Christian Pruks
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Com a palavra, André Geraissati!
Continuando a série Música Instrumental Brasileira com o CD André Geraissati, não poderiam faltar os comentários gentilmente cedidos pelo próprio compositor e intérprete, sobre cada uma das faixas do CD:
“Durante a década de 1970 eu pude viajar muito pelo Brasil tocando com o Ronnie Von, e bem no começo de 1970 o Brasil não tinha essa infraestrutura de telecomunicações, enfim, não tinha esses aparatos tecnológicos de hoje em dia, como computador, internet etc., então cada local que você ia do Brasil tinha uma cara própria e muito pouca ou quase nenhuma influência dos grandes centros. Eu fui várias vezes para o Nordeste, não só para as capitais litorâneas, mas também para o interior, para as cidades pequenas. Então, fiquei muito impressionado – aquilo passa a ser uma imagem na cabeça, daquela visão que tive, daquele povo com o qual eu até não convivi, pois a imagem que guardo na cabeça do Nordeste, desses lugares, é muito mais passando de carro. Mas é uma paisagem muito sui generis. Todas as músicas acabam tendo uma relação, uma imagem psíquica, alguma coisa que entra em ressonância com algo no meu consciente. É muito complicado para mim colocar nome em música, porque a música não necessariamente representa aquilo. Mas para essa música eu gostei da palavra ‘agreste’, que me parece uma palavra áspera, como é o próprio agreste e como é o povo – áspero, não no sentido de ser mal educado, mas um povo que é muito aquilo que é só o necessário e parecido com a natureza local. Então, para essa música ‘Agreste’, me vem essa imagem desse lugar na minha cabeça, dessa paisagem árida e dessas pessoas muito gentis, muito gente boa, mas também ‘áridas”.
“O nome original na verdade é ‘Fazenda 83’, e também vem do meu imaginário. Minha avó, quando eu era pequeno, me contou muitas histórias sobre fazenda e tal. Sou um cara urbano, nunca havia ido a uma fazenda, e essa música eu fiz quando acabei indo a uma fazenda de uns amigos em Avaré, no interior de São Paulo, e fiquei muito impressionado em ver pela primeira vez uma fazenda de fato. Essa música é, então, por conta desse ocorrido.”
“Eu fiz uma viagem para Manaus em 1980, e lá tive a oportunidade de subir o Rio Negro em um barco de turistas durante três dias, quando fui conversando com o piloto do barco, que me foi contanto histórias e lendas da Amazônia, e que sempre se juntaram com as histórias que tinha na cabeça quando era pequenino: quando eu tinha uns cinco anos, havia uma imagem própria na cabeça, da floresta e afins. Enfim, quando a gente parou em certo local, entrei pela mata, andei provavelmente um quilômetro e achei uma lagoa, em um lugar muito quieto. Então, tinha aquela sensação de estar em um lugar absolutamente silencioso mesmo. Por algum motivo a mata estava muito quieta – pelo menos para o meu padrão de quietude. Por isso, acabei compondo essa música.”
“É uma música que fiz pensando em meus três filhos: Gabriel, Diana e Helena, que elaborei depois que a Helena já havia nascido. E me parece que filhos, independentemente de qualquer coisa, sempre estarão no seu coração – no meu, estarão sempre. Parece-me que filho é um negócio muito definitivo.”
“É uma música que fiz em homenagem a um amigo, o Mário Sérgio,
que nasceu em Benguela (Angola). Ele é europeu; na verdade, não tem nada com aquilo que a gente imagina da África Negra. A minha ideia da África é um negócio que absolutamente não tem nada a ver com a África real, é mais uma ideia baseada nos filmes do Tarzan e do Jim das Selvas. A música é justamente por isso, porque ele nasceu em Benguela.”
“É uma imagem que tenho, uma ideia, que o significado de qualquer coisa está entre a ação e o tempo em que eu, no caso, recebo a informação. Então, o significado de qualquer coisa, o significado da nota musical está no silêncio, o significado sempre está em algo abstrato, fica em um espaço abstrato.”
“É uma analogia à paz como uma quietude, enfim, um momento em que as coisas ficam muito lentas ou paradas. E aquilo passa a ter o significado de paz por si só, pelo próprio significado que a paz tem em qualquer circunstância.”
“É uma simples referência a como eu toco essa música: com as duas mãos. As duas mãos têm um sentido de melodia e harmonia ao mesmo tempo.”
“Na gravação dessa música para o meu disco Next (1999), em que é um grupo tocando, o Eduardo Queiroz, o Duda, que estava tocando um dos sintetizadores, fez um glissando, que tinha esse som: ‘tu-i-u’. O nome é só por causa desse som, desse glissando.”
“É pelo significado que tem para mim o lobo. Eu nunca vi um lobo na vida, sobretudo em seu habitat natural, que na minha cabeça são as florestas geladas da Europa. Parece-me um animal muito bonito, solitário – aquele negócio do lobo ser solitário – o que não é verdade, pois eles caçam em matilha, mas na minha cabeça vem um lobo solitário, caçando à espreita na noite, e o significado que isso tem para a nossa psique ou, pelo menos, para a minha psique.”
“Quando comecei a tocar violão na minha infância, ouvi músicos como o Dilermando Reis tocando violão e o Canhoto, que eram figuras que tocavam, na minha cabeça, uma música bem tradicional, bem aquela coisa mais usual. E quando ouvi o Baden Powell, fiquei muito impressionado, porque me pareceu nada usual o jeito dele tocar – havia uma força no jeito do Baden tocar que só havia conhecido e que só identifiquei como sendo do Jimmy Hendrix tocando guitarra. Na minha cabeça, os dois eram figuras dissidentes do status quo, daquilo que se tocava em violão e guitarra – daquilo que eu conhecia, pelo menos. Antes do Hendrix, era uma a guitarra elétrica, e depois dele era outra. O Baden para mim é a mesma coisa: o violão antes e depois dele. O nome ‘Baden in My Heart’ é também uma analogia a um grupo revolucionário da Alemanha, de nome Baader-Meinhof, que também me impressionou à época – não que eu tivesse qualquer ligação política, e sim nas notícias, por ser um grupo pequeno que queria mudar o que estava estabelecido naquele momento. E, na minha cabeça, o Baden Powell realmente fez isso.”
“Essa música fiz em homenagem ao Paulinho Nogueira, outro ícone do violão. Embora o Paulinho tocasse uma melodia que a gente conseguia entender, onde não tinha aquela pegada africana, uma música mais tranquila, mais parecida com a do Dilermando Reis, ele me impressionou e vai me impressionar para o resto da vida pela capacidade que tinha de pegar qualquer música, a mais ‘bobinha’ possível, como ‘Parabéns a Você’, e quando tocava aquilo, conferia um valor; o Paulinho conferia um valor a qualquer coisa que tocasse: incrível! Ele era um virtuoso: conferia virtudes mesmo àquilo que a gente não conseguia perceber antes de ouvi-lo tocar.”
PROMOÇÃO CD história da música instrumental brasileira – ANDRÉ GERAISSATI – VOL. 2
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