Teste 1: AMPLIFICADOR MONOBLOCO AUDIO RESEARCH 160M

Teste 1: SISTEMA DIGITAL MSB SELECT DAC
junho 14, 2019
Metodologia de testes
junho 14, 2019


Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Muitos me julgam um homem que gosta mais de amplificadores de estado sólido do que de tubos incandescentes! E como diria meu pai: “depois que uma imagem gruda, é pior do que chiclete em sola de sapato!”. Não perca tempo em tentar mudar a opinião das pessoas depois que elas já estão cristalizadas, diria uma grande amiga minha. Então não usarei as linhas deste teste tentando convencer o leitor do contrário.

Mas já tive oportunidade de mostrar exatamente o quanto aprecio topologia de tubo, ao expor no último Hi-End Show nosso Sistema de Referência composto de um par de monoblocos ATM-3 da Air Tight. E pude apreciar o ar de espanto e de incredulidade, no rosto de muitos, ao ver o Fernando Andrette utilizando válvulas em seu sistema!

Ainda assim, quando tive que me desfazer dos monoblocos, voltei a ser o homem dos amplificadores de estado sólido! Deixe estar, disse a mim mesmo, pois o grande barato de ser articulista de produtos hi-end é que um dia você está testando um amplificador de 300 Watts e no outro um power single-ended de 8 Watts! E esta dinâmica e oportunidade de escutar tantos projetos tão distintos é que faz desta profissão um deleite sem fim.

Lembro que, quando meus primos mais velhos me perguntavam o que gostaria de fazer quando adulto, eu desde muito cedo já sabia que não desejava nada que fosse feito de rotina. Ia ao banco, supermercado ou escritórios de contabilidade e ficava olhando aquelas pessoas sentadas, sempre dentro de uma rotina e aquilo me incomodava demais.

Ao crescer, entendi que meu talento estava todo direcionado para a comunicação e que poder trabalhar com algo que tivesse um desafio diário era tudo o que mais se encaixava em minhas aspirações profissionais.

A vida vai se moldando às suas habilidades, e muitas vezes quando você julga ter fechado um ciclo, definitivamente, e lá na frente ele reaparece e se encaixa como uma engrenagem na qual falta uma única peça, e bingo! Você descobre o melhor jeito de mostrar todas as suas habilidades e conhecimento.

O Fabio Storelli da German Áudio, antes de me enviar os aclamadíssimos 160M, me enviou um calhamaço de reviews, prêmios e material técnico do produto. Como todo bom descendente de italiano da gema (para quem o conhece), Storelli é uma figura adorável. De gestual intenso, frases impactantes e adjetivos expressos na medida exata de sua linha de raciocínio. Foi um bombardeio tão intenso que pensei com meus botões: vou receber o melhor power valvulado que ouvi em minha vida!

Mas como sou macaco velho e sei como cada importador atua em defesa de suas marcas, ouvi, agradeci e esperei… Foram semanas entre o bombardeio verbal e de material e a entrega pela Jamef das duas imponentes caixas com os famosos monoblocos 160M.

Quando o Storelli pegou a marca, eu o questionei se ele tinha conhecimento dos inúmeros problemas que a Audio Research havia tido no passado no Brasil? Problemas com a nossa rede, que danificavam os transformadores, causando enorme dor de cabeça aos clientes.

Ele não só estava ciente como, para assegurar a marca, teve a garantia do fabricante que os produtos importados legalmente para o Brasil sairiam de fábrica, com transformadores dimensionados para a nossa rede.

Velho é pior que São Tomé. E eu por lei agora já sou um idoso, e posso tomar a vacina de gripe, estacionar na vaga de idosos, ter preferência nos caixas dedicados aos mais velhos (alguma vantagem tinha que haver, hehe!). E, antes de testar os 160M, quis testar o integrado Audio Research VSi75, o pré Audio Research Ref 6 e o power estéreo Audio Research Ref75, e utilizá-los em condições extremas (como 16 horas ligados, por dia) e constatar que estavam aptos a variações de voltagem de 119 V a 132 V!

Conseguir este compromisso do fabricante foi realmente um gol de letra do Storelli!

Ainda que as embalagens sejam gigantes, os amplificadores mono são fáceis de manobrar e instalar. Precisam de uma segunda ajuda, mas são instalados sem sofrimentos físicos como: dor nas costas, agravamento de hérnia de disco, etc.

Com a minha mão direita ainda imprestável, lá foi meu filho e o Willian, nosso funcionário, desembalar e deixar os 160M em condições para eu instalar as válvulas, fazer as ligações e colocá-los para funcionar. Como já havia instalado as KT150 no power estéreo e no integrado, foi pêra doce refazer este mesmo procedimento.

Muitos leitores apaixonados por válvula me perguntaram se as KT150 são tudo isto que o mundo vem escrevendo? Sim, tive a mesma constatação, mas deixo para a própria Audio Research responder a razão de estar, em todos os seus novos projetos, usando as KT150.

“Sonicamente gostamos muito do que essas novas válvulas fazem. São mais dinâmicas, tem uma textura mais refinada, fornecem mais informação, um palco mais correto, melhora significativa na ambiência, e autoridade na condução das caixas acústicas. Duram mais tempo, passando das 2000 horas das antigas KTs para 3000 horas (alguns outros fabricantes como a Octave e Jadis falam em torno de 4000 horas).”

Essas são as observações do fabricante. As minhas vão um pouco mais longe, pois acho que mesmo as EL34 (válvulas que adoro a timbragem e a maneira com que trabalham a dinâmica) não são páreo para as KT150. Trata-se de uma evolução consistente dos tubos há muito tempo sem um upgrade tão significativo!

Alguém no fundo da sala gritou, já com a jugular inchada: “Peraí, e as válvulas da KR?”. Sim, meu amigo, elas também entram no hall da evolução das válvulas, mas não são comercializadas para o uso de produtos concorrentes. Estou falando de válvulas em produção em massa, para uso de quem queira! As KT150 vieram para revolucionar o mercado e dar uma chacoalhada na mesmice.

Os Reference 160M são bonitos de se ver e apreciar os detalhes. No painel frontal há quatro botões: Power, Meter Light, Tube Monitor e Ultralinear/Triode. Quando você liga o power, um LED verde ficará piscando até que as quatro válvulas estejam todas estabilizadas, e o amplificador esteja pronto para trabalhar.

Mas o que é realmente deslumbrante nos 160M é o painel frontal, com duas placas de acrílico e entre elas o medidor de energia iluminado (VU). Você tem a visão deste VU a metros de distância (é de longe o VU mais original e vistoso de todos que já vi, tive ou testei!). O terceiro botão, quando pressionado, mostra se todas as válvulas estão ajustadas, iluminando um led verde para cada válvula. Assim o usuário pode se certificar sempre se tudo está ok com as quatro KT150.

O segundo botão é para o usuário regular a intensidade de luz do VU, em três níveis de iluminação ou desligado. E o quarto botão alterna entre os modos Ultralinear (150 W por canal) ou Triode (75 W por canal). No Ultralinear o LED é verde e no Triode o LED passa para azul.

Nas costas dos 160M temos, à esquerda, a tomada IEC de 20 Amperes, fusivel, uma pequena janela com um relógio que indica o tempo de uso do equipamento (ótimo para você monitorar o tempo de vida das válvulas), pequenas chaves acima desta janela do relógio para determinar a velocidade do ventilador de resfriamento (alta ou baixa – utilizei o tempo todo a baixa e não foi, em nenhuma circunstância, audível, nem na calada da noite. Já em ‘alta’ o ventilador era bem audível nas passagens em pianíssimo).

A outra chave ativa o desligamento automático (após 2 horas sem sinal), e a terceira chave alterna entre XLR ou RCA. Ao centro temos as duas opções de entrada (XLR e RCA) e mais à direita os terminais de caixa para 4, 8 ou 16 ohms. O fabricante indica de 400 a 600 horas de queima, antes de estar à plena performance.

Mas, aviso aos apressados que tiverem o gosto de escolher esses monoblocos para passar o resto de suas vidas escutando música de maneira avassaladora, que com 100 horas eles já lhes proporcionarão muitas e muitas noites acordados!

Para o teste, tivemos um arsenal de bons produtos – esses também em teste. Fontes digitais: dCS Scarlatti, dCS Vivaldi (DAC, Upsampler e Clock) e MSB Select (DAC e Fonte). Cabos digitais: Transparent Reference XL, Crystal Cables Absolute Dream. Cabos de força: Sunrise Lab Quintessence, Kubala Sosna Elation e Emotion, Transparent Opus G5 e PowerLink MM2. Cabos de interconexão: Sunrise Lab Quintessence (XLR e RCA), Sax Soul Ágata 2 (leia Teste 3 nesta edição) e Transparent Opus G5. Pré-amplificadores: Dan D’Agostino Momentum e Audio Research Ref 6. Caixas Acústicas: Revel Performa3 M105 (leia Teste 2 nesta edição), DeVore Orangutan 0/96, e Kharma Exquisite Midi. Cabos de caixa: Nordost Tyr 2 e Sunrise Lab Quintessence.

Os Reference 160M são os powers valvulados mais silenciosos que já escutei na vida. Sendo muito mais silenciosos que inúmeros amplificadores top de estado sólido. Esta foi minha primeira anotação, nas primeiras impressões que observei.

Zero, com apenas 5 horas de uso, esta característica já se mostrou tão evidente que, com o passar dos dias, a cada nova subida de patamar, lá estava a constatação do quanto este silêncio de fundo contribuiria para a performance geral dos Reference 160M.

Com 50 horas de uso, outra característica se apresentou: texturas tão realistas e palpáveis que nos levou, com poucas horas ouvindo os melhores exemplos deste quesito, à constatação de ser o amplificador com as texturas mais impressionantes que já escutamos! Passei das 50 horas de queima às 110 horas só ouvindo gravações que pudessem realçar esta beleza na forma e no conteúdo de apresentar texturas. A sensação é um misto do ouvinte atento a poucos metros dos instrumentos e da perspectiva do microfone. Você chega ao requinte de ‘ver’ a intencionalidade, o cuidado, a técnica e a qualidade do instrumento! Tudo é explicitamente revelado, mas sem luz adicional ou nenhum tipo de coloração adicional. Você literalmente vê o que está a ouvir!

Foram 60 horas inesquecíveis, escutando quartetos de cordas, cello e piano, violino ou viola e cravo, peças só com percussões em que era possível ver a tensão das peles, o movimento ondular das peles após a batida, seus decaimentos, as sutis variações dos arcos em pianíssimos nas obras de Paganini ou nos quartetos de Mozart, Beethoven ou de Schuman. Audições inesquecíveis que encheram uma dezena de páginas de meu caderno pessoal de anotações.

Sabe aquela sensação de: ‘vivi para ouvir isto!’ – pois foram assim as noites em que convivi com os Reference 160M!

Com 150 horas, os monoblocos dão a nítida sensação de estarem acordando nas pontas, com os graves ganhando corpo, consistência e energia. E, no outro extremo, os agudos, também se encorpam, ganham maior extensão e arejamento. Era o sinal que precisava para começar a ouvir obras sinfônicas, como a Sinfonia Fantástica de Berlioz e a Sagração da Primavera de Stravinsky.

Os 160M não se fazem de rogados, vão logo colocando suas fichas na mesa e, como um jogador habilidoso, dando as cartas e mostrando a que vieram.

As três caixas se sentiram confortáveis. Sendo que o casamento entre os monoblocos e a Kharma foi magistral! Elas se dão muito bem com qualquer topologia, mas se mostram inteiramente à vontade com pares que as direcione com total autoridade.

Foi a deixa para dar mais um passo e escutar órgão de tubo! Que presença, que energia impressionante nas baixas frequências fundamentais em termos de sustentação, inteligibilidade e corpo! UAU! Rendido por tamanho grau de precisão e autoridade, dei-me por satisfeito e comecei a escutar os exemplos de cada quesito de nossa metodologia.

O vídeo que produzimos dará uma pálida ideia do que os 160M são capazes de aprontar – mas, com um bom fone, valerá a pena ouvir. Ele foi feito com 200 horas de amaciamento, a metade do que o fabricante indica. Mas esses monoblocos já tocam tão bem com 200 horas, que brinquei com um amigo meu que dali para a frente é só bônus! Eles irão mudar com as 400 horas de uso, sim, mas as mudanças serão pontuais, como foram no integrado e no estéreo!

O que mais mudará será o soundstage, com um palco mais largo, mais profundo, mais alto, e maior silêncio entre os instrumentos. Eis aí novamente o mote, das primeiras impressões: seu silêncio de fundo. É tão magistral que a sensação que o ouvinte têm, e que o seu cérebro percebe, é que o som brota daquele silêncio. E com tamanha desenvoltura e naturalidade, que o grau de relaxamento do ouvinte é instantâneo!

Não precisa da música certa ou apropriada. Pode ser qualquer gênero musical (desde que minimamente bem gravado) para (mesmo o audiófilo não experiente) perceber que aquela audição será feita com realismo, naturalidade e conforto auditivo pleno! Espanta, aos menos familiarizados com este tipo de topologia, a velocidade (transientes) dos Reference 160M.

Tempo e ritmo são peculiarmente muito precisos, a ponto de, em algumas passagens, ficarmos na dúvida como ele resolveu tão bem aquela passagem tão complexa (Al di Meola tem inúmeras gravações que nos mostram como é difícil acompanhar certas passagens se os transientes não estiverem corretos e precisos).

A cada quesito avaliado, a pilha de discos ultrapassava e muito o número que costumamos utilizar, pois tínhamos o desejo de descobrir como este power resolveria cada um. Quando chegou a vez da avaliação de dinâmica, já sabíamos que na micro os Reference 160M, graças à seu magistral silêncio de fundo, não teriam a menor dificuldade, passando como trator em todos os nossos exemplos. E na macro-dinâmica, como se comportariam? Pegamos pesado, acredite, e os Reference 160M não tiveram nenhuma dificuldade em resolver nenhuma passagem.

Alguns reviews falam na falta daquele ‘folego final’ de um corredor de maratona nos 100 metros finais, o sprint – aquela sustentação na última oitava que nos faz pular na cadeira. Concordo que ele não tem este ‘pingo’ a mais que os melhores powers estado sólido têm.

Em compensação, ele consegue surpreender, fazendo deste obstáculo um trampolim para uma passagem mais harmoniosa e inteligível como, por exemplo, o gran finale da Nona de Beethoven, em que muitas vezes se escuta uma enorme energia final, mas tudo parece ter passado por um moedor de carne.

Do começo ao fim, independente do grau de variação dinâmica, o que esses monoblocos proporcionam é um grau de inteligibilidade absurdo (eis aí, novamente, o resultado de seu silêncio de fundo). E, convenhamos, sustos com macro-dinâmica em reprodução eletrônica é como piada: funciona bem só na primeira vez! Depois que já conhecemos, o que mais será desejado é que a obra que ouvimos possa ser acompanhada detalhadamente da capo ao fim.

Meu pai dizia: “deixe a pirotecnia seduzir aos jovens audiófilos, e aos experientes o refinamento e a musicalidade”! Os Reference 160M atendem ao segundo grupo e não ao primeiro. Mas, sempre haverá tempo e razão para mostrar que os equipamentos que sobrevivem na audiófila e fazem história são aqueles que não desejam reinventar a roda e sim aprimorá-la.

CONCLUSÃO

Engana-se o que achar que os Reference 160M ganharam tantos prêmios pelo conjunto da marca, por estarem há meio século no mercado. Os 160M estão inaugurando uma nova etapa deste conceituado fabricante de áudio.

Não deitou louros, pelo contrário: utilizou de toda o sua expertise e história para avançar e apresentar um amplificador de características surpreendentes e que mantém o que melhor a topologia de válvulas oferece há anos, e apresenta evoluções onde a válvula tinha maior dificuldade de ser aprimorada. Conseguir este equilíbrio tão buscado e desejado é um mérito que entrará para a galeria de feitos deste fabricante.

Se você sempre desejou ter um amplificador valvulado por todos os seus atributos sônicos, porém sempre teve algum tipo de restrição, esqueça meu amigo. Pois os Reference 160M vieram para mudar esta regra definitivamente.

Um power com todos os atributos desejáveis por todas as qualidades desejáveis! Se você pode ir para um power neste patamar de refinamento, não perca seu tempo procurando em outras paragens!


Pontos positivos

Um grau de refinamento e musicalidade incomparável.

Pontos negativos

O preço.




ESPECIFICAÇÕES
Potência de Saída140 Watts contínuos
Banda Passante 5 Hz a 70 kHz (-3 dB)
Resposta de frequência0.5 Hz a 110 kHz (-3 dB em 1 watt)
Sensibilidade de entrada2.4V RMS (25.5 dB de ganho em 8 Ohms)
Impedância de entrada300 kOhms Balanceada / 100 kOhms Single-ended
Polaridade de saídaNão-invertida. Entrada balanceada pino 2+ (IEC-268)
Bornes de saída16 Ohms, 8 Ohms, 4 Ohms
Realimentação negativa– 14 dB SLEW RATE: 13 volts/microsegundo
– RISE TIME: 2.0 microsegundos.
Válvulas2 pares casados de KT150 (estágio de saída) / 2x 6H30 (estágio de ganho)
Dimensões (L x A x P)48.26 x 26 x 46.4 cm
Peso25.5 kg (33.2 kg embalado)
AMPLIFICADOR MONOBLOCO AUDIO RESEARCH 160M
Equilíbrio Tonal 13,0
Soundstage 13,0
Textura 14,0
Transientes 12,0
Dinâmica 11,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 13,0
Musicalidade 14,0
Total 102,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
Teste 1: AMPLIFICADOR MONOBLOCO AUDIO RESEARCH 160M



German Audio
contato@germanaudio.com.br
R$ 198.000

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