Influência Vintage: CÁPSULA SHURE V15 TYPE III

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Equipamentos Vintage que fazem parte da história do Áudio

O termo Vintage tem a ver com ‘qualidade’, mais do que ‘ser antigo’. Vem do francês ‘vendange’, safra, sobre uma safra de um vinho que resultou excepcional. ‘Vintage’ quer dizer algo de qualidade excepcional – apesar de ser muito usado para designar algo antigo.

Esta é uma série de artigos que aborda caixas, amplificadores, e outros equipamentos que fizeram história, e fazem a cabeça de alguns audiófilos, que são colecionados, admirados e que influenciam o áudio.

A CÁPSULA SHURE V15 TYPE III

A V15 Type III, de 1973, é uma das três melhores cápsulas para toca-discos que a célebre empresa produziu, desde sua primeira cápsula estéreo, a M3D, de 1958 – e que também é a primeira Moving Magnet estéreo do mundo. A segunda melhor cápsula da Shure é o modelo seguinte, a V15 Type IV, e a primeira melhor, a V15 Type V (e suas variações V-MR e VxMR) – última dessa linha a ser produzida, em 2004.

Essas duas últimas V15 são mais difíceis de se encontrar no mercado, e atingem preços muito altos. E como a Type III é bem superior às Type I e II, ela se tornou uma das mais difundidas e presentes, e por preços honestos e com facilidade de agulhas de reposição.

Montada em headshell universal

De lá para cá, a Shure foi uma das empresas a dominar os toca-discos da maioria dos sistemas de áudio do mundo. Eram tão onipresentes que, até hoje, todo mundo que teve ou tem um toca-discos dos anos 60, 70 e parte de 80, tem alguma cápsula Shure na gaveta, ou em uso – sim! – porque muitas delas ainda têm serventia, como as antigas M44, M55 e M75, cujas agulhas ainda têm em reposição fabricadas por terceiros, alguns até de origens duvidosas, mas outros de qualidade muito superior às originais (e preços também). Isso para não falar da extensa linha de cápsulas para DJ, as quais tiveram boa aceitação e vendas – até a empresa descontinuar permanentemente a produção de cápsulas, em 2018.

Na década de 50, a Shure inventou um princípio de funcionamento interno para suas cápsulas, que ela chamava de Dynetic – que é o princípio do magneto móvel (Moving Magnet) com a bobina estacionária, além de um cantilever, suspensão e formato de agulha que permitiam a cápsula trabalhar com apenas 1 grama de força de tracionamento, o que faz várias cápsulas Shure terem, até hoje, um dos melhores tracionamentos do mercado.

Type III L-M – de baixa massa – exclusiva para toca-discos Dual

A linha V15 surgiu em 1964, com a Type I, com o ângulo de VTA de 15 graus – daí a alcunha V15. Era a melhor cápsula da empresa, feita dentro de altos padrões industriais e controle de qualidade, e já ostentava um diamante com perfil elíptico. Sua evolução veio em 1966, com a Type II, com uma capacidade de tracionamento, de manter o contato da agulha com o sulco, ainda melhorada. O ano de 1973 trouxe a V15 Type III, com uma agulha com 25% menos massa e uma dedicação à resposta de frequência plana – a queridinha de muitos audiófilos, até hoje! A Type IV, em 1978, trouxe a escovinha frontal com estabilizador viscoso, e uma agulha com perfil hiper-elíptico. E a Type V, em suas várias versões, teve melhoras na agulha, cantilever e design interno, em modelos de 1982, 83 e 97.

Especificações originais

A razão deste texto, a Type III, inicialmente vinha com três opções de agulhas, sendo uma cônica (na versão Type III-G), uma elíptica para a melhor qualidade, e uma para discos de 78 RPM . Havia também uma V15 Type III-LM (low mass) de massa baixa, feita pela Shure especificamente para equipar os toca-discos da marca alemã Dual, que tinham braços de massa baixa. Como reposição original da Shure, depois foram disponibilizadas as agulhas VN35HE (hiper-elíptica) e VN35MR (micro-ridge) – elevando tremendamente as capacidades sonoras dessa cápsula.

Agulha VN35MR – com perfil especial Micro Ridge

A Type III foi propagandeada pela Shure como a cápsula feita para o braço inglês SME 3009-II Improved, de massa baixa, um dos padrões de mercado de toca-discos de alta qualidade no final da década de 60 e começo de 70, e que foi comercializado nos EUA como braço “Shure-SME”. Tanto que a Type III foi muito usada nos braços SME Series III do final da década de 70, também de baixa massa.

Ao usar uma agulha original Shure (e de algumas poucas marcas terceirizadas) na Type III, que têm uma compliância específica, a recomendação de braço é de baixa massa (ou alguns de massa média, dependendo de experimentação). Algumas agulhas ‘sem marca’ não mantêm as mesmas características técnicas das originais.

Embalagem original

Essas agulhas, que chamam de “aftermarket”, fabricadas por outras empresas que não a Shure, funcionam – algumas até bem – mas não têm a mesma especialidade que tem uma original. A melhor opção, para quem tem ou quer adquirir uma Type III, é comprar uma agulha feita pela empresa japonesa JICO – considerada por muitos até superior às originais – que fabrica vários modelos especiais para a Type III, que usam a designação VN35E, com diamantes com perfis elípticos, hiper-elípticos, e SAS (Super Analog Stylus, um perfil equivalente em qualidade aos melhores do mercado, como Micro-Ridge, Fine Line ou Shibata), e todos esses são compatíveis com as especificações originais da Shure V15 Type III, como operar com um tracionamento de apenas 1 grama.

Modificada com corpo em madeira
COMO TOCA

A V15 Type III pode ser considerada uma cápsula audiófila? Com o braço certo, e com uma agulha hiper-elíptica ou micro-ridge originais, ou uma JICO hiper-elíptica ou SAS nova, a Type III pode surpreender a muitos, e pode (e deve) superar a maioria das Moving Magnet do mercado – ou pelo menos igualá-las, com um som equilibrado, cheio e bem detalhado.

SOBRE A SHURE

A Shure Radio Company foi fundada em 1925 por Sidney Shure, vendendo componentes para rádios, em Chicago. Três anos depois, seu irmão Samuel entra para a empresa, já com 75 funcionários, e ela vira a Shure Brothers Company. Em 1931 projetam seu primeiro microfone, e em 1941 fornecem microfones para as forças armadas americanas na Segunda Guerra.

V15 Type IV – o modelo acima

Na mesma década já começam a fabricar cápsulas para fonógrafos, para empresas como Philco, RCA, Emerson, Magnavox, Admiral e Motorola – chegando a fabricar 28.000 peças por dia.

Na década de 50, além de expandirem sua linha de microfones, trazendo os precursores dos célebres SM57 e SM58, a Shure
também lança suas primeiras cápsulas de qualidade, Moving Magnet, especialmente para o recém popularizado long-playing (LP). Nos anos 2000 passaram também a fabricar earphones e headphones – permanecendo com estes e os microfones em linha (e acessórios), após o término da produção de cápsulas para toca-discos de vinil.

V15 Type VxMR – o último modelo da linha

Não sabemos quais são as dificuldades que levaram a Shure a parar de fazer cápsulas. Mas esse ainda é um mercado grande e em ascensão – cujo segmento de entrada é hoje dominado pela dinamarquesa Ortofon e pela japonesa Audio-Technica.

Quem sabe um dia a Shure não renova sua linha, e volta ao mercado de cápsulas?

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