CÁPSULA ZYX ULTIMATE ASTRO G
Fernando Andrette
Ao receber a ZYX Ultimate Astro G para teste, antes sequer de abrir a embalagem me veio à mente a seguinte questão: o quanto ela poderia ser mais refinada que a Ultimate Omega G?
Já que a Omega foi, de longe, a cápsula mais ‘impressionante’ e com a maior pontuação da revista até esse momento.
Pois muitas vezes nossas conjecturas estão mais ligadas às nossas expectativas do que à realidade iminente. Sabendo dessas armadilhas que construímos mentalmente é que fico me policiando o tempo todo, querendo ouvir para crer e entender, o que o fabricante almejou em seu modelo mais sofisticado.
E ao tentar penetrar na mente do projetista Hisayoshi Nakatsuka, fica evidente que a sua busca incessante por extrair dos sulcos a totalidade de informações, todo aprimoramento alcançado virá com inúmeras novidades. Pois para o senhor Hisayoshi, a reprodução analógica é a única que traduz fidedignamente a música em sua totalidade. Então, cada avanço em um novo modelo da ZYX, é uma conquista rumo a esse tão alto objetivo de oferecer ao ouvinte a mais precisa e realista reprodução musical.
Para meus ouvidos, a Omega G já estava muito próxima desse ‘nirvana analógico’, ao me possibilitar ouvir nuances e detalhes sem perder a visão do todo, como nenhuma outra cápsula havia atingido.
E ter a possibilidade de escutar o modelo top de linha deste fabricante, acabou por ser um daqueles acontecimentos que todo revisor de áudio sabe que não ocorre corriqueiramente.
Para os que não tiveram o interesse em ler o teste da Omega G, darei um breve curriculum do CEO da empresa e seu principal projetista. Nakatsuka San nasceu em Nagano no Japão, e desde muito jovem se interessou por equipamentos de áudio, e ao sair da universidade foi trabalhar na Kenwood, onde foi o responsável pelo desenvolvimento de um amplificador integrado Trio (que tive por muitos anos e foi o integrado que mais indiquei aos amigos nos anos 70).
Depois do lançamento do amplificador, foi deslocado para o departamento de produtos futuros, e lá desenhou a primeira cápsula ótica – que nunca saiu do papel.
Depois da Kenwood, ele foi trabalhar na Ortofon na Dinamarca e desenvolveu a famosa MC 20. Seu próximo passo foi trabalhar na Namiki Precision Jewel Company, onde gerenciou toda estrutura de cápsulas OEM para dezenas de fabricantes no Japão, Europa e Estados Unidos. Até que, em 1986, saiu da Namiki para realizar seu sonho de ter sua própria empresa.
O nome ZYX foi extraído da ideia de brincar com um conceito tridimensional, de coordenadas, analógico de tempo (Z), amplitude (Y) e frequência (X). Sendo esse conceito aplicado em todas as cápsulas, em que a geração de energia sonora com a distorção do eixo do tempo é eliminada por meio de várias tecnologias patenteadas, o que o levou à sua mais recente patente: o cantilever de carbono.
O maior diferencial da Ultimate Astro em relação a todas outras cápsulas ZYX, está no novo sistema de gerador que não interfere nas bobinas – o que faz essa nova cápsula ser a única no mundo em que todas as partes da cápsula que compõem o circuito magnético são submetidas a um tratamento especial, que neutraliza qualquer sinal nocivo ao nível de distorção mecânico ou elétrico. O que audivelmente se traduz em extrair a informação existente nos sulcos de maneira fidedigna ao que foi impresso no disco.
Aliado à estrutura simétrica com amortecimento na frente e atrás da bobina, já existente nos modelos abaixo da ZYX, a Ultimate Astro – segundo o fabricante – chegou ainda mais próximo do realismo que só o analógico pode oferecer.
Não vou descrever novamente o que consiste esse amortecimento simétrico, e nem o peso de equilíbrio de lápis azul, pois falei de ambos em detalhes no teste da Ultimate Omega G – e o processo de ambos é o mesmo na Ultimate Astro G. O que difere das outras séries na linha Astro, é a nova placa de terminais de composto de carbono, que trava os pinos dos terminais de saída e que protege os cabos contra qualquer tipo de vibração externa vinda do braço, além de eliminar carga estática. Essa placa pode ser aterrada através do fio terra da saída do canal direito, diretamente ao pré de phono. Isso, segundo o fabricante, permite uma transmissão de sinal mais pura, eliminando a capacitância entre os 4 pinos da conexão.
O cantilever de carbono patenteado, é composto de 1000 pedaços de nano carbono (por isso o nome de C-1000), e segundo o fabricante, a fibra de carbono é mais rígida que alumínio, ferro e titânio, e sua gravidade é apenas metade da do boro.
Em testes auditivos, a ZYX afirma que o cantilever de carbono tem uma resposta mais ampla de frequência e desempenho de trilhagem mais preciso que qualquer outro material utilizado em cantilevers.
Outro grande diferencial (segundo o fabricante) é que o sinal mecânico captado na agulha, não é refletido mecanicamente ou modulado, voltando da bobina para a agulha novamente, e sendo completamente eliminados.
A ZYX é, no momento, o único fabricante de cápsulas MC que conseguiu provar em medições um eixo de tempo igual entre o canal direito e esquerdo, e esse feito se reflete dramaticamente na audição de suas cápsulas. Foi o que mais percebi no teste da Omega G, ao ouvir detalhes jamais escutados em nenhuma outra cápsula, em todos os discos que ouvimos durante o teste. Sem exceção, todos LPs apresentaram camadas de informações que foram muito além de micro-detalhes, de ruído de fundo, de instrumentos ou dos músicos.
Para o teste, utilizamos o Sistema de Referência e apenas substituímos a Ultimate Omega G pela Ultimate Astro G, trabalho feito com primor pelo amigo e colaborador André Maltese.
Nenhuma das três cápsulas ZYX que testamos até o momento, saem tocando magistralmente – ao contrário, cada uma teve uma sonoridade distinta: a Bloon 3 saiu com uma energia exagerada, que parecia que havíamos acelerado a rotação – o mais correto seria dizer que por 40 horas soou nervosa e descontrolada, até entrar no prumo. A Omega G, soou engessada nos agudos e a região média mais projetada que o normal de qualquer cápsula decente até às 50 horas, e a Ultimate Astro G soou como se o grave estivesse metros à frente do restante, sendo impossível ouvir tudo que tivesse resposta abaixo de 80 Hz, ou seja: quase nada era audível.
No caso da Astro, cheguei a temer que ela tivesse algum defeito de fabricação (foram dezenas de mensagens trocadas diariamente com o Kawabe e ele com o fabricante). O pobre Maltese quebrou a cabeça, buscando descobrir o que havia ocorrido. Até que com 60 horas o grave começou a recuar, o médio-grave com 70 horas encaixou e, com 80 horas, a Ultimate Astro G floriu sonoramente.
Mas não foi um florescimento tímido de um roseiral, e sim um vasto campo de girassóis como nas pinturas de Van Gogh – para ser mais preciso! Com ela, a música, qualquer música, se torna um acontecimento épico, daqueles momentos que sua memória auditiva ampliará para sempre.
Todos nós temos lembranças de algum momento arrebatador, em que um sistema, um disco, nos virou do avesso e nos fez entender o real significado da alta fidelidade, e melhor: justificou o motivo da reprodução eletrônica de altíssimo nível ser assim denominada!
A Ultimate Astro G fará essas lembranças se tornarem diárias, permanentes, em qualquer momento de sua vida, esteja você feliz ou triste, atento ou desatento.
Mas a Omega também não tem esse poder, Andrette? Claro que tem, basta ler o teste para constatar que essa é uma das maiores qualidades deste fabricante de cápsulas. No entanto, a Astro consegue nos colocar ainda mais próximo do acontecimento musical, nos transportando de maneira tão realista para cada um dos estúdios ou sala de concerto em que o disco foi gravado, que é preciso um certo tempo para se digerir esse grau de precisão.
Aos que já tiveram a oportunidade de vir ouvir a Astro, tenho apresentado três gravações distintas. Uma obra sinfônica: a Quarta Sinfonia de Tchaikovsky com a Orquestra de Cleveland e regência de Lorin Maazel, gravação de 1979 pelo selo Telarc. Ella & Louis, remasterização da Analogue Productions em 45 RPM de 2011. E Legrand Jazz de Michel Legrand com Miles Davis, gravação de 1958 e relançada pela DNM em 2013.
Três gravações que conheço integralmente em detalhes, e que utilizo para fechar notas de cápsulas, toca-discos, braços, cabos de phono e prés de phono. E que haviam alcançado seu auge em performance com a Omega G, e me fizeram escrever seis páginas inteiras em meus cadernos pessoais de anotação, tamanha quantidade de observações que extrai das audições com essa cápsula.
O impacto causado em mim, e nas pessoas a quem tive a oportunidade de mostrar esses três discos, foi muito semelhante, tanto na incredulidade do que se escuta, como na capacidade de fazer nosso cérebro instantaneamente esquecer que se trata de reprodução eletrônica, tamanho realismo em nos transportar para dentro da gravação.
Evidente que a gravação de maior impacto emocional e de efeito psicoacústico é a da Telarc – uma das gravações de música clássica mais primorosas já realizadas – que na Ultimate Astro G nos leva a entender imediatamente as diferenças enormes entre o digital e o analógico. O palco sonoro é de um realismo tão impressionante, que as paredes laterais e as costas das caixas simplesmente se dissolvem, deixando-nos observar todos os planos e naipes da orquestra de maneira magistral! Por mais que as melhores cápsulas por nós já avaliadas, façam um belo trabalho nesse disco, a amplitude e o respiro da orquestra que a Astro nos apresentou, é inédito!
O interessante é que de todos esses três discos eu só tive a intenção de mostrar uma faixa ou, no caso da obra sinfônica apenas o primeiro movimento, e simplesmente é impossível ousar parar de ouvir até que todo o lado A termine.
E quando estou sozinho, esse fenômeno se repete com cada um dos discos selecionados.
A segunda observação dos que escutaram a ZYX Ultimate Astro G, é que fica evidente não só a diferença do analógico para o digital em setups bem ajustados, como com essa cápsula, a distância se torna ainda mais contundente! Essa também foi a minha percepção ao entender o grau de refinamento da Astro, em relação a qualquer outra cápsula excelente.
Tempo, andamento, precisão, detalhamento, naturalidade, realismo, musicalidade, emotividade – todos esses adjetivos estão dentro do pacote, mas com um diferencial: todos na mesma proporção, de maneira coerente e harmoniosa.
Eu não abro mais mão de escutar toda a minha discoteca – acabou-se o tempo em que fazia ‘concessões’ aos meus setups, acreditando que eles eram ‘bons demais’ para tocar gravações tecnicamente limitadas. Então, ao descobrir que essa posição era um enorme equívoco de minha parte, comecei a observar um movimento – à princípio tímido – dos fabricantes na busca de soluções para esse impasse, que assim que ouvi esses produtos e constatei que não era apenas promessa teórica, defini que meu sistema analógico haveria de ser definido seguindo a premissa de resgatar todos os LPs renegados por anos.
Ao testar a Ômega, já havia me dado por satisfeito em descobrir a cápsula que atendia a esse propósito, ainda que uma dezena de discos tivessem que ser monitorados à risca, para não me empolgar e passar do volume possível, e colocar tudo a perder.
A Astro G, não só amplia essa margem tão estreita no volume, como nos permite apreciar o trabalho artístico sem nos preocupar com a deficiência técnica tão evidente. E isso, meu amigo, é o maior legado que a cápsula Astro pode proporcionar ao amante do analógico: lhe dar a chance de ouvir sua discoteca integralmente, sem receio de que a limitação técnica irá diminuir o prazer em escutar aquele disco.
Acho que está na hora de revermos conceitos e principalmente objetivos na busca pelo som ideal, e nos perguntarmos o óbvio: o que realmente desejamos ao investir tanto tempo e dinheiro nessa busca pelo nirvana sonoro?
Pois ouço tantos sistemas caríssimos que excluem tantas gravações artisticamente imprescindíveis, que me pergunto quanto o dono desse sistema irá perceber que sua busca se desvirtuou completamente do objetivo inicial (ter o melhor sistema possível, para ampliar exponencialmente o seu prazer em ouvir sua música, e nunca o contrário)?
Se você tiver a oportunidade de ouvir, em algum momento de sua jornada, essa cápsula em um setup bem ajustado, garanto uma coisa meu amigo, você imediatamente irá lembrar da proposta inicial de todo audiófilo: ter um sistema para ampliar o prazer de se ouvir música, e não o contrário.
Pois a Ultimate Astro G, é o ápice de um projetista que dedicou sua vida a esse único objetivo: trazer a música o mais próxima da realidade. Nos meus 64 anos de vida, afirmo que melhor do que isso, somente se você estivesse presente no dia 14 de maio de 1979, no Auditório de Cleveland, e fosse o assistente do engenheiro de gravação Jack Renner.
Como isso é impossível, a única outra maneira de você ‘recriar’ esse momento em toda sua plenitude, será ouvir esse LP na Ultimate Astro G. Acredite, com ela, você estará literalmente lá!
Nota: 115,0 | |
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