Minha relação com este fabricante inglês de caixas acústicas é antiga. Diria que desde que chegou ao Brasil, no início de 2007, ao ouvir o primeiro modelo enviado para teste, me apaixonei tanto pela filosofia do fabricante em oferecer caixas de pequeno porte com uma ‘grande’ performance e, principalmente, pela assinatura sônica dos produtos.
Tanto que não titubeei ao ouvir a pequenina coluna Motive 2, apresentá-la em nosso Curso de Percepção Auditiva, ministrado no Hi-End Show no Rio de Janeiro em 2010, em uma sala de mais de 180 m² com quase 100 participantes.
A repercussão foi literalmente apoteótica! Com todos que ouviram comentando como uma coluna com menos de 80 cm de altura, de duas vias, podia ter uma performance tão sedutora e consistente?
Da série Motive, o último exemplar por mim testado foi a Motive 2 SE, na edição 176 em março de 2012. Sete anos se passaram e, eis que agora com novo distribuidor no Brasil, recebemos da German Audio a nova Motive SX2. O tamanho é o mesmo, mas muita coisa mudou nesta nova série. A primeira grande diferença é o tweeter de cúpula invertida de alumínio, substituindo a anterior que era de titânio. O novo tweeter apresenta também um enorme conjunto magnético blindado. O fabricante alega que, além de uma melhor performance em termos de extensão e timbre, este tweeter é também muito mais confiável em termos de durabilidade.
Outra grande mudança está no interior do compacto gabinete, em que foram desenvolvidos novos reforços internos, além das duas unidades de falantes trabalharem em espaços separados. O pórtico bass-reflex continua apontando para o chão, o que permite, em salas diminutas ou com pouco espaço, colocar as SX2 grudadas nas paredes. Seu falante de médios-graves de 5 polegadas é o mesmo da série anterior.
O fabricante disponibiliza a nova Motive SX nos seguintes acabamentos: Nogueira, Carvalho Natural, Carvalho Preto e Branco Acetinado.
Para um leigo que nunca escutou uma caixa Neat Motive, seu tamanho, seu design slim e seu ângulo com os falantes inclinados ligeiramente para o alto, não devem impressionar visualmente. Mas não se engane, meu amigo, pois no momento em que essas pequenas caixas começam a soar, tudo se transforma! Nunca vi ninguém ficar impassível ao ouvir as primeiras notas! Alguns imediatamente se levantam para ter certeza que aquele som vem mesmo de colunas tão diminutas!
Os engenheiros da Neat devem ter excelentes histórias para contar de consumidores desavisados que arregalaram os olhos e abriram um largo sorriso ao ouvirem seus discos de referência reproduzidos em uma Motive.
Eu tenho algumas para contar. E tenho pelo menos seis amigos músicos que possuem como sua referência absoluta as Motive 1 e 2 em casa ou em seu home studio.
Mas o que essas caixas têm de tão encantador? Se aconchegue em sua cadeira, abra um vinho ou uma cerveja estupidamente gelada, que eu já lhes conto.
Antes, como é de praxe, vamos a lista de produtos utilizados no teste. Powers e integrados: Hegel H30, Audio Research VSi75SE e Sunrise Lab V8 MkIV. Pré-amplificadores: Dan D’Agostino e Audio Research Ref6. CD-Players: dCS Scarlatti e Luxman D-08. Analógico: pré de phono Gold Note PH-10 e Tom Evans Groove+. Toca-discos Air Tight, cápsula Sumile e braço SME Series V. Cabos de Caixa: Nordost Fyr 2, Sunrise Lab Quintessence e Transparent Audio Reference XL2. Cabos de interconexão: Nordost Fyr 2, Sunrise Lab Quintessence, Sax Soul Ágata e Transparent Opus G5.
A Motive SX2 veio lacrada, e seus 26 kgs (embaladas) foram pêra doce para desembalar, montar o pedestal (tudo feito antes do meu acidente), e posicionar as caixas para uma primeira audição. Como estava acabando a avaliação do integrado da Audio Research VSi75SE, tirei a Persona B da Paradigm e coloquei as Motive SX2 quase na mesma posição em que as Persona B se encontravam.
Já no primeiro disco observei que a abertura das Personas era muito para as Motive. Diminui de três metros entre as caixas para 2,80 m e, depois de amaciada, para 2,70 m (entre o centro de um tweeter até o centro do outro tweeter). Como toda Neat, o usuário terá que ter uma dose de paciência, tanto para achar a melhor posição na sala, como para esperar o tweeter ‘desabrochar’. Isso leva de 120 a 180 horas (dependendo do volume e do gênero musical, capaz de excitarem os tweeters para eles acordarem). As primeiras 50 horas são basicamente utilizadas para a região médio-grave ganhar corpo e os graves começarem a sair do engessamento. Ou seja, a sensação de que a caixa só tem médio é real. Mas, não se desespere e nem se precipite em chamar os amigos, pois será uma saraivada de críticas e opiniões maldosas. Tome coragem e atravesse este momento solitariamente, pois lhe garanto que, no final, você ficará extremamente satisfeito com ela.
Em 100 horas o tweeter começa a sair do processo de hibernação: pratos, chimbau, última oitava de instrumentos de sopro, e violino aparecem com tamanha naturalidade que daí em diante a vontade de ouvir música renasce de forma intensa. Vozes à capela e alguns pequenos grupos de blues, com 100 horas já soam divinamente. A partir desta fase, até às 200 horas solicitadas pelo fabricante, será a lapidação final. Seja generoso e paciente, pois o resultado irá garantir uma satisfação por muitos e muitos anos.
O tweeter de titânio não tinha a extensão que o atual possui e nem tão pouco o arejamento e a velocidade. Então é preciso se armar de paciência, paciência e paciência. Com 150 horas você se perguntará como pode um falante de 5 polegadas ser tão imponente e reproduzir baixas frequências com tanta autoridade? Essa é uma pergunta que todos os consumidores de Neat Motive se fazem regularmente. Pois não dá para se acostumar com tantas surpresas boas. Afinal, o que os seus olhos veem não condiz com o que elas soam, assim fica difícil se acostumar (principalmente quando ouvimos novas gravações pela primeira vez nessas pequenas notáveis).
Quem foi paciente até 150 horas pode tranquilamente aguardar as 200 horas, antes de sair contando para todo mundo, certo? Pois bem, se você tem cara-metade, participativa e interessada em seus upgrades, faça um pré-teste. Convide-a para ouvir algumas gravações que ela admira. E fique atento a todas as suas reações! Geralmente as mulheres, por possuírem um ouvido muito sensível aos agudos, sempre se manifestam quando algo não está correto. Se ela, com 150 horas, achar que já está maravilhoso, você pode contar aos amigos, agora se ela apontar ainda algum erro, espere! Ouça sua mulher, pois em matéria de agudos elas são as especialistas!
Com 180 horas os graves estarão soltos, com excelente decaimento, velocidade e corpo (para uma coluna de suas dimensões). A região média estará mais do que amaciada, se apresentando líquida, orgânica e musical a ponto de nos tirar suspiros ao ouvir vozes e instrumentos acústicos. E os agudos faltarão uma unha para atingirem seu ponto ideal de extensão, arejamento, velocidade e decaimento.
Agora você poderá se debruçar no posicionamento da caixa, na escolha do cabeamento e nos discos que você irá utilizar para deixar suas visitas babando! Feitas para serem utilizadas em salas de até 20 m², as Motive SX2 precisam muito mais de arejamento em relação às paredes laterais do que entre elas ou à parede às suas costas. Na nossa sala de home, ficaram 2,30 m entre elas, e 1,20 m da parede às suas costas, com um leve ângulo de 15 graus para o centro do ponto ideal de audição. Nesta posição elas sumiram, deixando-nos as sós com os músicos.
Na nossa sala de testes (que possui 50 m²) tivemos que ser mais criteriosos, e as posicionamos mais próximas ainda da parede às suas costas (1 metro), com a distância entre elas subindo para 2,50 m e o ângulo de audição caindo para 10 graus.
Totalmente amaciada, seu equilíbrio tonal é excelente, com agudos muito corretos, arejados, de decaimento suave, possibilitando o ouvinte perceber o detalhe do detalhe, mesmo em gravações complexas. Região média, como já escrevi, maravilhosa em termos de timbre, calor e naturalidade. E os graves, ainda que limitados pelo tamanho físico da caixa e do falante, com ótimo corpo, velocidade e peso.
Elas não se intimidam, mas os usuários terão que ter cuidados para não abusar do volume, para a caixa não bater o cone. O fabricante fala em termos de compatibilidade com amplificadores de 30 a 100 Watts. No nosso caso, o Audio Research com 75 Watts foi o amplificador ideal (casaram como uma luva, tanto em termos de potência como de assinatura sônica).
Seu soundstage irá depender da distância entre as caixas e o ouvinte. Quanto mais perto, menor será a altura de todo o acontecimento musical, mais distante (no mínimo a mesma distância que entre as caixas) terão um palco mais alto. O mesmo ocorrerá com a largura do palco: para um resultado mais satisfatório, o ideal é pelo menos 40 a 50 cm das paredes laterais, para a caixa respirar. Em relação à profundidade, as Neat operam milagres, mesmo a 1 metro de distância da parede às costas, apresentando todos os planos de uma orquestra.
Suas texturas, quando ligadas ao integrado da Audio Research, foram sublimes – não encontro outro adjetivo para descrever a beleza da paleta de cores tanto de todos os instrumentos acústicos como de vozes. Digno de se emocionar ao percebermos o grau de intencionalidade interpretativa dos virtuoses.
Os transientes sempre foram um dos pontos altos de toda caixa Neat. Você não perde nunca o andamento e a precisão rítmica, seja de um andamento simples (4 x 4) ou algo mais complexo (7 x 8).
A microdinâmica é excelente, graças a transparência da região média e a macro, ainda que limitada pela questão física do falante e tamanho da caixa, é muito boa, com excelente escala entre o piano e o forte. E uma menor escala entre o forte e o fortíssimo.
A apresentação do corpo harmônico dos instrumentos é um daqueles mistérios difíceis de explicar, mas que a Motive SX2 tem excelente corpo para o seu tamanho, isso tem! Maior que de caixas bookshelf, porém menor que colunas de maior porte. Mas, convenhamos entre o corpo diminuto de inúmeras books, melhor um corpo mais correto, você não acha?
A materialização física dos músicos (organicidade), nas SX2 é um dos fenômenos mais incríveis, em se tratando de uma caixa tão humilde para o padrão hi-end. Foi emocionante ouvir José Cura materializado à nossa frente! Um som palpável 3D, com requintes de total intimidade entre o ouvinte e o acontecimento musical!
E, por fim, o tão desejado quesito de nossa metodologia: Musicalidade. Todas as Neats que testamos sempre soaram muito musicais, e não é difícil explicar o motivo: excelente equilíbrio tonal, texturas impressionantes, transientes cirúrgicos e uma organicidade quase que física, dão a resposta exata para uma musicalidade tão sedutora e cativante.
Quantos dos nossos leitores convivem com salas limitadas, porém possuem o desejo de terem uma solução que caiba neste espaço e em seu orçamento e não tenham que recorrer a uma bookshelf?
Nos 23 anos da revista diria que no mínimo metade dos leitores que possuem books desejam migrar para uma coluna de pequeno porte, que lhes permita ouvir suas músicas com maior peso e autoridade. A linha Neat Motive foi pensada para este público e, há mais de uma década atende com propriedade este consumidor.
Em qualquer teste das caixas Motive, em qualquer canto deste planeta, o articulista sempre irá ressaltar que essas caixas oferecem um resultado muito além de seu porte físico. E se você entrar em qualquer fórum internacional de áudio, irá ler testemunhos de usuários plenamente satisfeitos e fiéis à marca. Então, para todos que buscam, antes de decidir um upgrade, pesquisar todas as opções possíveis, diria que não colocar na lista as Neat Motive SX2 como uma excelente solução, será cometer um erro.
A nova linha SX foi um salto grande em relação a linha Motive anterior (diria que até mesmo em relação a Motive 2SE, ainda em linha).
Se você deseja audições com refinamento, emoção e ausência de fadiga auditiva, possui uma sala restritiva em termos de colunas maiores, mas não deseja uma bookshelf, ouça a Motive SX2. Você tem tudo para descobrir que ela pode ser sua caixa definitiva com uma relação custo/performance excelente!
Nota: 79,5 | |
AVMAG #249 German Audio contato@germanaudio.com.br R$ 13.900 |
Ainda que as colunas tenham evoluído muito, e estejam cada vez mais slim e compactas para os ambientes modernos das grandes cidades, ainda assim muitos consumidores, sejam audiófilos ou melômanos, necessitam de soluções ainda mais compactas no tamanho e não na performance.
E os fabricantes conceituados de caixas acústicas estão sempre a jogar um pouco mais para cima a qualidade final das caixas também batizadas de bookshelf.
A Revel, do grupo Harman, ao apresentar no início de 2012 suas books M105, buscou se posicionar no pelotão de frente dos fabricantes que buscam em seus modelos Estado da Arte (como a Revel Ultima Salon 2, testada por nós na Edição 229), inspiração para os seus modelos de entrada. E talvez esta seja a razão da Performa3 M105 ter tantos admiradores espalhados em todos os continentes, e reviews altamente elogiosos!
Meu primeiro contato se deu na AV Group (distribuidor do produto no Brasil), tocando descompromissadamente com uma eletrônica Emotiva de entrada. Enquanto eu aguardava para ser atendido, duas coisas me chamaram a atenção: seu equilíbrio tonal mesmo a volumes de música ambiente e seu acabamento e design. Nada de plástico ou gabinete simples para tornar o produto competitivo.
Atento ao seu peso, seu gabinete curvo, verniz brilhante, que lhe dava um ar de produto extremamente refinado e muito mais caro, lá fui eu fazer o de habitual: bater com o nó dos dedos no gabinete, para sentir sua solidez e passar as mãos para contemplar seu fino acabamento sem rebarbas. Em resumo: saí de lá com a certeza que deveríamos testar esta bookshelf, ainda que seja um produto com mais de seis anos no mercado!
Com as caixas já em nossa sala de testes, foi possível apreciar em detalhes todas as suas qualidades. O gabinete tem 25 mm de espessura, as paredes laterais são laminadas a partir de uma lâmina única, assim como a parede traseira. O falante de médio grave de 130mm utiliza cone de alumínio, como nos modelos superiores, e seu comportamento pistônico foi estudado em 3D para que não se tenha perda mesmo a volumes altos e por longo período. O tweeter de alumínio de 25mm, possui uma lente acústica para servir como guia de onda, controlando a dispersão e fazendo com que a passagem do médio alto para os agudos sejam o mais suave possível. A lente também ajuda a distribuir a energia fora do eixo, permitindo um ponto de escuta menos fechado.
Dizem que a diferença está nos detalhes, e no caso das M105 estão mesmo! Os números técnicos não são nada excepcionais, como resposta nos graves a partir de 60Hz e sensibilidade de 86dB. Mas esses dados técnicos serão totalmente esquecidos a partir das 300 horas de amaciamento mínimo, quando elas finalmente desabrocham e nos presenteiam com audições plenas de conforto auditivo e inteligibilidade!
Mas, para atingir sua máxima performance, serão necessários alguns cuidados, como um amplificador de no mínimo 50 Watts com boa corrente, bom fator de amortecimento e disposição para pegar a s pequenas M105 e regê-las com autoridade.
Os cabos de caixa também serão muito importantes. Usamos o Nordost Heindall 2, com excelente resultado.
E o cuidado mais imprescindível: o pedestal! Este, meu amigo, deverá ser minuciosamente estudado para, em termos de soundstage, você obter um palco grandioso, uniforme e, nas três dimensões, homogêneo.
O ideal é que o ouvinte esteja na altura entre o tweeter e o falante de médio-grave. Nesta posição dois fenômenos ocorrem: primeiro a caixa parece ter apenas um falante concêntrico e, segundo, o foco e recorte serão de uma precisão estonteante. Essas duas qualidades são tão impactantes que você irá desejar explorá-las ao limite.
Com um tamanho tão modesto, será preciso que o posicionamento das caixas em relação ao ouvinte seja equacionado da melhor maneira possível.
As M105 são ideais para ambientes de até 12 m². Em salas maiores os graves ficarão comprometidos, mas respeitando esses limites sua resposta e seu equilíbrio tonal são tão planos que, independente do volume, sempre o prazer de ouvir será pleno.
Em nossa sala de home, as M105 ficaram a 2,00m entre elas (do centro do tweeter ao outro), 0,50m das paredes laterais e apenas 1,20m na parede às costas das caixas. Com um ângulo de 20 graus apontado para o ponto ideal de audição (uma das pontas do triângulo equilátero).
Na nossa sala principal, diminuímos a distância para 1,80m entre as caixas, e da parede de trás das caixas 1m apenas.
O comportamento das M105 muda a cada 50 horas. Então o ouvinte terá que ser paciente e aceitar todas as alterações de equilíbrio que fatalmente irão apresentar nas 300 horas de queima. Com 100 horas (foi assim que ela veio para teste), parece que a caixa não tem grave é magra no médio-grave e os agudos parece que estão com um chumaço de algodão na frente. Diria ser uma das caixas mais difíceis de escutar nas duzentas horas iniciais.
Você duvidará se aquela caixa, de tão belo acabamento e tantos cuidados na sua construção e topologia de falantes e crossover, não veio com defeito. É assim mesmo: esta não será a primeira nem a última caixa acústica por nós testada que vai ‘de patinho feio à cisne’!
Qual a razão de algumas caixas serem assim? Nem eu com toda a rodagem sei a resposta. Mas sei que, se o ouvinte for paciente, acreditar nos reviews já escritos e confiar no seu feeling, no final haverá um final feliz.
O que eu indico nesta fase é paciência, e evite ficar sentado torturando suas orelhas e aumentando seu desespero. Coloque uma caixa de frente para outra, inverta a polaridade de uma das caixas, cubra com um edredom, e ‘pau na caixa’. São 15 dias de tortura com a porta fechada e pressão sonora de ao menos 78 a 82dB. Duas semanas passam em um piscar de olhos!
Ai volte-as à posição ideal de audição, coloque uma voz feminina ou um piano solo, relaxe e aprecie. Se você tomou todos os cuidados acima relacionados, você irá se encantar com seu equilíbrio tonal de cima embaixo, pois não haverá luz adicional em nenhuma parte do espectro audível e nem tão pouco falta de clareza, mesmo em passagens mais complexas.
Seu soundstage é exemplar, assim como a apresentação de planos, tanto em largura, como altura e profundidade. E as M105 ‘herdaram’ da Salon 2 o silêncio em volta dos instrumentos, proporcionando um foco e recorte dignos de caixas Estado da Arte.
Suas texturas são palpáveis, repletas de refinamento e apresentação de intencionalidade, que nos permite avaliar se o músico possui um bom instrumento, e se sua performance também está a altura da obra!
Velocidade para acompanhar ritmo e tempo é outra das graciosidades desta bookshelf. Você ficará surpreso como ela consegue apresentar variações de velocidade de vários instrumentos soando juntos, e só perceberá seus pés batendo no andamento da melodia, após alguns acordes.
Como a passagem do médio-alto para o tweeter é impecável, vozes, instrumentos de sopro, piano, etc, soam com enorme conforto auditivo, mesmo a curtas distâncias (2 metros entre o ouvinte e as caixas), mesmo em volumes mais próximos do limite da gravação. Observei esta qualidade ao ouvir o saxofonista Jan Garbarek tocando sax soprano a apenas 2 metros das caixas em um volume considerável, e a fadiga auditiva foi zero. Acredito que este mérito seja justamente da lente colocada no tweeter para melhor dispersão da energia dos agudos: mostrou ser de enorme valia para audições que são mais próximas das caixas.
A microdinâmica das M105 é excepcional, pois sua região média ainda que não seja ultra transparente, possui tão bom silêncio de fundo que possibilita acompanhar todos os mais sutis decaimentos e planos de um singelo triângulo no meio de uma obra sinfônica. Já da macrodinâmica não dá para esperar milagres em uma caixa tão compacta e com um falante de médio-grave de 5 polegadas.
Mas a pequenina é valente, pois seu corpo harmônico nos médios-baixos lhe dá peso e energia para nos fazer expressar pura satisfação de como uma book tão pequena é tão audaz com a macro. Mas, sejam moderados meus amigos, não se empolguem muito, pois do contrário correm o risco de danificar a caixa. O truque aqui é deixar as M105 mais próximas da parede de fundo (talvez menos de 0,80m) e ver como os graves se comportam. Se não embolarem e nem se tornarem um grave de uma nota só, a resposta para órgão de tubo, tímpano e bumbo, ganharão mais corpo e impacto.
Mas lembre-se: tudo é uma questão de equilíbrio, pois não adianta ganhar de um lado e perder do outro.
O corpo harmônico é semelhante à macrodinâmica: terá que haver um estudo da melhor posição na sala para conseguir instrumentos mais coerentes em termos de tamanho.
Mas é na Organicidade (presença física do acontecimento musical), que as M105 se transformam em gigantes! Seu cérebro realmente acredita que o acontecimento musical está à sua frente, em carne e osso! José Cura, no disco Anhelo, estava a alguns palmos à nossa frente. Esta capacidade da pequenina Ravel é um dos aspectos que mais nos agradaram, pois ela o faz com total graciosidade e leveza!
Some as todos estes atributos, um belo conforto auditivo e a musicalidade será mais um prêmio que ela oferece aos seus ouvintes. Você ficará horas ouvindo e reouvindo suas gravações favoritas e sairá dessas audições com o frescor de quando chegou.
A quantidade de caixas bookshelf no mercado é enorme. De todos os preços e para todos os gostos, então escolher o modelo que atenda às suas expectativas e necessidades tornou-se uma tarefa mais delicada, porém muito prazerosa (se você não for desesperado e gostar de garimpar e ouvir tudo que esteja no seu orçamento).
Para aqueles que possuem uma sala de até 12 m², um gosto musical eclético e um sistema Diamante beirando um Estado da Arte, não colocar na lista de opções as M105 será imperdoável, pois seus atributos vão desde a qualidade dos componentes, histórico do fabricante até, claro, a performance! O que, se não é garantia de 100% de acerto, é de pelo menos 75%.
Se você está nessa encruzilhada, na busca da bookshelf ideal para o seu sistema, ouça as Revel Performa3 M105: são senhoras bookshelfs, capazes de lhe proporcionar anos e mais anos de total prazer auditivo.
Nota: 80,0 | |
AVMAG #251 AV Group (11) 3034.2954 R$ 13.280 |
A Impel, importadora oficial da marca Dynaudio no Brasil, trouxe a mais nova linha de caixas acústicas da marca, a Evoke. A linha Evoke é composta por cinco caixas: as bookshelf Evoke 10 e 20, as duas torres 30 e 50, além do central 25C. A linha utiliza tecnologia avançada herdada das caixas topo de linha, bem como seu acabamento primoroso.
Cada parte foi analisada a partir do zero. Todos os drivers foram otimizados na sala de medições Jupiter, de última geração, da Dynaudio.
Este laboratório merecia fazer parte das locações da série de Star Trek, de tão futurista que é!
O primeiro contato que tivemos foi com a Evoke 10. Uma caixa de pequeno porte, como toda book de entrada – mas não se engane, ela possui muito poder de fogo. O acabamento em preto alto brilho tem a delicadeza e a profundidade de preto das caixas topo de linha da marca, sem jamais roubar a cena ou chamar tanto a atenção ao ponto de admirarem-la mais como uma peça de decoração do que a caixa acústica competente que é.
As Evoke vieram para amparar os órfãos das Focus que, por algum tempo, observaram a gama ser canibalizada por outros modelos da marca. Devo dizer que as Evoke não apenas substituem as Focus com dignidade, elas nos fazem esquecer-se do prefixo 200x da antiga Focus como uma modelo capa de revista nos faz esquecer o próprio nome, e nos faz até gostar da simplicidade do novo numeral adotado pela marca.
A Dynaudio desenvolveu um novo tweeter Cerotar com domo interno Hexis, já utilizado também na Special 40. Baseado nos tweeters da linha Confidence, este novo tweeter de 28mm com bobina de alumínio e ferrite de carbonato de estrôncio, possui um sistema de difusor que melhora o fluxo de ar trazendo uma resposta de freqüência mais equilibrada, melhorando significativamente a transição entre ele e o woofer de 14 cm. O novo woofer ESOTEC+, feito em MSP (Polímero de Silicato de Magnésio), uma tecnologia proprietária da marca, possui bobina de alumínio e ferrite de carbonato de estrôncio e ímã de cerâmica.
A linha Evoke possui acabamento em preto, branco – ambos em verniz alto brilho – walnut e Blonde Wood.
Para o Teste utilizamos os seguintes equipamentos e acessórios. Fontes: toca-discos de vinil Technics SP10 com braço Linn e cápsula 2M Bronze, Pré de phono The Phonostage (interno do Sunrise Lab V8), CD-Player Luxman D-06, DAC Hegel HD30. Amplificação: PS Audio S300, Sunrise Lab V8 Mk4. Cabos de força: Transparent MM 2, Sunrise Lab Reference II Magic Scope, Sunrise Lab Premium, Sunrise Lab Quintessence Magic Scope. Cabos de interconexão: Sunrise Lab Reference Magic Scope RCA e Coaxial digital, Sunrise Lab Quintessence RCA e Coaxial digital, Sax Soul Zafira III XLR. Cabos de Caixa: Transparent Reference XL, Sunrise Lab Reference II Magic Scope, e Sunrise Lab Quintessence Magic Scope.
A queima ou amaciamento da Evoke 10 levou 360 horas. Neste período ela sai de um grave engessado e pouco articulado, com médios proeminentes e agudos tímidos, para uma caixa realmente exuberante. A única coisa que, de cara, chama muito atenção é o tamanho dos instrumentos e vozes reproduzidos por este pequeno presente dinamarquês. É uma caixa que não se intimida com salas médias, e tem um poder de deslocamento de ar digno de uma torre.
A região média é última parte a se encaixar ao final do amaciamento, e é no final dos ‘45 do segundo tempo’, mesmo. Até lá você tem a nítida sensação de que a caixa será azeda nos médios. A caixa é ótima, tem um baita palco enorme, extensão de agudos corretos até demais para o seu nível – mas que não vai ter jeito, parece que vai ter de conviver com os médios que destoam do resto. Até que um belo dia, já acostumado com aquela aspereza que dá um nó no cérebro, pois todo o resto é fabuloso e você cansou de xingar a Dynaudio por ter ‘comido bola’, tudo se encaixa e o sorriso vai de orelha a orelha, quase chegando à nuca!
Com a maior disposição do mundo, voltamos a ouvir todos os discos que, até aquele momento, não passavam de horas de audição, mas que agora seriam momentos de puro prazer!
A compatibilidade da Evoke 10 com cabos e amplificadores é de tirar o chapéu. Por ela ser bastante neutra, não teve trabalho com posicionamento nem com o cabeamento que a acompanhava. Esta é, sem dúvida, uma ótima qualidade desta pequenina, pois as chances de comprar às cegas e se dar mal são quase nulas. Ela vai muitíssimo bem em sistemas quentes, ao mesmo tempo em que tolera sistemas mais abertos, pois seu equilíbrio tonal é realmente diferenciado. Ela não permite que um amplificador ou cabo gritalhão deturpem sua docilidade, nem permite que o inverso aconteça, que um amplificador fechado tire sua vivacidade e velocidade.
A Evoke 10 casou muito bem com o integrado S300, que possui uma gostosura e gordurinhas que a fizeram aceitar melhor cabeamentos de patamares mais baixos, sem comprometer o equilíbrio tonal de forma a estragar a audição.
O palco sonoro produzido por ela é gigante. A lateralidade e a localização dos instrumentos são de cair o queixo. Ela é de um foco e recorte que nos faz esquecer que ali toca uma bookshelf.
Querendo ou não, a linha Excite acabou por assumir o papel de padrasto da linha Focus, pois daí para cima os valores, para subir de nível dentro da marca, exigiam um pouco mais de disposição. Como tinha à mão um par de Excite X14, não me contive e coloquei lado a lado para comparação. Caro leitor, imagine a surra que o Rocky Balboa levou do grandalhão russo sem a virada triunfante no final – esta é a imagem que me veio ao comparar as duas caixas acústicas.
A Excite perto da Evoke sequer parece ser Dynaudio, de tão distante que ficaram. Graves duros sem extensão e sem timbragem, agudos que passam do ponto e desaparecem antes do tempo ao decair. Os médios são parecidos com os da Evoke (quando as Evoke ainda estavam nos ‘45 do segundo tempo’), só neste período é que elas tinham algo de semelhante. Fora este momento, parecem caixas de fabricantes diferentes de tão distantes.
É com muita segurança que digo que a linha Evoke marca uma nova era para os audiófilos e melômanos. A era da paixão, do entusiasmo e do prazer em ouvir música, sem aquelas preocupações típicas de quem nunca teve uma dynaudio. Digo isto por que por aqui a Dynaudio sempre teve um merecido status de ‘caixas de quem está um nível acima dos demais mortais, no hobby’.
Sabe-se lá porque algumas pessoas achavam que Dynaudio era para os ‘audiófilos’ – ou você tinha bagagem, experiência no hobby, ou era melhor ficar nas marcas mais populares. A Evoke 10 acaba com este estigma, e te apresenta uma caixa refinada e fácil de tocar, uma caixa acústica que te permitirá usufruir de suas qualidades sem a preocupação de sair trocando todo o sistema para que ela se mostre. Ela te apresenta o prazer de ir removendo os gargalos do sistema e redescobrindo seus discos a cada novo upgrade, até igualar o sistema ao nível dela e se tornar mais um apaixonado pela marca.
Nota: 81,0 | |
AVMAG #253 Impel (11) 3582.3994 R$ 12.096 |
Lembro-me da dificuldade que era conseguir, na década de 90 e no começo do novo século, uma caixa compatível com amplificadores valvulados de 8 a 25 Watts, no Brasil. Era uma peregrinação sem nenhum resultado eficaz! Pois a maioria das caixas importadas neste período possuíam sensibilidade incompatível com esses amplificadores. Uma caixa com 90 dB de sensibilidade era como achar um oásis no deserto!
A primeira Living Voice que chegou ao país, em 2002 (testada por nós), com os seus 90 dB de sensibilidade, foi saudada com todas as honras possíveis. E ela só aterrissou por aqui pelo fato do importador também ter fechado a representação de um amplificador de topologia OTL que necessitava, para tocar decentemente, de uma caixa de melhor sensibilidade.
Os tempos mudaram, felizmente, e atualmente os amantes de amplificadores valvulados 300B, com a 4 a 8 Watts de potência, já podem sorrir pois a DeVore Fidelity, um renomado fabricante de caixas do Brooklyn, em Nova York, está de volta ao Brasil pelas mãos do Fernando Kawabe.
Aqui mesmo já testamos a bookshelf modelo Gibbon 3XL, na edição 238, e a torre modelo Gibbon 88 na edição 241 – que nos surpreendeu pela performance e pela sua alta compatibilidade com diversos amplificadores. John DeVore, antes de construir suas próprias caixas, trabalhou em lojas de som hi-end em Nova York, além de ser baixista. E nesse tempo foi consolidando suas ideias e observações, chegando à conclusão que as caixas hi-end que comercializava poderiam ser divididas em duas classes: as que soavam bem por algum par de horas e depois cansavam, e as que eram musicais porém não eram muito precisas em termos de timbre (claro que simplifiquei as coisas, pois certamente essas conclusões não foram extraídas da noite para o dia). John DeVore então começou a pensar que as caixas hi-end ideais deveriam soar como um instrumento acústico, com todo o seu gabinete, trabalhando em conjunto com os falantes e não um gabinete morto e sem nenhuma relação com os drivers. John sempre repete em suas entrevistas que cada um de seus projetos é criado de uma folha em branco, começando do zero, tentando imaginar como podem ser úteis aos seus numerosos clientes. Isso declina longos períodos de maturação, antes de um novo produto ser considerado viável.
Tudo é pensado por John minuciosamente, a tal ponto que até a escolha do pano da tela da caixa que deve, quando utilizada pelo cliente, não comprometer de maneira alguma a performance da caixa. DeVore chegou à conclusão que o tecido das telas de suas caixas não poderia ser como as de seus concorrentes (fios peludos e longos, quando se olha em um microscópio), e sim de fios de fibra de vidro finos – muito finos – envolvidos em vinil. Pois ele não desejaria que, se o usuário ouvir com a tela de proteção, os agudos sejam atenuados.
Perfeccionismos? Sim John leva seus projetos ao limite do que imaginou em termos de performance, e no seu conceito de que caixas devem soar por inteiras e não apenas a sonoridade dos falantes e do crossover. A beleza do hi-end está justamente (no meu modo de ver) em ter múltiplas escolhas e caminhos, pois o ser humano é justamente assim. Essa pluralidade é que nos permite ir sempre mais além.
No desenvolvimento da DeVore O/96 (permitam-me abreviar), além de sua alta eficiência (96dB), ele desejava uma caixa que fosse bastante amigável e que nunca descesse abaixo de 8 ohms em toda a faixa de frequência. Definido todo o projeto, John apresentou aos seus dealers a caixa, e a resposta de muitos foi: ¨Nunca conseguirei vender esta caixa, com este design”. John então fez um acordo com eles, que se as caixas não vendessem, ele as receberia de volta! Nenhuma voltou e, em apenas 8 meses, a O/96 tornou-se a caixa mais vendida da DeVore!
Todo leitor que participou de nossos Cursos de Percepção Auditiva irá se lembrar da primeira dica que dou para quem quer se aventurar em montar um sistema hi-end: a escolha deve começar pelas caixas acústicas! Pois elas serão a assinatura sônica de seu sistema. Independente da escolha dos cabos e eletrônica, o sistema terá a identidade final das caixas acústicas. E não me venham com a história de que o ideal é escolher uma caixa de sonoridade neutra, pois essa caixa ainda não foi fabricada e provavelmente nunca será! Então a escolha das caixas que mais lhe agradam é o passo inicial correto para quem começará do zero. E é óbvio que a escolha será trabalhosa e necessitará de perseverança e enorme paciência.
E um pormenor essencial, quando achar a caixa ideal: ouça-a com um sistema compatível com o seu orçamento. Pois de nada adianta ouvir a caixa que o seduziu com uma eletrônica muito acima do valor dela!
Quando desembalei a caixa, junto com o Fernando Kawabe (na verdade, com a minha mão no estado atual, só consigo emprestar a mão e o braço esquerdo – então todo o trabalho pesado foi feito pelo Kawabe), o design da O/96 me lembrou de cara as caixas da Audio Note. Muito semelhantes, inclusive no falante de médio-grave de cone azul de ambas. Porém, ao contrário das caixas da Audio Note, que trabalham sempre encostadas à parede, as DeVore precisam de respiro à sua volta para terem a melhor performance possível.
E depois de ouvir a DeVore, diria que as semelhanças entre ambas acabam realmente no design! O seu criador descreve sua criatura da seguinte maneira: “ Uma caixa em que o essencial é a musicalidade e precisão para amantes de amplificadores valvulados de baixa potência. Um falante de 10 polegadas com cone de papel faz o trabalho no médio-grave e um tweeter de cúpula de seda com um poderoso sistema de motor de imã duplo trabalha as altas frequências”. Defensor de um par de plugues apenas, a DeVore tem as seguintes especificações, segundo o fabricante: 96 dB de sensibilidade (há controvérsias em relação a esta sensibilidade, pois John Atkinson da revista Stereophile não a confirmou, para ele ficando mais próximo de 92 dB – eu concordo com ele, pois em todos os amplificadores que utilizei, em comparação com a minha Kharma que tem uma sensibilidade de 91 dB, segundo a Kharma, os volumes foram muito próximos, e isso não ocorreria se a DeVore tivesse realmente 96 dB) e a resposta de frequência é de 25 Hz a 31 kHz.
Seu gabinete utiliza uma placa defletora de bétula (onde estão afixados seus falantes) e dois tipos de MDF são usados para o restante, sendo um para o painel traseiro e outro para a parte superior e inferior e laterais. Os plugs são Cardas de puro cobre e o crossover (não especificado pelo fabricante) é baseado no circuito da Gibbon, e é proprietário da DeVore. As caixas são ligadas por baixo, por isto a necessidade dos pedestais proprietários para a realização da ligação, e no painel traseiro dois dutos em paralelo, na parte de baixo do gabinete, foram colocados. O gabinete, com o simples toque do nó dos dedos, nos permite ver que realmente as densidades do MDF e do painel frontal, soam diferentes. A frente soa mais seca, atrás um pouco menos, e nas laterais mais vivo.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Amplificadores: power Air Tight 300B, Cambridge Audio Edge e Hegel H30. Pré-amplificadores: Dan D’Agostino e Edge da Cambridge Audio. Fontes digitais: MSB Select DAC, dCS Vivaldi (clock e DAC) e nosso sistema dCS Scarlatti. Cabos de caixa: Nordost Tyr 2, Frey 2 e Sunrise Lab Quintessence. Cabos de interconexão RCA: Nordost Frey 2, Sunrise Lab Quintessence e Sax Soul Ágata 1. Cabos XLR: Transparent Opus G5, Sunrise Lab Quintessence e Sax Soul Ágata 2. Fonte analógica: pré de phono Boulder 508, toca-discos Basis debut IV, braço SME Series V, e cápsulas Clearaudio Stradivarius Mk2 e Transfiguration Protheus.
A DeVore O/96 veio com apenas 50 horas de amaciamento. Em todos os fóruns falam em, no mínimo, 480 horas para se começar a colocar a caixa em ordem para audição, alguns falam em 800 horas! Então, assim que fizemos nossa primeira audição, começou o longo processo de queima inicial de 250 horas para então realizarmos as primeiras anotações.
Com 50 horas, o palco é baixo como se os músicos estivessem tocando sentados, os graves são engessados e os agudos não possuem nenhuma extensão. É uma chuva de médios bidimensionais na sua cara. Então qualquer desavisado que ouvir esta caixa com 50 horas de queima, irá fatalmente descartá-la de imediato. Os seus fãs (que estão em todos os continentes) irão lembrar que, como um bom vinho, quanto mais velho melhor! E posso garantir que eles estão certos, com instrumentos musicais ocorre o mesmo fenômeno – aqui em casa meu filho tem um violão Fender e um Di Giorgio, e ambos mudaram muito quando amadureceram (felizmente para melhor).
O Fender, por mais de um ano possuía um som embotado que parecia não melhorar, nem com a escolha de cordas mais caras. Já o Di Giorgio tinha um som mais aberto e projetado desde quando chegou. E fosse com qualquer encordoamento, esta característica sempre se mostrou presente. Com quase dez anos de vida, ambos possuem uma assinatura sônica muito mais próxima. O Di Giorgio pouco mudou e o Fender cresceu exponencialmente! Abriu, ganhou corpo, maior presença mesmo em pianíssimo e tornou-se o violão da casa (todos preferem sua sonoridade, mais equilibrada e quente!). Boas caixas acústicas sofrem o mesmo processo, então é preciso que os desavisados ou os ‘desesperados.com’ levem isto em consideração ao escolher uma caixa zero, pois como diz o ditado popular: “quem tem pressa, come cru”.
Com 250 horas, quase nada mudou. Um pouco mais de profundidade, largura no palco mas, nada dos músicos tocarem em pé! Os graves começaram a encorpar, mas não o suficiente para ouvir obras com baixo elétrico ou órgãos. Os agudos começaram a apresentar maior extensão, porém nada que animasse a ouvir obras sinfônicas. Tomei então uma atitude radical, e deixei as DeVore queimando por 400 horas. Enquanto isso, finalizei o teste do Select, pois o tempo com este aparelho tinha data e hora para terminar.
Finalmente, com o Air Tight 300B também já devidamente amaciado, coloquei-os para tocar em conjunto (o vídeo da DeVore foi feito exatamente com 408 horas de queima). Finalmente a altura veio, as extensões nas duas pontas apareceram e pude iniciar o teste do 300B e começar a entender as características sonoras da O/96. É uma caixa que requer muito cuidado com o posicionamento, e concordo com muitos de seus usuários que lembram que é uma caixa que necessita de respiro a sua volta para soar corretamente. Na nossa sala, dependendo do amplificador ligado à ela, as distâncias entre as mesmas e as paredes laterais e as costas da caixa, mudaram substancialmente. Com o 300B, o melhor resultado foi com elas a 3 metros uma da outra (de tweeter à tweeter), e 1,90 m da parede às costas das caixas, e com um pequeno toe-in apontado para o centro da sala. Com o Edge, de 100 Watts por canal em 8 Ohms, foi possível deixar as caixas mais distantes entre si (3,40 m) e com menos direcionamento para o centro da sala e 1,70 m da parede às costas delas. E com o H30 foi possível reposicionar a caixa abrindo mais, apontando menos para o centro, e a mais distante da parede às costas (1,95 m). Porém, a caixa se mostrou merecedora da queima bem mais longa, ‘florescendo’ totalmente após 600 horas de queima! Aí sim, pudemos conhecer todos os seus atributos sonoros.
É uma caixa que possui uma transparência invejável, e capaz de reconstruir todo tipo de microdinâmica existente na gravação. Sua região média é de uma apresentação física impressionante, e cantores e solos de instrumentos se materializam com enorme facilidade, seja nas gravações tecnicamente mais produzidas ou naquelas em que o engenheiro de gravação não comprimiu ou equalizou. Os graves, depois da caixa integralmente amaciada, possuem velocidade, peso e muito bom corpo. Falta-lhe aquela energia visceral, capaz de sentirmos o deslocamento de ar mas, convenhamos, nenhum amplificador de 8 Watts de potência oferece essa possibilidade.
Mas, para tirar a prova dos nove, tirei o 300B de 9 Watts e coloquei o Edge de estado sólido de 100 Watts. O grave está lá, mas nas passagens macrodinâmicas ele é muito mais comedido que em nossa caixa de referência, que desce a 22 Hz. A região alta é bem apresentada, com excelente extensão, naturalidade e decaimento. Senti pouco de corpo nos pratos de condução, mas nada que desabone a performance da O/96. Entendo o motivo do seus fãs sempre lembrarem de seu alto grau de musicalidade. E certamente parte dessa performance se encontra na apresentação das texturas, que são sempre muito naturais e precisas. Dá para observar tranquilamente a qualidade do instrumento, a captação e a virtuosidade do músico. Ouvi diversas obras de quartetos de cordas, música à capela e obras com instrumentos de época, e a O/96 se mostrou magistral na apresentação destes exemplos.
Você pode passar horas e mais horas sem nenhum resquício de fadiga auditiva! Os transientes também são excelentes, com enorme precisão e ritmo. Ouvi diversas obras de piano solo e percussão e a DeVore se saiu muitíssimo bem. O soundstage, tanto em relação a foco e recorte como os planos, dependerá muito do posicionamento das mesmas na sala. E quanto mais próximas entre si, menor será a sensação de planos entre os naipes, altura e profundidade. E, ao contrário, se elas puderem trabalhar mais distantes, os planos, foco e recorte serão muito mais precisos. O mais delicado será sempre conseguir a altura correta e, mesmo depois de inúmeras tentativas com os três amplificadores e com os cabos de caixa, a altura foi sempre ligeiramente mais baixa do que estou acostumado tanto com a Kharma (que não é uma coluna alta) como com a Dynaudio Evoke 50 que estamos testando. Isso parece um detalhe de gente chata, mas em audições com voz a altura pode fazer uma grande diferença em sistemas Estado da Arte em que desejamos enganar nosso cérebro.
A macrodinâmica da DeVore será uma com um amplificador valvulado de baixa potência e outra bem diferente com um amplificador de maior potência. Para ser honesto com você leitor, para este quesito, montei o power Audio Research VT80SE que está entrando em teste, mas que já está amaciado ou quase que completamente (280 horas), que dá 75 Watts. No quesito macrodinâmica, tivemos um comportamento da DeVore com o 300B e outro completamente distinto com o VT80SE. Para o meu gosto, se tivesse esta caixa, e minha opção fosse por um valvulado, escolheria sem pestanejar o VT80SE com válvulas KT150. Principalmente pelo meu gosto musical ser tão eclético.
Fica aqui a dica. Se gostas de audições com volumes mais próximos do real, e tens uma vasta coleção de obras clássicas ou de Big Bands, a DeVore se sentirá muito mais à vontade com um valvulado de mais potência.
O corpo harmônico dos instrumentos é muito bem apresentado na DeVore, principalmente em analógico. Ouvi uma dezena de gravações de jazz dos anos 50 e 60 e fiquei muito impressionado com a capacidade da O/96 reproduzir de forma fidedigna saxofone, contrabaixo, vozes, trombone, etc.
E a organicidade (materialização física do acontecimento musical) se deu de forma exemplar nas gravações tecnicamente bem produzidas.
A DeVore Orangutan O/96 é um sucesso desde o seu lançamento, e conquistou diversos prêmios internacionais e segue sendo uma das caixas preferidas de quem tem eletrônica Shindo, Audio Note, Ongaku, Air Tight etc. Suas virtudes e compatibilidade confirmam que as caixas da DeVore Fidelity foram feitas sob medida para os usuários dessas marcas. Com o Air Tight 300B pudemos ter uma ideia do motivo deste sucesso, com audições intimistas, repletas de calor, naturalidade e musicalidade.
Porém a DeVore fica refém das limitações desses amplificadores de baixa potência, não podendo (na minha opinião) mostrar todo seu arsenal de qualidades. Com amplificadores de ao menos 50 Watts por canal, creio que muitos descobrirão mais virtude ainda, como uma maior veracidade nas escalas dinâmicas, maior peso em gravações que exigem maior energia e deslocamento de ar como: órgão de tubo, solos de bateria, as duas últimas oitavas da mão esquerda no piano, etc. Pois com a melhora estrondosa na captação de uma nova geração de microfones, esta é uma realidade já revelada nas gravações mais contemporâneas e que todo audiófilo e melômano deseja ouvir.
Pegue, por exemplo, as mais recentes gravações do saxofonista James Carter e o leitor terá uma ideia exata do que estou afirmando. E a DeVore O/96 possui condições de reproduzir essas gravações com méritos, desde que esteja ligada a um amplificador mais musculoso! Com um ar retrô, acredito que a DeVore não faz reféns: ou você ama ou odeia. E isso faz parte (cada vez mais) do universo hi-end.
Para quem deseja um som intimista, quente, sedutor e natural, a DeVore é uma das candidatas mais desejadas.
Se você se enquadra neste grupo, não deixe de escutá-la.
Nota: 83,0 | |
AVMAG #253 KW Hi-Fi (48) 3236.3385 US$ 18.000 |
A Dynaudio, nesses últimos dez anos, produziu profundas modificações na suas linhas de caixas, eliminou algumas, lançou toda uma linha de novos falantes e apostou forte em um design mais próximo das tendências com linhas curvas, abandonando aquele conceito de caixas quase que produzidas de forma artesanal por experientes marceneiros dinamarqueses, do início de sua bela trajetória.
Há quem aprecie esta modernização, e outros não. O importante é que a ‘fila ande’, como dizem os mais jovens, e que os avanços tecnológicos justifiquem as mudanças.
Pelo jeito, a aposta da Dynaudio nessa modernização vem dando bons frutos, já que as novas linhas Contour e Confidence têm recebido mundo afora excelentes elogios e críticas muito positivas. E com tantas mudanças em tão pouco tempo, era de se esperar que a linha Focus, com mais de uma década de excelentes modelos lançados, seria a próxima bola da vez, a ser totalmente revista.
Para os que apostaram em uma linha Focus repaginada, o lançamento da linha Evoke em substituição à Focus deve ter sido uma enorme surpresa. Para os que acompanham de perto os novos passos estratégicos da Dynaudio, não!
A Dynaudio, em cada novo avanço tecnológico de seus falantes nas séries superiores, à medida em que conseguia volume de vendas, utilizava esses avanços também em suas linhas de entrada. Foi o caso dos famosos tweeters Esotar 1 e 2, que foram sendo incorporados às séries abaixo e deram à Dynaudio a fama e o respeito que ela desfruta hoje.
A Dynaudio aposta muito que a nova linha Evoke não só substituirá com méritos a Focus, mas vai atender a um mercado muito mais amplo que a linha anterior atendia. Mas essa minha afirmação tentarei explicar mais à frente.
Sugiro que os interessados na linha Evoke leiam também o teste da Evoke 10, pois o nosso colaborador Juan Lourenço passou muitos detalhes interessantes do desenvolvimento tecnológico dos novos falantes.
A Evoke 50 é uma coluna de três vias muito esguia, com 1,16 metros de altura. O fabricante disponibiliza os seguintes acabamentos: nogueira mate, carvalho claro, preto e branco de alto brilho. A frente é ligeiramente arredondada, e como na Dynaudio 40 Anos, a traseira é mais estreita. Os novos falantes agora possuem um anel plástico que impede de vermos os parafusos de fixação, e as telas são fixadas por imã.
Os novos falantes são os mesmos utilizados na linha acima, Contour. Os dois woofers de 6 polegadas mantém o cone MSP usado pela Dynaudio há mais de duas décadas, porém, por trás do cone foram completamente modificados. O guarda-pó é bem menor, sendo parte integrante do cone. O fabricante afirma que este cuidado torna toda a construção dos cones mais rígida, sem aumentar o peso ou mudar a sonoridade do cone.
A bobina também sofreu alteração, diminuindo de tamanho mas ampliando a excursão do cone em mais um centímetro. Tudo em vista de diminuir a distorção, dar resposta mais linear e maior precisão nos transientes. As novas bobinas são enroladas em fio de cobre nos woofers, e no falante de médio em fio de alumínio banhado a cobre. Tudo para a diminuição do peso do falante de médio, com melhora (segundo o fabricante) no nível de distorção e em uma resposta ainda mais linear.
Com os fios de cobre, o woofer ficou mais pesado e então, para manter tudo sob controle, o fabricante investiu no desenvolvimento de novos imãs feitos de uma mistura de carbonato de estrôncio e Ferrita+, compactados em uma espécie de cerâmica para suportar altas temperaturas sem fadiga e sem distorção.
O falante de médio, além da nova bobina, também recebeu um imã de neodímio grande, extremamente mais caro que as versões anteriores da linha Focus, e mais resistente.
Mas a maior mudança está no novo tweeter, o Cerotar (que substituiu a linha Esotar na série Contour). O Cerotar (Carbonato de estrôncio, ferrite e cerâmica) baseia-se no tweeter da nova série Confidence (Esotar 3), com uma nova forma de imã (com menor refração na sua traseira) e um novo material magnético que foram desenvolvidos na Dynaudio para o domo batizado de Hexis.
O Hexis é um disco de plástico pequeno e curvo (convexo) que é fixado atrás do tweeter de cúpula de seda e segue a forma de uma membrana. Possui um padrão sofisticado de buracos que se assemelha à superfície de uma bola de golfe. Com isto, as ondas sonoras irradiadas para trás são desviadas mais rapidamente, fornecendo uma limpeza audível nas altas frequências e melhora da dispersão no eixo lateral e horizontal.
O desenvolvimento deste disco de plástico de tamanho tão reduzido custou tempo e dinheiro, mas sua tecnologia será utilizada nas futuras séries de falantes, reduzindo seus custos.
Uma coisa que a Dynaudio não abre mão é que todas as suas caixas não aceitem bi-amplificação ou bi-wire. Pois eles sempre lembraram que o melhor é investir em apenas 1 bom cabo de caixa para extrair todo o potencial de uma Dynaudio.
O crossover da Evoke 50 é de segunda ordem para os graves, e terceira ordem para os médios e agudos. Os spikes são fornecidos e devem ser montados com muito cuidado as caixas – o fabricante fornece a chave para a fixação das bases para os pés.
Feita toda a montagem, e instalada no lugar da Kharma Exquisite Midi, anotamos as primeiras impressões. Na maior parte do tempo o sistema utilizado foi o nosso de referência, e também utilizamos o power Cambridge Edge W, o integrado Hegel H590 e o power valvulado AL-KTx2-KT 150, do projetista André de Lima, de Lins, interior de São Paulo.
Os cabos de caixa foram: Nordost Tyr 2 e Sunrise Lab Quintessence. De interconexão: Sunrise Lab Quintessence, Sax Soul Ágata 2, Transparent Opus G5 e Nordost Tyr 2.
A boa notícia é que mesmo quando sai da embalagem zerada, a Evoke 50 pode tranquilamente ser ouvida enquanto amacia. Claro que não dá para querer que saia já com a mesma performance que desfrutamos após 300 horas de queima, mas o consumidor pode tranquilamente desfrutar de duas a três horas diárias enquanto vai ouvindo sua evolução no amaciamento.
Minha última experiência com a linha Focus foi com a 360 de um amigo e leitor da revista para quem prestei consultoria. Tocava muito bem, com excelente equilíbrio tonal, ótimo controle dinâmico e um palco e corpo muito corretos para o seu preço e tamanho!
A Evoke 50, além de todas essas virtudes, é mais refinada (principalmente nas altas) e possui uma região média translúcida! Os graves, até o amaciamento, pareciam ser da mesma ‘forma’ que a Focus 360, com excelente velocidade e extensão, mas com um médio-grave um pouco mais recuado e com menor corpo.
Mas, pelas qualidades da Contour 60 testada por nós na edição 240, descobri que se teve uma característica que a Dynaudio mudou em termos de assinatura sônica foi justamente no corpo dos médios-graves. Então achei por bem esperar toda a queima antes de sair tirando conclusões.
A primeira mudança auditiva se deu com 80 horas de queima. O palco recuou, levantou a altura e alargou para mais de 1 metro para fora das caixas. A altura se mostrou essencial para as audições de cantores/cantoras e para a percepção dos ambientes em que as gravações foram realizadas. Os graves, ainda que engessados, com 80 horas já estão soltos e com velocidade suficiente para nos fazer acompanhar tempo e ritmo com precisão. Os médios se tornam tão orgânicos que são praticamente ‘palpáveis’, e os transientes fazem justiça à este fabricante, pois estão entre os melhores e mais naturais possíveis. Dá gosto ouvir pianos solo, percussões e violões na Evoke 50.
Com 150 horas a mudança mais significativa, para o meu gosto pessoal, foi o recuo da região média-alta e o encaixe perfeito com os agudos. Esse ajuste é imprescindível para começarmos a escolher o posicionamento ideal das caixas na sala de audição. Pois fazer este ajuste, antes deste encaixe, é outra perda de tempo, porque se recuamos as caixas do ponto de audição antes do encaixe, mudamos todo o equilíbrio tonal da mesma, hora sentindo que os agudos estão com pouca extensão, hora sentindo que os médios estão projetados em demasia para frente. Então o melhor é esperar.
Alguém aí do outro lado deve estar se perguntando: como eu sei que encaixou? Ouvindo instrumentos que tenham extensão para trabalhar com a primeira oitava no médio e a segunda ou terceira oitava nos agudos (tweeter). Piano, sax soprano, flautim, violino, trompete com surdina, são ótimos exemplos. Se você sentir que estes instrumentos solo, quando passam de um falante para o outro, perdem o foco (como se tivessem a mudar de posição em relação ao microfone – e não for problema de fase no setup), a região média ainda não encaixou com os agudos. Geralmente quem encaixa é o falante de médio, recuando a partir do amaciamento, mas também ocorre o contrário, com o tweeter começando muito à frente e só à medida que amacia recua para encaixar perfeitamente (os tweeters tipo corneta, alguns projetos com tweeters de berílio ou titânio, se comportam desta maneira – mais frontais e só depois de totalmente amaciados, recuam).
Ainda que na Evoke este encaixe tenha acontecido com 150 horas, minha experiência achou melhor esperarmos um pouco mais (220 horas) para iniciar o ajuste de posicionamento em nossa sala. A razão para adiar este processo foi exatamente para aguardar a outra ponta (graves e médios-graves) também se equilibrar tonalmente para, aí sim, fazer o ajuste e começar a avaliação auditiva.
Aqui também vai uma dica, para saber se estabilizou o corpo dos graves e médios-graves: pegue alguma gravação que tenha um contrabaixo acústico e um cello. Observe como se comportam ambos instrumentos nas suas oitavas, subindo e descendo. Está evidente que o contrabaixo tem maior corpo que o cello, ou às vezes os dois instrumentos parecem ter o mesmo tamanho? Se, mesmo depois de todo o amaciamento, os corpos forem similares, aí é provavelmente uma limitação de resposta na última oitava do grave (as boas bookshelfs conseguem, mesmo com a apresentação de corpos diminutos, ainda assim, manter uma proporção entre o tamanho do contrabaixo em relação ao cello), ou também pode ser um problema de projeto da caixa se for uma coluna e esta tiver uma resposta linear de 30 Hz para cima, ou problema da sala ou do equipamento.
Não é o caso da Evoke 50. Ainda que ela não tenha o mesmo corpo da Contour 60 (e nem poderia, pois os woofers da Evoke são menores) a proporção de corpo é totalmente audível. Com 220 horas finalmente posicionamos a caixa em nossa sala, com 3,50 m entre elas (de tweter a tweeter), 1,90 m da parede atrás delas, e um leve toe-in para o centro de apenas 15 graus.
O resultado foi espetacular, para a reprodução de música clássica e grandes big bands! Palco amplo, camadas e mais camadas, com excepcional recorte, foco e localização 3D dos solistas. Arejamento perfeito, sensação muito precisa dos ambientes e um silêncio de fundo em torno dos solistas perfeito.
Para os apaixonados por soundstage, a Evoke 50 é uma caixa com preço intermediário e com performance de caixas top neste quesito. Fácil de instalar, graças ao seu design slim, a Evoke 50 some na sala assim que a música surge!
Seu equilíbrio tonal é excelente, e se o ouvinte quiser mais energia entre as caixas nos médios e nos graves, basta fechar um pouco mais a distância entre elas. Respondem imediatamente a tudo que você faz em seu benefício, como melhoria de cabos, troca de eletrônica e posicionamento.
Sua região média tem o equilíbrio perfeito entre transparência e musicalidade, permitindo que as texturas sejam realçadas com enorme precisão. Tanto na qualidade do instrumento, virtuosidade, como na captação e na intencionalidade da composição.
A dinâmica – tanto a macro como a micro – são espetaculares e fica difícil acreditar que suportem e controlem com tanta eficácia gravações complexas como a Sagração da Primavera de Stravinsky, o Concerto para Piano e Orquestra de Bela Bartok, ou a Sinfonia Fantástica de Berlioz. Sua macro possui folga suficiente para permitir ao ouvinte escutar essa obras em volume adequado, sem sustos com distorção, endurecimento ou frontalização.
O corpo harmônico não possui a mesma precisão e tamanho realístico da Contour 60 e da Platinum, porém na sua faixa de preço faz verdadeiro milagre neste quesito! Escutei alguns tambores japoneses, de sentir o deslocamento de ar no peito, sem nenhum descontrole das caixas! E olha que nossa sala de referência tem 50 m²!
O que poderia ser uma barreira para os woofers de 6 polegadas da Evoke 50, mas ela não se intimidou de forma alguma.
A materialização física do acontecimento musical (organicidade) é um ‘fato consumado’ para a Evoke 50. Não precisam ser gravações impecáveis tecnicamente. Basta que sejam corretas, para você ter o acontecimento musical todos os dias ali à sua frente!
E a musicalidade só dependerá do setup ligado à ela, do seu tratamento acústico e elétrico. Tudo correto e coerente e a música fluirá com uma clareza sem fim!
A série Evoke da Dynaudio mirou no público alvo da Focus e atingiu o coração também dos que têm ou tiveram as antigas Contour 3.0, 5.8 etc… São caixas adaptadas aos dias de hoje (salas menores e com a necessidade de ter aprovação da família), que atendem a uma faixa muito ampla de audiófilos e melômanos.
É capaz de presentear a todos apaixonados por música com audições precisas, cristalinas e com grande prazer auditivo. São extremamente compatíveis com inúmeros amplificadores (até com o valvulado tocou extremamente bem, algo inimaginável nas Dynaudios de uma geração atrás) e muito fáceis de serem posicionadas em até salas grandes como a nossa, sem nenhum problema. Basta ler os inúmeros reviews já publicados desta nova série, para se ter uma ideia do impacto causado pela sua relação custo/performance.
Se você sonha em ter uma Dynaudio, possui um sistema Estado da Arte montado com enorme sacrifício e deseja fechar este ciclo com uma caixa exuberante e com um valor que cabe no seu orçamento, ouça a Dynaudio Evoke 50.
Uma caixa, que certamente terá uma trajetória de sucesso vertiginosa!
Nota: 89,5 | |
AVMAG #254 Impel (11) 3582.3994 R$ 38.030 |
Atenta ao que acontece na cena audiófila nacional a Mediagear, importadora oficial da inglesa Q Acoustics no Brasil, trouxe a caixa acústica Concept 500, modelo topo de linha da marca.
Prêmios de 2017 e 2018, concedidos pela imprensa especializada internacional, foram abocanhados pela empresa Q Acoustics – foi um prêmio atrás do outro. Começando justamente pela caixa objeto deste teste, a Concept 500, que recebeu o prêmio EISA 2017 / 18, um das mais importantes premiações da indústria eletrônica. E logo em seguida o modelo 3050i, que recebeu grande parte dos avanços da sua irmã maior, também ganhou o mesmo prêmio: EISA 2018 / 2019. Particularmente considero hoje a Q Acoustics uma das empresas mais promissoras dentre as fabricantes de caixa acústica da atualidade. Não é a toa que seus produtos chamam atenção da mídia especializada e dos audiófilos que descobriram nela uma marca robusta, madura e confiável para crescer dentro do hobby e assim chegar mais perto do topo do pinheiro.
A vinda da Concept 500 é uma grande novidade para o mercado nacional, que carece de produtos de alto nível com preços mais competitivos, custando até metade do valor de algumas de suas concorrentes, ainda mais tendo em seu cartão de visitas estampado o importante prêmio EISA de melhor caixa acústica 2017/2018 – esta é sem dúvida uma baita pechincha.
A Q Acoustics Concept 500 é um modelo de 2 vias bass-reflex, sensibilidade de 90 dB, impedância de 6 Ohms (mínimo de 3,7 Ohms) e resposta de frequência de 41 Hz a 30 kHz (+/- 9 dB). Seu gabinete possui parede tripla de MDF de 10 mm cada, recheadas com a tecnologia anti-ressonância Gelcore entre elas. Este gel absorve as vibrações e dissipa na forma de calor.
O sistema de travamento ponto a ponto P2P, proprietário da marca, aumenta a rigidez do gabinete. Como a tripla camada de MDF e o sistema de travamento ponto a ponto conferem ao gabinete uma rigidez bastante efetiva, o que sobra para o Gelcore dissipar é uma pequena parte dessa vibração, portanto, as temperaturas acumuladas pelo Gelcore são baixas e irrelevantes para a estrutura da caixa acústica.
Dentro do gabinete, na parte mais baixa, está uma das sacadas mais engenhosas da Q Acoustics: dois absorvedores de Helmholtz perfeitamente sintonizados. Estes dois absorvedores na forma de cilindro podem ser vistos através da grande saída de ar localizada na parte traseira da caixa. Uma curiosidade a mais para os amantes de projetos acústicos se divertirem observando. Além dos dois absorvedores, o ajuste fino da caixa é feito com uma variedade de espuma e lã em partes estratégicas do gabinete.
Os bornes de caixa são uma maravilha. São grandes e também recebem a tecnologia Gelcore, além de serem banhados à ródio e, o melhor de tudo, não são ferromagnéticos!
Na parte de cima existem três orifícios acompanhado de jumper de metal que, dependendo da posição, modifica a resposta do tweeter. Posicionado à esquerda o tweeter estará funcionando de forma original, para a direita aumenta em 0,5dB, e sem o jumper atenua em 0,5dB. Para algumas salas sem tratamento acústico, fechadas ou muito vivas, este artifício pode ser de grande valia, mas eu tenho lá minhas dúvidas se não é um perde-e-ganha.
Como em toda Q Acoustics, a primeira coisa que nos chama atenção são os cantos superiores e inferiores da caixa com seus longos raios arredondados que suavizam as feições sisudas dos alto-falantes em preto acetinado, feitos de papel, cobertos por uma fina camada de borracha, em formação D’Appolito MTM (midwoofer-tweeter-midwoofer).
O tweeter também recebe uma camada de Gelcore em volta do anel que o une ao painel frontal, melhorando ainda mais sua eficiência.
Para completar o conjunto e tornar a Concept 500 ainda mais elegante, a base da caixa tem formato de anel que se projeta para fora das dimensões da caixa. Uma ótima notícia é que esta base de alumínio fundido, com acabamento em cromo, já vem de fábrica acoplada ao gabinete, e com dois tipos de spikes(!), pontiagudo ou arredondado, sendo possível escolher o melhor resultado para cada tipo de piso. Já o acabamento do gabinete vai do Gloss Black & White ao acabamento duplo Gloss Black / Rosewood e Gloss White / Light Oak, com inserção de madeira italiana na parte traseira, dando um toque de requinte e exclusividade ao conjunto.
Sem mais delongas, para o teste utilizamos os seguintes equipamentos: Amplificador integrado Sunrise Lab V8 MkIV. Fontes: CD-Player Luxman D-06, DAC Hegel HD30. Cabos de força: Transparent PowerLink MM2, Sunrise Lab Reference Magic Scope e Timeless Audio Maggini. Cabos de interconexão: Sunrise Lab Reference Magic Scope RCA, Sax Soul Cables Zafira III XLR. Cabos de caixa: Transparent Reference XL MM2, Timeless Audio Maggini, Sunrise Lab Reference Magic Scope e Sunrise Lab Quintessence Magic Scope (simples, e em biwire).
Tenho tido sorte com amaciamentos. Ainda não me deparei com aquele produto que nos faz chorar por longos dias de amaciamento até que tudo se encaixe no lugar. Dentre os aparelhos eletrônicos e caixas acústicas que já testei, a Concept 500 foi a que mais me deu prazer em acompanhar sua evolução. É uma caixa que já sai tocando em muito bom nível. O sistema D’Appolito ajuda bastante neste momento, já que as freqüências chegam com uma linearidade muito boa. Após 100 horas a caixa já mostra graves bastante profundos, tão profundos que tiram ‘luz’ da região médio-grave, e isto incomoda um pouco, principalmente quando ouvimos música instrumental. O que ajudou a equilibrar as coisas foi ter utilizado o recurso do jumper para o tweeter – escurecendo um pouco a região média-alta trouxe uma breve sensação de que o médio-grave estava um pouco mais equilibrado. Pena que foi muito breve, logo a caixa equilibrou e aquele meio dB perdido sem o jumper, passou a fazer falta.
Com o jumper na direita, eu não gostei: ficou desequilibrado, os pratos ficaram com pouca textura e uma extensão exagerada. Como estava para testá-la bicablando, com um cabo de caixa para cada terminal, retirei o jumper do tweeter original da caixa, peguei os jumpers que utilizava nos bornes de baixo e fui ouvir as diferenças provocadas pela mudança. E como fez diferença! O salto foi grande em todos os sentidos. Os tamanhos dos pratos ficaram maravilhosos, os decaimentos ainda mais progressivos e com uma suavidade na medida certa, favorecendo as micro-dinâmicas que surgiam com muita naturalidade.
Logo removi o segundo cabo, deixando apenas um cabo de caixa e jumper para as altas, como fazem quase todos os mortais. A Concept 500 não escolhe gênero musical, ela manda bem em tudo! Do jazz ao folk e indie, do erudito para música eletrônica, sem fazer cara feia, é uma caixa extremamente musical. Ela despeja tudo o que vem dos amplificadores como uma grande adutora aberta! É uma enxurrada de detalhes e timbres em um palco estupidamente largo e profundo. E o melhor de tudo é que toda esta lateralidade vem acompanhada de um silêncio de fundo e detalhamento tão bons quanto o da nossa referência, que custa o dobro!
Com o cabo de caixa Maggini, da Timeless Audio, ela ganhou uma gostosura quase imbatível: detalhes de micro-dinâmica, doçura e calor que fariam qualquer amante de valvulado ir às nuvens! Os ‘crescendos’ subiam com uma linearidade fabulosa, as notas agudas do piano, tocado por Eduardo Delgado na faixa 17 do disco Anhelo Argentinian Songs, chegavam com uma dinâmica muito boa, quando eu já esperava aquela endurecida nas marteladas que o pianista dá nas teclas, vinha a Concept 500 e me surpreendia, tratando as dinâmicas da música com uma retidão espantosa para seu preço. Já com o cabo Reference na mesma música, o que mudou foi a pegada: tudo soava visceral, com boa energia em toda a faixa do espectro audível – para ouvir Mahler era um deleite só. Mas não tinha a mesma suavidade do Maggini na hora de reproduzir Villa-Lobos, por exemplo. Provando assim, ser uma caixa extremamente refinada e de uma neutralidade acima da média de muitas de suas concorrentes.
Ela não é uma caixa quente ou com sobras, muito menos é analítica – é bastante correta e por isto não aceita casamentos excêntricos. Por exemplo, quem tem um sistema que foi montado para contornar os buracos e lombadas provocados pela caixa acústica atual, e isto é bastante comum em caixas acústica antigas, por exemplo, e pensa em adquirir a Concept 500, pode ir sem medo, ela aceita alguns deslizes, mas precisará rever tudo isto e, aos poucos corrigir estes desníveis. Como toda caixa refinada, ela só se mostra quando há um mínimo de compromisso entre todos os elos do sistema, isto faz toda a diferença na apresentação da caixa.
Com o cabo de caixas Transparent Reference XL MM2, e com os dois pares de Sunrise Lab Quintessence em biwire, a caixa deu um verdadeiro salto. Aí, meu amigo e minha amiga, as audições se transformaram em espetáculos particulares. Tudo o que ouvi até então ganhou uma dimensão ainda maior: corpo maior, extensão de graves, agudos ainda mais limpos e corretos, profundidade de palco e uma correção tímbrica de ótimo nível. É uma caixa que vai muito bem com bicablagem – nem todas que fazem uso deste artifício vão, mas ela vai! Se puder fazer uma forcinha para adquirir dois cabos de caixa, terá uma ótima recompensa. Fica realmente espetacular!
A Q Acoustics Concept 500 é uma caixa de alto nível, podendo fazer par com sistemas realmente Estado da Arte. Para os amantes da música que sonhavam com uma caixa acústica com o pé no superlativo sem custar um rim, eu lhes apresento a Concept 500. Por menos que uma bookshelf superlativa, você consegue uma torre generosa em graves e com equilíbrio tonal fora da curva.
Nota: 93,0 | |
AVMAG #249 Mediagear (16) 3621.7699 R$ 40.470 |
Nossa última experiência em nossa sala de testes com uma caixa Wilson Audio ocorreu na edição 191, quando tivemos a honra de realizar o primeiro teste mundial da Alexia. De lá para cá muita coisa ocorreu com um dos mais prestigiados fabricantes de caixas acústicas do mundo, e então tentar fazer um paralelo entre as minhas observações pessoais que ainda tenho guardado da Alexia, para a nova geração de caixas Wilson Audio, acreditem, não irá ajudar muito.
Nem a mim e nem tão pouco a vocês leitores, que estão chegando agora a este universo da audiofilia. As novas caixas Sabrina (agora o novo modelo de entrada), Yvette (que muitos acharam que substituiria a antiga linha Sophia, que por uma década foi a porta de entrada para quem desejava ter uma caixa Wilson Audio) e a nova Sasha DAW (em homenagem ao David Wilson e que também já se encontra em teste em nossa sala) – são todas obras de Daryl, filho de David Wilson, o novo CEO da empresa.
E quando já tinha escrito este teste, me chegou a notícia da mais nova criação de Daryl, a Chronosonic XVX, que se posicionará entre a Alexandria XLF e a WAMM (que foi a última obra prima de David Wilson), e que na próxima edição iremos dar em novidades de mercado.
Daryl, desde muito cedo, acompanhou seu pai e compartilhou da paixão em buscar sempre ir além em cada novo projeto. Dos 57 produtos lançados em quatro décadas, Daryl esteve de alguma forma participando em 37 deles! O que certamente explica tanto o seu DNA de projetista, herdado do pai, como também sua incansável busca por soluções e melhoramentos constantes.
Então quando você ouvir que Daryl está absolutamente preparado para levar a Wilson Audio à vôos ainda maiores, acredite meu amigo, pois ele está preparadíssimo!
A Yvette é uma caixa que, em termos de tamanho, está entre a WATT/Puppy e a Sophia, mas as semelhanças param por aí, pois a Yvette incorpora muitos conceitos de caixas como a Alexandria XLF (talvez daí tenha surgido a deixa para alguns articulistas chamarem a Yvette de “Mini Alexandria”). Mas já que a Yvette veio a substituir a linha Sophia, é natural que façamos comparativos para dar uma ideia exata de toda a evolução desta nova Wilson Audio. Em termos de design, as duas são muito distintas, já que o defletor frontal com mais ângulos da Yvette confirma que Daryl quis levar ao limite em um único gabinete o conceito desenvolvido por seu pai, do alinhamento de tempo – em que o som de todos os falantes chegam ao mesmo tempo aos nossos ouvidos. Uma coisa é realizar este alinhamento de tempo com caixas como Sasha, Alexia, Alexx e Alexandria, em que os falantes são dispostos em gabinetes separados, com suporte e variação de ângulo, próprios para este preciso alinhamento de tempo. Outra coisa é conseguir este mesmo resultado em um único gabinete, como no caso da Sabrina e da Yvette!
E, acreditem, o resultado alcançado foi primoroso. Como estamos também com a Sasha DAW, pudemos fazer em aXb muito crítico, e a capacidade da Yvette em termos de inteligibilidade e conforto auditivo é absurda. Mas a diferença entre a Yvette e a Sophia não param no gabinete. Os falantes são todos novos, desenvolvidos para também serem usados nas linhas superiores. Novo tweeter da terceira geração Convergent Synergy Tweeter, de 1 polegada, com domo de seda também utilizado nas Sasha 2 e Alexx.
O woofer de cone de alumínio da Sophia 3 foi substituído por um novo woofer de 10 polegadas de polpa de papel, desenvolvido para a Alexia e a Alexx. E o falante de médio de 7 polegadas é o mesmo utilizado na Alexandria XLF. O gabinete, ainda que único, possui internamente três caixas separadas com sua respectiva câmara interna para cada falante e com ventilação também separadas. A preocupação com a eliminação de vibrações no gabinete é a mesma dedicada a todos os seus produtos. E o uso do interferômetro de laser para estudar as ressonâncias de gabinete e sua relação com os falantes, foi utilizado para definir as estruturas internas e a escolha do material ideal para este projeto. Depois de inúmeros testes, chegou-se à conclusão que a construção seria no material X (material proprietário da Wilson Audio e que já se encontra em sua quarta geração), também utilizado nas linhas superiores. Como toda caixa Wilson Audio, a Yvette não aceita bi-wire, pois o fabricante compartilha a ideia de que é muito mais conveniente e com resultados mais satisfatórios o usuário desembolsar seu suado dinheiro em apenas um bom par de cabos do que em dois pares (o que faz sentido).
Agora, os bornes usinados a cobre possuem um torque melhor, possibilitando o usuário fazer o aperto com os dedos – antes, nos modelos anteriores, este procedimento era impossível, tendo sempre que recorrer a uma chave para apertar os bornes de caixa. Como todas as Wilson Audio que testamos, jamais abro mão das rodinhas que vêm de fábrica com as caixas, para justamente facilitar o manuseio, antes da queima total das mesmas (que nunca foi menos de 200 horas). Claro que depois de totalmente amaciadas, e já colocadas na posição ideal, as rodinhas devem ser substituídas pelos spikes – mas o que facilita ter as rodinhas no período de queima poderia ser estendido a todos os fabricantes de caixas que pesem mais de 30 kg! Fazendo um trocadilho infame: “É uma mão na roda!”.
Como já testamos a Sophia 2, antes de iniciar as primeiras audições lá fui eu buscar minhas anotações e a lista de discos que usei naquela ocasião. Separada a pilha de discos, fui selecionar os produtos que participariam deste teste. Amplificadores: integrado Hegel 590 e Cambridge Audio Edge. Powers: Hegel H30 e amplificador AL-KT x2-150 do projetista de Lins, André Luiz Lima. Pré-amplificador: Dan D’Agostino. Sistema analógico: toca-discos AVM 5.3. Cápsulas: Transfiguration Protheus, Ortofon Quintet Black e SoundSmith Hyperion Mk2. Pré de Phono: Boulder 508. Cabos de caixa: Nordost Tyr 2 e Sunrise Lab Quintessence. Cabos de interconexão: Nordost Tyr 2 e Frey 2, Sax Soul Ágata 2, Sunrise Lab Quintessence (RCA e XLR), e Transparent Opus G5 (XLR). Cabos de força: Sunrise Lab Quintessence e Transparent PowerLink MM2.
David Wilson, ao desenvolver a Sophia, disse com todas as letras que era seu projeto mais “amigável” em termos de compatibilidade com amplificadores e salas. E pelos números ele acertou em cheio, pois a Sophia, em suas três séries, foi um sucesso de crítica e público. Mas como escrevi nas primeiras linhas deste teste, comparar a Sophia com a Yvette me pareceu, desde o primeiro momento, impossível. Pois são de tempos distintos em basicamente tudo.
A Yvette possui uma assinatura sônica tão equilibrada que a sensação é que qualquer estilo musical (independente da qualidade técnica) irá sempre soar muito bem. É um convite de casamento à primeira audição. Você custa a acreditar que já saia de um patamar tão alto, assim que soam os primeiros acordes. O que o faz querer, de imediato, buscar a posição ideal da caixa na sala. Esta mágica, arrisco dizer, ser muito de seus médios, que materializam o acontecimento musical mesmo em variações dinâmicas mínimas. Tudo é inteligível, palpável e ali a poucos metros de nós!
A música flui, literalmente, sem perturbação, estranhamento ou qualquer tipo de dureza (isto independente do power que estivesse ligado). Os agudos, ainda que engessados e tímidos, possuem bom corpo de imediato, com velocidade e precisão (lembraram muito os agudos nas horas iniciais no teste da Alexia). Os graves são bastante controversos nas primeiras 50 horas, pois ao contrário de inúmeras caixas de alto padrão, o que sobressai é o corpo já presente no momento em que se liga pela primeira vez. No entanto, parecem ainda sonolentos e se preparando para sair da hibernação.
Por isso, eu aconselho esperar pelo menos 150 horas antes de trocar as rodinhas pelo spike – a não ser que um profissional gabaritado do distribuidor já venha fazer a instalação e faça todas as medições com o usuário sentado em sua cadeira preferida, aí já é mais conveniente colocar os spikes. Mas, se você gosta de acompanhar a evolução de uma queima de um produto de nível superlativo, e adora perceber que as suas melhores gravações estão soando ainda mais convincentes, então deixe as rodinhas e só faça a troca quando a caixa estiver inteiramente amaciada.
É gratificante tirar da embalagem um produto que tanto desejamos, e este já sair tocando bem. Além de ser motivador, a sensação, é que o amaciamento é mais rápido! Nas primeiras 100 horas a Yvette mudou muito, mas a mudança mais significativa foi no encaixe do woofer com os médios. A fundação dos graves na primeira oitava, quando surge, é arrebatadora! Um amigo que estava presente exclamou: “Santa ignorância”! Pois estávamos justamente a ouvir um órgão de tubo.
Daí para frente, as únicas mudanças nos graves foram em termos de velocidade, nada mais. Os graves não impressionam apenas pelo corpo, peso e velocidade, mas sobretudo pela inteligibilidade de tempo e ritmo. Às vezes pegamos certas passagens de solo de contrabaixo em que parece que o baixista falhou na digitação, ou fez rápido demais, o que dificulta a inteligibilidade. A Yvette entrega absolutamente tudo. Não tem erro ou fez bem feito, ou terá que pagar este mico para a eternidade. O mesmo ocorre com a marcação de tempo em bumbo, quando o baterista passa do pedal simples para o duplo. Aí é que separamos o ‘joio do trigo’ em termos de técnica e bom gosto do batera. Se for apenas pirotecnia, novamente a Yvette estará lá para apontar o problema.
Os agudos, para ganhar extensão e decaimento correto, levaram quase 180 horas. Mas, quando amaciaram, é um deleite tanto em termos de conforto auditivo, como em apresentação. Você pode escolher qualquer instrumento em que a última oitava é ‘encardida’, como piano, violino, sax soprano, flautim, pratos. E a Yvette não ‘espirra’ nunca. E se engana se alguém julgar se tratar de algum corte nas altas para propiciar este conforto auditivo, pois não é este o caso. Este resultado, meu amigo, deve-se ao correto alinhamento de tempo dos três falantes, em que nada chega antes ou atrasado. Quando você finalmente saca a importância deste alinhamento temporal, meu amigo, você não vai querer ouvir de outra maneira – acredite!
O som é holográfico, 3D. Você escuta o silêncio em volta de cada um dos instrumentos solistas, mesmo em complexas variações de música sinfônica, e seu cérebro quer ficar ali, sentindo aquelas emoções tão desejadas e tão raras!
Finalmente, quando tive a certeza que o amaciamento estava completo, substitui as rodinhas pelos spikes e comecei, antes do pessoal da Ferrari vir realizar o ajuste fino, a buscar meu posicionamento ideal (sempre minha escolha e o ajuste orientado pela Wilson Audio não batem, mas gosto desse desafio, pois aprendo cada vez mais com a questão do alinhamento temporal). Do último ajuste feito, com as rodinhas para o spike, foi questão de quase 1 metro para a frente em relação a parede atrás das caixas, e mais 30 cm de abertura entre as caixas.
A angulação, como toda Wilson Audio, é maior com a frente das caixas bem viradas para o ponto ideal de audição. Com este ajuste eu já me daria inteiramente por satisfeito, mas o Fernando da Ferrari conseguiu um ajuste ainda mais preciso (como sempre). Voltou as caixas 50 cm para trás, diminuiu 24 cm entre elas e deixou mais 5 graus para o centro o ângulo das caixas para o centro de audição. Com este ajuste ‘matemático’ e milimétrico, ganhei ainda mais profundidade, maior largura e uma altura que ainda não tinha conseguido. O que foi perfeito para grandes orquestras (de qualquer gênero musical). As Yvettes gostam de serem testadas com os volumes próximos ao ideal de cada gravação, e não se intimidam com nada. Se o power acompanhar, meu amigo você estará em perigo, rs! Como o grau de fadiga é zero, ela te convida a explorar volumes que você provavelmente jamais ousou colocar em suas caixas. E o legal é que ela mostra com precisão o volume correto de cada gravação, pois quando você passa do ponto a holografia some imediatamente, como se você tivesse deixado o som ‘transbordar’. Aí basta voltar ao volume correto e tudo volta ser puro deleite.
Um leitor outro dia me perguntou como fazer para não achar sem graça a audição de uma gravação que passamos do ponto, quando precisamos reduzir o volume. Duas coisas precisam ser observadas: primeiro que um sistema com excelente equilíbrio tonal dificilmente você irá passar do ponto, pois o conforto é tão bom que não há nenhuma necessidade de subir ainda mais o volume. Pelo contrário, você fica é surpreso e satisfeito de saber que seu sistema reproduz com total conforto auditivo e energia o disco que você tanto gosta.
Mas, se você se empolgar e tiver que voltar atrás, para não ser decepcionante esta volta, basta pausar, baixar o volume para o ideal, levantar e ir beber uma água, e voltar em 10 minutos. Você irá se surpreender e ainda achará que o volume pode ser um nadinha mais baixo ainda!
Equilíbrio tonal e soundstage são ‘pontos fora da curva’ nesta caixa, mas suas qualidades não se resumem a estes quesitos. Claro que a soma de todas essas qualidades dos oito quesitos define a pontuação de um produto e em qual esfera ele se enquadra, mas alguns produtos conseguem a artimanha de ainda assim se sobressair em algum quesito com tamanho destaque que entram no hall de produtos realmente especiais e que nos marcam para sempre.
A Yvette para mim se destacou de forma inigualável na apresentação de texturas! Sua capacidade de recriar com fidelidade a paleta de cores e nuances, e sua maneira de nos apresentar as ‘intencionalidades’ em todas as suas vertentes, a coloca em uma classe totalmente rara e à parte! Ouvi gravações difíceis de conseguir extrair do todas nuances, que parecem triviais ou sem importância, que nas mãos da Yvette se tornaram cruciais para se notar o grau de preciosismo do solista no ‘sustain’ final de um acorde, ou na delicadeza do ataque de uma nota, ou a técnica de digitação de dois virtuoses como os violonistas Paco de Lucia e Al Di Meola.
Compreender o glissando de um solo do trombonista J.J Johnson, e sua forma incomparável de manter a sustentação da nota até o pianíssimo, como se o homem e o instrumento fossem uma extensão do outro.
Se você almeja ter um sistema digno em termos de fidelidade e não usufruir dessas qualidades, você simplesmente está jogando dinheiro fora, pois o que separa o produto Estado da Arte superlativo do restante dos bons sistemas hi-end, meu amigo, são os detalhes – que nesta caixa brotam como flores de Ypê na primavera!
E só tenho uma justificativa para tamanho preciosismo na apresentação tão exuberante das texturas: sua translúcida região média. É capaz de nos fazer prender a respiração assim que ouvimos vozes e qualquer instrumento acústico bem captado e bem mixado. Os transientes são de primeira grandeza, assim como a dinâmica, tanto a micro quanto a macro.
E buscando resposta para uma micro-dinâmica tão detalhada, duas veem à mente: a qualidade do gabinete, rígido o suficiente para matar ondas espúrias e colorações indevidas, mas sem ser amorfo ou secar o corpo harmônico e, claro, a escolha dos falantes e do crossover aliados sempre ao alinhamento temporal! Essa soma das partes nos remete ao clímax final: organicidade e musicalidade! Poucas caixas conseguem materializar com tamanha desenvoltura o acontecimento musical à nossa frente. Mas esqueçam uma imagem chapada e bidimensional no meio das caixas. Se os solistas se movimentaram em volta do microfone, você verá este movimento – que eu chamo de ‘ver o que ouvimos’. Sim, meu amigo, é isto que realmente ocorre quando estamos diante de um sistema superlativo.
Outro dia recebemos em nossa sala um amigo do engenheiro Ulisses da Sunrise e do nosso colaborador Juan (como não pedi autorização ao visitante, omitirei seu nome). Ele, em determinado momento, virou para o Ulisses e relatou estar vendo o saxofonista se movimentar em frente ao microfone. Fatos assim parecem corriqueiros, mas não são – é preciso que tudo esteja absolutamente ajustado para que este momento mágico ocorra.
E a Yvette necessita de todos esses cuidados e dará em troca, por anos a fios, audições inesquecíveis, acredite! Tão inesquecíveis que fará você querer seguir adiante ajustando mais e mais o seu sistema, a elétrica e a acústica, para ver o teto desta magnífica caixa.
Tudo isto você pode simplificar no último quesito de nossa metodologia: musicalidade! Sim, a Yvette extrapola seu conceito de musicalidade, levando-o a revisitar toda a sua discoteca e a voltar a comprar discos novamente, e até se aventurar em novas mídias como streamer e LPs. Acredite, sua musicalidade é contagiante ou, melhor seria, desafiante.
Uma caixa que, por muito tempo, irá figurar entre as melhores caixas que este velho articulista com mais de 40 anos nesta estrada escutou. Se sempre desejou ter uma Wilson Audio, não poderia lhe dar melhor sugestão: comece pela Yvette, provavelmente você se dará por satisfeito pelo resto de seus dias!
Nota: 97,0 | |
AVMAG #255 Ferrari Technologies (11) 5102.2902 US$ 51.900 |
Comecei a acompanhar os produtos deste fabricante americano de caixas mais recentemente (para ser exato, no final de 2017) ao ler algumas resenhas de suas participações em feiras, com excelente repercussão de público e crítica especializada.
Naquelas felizes coincidências, ao receber o toca-discos Acoustic Signature Storm, o importador também nos enviou as caixas Rockport modelo Avior II, para conhecermos (sem a obrigação de testá-las). Olhei para aquelas radiantes caixas de formas imponentes, e pensei: “uma caixa de 150 kg não pode entrar em nossa Sala de Testes apenas para conhecer, embalar novamente e agradecer todo o esforço do importador”. Assim, ainda que estivéssemos em uma maratona de testes, para encaixar todos os produtos que chegaram no último trimestre, dei um jeito de também ouvir a Rockport e colocá-la nesta última edição de 2019.
A sorte é que a Avior II veio inteiramente amaciada, pois estava tocando no showroom do importador. O que viabilizou totalmente o teste.
A Avior II é uma imponente coluna de três vias com dois woofers de 9 polegadas, um falante de médio de 6 polegadas e um tweeter de 1 polegada de berílio. Seu projetista e fundador, Andy Payor, é que cuida de todo o desenvolvimento dos projetos e supervisiona no chão da fábrica a montagem de uma a uma de suas crias, deste a marcenaria, fabricação dos falantes e montagem dos crossovers de todos os modelos da Rockport – já que todos os crossovers são feitos ponto-a-ponto, sem placas em série.
Andy Payor afirma que a grande mudança do modelo original para a versão MkII foi a adição do guia de ondas, no qual está inserido o tweeter de berílio. A grande sacada é que o tweeter é parte integrante desta unidade, e não apenas encaixado em seu centro. Segundo Andy, as melhorias foram tão significativas que passou a ser utilizado em todos os modelos do fabricante.
O guia de ondas possui dois propósitos, esclarece Payor: “Ele restringe a dispersão do tweeter na parte inferior da banda passante, para torná-lo mais parecido com a dispersão do falante de médio (que corta em 2000 Hz) melhorando a transição acústica entre o intervalo do médio e o tweeter. E este guia de ondas aumenta a sensibilidade do tweeter em cerca de 5 dB na parte mais baixa de sua faixa de operação, com isto o tweeter precisa de menos energia do amplificador para produzir um determinado nível de saída, e os benefícios se traduzem em: maior extensão com muito menor distorção, pois o guia de ondas melhora a correspondência de impedância acústica do tweeter na extremidade baixa de sua faixa e permite maior expressão dinâmica do próprio tweeter”.
Os falantes de médios e graves foram integralmente projetados pelo Andy Payor. Seus cones são de pele de tecido de fibra de carbono, pré impregnadas com uma resina epóxi endurecida, formulado sob encomenda, e consolidadas em um núcleo Rohacell, sob alta pressão e calor. O objetivo de Andy foi dar a maior proporção de rigidez por peso, com a maior extensão possível a cada cone, com baixo estresse mecânico.
O falante de 6 polegadas possui uma estrutura de alumínio fundido, uma aranha de tamanho grande, uma bobina de titânio, anéis em cobre e ventilação, sempre objetivando o menor índice de distorção para que, sonicamente, esses enormes cuidados se traduzam na capacidade de reproduzir nuances da música que outras caixas acústicas não conseguem.
Os woofers de 9 polegadas, são muito semelhantes ao driver de médio, tanto em conceito como em execução. As bobinas são de 2 polegadas, extremamente potentes e com uma ampla dispersão de calor, mesmo em volumes acentuados.
Andy também sempre foi um ‘perfeccionista’ no desenvolvimento de seus crossovers. Cada componente é soldado ponto-a-ponto para evitar problemas com as construções em placa de circuito impresso. Andy só utiliza capacitores de filme fabricados com exclusividade para a Rockport, assim como indutores e resistores Caddock – todos medidos e com tolerância de 1%. Depois de montado, todo crossover é selado em uma câmera na base do gabinete.
Feito de MDF, o gabinete da Avior II possui um defletor frontal de 6 polegadas de espessura, as paredes laterais são feitas em laminação tripla, amortecidas em pontos estratégicos, painéis laterais curvados e a tampa superior com uma superfície ascendente – em que a traseira é mais alta que a parte frontal. Andy explica que embora a Avior II utilize um gabinete de MDF, sua rigidez é enorme devido a sua grande espessura de seção.
Segundo o fabricante, a resposta de frequência da Avior II é de 25 Hz a 30 kHz (3 dB), sensibilidade de 88 dB/2,83 V, e sua impedância de 4 Ohms. O fabricante recomenda potência mínima de 50 Watts.
Para o teste disponibilizamos um arsenal de opções, como os powers Nagra Classic Amp, Hegel H30 e integrado Sunrise Lab V8 SS. Prés de linha: Nagra HD e Dan D’Agostino. Fonte digital: dCS Scarlatti. Fonte Analógica: toca-discos Acoustic Signature Storm MkII, cápsula Soundsmith Hyperion 2, pré de phono Boulder 500. Cabos de caixa: Sunrise Lab Quintessence e Dynamique Audio Halo 2. Cabos de interconexão: Transparent Opus G5 XLR, Dynamique Apex XLR, Sax Soul Ágata 2 XLR, Sunrise Quintessence (RCA e XLR) e Dynamique Halo 2 (XLR e RCA). Cabos de força: Transparent Audio PowerLink MM2, Sunrise Lab Quintessence e Dynamique Halo 2. Cabos digitais: Transparent Reference XL.
A Avior II é uma caixa que precisa de respiro para dar o seu melhor. Então nada de a confinar em salas pequenas, em que ela não tenha no mínimo 1 m de distância da parede a suas costas, 2,80 entre elas e pelo menos 1 m das paredes laterais. Com este cuidado, o usuário terá um soundstage magnífico em largura, altura e profundidade. E com uma maior abertura entre as caixas: um recorte e foco de nível cirúrgico! Elas realmente encantam por esse seu grau de holografia sonora e materialização física do acontecimento musical à nossa frente (Organicidade).
Eu sempre lembro aos nossos leitores, em nossos Cursos de Percepção Auditiva, que caixas são como instrumentos musicais e, por este motivo, deveriam ser a primeira escolha em qualquer setup. Existem caixas que trazem o acontecimento musical à nossa sala, e outras, ao contrário, nos transportam até o ambiente da gravação.
Pode parecer sutil demais a diferença destas duas possibilidades, descrevendo aqui no papel, mas de fácil observação auditiva quando se tem a possibilidade de estar frente à frente com ambas opções. Qual irá te agradar mais? Só você poderá responder meu amigo. Pois depende de inúmeros fatores como: estilo de música que você mais gosta, tamanho e qualidade acústica de sua sala, sinergia do seu sistema com a caixa escolhida e a pressão sonora na qual você gosta de ouvir seus discos. Então, esta escolha diria estar na esfera das subjetividades pela cultura e gosto de cada um.
O que posso lhe dizer é que a Avior II se sentirá em casa e dona total da situação em uma sala de dimensões corretas para o seu porte e, claro, um sistema à altura de suas inúmeras qualidades. Pois como todo produto de ponta, necessita totalmente de condições para justificar seu investimento.
Em nossa sala, para extrairmos todo seu arsenal de qualidades, perdemos quase uma semana testando posições – mas todo o tempo e paciência valeram pelo resultado alcançado. No final as Avior II ficaram a 3,20 m entre elas (medido do centro do tweeter), 1,89 m da parede às costas das caixas, 1,10 m das paredes laterais, com um toe-in de 25 graus apontando para a posição ideal de audição. Nesta posição, ganhamos a possibilidade de escutar as caixas com maior pressão sonora, sem nenhum grau de fadiga auditiva mesmo a picos de 95 dB (algo raro, e que poucas vezes me dou o direito de fazer, afinal tenho que preservar ao máximo minha ferramenta de trabalho).
A Avior II, permite esses ‘arroubos’ se assim você desejar e seus vizinhos não se incomodarem. Mas o que mais apreciei nessas caixas foi que em volumes mais ‘sensatos’ (com picos de 80 a 85 dB), você ouve absolutamente tudo com um grau de transparência e inteligibilidade impressionantes.
Em termos de Equilíbrio Tonal, a Avior II se comporta de maneira muito correta e segura. Você realmente não escuta os pontos de transição de um falante para o outro, tudo ocorrendo de forma muito natural. Os graves possuem peso, autoridade e velocidade que nos fazem acompanhar tudo que ocorre sem esforço adicional algum.
A região média é de uma finesse que nos seduz pela facilidade que reconstrói as mais sutis nuances e nos joga a luz necessária em passagens que, em muitas outras caixas, parecem imprecisas.
Aos amantes de total transparência, a Avior II deve ser ouvida com esmero e cuidado! Os agudos, possuem enorme extensão, decaimento suave e uma capacidade de dispersão impressionante. Gravações em que os engenheiros abriram 100% o panpot (recurso panorâmico, para distribuir os instrumentos entre as duas caixas na hora da mixagem) para um dos canais, tudo que esteja na região aguda na Avior II, soa a mais de 1 metro para fora das caixas. Isto dá um arejamento espacial e de proporção da sala de gravação espetaculares!
Outra excelente característica é a capacidade dessa caixa de ser bastante coerente na apresentação do corpo nos agudos. Em gravações em que o baterista utiliza inúmeros pratos de tamanhos distintos, muitas caixas tem a limitação em mostrar essas diferenças de corpo de cada um deles. Este não é o caso desta Rockport – escutando vários discos do trio de Keith Jarret com o baterista Jack DeJohnette, é possível observar o arsenal de pratos de tamanhos distintos que Jack utiliza. Pode, para muitos de vocês, parecer mero preciosismo citar esses detalhes, mas são nos detalhes, meu amigo, que nosso cérebro pode ser enganado e esquecer que o que estamos a ouvir é reprodução eletrônica! E como já escrevi centenas de vezes, seu cérebro não se engana facilmente (principalmente se sua referência for música ao vivo não amplificada).
E não adianta nada ter enorme naturalidade (Equilíbrio Tonal), texturas precisas, transientes corretos, boa micro e macrodinâmica, se o corpo de todos os instrumentos soarem a sua frente como pizzas brotinhos!
Seu cérebro não irá cair nesta! Sistemas hi-end Estado da Arte possuem esta denominação, justamente por terem atingido este grau de performance. E quando você escuta pela primeira vez um sistema com todos esses ‘predicados’, você nunca mais irá esquecer ou se equivocar com o que falta em relação a todos os outros sistemas que não chegaram a este nível de performance.
As texturas são apresentadas na Avior II de forma muito contundente, porém mais pelo lado da intencionalidade e qualidade dos instrumentos, virtuosidade e complexidade da execução da obra do que pela timbragem. Nos inúmeros quartetos de cordas que utilizo para avaliação deste quesito de nossa Metodologia, observei muito mais as nuances técnicas de execução do que a timbragem dos instrumentos (se mais quentes, sedosos, rugosos, etc.). Arrisco dizer que talvez esta sensação tenha derivado do grau absurdo de transparência que esta caixa permite ao ouvinte. O que me levou a escrever em minhas anotações pessoais, que o nível de observação e precaução com a escolha da eletrônica deva ser muito criteriosa, pois se o audiófilo optar por uma eletrônica que também tenha essas características de integral transparência, muitas gravações tecnicamente mais limitadas poderão ser excluídas. No entanto, as gravações de ótimo nível técnico soarão gloriosas!
Esta é uma escolha que sempre teremos que fazer, mas é sempre bom estar prevenido, afinal, imagino que todos que se aventurem a adquirir uma caixa deste valor, encarem o investimento como definitivo (pois subir deste patamar para o próximo é opção apenas para milionários). Então toda dica é extremamente válida.
A Avior II, em termos de resposta de transientes, é excepcional. Nada parece letárgico em termos de andamento, a sensação é que os músicos estavam realmente ligados e o que ouvimos foi realmente a melhor gravação executada. O tempo e ritmo são precisos milimetricamente, permitindo audições regadas a bater os pés e abrir aquele sorriso de orelha a orelha!
Sua apresentação de microdinâmica é espetacular, e nuances sutis são apresentadas com enorme inteligibilidade. Algumas surpresas irão fatalmente ocorrer, como ouvir ruídos de vazamento de canais em gravações multipista, vazamento pelo fone de ouvido do cantor (foi o caso de um CD do Ben Harper, em que escutei a faixa guia com o andamento, para marcar a entrada do cantor no tempo certo). Ou barulhos estranhos, como tosses vindas de um músico no meio da orquestra e não da plateia. Cito esses fatos bizarros para você ter uma ideia fidedigna do que a Avior II será capaz de lhe proporcionar em termos de transparência.
Já na macrodinâmica suas qualidades foram reveladas quando escrevi que me permiti ‘arroubos sonoros’ de picos de 94dB (algo que dá para contar nos dedos ao ano). Sua capacidade de trabalhar com complexas variações dinâmicas é surpreendente, pois não houve qualquer resquício de endurecimento ou agressividade (que nos levaria a baixar o volume imediatamente).
Outro quesito que já dei uma boa adiantada é o Corpo Harmônico. Aqui encontra-se, na minha opinião, uma das maiores virtudes da Avior II. Todos os instrumentos (quando devidamente captados na distância certa) soam muito próximos ao corpo do instrumento ao vivo. Com destaque para gravações de piano solo e contrabaixo acústico, picollo, chimbau, cravo (todos instrumentos fáceis de reconhecer os seus tamanhos reais). Com uma apresentação tão boa do corpo harmônico, fica muito mais fácil seu cérebro acreditar que está frente a frente com os músicos!
A materialização física do acontecimento musical, também não é nenhum problema para a Avior II. Dê a ela uma excelente gravação, e os músicos estarão sempre à sua disposição!
Em relação à musicalidade, tudo irá depender do quanto você deseja dosar entre transparência e calor. Então só depende de você e não da caixa. Eu gostei muito da Avior II com o sistema Nagra, muito mais que o nosso de Referência, ou o nosso pré Dan D’Agostino com os powers da Nagra. Achei com os Nagras o sistema mais musical, com uma sonoridade mais natural para as minhas referências de música ao vivo não amplificada. Mas aqui, novamente, entramos na subjetividade, então o que importa realmente será única e exclusivamente seu gosto e suas expectativas!
Trata-se de uma caixa Estado da Arte com todos os atributos superlativos, de construção, projeto, conhecimento e performance. Os cuidados, como com todos os produtos deste nível (principalmente caixas) será a assinatura sônica de todo o sistema, a qualidade acústica e elétrica da sala mas, principalmente, usá-las em salas com, no mínimo, 28 a 30 metros quadrados. Colocar esta caixa em um ambiente menor, é subtrair delas um dos seus maiores atributos: arejamento e holografia sonora!
Dê a ela todas as condições para render seu enorme potencial e terá sua caixa definitiva!
Nota: 101,0 | |
AVMAG #258 Performance AV Systems Ltda (11) 5103.0033 US$ 59.960 |
Caixas acústicas são como instrumentos musicais! Ouvi pela primeira vez esta frase quando tinha apenas 7 anos de idade. Meu pai a dizia a todos os seus clientes e amigos. Com o passar dos anos e acompanhando seu trabalho, fui assimilando que seu ponto de vista além de correto, era um apelo para que os audiófilos e melômanos levassem aquele alerta à sério. Afinal, grande parte da assinatura sônica de qualquer sistema será a soma das duas pontas (caixas acústicas e fonte). E, se queremos que todo nosso esforço e investimento tenham um final feliz, cuidemos para que essas duas pontas trabalhem em conjunto e não se degladiando.
Caixas acústicas foi o produto que mais testei nesta vida de articulista. Já ouvi de tudo, tudo mesmo. Dos projetos mais exóticos aos mais simples e singelos (como a pequena coluna da JVC com cone de madeira) e se tem algum produto no áudio que não tem uma única receita, este produto são as caixas acústicas.
Aqueles que defendem que os gabinetes precisam soar como instrumentos musicais têm exemplos de sucesso. Assim como os que defendem que o gabinete tem que ser o mais inerte possível. O mesmo podemos dizer em relação ao material utilizado nos tweeters de domo: seda, diamante, berílio, titânio, etc. Então, meu amigo, se quiser uma dica: esqueça os ‘prés conceitos’ que você possa ter, e ouça-as antes de julgar se é bom ou ruim.
Agora, uma coisa é fato incontestável: são exigentes ao extremo. Não existe nem um componente de áudio mais exigente do que caixas acústicas. Pois necessitam de cuidados extremos, com a colocação na sala, amplificação, cabeamento e, como já disse, a fonte inevitavelmente precisa remar na mesma direção em termos de assinatura sônica.
Sem esses ‘esmeros’, você pode ter uma jóia rara sendo tratada como bijuteria barata!
Em nossos Cursos de Percepção Auditiva, no nível básico, muitos leitores se espantam quando afirmo que um sistema deveria começar a ser definido pelas caixas e depois a fonte. E que para definir a caixa, o consumidor deveria fazer um pente fino no seu gosto musical e nas deficiências do ambiente em que o sistema será usado. Pois o que já vi de ‘bode’ enfiado no meio da sala de audiófilo, daria para escrever um livro de mais de 200 páginas.
E o audiófilo é um bicho que deveria ser estudado a fundo, pois em vez do ‘mea culpa’, está sempre botando a culpa no equipamento, e as pobres caixas são as que mais levam chumbo.
Gosto muito de ouvir caixas (ainda que seja o produto que dê mais trabalho para o amaciamento), pois ouvi muitas que me encantaram pela sua sonoridade, equilíbrio e musicalidade. Sim, as caixas possuem uma magia, totalmente distinta de qualquer outro produto. Podem nos fazer repensar até mesmo como ouvimos nossa música preferida (principalmente se o seu equilíbrio tonal for de alto nível), pois aquela música que tínhamos que ouvir em volume mais acentuado, pode dar o mesmo prazer em volumes mais baixos.
Outras nos levam a descobrir camadas e camadas de informações que estavam ‘opacas’ ou submersas em informações com maior dinâmica. E uma qualidade que todo audiófilo adora: uma apresentação exuberante de um grandioso soundstage, com foco, recorte, planos e ambiência que dissolvem as paredes laterais e a dos fundos de nossa sala de audição! Por todas essas qualidades, é que as caixas também carregam nas costas tantas responsabilidades e expectativas.
Testei oito caixas da Wilson Audio em 23 anos da revista. Começando pela CUB em 1998 e tendo a honra de sermos a primeira revista no mundo a testar a Alexia. Tive a CUB por três anos como referência em caixas bookshelf e depois nunca mais tive nenhuma caixa deste fabricante. Mas alguns modelos me balançaram (como a Alexandria XLF), porém muito longe da minha capacidade financeira.
Então, ainda que tivesse a oportunidade de ouvir em nossa sala de testes os modelos mais recentes deste fabricante, sempre soube que por mais impressionante que fosse a impressão deixada, elas tinham dia e hora para partirem.
Percebi que a Wilson estava em processo de ‘transformações’ ao ouvir a Alexandria XLF, com o novo tweeter de seda e logo em seguida a Alexia, já com este novo tweeter. Escrevi no teste da Alexia que achei um salto e tanto em termos de equilíbrio tonal de ambas as caixas, e que aquela direção me agradava e muito, tanto como articulista, como consumidor.
Lembro, ao mostrar a caixa Alexia para o nosso colaborador Christian Pruks, dele ter virado para mim e dito: “Um dos melhores médios que ouvi em toda a minha vida”. E balancei a cabeça, concordando integralmente com ele.
A Alexia tinha uma magia difícil de traduzir em palavras, mas muito fácil de reconhecer auditivamente. Com a morte do fundador David Wilson, no final de 2018, seu filho Daryl, o novo CEO da empresa que já havia finalizado os projetos da Sabrina e Yvette, resolveu prestar sua homenagem ao pai e definiu que o ideal seria desenvolver uma nova Sasha, e a batizou de Sasha DAW (as iniciais de David Andrew Wilson). Ainda que muitos possam pensar que se trata de uma Sasha 3, a ideia é manter a Sasha 2 em linha.
O projeto da Sasha DAW teve a colaboração direta de Vern Credille (responsável pelo projeto da Alexia 2). Definida a equipe, Daryl deu as coordenadas do que tinha em mente em termos deste novo projeto: nenhuma restrição orçamentária e uso de todo o conhecimento adquirido com a WAMM e as novas caixas Alexx e Alexia 2, tanto em termos de uso de componentes como de tecnologia.
Ainda que em termos estéticos a DAW seja muito semelhante à Sasha 2, as modificações e o resultado distanciaram muito uma da outra. Tudo é novo: os woofers de 8 polegadas, que foram redesenhados para ter uma maior linearidade nas baixas frequências com a nova câmera com 13% a mais de volume, o painel frontal que acopla os woofers agora possui uma inclinação de 3 graus para trás, para uma perfeita integração temporal com o cabeçote em que o médio e o tweeter se alojam.
As paredes internas do gabinete de graves utiliza o Material X, mas agora ainda mais reforçado (como na caixa WAMM). A base que suporta o cabeçote também foi redesenhada e recebeu reforço para evitar que a interferência de vibração do módulo de graves passe para o cabeçote, além do desenvolvimento de um novo mecanismo de degraus para o apoio do cabeçote e sua facilitação no ajuste do módulo superior.
O cabeçote também foi completamente redesenhado, as paredes mais espessas ganharam um novo padrão interno de recorte para diminuir ainda mais (em relação à Sasha 2) as reflexões internas, e houve um aumento de volume em 10%. O falante de médio e o
tweeter são os mesmos utilizados na WAMM. O gabinete foi construído com o Material S (proprietário da Wilson Audio).
O crossover também é completamente novo, assim como o pórtico em que estão instaladas as resistências de agudos para ajuste fino em relação à sala de audição. Na Yvette, este tampo do pórtico é de metal e precisa ser desparafusado para se ter acesso às resistências. Na DAW, foi colocada uma tampa de acrílico e esta pode ser retirada manualmente.
A equipe de engenharia também melhorou toda a cabeação que vai do módulo de graves para o cabeçote, e ‘finalmente’ mudaram os terminais de cabo, que agora aceitam plugue banana.
Mas o que mais me chamou a atenção foi o novo degrau para determinar o ângulo de alinhamento temporal do cabeçote. Agora muito mais prático e preciso, e com um erro máximo de 8 milissegundos. Esta precisão permite um ajuste temporal perfeito para que a caixa soe na sala como um único falante full-range. Foi um dos maiores acertos (na minha opinião) da Sasha DAW, pois pude ouvir, na prática, a diferença que faz quando encontramos o ponto exato para a audição.
Em termos de resposta, a Sasha DAW, segundo o fabricante, responde de 20 Hz a 30 kHz (+- 3 dB). Possui uma impedância nominal de 4 Ohms (sendo o mínimo 2,48 Ohms em 85 Hz), e sua sensibilidade é de 91 dB/w/m. Montada, a Sasha DAW pesa 107 kg.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos:
Sistema analógico: toca-discos Storm da Acoustic Signature, cápsula Soundsmith Hyperion 2, braço SME Series V. Pré de fono: Boulder 500 com cabos de interconexão Sunrise Lab Quintessence e Sax Soul Ágata 2. Fontes digitais: dCS Vivaldi e Scarlatti. Pré-amplificadores: Dan D’Agostino Momentum Reference, e Nagra HD. Powers: Hegel H30 e Nagra monoblocos Classic Amp. Cabos de caixa: Dynamique Audio Halo 2 e Sunrise Lab Quintessence. Cabos de interconexão: Dynamique Audio Apex, Transparent Opus G5, Sunrise Lab Quintessence e Sax Soul Ágata 2.Cabos de Força: Transparent PowerLink MM2, Sunrise Lab Quintessence e Dynamique Audio Halo 2.
Enquanto testávamos a Yvette, fomos amaciando a DAW com o Hegel H590. Foi um aprendizado e tanto, ter as duas Wilson Audio ao mesmo tempo em nossa sala de teste. Acho que isto jamais voltará a ocorrer. É que nem o cometa Halley: acontece uma vez por século! E ainda desfrutamos por uma semana, antes da Yvette ir para o seu dono, de ambas amaciadas, para poder fechar a nota da Sasha DAW.
Foram mais de 20 páginas de anotações pessoais, para quando estivesse a escrever este teste, tivesse a mão todos os detalhes observados desde a queima inicial até às 300 horas de amaciamento, quando ela finalmente entrou em teste.
Como sempre faço com toda Wilson Audio, só tirei as ‘benditas’ rodinhas quando tive a certeza que nada mais havia para amaciar. E, ao contrário da Yvette, que já sai tocando bonito, a DAW precisa de pelo menos 100 horas de rodagem para começar a mostrar suas ‘impressionantes’ qualidades.
E o fato da Yvette ser um único gabinete, o ajuste desta na sala é muito mais simples e amigável. A Sasha DAW, ao contrário, é preciso esperar toda a queima antes de realizar todos os ajustes de posicionamento, e o do cabeçote para o alinhamento de tempo.
Sabendo desses macetes desde o teste da Sasha 2, resolvi fazer as primeiras impressões bem curtas (apenas 4 horas), e a coloquei junto com o Hegel H590, para ambos amaciarem simultaneamente.
Fiquei tão impressionado com a Yvette, que achei que a Sasha DAW teria apenas maior poder dinâmico, maior refinamento nas altas e maior peso e energia nos graves. Voltei a ouvir a DAW com 100 horas e percebi que estava completamente errado nas minhas expectativas iniciais, pois sua sonoridade tinha algo ainda mais cativante que a Yvette. A música parecia brotar de um silêncio ainda mais intenso, sem esforço ou qualquer tensão.
Tudo fluía com tamanha naturalidade que o que era para ser uma audição de apenas 6 faixas, se estendeu por quase 7 horas. Como a Yvette tinha apenas mais duas semanas antes de ser devolvida, tratei de acelerar o amaciamento, pois não poderia perder a oportunidade de compará-las. Estipulei, então, o próximos encontro para as 250 horas. E tratei de encerrar o teste da Yvette, já sabendo que viria ‘chumbo grosso’ mais adiante.
Com as melhoras audíveis com as 250 horas, decidi retirar as rodinhas e colocar os spikes e tentar o primeiro ajuste de alinhamento temporal na DAW, e depois esperar a visita do querido amigo Fred Ribeiro para realizar o ajuste final. O único detalhe é que a posição da DAW, já com os spikes, era muito semelhante com a Yvette, então o trabalho de colocar uma e tirar a outra, impediu aquela audição aXb como eu desejava. Então remarquei para o último final de semana em que a Yvette estaria conosco.
Foi muito elucidativa esta audição, pois permitiu entender claramente as diferenças e semelhanças entre as caixas e para mim ficou bem claro a direção que os novos projetos deste fabricante querem imprimir e mostrar ao mercado.
Ambas as caixas possuem um grau de musicalidade que só tinha visto (em tamanha proporção) na Alexandria XLF. E quando falo em musicalidade, estou inserindo neste contexto os nossos 7 quesitos da metodologia (equilíbrio tonal, soundstage, textura, transientes, corpo harmônico, organicidade e dinâmica).
A DAW vai muito além da correção e conforto auditivo da Yvette, pois possui performance de caixas Wilson Audio muito maiores (como a Alexia 2 e a Alexx). Ela não se intimida com absolutamente nada, nenhum gênero musical, mesmo com obras de inteira complexidade dinâmica.
Mesmo em nossa sala de 50 m², em que já tivemos e testamos caixas de maior gabinete, a Sasha DAW se comportou como ‘gente grande’ de verdade. Certamente grande parte desta incrível performance se deve aos detalhes que foram muito pontuais e assertivos.
Busquei nas minhas anotações as faixas que mais trabalho deram para a Sasha 2 e para a Alexia, e lá fui eu repassar todas essas faixas, com o mesmo SPL, nas DAW. E para meu espanto e surpresa, o comportamento foi primoroso. Total controle dinâmico e tonal, nenhuma ‘rusga’ ou qualquer tipo de endurecimento no sinal. Impávidas e sempre prontas para o próximo desafio.
Seu equilíbrio tonal nos faz repensar muitas coisas, pois é difícil deduzir como essa nova Wilson Audio consegue ter tamanha extensão e corpo nas altas e nunca endurecer o sinal, mesmo em gravações que tecnicamente falharam na escolha do microfone adequado. Ouvi dezenas de gravações em que a última oitava da mão direita do pianista quase endurece, retirando todo o feltro do martelo e nos ‘brindando’ com um som de vidro. Na DAW, a reprodução ainda que não seja correta, não nos agride e nem tão pouco diminui a intensidade do ataque, extensão e decaimento.
É absolutamente incrível o que este novo tweeter da Wilson Audio é capaz de nos mostrar em termos de correção e precisão. Achei que os agudos da minha Kharma Exquisite Midi eram o ‘suprassumo’ em termos de clareza e conforto auditivo, e agora essa ganhou um concorrente à altura. E com uma vantagem: o corpo dos pratos, a embocadura de instrumentos de sopro como sax soprano, flauta e trumpete, são ainda mais corretos!
A região média tem muito do realismo da Alexia, mas achei que alguma coisa foi ainda mais aprimorada em relação à primeira Alexia, pois a velocidade, ambiência, textura e organicidade, são ainda mais verossímeis. O acontecimento musical se materializa a nossa frente de forma tão palpável, que nosso cérebro demora um lapso de segundos para entender o que está ocorrendo. Algo nos avisa, interiormente, que estamos recebendo sensações auditivas que ainda não haviam sido escutadas e depuradas!
Minha única esperança de que vocês entendam o que aqui escrevo, é que possam um dia escutar esta espantosa caixa em um setup e sala adequados. E se tiverem essa oportunidade, tenho absoluta certeza que suas referências a respeito de caixas acústicas sofrerão alguns abalos, pois tocam como caixas muito maiores, possuem um controle dinâmico inimaginável e o fazem com uma ‘finesse’ inacreditável!
Um amigo, ao escutar, teceu o seguinte comentário: “Possuem a energia de PA, com o refinamento de caixas Hi-End Estado da Arte!”. Esta observação foi compartilhada depois de ouvirmos a faixa 8, Dangerous Curves, do disco do King Crimson – The Power To Believe.
Quem conhece esta gravação, sabe o quanto é difícil estabelecer um volume e não ter que diminuir quando a música atinge seu clímax final. O sistema, e principalmente a caixa, precisam ter ‘muita folga’ para transmitir o que os engenheiros captaram nesta difícil gravação. Mas, a DAW vai mais adiante que sua irmã Yvette e que a minha caixa de referência, ao nos mostrar detalhes quase que subterrâneos nos riffs e na condução de tempo do baterista. Robert Fripp nos brinda com sutis variações no tempo forte, que passam completamente despercebidas em todas as outras caixas em que já ouvimos este disco. Essas micro variações aparecem no meio de uma parede de distorções em um crescendo semelhante ao do Bolero de Ravel, versão eletrônica.
É isto que denominamos com entender a intencionalidade por trás da obra, da virtuosidade do músico, do arranjo, etc. E os graves da Sasha DAW, para decifrar como conseguem com dois falantes de oito tamanha precisão, velocidade e deslocamento de ar, recorri de novo as anotações dos testes da Sasha 2 e da Alexia. E posso garantir que ambas não tinham este grau de requinte e emoção. Mesmo a Alexia com um woofer de 8 e um de 10 polegadas!
O que os engenheiros da Wilson conseguiram neste projeto é um assombro de avanço tecnológico de quebrar com paradigmas da física em relação ao tamanho dos falantes e área do gabinete. Mas esqueçam aquele grave balofo, que você sai da sala e quando volta ele ainda está soando. Nada disso! É um grave incisivo e cirúrgico, que não embola, não colore e não ofusca o médio-grave. Está ali pelo tempo em que o engenheiro de gravação e os músicos queriam que estivesse.
Seu soundstage só não será impressionante se não foi feito o alinhamento temporal correto, ou a sala tiver problemas sérios de acústica, como por exemplo não dar o espaço mínimo necessário para as caixas respirarem. É preciso entender que é uma caixa de porte médio, mas que resulta em uma sonoridade de caixa grande. Então são essenciais as mínimas condições necessárias de arejamento entre elas, entre as paredes laterais e às suas costas.
Dadas as condições, o ouvinte terá um palco monumental, tanto em largura, como altura e profundidade. Seu foco, recorte e reprodução de ambiência eu só havia escutado na Alexandria XLF, com tanto respiro e silêncio entre os instrumentos. Um foco e recorte tão preciso que é possível ‘ver’ enquanto ouvimos que no CD The Civil Wars – Barton Hollow, a voz masculina é alguns centímetros mais alta que a voz feminina (veja a foto na contracapa do disco, e terão uma ideia do que estou dizendo). A DAW é capaz de nos mostrar em detalhes até essas sutis diferenças de altura nas vozes.
Agora transporte essa preciosidade para reprodução de música sinfônica e você terá em sua sala todos os planos dispostos como foram captados pelos microfones, todos os naipes devidamente apresentados, tanto em largura, como altura e profundidade! Agora vá somando todos esses atributos, e imagine como seu cérebro se sente depois de se acostumar com tamanha interação e conforto auditivo! Você não quer de forma alguma voltar a nada inferior a isto. Este é o problema! (ou a solução, dirão outros!).
Agora falemos da apresentação de texturas: geralmente as grandes caixas e os projetos mais corretos apresentam texturas sublimes na região média (onde está concentrada 70% de toda informação da música). Dificilmente notamos as variações de pele de instrumentos de percussão (não falo de afinação), a qualidade das peles, a qualidade dos músicos, dos microfones escolhidos, enfim de informações que muitas vezes nos passam batido. Para a DAW tudo é muito relevante para ficar em segundo plano, tão relevante que obras que escutamos centenas de vezes como Música para Cordas, Percussão e Celesta de Bartok, ganham uma dimensão em termos de apresentação dos solos que você pensa estar ouvindo uma nova versão daquela obra. Tudo é mais presente, refinado. A sensação é que os músicos estão tocando com maior atenção e precisão (claro que parte deste efeito é consequência da qualidade dos transientes, mas ambos se juntam nesta obra de maneira a nos fazer perceber um mar de nuances, nunca antes observadas), e a tonalidade e a paleta de cores nos diversos instrumentos utilizados nesta obra, ganham enorme evidência.
O mesmo fenômeno ocorreu com todos os exemplos de gravações de quartetos de cordas. É possível perceber até mesmo se a crina do arco dos instrumento está muito velha ou se é ainda muito nova (os músico dizem que o ideal é quando a crina está com alguns dias de uso, assim a sonoridade, além de mais viva, exprime melhor as qualidades do instrumento).
Parecem apenas detalhes certo? Mas são detalhes que, se somados, exprimem exatamente o ‘caráter’ sônico da Sasha DAW. Como já adiantei, os transientes são irretocáveis. Aliás isto talvez explique o fato de todos os articulistas que tiveram o prazer de testar esta caixa, escrevem que sua reprodução de instrumentos de percussão são as mais corretas, precisas e naturais que já tiveram o prazer de escutar.
E que melhores exemplos do que instrumentos de percussão para se testar transientes? E quando falamos de instrumentos de percussão, estamos incluindo, é claro, o piano. E as apresentações de pianos nesta caixa são de nos fazer, literalmente, prender a respiração. Você escuta em detalhes o corpo do instrumento, a digitação e técnica nos pedais do pianista, a qualidade do piano, a qualidade da captação e até o respirar do músico enquanto executa a obra solo. Achava que a respiração evidente do pianista só aparecia nas gravações da Philips do Claudio Arrau. Para minha surpresa, na esmagadora maioria das gravações solistas que escutei na Sasha DAW, é possível escutar a respiração de todos eles! O que torna a sensação de materialização física do acontecimento musical ainda mais realista, pois temos o corpo exato do piano a nossa frente, a precisão na apresentação das texturas e transientes, o mais perfeito equilíbrio tonal em todas as oitavas do instrumento, e ainda ouvimos o pianista respirando enquanto executa a obra!
O que mais nosso cérebro e nossos ouvidos podem desejar? Foi esta a pergunta que um amigo me fez, depois de ouvir Claudio Arrau, Nelson Freire e Hèlène Grimaud. Só pude balançar a cabeça positivamente e concordar que ouvir nossos discos desta maneira vai muito além de ter um sistema perfeitamente ajustado, pois extrapola nossas expectativas e nos apresenta uma nova ‘realidade virtual’.
Sim entramos em uma nova era em que ‘vemos’ o que ouvimos, e isto fará uma mudança significativa em como serão trabalhado, daqui para a frente, os sistemas Estado da Arte de padrão superlativo.
Como o sistema da Nagra que estamos testando também se encontra neste mesmo patamar das caixas DAW, resolvi descer o nível e às liguei no nosso sistema de referência (Pré Dan D’Agostino e power Hegel), e para minha surpresa o comportamento da DAW em todos os quesitos da nossa Metodologia não sofreram grandes alterações. Claro que, com os Nagras, a DAW se sente muito mais confortável, pois são do mesmo nível. Mas com o Hegel, por ter o dobro de potência que os monoblocos da Nagra, a Sasha DAW pôde mostrar sua capacidade de tocar nos volumes das gravações sem mostrar nenhum tipo de saturação.
O nosso leitor assíduo deve estar se perguntando: se a Yvette já foi tão impressionante, o que a Sasha DAW pode ter de tão melhor? Eu também me fiz esta mesma pergunta, meu caro. E algumas respostas são dadas como um soco capaz de nos levar à lona no primeiro segundo ao soar o gongo.
As Yvette são caixas com enorme apelo, e que conseguem mostrar o que uma caixa acústica pode realizar com as suas músicas preferidas. Mas a Sasha DAW vai muito além, ao mostrar o que existe na música e que ainda não foi apresentado com tanto requinte e precisão. Ela não se intimida em ser comparada com nenhuma outra grande caixa, seja da própria Wilson Audio ou de outros fabricantes também altamente conceituados. E pode acreditar, se você der essa chance a ela, de ser comparada com a caixa que você julga ser de um nível também superlativo, ela não fará feio de maneira alguma.
Para mim é de todas as caixas da Wilson Audio que testei, de longe, a que achei mais impressionante. Claro que tenho que deixar de lado a Alexandria XLF, pois está fora das minhas possibilidades totalmente, mas se formos avaliar apenas por custo e performance, é a melhor caixa da Wilson Audio que podemos sonhar em ter (desde que este seja o objetivo, a melhor caixa Estado da Arte pelo menor valor). Se o critério for performance, a Sasha DAW me parece imbatível em sua faixa de preço.
Suas qualidades se mostram por todos os ângulos: construção, tecnologia, capacidade de ajuste para diversas salas e, claro, sua performance de caixas muito mais caras e maiores. Ela me convenceu completamente e depois de 4 anos e meio com a Kharma Exquisite Midi, passa a ser nossa nova caixa de Referência.
Veja que estamos falando de uma caixa que custa, nos Estados Unidos (Exquisite Midi), mais que o dobro da Sasha DAW, e ainda assim este modelo da Wilson Audio se mostrou inteiramente superior. Se eu não tivesse ouvido, eu não acreditaria isto ser possível!
Nota: 103,0 | |
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