Fernando Andrette
Quero que o amigo leitor preste muita atenção neste teste, pois ele quebrou inúmeros paradigmas que venho ressaltando há tanto tempo, e que às vezes me sinto ‘pregando no deserto’.
E quais são esses paradigmas? Primeiramente: o velho problema de que produtos hi-end são caros e inacessíveis! Segundo: de que produtos compactos que oferecem um ‘pacote’ de soluções nunca oferecem tudo no mesmo nível de performance. E terceiro: que o hi-end não consegue atender ao consumidor que deseja algo bom, barato e com um design moderno e compacto. Pois o Artera Solus soluciona todas essas três questões de forma criativa e muito consistente.
Foi sem dúvida um dos produtos que mais nos deu prazer em ouvir e testar. E a certeza de que o hi-end está realmente se tornando acessível a todos que clamam por uma qualidade sonora com conforto auditivo, sem se preocupar em vender a ‘alma’ ao sistema financeiro.
O belo Artera Solo Play foi projetado pelo veterano engenheiro da Quad, que foi o responsável por toda a série Artera: Jan Ertner. Ele e sua equipe, ao desenvolver esta nova série, tiveram em mente atender tanto ao audiófilo que sempre admirou a marca, como também o melômano que sempre sonhou em ter um Quad, mas esbarrava no quesito ‘preço’!
No pacote, o consumidor estará levando: um pré-amplificador de linha, um power de 75 Watts classe AB (e não um classe D), um amplificador de fone de ouvido, um DAC com Streamer e, pasmem: um transporte de CD, construído sob encomenda pela JVC.
Ou seja, a Quad ainda, como eu, acredita que muitos audiófilos e melômanos não caíram no canto da sereia, e desejam manter sua coleção de discos platinados. Por isso meu enorme interesse em testar o Artera Solo, quando o Fernando Kawabe o colocou à disposição para teste.
No painel frontal, como de toda a série, temos uma tela circular de 2 polegadas com todos os seus controles de toque, o slot de carregamento de CD, o comando para ejetar o disco e o botão standby. Um pouco abaixo desses comandos temos a saída de fone de ouvido, e um receptor infravermelho para o controle remoto – este funcional e completo. No painel traseiro temos: duas entradas analógicas (RCA) e cinco entradas digitais, uma USB (tipo B), duas óticas e duas coaxiais. Existe também uma saída analógica variável, caso o consumidor deseje usar um power com maior potência. E os terminais de caixa estéreo, e a entrada IEC.
Tenho absoluta certeza que 100% dos consumidores utilizarão o controle remoto, pois como nele se encontra todos os comandos, o usuário não precisará ficar memorizando-os na tela de 2 polegadas. Então mantenha sempre pilhas de reserva, para o controle remoto da Quad.
O que mais irá chamar a atenção do comprador do Artera Solus Play, de imediato, é seu peso e construção, que o colocam em um lugar no topo em matéria de produtos compactos bem feitos e bem projetados.
Se, além de mídia física, o ouvinte tiver música em seu computador, basta conectar na entrada USB e providenciar o download do driver DSD Artera Quad – é fundamental este procedimento para desbloquear gravações superiores a 24/96 PCM e compatibilizar com resoluções DSD 256.
Para o teste, utilizei o Innuos Mini Zen com fonte externa, e vários cabos USB ligados no Artera Solus Play, assim como o transporte da Nagra utilizando a entrada coaxial. Além de tocar todos os discos da Metodologia diretamente no Artera. As caixas acústicas utilizadas foram: Elipson Legacy 3210, Elac Debut Reference DFR 52 e, só por curiosidade, vi como os 75 Watts do Quad soariam na Wilson Audio Sasha DAW. Mas claro que, por uma questão de coerência, a caixa que fechou o teste do Artera, e que passamos todos os discos da Metodologia, foi a Elac. E foi um casamento exemplar! Tanto em termos de compatibilidade, assinatura sônica e preço, claro.
O Artera veio com aproximadamente 80 horas de uso, o que ajudou muito no tempo de amaciamento, e nos permitiu desde a primeira impressão deixá-lo sempre à mão, para nos ajudar a amaciar alguns cabos USB, de força e de interconexão que estão em fase de queima.
Para o fechamento de nota, utilizamos o cabo USB da Oyaide Continental 5S V2 (leia teste na edição de agosto) e o cabo de força também da Oyaide, modelo Tunami GPX-R V2.
O ideal é o consumidor deste produto ter paciência, e aguardar pelo menos 150 horas antes de sair apresentando aos amigos seu ‘novo brinquedo’, e não se esquecer de também realizar devidamente a queima do seu DAC interno por este mesmo período de tempo. Para ser bem criterioso, me pareceu que o DAC se beneficiará de mais umas 30 a 50 horas além do pré e power.
O processador do DAC do Artera é o ESS Sabre ES9018, com opção de quatro filtros e, na conversão do CD interno, somente os filtros Smooth, Wide e Fast podem ser acionados. O fabricante chama de filtro padrão o Smooth, e o descreve como uma resposta plana para a reprodução de um som claro, suave e aberto. O filtro Wide é descrito com uma taxa de atenuação bem suave e um excelente domínio de tempo. O filtro Narrow é descrito como ideal para uma reprodução mais limpa, detalhada e menos ‘artificial’.
E o filtro Fast – disponível apenas para fontes externas digitais – como seu nome diz, tenta deixar a resposta de transientes mais precisas, e as duas pontas com maior extensão.
Eu sinceramente sou muito descrente de todos os filtros que tive a disposição, em centenas de DACs e CD-Players testados, pois cada filtro em um determinado disco soa de forma muito distinta e, outras vezes, de forma tão sutil, que fico me perguntando se realmente se trata de um recurso tão necessário. Meu DAC atual não possui nenhum filtro, e o DS-10 da Gold Note (leia nesta edição Teste 1) possui mais de uma centena de opções de filtros (fora os que você pode personalizar) – e depois de testar por 10 dias uns 30 filtros, e ver que também cada um funcionava para um determinado disco e outro não, desisti, e acabei encerrando em teste sem utilizar nenhuma das centenas de opções. Pois o DAC soou tão bem com todos os discos, sem este recurso, que deixo para quem aprecia passar os dias descobrindo esses recursos adicionais.
Então, depois de ver as opções dadas pelo Artera Solus, eu fechei a nota do produto no filtro Smooth. Li nos fóruns que inúmeros usuários também preferiram este filtro, mas alguns reclamaram que o foco da imagem se tornou menos preciso. Sinceramente, não foi este o caso aqui em nossa sala com as caixas corretamente posicionadas. Pelo contrário, o foco e o recorte foram muito precisos.
Mas o que me chamou a atenção do Artera Solus, é como foi bem resolvido pelo fabricante a tão difícil equação entre transparência e musicalidade. Foi muito feliz em termos de resultado, pois temos um grau de envolvência com o acontecimento musical que se mostrou a escolha certa. A música está sempre em primeiro plano, e não os detalhes.
Seu equilíbrio tonal é bastante correto, com graves presentes, em corpo, extensão e energia – fazendo-nos duvidar dos seus 75 Watts. E o principal: autoridade! A região média é quente, sedosa, com boa transparência, mas nunca de forma a fazer o detalhe se sobressair ao acontecimento musical. E os agudos, ainda que não tenham muita extensão, possuem velocidade, decaimento suave e bom corpo.
O soundstage é maior em largura e altura, do que em profundidade. Mas nenhum problema em gravações com excelente holografia 3D, em termos os planos bem posicionados no imaginário palco sonoro.
Gostei muito da apresentação das texturas (graças ao muito bom equilíbrio tonal), e a capacidade de nos apresentar as intencionalidades tanto técnicas como artísticas, nos deixando apreciar as diversas qualidades de gravações de quartetos de cordas.
Os transientes são corretos, com excelente apresentação de tempo e ritmo. Para os amantes de música amplificada, o Artera Solus faz excelentes apresentações neste quesito.
A microdinâmica é muito boa, graças ao seu grau de transparência, e a macro é justa em mostrar os degraus dinâmicos, mas sem nenhuma pirotecnia. Se você é um adepto de coices no peito, o Artera Solus não será o parceiro certo. Mas, para todos que apreciam a música mais do que os tiros de canhão, com a caixa correta em termos de sensibilidade a macrodinâmica é muito boa.
O Corpo Harmônico foi outra grata surpresa, pois é difícil nesta faixa de preço termos um corpo tão próximo do que foi gravado.
E a organicidade, nas gravações com excelente nível técnico, nos colocou os músicos à nossa frente.
Essa primeira descrição aqui feita foi avaliando o DAC interno, ligado ao Transporte da Nagra com os cabos coaxiais Quintessence Aniversário da Sunrise Lab, e Virtual Reality.
A seguir, repassamos toda a Metodologia ouvindo os discos no transporte do próprio Quad. O nível de performance obviamente caiu, mas não tanto como eu imaginava que aconteceria. E a assinatura sônica (o mais importante), com o equilíbrio entre transparência e musicalidade, foi integralmente preservada.
Nesta situação acho que valerá a pena uma avaliação dos três filtros disponíveis, pois achei que as diferenças ficaram mais ‘audíveis’. Eu continuei utilizando o mesmo filtro quando usando o transporte externo, mas pode ser que muitos prefiram uma das outras opções.
É uma questão de experimentação.
O que mais perdeu? Certamente esta seja a principal pergunta a se fazer. Diria que o equilíbrio tonal perdeu muito pouco (o que é excelente), mas o soundstage, principalmente nas três dimensões, tudo ficou mais apertado (ou, como um amigo percebeu, foi como se tudo tivesse sido gravado em ambientes menores e com menos reverberação).
As texturas perderam um pouco de mostrar a intencionalidade (principalmente as mais sutis). A macrodinâmica perdeu alguns degraus entre o forte e o fortíssimo, e a materialização física ficou um pouco mais difícil de enganar nosso cérebro de que os músicos estavam à nossa frente.
Claro que ninguém irá ligar o Artera Solus Play a um transporte como o nosso de Referência, mas nosso papel é ‘radiografar’ todo o potencial de um sistema que oferece um pacote de opções.
E certamente muitos também terão arquivos em alta resolução em seus computadores e um streamer externo. Então nossa conclusão é que o DAC, o pré de linha e o power do Artera Solus estão no mesmo nível de performance (o que é excelente para a sua faixa de preço) e o transporte interno de CD está uns degraus abaixo do resto.
E o amplificador de fone? Surpreendentemente, está no mesmo patamar do DAC, pré de linha e power! Para o teste do amplificador de fone, utilizamos os fones: Kuba Disco (leia teste na edição da Audiofone deste mês) e o Grado SR325x.
CONCLUSÃO
Conseguir um pacote tão homogêneo e com este padrão de performance, por menos de 18 mil reais, é um acontecimento digno de ser comemorado.
Vou dizer de maneira enfática: se o seu objetivo é construir um sistema minimalista gastando, no pacote completo (sistema e um par de caixas) 25 mil reais, obrigatoriamente você terá que ouvir o Artera Solus Play com alguma boa caixa que custe até 10 mil reais.
Claro que ainda faltará o par de cabo de caixa, e um cabo de força melhor do que a Quad disponibiliza (isso se você acredita que cabo de força seja importante). O cabo de caixa Trançado da Virtual Reality será a melhor opção por menos de 1.000 reais, e o Oyaide utilizado neste teste pode ser uma ótima opção.
Este pacote todo, não chegaria a 30 mil reais! E eu lhe garanto que estará com um sistema hi-end para muitos e muitos anos. Sem restrição alguma a estilos musicais, e com enorme ‘condescendência’ com discos tecnicamente ruins!
Trata-se de uma excelente notícia em um ano tão difícil como este para a humanidade.
AMPLIFICADOR STREAMER QUAD ARTERA SOLUS PLAY (com o transporte interno) | Nota: 76,0 |
AMPLIFICADOR STREAMER QUAD ARTERA SOLUS PLAY (com um transporte externo ou PC) | Nota: 83,0 |
AVMAG #277 KW Hi-Fi (11) 95422.0855 (48) 3236.3385 R$ 15.900 |
Fernando Andrette
Se você não pode se opor, junte-se a eles. Essa é uma solução usada em vários campos de batalha, como nos negócios, nos esportes e na política. E por mais resistente que alguém seja à uma ideia, ou a uma tendência, é melhor saber a hora de depor as armas do que ser visto como aquele ’conservador’ ranzinza!
Eu já vivi essa situação antes, e na minha mente foi logo ali, e não precisos 30 anos atrás! Quando levei até onde foi possível minha resistência em adquirir meu primeiro CD-Player. Fato que só fiz por obrigações profissionais, já que as resenhas que escrevia de música na Audio News deixaram de ser enviadas pelas gravadoras em LP, e passaram a ser entregues apenas em CD.
Não desejo ser o último ‘Don Quixote’ e repetir o mesmo erro, já que os fatos estão aí para não deixar dúvidas que o streaming venceu e, daqui para frente, ou você aceita essa nova realidade, ou estará fadado a não desfrutar de milhares de gravações que jamais irão sair em mídia física!
Então, minha peregrinação por este novo formato começou exatamente no final do ano passado, quando tive acesso a alguns servidores de música e streamer. Os que nos acompanham regularmente, sabem claramente da minha posição em relação à qualidade final desta nova plataforma. E deixo claro, sem firulas, que ainda não chegou lá, quando comparado diretamente com qualquer mídia física (fita de rolo, vinil ou CD), mas que caminha a passos muito mais largos e seguros do que o CD, para muito em breve chegar lá – é muito mais fácil quando já se conhece o caminho das pedras, então certamente não irá por caminhos erráticos por duas décadas, como foi o CD.
Sendo notório o quanto algumas empresas que desenvolvem servidores de música hi-end, estão seguros do estágio que se encontram.
Os nossos leitores têm muitas dúvidas do quanto investir em um servidor de música ou streamer, e essa é uma questão que envolve muitos lados. O que tenho dito é: não se desfaça de sua mídia física e, se for necessário abrir mão do CD-Player ou transporte, invista em uma servidor de música que consiga ripar seus discos com a melhor fidelidade possível.
E lembre-se: mantenha o melhor DAC possível, ainda que o servidor de música possua um DAC interno de boa qualidade.
A outra questão essencial: invista no melhor cabo digital entre seu servidor e seu DAC. Independente do cabo ser USB, coaxial ou ótico. E se tiver que ripar todos seus CDs, certifique-se que a qualidade não o deixará frustrado. Pois ouvir um disco de referência que não soa mais como você ouvia, é frustrante demais (algo que creio ser inconcebível para grande parte de nossos leitores).
Outras perguntas que me fazem: o que acho ainda tão distante da mídia física? Depende da mídia. Se for a digital, os pontos fracos do streamer são: textura, soundstage, corpo e, nos mais modestos, equilíbrio tonal. Em comparação com as mídias analógicas, aí o buraco é mais embaixo ainda.
Então, para mim, ele não me atende satisfatoriamente nem para uso pessoal e muito menos para uso profissional. Tanto que consigo ouvir ele no nosso Sistema de Referência, no máximo por 2 ou 3 horas. E somente para conhecer novas gravações, nunca para ouvir algo que eu tenha em mídia física. Acho que deixei ’explícita’ a minha opinião pessoal em relação aos servidores de música, mas isso não me isenta de testá-los e apreciar as evoluções consistentes alcançadas recentemente.
O Servidor de Música Innuos Zen Mk3, de todos que tive acesso neste ano, é o que mais me surpreendeu (principalmente a qualidade das cópias dos CDs, dos rips) e ele traz enormes melhorias na reprodução de streaming em relação aos outros testes já publicados.
A Innuos é um fabricante relativamente novo. Fundada em 2009 por Nuno Vitorino e Amelia Santos, é uma empresa que mantém um pé no Reino Unido, onde os produtos são concebidos, e o outro pé em Portugal, onde são fabricados. Não sei como ficou essa logística com a saída do Reino Unido da União Europeia, mas me parece que nada foi alterado.
O conceito da empresa sempre foi oferecer streaming de música digital em sistemas de áudio hi-end. E, como todo começo tem uma história, a de Nuno Vitorino foi que ele montou seu primeiro servidor de música em sua garagem, mostrou aos amigos, parentes, ofereceu no eBay, e vendeu mais de 200 unidades em apenas seis meses! Este foi o ‘sólido’ pontapé inicial na carreira deste promissor projetista, com uma mente muito aberta e capaz de encontrar soluções onde os outros veem obstáculos.
A Innuos, no momento, possui quatro produtos: o Zen Mini, Zenith Mk3, Zen Mk3, e o topo de linha, o modelo Statement.
O produto que mais vi comentários entusiasmados nos fóruns internacionais, foi o Zen Mk3, pois parece ser, de todos os quatro produtos, o que possui melhor relação custo/performance. Dizer que é uma unanimidade é um risco desnecessário (principalmente nos dias atuais em que as pessoas andam com os nervos à flor da pele), mas é de longe o produto mais comentado e elogiado e, antes da pandemia, o queridinho dos eventos de áudio internacional, presentes em dezenas de salas de demonstração. Então foi fácil definir o primeiro Innuos que gostaria de testar aqui no Brasil.
Em termos de recursos, o consumidor pode começar com a versão inicial, de 1 TB, e ir realizando upgrades no HD até chegar a
3 TB, se desejar ou necessitar. Todos os produtos Innuos possuem apenas saídas USB e de rede, para que o consumidor possa usar um DAC com entrada USB, e portas Ethernet duplas com transformadores de isolamento para filtrar ruídos e melhorar a qualidade de som. Uma porta é utilizada para os dados de entrada e a outra para os streamers conectados. Você pode, por exemplo, ignorar seu roteador e conectar um streamer adicional diretamente ao Zen, por meio de uma segunda entrada Ethernet que oferece (segundo o fabricante) um sinal mais silencioso quando comparado a uma conexão direta do roteador.
Com um gabinete modesto, mas muito bem acabado, o Zen não será a ’menina dos olhos’ de nenhum setup – até entrar em operação e mostrar suas virtudes!
Se você não abre mão de uma tela LCD no seu music server, esqueça o Innuos, mas se sua essencial preocupação é confiabilidade e performance, este é um produto a ser considerado em qualquer linha de frente.
O novo Zen Mk3 teve muitas mudanças em relação à versão anterior. Agora ele utiliza uma nova fonte de alimentação linear com reguladores de ruído ultrabaixo (40 uV), pés anti-vibração assimétricos, memória de 4GB para reprodução, e 8GB de RAM total. O Zen Mk3 carrega sua música diretamente para a memória para a reprodução, não sendo necessário conectar o disco rígido. Com isso, a Innuos afirma que a qualidade do som é ainda melhor (fato que concordamos integralmente).
O Zen Mk3 pode ser conectado ao seu roteador wireless ou diretamente via cabo. Depois de definida essa etapa, você só precisa entrar no “my.innuos.com” em seu smatphone ou navegador desktop, para acessar o painel de controle Innuos. Você terá uma enorme quantidade de opções para incluir: uma interface para ripar seus CDs, seleção de modo, rotina de backup e importação de arquivos de música.
Caso você não tenha o Roon (nossa mais veemente escolha para quem vai utilizar qualquer modelo da Innuos), você também pode usar o aplicativo iPeng 9, que funcionará com iPhone, iPad ou iPod touch. Ou o aplicativo Squeezer, para telefones Android, que é gratuito.
Utilizamos durante todo o teste as plataformas Qobuz e Tidal. E, depois de programado, o Zen Mk3 se conectou sem nenhum problema, sendo fácil de navegar e tendo tudo à mão sempre. Para o comparativo entre o disco ripado e as mídias originais físicas, copiei todos os discos utilizados na nossa Metodologia de Testes, mais uma coleção de 20 DSDs (incluindo os dois lançados pela CAVI Records: André Mehmari e André Geraissati). Também utilizei algumas produções musicais do meu filho, armazenadas em seu
notebook em 24-bit / 96 kHz, para ouvir passando pelo Zen e diretamente ligado ao TUBE DAC da Nagra.
Tivemos a oportunidade de ficar por dois meses com o Zen Mk3, o que nos deu tempo de folga para ouvir muita música em todas as formas permitidas por este servidor de música.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Nosso Sistema de Referência (na maior parte do tempo), os integrados Hegel H390, e Sunrise Lab V8 SS. Cabos USB: Dynamique Zenith Mk2, e Quintessence da Sunrise Lab. Caixas acústicas: Wilson Audio Sasha DAW, Elipson Legacy 3230, e Q Acoustics Concept 300. Cabos de força no Innuos: Transparent PowerLink MM2, G5 Reference, e Sunrise Lab Quintessence. Cabos de caixa: Dynamique Apex, Sunrise Lab Quintessence, e Feel Different FDIII.
Como escrevi no último Espaço Aberto, edição de dezembro, é inegável o universo que temos acesso ao assinar uma plataforma como Tidal, e descobrir uma infinidade de excelentes gravações. Neste momento, minha coleção pessoal no Tidal é de 976 discos. Alguns realmente espetaculares artisticamente. E foi por essa coleção de excelentes gravações que iniciamos nossas observações.
Como não vi em lugar algum sugestão de tempo de amaciamento, resolvi começar por ouvir sem fazer nenhum tipo de anotação inicial. Comparando apenas o Zen Mk3 com os mais recentes concorrentes que tive a oportunidade de escutar em nossa sala. A diferença do Zen Mk3 para os dois Cambridges que testei é um sistema solar inteiro! Trata-se de outra louça – não há nenhum tipo de comparação possível.
As pontas tem muito maior arejamento, o equilíbrio tonal pode ser considerado corretíssimo e, com isso, temos uma apresentação de texturas muito mais próximas do que apreciamos nas mídias físicas. A primeira diferença foi tão imediata, que consegui escutá-lo por quase 4 horas sem perda de interesse ou resquício de fadiga auditiva. E nessa primeira audição, os discos escolhidos foram todos pela qualidade artística e não técnica.
Animado, comecei o segundo dia com inúmeras gravações do selo ACT (leia Playlist da edição de dezembro). Separei 20 discos e os escutei na íntegra. Como tenho apenas 4 CDs em mídia física deste selo, procurei no Tidal essas gravações para fazer um aXb no final do dia.
Fiquei surpreso como o Zen Mk3 consegue resolver um problema por mim citado em todos os music server que já escutei ou testei: a sensação de um som sempre mais bidimensional. Mesmo em gravações em que este quesito é uma referência em termos de largura, profundidade e altura.
Pela primeira vez, os instrumentos tinham um foco, recorte e planos corretos e muito mais próximos da mídia física. O que privilegia enormemente o conforto auditivo e faz com que o nosso cérebro relaxe e aprecie os detalhes. Realmente o padrão de qualidade das gravações do selo ACT são de muito alto nível! Se você deseja gravações de alto nível artístico e técnico, vale a pena conhecer este selo!
No final do dia, fiz a ’a prova dos nove’: ouvi primeiro o streaming dos 4 discos que tenho em mídia física da ACT, e depois coloquei o CD. Continua sendo uma covardia, amigo leitor. Em resumo, diria que com o streaming estamos ouvindo os músicos a uma distância que não nos permite interagir com o acontecimento musical. É tudo ‘plasticamente’ correto, nada que desabone, mas quando se troca para a mídia física, os músicos estão lá, à nossa frente materializados, respirando conosco no mesmo ambiente.
Um grande amigo que coloquei esses 4 exemplos para ouvir nas duas versões, sintetizou bem – para ele o streaming é apenas o espectro físico, sem a materialização. Achei perfeito, pois é o que falta para o seu cérebro deixar de ficar em dúvida e fazer a imersão final!
Curioso com as diferenças, ripei os quatro discos, para mais adiante voltar a fazer o mesmo comparativo.
Como sou extremamente metódico e cuidadoso com a aplicação da Metodologia, trabalhei minha curiosidade e deixei essa etapa para a fase derradeira de notas.
Em termos gerais, a performance do streaming nos oito quesitos de nossa Metodologia foi excelente, pois se mostrou um equipamento Estado da Arte de muito bom nível. E arrisco dizer que certamente atenderá a todas as expectativas de 80% de nossos leitores.
E se tivesse que escolher um Servidor de Música neste momento, para poder ser nossa referência de teste para futuros servidores, eu ficaria com este Zen Mk3 sem pestanejar. Pois seu custo/performance é excelente.
Mas, como nossas referências musicais são todas mídias físicas, prefiro investir menos em um bom servidor e melhorar outros componentes do sistema que acho mais primordiais. Como receberemos em breve o Zen Mini com fonte externa para teste, se ele me atender como servidor para reproduzir minha coleção pessoal, será este o investimento em streaming para 2021. Pois uma coisa é certa, não dá para adiar por mais tempo este investimento, tanto pela seção Playlist mensal, como para estar atualizado com os lançamentos musicais só existentes nesta plataforma.
Então, amigo leitor, no final teremos a nota do Zen como reprodutor de streaming e como leitor de mídia física copiada no seu HD interno.
Depois de três semanas curtindo minha coleção pessoal, e ‘pescando’ mais algumas preciosidades para escutar no Zen Mk3, passei a ouvir os discos da nossa Metodologia e os produzidos por nós. Afinal são gravações que conheço em detalhes.
Fiquei surpreso com a qualidade e fidelidade do rip. Aqui, nessas condições, se você não tiver como fazer um aXb, você se dará por satisfeito. E não achará nenhum problema em conviver com toda sua coleção ripada pelo Zen Mk3. As diferenças são bem menores que ouvindo a versão streaming. Existem? Sim, mas agora estamos falando de detalhes, como quando comparamos, em um sistema muito bem ajustado e sinérgico, cabos de caixa ou powers do mesmo padrão.
O que aqui buscamos, nesse caso, é entender as diferentes assinaturas sônicas e não diferenças entre o certo e o errado (este é um tema que ainda terei que abordar neste ano, pois muitos ainda teimam em achar que em áudio não existe certo ou errado – trataremos deste assunto em algum Opinião neste ano).
Então, a atenção precisa ser redobrada, pois muitas diferenças estão no domínio da ’sutileza’. Mas, em um sistema correto, serão perceptíveis, em todos os quesitos da Metodologia. Peguemos o Água de Beber, do Genuinamente Brasileiro vol 2. A moringa e o violão atrás das seis vozes que estavam à frente (a mais de 2 metros à frente): na mídia física este maior arejamento entre as vozes (uma ao lado da outra) é muito mais bem recortado, e o silêncio em volta de cada voz e dos dois instrumentos acompanhantes, muito mais bem delineado em termos de espaço físico. No Zen Mk3, este silêncio e o arejamento é menor – sem, no entanto, comprometer o foco, recorte e planos.
Vamos ao quesito Textura, nesta mesma faixa. As cordas de nylon do violão são muito mais naturais e precisas na mídia física, assim como os ataques na moringa, feitos com o anel no dedo indicativo da mão direita do músico (viu como é essencial estar presente na gravação para poder ter os detalhes dos detalhes?). O mesmo ocorre com as inflexões das três vozes femininas e masculinas, sendo mais precisas, orgânicas na mídia física.
Não vou me estender pelas 100 faixas utilizadas para fechar as notas de cada quesito, mas um último exemplo se faz necessário, que é nossa gravação DSD do Lachrimae do André Mehmari. Uso muito a faixa 12 para o fechamento de nota do equilíbrio tonal e transientes. Tem uma nota em que ele usa a técnica de dobrar os dedos para atacar a nota. Aliás, uma nota na última oitava da mão direita, o que mostra escancaradamente a qualidade de resposta de transiente como também o equilíbrio tonal nos agudos (novamente um exemplo de certo ou errado no áudio, que tantos ignoram). Já ouvi inúmeras barbaridades neste exemplo, que só ele daria para escrever dois artigos da seção Opinião.
Em sistemas com transientes ‘flácidos’, parece que ele ataca a nota com displicência, ou menor intencionalidade. Enquanto que em sistemas com resposta de transientes corretos, o sujeito que estiver sonolento dará um pulo na cadeira e acordará imediatamente. E, quanto ao agudo, já vi sistemas caríssimos reproduzirem essa nota como se o piano fosse de vidro e o martelo da tecla não tivesse feltro algum. Ou seja, de doer o tímpano esquerdo (pois essa nota soa dentro da caixa esquerda, pois pusemos a posição real que o piano estava na sala de gravação, com a mão direita, as teclas agudas, mais próxima fisicamente do ouvinte – estes detalhes de ‘real time’ e posição física dos instrumentos na sala de gravação, fazem toda a diferença para que seu cérebro acredite não ser mais reprodução eletrônica). No Zen Mk3, felizmente esses erros não ocorreram, o que se mostrou diferente da mídia física foi apenas no ataque do transiente e um nadinha a menos de extensão no decaimento da nota.
Mas, som de vidro ou flacidez? Nenhuma possibilidade!
CONCLUSÃO
O Zen Mk3 é um excelente servidor de música, e o seu pacote entrega absolutamente tudo que se propõe.
Para os que decidiram trilhar essa estrada e abrir mão de qualquer mídia física, não conhecer este Innuos será um erro imperdoável, e que pode levá-los a lamentar posteriormente.
Como todo produto hi-end de ponta, exige cuidados como cabos, instalação, assinar o Roon para ter a melhor performance possível, e um DAC de alto nível. É o melhor servidor de música que testamos até o momento e pode atender perfeitamente o usuário que deseja descomplicar seu sistema, deixando-o mais minimalista sem perder o padrão de qualidade já alcançado.
Como toda nova topologia tecnológica, a briga será cada vez mais acirrada, então os fabricantes que no momento despontam em termos de confiabilidade, praticidade e performance, devem ser colocados como as melhores opções em qualquer lista.
Altamente recomendado, principalmente aos que decidiram abrir mão de suas mídias físicas. O Zen Mk3 irá preservar suas gravações de maneira muito competente!
Para os leitores ainda com muitas dúvidas a respeito da plataforma Roon, pedi a um querido amigo, estudioso, usuário e apaixonado por tecnologia digital, que fizesse um artigo didático explicando as vantagens do Roon. Achei melhor colocar o texto do Antônio Buarque em um box à parte.
Acho essencial a todos que pretendem entrar neste ’admirável mundo novo’, a leitura, pois certamente ele irá tirar muitas dúvidas que muitos possam ter.
SERVIDOR DE MÚSICA INNUOS ZEN MK3 (como streaming) | Nota: 88,0 |
SERVIDOR DE MÚSICA INNUOS ZEN MK3 (como servidor de música) | Nota: 97,0 |
AVMAG #270 German Audio contato@germanaudio.com.br R$ 24.650 |
Fernando Andrette
Tenho engavetado em meu notebook o esboço de um artigo Opinião, descrevendo minhas observações de como os DACs nos últimos cinco anos mudaram de ‘patamar’. E não falo dos estratosfericamente caros, e sim de todos os DACs, desde os modelos mais ‘de entrada’ aos mais top.
Mas o que mais me chama a atenção nesta ‘evolução’ tão consistente, é que os DACs também se dividiram em duas ‘escolas’ com assinaturas sônicas muito distintas. E este seria o tema desse Opinião: discutir essas duas linhas em que os projetistas de áudio hi-end se embrenharam.
A primeira, e a mais solidificada, vem da virada do século, quando os principais fabricantes de CD-Players, Transportes e DACs hi-end conseguiram corrigir os problemas e as limitações que o digital tinha desde o seu nascedouro, no início dos anos oitenta. Basta dar uma lida nas publicações especializadas da virada de século, para notar que muitos fizeram a ‘lição de casa’ e conseguiram melhorar o corpo harmônico, o equilíbrio tonal e a dinâmica de seus produtos. E deste ponto de ‘ebulição’, as melhorias foram cada vez mais significativas.
No entanto, até cerca de cinco anos atrás, a tendência da grande maioria era possuir uma assinatura sônica que eu batizei de ‘nervosa’, como se fosse preciso ter sempre um grau de tensão adicional para que o digital não ‘falhasse’ nas passagens mais críticas em termos de variação dinâmica. Pois caso não tivesse esta ‘tensão’ permanente, o produto poderia ser confundido com uma sonoridade letárgica. Mas muitos fabricantes também logo perceberam que este grau de tensão adicional trazia efeitos colaterais, como acentuar o que já era ruim tecnicamente, causando fadiga auditiva.
As maneiras de driblar este obstáculo foram muitas. Desde escolher topologias híbridas para amansar esta pujança, ou tentar contornar o problema com cabos digitais com fio de puro cobre, com cabos de força, pré de linha valvulado, etc. Mas um erro não se corrige mudando-o de lugar, principalmente em um setup hi-end.
Outros fabricantes foram ainda mais radicais em suas tentativas, ao retirar de seus produtos filtros e upsampling. E passamos a primeira década deste novo século vendo um desfile de soluções que, ao serem confrontadas com a realidade de uso no dia a dia, não se provaram ser as mais eficazes!
E como eu sei disso? Ouvindo que nenhuma dessas soluções resgataram minha coleção de CDs. Pelo contrário, a cada nova investida na direção de maior resolução, silêncio de fundo, maior poder dinâmico, mais e mais a minha coleção de CDs era reduzida a menos da metade.
Os que nos acompanham há mais tempo, estão exaustos de ver quantas vezes levantei essa questão nas seções Espaço Aberto, Opinião e até mesmo em testes de CD-Players, DACs e Transportes. Pois se tornou um problema recorrente e de difícil solução, já que nenhum fabricante se aventurava a abrir uma nova estrada.
E os que tentavam ‘paliativos’, como uso de válvulas na saída do áudio para ’humanizar’ a digitalite, esbarravam na consequente perda de macrodinâmica, extensão nas altas, detalhamento na região média e, muitas vezes, uma sensação de que a música se tornava mais displicente em termos de tempo e andamento.
Em conversas internas eu sempre defendi que, enquanto a abordagem não fosse mudada, não haveria solução, pois o problema não era ter mais dinâmica e mais resolução, e sim o digital ter mais folga, como o analógico sempre teve.
E no que se traduz essa folga? Na capacidade do sistema reproduzir sem ‘ficar sem fôlego’ nas passagens mais complexas. E a ‘tensão’ só se apresentar quando a música exige. Consequentemente, inúmeras gravações expurgadas seriam resgatadas, o prazer auditivo seria elevado e a fadiga auditiva drasticamente diminuída.
Pois continuar batendo na tecla de melhorar ainda mais a macrodinâmica, para termos maior realismo, se tornou uma obsessão de muitos projetistas e não uma solução. Como diz um amigo meu: “Se queres macrodinâmica em sua sala, invista em um sistema de áudio profissional e não em um sistema hi-end” (e arque com a consequência de ficares surdo rapidamente).
Felizmente muitos fabricantes sacaram que enveredar pela busca do melhor equilíbrio tonal possível traria enormes benefícios na busca desta folga tão almejada, junto com maior conforto auditivo. E hoje o mercado colhe esses frutos de termos as duas opções para o consumidor escolher. Acho isso extremamente salutar, pois permite comparações instantâneas, permitindo que o audiófilo entenda perfeitamente as duas propostas.
Se ele deseja um sistema em que os detalhes sejam integralmente expostos e os fortíssimos surtam como uma patada em seu peito, ou se ele apenas deseja resgatar sua coleção de músicas integralmente.
Desculpe a longa introdução, amigo leitor, mas achei necessário para que você entenda exatamente de que lado o DAC Gold Note DS-10 Plus se encontra. Se o leitor leu atentamente o teste do integrado deste fabricante Italiano, publicado na edição passada, já sabe a resposta.
Mas, se não leu, vamos lá!
A Gold Note é uma empresa com apenas uma década de existência, que tem como filosofia oferecer produtos genuinamente
Hi-End, porém com preços muito mais condizentes com a realidade da esmagadora maioria dos audiófilos do planeta. Sendo assim, eles mantêm uma linha (chamada de entrada) a linha ‘10’, e uma série de produtos top denominada linha ‘1000’.
O interessante é que ambas se conectam o tempo todo. O que isso significa? Que a assinatura sônica de ambas as séries têm o mesmo DNA. E muitas das soluções tecnológicas da série 1000, também são implantadas na série 10. E para que os que não podem ou não desejam comprar a série 1000, podem realizar upgrade no produto da série 10, para deixá-los mais próximos da linha top, com a implantação de fontes externas.
Como disse no teste do integrado IS-1000, o novo distribuidor oficial nos fez a gentileza de enviar para teste dois produtos da série 1000 (integrado e pré de phono) e dois da série 10 (O DAC DS-10 e o pré de phono PH-10) com suas respectiva fontes. O que nos permitiu comparar sonicamente ambas as séries e realizar os testes do DS-10 Plus com e sem a fonte!
Sediada em Florença, no sul da Itália, a Gold Note tem em seu portfólio mais de 50 produtos e conta com uma equipe de engenheiros com uma larga experiência em várias empresas de áudio hi-end na Europa.
O DS-10 foi inteiramente baseado no DS-1000, tendo a mesma filosofia de agregar um DAC, Streamer, amplificador de fone de ouvido e, no caso da versão Plus, um pré de linha analógico. E, ainda que em um gabinete menor, a performance é no mínimo 70% do DS-1000, chegando a 80% com o uso de sua fonte externa (PSU-EVO).
O gabinete segue os mesmos requintes da linha 1000: caixa de alumínio escovado, com uma base e pés para eliminação de
micro-ressonâncias e vibrações do deslocamento de baixa frequência na sala de audição. No seu interior se encontra muita tecnologia de ponta, como ser Roon Ready e ter todos os serviços streaming, como: Tidal, Qobuz, Spotify e Deezer. Suporta Airplay, MQA, acessa armazenamento NAS, bem como faz leitura de drives USB, e é compatível com DSD64 em USB e LAN, e PCM até 24/192 de resolução.
O DS -10 Plus (e só o DS-10), oferece 7 entradas digitais: Ethernet, USB tipo A, AES/EBU, S/PDIF Coaxial, USB DAC tipo B, Toslink 1 e Toslink 2, e tem 2 saídas analógicas (RCA e XLR). Entrada para antena WI-FI, antena Bluetooth e conector GN Link.
Mas o seu grande diferencial é justamente seu DAC, apelidado pelo fabricante de ‘Camaleão’, por ter uma infinidade de recursos exclusivos, caso o audiófilo seja um fã ardoroso de ficar brincando com curvas de equalização para cada disco que ele escute. Neste caso, o usuário terá 192 opções! É isso mesmo, opções para o audiófilo passar anos descobrindo a que mais se adequa ao seu gosto e expectativa. Todas essas opções podem ser feitas em tempo real direto do controle remoto, modificando o sinal, segundo o fabricante, tanto no filtro passa-baixa, como no De-ênfase e no nível de energia (mais tarde passarei minhas observações pessoais, não como editor, ok?).
Três dessas configurações aparecem na tela do DS-10, e as ‘personalizadas’ e armazenadas podem ser acionadas pelo botão giratório no painel frontal ou pelo controle remoto, como já escrevi algumas linhas acima.
O belo visor do lado direito do painel frontal indica uma série de funções. A maior é o volume, no caso do uso do pré de linha na versão plus (que vai de 0 a 100), o tipo de formato de áudio no canto esquerdo no alto, ao lado a função pré, DAC ou Mute, o formato do áudio (PCM ou DSD), e ‘line out’ ou ‘line in’ (no uso do amplificador de fone) no canto direito em cima do display: com High ou Low para o ajuste de sensibilidade do fone de ouvido, e o comando de intensidade de luz do display: alto, médio, baixo ou desligado.
No canto direito, embaixo, temos os presets (1,2 ou 3), e no canto direito a entrada que está sendo utilizada (Network, AES, USB-A, USB-B, Tos 1, Tos 2, Coax e Bluetooth). E, ao lado do display, o botão que funciona como comando para tudo, e como volume no caso da versão Plus.
O DS-10 Plus foi ligado ao nosso Sistema de Referência, usando como transporte o Nagra, alternando o cabo Coaxial Quintessence Aniversário da Sunrise Lab, e o AES/EBU Absolute Dream da Crystal Cable. E, para avaliação da entrada USB, utilizamos o Innuos Mini Zen com diversos cabos USB (Kubala-Sosna, Dynamique Audio Zenith 2, Sunrise Lab Quintessence, e Oyaide). Os cabos de força utilizados no DS-10 e na sua fonte externa foram: Transparent Audio G5 Reference XL, Sunrise Lab Quintessence Aniversário, Oyaide, e Transparent PowerLink MM2.
Começarei por compartilhar minhas impressões a respeito do amplificador de fone do DS-10. Para tanto, utilizei os seguintes fones: Sennheiser HD 800, Kuba Disco (leia teste na Audiofone deste mês), Grado Prestige SR352e, SR352x, e Meze 99 Classics.
Gostei muito do amplificador de fone, com excelente equilíbrio tonal, silêncio de fundo impressionante, e um conforto auditivo exuberante. Tanto com streamer (reproduzido no próprio ou via Innuos), como mídia física através do transporte Nagra. Os amantes de fones de ouvido se sentirão realizados ao ouvir o grau de refinamento e musicalidade deste amplificador de fones de ouvido. O legal é que ele identifica automaticamente, assim que você pluga o fone, não correndo o risco de acordar a família na calada da noite, caso você tenha esquecido de desligar o amplificador.
Foi possível ouvir detalhadamente as diferenças sônicas de cada um dos fones utilizados, tanto que para fechar a nota do fone Kuba Disco, utilizei ele.
Antes de dar prosseguimento ao teste, tenho que dizer que não consegui ouvir o pré de linha, pois como ele só tem um entrada e esta é uma P2 de 3.5mm, e não consegui um adaptador decente, acabei por abortar essa avaliação. Acho que este é o único ‘pênalti’ deste produto.
Acredito que devido ao seu tamanho e a quantidade de entradas digitais disponíveis, e todos os recursos, tenha realmente faltado espaço físico. Mas acho que seria preferível abrir mão de uma entrada Toslink, por exemplo, e colocar um par de entradas RCA, pois nos testes que os revisores conseguiram um eficiente adaptador, o resultado foi muito bom.
Então, a partir de agora, imaginem que estou avaliando o modelo DS-10 sem o pré de linha, OK? Pois ambos são idênticos.
Depois da avaliação do amplificador de fone, me dediquei a avaliar o streamer interno pelo aplicativo Roon, e pelo aplicativo da própria Gold Note (já que eu havia baixado para avaliar o streamer do integrado IS-1000). E, para comparar o Roon com o aplicativo da Gold Note, também utilizei o Innuos Mini Zen. Acho que 95% dos nossos leitores se darão por satisfeitos em usar o aplicativo da própria Gold Note, pois mais uma vez ele se mostrou excelente em termos de confiabilidade e facilidade através do celular.
Alguma diferença em relação ao Roon? Sim, o Roon parece soar com mais espaço entre os instrumentos e uma melhor precisão no foco e recorte. Mas sem uma audição AxB, não será possível achar que falta algo no aplicativo da Gold Note.
Em relação ao Innuos Mini Zen, ambos com a fonte externa, são muito parelhos. Mesmo utilizando os melhores cabos USB que tinha à disposição no período do teste. Ou seja, o consumidor que optar pelo DS-10 estará muito bem servido tanto nas questões de amplificador de fone como de streamer.
E como DAC? Voltemos à introdução deste teste, para me poder fazer entender. A Gold Note optou por seguir a estrada de maior folga e conforto auditivo. Então, para aqueles que apreciam a ‘faca nos dentes’, nem pense em perder seu tempo em ouvir o DS-10. Mas se, ao contrário, você clama por escutar aqueles seus discos que estão encostados pegando pó há anos, eis a sua oportunidade de resgatar sua discoteca integralmente. Pois se tem um conjunto de características em que o DS-10 é excepcional, é em nos permitir ouvir a música sem buscar detalhes.
Ela se apresenta por inteiro à nossa frente, de forma coerente, precisa e harmônica. Como se tudo estivesse sempre à espera apenas desta peça, para se encaixar e nos transformar de audiófilos tensos em melômanos satisfeitos.
Seu equilíbrio tonal é pleno sem arestas ou pontas pendentes. E quando isso ocorre, nosso cérebro se pergunta: não posso apenas desfrutar deste momento sem ficar preocupado como o grave, médio e agudo? Sim, meu amigo, esqueça qualquer tipo de avaliação, pois a naturalidade com que tudo soa é a certeza de que não há nada fora de lugar ou com vales ou picos.
O soundstage é de uma correção exemplar, pois ainda que não tenha o grau de profundidade, largura e altura de outros DACs, que custam do dobro para mais, a forma com que ele ‘ajusta’ as três dimensões é generosa e inteligente.
Proporções por igual! Com isso, as audições se tornam plenamente confortáveis logo aos primeiros compassos. E aí novamente nosso cérebro indaga: não poderia ser sempre assim?
Sim, com o DS-10 pode, e seguindo em frente nos deparamos com as texturas, quesito tão sutil e ao mesmo tempo tão importante para nos mostrar as fragrâncias e as armadilhas que todo grande compositor adora pregar em seus ouvintes. O prêmio: quanto melhor a reprodução das texturas, mais se desnudam as intencionalidades, tão importantes para que nosso cérebro pare com sua tagarelice e ouça com atenção redobrada aquela obra que imaginava conhecer de trás pra frente.
Aqui seu cérebro já estará completamente rendido à magia e sedução do DS-10, e seguirá aonde a música o levar.
Este é ou não é o objetivo final de um produto hi-end? Fazê-lo querer que aquela audição cesse a fome, as preocupações e os fardos do nosso dia a dia?
Lembra quando falei, na longa introdução, da questão da letargia em escolhas híbridas, para amenizar os problemas do digital na virada do século?
O DS -10 tem uma enorme folga e conforto auditivo e, no entanto, não tem nenhum resquício de letargia ao apresentar os transientes e nos fazer bater o pé ao ouvirmos a deliciosa Mystery Train do CD Come On In This House do gaitista Junior Wells, ou a dançante Tower Of Silence do disco Faces & Places do genial Joe Zawinul.
Sim, o mesmo ocorre com a macrodinâmica deste DAC, que só aparece quando, na partitura, está escrito fortíssimo. Do contrário, estará sempre navegando por águas calmas, permitindo nos deleitarmos com cada nota e cada variação dinâmica no seu devido tempo. Isso sempre nos anima a tentar ouvir a pilha de discos renegados, e tirar a prova dos nove!
E aí se inicia um novo capítulo na longa caminhada de todo audiófilo: retornar para casa, reconectar-se às suas raízes, sua história –
afinal, todos nós contamos nossa vida através dos nossos discos. Ninguém foge a essa regra.
E que situação mais incrível pode ter, de ouvir nossos discos e recobrar a memória daquele momento?
O nosso setup deixou de ser a barreira para nos re-conectarmos com nossa memória musical. Finalmente resgatamos o objetivo essencial do hi-end: fazer nossa coleção soar sublime!
E o corpo harmônico, continua sendo a pedra no sapato? Sim e não. Se você não tem como referência gravações analógicas, ficará satisfeitíssimo com este quesito no DS-10. Pois ele está entre os melhores, com certeza.
Mas, comparado a um setup analógico bem ajustado, é mais ou menos como aquele Brasil e Alemanha no famigerado ‘7 x 1’. Não tem jeito, meu amigo, é a pedra no sapato do digital e muito pouco se tem o que fazer!
Agora, se uma coisa compensa a outra, muitos leitores com menos de 30 anos dizem que a resposta do ‘digital versus analógico’ é o nosso quesito Organicidade. Pois eles não conseguem conceber que o cérebro acredite em materialização física com ‘plics e plocs’ soando junto com a música. E que no digital isso não ocorre.
Ok, o que eu posso argumentar com eles? E olha que já tentei, nos nossos Cursos de Percepção Auditiva, ao dizer que em uma apresentação ao vivo também tem tosse, tem o mal educado que atende celular, fala alto, tem barulho de bala, chiclete. E para mim isso me desconcentra muito mais que alguns ‘plocs’ em minha sala de audição. Mas acho que não os convenci, rs!
Pois bem, o DS-10 é de uma capacidade de materializar o acontecimento musical à nossa frente de maneira surpreendente para o que custa! Se ombreando com DACs muito, mas muito mais caros!
Para explicar as diferenças entre o DS -10 com sua fonte interna e externa, deixei separado o quesito Musicalidade. Pois acho que ele exprime bem a diferença entre fazer ou não este upgrade.
Quando se coloca o PSU-EVO, e o cabo umbilical entre a fonte e o DS-10, o LED quando o DS-10 está armado em vez de azul, fica verde. A fonte, assim como o DAC, precisará de pelo menos 100 horas de amaciamento, e o melhor cabo de força que você puder usar (mas não precisa ser um Transparent G5, por exemplo). Para o teste final, utilizamos o Transparent PowerLink MM2 e o Oyaide Tunami GPX-R V2, com excelentes resultados, e ambos bem compatíveis com o investimento do DAC e da sua fonte externa.
O que no fundo, no fundo, você irá notar de imediato é que a música parece ficar ainda mais lapidada e confortável de ouvir. É como você pegar um diamante já lapidado, e dar aquele trato final. Então não espere ter salto gigantesco, pois não será este o benefício principal.
Agora, se melhoramos a musicalidade de nossa fonte digital, consequentemente ganhamos pontos com aqueles discos mais sofríveis tecnicamente. E isso se traduz em podermos escutar essas gravações com o volume um pouco mais alto (dentro do que a gravação sofrível permite), e nossas audições serão prolongadas por maiores períodos sem fadiga auditiva.
Vale a pena este upgrade? Se o seu sistema todo estiver à altura, claro que vale! Eu faria sem pestanejar, quando pudesse!
CONCLUSÃO
Sei que os tempos são bicudos, repletos de incertezas, tanto no âmbito nacional como mundial, mas o mundo não vai acabar (apesar da incompetência dos líderes mundiais), então em algum momento essa tempestade irá passar.
E quando cessar, voltaremos a querer ouvir nossa música, realizar upgrades e seguir curtindo nosso hobby.
E saber que existe um DAC com este grau de performance, custando o que custa, é uma notícia animadora. Se queres por um ponto final na busca por um sistema que lhe devolva a sua coleção inteira de CDs, não consigo lhe indicar uma opção mais realista.
DAC STREAMER GOLD NOTE DS-10 PLUS | Nota: 97 |
DAC STREAMER GOLD NOTE DS-10 PLUS (com a Fonte Externa PSU-EVO) | Nota: 100,0 |
AVMAG #277 German Áudio contato@germanaudio.com.br DAC: R$ 30.041 Fonte: R$ 11.434 Conjunto (com desconto): R$ 40.000 |
Fernando Andrette
Dizem que quando envelhecemos, todas as nossas virtudes e defeitos se inflamam. Acredito que este ditado popular tenha, sim, um pouco de ‘verdade’. Tenho feito um enorme esforço para não me transformar em um velho ranzinza, chato e metódico, mas a luta que tenho que travar comigo mesmo é cada vez mais intensa.
Pois, com essa pandemia, tudo acabou por ficar ‘exacerbado demais’, e parece que a afetuosidade perdeu de feio para a descrença e o desrespeito. Felizmente, minha natureza sempre foi impulsionada por ser um agregador e jamais desacreditar no potencial humano. Morrerei assim (seja um defeito ou uma qualidade), pois aonde querem nos fazer ver apenas retrocesso, eu sempre vejo uma possibilidade de mudança.
Pois basta observar como o ser humano se comporta nos momentos de crises agudas, para percebermos o enorme potencial que o homem carrega em si. E percebo este ‘potencial’ em todas as áreas de atuação humana, até mesmo neste pedacinho de mercado chamado de áudio hi-end.
Deixe-me explicar a você meu ponto de vista.
Mas teremos que voltar à 1984, quando ouvi em uma apresentação dedicada a audiófilos, o tão aclamado e idolatrado Compact Disc. Foi na casa de um cliente do meu pai, que havia voltado de uma viagem à Europa e trouxe um CD-Player da Sony e dois discos que vinham de cortesia. Nunca vou esquecer os discos: um era do flautista Rampal e o outro As Quatro Estações, de Vivaldi.
O anfitrião estava verdadeiramente eufórico de ser o primeiro a adquirir a nova tecnologia, que iria mudar para sempre a forma de escutarmos, gravarmos e armazenarmos música em nossas casas. Além do meu pai e eu, foram convidados mais cinco amigos audiófilos. Escolhemos por unanimidade iniciar a audição pelo Rampal, já que era uma gravação conhecida e que muitos (inclusive o anfitrião) tinham em LP – uma excelente gravação.
O que lembro com exatidão, foi o enorme constrangimento e incredulidade de todos, após ouvirmos a primeira faixa do disco. Caiu-se um silêncio funerário na sala, e algum dos convidados, para quebrar o silêncio, levantou a hipótese de ter algo errado, ou até mesmo que o CD-Player estivesse com defeito, ou a remasterização do disco tivesse algum problema. Pois era tão ruim o resultado, que era difícil acreditar que esta nova topologia sequer pudesse ser chamada de Hi-Fi.
Na dúvida de que pudesse ser o disco, o anfitrião colocou o segundo disco. Este não escutamos sequer a primeira faixa toda! Pois os violinos soaram tão duros e incorretos, que toda a vontade de ouvir o resto se dissipou.
Saímos de lá confusos, com inúmeras perguntas sem respostas.
Minha cabeça era um caleidoscópio de imagens e pensamentos, pois tínhamos acreditado em tudo que as mídias escreveram a respeito, que para mim era impossível somente nós oito presentes naquela demonstração termos ouvido o quanto era ruim!
Depois desta apresentação catastrófica, todos voltamos aos LPs, mais certos ainda que para o Compact Disc desbancar o LP, ele teria que suar muito e, antes de tudo, corrigir todas as limitações que para nós eram tão explícitas!
Façamos um pulo no tempo, e estamos em 1994, eu já na Audio News escrevendo testes e resenhas musicais, e eis que sem aviso prévio, as gravadoras param de me enviar os LPs Promocionais e passam a enviar apenas CDs. E eu não tinha um CD Player para ouvir esses lançamentos. Quando contei o meu problema na redação, todos me olharam com enorme surpresa, pois achavam que eu teria sido o primeiro a embarcar neste ‘avanço’ tecnológico que, para todos ali, representava o ‘futuro’ do áudio!
Não teve jeito, iniciei uma maratona de dois sábados à procura de um CD-Player que tivesse a ‘dignidade’ de não ‘ferir’ meu sistema auditivo. E depois de muito pesquisar, vi que a Philips havia optado por uma linha que foi batizada de bitstream, que as mídias especializadas diziam ter dado uma ‘suavizada’ nos agudos, deixando a região média-alta menos dura.
Aqui me permitam fazer um adendo, e defender as mídias especializadas de áudio, que felizmente observaram os grotescos erros, forçando os projetistas a voltarem às suas pranchetas e não confiarem apenas nos resultados de medições de ondas senoidais e afins. Pois se não existissem essas mídias meu amigo, estaríamos até hoje com um retrocesso de 50 anos!
Então, quando os objetivistas começam com suas ‘ladainhas’, eu sempre tenho a mesma pergunta a todos eles: Por que vocês não foram capazes de perceber o quanto ainda estava ‘cru’ o Compact Disc quando foi lançado? E a resposta é óbvia: pelo simples fato de eles acreditarem muito mais em medições do que nos seus sistemas auditivos. Pois se tivessem um bom par de orelhas calibradas, e com excelente referência de música não amplificada, ao ouvir a flauta do Rampal perceberiam imediatamente que o timbre era torto, duro, seco, agressivo, e que o corpo dos instrumentos era absolutamente incorreto!
Mas, para o objetivista isso é um mero detalhe, ou melhor: subjetivo demais para ser levado a sério!
Em 1994, em minha peregrinação na busca de um CD-Player para fazer minhas resenhas musicais, o CD-Player e os disquinhos platinados já tinham uma década, então eu queria acreditar que aquela terrível impressão de dez anos atrás havia sido dissipada. Para resumir: acabei comprando um CD Philips, e o primeiro disco que toquei ao chegar em casa foi Tutu do Miles Davis, que estava no pacote de lançamentos da Warner naquele mês.
Quando o Miles deu a primeira nota, soou como se uma broca de dentista estivesse à procura do meu tímpano. Como eu tinha a versão em LP, coloquei-o no meu velho e fiel parceiro, o Thorens TD 160, e constatei que uma década não havia sido o suficiente para se corrigir nenhum dos principais defeitos do CD-Player.
Por precaução, passei a usar o CD Player apenas para escrever as resenhas mensais e jamais para sentar e fazer minhas audições diárias.
Desculpe todo este desabafo, mas era preciso para iniciar o teste do Innuos Statement, o top de linha deste conceituado fabricante de Streamers / Servidores de Música. Pois assim como ao CD-Player, minha posição em relação ao streamer não é tão ‘efusiva’ como a de muitos articulistas mundo afora!
Vacinado com as agruras por duas décadas e meia com o CD-Player, me fizeram ser ainda mais precavido com o surgimento do Streamer. E não é novidade para quem me acompanha que minha posição é bem clara a respeito. Sei que irá chegar a um nível alto, mas assim como a topologia Classe D, eu ainda sinto que falta chão!
Claro que concordo com o colaborador e amigo Christian Pruks, que para a maioria esmagadora dos consumidores o nível que o streamer se encontra já é mais do que bom. Mas o meu papel é o do ‘advogado do diabo’, pois se temos uma Metodologia e uma Referência de sistema, precisamos posicionar o patamar atual desta nova topologia, para que o nosso leitor entenda o que escrevemos mensalmente aqui. Independente do nosso leitor já ter embarcado nesta topologia ou não!
O que posso dizer de positivo é que o Streamer já se encontra em um patamar acima e muito mais consistente que na primeira década do CD-Player, o que mostra de forma inquestionável que se as plataformas melhorarem a qualidade do serviço oferecido (leiam mais a respeito no Opinião deste mês), em no máximo cinco anos certamente teremos inúmeros servidores de música Estado da Arte –
algo que no CD-Player só se conseguiu duas décadas após seu lançamento.
É por essa ‘ótica’ que desejo que você, leitor, entenda minhas avaliações de todos os servidores de música e streamer que forem testados por nós. Pois sem a evolução do Tidal, Qobuz, Apple Music, Spotify, etc, de nada irá adiantar os fabricantes de servidores e streamers aprimorarem seus produtos, pois tudo precisa estar no mesmo patamar de qualidade e performance.
Ufa! Finalmente poderemos falar a respeito deste incrível servidor de música da Innuos.
Para ter meu primeiro setup digital decente, levei 25 anos desde o lançamento, em final de 1983, do CD-Player. Caso quisesse incorporar um servidor de música compatível com o Sistema de Referência da Editora, o Innuos Statement certamente seria uma das melhores opções atuais. O que diz muito em relação a este servidor top de linha da Innuos!
Como o produto é um servidor de música, achei que seria muito mais justo avaliar ele como servidor de música, em que você pode copiar (ripar) toda a sua coleção de CDs nele e, como streamer, utilizando para o teste as plataformas Tidal e Qobuz. Assim, me sinto muito mais à vontade para descrever meus três meses de convivência com ele.
Como servidor de música, este é de longe o melhor que ouvi e testei na revista. E seu grau de praticidade é simplesmente estupendo! O usuário só tem que colocar o CD e em poucos minutos ele estará copiado. Parece mágica, mas não é – trata-se de um software desenvolvido pela Innuos que reconhece a mídia, consulta uma ampla gama de bancos de dados online já especificados no programa, navega por FreeDB, MusicBrainz, Discogs e GD 3, a procura por metatags idênticas, ou adicionais, antes de tomar a decisão qual será a melhor. Depois de escolhido, o servidor inicia a extração dos dados convertendo os sinais PCM no formato de áudio desejado, e o armazena em uma memória SSD. A versão mais simples possui 1 terabyte, o que dá para armazenar 2000 discos não compactados (WAV ou AIFF). No formato FLAC pode-se armazenar até 2880 discos. Mas, a Innuos pode fornecer até 4 terabytes, mas essa capacidade de armazenamento ainda pode ser expandida de várias maneiras. O transporte é uma unidade TEAC em uma versão spin-off.
O Streaming deste servidor traz Internet Radio, Tidal, Qobuz e Spotify.
O Statement é composto de duas unidades: na mais fina encontra-se o leitor, o servidor e streamer, e na mais robusta está a fonte externa de alimentação. Os cabos de alimentação (são dois, um por canal), são ‘propositalmente’ curtos, para forçar a trabalharem juntos (com o servidor em cima da fonte). Ambos os gabinetes são visualmente simples e sem a ostentação de nenhum display.
No centro se encontra a gaveta, e um botão no canto direito embaixo, para ligar e desligar o servidor. A fonte não tem nenhum comando no painel frontal. Ao centro do painel traseiro a tomada IEC o botão de liga desliga, e nas pontas os cabos para serem ligados no servidor.
Na parte de trás do servidor nas duas pontas, a entrada dos cabos de alimentação, portas Ethernet e USB, uma porta USB para a ligação no DAC externo, e conexões para Serviço e Backup. Nenhuma outra saída digital possui o Statement.
Para os próximos meses, a Innuos promete o lançamento de seu próprio aplicativo remoto em todas as plataformas – que comandará tanto o modo de configurar, como de reproduzir. Ele poderá ser usado como Roon Core (que é hoje a melhor opção para se usar qualquer versão do Innuos). Como sou um admirador do Roon, quero ver para crer se o app da Innuos irá superar este em termos de praticidade e organização de toda a biblioteca. Quando sair, escreverei minhas impressões.
Essa super máquina está preparada para todos os formatos existentes, desde o MP3, Flac, Apple Losless, AAC, WAV e AIFF. Com capacidade de resolução de 16 a 32 bits e a taxa de amostragem de 44,1 a 384 kHz – e decodificação de MQA e DSD.
Para o teste, utilizamos dois cabos USB: Zenith 2 da Dynamique Audio, e o Kubala Sosna Realization. Cabos de força: Transparent Reference G5 e PowerLink MM2. Conversor analógico/digital: TUBE DAC da Nagra. E todo o Sistema de Referência da Editora.
Minha curiosidade, depois de testar o ZEN, era o quanto o Statement em termos de streaming poderia acrescentar, e o quanto seria possível ouvir de avanço nesta plataforma.
Antes de escrever minhas observações auditivas, deixe-me esclarecer os pontos em que acho que o streamer ainda precisa evoluir para chegar mais próximo da mídia física CD. Por mais que esteja escutando as opções Masters no Tidal ou a alta resolução no Qobuz, sinto falta de planos mais tridimensionais (principalmente em profundidade e largura), melhor foco e recorte, corpo harmônico (que consegue ser menor que na mídia física digital) e mais extensão nas duas pontas.
Então, por mais que esteja ouvindo uma ‘excelente’ gravação técnica e artística, esses ‘obstáculos’ me impedem de fazer aquela imersão tão necessária para o meu cérebro saber que o que está escutando é reprodução eletrônica. Não sei se isso é um problema só meu, ou se alguns de vocês também tem este grau de exigência. E nenhum streamer que escutei conseguiu ‘driblar’ este obstáculo.
Pois o Statement, com o cabo Kubala Sosna Realization (em breve publicarei seu teste), em alguns momentos resolveu esse impasse de maneira muito segura. Foram algumas poucas gravações pontuais (apenas quatro), mas já foi um passo promissor.
Interessante que o fato ocorreu com duas gravações reproduzidas no Tidal e duas no Qobuz. Cito este detalhe, pois tudo no teste do Zen, que ficou mais próximo do ideal, foi apenas no Qobuz.
O que no Statement foi superior ao ZEN? Todos os quesitos da Metodologia soaram muito melhores no Statement. Com destaque para equilíbrio tonal, transientes, texturas e organicidade. Nesses quatro quesitos a diferença foi muito grande.
As gravações ganharam maior refinamento, precisão, transparência, detalhe e naturalidade. Itens importantes (pelo menos para mim), para poder ouvir por mais tempo streamer e com maior prazer.
Pois, como com fones de ouvido, o máximo que eu conseguia até a chegada para testes do Statement, era ouvir as novas gravações selecionadas, e olha lá! Com o Statement, estendi as audições por pelo menos mais uma hora, também navegando em gravações já selecionadas, para reouvir e comparar os cabos USB e como ele soou em relação ao modelo Zen.
O que posso confirmar é que, com o Statement, o audiófilo que abriu mão de toda e qualquer mídia física, se tiver arquivado nele seus discos antes de fazer a festa dos sebos (que pagaram uma ninharia nos seus discos e estão lucrando mais de 100%), se dará por satisfeito em ter feito este investimento. Pois como servidor de música, ele se encontra em um outro patamar.
Ripei uma dúzia de gravações feitas para a CAVI Records, e referências que me acompanham há muitos anos. E o resultado foi muito além do satisfatório!
Tem diferenças, quando comparado com a mídia física tocando em nosso setup digital? Sim, mas são muito mais sutis que os arquivados no Zen ou em qualquer outro computador. Em relação às nossas gravações, e em especial ao CD Timbres, o que falta é um nadinha a mais de invólucro harmônico, para dar aquele ‘acabamento’ final em termos de textura e corpo.
Mas no resto, é exemplar!
Ao contrário do streamer, que sofre em ser pobre em termos de planos, recorte e foco, a cópia é muito fiel neste quesito. Dificultando em um teste cego A x B saber o que é o original da cópia. Isso é um baita elogio (principalmente vindo de um cara tão chato como eu, rs) e que para a esmagadora maioria dos audiófilos será muito mais que satisfatório, será unir a comodidade, com praticidade de tudo a mão e com uma performance Estado da Arte!
CONCLUSÃO
O Statement da Innuos é um servidor de música que pode ser considerado um divisor de águas entre o Estado da Arte e o Superlativo!
Ainda que caro como um Estado da Arte Superlativo, ele pode com enorme consistência ser a plataforma para quem deseja colocar toda a sua coleção de mídia física em um único local, e ainda desfrutar de streaming de qualidade – e que tende a melhorar ainda mais nos próximos anos.
E se pensarmos que as mídias físicas estão cada vez mais difíceis em termos de lançamentos, fatalmente em algum momento só nos restará essa opção para conhecer novos trabalhos. Então é salutar que o streamer esteja avançando a passos largos para se tornar uma referência de alto nível.
Se querem minha opinião, acho que o streamer ‘chega lá’ antes dos amplificadores Classe D!
O Innuos Statement é um pacote muito sedutor, e pode perfeitamente ser a solução de todos que querem performance e praticidade em um único equipamento!
SERVIDOR DE MÚSICA & STREAMER INNUOS STATEMENT (COMO STREAMER) | Nota: 100,0 |
SERVIDOR DE MÚSICA & STREAMER INNUOS STATEMENT (servidor de música) | Nota: 103,0 |
AVMAG #274 German Áudio contato@germanaudio.com.br R$ 144.500 |
Fernando Andrette
Nós já testamos alguns produtos deste renomado fabricante japonês. E como escrevi no teste do pré amplificador Leben modelo
RS-28CX (leia teste na edição 267), o seu projetista, o Sr. Taku Hyodo, tem uma verdadeira legião de fãs em todos os continentes. E cada novo produto é recebido com enorme expectativa pelos usuários da marca.
Como estamos falando de uma empresa em que todos os produtos, antes de serem lançados, passam por um longo processo de maturação nas mãos do sr. Hyodo, é de se supor que quando ele considera que o novo produto pode substituir com méritos o anterior, a evolução certamente será consistente e substancial em matéria de novos componentes e de soluções.
A série 300 tem uma longa história de três décadas desde o lançamento do CS-300, nos anos oitenta. O modelo original utilizava dois pares de EL84M da Sovtek, e um par de tríodos duplos da General Electric 5751 (ECC83), que mais tarde (quase uma década depois) foram substituídos por 12AX7A da Sovtek. E com o sucesso, o sr. Hyodo fez uma versão batizada de CS-300X Limited com válvulas Mullard NOS. E quando o estoque dessas válvulas acabou, virou a versão CS-300X S com as General Electric 5751 no estágio de entrada, sendo que esta versão ficou no mercado até 2010.
Agora, na mais recente versão F, as mudanças foram mais radicais, com o uso das General Electric JAN-6169 (segundo o fabricante pela sua maior longevidade e baixa distorção) e no estágio de entrada os tríodos duplos japoneses 17EW8 (HCC85 Hi-Fi).
No painel frontal, tem três botões pequenos e um maior. Da esquerda para a direita você tem primeiro o seletor de entradas, seguido do volume, balanço e um botão que regula o grave variando de 3 a 5 dB. Abaixo, temos dois interruptores para ativar o tape monitor, alternar entre a saída para as caixas e o fone de ouvido, e totalmente à direita o botão que liga e desliga o integrado.
Na traseira temos uma vasta área para a ventilação e, da esquerda para a direita, o terminal IEC para o cabo de força, acima o porta fusível, seguido dos terminais de caixas e um seletor de impedância acima dos terminais, seguidos de seis entradas, todas RCA.
As especificações técnicas, segundo o fabricante, são: 15 Watts por canal, resposta de frequência de 15 Hz a 100 kHz (-2 dB), distorção harmônica de 0,7 % (em 10 watts), sensibilidade de entrada de 600 mV, impedância de saída de 4/6/8 Ohms, saída para fone de ouvido de 1000 mW, consumo de 82 Watts, e peso de 11 quilos.Pelo seu tamanho (mais largo do que profundo) ele cabe perfeitamente em qualquer prateleira, desde que o usuário se lembre de deixar espaço para sua ventilação – por causa das válvulas.
Para o teste utilizamos os seguintes. Caixas: Elac Debut Reference DBR62 (leia teste nesta edição) e a coluna da mesma série, modelo 52 (leia teste na edição de junho), e a Sasha DAW da Wilson Audio. Fones de ouvido: Grado Statement GS3000e (leia teste na edição de março de 2021), e o Meze 99 Classics. Cabos de força: Sunrise Lab Quintessence e Powerlink MM2. Fontes digitais: streamers Innuos Zen e Mini Zen (leia teste edição de junho), transporte Nagra CDT (leia teste edição de julho), e TUBE DAC da Nagra. Fontes analógicas: toca-discos Thorens TD 148 A (leia teste edição junho de 2021), e Timeless Ceres com braço Enterprise de 12 polegadas da Origin Live e cápsula Hana Umami Red (leia teste na Edição de Aniversário, de maio de 2021). Prés de phono: PS Audio Stellar, Boulder 508 e Luxman EQ-500 (leia Teste 1 nesta edição). Cabos de interconexão: Virtual Reality (leia Teste 5 nesta edição), Sunrise Lab Quintessence, e Dynamique Apex. Cabos de caixa: Virtual Reality (trançado e sólido), Sunrise Lab Quintessence, e Dynamique Apex.
O integrado da Leben veio com quase 50 horas de queima, o que ajudou muito pois a quantidade de produtos que chegaram para teste neste começo de ano foi muito acima do imaginado! Então fizemos uma primeira audição com ele ligado ao nosso Sistema de Referência e o deixamos amaciando por mais 50 horas, antes de fazer nossa avaliação final.
Muitos devem estar pensando o que um integrado valvulado de apenas 15 watts pode me oferecer? Se ainda pensas em quantidade antes de qualidade, sugiro que pare de ler imediatamente o teste. Agora, se já tivestes a oportunidade de ouvir um amplificador de baixa potência ligado a caixas de alta sensibilidade (o ideal seria ao menos 89 dB para cima) e em uma sala de até 16 metros quadrados, posso te garantir que no mínimo ficará surpreso com a quantidade de informação e prazer auditivo que este pequeno Leben tem a oferecer.
E se buscas um setup para ouvir pequenos grupos, vozes, instrumentos acústicos e solistas, meu amigo, você veio ao lugar certo. Pois este Leben pode, montado de maneira correta, te levar às lágrimas, e fazê-lo lembrar que acima de tudo a qualidade vem sempre em primeiro lugar.
Agora, se queres um sistema que faça o seu moletom soprar com o deslocamento de ar nos graves, certamente seu interesse neste integrado será zero.
Um amigo, ao ouvir este integrado ligado nas Elas Debut Reference, sintetizou de forma brilhante a quem este Leben prestará excelentes serviços: “Este é um sistema para pessoas que não estão famintas, e sim para as que estão saciadas”. Concordo integralmente! Pois imaginamos que quando estamos famintos, não raciocinamos muito, pois só queremos matar nossa fome, e colocamos goela abaixo tudo que nos oferecerem. Os saciados, ao contrário, são seletivos, e usam todo seu conhecimento para avaliar o que lhes dará mais prazer aos sentidos.
Ainda que ambas as Elacs tenham uma sensibilidade menor que 89 dB, por algum motivo que desconheço casaram muito bem com o Leben. E a Sasha DAW, com seus 91dB, melhor ainda. Com qualquer dessas três caixas, o Leben mostrou todas as suas insígnias e nos permitiu apreciar sua ampla habilidade em nos tecer uma estrutura musical muito peculiar, em que texturas e musicalidade eram os degraus mais altos!
Não que ele não se esforce para ser o mais correto em todos os quesitos da Metodologia, mas sim que provavelmente sejam estes os requisitos que seu projetista também mais busca aperfeiçoar em cada um de seus novos projetos.
Todos os Leben que escutei ou testei têm esta assinatura sônica, em que as texturas e a musicalidade sobressaem, mas interessante que não podemos dizer que todos os seus projetos têm na mesma proporção estes quesitos.
Senti muito mais nos integrados que no pré e power o destaque da musicalidade e textura. Não sei dizer se isso ocorre de forma intencional ou não e se essa diferença está em todos os prés e powers já produzidos pela Leben, só sei que nos integrados esta característica é predominante.
A mim agrada muito saber que os integrados têm esta assinatura, o que nos permite a todos os leitores que nos pedem consultoria, neste país de tamanho continental, e que têm dificuldade de ouvir em seus sistemas os produtos desejados, poder indicar os integrados deste fabricante, caso seja este o desejo do leitor – e, óbvio, que o resto do setup também já tenha essas características.
Eu sinceramente não vi grande benefício do ajuste de grave existente neste integrado, pois nas três caixas utilizadas no teste, não foi preciso jamais reforçar as baixas frequências. Fiquei aqui pensando que, talvez nas caixas mais antigas, em que a resposta de grave esteja acima de 55 Hz, este ajuste faça algum sentido, mas não foi nosso caso.
Os graves são precisos, com bom corpo, energia e excelente decaimento na primeira oitava.
A região média é de uma naturalidade inebriante. As vozes soam com enorme precisão e muito detalhadas, mas sem nunca passar do ponto ou ficar transparente em demasia.
Os agudos, para os acostumados a ter como referência amplificadores de estado sólido, podem achar que falta respiro ou maior extensão. E falta. Mas não ao ponto de não reconhecermos as ambiências ou o correto decaimento dos pratos. É uma questão de costume e, claro, de caixas em que os agudos não tenham este tipo de limitação.
O foco e recorte são os pontos altos do Leben e, em termos de soundstage, os planos são um pouco menos amplos em termos de profundidade e largura. Mas o Leben contorna este ponto, oferecendo um foco e recorte “cirúrgicos”, que nos permitem “ver” se o solista estava em pé ou sentado, e aquele silêncio peculiar em volta do solista nas captações bem feitas e sem vazamento de outros microfones próximos.
Quando muitas vezes os leitores me questionam o motivo da imagem do cantor não ser sólida à sua frente, entre as caixas, eu sempre peço para ele verificar as três situações mais óbvias: se as caixas estão posicionadas idênticas em relação às paredes, se ponto de audição está na formação do triângulo equilátero, se o balanço no amplificador está correto, e se suas gravações de referência para este quesito são seguras. Pois muitas vezes o vazamento de microfones em volta do solista fará com que a imagem mude de posição.
Então, se as duas outras hipóteses estiverem corretas, certifique-se que suas referências não tenham vazamento de microfone, pois não dá para se corrigir isso na mixagem. Se vazou, estará ali.
As texturas, como disse, são junto com a musicalidade o ponto mais alto deste integrado. Você poderá perfeitamente avaliar a qualidade do instrumento, do músico, do microfone, do engenheiro de gravação, e observar a intencionalidade e complexidade da obra executada sem sair de seu ponto de audição e sem esforço algum.
Os transientes são muito corretos, assim como a microdinâmica. Seu calcanhar de Aquiles realmente será a macrodinâmica. Neste quesito, não abuse, pois verá o som característico de válvulas que “dobram o joelho”, deixando o som duro e desconfortável para os ouvidos.
Como escrevi no começo, este é um integrado para quem não escuta grandes orquestras ou obras complexas e com enormes variações de dinâmica.
O corpo harmônico é correto e bem preciso, e a organicidade dependerá do nível técnico da gravação.
CONCLUSÃO
Sempre recebo indagações de que powers de baixa potência estarão cada vez mais limitados a um público muito específico. Sim, é bem provável que este processo já esteja ocorrendo há muito tempo. No entanto, os single-endeds de 2 a 10 Watts estão aí para mostrar o quanto eles ainda são bem quistos, assim como as caixas de alta sensibilidade para tocar esses amplificadores, sejam elas cornetas ou não.
Perto de um single-ended de 3 Watts, o Leben com seus 15 watts é quase uma “usina de força”. Com as caixas certas, acima de 89 dB, em salas menores, este Leben pode não só surpreender como ser uma excelente opção para quem só quer ouvir seus discos sem se preocupar em analisar se “falta isso”, ou se “tem muito daquilo”.
O Leben é o tipo de integrado que vai direto ao ponto, sem rodeios, e cabe ao ouvinte descobrir se vai na direção desejada ou não. Eu gosto de equipamentos assim, pois são autênticos e não prometem mais do que fazem.
Se procuras um integrado que toque seus discos de uma maneira que as deficiências fiquem em segundo plano e as qualidades sejam realçadas, escute-o! Ele certamente atenderá muito mais a melômanos do que audiófilos – mas como os audiófilos, em muitos momentos de sua busca, desejam uma trégua ou um “oásis” apenas para matar sua sede antes de reiniciar a busca, quem sabe o Leben possa ser este porto seguro.
Nota: 81,0 | |
AVMAG #272 KW Hi-Fi (48) 3236.3385 US$ 4.380 |
Fernando Andrette
Já testei inúmeros produtos da Cambridge Audio nos 25 anos da revista – com certeza mais de uma dezena. O que me dá o ‘direito’ de dizer que acompanhei de perto todas as mudanças e tendências que este renomado fabricante inglês utilizou em cada nova série lançada neste um quarto de século.
O que faz desta marca uma das mais engajadas em oferecer produtos considerados ‘de entrada’ para o universo hi-end, mas que buscam atender seus clientes da melhor maneira possível em termos de custo/performance.
E o CXA81 não é uma exceção à regra da Cambridge – pelo contrário, pois debaixo de seu capô se esconde um rico arsenal de possibilidades, para aqueles que buscam um integrado que possa ser uma central de entretenimento musical. Então, se você olhou para ele como apenas mais um integrado, volte novamente e o veja em detalhes.
Ele possui um DAC que converte até 32-bits de arquivos e streamer, converte DSD256 que é entregue via DoP, possui entrada USB assíncrona e Bluetooth para o uso de dispositivos portáteis, e um bom amplificador de fone de ouvido.
O gabinete é bem construído em alumínio, e seu peso é considerável (12 kg). Seu painel frontal segue a tendência atual de limpeza, com poucos botões. À esquerda temos o de liga/desliga, o visor ao centro, de acrílico com LEDs para indicar a entrada (são 4), uma luz de indicador de proteção (para curto-circuito, superaquecimento e sobretensão). Além de um botão para indicar as saídas A ou B dos falantes, um de mute, e indicadores das três entradas digitais (D1, D2 e D3). Ao lado deste painel, um pequeno botão para acionamento da entrada USB, e o maior botão o de volume. E tudo pode ser comandado pelo controle remoto – ainda que, com a minha idade, eu quase precise de uma lupa, para ler os diminutos comandos.
No painel traseiro temos a tomada IEC, os terminais de caixas A e B, logo acima o conector RS323C, e a entrada IR. Seguidos das entradas digitais na parte superior do painel, uma antena Bluetooth, uma entrada USB, três entradas S/PDIF (uma RCA e uma TosLink), e abaixo uma saída de subwoofer (RCA), seguida de um par de conectores pré, saída RCA, e as quatro entradas analógicas (RCA) e uma entrada (XLR).
A potência especificada pelo fabricante é de 80 Watts por canal em 8 ohms, e 120 Watts em 4 ohms. Funcionando em classe AB, sem, no entanto, especificar quando passa de classe A para B.
Ainda segundo o fabricante, os canais são separados simetricamente, e além deste diferencial em relação ao modelo anterior, o CXA80, o caminho do sinal analógico ficou mais curto e a seção de pré amplificação agora utiliza amplificadores operacionais JRC. E a fonte de alimentação, e toda a cadeia de sinal, utilizam agora capacitores Wima, Rubycon e Nippon Chemicon, que audivelmente são superiores aos utilizados no modelo anterior.
Juro que tentei achar um CXA80 para um teste ‘aXb’, para poder ‘ouvir’ as diferenças, mas não consegui.
Para o teste utilizamos o Innuos Zen Mini e os cabos USB: Dynamique Zenith 2, Oyaide Continental 5S V2, e o Sunrise Lab Quintessence Aniversário. No transporte da Nagra utilizamos o coaxial Sunrise Lab Quintessence, e um velho (e sempre à mão) Chord. Este aparato todo foi para avaliarmos seu DAC interno.
Para a avaliação de seu amplificador, utilizamos o transporte Nagra ligado via cabo AES/EBU (Crystal Cable Absolute Dream, e Transparent Audio Reference) ligado ao DAC Gold Note DS-10, e ligado ao integrado da Cambridge através dos cabos Sunrise Lab Quintessence (RCA e XLR).
As caixas foram: Elac Debut Reference bookshelf (leia teste na edição 272), Elac Debut Reference DFR-52BK (leia teste na edição 274), e a desconcertante Elipson Legacy 3210 (leia teste na próxima edição). Os cabos de caixa foram: o Trançado da Virtual Reality (leia teste na edição 271).
O Cambridge veio lacrado (ainda com a fita do próprio fabricante na embalagem, o que significa que não foi aberto para averiguação na alfândega). Assim que chegou fiz a audição de primeiras impressões, ainda com a book da Elac que já estava em finalização do teste, e o deixei em queima por 100 horas.
Comecei por ouvir seu DAC interno, para ter uma ideia de que ponto sairíamos e qual estratégia de avaliação seguiríamos (de avaliar em conjunto amplificador e Dac ou separados). Depois de totalmente amaciado (240 horas), vimos que seria prudente dar a pontuação separadamente, pois o amplificador está ligeiramente à frente do DAC interno. É comum isso ocorrer, até com os integrados mais caros e mais sofisticados – nunca ouvi o DAC interno estar no mesmo nível do amplificador.
Talvez nos integrados bem mais ‘caros’ haja este padrão, mas no mercado de maior concorrência algumas concessões são necessárias, pois senão seu concorrente o atropela sem piedade. E a Cambridge sabe muito bem o que precisa fazer para manter sua fatia de mercado – e basta ver os inúmeros prêmios EISA recebidos nos últimos anos, para confirmar essa tese.
Começarei o teste avaliando o integrado e seu amplificador de fone, e por último passarei para o DAC interno, ok?
A assinatura sônica dos integrados da Cambridge, ainda que sofram ‘lapidações’ nas novas séries, mantém o legado de serem amplificadores para quem deseja uma sonoridade limpa, detalhada e mais relaxada. Se sua praia é uma sonoridade com a ‘faca nos dentes’ o tempo todo, que chega a beirar o visceral, esqueça-o! Aqui estamos falando de uma sonoridade que não será ‘letárgica’ quando as variações dinâmicas ocorrerem, mas sem nenhum vestígio de ’fogos de artifício’ ou coices no peito no retumbar dos tímpanos. Como diria uma amiga minha pianista, ele está mais para uma paisagem de pôr do sol.
Agora, se você aprecia uma perspectiva mais ‘intimista’, e seu interesse é apenas sentar e ouvir sua música sem elucubrações metafóricas musicais (rs…), você irá apreciar o CXA81. Pois ele é detalhado e equilibrado tonalmente para apresentar a música de forma prazerosa. Seu ponto de equilíbrio entre detalhamento e precisão nunca atravessa a fronteira para o lado do analítico, mantendo sempre o ouvinte atento ao todo.
Ouvindo os mesmos exemplos de quartetos de cordas, ficou evidente que agora podemos ‘degustar’ com maior prazer as intencionalidades presentes em cada gravação, tanto em termos de técnica instrumental, como da qualidade do instrumento ou da escolha do engenheiro de gravação no microfone utilizado. Algo que para sua faixa de preço é uma novidade!
Ouvindo, por exemplo, o disco do pianista Italiano Giovanni Guidi – Avec Le Temps, lançado pelo selo ECM em 2008, na faixa título tem um trabalho feito nos pratos que costuma ser pouco sutil em equipamentos pobres em textura. E também no solo do baixista, que é feito quase todo em pianíssimo – o que dificulta entender o grau de precisão de cada nota deste solo. É a versão não cantada de Avec le Temps mais sublime que já escutei! Pois bem, o Cambridge foi bastante competente nesta apresentação, pois ainda que não tenha o silêncio de fundo, como de outros amplificadores mais caros, conseguiu resolver de maneira ‘honesta’ este desafio.
Em termos de equilíbrio tonal, o CXA81 melhorou consideravelmente em relação ao antecessor, pois ganhou mais ar em cima, melhor decaimento e mais corpo. E os graves ganharam maior ‘fundação’ na primeira oitava, o que permite maior conforto em obras com muita variação dinâmica e informação nas duas primeiras oitavas nos graves. A região média continua sendo um dos pontos altos de todo Cambridge (isso desde sempre) – soa sempre muito correta e natural, e com o maior equilíbrio nas pontas, deixou de aparecer mais frontalizada como em alguns modelos anteriores.
Com isso o ouvinte pode até desejar, em boas gravações, testar o limite do volume da gravação sem comprometer a audição.
O soundstage ainda é mais ‘tímido’ que alguns de seus concorrentes diretos, mas nada que impeça, em gravações que tenham boas profundidade, largura e planos, acompanhar com prazer o acontecimento musical. Fará falta mais em música clássica do que em outros gêneros.
As texturas foram o maior avanço deste novo modelo, e este resultado é devido à melhora significativa no equilíbrio tonal, pois como sempre apresento nos Cursos de Percepção Auditiva, um está ligado ao outro como se fossem complementação direta.
Como escrevi algumas linhas acima, agora o prazer de acompanhar a ‘intencionalidade’ inerente em cada apresentação se tornou possível. E a segunda grande melhora foi a reprodução de transientes, que com maior precisão deixam as audições mais ‘intensas’. Tanto em termos de precisão de tempo e andamento como de autoridade, foram aprimoradas.
Foi fácil observar essa melhora significativa, tanto no disco I Ching do Uakti, como no Canto das Águas do André Geraissati.
A dinâmica ainda continua sendo melhor na micro, do que na macro, porém como também já escrevi acima, a melhora na fundação do grave, ajudou a macro a ficar um pouco mais precisa e com as escalas de forte para o fortíssimo mais bem definidas. O problema continua sendo nos fortíssimos, onde falta aquela ‘impetuosidade’ para a sustentação. Mas querer este feito de um amplificador nesta faixa de preço, ainda não escutei.
O corpo harmônico continua semelhante ao do modelo anterior, não sendo ruim e nem tampouco homogêneo (o que é fatal para as pretensões de enganarmos nosso cérebro que aquilo não é reprodução eletrônica). Mas as diferenças de tamanho entre um cello e um contrabaixo, ou um pícolo e uma flauta transversal se fazem audíveis.
A tão famosa materialização do acontecimento musical à nossa frente (organicidade), dependerá e muito da qualidade da gravação. Aqui o mais próximo desta ‘materialização’ consegui apenas com o José Cura – Anhelo.
Depois de ouvir todos os discos usados para fechar a nota dos quesitos de nossa Metodologia, repassei novamente todos, agora ouvindo pelo DAC interno do Cambridge. Achei-o, em termos de assinatura sônica, muito parecido ao DAC interno do Streamer CXV2 (leia teste na edição 265). Mais refinado em termos de equilíbrio tonal, porém com menos profundidade, menos textura e um equilíbrio tonal que voltou algumas casas.
Diria que esta opção só deve ser usada se o consumidor não tiver um DAC externo de melhor qualidade. Ou esteja passando por um momento de transição em que precise simplificar o sistema. Neste caso, sugiro que seja criterioso na escolha do cabo digital, para não ‘salientar’ as limitações.
É audível? Claro que sim, mas imaginemos as próprias limitações do streamer ou do transporte, se o usuário ainda utilizar mídia física. O que já limita ainda mais a performance no todo. Agora, se o DAC estiver sendo usado muito mais para música ambiente, o resultado será mais do que satisfatório.
CONCLUSÃO
É notório o esforço que os fabricantes que atuam na linha de entrada do áudio doméstico estão fazendo para dar um salto em termos de qualidade final.
As melhorias a cada nova série são perceptíveis. O grande entrave, na minha opinião, é que esses produtos precisam ser um ‘pacote’ cada vez mais completo, e com preços cada vez mais competitivos. E aí que mora o perigo, pois se manter vivo requer estar sempre mais atento à concorrência do que ao consumidor. É como querer dirigir olhando para o próprio umbigo.
O que algumas dessas empresas estão fazendo? Procurando criar alguns produtos que fujam a essas margens tão estreitas, e sinalizem ao consumidor que aquele valor um pouco acima traz vantagens.
Acho que o CXA 81 é um pouco isso, pois a própria Cambridge tem modelos abaixo, para brigar com a concorrência.
O fabricante que conseguir emplacar essa estratégia, e convencer o consumidor que vale a pena este investimento adicional, se dará bem. Se tivesse que apostar, diria que a Cambridge é um candidato, tanto pela sua história como pelo seu conhecimento deste disputado segmento.
O tempo nos dirá.
Antes de encerrar minha conclusão: gostei muito do amplificador de fone embutido – este é um outro importante diferencial deste produto. Muito correto tonalmente, com um bom fone também com essa qualidade, o prazer nas audições será garantido.
Se o orçamento é curto, amigo leitor, e seu desejo é um upgrade em sua amplificação que seja uma solução de um pacote integral, ouça o Cambridge CXA81. Se o que deseja é uma assinatura sônica refinada e sem arroubos pirotécnicos, ele pode ser o seu ‘oásis sonoro’.
AMPLIFICADOR INTEGRADO CAMBRIDGE AUDIO CXA81 (DAC INTERNO) | Nota: 75,0 |
AMPLIFICADOR INTEGRADO CAMBRIDGE AUDIO CXA81 | Nota: 81,0 |
AVMAG #275 Mediagear contato@mediagear.com.br (16) 3621.7699 R$ 16.417 |
Fernando Andrette
Lembro de, enquanto testava o pré de phono PH-10 da Gold Note (leia teste na edição 249), me perguntar como soariam os outros produtos desta empresa Italiana, já que o PH-10 havia sido uma grata surpresa, na performance, acabamento, possibilidades de ajustes para qualquer tipo de cápsula MM e MC, e sua proposta de oferecer fonte externa para aprimorar ainda mais suas virtudes sônicas.
Essa pergunta eu começo a responder somente agora, que um novo importador assumiu a distribuição, e de uma só levada nos enviou o integrado IS-1000, o pré de phono PH-1000, e o DAC DS-10 com fonte externa – e também o PH-10 com sua fonte externa, para eu poder ouvir as melhorias que lá atrás deixei em aberto.
Para o leitor que não conhece a marca italiana Gold Note, essa está localizada em Florença e foi fundada em 2012. Seu CEO, Maurizio Aterini é um engenheiro mecânico com mais de 30 anos dedicados à fabricação de equipamentos de áudio para várias empresas italianas, que resolveu criar sua própria empresa e escolheu à dedo seus 28 funcionários, para poder implantar sua filosofia de trabalho de buscar a excelência em todos os detalhes, sem que seus produtos de tornem inviáveis para grande parte dos audiófilos que não nasceram em ‘berço esplêndido’.
A Gold Note, com apenas uma década de vida, possui uma carteira de produtos impressionante, com: toca-discos, cápsulas, eletrônicos e caixas acústicas. Tudo produzido inteiramente na Itália, e contando com uma vasta rede de colaboradores artesãos para os belíssimos gabinetes de madeira de seus toca discos, e sofisticado maquinário CNC para os gabinetes de alumínio de seus equipamentos eletrônicos.
O amplificador integrado IS-1000, ao ser apresentado ao mercado no último trimestre de 2019, veio com a incumbência de colocar a Gold Note no patamar dos super integrados hi-end contemporâneos, com um surpreendente diferencial: o preço.
Estamos acostumados a separar os ‘super-integrados’ dos bons integrados existentes no mercado pelo preço – e nos ‘super’ ele é sempre muito acima de 15 mil dólares. No entanto, lá fora o IS-1000 custa entre 5 e 6 mil euros, dependendo do DAC interno, o que já o coloca em uma posição privilegiada frente à concorrência. E isso o levou a galgar rapidamente uma posição de destaque nas principais revistas especializadas.
Ao contrário da linha denominada 10 (PH-10 e DS-10), com gabinetes menores e compactos, a linha 1000 possui gabinetes maiores, para poder oferecer o arsenal de recursos debaixo de seu capô. Mas o design e os detalhes de construção estão presentes em ambas as séries, e o que mais chama atenção nos produtos da Gold Note é sua limpeza visual, que permite que o produto se destaque sem, no entanto, ser espalhafatoso.
Diria se tratar de uma beleza minimalista, com design moderno.
O fabricante informa que o IS-1000 tem uma potência de 125 Watts por canal em 8 ohms, um DAC interno com duas opções de chip conversor – sendo a versão de luxo (a que nós testamos) vem com Burr Brown PCM1796.
A Gold Note enfatiza que, com o IS-1000, o usuário tem um verdadeiro plug & play, e que basta adicionar um par de caixas, ligá-lo em sua rede Wi-Fi ou Ethernet, e já terá música a disposição, seja do Tidal, Qobuz, Spotify ou Deezer, tanto com Roon ou com seu próprio aplicativo, disponível para iOS e Android. Eu usei ambos os aplicativos: o da Gold Note e o Roon, mas devido a facilidade com o aplicativo da Gold Note, ouvi muito mais streaming via meu celular do que através do Roon.
Para os que possuem sua música armazenada em NAS ou pendrives, todos os arquivos DSD64 são convertidos para PCM de alta resolução pelo protocolo UPnP via USB e LAN. E para os que possuem um toca-discos, o IS-1000 possui um pré de phono baseado no PH-10, com opções tanto para cápsulas MM quanto MC. Ou seja, com este integrado o usuário tem um pacote completo de opções para desfrutar de sua música como bem entender.
E você, inquieto na cadeira, já deve estar se perguntando: ok, mas todos os fabricantes mais ‘antenados’ já oferecem este ‘pacote’, então o que este Gold Note tem de tão especial para ser chamado de super? Calma que já chegaremos lá!
O que o difere dos integrados ‘completos’ existentes é sua coerência em oferecer quase que o mesmo padrão de qualidade no DAC, no pré de phono e na amplificação, e todas essas opções terem uma excelente performance.
O objetivo da Gold Note, ao desenvolver este integrado, foi realmente alto, pois desde o primeiro esboço os engenheiros decidiram que ele teria que ser capaz de ter uma qualidade comparável à equipamentos de áudio dedicados separados – como DACs, streamers e phono.
Ser um streaming fácil de usar e de excelente qualidade.
Ter potência suficiente para acionar mesmo caixas mais difíceis e, com um diferencial interessante: duas opções de fator de
amortecimento, para caixas com menor ou maior sensibilidade (mais adiante falarei deste diferencial).
Ser uma fonte de entretenimento com conexões suficientes para aqueles que, como eu, não abriram mão de mídias físicas e, até mesmo, conexão para subwoofer e para TV, caso seja este o desejo do usuário.
Para atingir todos esses objetivos, os engenheiros da Gold Note tinham dois caminhos usar as tecnologias de consumo que todos os receivers e sistemas de A/V utilizam, ou recorrer a soluções hi-end, sem fugir ao objetivo central: custo.
A opção de custo mais óbvia seria a implementação de uma topologia de amplificação classe D, algo impensável para os padrões de performance da Gold Note. Então, se recorreu a um design Mosfet de alta corrente, para ter a assinatura sônica de um típico classe A com a potência e dinâmica dos amplificadores classe AB.
Outra solução interessante, desenvolvida pela Gold Note e batizada de BOOSTER, é a possibilidade de ter opções no ajuste do fator de amortecimento para se adaptar a qualquer sensibilidade da caixa. Neste dispositivo o usuário escolhe entre as opções ‘off’, ‘low’ e ‘high’.
Já o projeto do pré de phono foi bem mais simples, pois eles se basearam no estágio existente do PH-10, simplificado, porém com a mesma performance desse pré de phono.
O maior desafio, certamente, foi o desenvolvimento da fonte de alimentação do IS-1000, em que os engenheiros optaram por um transformador toroidal de 600VA, com um núcleo de alto amortecimento com resinas especiais para o cancelamento de vibrações.
O DAC interno foi baseado no DS-10, mas com algumas ideias usadas exclusivamente para o integrado, como um super processador ARM Cortex M4 Core 32-bit, que verifica em tempo real todos os processos de uso, até a temperatura da placa para, caso seja preciso, acionar o resfriamento necessário.
Os capacitores, assim como os terminais de caixa e as entradas, são todos de qualidade premium, como nos melhores e hiper mais caros ‘super-integrados’. O painel frontal, como de todos os produtos deste fabricante, são limpos e minimalistas, como escrevi lá atrás.
Do lado direito do painel temos a tela colorida LED quadrada, que é controlada pelo botão à esquerda do painel. Este controle simples, objetivo e funcional permite que você utilize este integrado sem o uso do controle remoto, se assim você quiser. Basta pressionar por 5 segundos este botão, e o IS-1000 será ligado ou desligado. Quando ligado, você pode selecionar as entradas, volume, balanço e o tal do BOOSTER para acionar ou desligar o fator de amortecimento (alto ou baixo).
No painel traseiro temos: um par de entradas analógicas RCA e uma XLR. A entrada RCA para o phono, que terá que ser alterada no painel frontal para MM ou MC . Para cápsulas MM, o ganho é de 45 dB, e para as cápsulas MC é de 65 dB. Ainda no painel traseiro, há um par de saídas, uma fixa e uma de pré amplificador, variável, e as entradas digitais coaxial e USB-A (para pen-drive), rede Ethernet, e mais três entradas óticas. Além do cabo IEC de força, o botão de liga/desliga e a antena para Wi-Fi.
Para o teste, utilizamos os seguintes equipamentos. Caixas acústicas Wilson Audio Sasha DAW, Elipson Legacy 3010 (leia Teste 2 nesta edição), e Elac Debut Reference DFR 52. Cabos de caixa Virtual Reality Trançado, e Apex da Dynamique Audio. Toca-discos Origin Live Sovereign com braço Enterprise de 12 polegadas, e cápsulas Hana Umami Red, ZYX Bloon 3 e Ortofon 2M Red e Bronze. Fontes digitais transporte Nagra e music server Innuos MiniZen. Cabos digitais Sunrise Lab Quintessence Aniversário Coaxial, e Virtual Reality. Cabos analógicos Sunrise Lab Quintessence Aniversário (RCA e XLR) e Dynamique Audio Apex (XLR). Cabos de força: Sunrise Quintessence Aniversário, e Transparent PowerLink MM2.
O leitor que tiver o interesse de escutar o IS-1000, ouça um conselho: certifique-se se ele está amaciado. Pois caso não esteja, o ideal é pelo menos 100 horas iniciais para uma primeira audição. E não se esqueça que o amaciamento precisará ser feito com o Streamer, o DAC e com o pré de phono, sendo que os dois últimos necessitam pelo menos 120 horas de amaciamento.
Dentre as consultorias diárias, uma recorrente em grande escala é: “os integrados já podem substituir os módulos separados?”. Sim, meu amigo, basta uma olhada no top five e ver que os mais recentes integrados na lista dos cinco melhores, já ultrapassaram com folga a margem dos 95 pontos! O que falta é testarmos um integrado de 100 pontos ou mais. Mas pelo andar da carruagem, acho que esta barreira em breve será ultrapassada.
A questão agora, que se faz presente, é saber qual desses integrados que oferecem um ‘pacote’ completo terá, em todas as suas plataformas internas, coerência em performance e assinatura sônica.
Pois os que testamos até o momento, a amplificação é sempre superior ao DAC e streamer.
Será que no IS-1000 também é assim? Para termos essa resposta, depois de tudo devidamente amaciado, para fechar a nota, comparamos com nossas referências e, também, utilizamos o DS-10 e o PH-10, ambos sem fonte externa. Para tornar a comparação mais justa.
Lembre-se que a Gold Note, ao desenvolver este integrado, teve como objetivo fazê-lo o mais próximo possível de seus próprios módulos separados, mas com o comprometimento que, com o produto pronto, seu valor não seria a soma de todos os seus produtos separados.
Então, é de se supor que os módulos desenvolvidos para o integrado estejam abaixo da performance dos equipamentos separados, pois se fossem idênticos em termos de performance, o IS-1000 não poderia ter este valor de venda. Assim, nosso trabalho foi justamente saber o quão próximo o ‘pacote’ se aproximava dos seus respectivos equipamentos separados.
E descobrir essa resposta leva tempo, e dá muito mais trabalho, pois você passará dias ouvindo um, depois o outro para entender quem é que carrega os outros nas costas.
A primeira parte do teste consistiu em ouvir o integrado como amplificador! Para isso ele foi ligado ao nosso setup digital de Referência, e ouvimos ele desta forma, hora pela sua entrada XLR (cabos Apex e Quintessence), e os mesmos discos pela sua entrada RCA (Quintessence). Passamos todos os discos da metodologia e ficamos realmente impressionados com seu refinamento, autoridade e musicalidade!
É um estupendo integrado, que atende perfeitamente a todos que acham que estes ainda não estão no mesmo nível dos prés e power separados.
Um amigo me perguntou se viveria feliz com ele? A resposta foi sim! Principalmente se tivesse a necessidade de reduzir meu sistema ao mínimo possível, sem abrir mão da minha coleção física de música. Seu equilíbrio tonal é corretíssimo, e possui aquele ‘algo a mais’ que acho tão imprescindível em produtos Estado da Arte: naturalidade. Pois não adiantar termos agudos limpos e com excelente extensão, médios corretos com enorme inteligibilidade e graves com corpo, energia e precisão, se os timbres soam ainda parecendo reprodução eletrônica (como streamer e classe D, por exemplo).
Não, o Gold Note, já atravessou esta fronteira, e nos permite ouvir a música com o nosso cérebro relaxado e apenas se deleitando com a apresentação musical.
Sei que, para muitos de vocês, tudo isso parece ‘subjetivo’ demais para se compreender, mas acredite, no dia que você escutar um sistema em que a música flui organicamente, sem ‘resistência’, como quando sentamos em um espaço público e ouvimos um instrumento acústico de sopro ou de cordas ao nosso lado e percebemos nuances que nunca antes havíamos notado, você saberá a enorme diferença entre reprodução eletrônica ‘realista’ e uma reprodução eletrônica bem feita.
Um equipamento como este Gold Note, soa assim, sem artifícios de amplificação – principalmente quando ligado ao nosso setup de Referência digital e analógico.
Costumo traduzir essas reproduções como de equipamentos sem a ‘faca nos dentes’, que só mostra seu poder e autoridade quando a música realmente exige (estou falando da variação dinâmica da música). Caso não haja essas variações, a música flui com enorme leveza, apenas atenta ao tempo, andamento e intencionalidade. O problema é que muitos podem confundir uma reprodução assim como uma apresentação letárgica ou descompromissada. Sendo que para o nosso cérebro, soa justamente o oposto. E a única forma de compreender é ouvir e deixar seu cérebro interpretar, pois ele é muito bom em saber quando algo é próximo da música amplificada, ou não.
O soundstage do IS-1000 é excelente também, pois os planos são apresentados com precisão. Tanto em termos de foco e recorte, como na ambiência, podendo nos dar uma dimensão exata do palco em que a obra foi gravada. Ouvindo algumas gravações da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, feitas na Sala São Paulo, minha memória auditiva me trouxe de volta recordações do belo decaimento que a sala tem, e seu enorme respiro depois de fortíssimos seguidos de pausas.
Se você nunca foi à Sala São Paulo, meu amigo, não sabe o que está perdendo! Esqueça os que falam besteiras como ‘falta agudo’, ou ‘o som é baixo’. Essas pessoas não têm a menor noção do que estão dizendo. E provavelmente nunca pararam para pensar que a falta de agudo que acham pode ser um problema de perda de audição e não de problema na acústica da sala. E aos que dizem que o som é baixo, certamente suas referências de música ao vivo são apenas shows com mega amplificação de estourar os tímpanos!
Vá à Sala São Paulo apenas imbuído de aprender, de recalibrar sua audição, e ampliar suas referências auditivas. Se fizer isso regularmente, te garanto que em muito pouco tempo dezenas de fichas irão cair, e você irá repensar até a forma com que você escuta seu sistema e os volumes que utiliza para apreciar seus discos.
O IS-1000 é uma ferramenta precisa neste aspecto, pois o som flui com folga, espaços, silêncios reais, tempos e andamentos precisos. E em minutos seu cérebro passa a desfrutar a música sem sua cabeça estar vigilante como um cão de guarda que não relaxa nunca.
Eu vi, nestes anos todos, nos nossos eventos, a forma que os leitores apreciam os sistemas, e poucos – muito poucos – conseguem se abster de pensar como está o agudo, ou o grave, ou o palco sonoro, para fechar os olhos e apenas se soltar.
Como gostaria de ter apreciado audições tranquilas, silenciosas, sem falas paralelas, como se estivéssemos todos em um mosteiro ou assistindo a um concerto ao vivo.
Essa é a proposta do IS-1000, fazê-lo prestar integralmente a atenção na música, pois ele está despido de todos os artifícios, tão encantadores no primeiro momento, e tão decepcionantes no seguinte, quando sua mente começa a vagar e macaquear de um lado para o outro, querendo descobrir defeitos e virtudes.
Por isso que os audiófilos nunca estão contentes com o que alcançaram, querendo sempre ir a outro estágio sem ao menos ter o prazer de desfrutar o que já conquistaram. Felizmente, para os que desejam quebrar com este ciclo infinito de busca, é que existem equipamentos que estão trilhando o caminho inverso da pirotecnia e do exagero da transparência.
E o interessante é que muitos achavam que este poder sedutor só era possível com amplificadores valvulados, e o que temos atualmente é uma série de fabricantes de produtos estado sólido trilhando este caminho com grande êxito.
As texturas do IS-1000 são deslumbrantes por não quererem dourar a pílula, se atendo apenas a mostrar as diferenças de qualidade de captação, qualidade do instrumento e do músico, sem ‘explicitar’ e tornar enfático o que está ali, apenas para adicionar realismo e não se tornar o quesito principal do evento.
Falo isso pois muitos sistemas em que a transparência é a principal ‘qualidade’, as texturas muitas vezes se tornam ‘protagonistas’, e se o engenheiro de gravação foi infeliz na escolha do microfone, ou tentou corrigir o erro equalizando na mixagem, as texturas ganharam muito maior ênfase do que deveriam, ou precisam, e os que estão familiarizados com os timbres dos instrumentos, percebem imediatamente que aquilo não é o real.
Texturas são detalhes do todo, e não ao contrário.
Por isso este quesito me impressionou tão positivamente, pois o IS-1000 não tenta dar destaque às partes, focando sempre no todo, pois sabe que nosso cérebro é muito fácil de perder a concentração e se emaranhar em labirintos de intermináveis elucubrações.
O mesmo posso dizer da reprodução de transientes deste integrado. Essa é uma questão que merece um artigo de Opinião, algum dia. Pois, às vezes, ouço em determinados sistemas caixas de bateria com a esteira fechada (um excelente exemplo para transientes), que estão tão proeminentes que, além de nos fazer perder o todo, se tornam bastante desagradáveis. E isso ocorre geralmente por dois motivos: erro no equilíbrio tonal, com tendência a enfatizar a região média-alta, e um corpo harmônico pobre na região
médio-grave. Fazendo com que os transientes de caixas de bateria com a esteira aberta ou fechada, tornem-se protagonistas.
Sistemas assim irão expurgar 50% ou mais de nossos discos, pois muitas coisas mal gravadas ficarão inaudíveis. Então, é sempre importante que os transientes sejam reproduzidos com a maior fidelidade possível, e isso só ocorre quando os quesitos Equilíbrio Tonal e Corpo Harmônico estejam corretos. A não ser que seja uma obra inteiramente percussiva, e a intencionalidade do compositor seja a de tudo ser executado no fortíssimo, o detalhe nunca pode ser mais realçado que o todo.
Quando o audiófilo finalmente entende todas essas correlações entre cada um dos quesitos, ele poderá avaliar com muito mais
segurança os pontos a serem trabalhados em seu setup, para chegar à harmonia necessária para desfrutar da música e não ficar o tempo todo apenas escutando a assinatura do seu sistema.
Isso me fez lembrar um show do João Bosco que assisti no teatro do Sesc da Vila Mariana, há muitos anos, em que ele era acompanhado apenas de um percussionista, e o cara sentava tanto a mão no bongô que o João Bosco parou o show e pediu para ele ser mais sutil. Eu estava na primeira fileira do teatro, mais próximo do percussionista do que do violão e voz do João Bosco, e desta posição ouvia muito mais o som direto vindo do palco do que do som amplificado. E a culpa não foi do percussionista, e sim do engenheiro de som, que acentuou de forma desagradável toda a região média-alta e os agudos, e o que criou a sensação de que o percussionista estava exagerando na dinâmica foi o canal de retorno de palco para o João Bosco. Eu vi a cara de espanto do percussionista e a tentativa dele diminuir a intensidade, sem grandes resultados. Depois da terceira ‘encarada’ do João Bosco, ele fez o que eu também faria: se afastou do microfone e o problema foi parcialmente resolvido.
Nosso sistema não tem um João Bosco para pedir que a apresentação dos transientes seja mais sutil. Portanto, nós precisamos estar atentos aos erros no equilíbrio tonal e corpo harmônico pobre.
Outra questão que observo com esta nova geração de eletrônicos, que não está com a ‘faca nos dentes’ o tempo todo, é que os que possuem sistemas ‘nervosos’ no primeiro momento acham que falta dinâmica a esses amplificadores. E as vezes demoram a entender que não é falta de dinâmica, e sim a arte de utilizá-la apenas quando for solicitada (na música é claro). Pois essa folga e ausência de fadiga auditiva, ele só tem em seu sistema naquelas gravações ‘audiófilas’ em que tudo é feito para nunca soar duro. Mas quando coloca música de verdade, quase tudo passa do ponto. Nesses casos, faço o seguinte: mostro aquelas gravações que ele adoraria ouvir em seu sistema, mas que o mesmo não toca. E quando ele percebe que não só toca bem, como não agride ou passa do ponto, a ficha finalmente irá cair.
O IS-1000, felizmente, é dessa nova escola de hi-end em que o equipamento não pode ser mais importante que a música. Então a macrodinâmica estará lá, perfeitamente executada, mas apenas quando estiver escrito na partitura. E quanto à micro, esta sempre será reproduzida em detalhes.
O corpo harmônico do IS-1000 é excelente, não devendo nada aos melhores prés e powers que se possa comprar Estado da Arte. E a organicidade, junto com o integrado da Nagra, é a melhor que já ouvimos. Os músicos estão lá à nossa frente, materializados, seja nas gravações excepcionais como nas bem feitas.
Em termos de amplificação, o IS-1000 é o segundo melhor integrado que testamos até o momento na revista, isso acredito que diga o quanto gostamos de sua performance.
E seu DAC, como se apresentou em comparação com o DS-10 (ainda em teste), sem a fonte externa? Foi uma grata surpresa, pois ainda que esteja abaixo do DS-10, sua coerência é magnífica. A Gold Note foi muito feliz na escolha do caminho traçado para este DAC interno, pois ele também segue a regra da amplificação, do todo ser mais importante que as partes. Fazendo-o soar, seja com o transporte Nagra ou o Innuos MiniZen, de forma muito coesa e equilibrada, com um conforto auditivo digno de um DAC realmente Estado da Arte. E, novamente, foi muito acima em termos de performance que os DACs testados em outros integrados.
E o seu streamer, comparado ao Innuos? Aqui meu amigo, tive a mais grata surpresa, pois as semelhanças foram muito maiores que as diferenças. O Innuos tem maior arejamento, melhor foco e recorte – mas isso com a fonte externa dele. Sem esta, são absurdamente semelhantes, tanto em termos de apresentação, como de assinatura sônica. Acho muito difícil que o audiófilo que compre este integrado se interesse por um streamer externo, pois não faz sentido algum este investimento, sendo que pode-se gastar em upgrades muito mais consistentes em volta deste integrado, que só irão ampliar o prazer de ouvi-lo.
E, por fim, fizemos o comparativo do pré de phono interno com o PH-10 sem a fonte externa.
E, novamente, mais uma surpresa: sonicamente são muito semelhantes. O que é mais evidente é que o pré interno não tem o arsenal de ajustes do PH-10, que é o faz ser tão interessante. Mas, para quem deseja um setup analógico de alto nível, em que a cápsula se adeque aos ajustes possíveis no IS-1000, o resultado será excelente! Tanto em MM como em MC.
Excelente silêncio de fundo, equilíbrio tonal de alto nível e uma imagem 3D do mesmo nível do PH-10, que é justamente um de seus maiores trunfos em relação à concorrência.
CONCLUSÃO
A Gold Note pode se orgulhar do IS-1000, pois tudo que prometeu entregar o fez em altíssimo nível. Não há nada que desabone ou seja um recurso de menor nível, ou que está ali por também estar no produto concorrente. Pelo contrário, tudo foi milimetricamente planejado, e o resultado é que temos um integrado que será inevitavelmente a referência para os que vierem depois.
Pois conseguir este grau de performance, acabamento, recursos e compatibilidade com o maior número possível de caixas hi-end existentes no mercado, com seu ajuste batizado de BOOSTER, é um grande feito.
Não consegui testar adequadamente este recurso, pois as três caixas que tinha no momento do teste eram ‘pêra doce’ para qualquer amplificador. Tanto que a maior parte do tempo deixei em off este recurso. E as poucas vezes que tentei ouvir, não notei diferenças importantes entre off, high ou low. Mas gostaria muito de ter em mãos uma caixa com sensibilidade abaixo de 85 dB, para ver como este recurso corrige o fator de amortecimento. Quem sabe no futuro eu consiga dizer a vocês o que ocorreu.
O IS-1000 é merecedor de todos os destaques e prêmios que já recebeu mundo afora. Pois pensar que um produto tenha tanto a oferecer custando o que ele custa, é digno de comemoração por muito tempo.
Para os que chegaram à conclusão que chegou o momento de simplificar o setup, sem abrir mão da performance, não ouvir o
IS-1000 será um erro imperdoável!
Para conseguir este nível de performance em produtos modulares, irá se gastar no mínimo o triplo! Este é o tipo de argumento que não
se pode descartar, principalmente com o dólar acima dos 5 reais!
AMPLIFICADOR INTEGRADO GOLD NOTE IS-1000 (como streamer) | Nota: 85,0 |
AMPLIFICADOR INTEGRADO GOLD NOTE IS-1000 (como pré de phono) | Nota: 94,0 |
AMPLIFICADOR INTEGRADO GOLD NOTE IS-1000 (como dac) | Nota: 95,0 |
AMPLIFICADOR INTEGRADO GOLD NOTE IS-1000 (como amplificador) | Nota: 98,0 |
AVMAG #276 German Áudio contato@germanaudio.com.br R$ 53.950 |
Juan Lourenço
A célebre fabricante francesa Cabasse, apresentou recentemente a caixa sem fio The Pearl Akoya, uma versão menor da caixa sem fio The Pearl. A Pearl Akoya mede 22 cm de diâmetro e pesa 6 quilos, uma boa relação tamanho/peso que, certamente, contribui para o resultado sonoro.
Naturalmente, a engenhosidade e o DNA Cabasse estão enraizados na pequena Pearl Akoya- seu sistema tri-coaxial composto por tweeter e falante de médio BCI de fibra de carbono, perfeitamente alinhados medindo 13 cm e 300 W RMS / 600 W de pico, e um woofer de 17 cm HELD na parte de trás com 450 W RMS / 900 W de pico, também em fibra de carbono.
A Cabasse diz que a Pearl Akoya é ideal para ambientes de 20 a 32 metros quadrados. Com essas especificações acima, devo dizer que estou curioso para pôr à prova esta afirmação. Para firmar ainda mais seu compromisso com o design e extremo bom gosto, a caixa acústica Pearl Akoya vem com um controle remoto lindíssimo, de um desenho elegante simples e bastante funcional.
ecebemos da Impel uma embalagem contendo um par de caixas acústicas Akoya e, como elas podem ser utilizadas separadas, ou seja, uma para cada ambiente, ou em modo estéreo, cada caixa acústica veio com um controle remoto – assim quem quiser fazer várias zonas com várias caixas Akoya pode abrir o sorriso, pois é perfeitamente possível. Ou, se mantiver em estéreo, basta um controle remoto para operar as duas caixas.
O pacote de conectividade fica por conta das entradas Ethernet via cabo, WiFi, Bluetooth, SPDIF Ótico, P2 Analógico (3.5 mm com outra ponta RCA), e micro USB (padrão de celular anterior ao USB-C) para conectar pendrive ou disco rígido externo. Completando o pacote de versatilidade, a caixa acústica vem integrada aos serviços de streaming mais utilizados do momento, como Spotify, Tidal, Qobuz Deezer e Napster, e também possui rádios por internet e Apple Air Play 2, todos implementados diretamente no aplicativo StreamCONTROL para Android ou IOS. Seu DAC interno é capaz de processar áudio de até 32-bit/768 kHz, oferece controle de voz, multiroom e calibração automática muito parecida com os sistemas encontrados em receivers de última geração, com uma ótima sacada: não precisa de microfone! Com este recurso o usuário pode calibrar as especificações da caixa acústica de acordo com o ambiente, regulando parâmetros de equalização e SPL. A alimentação vai de 100 a 240V (50/60 Hz, 6A). Para completar a alegria geral da nação audiófila, a Cabasse teve o cuidado de colocar a entrada de alimentação padrão IEC tão utilizado pela comunidade do áudio hi-end. Acompanham a caixa acústica um cabo Ethernet e um cabo de alimentação para cada caixa – não é o borrachão nem o top de linha: é um cabo bonito e bem confeccionado com contatos de qualidade, porém houve um equívoco, nos enviaram o cabo padrão europeu que não encaixa no padrão brasileiro muito menos no americano que estamos acostumados. Não sei se toda a importação veio assim, ou se foi apenas este par que veio para testes. Mas, só de possuir entrada IEC padrão já nos permite utilizar os cabos de energia mais sofisticados sem problemas. E com ganhos audíveis!
A Pearl Akoya vem em uma embalagem de papelão duplo bastante resistente. Dentro dela as caixas estão embaladas em outra caixa individual e dentro desta embalagem vem o case injetado rígido onde as caixas estão acomodadas. É um verdadeiro ‘Kinder Ovo’.
omo é de se esperar, pela ótima reputação da Cabasse em superar as expectativas até nos mínimos detalhes, o case é digno dos melhores cases de capacetes da renomada marca francesa SHARK, ou da italiana AGV – é daqueles cases que parece que você está levando algum acessório luxuoso para uma quadra de tênis badalada, vestido como manda o figurino francês.
A instalação é muito fácil e intuitiva. O ajuste é feito uma caixa por vez – se escolher fazer via wireless geralmente vai fácil, mas como sabemos há perdas na qualidade de áudio, se preferir fazer por cabo então é praticamente automático, é preciso se atentar para fazer todas as conexões antes de ligar a caixa, e se por acaso se esquecer de ligar os cabos de rede, geralmente é aí que começa o engasgo, e uma delas pode não reconhecer por cabo e ficar uma por cabo e outra wireless, como aconteceu comigo. Daí só ‘resetando’, o que não é um problema, pois o botão está ao lado da entrada ótica. Dê preferência por cabos de rede audiófilos – as caixas são sensíveis e respondem bem à qualidade dos cabos de rede. E, além disso, elas merecem!
Por falar em entrada ótica, não precisa duplicar os cabos, como por exemplo dois cabos óticos para as duas caixas. Escolha uma delas, e as duas conversarão normalmente.
Ao tentar sincronizar com a TV, um irritante delay de mais de quatro segundos insistia em tirar minha paz. Tentei pela entrada P2 e o efeito era o mesmo. Mexi no atraso de milissegundos e nada! No App em configuração ‘analog e optical input’, existe o modo hi-fi, low latency e TV/direct. Achei que o TV/Direct daria certo, e nada! O sincronismo com a imagem só ocorreu quando utilizando o modo ‘low latency’. Foi uma dor de cabeça tentando ajustar isso, e fazer a caixa direita ser a do lado direito mesmo. Após uma espairecida com um bom café, voltei ao App, fui em Players, canto superior direito abre as configurações, ícone de engrenagem, dashboard, zoning – e lá é possível configurar qual caixa será esquerda ou direita, volume individual de cada uma delas, bem como modo stereo, que no meu entender não faz muito sentido ter a opção quando acionado este modo, pois o palco muda e parece que as caixas estão invertidas. No manual não explica nada sobre isso.
COMO TOCA
Para o teste, utilizamos as duas caixas Pearl Akoya tanto em modo estéreo, como em modo mono com cada caixa em um ambiente diferente, utilizando os streamings de música Tidal e Spotify pelo App Cabasse, saída ótica da TV ligada à caixa acústica. Também utilizamos celulares Samsung S10+ e iPhone 8 Plus.
A Pearl Akoya não foge a regra do amaciamento. Suas primeiras músicas soam magras e sem extensão, e à medida que os falantes vão se soltando, a formação de palco melhora bastante.
Sem a correção automática, a caixa pede espaço para a parede de fundo, e uma boa distância entre elas. Ficam relativamente bem em estantes e prateleiras, e graças ao design tri-coaxial o palco se mantém amplo e alto. Mas quando colocadas em pedestais, a coisa fica realmente séria e a Akoya deu um enorme salto qualitativo. Não tivemos o pedestal original, mas com o pedestal Airon topo de linha com upgrades, a caixa saiu-se super bem. Ela possui uma ótima extensão de graves para uma pequena esfera de 22 centímetros, a transição para as outras frequências são suaves e limpas, o sistema coaxial funciona muito bem, e o ajuste temporal é excelente. Ela não escolhe estilo musical, e quando exigida ela toca atrevida, pulsante e musical.
Utilizando o modo de calibração automática, a caixa emite o swipe característico e modifica os parâmetros de acordo com a sala, contornando parte das limitações de espaço ou problemas da sala. O sistema funciona, mas não faz milagres – para quem busca fidelidade, não fica uma maravilha para estéreo, mas talvez seja melhor do que conviver com um grave retumbante apenas para satisfazer o lado purista.
Utilizando as caixas em modo mono, em ambientes diferentes, é possível escolher uma música para cada caixa, ou tocar a mesma música em ambas. O que me surpreendeu foi que não houve qualquer tipo de atraso ou corte no sincronismo das caixas, e elas continuaram divertidas e musicais. Tá, não é estéreo, mas é como ouvir música no carro: é pura diversão sem compromisso, mas com qualidade e sofisticação sonora.
A Akoya fala alto, tem porte e impõe uma assinatura sônica gostosa e sem fadiga – por este motivo é importante ter em mente que, por ser uma caixa acústica ativa, ela faz uso de dissipadores de calor. Não sei foi intencional, mas as estrias que circundam da base passando pela parte superior, que eu pensava ser um apelo estético, acabam agindo como um dissipador. Não posso afirmar que é, mas em volumes altos esquenta – não queima a mão, claro, mas dá alguns sustos nos desavisados. Diria que uma hora de audição em bom volume não dá para segurar a caixa nas mãos por muito tempo sem sentir-se incomodado. Por este motivo, o manual pede para não deixá-las em espaços confinados ou com pouca ventilação.
Como falei no início, a Cabasse fala que a Akoya dá conta de salas de até 32 metros quadrados. Diria que é verdade, que até 30 metros quadrados ela toca majestosa, mas daí em diante começa a faltar potência e litragem para domar as distorções. Ela também vai bem em espaços com 11 metros quadrados.
Voltando ao som, a pequena pérola dá conta de filmes sem problemas. Não dá para exigir graves subterrâneos, mas não faz feio, e a espacialidade do coaxial ajuda muito na imersão sonora, colocando as vozes e efeitos onde os atores estão na tela. As texturas dos efeitos sonoros também são um atrativo à parte.
A Cabasse mirou em um público sofisticado. Pessoas apaixonadas por design e amantes de música se encantarão por esta pequena pérola, definitivamente. Elas funcionam perfeitamente em apartamentos pequenos, quartos e áreas de convivência. Seu som encanta, mostra vivacidade e muita competência na execução de músicas complexas. Aos futuros apreciadores desta pérola, se puder adquirir o subwoofer, então, o pacote estará completo!
Nota: 70,5 | |
AVMAG #279 Impel (11) 3582.3994 R$ 43.155 |
Juan Lourenço
A Elac é uma daquelas fabricantes de caixas acústicas hi-end que fez e faz parte do imaginário e da memória do audiófilo brasileiro. Seja pela saudade que deixou em seus sistemas ou pela vontade de ter uma, pois na época de ouro do Hi-End por estas bandas, nos idos de 2000 a 2016, fez parte da sala de muita gente, e nos Hi-End Shows sempre fez belas apresentações que marcaram na memória.
A nova safra da Elac, sob a batuta do renomado Andrew Jones, mais uma vez excede as nossas expectativas, com a Debut 2.0 B6.2, uma bookshelf com pegada de gente grande. A Mediagear colocou um concorrente de peso em nosso mercado nacional.
Andrew Jones é um gênio, e como tal possui a mania de fazer projetos complexos parecerem extremamente simples. Chega a ser ridículo e genial ao mesmo tempo, pois fazer o óbvio – que é tocar direito – costuma ser deixado de lado em caixas de entrada, dando lugar à estética. Nesta levada, a Debut 2.0 B6.2 mostra todas as sacadas do bruxo sem perder a essência da marca alemã, simples e atemporal, uma caixa acústica feita à moda antiga.
Neste novo modelo, a Elac mudou bastante coisa. Embora se pareça muito com os modelos anteriores da marca, quase tudo sofreu mudanças, seguindo a receita alemã, tudo de um jeito bastante sutil. A única coisa que se manteve inalterada foi a folha de madeira preta e a tela de proteção/difusão do tweeter. A caixa acústica é do tipo bass-reflex, responde de 44 Hz a 35 kHz, utilizando woofer de cone de aramida, com tweeter que é o mesmo presente nas versões anteriores, mantendo inclusive o mesmo rebaixo e tela que ajuda na dispersão das freqüências – só que desta vez foi melhorado pelo bruxo, então é de se esperar que a coisa tenha ficado muito boa.
O gabinete em MDF recebeu reforços para uma melhor rigidez, e conter as vibrações e ressonâncias espúrias a fim de manter um ótimo equilíbrio tonal, ponto forte desta caixa, e junto com esta atualização o duto de ar do bass-reflex veio para frente. Há um mito de que saídas dianteiras permitem posicionar caixas acústicas mais próximas da parede de fundo, e que com isto é possível deixar as caixas em estantes e coladas na parede – mas a meu ver não ajuda em nada neste quesito. Toda caixa acústica precisa de distanciamento da parede de trás, para formar palco e render corretamente. Se estiver em pedestais com a altura correta, alinhadas com os ouvidos, melhor ainda! A lenda de que dutos dianteiros permitem posicionar as caixas mais próximas da parede cai por terra quando sabe-se que caixas seladas pioram, e muito, sua apresentação musical quando grudadas na parede. Não há cristão que agüente ouvir uma caixa acústica nestas condições. Quem manda de verdade nisto são as características acústicas da sala, seja ela ‘pelada’ ou cheia de móveis, e até tratada acusticamente. A curva de medição da caixa acústica indica os picos e vales de frequências presentes na sala e, aí sim, a caixa pode ir mais para frente ou para trás da parede de fundo.
Voltando à Debut B6.2, o visual segue a regra do pretinho básico com cantos vivos e woofer adornado por um anel com textura fosca, que além de trazer mais requinte ao projeto, ajuda a posicionar melhor o falante para que o alinhamento de fase entre tweeter e o woofer seja o mais coerente possível.
A única parte da caixa acústica que não me agradou totalmente, foi a posição dos bornes – que a Elac e quase todas as marcas insistem em manter nas medidas do padrão comercial. Os bornes são lindos, possuem um acabamento excelente, mas estão muito próximos fisicamente um do outro. É chato de apertar, pois não há espaço para posicionar os dedos e conseguir um bom grip. Isto não é um problema apenas da Elac, pois quase todos os fabricantes cometem este erro em caixas acústicas de entrada. Parece que rejeitam a ideia de que seus potenciais clientes utilizem, em uma caixa de entrada, cabos com plug spade – apenas que utilizarão banana. Neste ponto o bruxo me decepcionou.
Mas vamos ao que interessa, que é como toca. Para este teste utilizamos os seguintes equipamentos. Fontes: toca-discos de vinil Pro-Ject RPM 6.1 SB com cápsula Ortofon 2M Bronze, pré de phono The Phonostage da Sunrise Lab, streamer Innuos Zen Mini com fonte externa e DAC Aqua Formula. Amplificação: Sunrise Lab V8 Mk 4 Signature Special. Cabos de força: Transparent MM2, Sunrise Lab
Reference II Magic Scope, Sunrise Lab Premium. Cabos de interconexão: Sunrise Lab Reference Magic Scope, Sax Soul Cables Zafira III XLR. Cabos de caixa: Sunrise Lab Reference II Magic Scope, e Sunrise Lab Premium Magic Scope.
O amaciamento da Debut B6.2 é bastante tranquilo. Ela impressiona logo nos primeiros acordes, sofrendo menos com o amaciamento, pois tem uma boa folga desde o começo. Isso aumenta o leque de gravações a serem ouvidas no início do amaciamento. Aproveitando essa folga, já comecei as audições com Madeleine Peyroux – Dreamland, faixa 5, e Holly Cole Trio – Don’t Smoke in Bed, faixa 11. Devo dizer que me surpreendi bastante com o relaxamento que a B6.2 mostrou nestas músicas, em seus primeiros minutos de vida. O arejamento e a ambiência desta caixa realmente chamam a atenção. A folga com que ela lida com os arranjos e as conversações entre os instrumentos impressionam bastante. As texturas do violino e do acordeon na música da Madeleine, e na gaita e no piano da Holly Cole, nos fazem duvidar do valor desta caixa! Até parece que a caixa saiu da fábrica pré-amaciada de tão bom que fica.
O amaciamento durou 300 horas. As caixas ficaram a um metro da parede de fundo, 60 cm das paredes laterais, e com mais ou menos 2,7 metros entre elas. Decidi sair do jazz e dei uma virada no gênero musical, fui para Hotel California, do Eagles – Hell Freezes Over, e aí a musicalidade, o balanço e a expressividade, juntamente com a suavidade, inundaram a sala de audição. Daquele jeito que te faz esquecer o sistema, fechar os olhos e curtir a música, sentindo muita inveja de quem estava lá no show. Jazz e blues quase todas as caixas tocam razoavelmente bem, o destaque fica mesmo por conta das gravações mais comprimidas de rock progressivo, reggae e eletrônico. Depeche Mode – Black Celebration, faixa 2, e Kraftwerk – Computer World, faixa 6, ficaram espetaculares! O palco amplo, a velocidade dos transientes e o foco desse tweeter deram aos sintetizadores mais inteligibilidade e, com isso, cada intervenção eletrônica ganhava um sentido próprio que se complementava como atos na música. Isto é bastante interessante para uma caixa acústica deste porte.
Os timbres são muito bons e a precisão no palco sonoro é algo fora de série, lembra bastante os tweeters tipo Air Motion Transformer, mesmo sabendo que passa longe de ser. O palco é alto, amplo, e recheado de boas surpresas quanto aos planos. O grave é vincado, tem boa articulação e não sobra nem falta de peso. Claro que desce menos que uma torre, mas as frequências baixas estão tão bem-resolvidas que só sentimos falta mesmo – mesmo(!) – em música clássica. Aí o caldo engrossa um pouco, e sentimos falta da maior litragem e do falante a mais. Neste gênero, ela toca muito bem conjuntos menores, como sextetos e quartetos, mas orquestras completas ela apenas cumpre o combinado.
CONCLUSÃO
A Elac coloca uma excelente bookshelf para brigar em um segmento que, até então, era capitaneado pela Dynaudio Evoke 10. A Elac
Debut 2.0 B6.2 se mostra uma excelente alternativa para o audiófilo que tem pouco espaço e sofre com palco pequeno e baixo, e de brinde ganha uma sonoridade limpa, imponente e que não escolhe gêneros musicais.
Nota: 82,0 | |
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Juan Lourenço
Na edição 253 da Revista, analisamos a Dynaudio Evoke 10, uma bookshelf surpreendente em todos os sentidos, inclusive no preço. A linha Evoke é composta por duas bookshelfs (10 e 20), duas torres (30 e 50), além da caixa central 25C, para compor um set para home-theater.
A Evoke entra no lugar da Excite – e no caso da Evoke 20, esta assume o posto deixado pela X16. Nesta nova empreitada, a Dynaudio fez a sua famosa distribuição de tecnologia em cascata, sendo assim cada linha abaixo da Confidence vai herdando um pouco das tecnologias empregadas na irmã maior. Com a Evoke, a marca dinamarquesa a posicionou mais para perto das linhas superiores, embarcando muitas das tecnologias das Contour e da Special 40, como processos de fabricação, travamento de gabinete, otimização de espaço interno e componentes – claro, tudo que deu muito certo nas linhas acima. A Evoke herdou e até refinou o tweeter Cerotar da Special 40, adicionando o sistema Hexis. Com isso, a distância entre ela e a Emit, caixa de entrada da marca, passou de alguns metros para alguns quilômetros! Enquanto a Emit se parece com a Focus 220, a Evoke coloca em prática os novos conceitos de design obtidos em uma pesquisa que a marca afirma ter feito nos lares dinamarqueses e nas casas conceito, buscando novas tendências com linhas suaves joviais e que resistam melhor ao tempo.
Como dito acima, a ideia era se aproximar da Contour, mas sem estourar o orçamento. Para tal feito, foi preciso utilizar técnicas de marcenaria de ponta como cantos arredondados e o mesmo estreitamento da parte traseira do gabinete visto nas Contour e Confidence. Em tese isto melhora a vazão do ar e evita o acúmulo de frequências parasitárias e ressonâncias indesejadas no gabinete. Na Contour, vemos o famoso espelho em peça única, feito de metal, que reduz as vibrações espúrias. Já com a Evoke a Dynaudio fez o mesmo, mas de maneira menos dispendiosa, aumentando a espessura da parede frontal em MDF. Estas coisas a linha Emit jamais sonharia em ter.
O cone do woofer Esotec+ é mais leve que o cone da Exite, por exemplo, possuindo apenas 0,4 mm de espessura, e continua sendo produzido com o famoso MSP (polímero de silicato de magnésio), uma tecnologia proprietária da Dynaudio. A bobina tem 52 mm de diâmetro com enrolamento em alumínio, que reduz o peso total dela, mas principalmente dá a sonoridade característica deste fabricante. Com o alumínio, a Dynaudio consegue mais voltas do material no enrolamento da bobina, proporcionando maior controle sobre o cone, com um ótimo equilíbrio entre tamanho e peso. Tudo isto é centralizado pela nova aranha Nomex, mais flexível e mais resistente, melhorando o fluxo de ar, dissipando melhor o calor. O novo imã de ferrite+ completa o woofer, trazendo mais poder de fogo ao falante.
Falando da estética dos falantes, os parafusos de fixação do woofer e tweeter não estão aparentes, como na Emit e Contour – eles são protegidos por um anel externo bastante elegante, dando um toque atemporal ao design do gabinete – neste ponto ela ficou mais bonita que a Contour.
O tweeter de domo macio Cerotar baseia-se no tweeter da Special 40, que herda parte da tecnologia do Esotar 3. A diferença é que este possui uma espécie de difusor interno chamado Hexis, responsável por difundir melhor as frequências, suavizando-as ao passo que também elimina ressonâncias indesejadas. Em termos práticos, este difusor não somente suaviza as altas, mas melhora o encaixe, a transição entre o woofer e o tweeter, melhorando a coerência tonal e de fase, aumentando a inteligibilidade em passagens mais complexas da música. Ouvindo as duas caixas nota-se que a Evoke tem uma suavidade que, em algumas passagens de certas músicas, faz falta na Special 40.
Falando em dados técnicos, a Evoke 20 possui resposta de frequência de 40 Hz a 23 kHz (± 3 dB), sensibilidade de 86 dB (2,83 V a 1 m), impedância de 6 Ohms, seu peso é de cerca de 10 kg, e suas dimensões até que são modestas: 215 x 380 x 307 mm. A caixa tem bom porte e a Dynaudio conseguiu dar um formato suave e limpo, ela não parece um trambolho na sala, se encaixa bem em todo tipo de ambiente. Mesmo a Evoke 50, a maior das torres, não parece grande mesmo numa sala de pouco mais de 20 m².
Para o Teste utilizamos os seguintes equipamentos. Fontes: Innuos Zen Mini com fonte externa, DAC Hegel HD30. Amplificação: Sunrise Lab V8 Mk4 SS. Cabos de força: Transparent MM2, Sunrise Lab Reference II, e Quintessence Magic Scope. Cabos de interconexão: Sunrise Lab Reference II Magic Scope RCA, e Coaxial digital, Sax Soul Cables Zafira III XLR. Cabos de Caixa: Sunrise Lab Reference II Magic Scope, e Sunrise Lab Quintessence Magic Scope.
Assim como aconteceu com a Evoke 10 em sua primeira música, a 20 saiu tocando muito bem logo de cara, com autoridade, bom palco e profundidade. O amaciamento foi como um passeio de barco na lagoa: sem sustos ou solavancos, ela parte de uma audição super confortável e vai se mantendo assim até o final do amaciamento por volta das 260 horas, ganhando corpo, contorno nos extremos, textura em vozes e instrumentos com uma espacialidade muito boa.
Iniciamos os trabalhos com Concha Buika – Niña De Fuego, faixa 8. A Evoke 20 nos apresenta um silêncio realmente espetacular, a textura do violão é outro ponto forte destacado pela caixa acústica. Toda a potência da voz da Buika é despejada com controle e autoridade, as dinâmicas não embolam e têm uma progressão muito boa, juntamente com transientes rápidos que nos dão uma sensação de precisão rítmica surpreendente. A caixa acústica entrega toda a carga dramática da música com enorme desenvoltura, as intencionalidades e as individualidades de cada músico também estão lá preservadas. A faixa 9 segue o mesmo estilo, só que um pouco mais delicada, mas igualmente forte e novamente a Evoke 20 entrega um piano de boa qualidade respeitando as proporções de cada instrumento no imaginário palco sonoro. É muito gostoso acompanhar as variações tonais com a clareza e coerência tonal que a Evoke nos mostra. Nesta levada ouvimos
Preservation Hall Jazz Band, disco A Tuba to Cuba, faixa 1 e 2. Tudo deste grupo é maravilhoso, da gravação à energia e técnica dos músicos. Na primeira faixa ouve-se o trânsito na rua enquanto o sax faz um solo riquíssimo. Acho que eles gravaram com a porta aberta de propósito para criar esta atmosfera tão empolgante. Na música seguinte, o gingado do baterista encaixa perfeitamente com o contrabaixista e o coral gravado de forma rústica lembra muito gravações antigas de lavadeiras do sertão brasileiro. Toda esta empolgação e fartura de texturas e intencionalidades, a Evoke 20 consegue transmitir com ótimo nível de realismo e uma dose de graves e harmônicos que surpreendem pelo tamanho da caixa!
Nota: 83,0 | |
AVMAG #271 Impel (11) 3582.3994 R$ 28.860 |
Fernando Andrette
Sou um grande admirador do projetista Andrew Jones. Acompanho seu trabalho com enorme interesse desde quando ouvi pela primeira vez as caixas da divisão hi-end da Pioneer, a TAD. E foi uma grata surpresa quando ele topou o desafio de construir caixas excelentes para a própria Pioneer, e eu tive a oportunidade de constatar o excelente trabalho realizado (leia teste da coluna Pioneer SP-FS52 na edição 231 de julho de 2017). Foi a caixa mais barata por nós já testada a ganhar o selo Estado da Arte, e muitos leitores estão satisfeitíssimos com sua performance.
Alguns leitores não se conformam que ela possa ser tão boa e custar o que custa!
Andrew Jones deixou a Pioneer no final de 2015, e foi contratado para dirigir a Elac America, com carta branca para o desenvolvimento de caixas baratas e com a melhor performance possível. Já na sua estreia, ele mostrou ao mundo a série Debut, e ganhou inúmeros prêmios internacionais e provou que o desenvolvimento de caixas de baixo custo seria sua prioridade também na Elac.
Gentilmente, a Mediagear nos disponibilizou a Debut B6 (que está em teste que será apresentado na edição de maio), a book DBR62 e a coluna DBR52 (teste na edição de junho próximo). Assim podemos dar a vocês leitores uma ideia exata das diferenças entre a Debut e a Debut Reference.
Muitas publicações questionam se a série Reference vale custar o dobro da série Debut, e ao mesmo tempo ser tão próxima em termos de valores da linha Uni-Fi. Se o leitor tiver paciência, chegaremos lá, pois também já estão previstos para o segundo semestre testes da série Uni-Fi.
Mas, no momento, acho que todos que buscam uma book definitiva para salas de até 12 metros quadrados, com valor inferior a 8 mil reais, coloquem em seu “radar”, pois o que vou descrever para vocês é que estamos falando de uma book que é realmente um ponto “fora da curva”!
Com seu acabamento em madeira nogueira, ela consegue ser elegante sem nenhum tipo de ostentação. A nova grelha de metal de proteção do tweeter lhe dá um ar de modernidade clássica. O tweeter de cúpula de tecido de 25 mm tem um novo guia de ondas para melhorar tanto a dispersão horizontal quanto vertical dos agudos. Mas a grande novidade é a nova unidade de médio-grave, com seu chassi de alumínio fundido e seu cone de 16,5 cm de fibra aramida (também utilizado na série Debut).
O gabinete é todo reforçado para eliminar vibrações internas e o acabamento tem duas opções de cores: um defletor frontal branco com o gabinete revestido de carvalho, ou o defletor preto com o acabamento de nogueira (o que recebemos para teste).
O fabricante informa que a DBR62 responde de 44 Hz a 35 kHz, possui uma impedância de 6 ohms, sensibilidade de 86 dB, é bass-
reflex, tem dimensões de 36 cm de altura, 21 cm de largura e 27 cm de profundidade, e pesa 8,2 kg cada.
A DBR62 não permite bi-amplificação e seu crossover é de segunda ordem.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Integrados: Cambridge Audio CXA81, Sunrise Lab V8 SS, e Nagra Classic. Cabos de caixa: Virtual Reality Thunder trançado e sólido, e Sunrise Lab Quintessence. Fontes analógicas: toca-discos Timeless Ceres com braço Enterprise da Origin Live de 12 polegadas, e toca-discos Thorens TD 148 com cápsula Hana HL. Prés de phono: Boulder 508, PS Audio Stellar, e Luxman EQ-500 (leia Teste 1 nesta edição). Fonte digital: transporte Nagra CDT, e DAC Nagra TUBE DAC. Cabos de interconexão: Virtual Reality, Dynamique Apex, e Sunrise Lab Quintessence. Cabos de força: Transparent Audio Reference G5 e PowerLink MM2.
Ainda que eu leia inúmeros reviews dos produtos que nos chegam para teste, os faço apenas depois de fechadas nossas observações, o que não impede muitas vezes de nos surpreendermos com conclusões às vezes muito distintas. Sempre acho que as diferenças podem ser muito mais referentes à sinergia do equipamento utilizado nos testes, salas e, muitas vezes, os discos de referência do articulista.
Com o Tidal, consigo ouvir todos os discos citados em testes e costumo observar atentamente em nosso sistema de referência os detalhes que chamam a atenção para o articulista ter escolhido aquele disco e aquela faixa. Confesso que tenho me deparado com muitas escolhas que eu pessoalmente não utilizaria, pois elas além de “turbinadas”, são recheadas de samplers e não usam instrumentos reais. O que para mim seriam “armadilhas” na análise de qualquer produto. Mas, critérios são muito pessoais e subjetivos, e quando observo que essas gravações equalizadas e turbinadas levaram o articulista a uma conclusão diametralmente oposta à que cheguei, consigo entender a razão desta disparidade.
Vou dar um exemplo específico. No teste desta caixa, um revisor disse que ela só era boa para quem escuta jazz e folk. Pois para pop e música eletrônica, ela careceria de autoridade. Aí fui escutar os discos utilizados para esta conclusão. E no sistema e na sala do revisor, e certamente com as músicas escolhidas, acho que nenhuma book de menos de 8 mil reais toque estes exemplos com “autoridade”. Arriscaria mesmo dizer que book alguma irá tocar essas faixas com a “autoridade” que o revisor deseja.
Agora, com instrumentos reais, ainda que turbinados ou com compressão ou equalização, mas bem captados e com músicos competentes, garanto que esta Debut Reference toca qualquer gênero musical, e bem!
E com gravações com um nível técnico de qualidade decente, sua performance é divina!
Ouvi Ben Harper, King Crimson, Metallica, Prince, Genesis, Living Color, e não houve nenhum resquício de falta de autoridade em nenhum momento. E com um detalhe importante: uma folga e um senso de organização e distribuição de energia entre as caixas, impressionantes. Folga que só encontrei em books muito mais caras, como a Paradigm Persona B, a Dynaudio C1, a Boenicke W5SE, e a Q-Acoustics Concept 300 – todas caixas no mínimo três vezes mais caras que a Elac.
A DBR 62 tem um refinamento difícil de igualar, e este “equilíbrio” se traduz em conforto auditivo pleno. É o tipo da caixa que você pode passar horas e mais horas ouvindo seus discos e não sentirá fadiga auditiva nunca (desde que o seu setup e sala não sejam tortos).
Mas ela precisa de alguns cuidados de posicionamento, tanto em relação às paredes, como em relação ao pedestal e sua altura correta. Nós utilizamos nossa referência, o pedestal da Magis, que nunca nos deixou na mão com book alguma. A DBR62 precisa que esteja corretamente ajustada para o ouvido estar na altura certa entre o tweeter e o falante de graves/médios. Pois se não estiver na altura correta, o equilíbrio tonal pode ser comprometido. O ideal é ouvir vozes femininas para este ajuste, pois quando o posicionamento está correto, a voz feminina ganha aquele corpo de sustentação no médio-grave, tão importante para perceber as inflexões e técnicas vocais (minha cantora preferida para este ajuste ainda é a Ella Fitzgerald ou a Cassandra Wilson, mas cada um tem a sua, é claro).
Definida a altura, busquei o melhor posicionamento na sala, que foi 2,80m entre elas (do centro de um tweeter ao outro), e 1,20 m da parede às costas. Ligeiramente apontadas para o centro do ponto ideal de audição, cerca de 25 graus.
Quando estava acabando o teste, chegou o integrado da Leben de apenas 15 Watts por canal (leia Teste 2 nesta edição). Achei que a sensibilidade da Elac seria um problema intransponível para o Leben, mas para minha grata surpresa, para ouvir pequenos grupos de vozes e instrumentos acústicos, foi um resultado excepcional, principalmente para a análise do quesito Textura em ambos os produtos.
Mas a Elac precisa de mais “músculo” para os outros gêneros musicais. Então utilizamos este belo acervo de integrados (Nagra, V8 SS e Cambridge), e a Elac mostrou integralmente o motivo de tantos prêmios e de elogios tão efusivos!
Seu equilíbrio tonal é um exemplo para inúmeras books que não possuem as últimas duas oitavas nos graves e sofrem para ter um bom equilíbrio e um corpo correto nas baixas frequências. Bem posicionada e com um setup correto, a sensação que tivemos ao reproduzir órgão de tubo é que ela entregava bem mais que os 44 Hz nos graves (e estamos falando de uma sala de 50 metros quadrados).
Na nossa sala de home-theater de 12 metros, essa mesma gravação de órgão de tubo ganhou um deslocamento de ar impressionante, pois no espaço ideal a DBR62 consegue mostrar toda sua “autoridade”, presença e energia.
O equilíbrio tonal é tão bom que, mesmo em músicas como órgão de tubo, percussão, contrabaixo acústico ou elétrico, não existe aquela sensação de corpo esquelético ou falta de peso, que faz com que a região média-alta se projete e torne o equilíbrio tonal cansativo.
A região média é de uma presença orgânica magnífica, que só ouvimos nos melhores monitores de estúdio de gravação (tanto que indiquei para três amigos músicos que a utilizem em seus estúdios).
Para quem adora ouvir os detalhes da microdinâmica, a Elac será um verdadeiro deleite auditivo. Mas graças ao seu impressionante equilíbrio tonal, este grau de transparência não tira a musicalidade e naturalidade do que ouvimos. E os agudos têm a extensão certa e o decaimento perfeito para nos fazer entender o tipo de reverb digital colocado na mixagem, e o tamanho das salas de espetáculo em que os discos foram produzidos.
Outra reclamação que sempre escuto é que muitas books tem um corpo nos agudos diminuídos, o que faz se perder o interesse em ouvir sem avaliar. Este não é o caso desta Elac. Ouvi inúmeros pratos de condução, justamente para tirar essa dúvida, e proporcionalmente ao tamanho do corpo de outros, outras frequências, o resultado foi muito coerente.
Uma das melhores características de toda boa book, é sumir e deixar apenas a música na sala. Algumas fazem essa “mágica” apenas com gravações excelentes tecnicamente, e as melhores a fazem com gravações que não são um primor técnico, mas em que o engenheiro soube ajustar os planos o foco e recorte no “pampot” da mesa de mixagem. Na Elac essas gravações soam magníficas também tanto em relação aos planos, como na altura e largura e no foco e recorte.
Gravações com diversos instrumentos bem captadas e com ar em volta de cada instrumento, são exemplos matadores deste quesito reproduzido nesta Elac.
Mas se tem um item que foi uma grande surpresa, esse foi a textura. Que capacidade de recriar em detalhes as intencionalidades, a qualidade do microfone, da captação, do instrumento e do músico. É tão impactante e correto, que foi mais uma qualidade que me levou a indicá-la como monitor de estúdio. Este grau de refinamento na apresentação de texturas, novamente, você só encontra em books e monitores de estúdio infinitamente mais caros que essa Elac!
Os transientes são impecáveis em termos de precisão e andamento. Elas soam intensas e com aquela sensação de querer
acompanhar com o pé o ritmo do acontecimento musical. Nada soa letárgico ou desinteressante.
A macrodinâmica (já que da micro eu já falei), obviamente que sofrerá limitação pelo tamanho físico, mas em volumes moderados e com um amplificador que imponha autoridade e controle, você terá alguns sustos, de como uma caixa deste tamanho consegue passagens de macrodinâmica sem estender a língua para fora ou jogar a toalha. Claro que não falo dos famosos tiros de canhão de Tchaikovsky, ou de ouvir no volume correto a Sagração da Primavera de Stravinsky, mas tirando os exemplos críticos para a avaliação deste quesito, a performance em macrodinâmica da Elac é muito honesta para o seu tamanho e preço.
O corpo harmônico da Elac também a colocou na categoria de books que “burlam”, dentro do possível, este quesito. Muitas books consideradas “de entrada” pelo seu preço possuem um corpo muito homogêneo em todo o espectro audível, não mostrando as diferenças por exemplo entre um contrabaixo e um cello.
Claro que não escutei na Elac as diferenças de corpo deste dois instrumentos, como escuto em nossa caixa de referência. Mas, na Elac, havia uma sutil diferença de tamanho entres esses dois instrumentos, totalmente audível.
A materialização do acontecimento musical (organicidade) não é um problema intransponível para ela, mas as gravações terão que ser aquelas tecnicamente impecáveis (como também na maioria das caixas book ou coluna de qualquer faixa de preço). Mas posso garantir que José Cura esteve em nossa sala, assim como Ella Fitzgerald e Louis Armstrong (estes dois últimos em LP).
CONCLUSÃO
Se muitos leitores duvidaram da qualidade e da nota da coluna da Pioneer, que na época custava menos de 2000 reais (acredite!), certamente esses leitores duvidarão da nota desta book, que toca de forma tão sedutora e admirável custando menos de 8 mil reais!
Se tens uma sala pequena, e está cansado de ter que conviver com books que cabem em seu orçamento e sala, mas que não lhe deixam totalmente satisfeitos, dê uma chance à DBR62 e as escute. Pode ser que ainda tenha aquela sensação de que um dia uma coluna entrará em sua sala para resolver sua insatisfação, mas tenho certeza que sua opinião a respeito das limitações das books serão dissipadas.
E se tudo que você busca para o seu sistema é uma assinatura que prime pela musicalidade e naturalidade, difícil será achar nesta faixa de preço uma book que seja melhor que esta Elac. Eu, nos nossos 25 anos de revista, não ouvi.
Se confias em minhas impressões, e ela cabe em seu orçamento, a longa e torturante peregrinação terminou!
Nota: 86,0 | |
AVMAG #272 Mediagear (16) 3621.7699 R$ 7.442 |
Fernando Andrette
Depois de testar a coluna Legacy 3230 (leia teste na edição 271), fiquei muito curioso em ouvir a book 3210, que recebeu excelentes testes internacionais.
Sou fã de books que encaram o desafio de tocar bem tanto em ambientes modestos, como em ambientes maiores até 25 metros quadrados.
Pois as books que possuam essa versatilidade, e encarem com desenvoltura e graves decentes espaços maiores, terão uma enorme vantagem em relação às books que não conseguem descer muito nos graves, limitando seu uso a salas abaixo de 12 metros quadrados.
Como se trata do segundo teste deste fabricante francês, vale a pena contar novamente (como fiz no teste da 3230) a história da empresa.
A Elipson, nos anos 30, tinha o nome de Multimoteur, e somente na década de 40 seu fundador Henry Bazin, junto com o amigo e engenheiro Maurice Latour, decidiram entrar no mercado de áudio, fabricando caixas acústicas. Sua primeira criação foi o alto-falante BS50, que rapidamente ganhou a admiração do consumidor francês. Mas foi em 1948 que a empresa resolveu dar um salto em termos de design, e lançar sua primeira linha de caixas esféricas. E com isso lançou a linha Elipson (uma junção das palavras Elipse e Som).
Os gabinetes eram moldados em gesso, e foram as estrelas do primeiro evento de áudio em Paris em 1953. A caixa era montada em um tripé de metal, o que a diferenciava de todas as caixas acústicas existentes no mercado. O falante dentro da esfera permitia uma melhor dispersão, e com o surgimento dos LPs estéreo, se tornaram muito populares as ‘esferas da Elipson’, como o mercado as batizaram.
Os maiores eventos artísticos e televisivos dos anos 50 eram todos sonorizados com as caixas Elipson. Até o discurso do General de Gaulle, no lançamento da Maison de La Radio em 1953 , foi feito com a versão da BS50 com um defletor na base da caixa, para uma maior dispersão em ambientes muito grandes.
Com o fim da Segunda Guerra, e a reconstrução da Europa, a Elipson se uniu à ORTF para criar uma divisão de falantes para o pro-audio, e desta parceria nasceram os monitores da Linha Religieuse, em que o gabinete elíptico era constituído de três partes: uma maior para um falante de graves de 12 polegadas, uma menor para os médios de 6 polegadas e, em cima, o mini gabinete para o tweeter. O sucesso foi tão grande que, no início dos anos 60, praticamente essa nova divisão de monitores para estúdio estava presente em todos os estúdios de gravação e de rádio e televisão franceses.
Com a mudança, nos anos 70, do CEO da Elipson, a empresa resolveu entrar com força no mercado hi-end, e lançou de uma só fornada os modelos 1501, 1502 e 1503. E, na sequência, saíram as caixas esféricas da série 402, com um falante de médio-grave de 8 polegadas e um tweeter AMT.
Até a virada do século, as caixas Elipson eram vendidas apenas na França e Bélgica. Em 2001 a Elipson deu uma guinada em sua estratégia de mercado, também entrando no mercado de toca-discos, amplificadores, subwoofers e caixas bluetooth.
E para atender ao mercado mais jovem, a Elipson desenvolveu sua linha Elipson Planet L, com books esféricas, que funcionou como o ‘cartão de visita’ para o mundo conhecer melhor a empresa e sua longa trajetória voltada para o mercado francês e, posteriormente, para o mundo.
O fabricante tem orgulho de dizer que a linha Legacy foi baseada toda nos modelos Religieuse 4050 e 1303.
Diria que o tamanho da 3210 está no limite do que se pode chamar de book. Elas são imponentes e jamais passarão despercebidas em uma sala de audição. Desenvolvida e produzida totalmente na França, a Legacy 3210 possui um gabinete de MDF com espessura de 25 mm em suas paredes e acabamento de folheado de madeira natural, exceto a tampa do gabinete, que é de alumínio. As paredes laterais do gabinete não são paralelas, e as bordas frontal e traseira são arredondadas, para a otimização das ondas sonoras.
Suas medidas são: 26 cm de profundidade, 27,5 de largura e 40 cm de altura. Trata-se de uma caixa bass reflex com o pórtico nas costas do gabinete, o que necessita de um cuidado redobrado com posicionamento das mesmas.
O falante de médio-grave de seis polegadas e meia possui um cone de alumínio revestido por uma micro camada de cerâmica.
egundo o fabricante, este é o melhor dos mundos, e ele está acoplado a uma grande bobina de voz e um ímã de neodímio, para uma resposta mais plana e baixa distorção.
O tweeter é o mesmo da 3230, um AMT (Air Motion Transformer). Este tweeter tem várias dobras, aumentando a área de contato com o ar, fornecendo maior dispersão lateral e velocidade e decaimento mais suave e natural.
Segundo o fabricante a caixa possui uma resposta de 42 Hz a 30 kHz, sensibilidade de 88 dB e o fabricante recomenda o uso de amplificadores acima de 40 Watts. A caixa permite o uso de bi-cablagem ou bi-amplificação, podendo ser usado cabos com forquilha, banana ou fio descascado de boa espessura. Para o teste utilizamos dois pedestais de caixa: o Magis, nosso fiel escudeiro de longa data, e o da Timeless (leia teste na edição de setembro próximo). Os cabos de caixa foram: Virtual Reality Trançado, Apex da Dynamique Audio, e o Quintessence da Sunrise Lab.
A eletrônica, a maior parte do tempo, foram as seguintes. Amplificação: integrados Sunrise Lab V8 Edição de Aniversário, e o IS-1000 da Gold Note (leia Teste 1 nesta edição), e nosso sistema de referência. Fontes analógicas: toca-discos Origin Live Sovereign Mk 4, braço Enterprise Mk 4, cápsulas Hana Umami Red e ZYX Ultimate Omega G (leia teste na edição de outubro próximo). Prés de phono: Nagra Classic Phono e Gold Note PH-1000 (leia teste na edição de outubro próximo). Fontes digitais: music servers Innuos MiniZen e Statement, transporte Nagra, DACs Gold Note com fonte externa SD-10, e o Nagra TUBE DAC.
Todas as virtudes da coluna 3230 estão presentes em menor escala na 3210, mas sem perder aquela assinatura sônica tão envolvente e sedutora. Médios muito precisos e naturais, agudos sem nenhum resquício de dureza ou brilho (coloração), e graves com enorme autoridade, energia, deslocamento de ar e velocidade.
A 3210 pode tranquilamente ser colocada em salas de até 20 metros quadrados, que o ouvinte não sentirá falta de graves. Diria que os 42 Hz parecem ser modestos em relação ao que ouvimos de fato. Não houve uma gravação de órgão de tubo em que tivemos a sensação que faltou algo.
O que é mais comedida é a sensação de deslocamento de ar, que é mais ‘tímida’, mas nada que comprometa ou nos faça perder o interesse em ouvir órgão de tubo.
E como o médio-grave possui excelente corpo e energia, nada nas baixas frequências soa sem graça.
O grande truque para as salas de 20 metros é diminuir a distância da parede atrás das caixas (mas não ao ponto do grave embolar). Com este truque, como escrevi, a sensação auditiva é que ela desce mais que os 42 Hz.
Como toda excelente book, se posicionada corretamente, ela irá sumir, ficando apenas a música a sua frente. Aqui voltamos elas 15 graus para o ponto ideal de audição. Nessa posição, independente do pedestal utilizado, a sensação é que as caixas não passam de objeto decorativo do ambiente!
As texturas se apresentaram de forma magistral, tanto em termos da qualidade dos instrumentos, como na questão da intencionalidade do solista e seu grau de virtuosidade. Tenho certeza que muito deste grau de refinamento é decorrente do excelente cone de alumínio/cerâmica. Pois você consegue literalmente respostas muito lineares em toda a região do falante, ocasionando um conforto auditivo espetacular!
Os transientes estão no mesmo nível das Persona B da Paradigm, tanto que fui buscar minhas anotações pessoais para verificar o que havia escrito no teste da Persona, em relação a este quesito, e as músicas escutadas para o fechamento da nota. O detalhe é que a Persona B custa o dobro da Elipson!
A dinâmica também, para o seu tamanho e construção, é excelente, deixando o ouvinte em situação confortável mesmo nas passagens de macrodinâmica mais complicadas. Aqui o truque é ouvir em volumes condizentes com a qualidade técnica da gravação.
O corpo harmônico, o problema de qualquer book do mundo, na Elipson se mostrou muito mais pontual – dependendo muito da qualidade de captação do instrumento do que uma limitação física da caixa. Por isso também achei uma grata surpresa a Legacy se posicionar um pouco acima do que ouço nas books, em relação a este quesito da Metodologia. E, ouvindo analógico, a surpresa foi ainda mais positiva – como é assustadoramente superior este quesito no analógico!
A presença física – organicidade – está no mesmo nível das minhas books preferidas (Paradigm Persona B, Boenicke W5SE e QAcoustics 3030i). O que é uma grande notícia o quanto books mais baratas evoluíram neste quesito, de nos mostrar os músicos à nossa frente, nos permitindo ‘interagir’ com eles.
CONCLUSÃO
Se você é um audiófilo ‘tradicionalista’, que está sempre com um pé atrás em marcas pouco conhecidas por estas paragens, o que posso dizer é: ouça a Elipson Legacy 3210 se o que você está procurando é uma book.
Agora, se você como eu, adora ser surpreendido e não tem nenhuma ‘resistência’ em ouvir tudo que estiver ao seu alcance, escute-a!
Adorei a reação do Giovani, da Timeless Audio, ao me trazer seu pedestal de caixa e ouvir a Legacy tocando. Ele ficou muito mais que surpreso, ficou encantado com sua clareza, autoridade, realismo e musicalidade. Atributos no mesmo patamar são mais difíceis de achar nas books na faixa de 10 a 30 mil reais!
Ela entra também para o seleto grupo de books que possuem as qualidades que todo audiófilo deseja em suas salas pequenas (e muitas vezes problemáticas acusticamente), que são: corpo harmônico, macrodinâmica, peso, deslocamento nos graves, naturalidade, musicalidade e conforto auditivo.
Você terá tudo isso com a Legacy 3210, basta que o pedestal tenha a altura correta para que o seu ouvido fique exatamente entre o final do falante de médio/grave e o começo do tweeter, que haja pelo menos 90 cm de espaço da parede às costas da caixa, e entre elas uma distância mínima de 2,40 m. E, claro, um setup a altura da performance dela.
Com todos esses cuidados, não tem como errar na escolha, eu garanto!
Nota: 88,0 | |
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Fernando Andrette
Acho que preparei muito bem o terreno no teste da bookshelf Elac Debut Reference DBR62 (leia o teste na edição 272), quando disse que em breve testaríamos a torre dessa série. Pois o que recebemos de e-mail nos perguntando em que edição o teste sairia – o que nos mostrou a quantidade de leitores que ainda desejam uma solução e caixa torre para os seus sistemas, boa e barata!
Quando eu escrevo que o projetista Andrew Jones não precisa provar mais nada ao mercado hi-end, muitos acham que estou extrapolando e colocando minha visão ‘pessoal’ acima da profissional. Ok, é público e notório minha admiração por este projetista, mas esta admiração não surgiu ‘do nada’, ela foi construída por décadas ao ver seus projetos e como eles soam em diferentes esferas (do produto consumer ao hi-end superlativo).
Enquanto ele deixava o universo audiófilo de queixo caído com suas caixas TAD (a divisão hi-end da Pioneer), muitos achavam que por aquela quantia de ‘verdinhas’ ele tinha obrigação de mostrar e aplicar todo o seu conhecimento! Mas quando ele topou o desafio dos japoneses em desenvolver caixas para o mercado consumer da Pioneer, e com tamanho desempenho, muitos duvidaram de que poderia ser tão bom e custar tão pouco! Nunca recebi tantas críticas, como sobre o teste da coluna Pioneer SP-FS52 by Andrew Jones, publicado na edição 231. Interessante que muitos desses críticos foram os que durante anos nos chamaram de ’elitistas’, e de só apresentar produtos caros e inacessíveis à maioria dos nossos leitores.
Aí quando finalmente apresentamos uma modesta coluna de menos de 2 mil reais, Estado da Arte, esses mesmos críticos entupiram nossa caixa de e-mail dizendo não ser possível algo tão ‘simplório’ e barato ser um Estado da Arte!
Vai entender a cabeça do ser humano!
O que sei é que dezenas de leitores compraram e vivem felizes com sua caixa torre Estado da Arte, boa e barata! E para nós, é isso que realmente importa.
Mas voltando ao Andrew Jones, depois de cumprido este desafio e encerrado seu ciclo na Pioneer, ele topou um novo desafio: desenvolver para a Elac uma nova linha de produtos que se remodelasse toda a sua linha de entrada e fosse até a zona intermediária de preços (onde se encontra o nicho mais disputado do mercado hi-end).
E de cara mostrou ao segmento ao que veio, ao apresentar a linha Debut com produtos que começam na faixa de 200 até 500 dólares! Os prêmios vieram de todos os continentes e as principais revistas especializadas se renderam à incrível relação custo/performance desta linha. Com o sucesso quase instantâneo, Jones se propôs um novo desafio: desenvolver em cima da plataforma Debut a série Reference, e subir de patamar em termos de performance, sem dobrar os custos!
Como escrevi no teste da bookshelf, em julho também apresentaremos o teste bookshelf Debut 2.0 B6.2, e aí o leitor terá a oportunidade de ver as diferenças entre ambas as books. E tirar suas próprias conclusões, se precisa de uma Debut Reference para o seu sistema, ou uma Debut 2.0 B6.2 lhe atende amplamente.
As mudanças foram visuais e pontuais, com avanços acústicos no reforço do gabinete, novos cabos internos e no crossover e um acabamento mais refinado.
Sendo uma caixa de três vias, a DFR52 responde de 42 Hz a 35 kHz, possui uma impedância nominal de 6 Ohms, sensibilidade
de 87 dB, corte em 90 Hz e 2.200 Hz, potência admissível de 140 Watts, um tweeter de cúpula de tecido, um falante de médio de 5.25 polegadas de cone de aramida, e dois woofers também de 5.25 polegadas com o mesmo cone do falante de médio.
O gabinete frontal tem as opções de branco ou preto, com acabamento em nogueira e toda a construção do gabinete em MDF. O novo guia de ondas do tweeter possui uma grade mais aberta para melhorar a dispersão das altas frequências, as braçadeiras internas do gabinete agora unem todos os quatro lados, diminuindo significativamente as vibrações internas do gabinete e toda e qualquer coloração. O novo woofer de chassi fundido oferece (segundo o fabricante), maior rigidez para fortalecer o defletor frontal e minimizar as ressonâncias do chassi.
E o outro grande diferencial, além dos dois pórticos bass-reflex traseiros, é o novo slot de abertura dupla, com o intuito de aumentar a saída de graves, para aumentar tanto a dinâmica como aprimorar as baixas frequências.
Cada caixa pesa quase 17 kg. Com um design bastante slim, não é uma torre invasiva ou que terá grande ’resistência’ feminina em uma sala de visitas. Sugiro que o leitor leia meu teste da book, para entender o conceito do Andrew Jones para essa nova série e o quanto ele foi feliz em oferecer ao audiófilo que necessite (ou deseje) uma resposta mais estendida nas baixas frequências.
A DFR52 se tornou uma das minhas torres prediletas, por dois motivos: seu alto grau de performance e sua excelente compatibilidade com todos os powers e integrados que utilizamos no teste. Ela casou divinamente bem com o QUAD Artera Solus e com o
Cambridge CXA81, integrados mais compatíveis com sua faixa de preço, e com o set de cabos da Virtual Fidelity.
Como também não fez feio quando foi ligado no Sistema de Referência da AVMAG.
Não se enganem com sua média sensibilidade (87 dB), pois ela é uma verdadeira ‘pêra doce’ para qualquer amplificador. Sua sonoridade é aberta, graciosa, refinada e de uma naturalidade cativante!
Seu tempo de amaciamento foi quase o dobro da irmã menor (total de 320 horas), mas depois de amaciada, a DFR52 é capaz de arroubos difíceis de encontrar em sua faixa de preço! Seus agudos são sedosos, limpos, com ótimo decaimento, e muito corretos! Sua região média não trafega pela estrada do hipertransparente ou do analítico, preferindo sempre uma apresentação mais ‘homogênea’ e refinada – com isso, mesmo as gravações mais tecnicamente limitadas se tornam audíveis (quando se mantém o volume da gravação dentro do limite correto).
E os graves serão uma enorme surpresa para todos que julgam ser preciso investir o dobro para se obter graves encorpados, com velocidade e precisão. Em gravações de órgão de tubo, a sensação é que a Elac desce um pouco mais que os 42 Hz especificados.
É possível ouvir obras complexas e com enorme variação dinâmica, como os Concertos para Percussão e Orquestra de Bartók, ou os últimos dois movimentos da Sinfonia Fantástica de Berlioz, sem aquela sensação de frontalidade nos crescendos ou endurecimento do sinal.
O som possui uma fluidez de caixas muito mais caras e maiores, e mesmo em nossa sala de 50 metros quadrados, ela se saiu muito bem em termos de energia e pressão sonora nos graves. É, no entanto, uma caixa que merece uma eletrônica à altura e, principalmente, cabos compatíveis com seu grau de refinamento.
Seu soundstage dependerá muito da capacidade de posicionamento delas na sala. Será preciso, para o efeito de profundidade da imagem sonora, pelo menos 1 metro das paredes às suas costas e, no mínimo, 0,80 cm das paredes laterais.
Ela não precisa de um toe-in acentuado, voltado para o ponto de escuta, mas também não se sente à vontade trabalhando simetricamente paralela às paredes laterais.
Impressionou, depois de devidamente posicionada em nossa sala, sua profundidade, altura e largura nas obras sinfônicas, com excelente foco, recorte e apresentação de planos.
Os quartetos de cordas, assim como os instrumentos solistas, possuem aquela ’mágica’ do silêncio em volta de cada instrumento, nos dando um panorama visual perfeito do espaço físico de cada músico.
Suas texturas são outro dos seus inúmeros pontos altos, pois conseguem nos mostrar desde a qualidade dos instrumentos, captação e mixagem, mas sobretudo, e de maneira refinada, as intencionalidades.
Nos nossos discos produzidos pela CAVI, guardei alguns takes que não foram aproveitados na mixagem final, gravações que para os leigos passariam de boa como as que foram escolhidas, mas que por ‘n’ motivos não agradaram aos músicos ou a mim. E gosto muitas vezes de escutar esses takes justamente para ’sentir’ o que ocorreu de ’vacilada’, ou de erro mesmo. Essas gravações, quando comparadas com as boas, em termos de texturas, nos são extremamente úteis, pois é possível perceber o grau de foco, leveza, segurança, do músico naquele momento. Isso é o que chamamos de ‘intencionalidade’ – parece tão subjetivo sem essa explicação, mas tão simples de se compreender quando o sistema é capaz de nos mostrar o grau das intencionalidades, tanto da técnica na execução da obra, como o de interpretação do músico.
Estamos acostumados a ouvir este grau de intencionalidade em caixas mais caras que essa Elac, então você pode entender nossa surpresa ao constatar que as caixas de menos de 15 mil reais já atingem esse grau de refinamento. Trata-se de uma excelente notícia, meu amigo, pois se as caixas já se encontram neste nível, toda a ‘cadeia eletrônica’ também terá que andar! Principalmente o tão ‘glorificado’ streamer (mas isso abordo de maneira mais profunda no teste 1 desta edição).
Em caixas com cones menores e bem projetados, os transientes corretos deixaram de ser um problema há décadas! Mas não basta serem apenas corretos nos sistemas Estado da Arte, pois estes precisam ser também precisos! E uma precisão no grau que encontramos nesta Elac, está meio que ‘fora da curva’. Pois quando falamos em precisão, estamos falando em tempo e andamento corretos. Tão corretos que fazem com que o ritmo nos contagie e a música fique mais ‘graciosa’ e rica.
Interessante que muitos audiófilos, em começo de trajetória, ficam tão presos ao que precisam ouvir em determinadas passagens de suas músicas preferidas, que esquecem que o cérebro pode muito bem fazer isso com maior correção e segurança. Basta entender o que se procura e deixar o cérebro codificar e reagir.
Transientes é um quesito que não tem meio termo. Ou são precisos, ou comprometem todo o ritmo e encantamento. Para este quesito, o número de instrumentos é enorme para a sua avaliação, sendo os mais óbvios: instrumentos de percussão, piano, violão, etc.
Mas, se quisermos ver se o nosso cérebro pode nos guiar, eu sugiro música afro-cubana. Se os transientes forem pobres ou, como eu digo, letárgicos, a música irá se arrastar, como se os músicos estivessem com fome e insolação. Ou, pior, estivessem tocando ‘burocraticamente’!
Não ria, amigo leitor – quando eu mostro, nos Cursos de Percepção Auditiva, exemplos de sistemas ou componentes do sistema ruins de transientes, a sala quase vem abaixo. Pois é integralmente audível, que algo no tempo e no ritmo estão desencontrados.
A Elac não sofre dessa ‘letargia’ – pelo contrário, sua precisão é espantosa! Tenho um CD do Chick Corea Elektric Band, Eye Of The Beholder, em que o baterista Dave Weckl atrasa sutilmente as entradas em várias faixas, dando um efeito auditivo muito interessante, já que ele o faz intencionalmente – enquanto que em suas entradas de solo, a precisão é de um relógio suíço. Então, este é um disco ótimo para observarmos como ouvimos essas diferenças. E quando algo está ‘letárgico’ ou em câmera lenta (como meu pai se referia a este fenômeno), instantaneamente nosso cérebro mostra. Pois não tem nada mais broxante que um andamento ‘fora do compasso’ em uma música que o ritmo é o mais importante.
Então, amigo leitor iniciante, entenda os conceitos da nossa Metodologia, escolha seus exemplos que facilitarão ouvir as diferenças, mas depois de entendido o que se tem que observar, relaxe e deixe seu cérebro agir (afinal ele tem milhões de anos nas costas, desde que nossos ancestrais saíram para colher e caçar, e precisavam estar atentos a todos os ruídos da mata, para não serem pegos de surpresa).
Por isso que insistimos tanto que nossos leitores tenham o hábito de ouvir música ao vivo não amplificada, para lhe dar referências seguras e seu cérebro poder guardar em sua memória de longo prazo essas referências.
Outra grande qualidade desta Elac é sua apresentação do corpo harmônico. Principalmente com fonte analógica. Superou em todos os sentidos nossa expectativa, pois visualmente não dá para acreditar que uma caixa tão slim, possua essa capacidade de ter uma apresentação tão próxima do real. Para fechar a nota desse quesito, eu nem usei um LP, fechei a nota ouvindo Passarim em Piano Solo, do André Mehmari, no nosso disco Genuinamente Brasileiro Vol. 2. Gosto desta faixa por dois motivos: o piano estava colocado bem no meio do palco do Teatro Alfa, deixando-o respirar e com um posicionamento dos dois microfones que captou com enorme fidelidade o tamanho do piano! Ele realmente é grandioso, afinal é um Steinway D, com uma sonoridade linda! Mas só temos este corpo em nossa sala com caixas de muito maior porte e muito mais caras!
A presença do acontecimento musical em nossa sala só ocorreu quando a Elac foi ligada ao nosso Sistema de Referência. Quando tivemos o amplificador V8 SS da Sunrise Lab por alguns dias, a Elac havia acabado de chegar, então não foi possível ouvir este quesito neste conjunto, mas também foi muito contundente!
Novos leitores = muitas dúvidas. O que mais têm nos pedido é o esclarecimento de intencionalidade, corpo harmônico e organicidade.
Pois bem, acho que falei o suficiente sobre intencionalidade e corpo.
A organicidade é de vital importância, pois sem ela nosso cérebro não pode ser levado a acreditar que não estamos ouvindo reprodução eletrônica. Então, se o produto testado não consegue este ‘truque’, ele não pode ser considerado um hi-end Estado da Arte. É obvio que, quanto mais subimos os degraus do Estado da Arte, mais ‘enganamos’ nosso cérebro.
O que a Elac conseguiu ligada ao nosso Sistema de Referência é algo digno de nota. O problema é que ninguém vai comprar esta Elac e ligar no nosso Sistema de Referência.
Então, do que adianta essa observação? Adianta no sentido de fechar a nota neste quesito e principalmente para ‘lembrar’ o comprador desta caixa que ele terá em mãos um produto que também se beneficiará nos futuros upgrades que serão feitos na eletrônica! Pois pense o custo a ser desembolsado cada vez que subimos de patamar, se precisarmos mexer em tudo! Ficaria inviável totalmente! Então, ouvirmos um produto com enorme potencial em nosso Sistema de Referência serve para avaliarmos todo o seu potencial!
Então quer dizer que não terei a materialização física do acontecimento musical em minha sala com essas caixas? Não se sua eletrônica estiver abaixo de 88 pontos! E sim se estiver acima de 89. Entendeu como funciona? Mas, para isso, a sala, a elétrica e todo o sistema precisa estar coerente, sem nenhum elo fraco.
CONCLUSÃO
Não pensem que nós só vibramos quando testamos os superlativos, totalmente inacessíveis à esmagadora dos mortais. Eu também vibro, e muito, quando temos a oportunidade de testar produtos que podem ser o produto definitivo de muitos de nossos leitores!
A linha Elac Debut Reference irá fazer o sonho de centenas de nossos leitores que estavam há anos esperando uma caixa torre que estivesse dentro de seu orçamento, e que fosse compatível com sua eletrônica já bem ajustada e Estado da Arte!
Se você fez toda a ‘lição de casa’ com: acústica tratada, elétrica dedicada, e setup ‘azeitado’ e sinérgico, e deseja a caixa compatível com este sistema, escute a DFR52. Se sua sala tem pelo menos 12 metros quadrados, ela pode lhe encantar, como encantou a nós!
Uma caixa que certamente estará entre as caixas recomendadas com o Selo do Editor na edição das Melhores do Ano!
Nota: 89,0 | |
AVMAG #274 Mediagear (16) 3621.7699 R$ 14.890 |
Fernando Andrette
Vi, nos últimos anos, diversos vídeos das caixas Kii, com e sem o módulo de grave, e não saberia dizer se era por escolha ou para realçar ainda mais suas qualidades, e sempre com música eletrônica. Este detalhe do repertório me chamou a atenção, e despertou minha curiosidade em conhecer o produto.
Principalmente depois que soube que quem estava por de trás do projeto era o Bruno Putzeys, um engenheiro que está há muitos anos se dedicando ao desenvolvimento dos amplificadores classe D. Bruno, já nos anos 90, estava debruçado nos primeiros projetos desta topologia na Philips, e lá desenvolveu o circuito UCD, tecnologia que a Hypex abraçou pelo seu potencial.
Contratado, na sequência, pela Hypex, lá Bruno desenvolveu os famosos módulos NCore Classe D, amplamente utilizados por diversos fabricantes de áudio profissional e hi-end, como Bel Canto e Jeff Rowland. Cansado de trabalhar para os outros, montou sua própria empresa, a Mola Mola e, ainda por um tempo, foi consultor e colaborador da Grimm Audio (caixa que já testamos na revista).
Atualmente, Bruno paralelamente mantém uma parceria com o engenheiro de áudio Bart van der Laan, e criaram a caixa Kii THREE, tanto para o áudio profissional como para o áudio doméstico. O projeto nasceu de uma calorosa discussão referente à acústica das salas, seja de ambiente tratado na área profissional, quanto das salas domésticas. Dessa discussão nasceu o interesse de construir uma caixa que conseguisse ‘driblar’ os problemas de ressonância dos graves e médio-graves, invertendo o sinal para os drives traseiros e laterais da caixa que estavam desenvolvendo, com um atraso que pudesse atenuar o problema.
Para conseguir isso, os seis drives da caixa THREE são controlados por um crossover DSP que usa antifase nos drivers traseiros para impedir que os graves sejam ‘ampliados’ no contato com a parede atrás das caixas. Algo já tentado por outros fabricantes de caixas, e cada um com um resultado, no mínimo, ‘discutível’.
O software desenvolvido pela Kii promete resolver os problemas de tempo e alinhamento de cada um dos seis falantes e ‘burlar’ os problemas existentes em qualquer sala em que for colocada!
A Kii THREE, como já escrevi, utiliza seis falantes, cada um com seu próprio DSP, conversão D/A e amplificação individual. Cada amplificador é um NCore classe D que tem 250 Watts, combinados para produzir 1.500 Watts por canal, o que é deveras suficiente até mesmo para monitores de estúdio.
Os quatro falantes de graves têm 165 mm (6.5 polegadas), o de médio 127 mm (5 polegadas) e o tweeter de 25 mm com guia de ondas, o fabricante não dá nenhuma pista de que material são os cones dos falantes ou do tweeter.
Pensando em usuários tão distintos (pró áudio e consumer), o fabricante pensou em todas as possibilidades: conexão analógica direta via XLR de um pré amplificador, digital direta com um cabo USB para a AES/EBU de um laptop com Audirvana, ou um software compatível, ou pelo seu controlador Kii (que veio junto com as caixas).
Este controlador Kii é bastante prático e eu o indico como a melhor solução, pois este se conecta a uma das caixas via cabo Ethernet RJ45, e o sinal então é passado para a segunda caixa via um cabo semelhante. Tudo conectado você pode usar este controlador como um pré amplificador para sinais digitais, pois possui entradas óticas, coaxiais e USB, além de ter um botão para o controle do volume, um receptor IR e um display onde vários dos recursos e parâmetros para o ajuste das caixas podem ser escolhidos. Estes ajustes possuem 12 configurações para a definição do melhor resultado para as paredes laterais e por de trás das caixas.
Outra possibilidade é o ajuste das reflexões da sala, além de você poder ajustar a latência, polaridade, programar os presets no controlador e ajustar o equalizador ideal para cada falante individual, o que será necessário se uma caixa estiver em um canto entre duas paredes e a outra em um corredor (algo tão comum na sala de milhares de consumidores mundo afora). O Controlador tem indicadores coloridos para mostrar o status de cada ajuste feito.
A Kii também oferece pedestais dedicados que colocam as caixas na posição ideal em relação ao ouvinte.
Para o teste que ocorreu por longos 90 dias, utilizamos os Innuos Statement (leia teste na edição 274) e o Mini Zen (leia teste na edição de setembro próximo), e no final deste teste o streamer do DAC Gold Note DS-10 (leia teste em outubro próximo). Os cabos USB utilizados foram: Dynamique Zenith 2, Sunrise Lab Quintessence Aniversário, e Oyaide Continental 5S V2.
E depois de 60 dias ouvindo as THREE de todas as maneiras e em dois ambientes completamente distintos (nossa Sala de Referência e nossa sala de home-theater), ouvimos nosso setup analógico através dos prés de phono Nagra Classic Phono (leia teste na edição 273) e o Gold Note PH-1000 (leia teste na edição de setembro próximo).
É admirável que alguém se dedique com tanto esmero e conhecimento na busca de novas soluções e topologias, que faça com que o áudio em suas diversas formas e possibilidades sempre avance. Sabemos que inúmeras ideias no áudio possuem vida curta, por diferentes razões, mas as que vingam ainda assim precisam frequentemente de ajustes e correções de rota durante toda sua existência. Foi assim com o CD-Player, que levou décadas até se ‘aprumar’, e é assim que está sendo com os amplificadores classe D, caixas ativas com seus módulos DSP, e também com o streamer. Então tenho muito cuidado e zelo ao testar tecnologias que ainda estão em desenvolvimento, pois sei da responsabilidade que uma conclusão pode ter em um determinado estágio evolutivo.
Então, antes de iniciar este teste, algumas questões necessitam ficar muito claras, para que não haja interpretações equivocadas.
Avaliei a Kii THREE exclusivamente dentro do nicho de caixas ativas que buscam soluções eficientes para o mais complicado problema para qualquer caixa em um ambiente não tratado acusticamente. E pressuponho que os projetistas tenham levado em conta que este seja um enorme filão a ser trabalhado. Pois a esmagadora maioria dos consumidores, não tem o menor desejo de tratar suas salas.
Se foi este o propósito, ponto para a Kii, pois seu produto realmente tem o ‘poder’ de ‘driblar’ ambientes hostis com enorme reflexão, como de janelas, pisos frios ou salas irregulares em que uma caixa fica entre duas paredes e a outra largada como em uma ilha do pacífico, rodeada de espaços abertos.
O problema, no meu modo de avaliar o mercado como um todo, é em relação ao custo de se conseguir este feito, pois infelizmente pelo seu preço, a Kii é para muito poucos, audiófilos e melômanos. Me parecendo muito mais um produto de nicho, como faz por exemplo a B&O, que buscou no design fisgar seus potenciais clientes.
Ao começar a estudar todas as diversas possibilidades de ajuste, senti que o fabricante tentou oferecer o maior número possível de opções, e isso tanto pode ser um alento, para os que são pacientes, ou um tormento para os que querem tudo em um passe de mágica! E confesso que aí reside o maior problema, pois foram semanas escutando a caixa em diversas posições, mais perto das paredes laterais, e mais próximas da parede traseira, e cada nova posição demandava repassar todos os ajustes mais de uma vez.
E para cada estilo musical, o ajuste era diferente. Quando consegui chegar a um consenso de posição e ajuste, ficou claro que para extrair da caixa todo o seu enorme potencial, era preciso guardar os ajustes para cada estilo, para não se embaralhar.
Aí certamente o leitor mais curioso já deve estar se perguntando o que ocorre no ajuste errado? Muda o equilíbrio tonal, muda o corpo, mudam as texturas e muda até a relação das variações dinâmicas. Então será preciso paciência, determinação e, depois de definida a posição, não mudar mais e anotar os presets ideais para cada estilo musical.
Feito isso, você estará tirando o melhor da caixa. E seus atributos são muitos.
Por exemplo, inteligibilidade. Poucas vezes escutamos caixas monitores com tanta precisão e detalhe, nos fazendo perceber de onde foi gerado o ruído que ficou na gravação de uma partitura tendo a página virada. Ou de movimentos bruscos do solista, ou até mesmo dos movimentos de pés ‘nervosos’ no chão da sala de gravação!
Outra virtude é o silêncio de fundo do acontecimento musical – essa qualidade ficou muito mais perceptível quando passamos a ouvir LPs. Os ‘clicks e plocs’ são muito menos presentes (será a exigência do sinal ao entrar ser transformado em digital antes de ser novamente entregue?). Fiquei até ‘cabreiro’ nos primeiros discos, pois achei que o ajuste que tinha feito estava cortando as frequências dos ruídos.
E a maior virtude, na minha opinião, é a resposta de transientes: simplesmente espetacular! Pois não é só o tempo e andamento que se mostram com maior precisão, mas a música que possui variação rítmica intensa parece que se torna mais vigorosa e intensa. Ouvi inúmeros discos com instrumentos eletrônicos, que não costumo ouvir, como os do Dead Can Dance, e realmente é de impressionar como os transientes em gravações assim soam tão bem na Kii THREE (foi aí que comecei a entender a ênfase deste tipo de música nos em suas demonstrações em hi-end shows).
Li, enquanto ajustava, diversos fóruns e reviews desta caixa, e me chamaram a atenção os depoimentos que falam do estranhamento, em um primeiro momento de audição, e que depois as fichas vão caindo para cada ouvinte. Sou muito cuidadoso com essas conclusões, justamente por saber que cada um fez o ajuste pessoal de seu gosto para ‘extrair’ o melhor em sua sala. Tanto isso é verdade, que quando as coloquei em nossa sala de home-theater, sem nenhum tratamento (estou esperando o Guilherme da Hi-Fi Experience ter um tempo para refazermos o tratamento da sala), as THREE puderam mostrar todo o seu arsenal de possibilidades e ajustes. Pois qualquer outra caixa neste ambiente é inaudível!
Totalmente ajustadas, conseguimos ouvir com prazer diversos discos de vários estilos. No melhor ajuste, senti apenas os graves terem menor extensão e corpo. Mas tudo era muito inteligível e equilibrado!
Quando voltamos para a nossa Sala de Referência, o último teste foi ligar as caixas ao nosso setup analógico. Imediatamente, ao ouvir um LP da Billie Holiday, minha memória auditiva foi transportada para o teste do último amplificador Devialet que publicamos, em que achei o som menos realista e natural que estou acostumado a escutar. Lembro que chamei os representantes da Devialet na sala e mostrei este, e mais discos, passando pelo pré de phono da Devialet e no nosso pré de phono de referência.
As diferenças eram bem audíveis. Ainda que na THREE este ‘efeito’ tenha sido menor, ele ainda estava lá. Eu não tenho a menor dúvida que este ‘resultado’ seja da passagem do sinal para digital, para depois voltar novamente para o analógico. Tanto que os ruídos de fundo também são atenuados. Essa é a descrição correta: tudo parece atenuado!
Só estou tranquilo em concluir este teste, por ser pública e notória a minha opinião a respeito tanto dos amplificadores classe D, como dos streamers, e que essas duas topologias ainda não chegaram lá!
Vão chegar? Evidente que sim, pois os avanços são significativos e ‘audíveis’.
O mesmo ocorreu com as caixas ativas que, a cada ano, se mostram mais corretas e que caíram no gosto do consumidor de tal maneira, que todos os fabricantes de caixas hi-end embarcaram nesta solução. E, correndo por fora, tem engenheiros como o Bruno aplicando todos seus anos de expertise em produtos que têm a pretensão de revolucionar o mercado com soluções que atendam aos mais diversos tipos de problemas acústicos possíveis.
Podemos afirmar que este já seja um produto definitivo? Claro que não. Mas posso afirmar que o estágio em que o produto se encontra, certamente é o que está mais próximo de encontrar o ponto de equilíbrio entre recursos e performance.
As Kii THREE são o futuro da linha ‘consumer premium’ – elas foram feitas para este perfil de consumidores que querem praticidade, beleza e soluções que não alterem seu ambiente e modo de vida.
E os audiófilos? Se você é um audiófilo que não pode ou não deseja ter uma sala dedicada, e quer simplificar seu sistema, deixando-o o mais minimalista possível, eu sugiro uma audição sim.
Nota: 89,5 | |
AVMAG #275 Cone Audio fernando@coneaudio.com.br (21) 9898.0566 O Kit, sem pedestais: R$ 164.330 O par de pedestais Kii: R$ 13.800 O par de pedestais Attack: R$ 7.400 |
Fernando Andrette
A Elipson já esteve no Brasil, no início de 2011/2012, e chegou a estar no Hi-End Show desses respectivos anos, de forma bastante tímida com suas pequenas “esferas sonoras”.
Para os que nunca ouviram falar deste fabricante francês, a Elipson é a marca mais antiga da França, fundada em 1938 e permaneceu uma empresa totalmente voltada para o mercado interno até 2008, pois tudo que produzia era consumido pelos seus próprios compatriotas.
Porém tudo mudou quando a empresa foi vendida para o grupo AV Industry, que tinha uma ideia inteiramente diferente para a marca. Essa é a organização que também é dona da Som-Vídeo, o maior varejista de eletrônicos da França, com lojas também no País de Gales e Bélgica, e dono de outras marcas de eletrônicos.
O seu fundador, Philippe Carré, desde a aquisição da Elipson tinha como principal intenção levar a marca ao mundo, ampliando o leque de produtos para muito além de caixas acústicas. Hoje já fazem parte do portfólio da marca produtos eletrônicos e toca-discos.
Na onda de produtos vintage, que voltou com força nos últimos anos, a Elipson, está preparando uma série de novos lançamentos, relançando seus modelos produzidos nos anos 50/60. No início dos anos 60 a principal caixa deste fabricante era justamente o modelo 3230, onde um enorme gabinete esférico ficava no topo de um gabinete convencional. Na esfera ficava o falante de médios e o tweeter, e o falante de graves ficava embaixo.
A esfera estranhamente era feita de gesso (único material moldável naquela época com qualidades acústicas razoáveis), o que dava uma aparência rústica de gosto bastante duvidoso – mas como se diz atualmente: “é o que temos para o momento”.
Atualmente as possibilidades de inúmeros tipos de resinas e materiais compostos permitem uma infinidade de opções adequadas à cada fabricante, e a Elipson optou por uma resina que possibilita um acabamento muito mais refinado para a sua esfera.
A Legacy 3230 é o modelo top de linha, e foi apresentado na feira de Munique de 2018 com eletrônica Bryston, conseguindo não só a atenção do consumidor presente no evento, como também o interesse de inúmeros revendedores espalhados pelo mundo.
Seu porte é de caixa realmente grande, e deve ser tratada como tal, necessitando de salas adequadas ao seu tamanho e desenvoltura sonora. Com 1,34m de altura, e pesando mais de 50 kg, a grande esfera colocada em cima do gabinete de madeira com dois falantes de grave de 8 polegadas, não passará jamais indiferente no ambiente em que for instalada. No entanto, é o tipo de design que ou você ama ou odeia (não encontrei meio termo ao apresentar elas em nossa sala, há quem as viu).
No entanto, aos que odiaram seu design, essa “aversão” durou apenas alguns minutos, após ouvir a caixa. Mas falarei disso mais à frente.
O gabinete de madeira de excelente acabamento e construção possui o pórtico de saída dos graves para baixo, o que dá uma sensação de limpeza e arejamento no gabinete. Com dois falantes de graves com cones de papel com uma camada de alumínio por cima, falante de médio com cone de cerâmica de 160mm (feito pela própria Elipson), e um tweeter de fita AMT (também feito pelo fabricante) que fica fora da esfera em que está instalado o médio.
Os terminais do cabo de caixa são de boa qualidade e com uma ótima pegada. A Elipson se orgulha em dizer que suas caixas são feitas integralmente nas instalações da fábrica na Borgonha, na França, onde são feitos também o toca-discos.
Uma regra inerente a qualquer caixa acústica é que, quanto maior, mais tempo será gasto com o posicionamento dela na sala.
E a Legacy 3230 é bastante exigente neste aspecto, pois se o ouvinte não for cuidadoso e paciente, perderá muito de suas duas principais qualidades: um palco magistral 3D e o correto equilíbrio tonal.
Comecemos pelo equilíbrio tonal: este dependerá muito de se achar a distância correta entre a posição do ouvinte e as caixas, pois a dispersão do tweeter AMT é muito maior na largura do que na altura. Então será preciso paciência para se achar o ponto ideal para que a altura tenha a folga necessária para uma apresentação de maior arejamento. Caso contrário, haverá a sensação de que os agudos estão “embotados”. Na nossa sala, o simples posicionamento de 10 cm para trás das caixas em relação ao ouvinte, trouxe este decaimento mais preciso e o arejamento se tornou mais natural.
Para se definir essa posição, sugiro o uso de pratos bem gravados – eles te darão a noção exata quando atingirem o ponto ideal, pois os pratos ganham ar à sua volta e ficam soando até serem encobertos por um sinal mais forte.
Outra opção é usar os pratos de condução do tempo da música (tão comum em blues) para ver se eles ficam aparecendo e sumindo, ou se estão sempre presentes.
Felizmente, como o pórtico bass-reflex está apontado para baixo, a posição crítica das caixas em relação às paredes é menor, mas ainda assim precisam ser minuciosamente testadas todas as opções. Pois a quantidade de energia dos graves da Legacy é impressionante, e isso também pode ser a causa de agudos com menor extensão.
Para os graves, sugiro ouvir gravações de contrabaixo acústico e elétrico, e notar se as notas são limpas, com boa velocidade, inteligibilidade e se não estão gordos ou soando como grave “de uma nota só”. Não caiam na tentação de usar graves sintetizados, pois esses costumam ser turbinados em excesso, dificultando o posicionamento correto das caixas.
Depois de acertado o equilíbrio tonal, será preciso definir o ângulo correto das caixas em relação ao ouvinte. Sua imagem quando o ângulo é correto é holográfica, e ela some na sala. E, realmente, aparece uma imagem sonora 3D, tanto em termos de largura, altura como de profundidade.
Ouvindo obras sinfônicas complexas, é de se ficar maravilhado com a apresentação de planos, recorte e foco. Poucas vezes ouvi em nossa Sala de Referência um palco tão pleno, orgânico e correto.
Meus maiores exemplos para o ajuste de soundstage são gravações de música clássica, que sei que o engenheiro acertou no posicionamento dos microfones, para permitir que os contrabaixos à nossa direita não saltem para dentro da caixa e nem tão pouco os metais atrás dos cellos e contrabaixos saltem para frente, embolando tudo como se os músicos estivessem tocando dentro de um elevador!
Com a Elipson, depois de ajustada corretamente em uma sala que permita ela “respirar”, isso não ocorrerá (exemplos de gravações de orquestra com este nível de arejamento você encontra às dezenas nos selos Reference Recordings e Telarc).
Em grupos de câmara ou pequenos grupos de Jazz, o soundstage desta caixa é exuberante! Pois o recorte e o foco são de nível cirúrgico! Os amantes de soundstage irão se deliciar com a Elipson!
Neste teste usamos apenas nossa eletrônica de referência. Powers Classic Nagra, pré-amplificador Classic Nagra, TUBE DAC Nagra, transporte dCS Scarlatti, streamer Innuos ZenMini Mk3, prés de phono Boulder 508, PS Audio Stellar (leia Teste 2 nesta edição) e Luxman EQ-500 (teste na edição de abril de 2021). Toca-discos Storm da Acoustic Signature, com braço Origin Live Enterprise de 12 polegadas (leia teste na edição de maio de 2021), e cápsula Hana Umami Red. Os cabos todos Apex da Dynamique Audio, e também o USB Zenith 2. Cabos de força PowerLink MM2.
A Legacy 3230 precisa de um longo amaciamento, pois ambas as pontas vêm completamente “embotadas” – meu filho, ao ouvir, expressou a seguinte dúvida: “Isso vai realmente abrir?”.
Pois é, esta dúvida é como assistir um bom filme de suspense, pois nunca se sabe o final. Felizmente estamos aqui para adiantar que, neste caso, “o bem vence”, rs… E todos sairão satisfeitos com a aquisição. Mas serão tortuosas 500 horas, para os graves e os agudos se soltarem e mostrarem que o investimento valeu a pena.
O problema é que, ao contrário de outras caixas, que você vai tendo melhoras audíveis de 100 em 100 horas, a Elipson teima em deixar tudo para um “grand finale”. Então, minha sugestão é: segure sua ansiedade e a vontade de mostrar o upgrade para os amigos, até que tudo esteja devidamente no lugar.
E não se desespere, pois ainda que as pontas estejam capengas, é possível ouvir a caixa diariamente em todo o período de amaciamento, sabendo que aquele respiro nos agudos, e um grave mais correto, solto e preciso, dependerão dessas 500 horas.
Outra dica é deixar uma caixa virada para a outra, inverter a polaridade de uma das caixas, cobrir com edredom e “sentar a pua” por três semanas sem dó ou piedade. Você que sabe. O que te garanto é que depois deste período você terá uma caixa hi-end de alto nível, pronta para qualquer desafio, e o melhor: alta compatibilidade com inúmeros eletrônicos, sensibilidade excelente (91 dB) e resposta de
25 Hz a 30 kHz.
Sua apresentação de textura é excelente, permitindo observar detalhes que em outras caixas nem imaginamos existir na gravação. Sua região média é de uma transparência impressionante, tanto em termos de realismo como de naturalidade. Acho que este mérito se deve muito ao falante de cerâmica e ao tweeter AMT, que se mostraram hiper bem casados em termos de assinatura sônica.
Não há nenhum resquício de dureza ou brilho excessivo nos timbres, possibilitando um conforto auditivo pleno.
Depois de amaciada a caixa, fizemos algumas experiências com bicablagem. Como não tínhamos dois cabos idênticos, usamos nosso arsenal de cabos, como o Feel Different, o Sunrise Lab Quintessence e o Virtual Reality – trançado (leia Teste 4 nesta edição), e dependendo da eletrônica pode ser sim um ganho em termos de arejamento.
Os transientes são muito corretos, e nos fazem acompanhar com enorme interesse o andamento e o ritmo de tudo que ouvimos (desde que a caixa já esteja devidamente amaciada).
Sabe como separamos as “grandes” caixas das “boas”? Na micro e macrodinâmica. Nestes dois quesitos, a Elipson se destacou com mérito, mostrando que realmente está preparada para grandes desafios dinâmicos. Não se intimidou absolutamente com nada que ouvimos. Falo de obras como Sagração da Primavera de Stravinsky, a Abertura 1812 de Tchaikovsky, ou a Sinfonia Fantástica de Berlioz – obras que levam muitas caixas ao nocaute! E graças à sua total transparência na região média, a recuperação de microdinâmica é “pêra doce”.
Outra virtude é seu corpo harmônico – para este quesito não há exemplos mais contundentes que em vinil. Podem os amantes do digital gritarem, que não existe prova final para corpo harmônico do que ouvir as excepcionais gravações dos anos 50/60 da Capitol, Impulse, Verve, para se apreciar o quanto uma caixa é hi-end ou não neste quesito. E a Elipson passou com méritos também neste quesito!
Em comparação com a nossa caixa de referência (Wilson Audio Sasha DAW), o quesito Organicidade (materialização física do acontecimento musical), não foi tão fácil como é nesta caixa. Mas com gravações primorosas técnica e artisticamente, tivemos os músicos presentes em nossa Sala de Testes.
CONCLUSÃO
Quando pensamos em uma caixa hi-end definitiva, temos que levar em consideração uma infinidade de pormenores, que muitas vezes inviabilizam a escolha e adiam a compra por muitos e muitos anos. Vejo isso todos os dias aqui nos e-mails enviados por vocês.
Os leitores, os velhos conhecidos nossos, que há anos tentam fechar a equação: tamanho de sala, tamanho de caixa, gosto musical, compatibilidade e sinergia com o equipamento e orçamento (ufa!). Trabalho que leva à centena de neurônios queimados, frustrações, medos e dúvidas.
O que tentamos aqui mensalmente é tentar organizar um pouco as ideias, para que esta equação se torne um pouco mais clara. Pois além de todas as questões acima mencionadas, temos ainda a própria dinâmica do mercado, com infinitas opções, para criar mais dúvidas na cabeça do cliente.
Então vamos tentar dimensionar para quem está caixa Elipson é uma opção consistente, ok?
Em primeiro lugar, para quem tem no mínimo uma sala de 25 metros quadrados, e com uma acústica no mínimo aceitável. Quando digo aceitável é que dará à essas caixas arejamento à sua volta em relação às paredes de no mínimo 1 metro (parede às costas), e 0,70 cm das paredes laterais.
Em segundo lugar, que possam ficar perfeitamente simétricas em relação às paredes e ao ouvinte, pois em caso contrário perderão seu maior encanto: o soundstage!
Se você vai deixá-la de um lado com uma parede a 0,80 cm e a outra caixa para um corredor ou uma parede a 2m de distância da caixa, esqueça!
Terceiro: que a eletrônica e os cabos estejam à sua altura. Ou seja; excelente equilíbrio tonal e o menor índice possível de fadiga auditiva.
E, por fim, caibam em seu orçamento, que neste caso será de
60 mil reais.
Se estes quatro requisitos forem atendidos, excelente!
Você deverá ouvir essa caixa se o que deseja é um sonofletor capaz de reproduzir qualquer estilo, com classe refinamento e conforto auditivo.
Foi uma grata surpresa conhecer a Legacy 3230, pois pelo seu porte sabíamos que seria uma caixa com grandes aspirações audiófilas, mas até chegarmos às 500 horas de amaciamento, não sabíamos se entregaria o que prometera.
Seu palco sonoro, ao sumir e deixar apenas você e o acontecimento musical, tem um apelo irresistível aos amantes de soundstage. Mas não é só isso: seus outros atributos a colocam no páreo com caixas consagradas e até mais caras que ela.
Estará certamente entre os Produtos do Ano de 2021, com mérito!
Nota: 92,5 | |
AVMAG #271 Impel (11) 3582.3994 R$ 59.517 |
Fernando Andrette
PRIMEIRO MOVIMENTO – PRIMEIRO CONTATO
Dividirei o teste em quatro atos (ou movimentos), para ser coerente com a chamada de capa, tentando ser o mais criterioso, tanto na descrição e histórico da empresa, como nas observações auditivas na avaliação subjetiva do produto.
Na verdade, enquanto eu preparava o esboço do que escreveria, muitas vezes tive o desejo de mudar a chamada de capa para “Quando a música se faz no presente”, mas acabei de deixar como estava, por intuir que seria da forma que imaginei mais ‘livre’ para a interpretação pessoal de cada leitor.
No entanto, para mim, à medida que os dias foram passando, a leitura que fiz desta caixa estaria em maior conformidade com o ‘no presente’ – e mais adiante explicarei o motivo.
Não é comum uma empresa com apenas uma década de existência ganhar tamanha notoriedade, principalmente em um mercado repleto de excelentes caixas acústicas, sendo que algumas estão no mercado há mais de um quarto de século.
Mas, como em todo mercado altamente competitivo, sempre existem exceções – e a Estelon fez isso com enorme competência e maestria. E o homem por trás desta linda história se chama Alfred Vassilkov engenheiro especialista em eletroacústica formado pela
Universidade de São Petersburgo, que decidiu montar com suas duas filhas a própria empresa. Mas, antes desta decisão, Vassilkov havia trabalhado por 25 anos projetando caixas acústicas e crossovers para inúmeras empresas, tanto na Rússia como nos ex países satélites da antiga União Soviética.
Alfred já vinha maturando essa ideia desde o início do novo século, a de construir caixas que combinassem design e performance inovadores, e sua maior inspiração foram as florestas exuberantes ainda intactas de sua terra natal, a Estônia. Por mais de uma década ele estudou formas, combinação de materiais, que pudessem revolucionar a maneira de construir caixas acústicas. Pois, para ele, forma e performance não podem caminhar separadamente.
Em várias entrevistas concedidas, ele sempre afirma que cada projeto da Estelon é concebido de maneira integral, para que o resultado seja o mais harmonioso e preciso.
Como sempre escrevo: uma coisa é a teoria e outra é a prática – pois muitas vezes o que concebemos parece incrível no papel ou nas medições preliminares e, no entanto, o resultado muitas vezes não nos convence. Mas, pelo visto, Alfred estava mais do que certo em suas convicções, pois com apenas uma década a Estelon já é considerada uma das mais brilhantes referências de caixas de nível superlativo do mercado, com excelentes críticas e prêmios importantes, como duas vezes o Prêmio de Inovação da Consumer Electronic Show (CES), e um Red Dot Design Award.
Mas, para um revisor atento, o que mais me chamou a atenção foram as críticas recebidas nos testes feitos em todos os continentes, levando muitas vezes o revisor a adotar o modelo em teste como sua nova referência em termos de caixa acústica. Isso é um detalhe que chama muito a minha atenção, principalmente se tratando de um produto fora do ‘eixo’ dos grandes fabricantes de áudio hi-end.
E mais impressionante é ter alcançado este padrão de qualidade em um país que, até então, não tinha nenhum histórico de produtos Hi-End de ponta!
Mas, vamos aos conceitos do engenheiro Alfred e como seus 35 anos de engenharia foram aplicados no desenvolvimento de seus produtos. Todos os produtos Estelon são construídos de dentro para fora, com o objetivo de atingir as melhores condições para a reprodução musical, driblando as indesejadas ressonâncias de gabinete e fazendo com que uma caixa Estelon se adeque a salas com ou sem tratamento acústico.
Para se atingir tão elevado propósito, Alfred decidiu desenvolver seus próprios gabinetes, que são construídos com um material composto de mármore, patenteado, na forma adequada para se evitar ressonâncias e difrações, para que o som seja o mais detalhado e realista possível, livres de qualquer coloração de gabinete.
Os falantes utilizados na série X são os drivers da empresa alemã Thiel & Partner, falantes de altíssima qualidade, feitos de materiais rígidos e leves como a cerâmica, diamante CVD, e alumínio, sob a marca Accuton, desde 1994.
Para o teste, a German Audio nos enviou o modelo XB Diamond MkII que, segundo o fabricante, é a alternativa mais próxima para o modelo top de linha desta série, o X Diamond MkII. Ele foi desenhado para salas menores (entre 20 e 40 metros quadrados), com design e performance semelhantes ao modelo maior.
O XB Diamond MkII tem um tweeter de diamante de 1 polegada, junto com um novo cabeamento e um crossover que oferece altas frequências estendidas, para uma sensação de arejamento e detalhamento superiores à versão anterior. O falante de médio é um
Accuton de 6,25 polegadas de membrana de cerâmica, assim como é o woofer de 8,7 polegadas. A fiação interna é toda Kubala Sosna de cobre puro.
Segundo o fabricante, sua resposta é de 22 Hz a 60 kHz, potência de 150 Watts, impedância nominal de 6 ohms com mínimo de
3,5 ohms a 50 Hz, sensibilidade de 87dB/2,83 V, e é indicado para uma potência mínima de 30 Watts. Esse modelo tem as seguintes dimensões: altura de 1260 mm, largura de 420 mm, e profundidade de 590 mm, e um peso de 69 kg.
O fabricante disponibiliza aproximadamente 10 acabamentos, todos com pintura automotiva, com inúmeras camadas sobrepostas, o que lhe confere um acabamento de alto luxo. Eu nunca tive em nossa Sala de Referência uma caixa com um acabamento tão vistoso e bem feito.
Quanto ao seu design, sempre haverá resistência, e algumas pessoas que tiveram o prazer de vir conhecer a caixa, a acharam ‘futurista’ demais. Já o olhar feminino foi unânime, e repleto de suspiros de admiração!
Para mim, o interesse era saber o quanto aquele design diferenciado poderia ou não beneficiar sua performance, pois já tive nesta sala todo tipo de caixa acústica – e que a forma dos gabinetes não é para mim o mais importante!
SEGUNDO MOVIMENTO – PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Como a caixa enviada para teste já veio vendida, nada mais importante que convidar o ‘felizardo’ para acompanhar a montagem da caixa em nossa sala, e ele ter uma ideia do que havia adquirido. Junto com o meu querido sobrinho Viner, abrimos o enorme case e tivemos a grata surpresa: a mesma já vem com rodinhas, e que basta deixar o case em pé que uma plataforma faz com que a caixa deslize para fora sem termos que fazer o mínimo esforço.
A caixa vem embrulhada em um delicado tecido branco, e com telas que não podem ser retiradas para a segurança dos três falantes. Como sabia que o amaciamento seria longo, resolvemos fazer um posicionamento inicial da caixa (muito semelhante ao da nossa Wilson Audio) e fizemos a primeira audição.
Não tenho nenhuma informação se as Estelons saem de fábrica com algum amaciamento, mas pelo que ela tocou de imediato, imagino que sim. Pois não me lembro de ouvir caixas zeradas saírem tocando com este grau de refinamento e informação.
O dono da caixa saiu radiante com o que escutou, e certo de ter feito um upgrade seguro para o seu belo sistema!
TERCEIRO MOVIMENTO – A CONSTATAÇÃO
Passado o primeiro impacto das primeiras impressões, era hora de acelerar a queima, pois tínhamos exatamente 30 dias para fazer o teste. Como estava também amaciando o pré de phono da Hegel V10 (leia Teste 2 nesta edição), tratei de colocar dezenas de LPs para acelerar principalmente o amaciamento do woofer, e soltar o cone (não existe amaciamento melhor do que com analógico para se soltar woofers).
Como não sabia quem era quem no processo de amaciamento, a cada 20 horas ligava novamente a XB Diamond ao nosso sistema, para ver sua evolução. Ainda que o equilíbrio tonal fosse muito bom desde o momento que ouvimos a caixa pela primeira vez, com o passar dos dias os médios-altos foram se abrindo, assim como o extremo agudo. E o grave não acompanhou essa evolução, o que tornou alguns discos irritantes de se ouvir. Foi aí que ‘radicalizei’, colocando por 50 horas apenas gravações de órgão de tubo.
Se minha sala não fosse isolada acusticamente, teria recebido várias notificações do condomínio com certeza. Nunca ouvi tanto Toccata & Fuga de Bach na vida, rs!
Mas o tratamento de choque valeu a pena, pois com 100 horas os graves se alinharam com o resto do espectro audível e tudo começou a fazer enorme sentido, e o desejo de permanecer na sala e ouvir inúmeras gravações teve início.
E ainda que meu desejo fosse colocar logo os spikes, me contive, pois sabia que a caixa poderia render muito mais depois do amaciamento encerrado.
O que era digno de nota com 100 horas de amaciamento, era o grau de realismo e definição que tudo era apresentado. Voltei a torturar as caixas com mais 100 horas de obras sinfônicas com dois pianos e orquestra, percussão japonesa, naipe de metais de big band, intercalando com pequenos grupos e quartetos, para sentar e ouvir como se comportava na evolução do amaciamento outros quesitos como: textura, organicidade, corpo harmônico, dinâmica e transientes.
Com 200 horas, tive a ajuda do Juan e do Ulisses, que vieram me trazer os cabos Sunrise Lab Quintessence Aniversário (finalmente o projeto finalizado), e me ajudaram a colocar os spikes, e conheceram a caixa.
QUARTO MOVIMENTO – QUANDO A MÚSICA SE FAZ NO PRESENTE
Essa é uma antiga discussão que, por mais relevante que seja para o audiófilo escolher o caminho que deseja seguir, muitos poucos entendem a importância de compreender o que significa trilhar um caminho ou outro.
Quando estamos falando de sistemas superlativos, duas escolas até a virada de século eram muito claras: a da transparência total, que procurava revelar em detalhes tudo que foi captado, mixado e masterizado, levando o ouvinte a observar a micro da microdinâmica (com todos os prós e contras), e a outra vertente, que não possui este grau de transparência, mas dava total ênfase em nos apresentar a música de forma coerente e natural.
Essa dicotomia foi muito intensa até a primeira década deste novo século, porém – e felizmente – vem aparecendo equipamentos que conseguiram um ponto de equilíbrio muito interessante entre essas duas ‘escolas’. Que são os produtos que possuem uma excelente transparência, tendo na mesma proporção um realismo e naturalidade.
E a Estelon XB Diamond é uma digna defensora desta nova tendência. E vou mais longe: instiga outras grandes caixas a trilharem este caminho (se forem capazes).
Morrerei defendendo que, para se ter o melhor desse dois mundos, só é preciso alcançar o mais correto equilíbrio tonal possível, pois todo o resto é consequência direta deste objetivo. E a caixa da Estelon só veio ‘provar’ que este é o caminho a ser percorrido por todos os fabricantes que desejam fazer história neste mercado.
Mas a Estelon foi muito mais adiante com este objetivo, ao possibilitar, com um design extremamente engenhoso, fazer com que vários ‘paradigmas’ caíssem por terra. Começo pelo paradigma do ‘sweetspot’, que para inúmeras caixas é rigoroso e que, nesta Estelon, pouco muda se o ouvinte está na posição de uma das vértices do triângulo equilátero ou não.
Outra é em relação aos graves, em termos de definição e extensão, já que a resposta que esta caixa consegue com um único woofer de 8 polegadas é algo impressionante, e deveria ser estudado com afinco pelos concorrentes!
E, por último, a qualidade da imagem tridimensional desta caixa, que nos permite ouvir – quando a sala permite (e a nossa permite) – ouvir os pontos corretos e os planos de cada naipe de instrumentos da orquestra sinfônica!
E quais os benefícios desses três diferenciais em termos de audição? Realismo, meu amigo leitor. Mais do que detalhamento de roçar dos pés no piso da sala de gravação, e do virar de páginas de partitura: o todo se comporta de maneira tão real, que nosso cérebro se entrega instantaneamente ao que está ouvindo.
As pessoas habituadas a assistirem apresentações ao vivo não amplificadas, certamente rirão se lhe perguntarem se conseguem ouvir as chaves de um fagote no solo, ou o virar das páginas da partitura. Pois o que chega até elas será o todo, e não partes. Sistemas que trafegam por essa via, só apresentarão os detalhes que chegaram até o processo final e estão impressos na mídia física – mas o que irá sempre prevalecer será o todo, nunca as partes.
Seu cérebro não deixará de acompanhar a linha melódica, por um triângulo que ganhou a mesma ênfase que o naipe de contrabaixos, ou perderá a concentração pela tosse inevitável na plateia em gravações ao vivo. O acontecimento secundário será ouvido, mas sem interferir no principal. Este grau de atenção e entrega do ouvinte, só ocorre quando as condições de naturalidade, realismo, precisão e tridimensionalidade ocorrem. E são essas as condições que a Estelon disponibiliza ao ouvinte – ela é apenas um instrumento a serviço da música, não quer reinventar a roda ou ser mais importante que o acontecimento musical.
E à medida que você reconhece e compreende seus atributos, a música se torna presente. Não falo da materialização do acontecimento musical- este ‘truque’ já é velho, e inúmeros sistemas nos dão este prazer. Falo da música soar como se estivesse ocorrendo no presente, e fossemos testemunhas deste fenômeno, em que como em uma apresentação ao vivo, interagimos, pois, nossa visão enriquece e nos dá detalhes que nossa audição não teria como detectar, como expressões faciais por exemplo.
E passamos, para o segundo plano, o que essas caixas exprimem de forma tão contundente e comovente: a intencionalidade! Jamais escutei em outra caixa tamanho poder de nos mostrar o que ouvimos, com tantos detalhes, com tamanha precisão e emoção!
E aí temos o maior dos paradoxos, pois ao mesmo tempo que ela se exime de nos mostrar ruídos de sapatos no palco ou ranger de cadeiras dos músicos, ela nos brinda com as inflexões e técnicas vocais dos cantores, com a sutileza das digitações, com a simplicidade de um acorde de dó maior executado por um virtuose e, o mais divino: nos faz esquecer do tempo e espaço à nossa volta!
O difícil ao ouvir a Estelon é manter nossa mente tagarelando, ou mantendo nossa audição em segundo plano enquanto nos preocupamos com assuntos diversos. Como um exímio ilusionista, que deixa em transe sua plateia, a Estelon usa do mesmo ‘artifício’ para deixar os ouvintes perplexos com a sonoridade que sai daquele ‘totem’, que foi pensado detalhadamente para exprimir a música reproduzida eletronicamente de maneira distinta de todos os outros grandes projetistas de caixas acústicas.
O que posso lhe garantir, amigo leitor – agora que já estou ouvindo o modelo YB, cujo teste publicarei na edição janeiro/fevereiro – é que a mesma música não soará em nenhuma outra caixa como em uma Estelon.
E não falo de ser melhor ou não, pois sempre haverá a questão do gosto, que tem uma grande parcela de subjetividade – mas falo sim da forma como a música se expressa através de uma Estelon. Pois tanto nesta XB Diamond MkII, como na YB MkII da série de entrada, a assinatura sônica é a mesma – ainda que na série Diamond as caixas sejam bass reflex, e as YB sejam seladas! Em ambas, o grau de realismo é inerente ao conceito da Estelon.
Independente dos falantes serem tão distintos (na YB os falantes são Scanspeak), ou os crossovers, o que determina este tão impressionante ‘DNA’ sonoro, certamente se encontra no design e na construção dos gabinetes, que permitem este grau de requinte e refinamento.
A música flui com tamanha naturalidade, que avaliar os quesitos de nossa Metodologia torna-se um esforço desnecessário, mas vital para o leitor entender o grau de qualidade que estamos descrevendo.
O seu equilíbrio tonal é tão correto, que foi interessante o colocar à prova com gravações que estão no limite entre o erro e o acerto, e ver como ela sequer tomou conhecimento deste limite tênue. E falo de instrumentos complicados, como: trompete com surdina, gaita, sax soprano, violino e piano última oitava da mão direita.
Neste pacote do equilíbrio tonal perfeito se junta a apresentação de texturas, que se mostraram ser as mais corretas em qualquer caixa que já tenha ouvido, testado ou tido como referência.
Os transientes são mais do que corretos! São, como diria meu pai, “eficazes”, pois tornam o andamento, ritmo e tempo tão precisos, que acompanhamos o desenrolar sem perder o todo. Toda vez que ouço uma música que tem muita variação de tempo, nas passagens mais complexas eu me pego ouvindo a mudança de andamento deixando a música em segundo plano, faço isso recorrentemente, e quando me pego já perdi o todo. Na Estelon, foi a primeira vez em que este fenômeno não ocorreu. E só fui perceber que não havia perdido o todo, quando aquela passagem acabou!
Para ter certeza que era isso mesmo, ouvi outros exemplos, cavernosos, para ter certeza que era isso realmente. Para os que adoram mudanças de andamentos em obras com muita percussão, irão se deliciar com a capacidade de resposta de transientes desta caixa.
Veja que sequer citei o quesito soundstage – e não o fiz, pois acho que fui contundente ao descrever a qualidade dos planos e recortes da Estelon. O único adendo que acho ser conveniente descrever, é o quanto de profundidade e largura temos, pois elas extrapolam qualquer outra caixa por nós testada nesta Sala de Referência. É preciso ouvir para entender como elas somem na sala de audição!
A macrodinâmica, para um woofer de 8 polegadas, é algo que ainda não consegui assimilar completamente, pois além de peso, possui uma extensão impressionante.
O que ela perde em relação a nossa caixa de referência, é quanto o deslocamento de ar e energia entre as caixas (mas nossa Wilson Sasha DAW possui dois woofers de 8 polegadas e um gabinete com o triplo de espaço cúbico). Mas se formos falar em termos de precisão e riqueza tímbrica, a Estelon XB Diamond MkII é uma referência absoluta!
O corpo harmônico é tão bom quanto foi captado na gravação. E em algumas gravações digitais, fiquei surpreso o quanto eram maiores do que costumo ouvir em caixas até maiores que a Estelon. E nas gravações analógicas, o corpo é simplesmente magnífico, em tamanho e realismo (olha aí de novo).
Falar de Organicidade para esta caixa é como perguntar a alguém morto de sede se quer água. O que posso dizer em relação a este quesito é que, jamais, caixa alguma, materializou o acontecimento musical em nossa frente como a Estelon fez! Seria redundante especificar ou alongar mais do que isso.
Quem teve a oportunidade de escutar, a primeira coisa que exclamou foi: “que realismo!” ou “que naturalidade!”.
CONCLUSÃO
Foram 30 dias de enorme aprendizado, e a certeza, no encerramento deste teste, que tivemos o privilégio de testar um produto que faz jus a todos os elogios e prêmios que no futuro venha a receber.
Trata-se de uma caixa acústica que foge completamente do ‘lugar comum’, e expõe de maneira clara que pensar fora da zona de conforto, às vezes, muda de patamar o nível de referência que tínhamos em relação a um determinado segmento.
Ouvi e testei excelentes caixas acústicas nesses meus 30 anos de revisor crítico de áudio, e algumas me tocaram profundamente a ponto de desejar tê-las como Referência. Outras, completamente fora da minha realidade financeira, apreciei e sofri quando tive que devolvê-las. Mas ainda não havia experimentado o sentimento de escutar algo que mudaria por completo minha forma de ouvir música.
E muito menos sabia que essa caixa existia (por mais que todos os testes deste fabricante sejam muito contundentes e positivos), pois tendemos a nos ‘anestesiar’ depois de ouvirmos diariamente que ‘o novo produto x é inacreditável’!
Como sempre, lembro aos meus leitores, sou pior que São Tomé: preciso ouvir e conviver com um produto tempo suficiente para tirar minhas conclusões. E se tem algo que tirei deste teste é que este fabricante está trilhando um caminho novo, audacioso e muito promissor.
E que os dois produtos que estou ouvindo confirmam o que Alfred Vassilkov disse às suas duas filhas quando decidiu, em 2010, montar sua própria empresa: “Há muito que tenho a ambição de criar a melhor coluna do mundo”, e iniciou sua brilhante jornada.
Se ele vai atingir tão ambicioso objetivo eu não sei, mas que pelos primeiros dez anos de vida de sua empresa ele está indo muito bem, não resta dúvida!
Sei que são caras, e com este dólar ainda batendo nos seis reais, tudo se torna ainda mais difícil. Mas se você deseja uma caixa de nível superlativo em todos os detalhes, e seu desejo mais íntimo é fazer a música presente em sua vida, o caminho é esse!
Nota: 102,0 | |
AVMAG #279 German Áudio contato@germanaudio.com.br R$ 429.210 |
Jean Rothman
Sempre enfatizo, nos testes de TVs, a necessidade de um bom sistema de som ou uma soundbar. Os falantes das TVs modernas são diminutos e, geralmente, voltados para trás ou para baixo, o que torna o resultado bastante sofrível.
As soundbars vieram preencher esta lacuna e trazer uma melhor qualidade de áudio, aumentando a imersão dos usuários.
Elas não devem ser comparadas a sistemas compostos por receivers e caixas acústicas dedicadas, pois são categorias de produtos distintas tanto em valor como em performance. A comparação deve ser feita em relação aos falantes das TVs, pois neste caso o resultado é incrivelmente superior, na maioria dos casos.
A soundbar TS9030 da TCL é um produto com design diferenciado e diversos recursos que facilitam seu uso de modo integrado à maioria das TVs disponíveis atualmente.
DESIGN, CONEXÕES E CONTROLE
A TS9030 possui corpo em plástico e é bem fina, com apenas 58 mm de altura, o que permite sua instalação na frente das TVs sem obstruir parte da imagem, na maioria dos casos. Ela também pode ser fixada na parede através de dois suportes que acompanham o aparelho.
Seu áudio possui topologia 3.1, com 3 falantes frontais e um subwoofer sem fio, totalizando 540W de potência. Seu design é muito peculiar e interessante, contando com uma tecnologia de reflexão acústica chamada de Ray-Danz, possuindo duas cavidades curvas em suas extremidades que dispersam o som para as laterais da sala.
De acordo com o fabricante, esses refletores emitem o som em um ângulo preciso para criar reverberação natural e um palco sonoro percebido muito mais amplo. Este design foi premiado no iF Design Award 2020 por seu design exclusivo e tecnologia inovadora de refletor acústico.
O subwoofer sem fio tem seu corpo em mdf e plástico, e falante em sua parte inferior apontado para baixo. Suas dimensões são (L x A x P) 24.1 x 41.4 x 24.1 cm.
A soundbar possui 2 entradas HDMI, sendo uma delas no padrão ARC (Audio Return Channel), que recebe o áudio da TV quando utilizamos aplicativos Smart, como Netflix, Amazon Prime etc… Também oferece uma conexão ótica de áudio e é compatível com formatos MP3 e Flac, além de conexões USB e P2 analógica para reprodução de música.
RECURSOS
A TS9030 possui compatibilidade com Chromecast, Apple Airplay através de conexão wi-fi e Google Home, permitindo utilizar comandos de voz. Também suporta Dolby Atmos, apesar de não possuir falantes em sua parte superior. Possui Bluetooth integrado, oferecendo diversas opções para ouvir música transmitida a partir de celulares e computadores.
Em sua parte superior existem teclas para ligar/desligar, selecionar entrada entre os modos HDMI 1 ou 2, selecionar entrada Bluetooth e aumentar/diminuir o volume. Possui um display de LED que mostra informações sobre volume, entrada selecionada e formatos de áudio.
Seu controle remoto possui teclas bem posicionadas para ajustes de volume, entradas, graves e agudos, iniciar, pausar e avançar faixas de músicas, escolher entre os modos de surround e AV Sync. Também possui uma tecla que aciona o surround vertical, aumentando a espacialidade.
O subwoofer deve ser posicionado com cuidado, de preferência próximo a um canto da sala, e o volume de graves deve ser ajustado pelo controle remoto para que as baixas frequências não fiquem exageradas durante a reprodução de filmes.
ÁUDIO
Em nosso teste conectamos a TS9030 em uma TV TCL 65C715, utilizando um cabo HDMI nas entradas HDMI ARC dos dois equipamentos. Esta conexão permite controlar o volume da soundbar utilizando o controle remoto da TV, além de ligar e desligar a soundbar junto com a TV.
Músicas reproduzidas na TS9030 apresentam equilíbrio tonal sem grandes exageros e bastante confortável para som ambiente. Nesta situação, utilizamos o modo Music e o Vertical surround desligado.
Os testes com filmes em Dolby Digital e Atmos apresentaram palco sonoro bem envolvente e com uma sensação de verticalidade, dentro dos limites de um sistema sem caixas acústicas traseiras. O canal central dedicado é o ponto forte de seu desempenho. Os diálogos são consistentes e com boa inteligibilidade, e a faixa média é robusta o suficiente para trazer peso às vozes, sem ser excessivamente dominante.
O subwoofer, com seu falante de 6,5 polegadas, oferece um bom reforço nos graves, sem ser estrondoso ou incomodar durante os filmes.
A Soundbar TS9030 oferece ótima relação custo/benefício, possui uma entrada HDMI adicional, suporta Chromecast e Airplay 2 e é compatível com Dolby Atmos. Seu áudio é envolvente e a forma inovadora com que usa estruturas reflexivas para refletir o som pela sala, justifica o upgrade em relação aos falantes das TVs.
É poderosa o suficiente para fazer justiça até mesmo aos filmes de aventura mais cheios de ação, mas tem clareza e precisão suficientes para lidar com diálogos com facilidade.
MÍDIAS UTILIZADAS NO TESTE
EQUIPAMENTOS
Nota: 35,5 | |
AVMAG #272 TCL www.semptcl.com.br Preço sugerido: R$ 3.299 |
1 Comments
Excelente trabalho trabalho. Boa sorte a todos e em especial ao Fernando Andreti nessa jornada de saúde.