gostem e que possam experimentar estas dicas e possam me falar de suas impressões.
Forte abraço!