Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
É muito bom quando conseguimos que o importador envie, na sequência, produtos da mesma série, para que possamos passar aos leitores uma ideia consistente de toda uma linha.
Então, poder publicar na sequência os testes da nova linha Performa Be da Revel, certamente irá ajudar a muitos dos leitores, que gostam da marca, a decidirem qual modelo é mais adequado ao seu orçamento, sala e expectativas.
Sugiro a todos que ainda não fizeram, uma leitura do teste do modelo Performa F228Be, publicado na edição de aniversário (Maio de 2020). Os que já leram o teste, perceberam o quanto gostei da caixa. Pois, além do salto ter sido gigantesco em relação ao modelo anterior, as soluções encontradas pelos engenheiros da Revel elevaram a caixa à um outro patamar.
E esta nova bookshelf M126Be, o que herdou da antiga Performa M106? Novamente a resposta é: apenas o gabinete, pois todo o resto é novo. Novos drivers, novo crossover e acabamento mais elegante. A M126Be também utiliza o novo tweeter de berílio. Um material com um excelente equilíbrio entre rigidez, leveza e excelente amortecimento, mas ainda caro e bem difícil de fabricar, em relação aos falantes em tecido ou alumínio.
A lente acústica que circunda o tweeter é a quinta geração fabricada pela Revel. Ela controla a direcionalidade do tweeter para que ele case perfeitamente com a passagem do médio/alto para os agudos, além de melhorar drasticamente a dispersão lateral dos agudos, fora do eixo de audição.
O novo falante de de médios-graves de 16,5 cm (6.5”) possui um cone de alumínio com revestimento de cerâmica para melhorar ainda mais a rigidez do alumínio e controlar a ressonância. A bobina de voz foi totalmente revisada, melhorando – segundo o fabricante –
drasticamente a distorção e a dinâmica. O crossover também foi totalmente redesenhado e a caixa, ao contrário do modelo testado na edição passada, não aceita bi-cablagem.
Existe muita controvérsia sobre o que é melhor (mono ou bi-cablagem). Minha experiência simplesmente diz: depende exclusivamente de cada projeto. Minhas caixas, na sua esmagadora maioria foram mono-cabladas, por escolha e pelo fato de ser uma economia e tanto no custo de cabos. O problema para mim é outro: os jumpers que saem de fábrica com as caixas bi-cabláveis são geralmente ruins (fato constatado em dezenas de caixas testadas pela revista), o que prejudica muito aos que não querem ou não podem comprar um segundo cabo.
A Performa M126Be segue o design de um gabinete curvo com a traseira mais estreita que a frente. O duto dos graves está colocado acima dos terminais de caixa, sendo bem avantajado pelo tamanho do gabinete (apenas 37 cm). A Revel oferece quatro opções de acabamento: preto, branco, nogueira e prata. O modelo enviado para teste foi o branco metálico.
Impressiona a rigidez do gabinete e seus 10 kg! Sua forma nos lembrou um alaúde, com uma frente de 21 cm e sua traseira se apenas 11 cm, e sua altura de 38 cm na frente!
Um detalhe essencialmente importante será a altura e o posicionamento das caixas na sala de audição. A Revel vende separado um pedestal para essas caixas, e o que chama a atenção é a altura desses pedestais (quase 64 cm), o que indica que o tweeter não deve ficar à altura dos ouvidos e sim, ligeiramente acima. Então, aos futuros interessados, essa dica é fundamental para se tirar o melhor proveito dessa bela bookshelf!
Como não tivemos acesso ao pedestal original, mas munidos dessa informação, usamos o pedestal da Magis (nossa referência) e buscamos adequar a altura, para dar às M126Be as melhores condições de nos mostrar suas habilidades sônicas.
Vieram com menos de 40 horas de queima, então fizemos a primeira audição, fizemos nossas anotações iniciais, e as deixamos amaciando por 100 horas.
Ela foi ligada nos seguintes equipamentos. Integrados Pass Labs 25T e Sunrise Lab V8 SS. Powers CH Precision A1.5 (leia Teste 1) e Nagra Classic (estéreo e mono). Cabos de caixa Dynamique Halo 2, Feel Different FD III, e Sunrise Lab Quintessence. Fonte analógica toca-discos Acoustic Signature Storm, cápsula Soundsmith Hyperion 2, braço SME Series V, pré de phono Boulder 500, e cabos de braço, interconexão e força Sunrise Lab Quintessence. Fonte digital transporte dCS Scarlatti e os conversores TUBE DAC e HD, ambos da Nagra.
Com 140 horas de amaciamento, voltamos a M126Be para nosso primeiro contato, ligado ao nosso sistema de referência. A melhora foi tão significativa, que a audição programada para duas horas no máximo, se estendeu por quase quatro horas! Lembrou-me de imediato os melhores monitores com que trabalhei em nossas gravações, tanto para a Movieplay como para a Cavi Records.
Sua sonoridade é de uma limpeza sem, no entanto, cair para o lado do asséptico. Seu equilíbrio tonal, neste momento do amaciamento, ainda que não estivesse ‘estabilizado’, nos permitiu notar que era de uma integridade de cima abaixo, sem nenhum pico ou vale dentro do espectro audível.
A M126Be, ainda que precisando do dobro do amaciamento, mostrou nessa audição mais longa alguns dos seus atributos sonoros, como: detalhamento impressionante (principalmente em microdinâmica), velocidade, foco, recorte e planos.
Com 250 horas, a Revel entrou definitivamente em teste. No primeiro momento, ligamos a M126Be com o integrado da Pass Labs Classe A de apenas 25 Watts por canal (o teste sairá na edição de Julho). Meu interesse era saber se o integrado daria conta da caixa e como se comportaria este conjunto em termos de sinergia (já que ambos foram feitos para salas de até 25 m²).
A assinatura sônica do Pass Labs, quente e sedosa, aliada aos cabos Feel Different FD III, deram à book Performa uma sonoridade muito interessante, pois não perdeu em nada seu alto grau de detalhamento, e ganhou texturas e ainda mais invólucro harmônico na região média e média-alta, muito interessante para instrumentos de sopro de madeira (no momento da instalação estava a escutar o saudoso Paulo Moura tocando clarinete).
Como os cabos da Feel Different estão ainda em amaciamento, acabei colocando a Performa no nosso sistema de referência. É uma caixa que impressiona pela facilidade com que organiza o acontecimento musical e a facilidade com que amplia o palco sonoro, para muito além do seu espaço físico. A largura, assim como a profundidade, são magistrais!
Mas, para se atingir este patamar, lembre-se: a altura das caixas em relação ao ouvinte será crucial! Os ouvidos precisam estar exatamente na altura da passagem do médio-grave para o tweeter (certamente a lente colocada em volta do tweeter é que nos permite ter essa localização espacial tão precisa). Devidamente ajustado à altura, o ouvinte não só terá este palco majestoso como também um foco e recorte cirúrgico e de tamanha precisão que temos uma imagem sonora realmente holográfica!
Antes de continuar, tenho que fazer um outro lembrete: a distância entre as caixas e o posicionamento delas na sala é de suma importância também. A M126Be necessita de respiro entre elas e as paredes para dar o seu melhor! No mínimo 50 cm das paredes laterais e 1 m da parede às costas delas. Para um grave consistente em termos de energia e corpo, o ideal de abertura entre elas (de tweeter à tweeter) é de 2,90 à 3,00 m. Agora, se o ouvinte preferir um toe-in mais acentuado (quando não se vê mais as paredes laterais das caixas, a parte de dentro do gabinete), diminua a distância entre elas para no máximo 2,60 m.
Gostei mais delas com um leve toe-in de apenas 15 graus em relação ao ouvinte. Pois, se acentuava demasiadamente o ângulo das caixas para o centro de audição, nas gravações com pequenos grupos, ganhava em proximidade dos músicos, mas perdia em arejamento e planos. É uma questão de gosto – o que importa é a versatilidade deste book em atender ao gosto do freguês, mostrando que são caixas muito fáceis de serem ajustadas e de enorme compatibilidade com cabos e sistemas de qualidade.
Tomados esses cuidados (arejamento entre as paredes e altura do pedestal), é uma das books que testamos nos últimos três anos mais interessantes e refinadas. Não possui o mesmo peso e autoridade que extraímos da Paradigm Persona (que também utiliza tweeter de berílio), e nem a riqueza harmônica da Boenicke W5SE. Mas diria que ela se encaixa entre essas duas books que tanto nos impressionaram!
Seu equilíbrio tonal, mesmo faltando a primeira oitava nos graves, não tende para uma projeção dos médios-graves (muito comum nas books), ou uma luminosidade a mais nos agudos. Ela compensa essa limitação (física) com um corpo harmônico muito correto para o seu tamanho, precisão e velocidade nos graves a partir de 50 Hz que não só nos convence, como torna as audições muito sedutoras.
Sua região média é translúcida, tanto em termos de inteligibilidade como de materialização física do acontecimento musical. Este encanto é que nos remete a fazer uma analogia com excelentes monitores de estúdio. Pois como os melhores monitores, a Revel nos mostra os detalhes de cada gravação sem nos perdermos do todo, ou ficarmos o tempo todo querendo mais peso nos graves (a não ser é claro que você só escute órgão de tubo, percussão japonesa e tuba).
Como um excelente anfitrião, ela nos garante audições memoráveis, para o ouvinte que deseja ir além de ouvir suas músicas, preferindo fazer um mergulho nos detalhes daquela gravação. Uma imersão no âmago ou cerne do acontecimento musical. Essa foi a proposta dos engenheiros da Revel.
Seus agudos possuem notável velocidade, corpo e um decaimento digno das melhores caixas hi-end da atualidade. Aqui os cuidados são os mesmos com todas excelentes caixas: cabeação à altura e eletrônica idem. Com seus pares corretos, o ouvinte jamais será traído por uma última oitava da mão direita com som de vidro ou pratos de condução que parecem frigideiras. Seu respiro é digno de nota, pois nos fazem perceber as ambiências sem nos desviar do todo.
Alguns audiófilos (principalmente no início da longa jornada) adoram se prender aos detalhes e, claro, mostrar esses detalhes que apreciam aos amigos. E parece que temos verdadeiramente ‘fixação’ pelos extremos: assustar os amigos com graves poderosos e pirotécnicos ou agudos sedosos e palpáveis. Essa Revel não se destina à essa fase infantil audiófila. Ela será apreciada somente mais adiante, quando já experimentamos todas as pirotecnias possíveis e já nos cansamos de deixar a música em segundo plano!
A M126Be é uma book capaz de nos fazer esquecer o mundo lá fora (com ou sem pandemia) e nos dedicarmos exclusivamente a ouvir música.
Outra característica que a coloca exatamente entre a W5SE e a Persona é sua reprodução de corpo harmônico. Ainda que não tenha o mesmo ímpeto de ambas, consegue uma reprodução muito coerente e homogênea. Assim o ouvinte percebe as diferenças entre o corpo de um contrabaixo e um cello, ou uma flauta e um flautim. O que pode parecer um preciosismo nosso, mas que na verdade é essencial para enganar nosso cérebro de que não se trata mais de reprodução eletrônica (principalmente para os leitores que possuem como referência música não amplificada). Pois do que adianta ouvirmos um sistema com um bom equilíbrio tonal se todos os instrumentos possuem o tamanho de uma pizza brotinho?
Essa é a maior limitação dos fones de ouvido e, consequentemente, de maior fadiga auditiva. Nos fones, todos os instrumentos são diminutos.
Gostei muito da M126Be – entrará para a minha lista de books que conseguem contornar honestamente as limitações físicas, oferecendo em troca refinamento, coerência, equilíbrio e muito conforto auditivo.
Excelente para ambientes de 12 a 20 m2. Ligada à uma boa eletrônica e com cabos decentes, pode perfeitamente ser a caixa definitiva para um bom sistema Estado da Arte minimalista (fonte, integrado, e elas).
O que mais chamou nossa atenção é o alto grau de equilíbrio entre detalhamento e musicalidade, jamais ultrapassando o limite deste ‘tênue’ ponto.
Óbvio que não fará milagre com gravações sofríveis tecnicamente, mas consegue manter-se ‘focada’ no todo, como todo excelente monitor, de entregar fielmente o que está recebendo de sinal.
Versátil e capaz de reproduzir qualquer gênero musical, é uma das melhores opções que se tem no mercado atualmente. Ainda que não seja uma book barata, seu acabamento e sua performance valem o que custa!
Certamente, junto com a torre, estará entre os melhores produtos do ano!
Excelente detalhamento e refinamento musical.
Cuidados com pedestal e colocação na sala (precisa de arejamento entre as paredes).
Tweeter | Domo de berílio de 1 polegada |
Crossovers | Capacitores de filme e indutores de núcleo de ar |
Guia de ondas | Lente acústica de 5ª geração |
Grades | Magneticamente conectadas |
Mid-woofer | Cone DCC |
Resposta de freqüência (-6 dB) | 54 Hz – 44 kHz |
Potência recomendada do amplificador | 50 – 150 Watts |
Frequências de crossover | 1.7 kHz |
Impedância nominal | 8 Ohms |
Sensibilidade | 86 dB (2,83 V @ 1 M) |
Acabamentos | preto brilhante, branco, nogueira e prata metálica |
Dimensões (L x A x P) | 211 x 386 x 262 mm |
Peso líquido | 9,97 kg |
CAIXA REVEL PERFORMA M126Be | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 10,0 | |||
Soundstage | 12,0 | |||
Textura | 11,0 | |||
Transientes | 11,5 | |||
Dinâmica | 10,0 | |||
Corpo Harmônico | 10,0 | |||
Organicidade | 11,0 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 87,5 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
AV Group
contato@avgroup.com.br
11 97959.5047
R$ 51.620