Teste 1: CAIXA ACÚSTICA YVETTE DA WILSON AUDIO

Teste 2: TOCA-DISCOS AVM ROTATION R 5.3
setembro 16, 2019
TOP 5 – AVMAG
setembro 16, 2019


Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Nossa última experiência em nossa sala de testes com uma caixa Wilson Audio ocorreu na edição 191, quando tivemos a honra de realizar o primeiro teste mundial da Alexia. De lá para cá muita coisa ocorreu com um dos mais prestigiados fabricantes de caixas acústicas do mundo, e então tentar fazer um paralelo entre as minhas observações pessoais que ainda tenho guardado da Alexia, para a nova geração de caixas Wilson Audio, acreditem, não irá ajudar muito.

Nem a mim e nem tão pouco a vocês leitores, que estão chegando agora a este universo da audiofilia. As novas caixas Sabrina (agora o novo modelo de entrada), Yvette (que muitos acharam que substituiria a antiga linha Sophia, que por uma década foi a porta de entrada para quem desejava ter uma caixa Wilson Audio) e a nova Sasha DAW (em homenagem ao David Wilson e que também já se encontra em teste em nossa sala) – são todas obras de Daryl, filho de David Wilson, o novo CEO da empresa.

E quando já tinha escrito este teste, me chegou a notícia da mais nova criação de Daryl, a Chronosonic XVX, que se posicionará entre a Alexandria XLF e a WAMM (que foi a última obra prima de David Wilson), e que na próxima edição iremos dar em novidades de mercado.

Daryl, desde muito cedo, acompanhou seu pai e compartilhou da paixão em buscar sempre ir além em cada novo projeto. Dos 57 produtos lançados em quatro décadas, Daryl esteve de alguma forma participando em 37 deles! O que certamente explica tanto o seu DNA de projetista, herdado do pai, como também sua incansável busca por soluções e melhoramentos constantes.

Então quando você ouvir que Daryl está absolutamente preparado para levar a Wilson Audio à vôos ainda maiores, acredite meu amigo, pois ele está preparadíssimo!

A Yvette é uma caixa que, em termos de tamanho, está entre a WATT/Puppy e a Sophia, mas as semelhanças param por aí, pois a Yvette incorpora muitos conceitos de caixas como a Alexandria XLF (talvez daí tenha surgido a deixa para alguns articulistas chamarem a Yvette de “Mini Alexandria”). Mas já que a Yvette veio a substituir a linha Sophia, é natural que façamos comparativos para dar uma ideia exata de toda a evolução desta nova Wilson Audio. Em termos de design, as duas são muito distintas, já que o defletor frontal com mais ângulos da Yvette confirma que Daryl quis levar ao limite em um único gabinete o conceito desenvolvido por seu pai, do alinhamento de tempo – em que o som de todos os falantes chegam ao mesmo tempo aos nossos ouvidos. Uma coisa é realizar este alinhamento de tempo com caixas como Sasha, Alexia, Alexx e Alexandria, em que os falantes são dispostos em gabinetes separados, com suporte e variação de ângulo, próprios para este preciso alinhamento de tempo. Outra coisa é conseguir este mesmo resultado em um único gabinete, como no caso da Sabrina e da Yvette!

E, acreditem, o resultado alcançado foi primoroso. Como estamos também com a Sasha DAW, pudemos fazer em aXb muito crítico, e a capacidade da Yvette em termos de inteligibilidade e conforto auditivo é absurda. Mas a diferença entre a Yvette e a Sophia não param no gabinete. Os falantes são todos novos, desenvolvidos para também serem usados nas linhas superiores. Novo tweeter da terceira geração Convergent Synergy Tweeter, de 1 polegada, com domo de seda também utilizado nas Sasha 2 e Alexx.

O woofer de cone de alumínio da Sophia 3 foi substituído por um novo woofer de 10 polegadas de polpa de papel, desenvolvido para a Alexia e a Alexx. E o falante de médio de 7 polegadas é o mesmo utilizado na Alexandria XLF. O gabinete, ainda que único, possui internamente três caixas separadas com sua respectiva câmara interna para cada falante e com ventilação também separadas. A preocupação com a eliminação de vibrações no gabinete é a mesma dedicada a todos os seus produtos. E o uso do interferômetro de laser para estudar as ressonâncias de gabinete e sua relação com os falantes, foi utilizado para definir as estruturas internas e a escolha do material ideal para este projeto. Depois de inúmeros testes, chegou-se à conclusão que a construção seria no material X (material proprietário da Wilson Audio e que já se encontra em sua quarta geração), também utilizado nas linhas superiores. Como toda caixa Wilson Audio, a Yvette não aceita bi-wire, pois o fabricante compartilha a ideia de que é muito mais conveniente e com resultados mais satisfatórios o usuário desembolsar seu suado dinheiro em apenas um bom par de cabos do que em dois pares (o que faz sentido).

Agora, os bornes usinados a cobre possuem um torque melhor, possibilitando o usuário fazer o aperto com os dedos – antes, nos modelos anteriores, este procedimento era impossível, tendo sempre que recorrer a uma chave para apertar os bornes de caixa. Como todas as Wilson Audio que testamos, jamais abro mão das rodinhas que vêm de fábrica com as caixas, para justamente facilitar o manuseio, antes da queima total das mesmas (que nunca foi menos de 200 horas). Claro que depois de totalmente amaciadas, e já colocadas na posição ideal, as rodinhas devem ser substituídas pelos spikes – mas o que facilita ter as rodinhas no período de queima poderia ser estendido a todos os fabricantes de caixas que pesem mais de 30kg! Fazendo um trocadilho infame: “É uma mão na roda!”.

Como já testamos a Sophia 2, antes de iniciar as primeiras audições lá fui eu buscar minhas anotações e a lista de discos que usei naquela ocasião. Separada a pilha de discos, fui selecionar os produtos que participariam deste teste. Amplificadores: integrado Hegel 590 e Cambridge Audio Edge. Powers: Hegel H30 e amplificador AL-KT x2-150 do projetista de Lins, André Luiz Lima. Pré-amplificador: Dan D’Agostino. Sistema analógico: toca-discos AVM 5.3 (leia Teste 2 nesta edição). Cápsulas: Transfiguration Protheus, Ortofon Quintet Black e SoundSmith Hyperion Mk2. Pré de Phono: Boulder 508. Cabos de caixa: Nordost Tyr 2 e Sunrise Lab Quintessence. Cabos de interconexão: Nordost Tyr 2 e Frey 2, Sax Soul Ágata 2, Sunrise Lab Quintessence (RCA e XLR), e Transparent Opus G5 (XLR). Cabos de força: Sunrise Lab Quintessence e Transparent PowerLink MM2.

David Wilson, ao desenvolver a Sophia, disse com todas as letras que era seu projeto mais “amigável” em termos de compatibilidade com amplificadores e salas. E pelos números ele acertou em cheio, pois a Sophia, em suas três séries, foi um sucesso de crítica e público. Mas como escrevi nas primeiras linhas deste teste, comparar a Sophia com a Yvette me pareceu, desde o primeiro momento, impossível. Pois são de tempos distintos em basicamente tudo.

A Yvette possui uma assinatura sônica tão equilibrada que a sensação é que qualquer estilo musical (independente da qualidade técnica) irá sempre soar muito bem. É um convite de casamento à primeira audição. Você custa a acreditar que já saia de um patamar tão alto, assim que soam os primeiros acordes. O que o faz querer, de imediato, buscar a posição ideal da caixa na sala. Esta mágica, arrisco dizer, ser muito de seus médios, que materializam o acontecimento musical mesmo em variações dinâmicas mínimas. Tudo é inteligível, palpável e ali a poucos metros de nós!

A música flui, literalmente, sem perturbação, estranhamento ou qualquer tipo de dureza (isto independente do power que estivesse ligado). Os agudos, ainda que engessados e tímidos, possuem bom corpo de imediato, com velocidade e precisão (lembraram muito os agudos nas horas iniciais no teste da Alexia). Os graves são bastante controversos nas primeiras 50 horas, pois ao contrário de inúmeras caixas de alto padrão, o que sobressai é o corpo já presente no momento em que se liga pela primeira vez. No entanto, parecem ainda sonolentos e se preparando para sair da hibernação.

Por isso, eu aconselho esperar pelo menos 150 horas antes de trocar as rodinhas pelo spike – a não ser que um profissional gabaritado do distribuidor já venha fazer a instalação e faça todas as medições com o usuário sentado em sua cadeira preferida, aí já é mais conveniente colocar os spikes. Mas, se você gosta de acompanhar a evolução de uma queima de um produto de nível superlativo, e adora perceber que as suas melhores gravações estão soando ainda mais convincentes, então deixe as rodinhas e só faça a troca quando a caixa estiver inteiramente amaciada.

É gratificante tirar da embalagem um produto que tanto desejamos, e este já sair tocando bem. Além de ser motivador, a sensação, é que o amaciamento é mais rápido! Nas primeiras 100 horas a Yvette mudou muito, mas a mudança mais significativa foi no encaixe do woofer com os médios. A fundação dos graves na primeira oitava, quando surge, é arrebatadora! Um amigo que estava presente exclamou: “Santa ignorância”! Pois estávamos justamente a ouvir um órgão de tubo.

Daí para frente, as únicas mudanças nos graves foram em termos de velocidade, nada mais. Os graves não impressionam apenas pelo corpo, peso e velocidade, mas sobretudo pela inteligibilidade de tempo e ritmo. Às vezes pegamos certas passagens de solo de contrabaixo em que parece que o baixista falhou na digitação, ou fez rápido demais, o que dificulta a inteligibilidade. A Yvette entrega absolutamente tudo. Não tem erro ou fez bem feito, ou terá que pagar este mico para a eternidade. O mesmo ocorre com a marcação de tempo em bumbo, quando o baterista passa do pedal simples para o duplo. Aí é que separamos o ‘joio do trigo’ em termos de técnica e bom gosto do batera. Se for apenas pirotecnia, novamente a Yvette estará lá para apontar o problema.

Os agudos, para ganhar extensão e decaimento correto, levaram quase 180 horas. Mas, quando amaciaram, é um deleite tanto em termos de conforto auditivo, como em apresentação. Você pode escolher qualquer instrumento em que a última oitava é ‘encardida’, como piano, violino, sax soprano, flautim, pratos. E a Yvette não ‘espirra’ nunca. E se engana se alguém julgar se tratar de algum corte nas altas para propiciar este conforto auditivo, pois não é este o caso. Este resultado, meu amigo, deve-se ao correto alinhamento de tempo dos três falantes, em que nada chega antes ou atrasado. Quando você finalmente saca a importância deste alinhamento temporal, meu amigo, você não vai querer ouvir de outra maneira – acredite!

O som é holográfico, 3D. Você escuta o silêncio em volta de cada um dos instrumentos solistas, mesmo em complexas variações de música sinfônica, e seu cérebro quer ficar ali, sentindo aquelas emoções tão desejadas e tão raras!

Finalmente, quando tive a certeza que o amaciamento estava completo, substitui as rodinhas pelos spikes e comecei, antes do pessoal da Ferrari vir realizar o ajuste fino, a buscar meu posicionamento ideal (sempre minha escolha e o ajuste orientado pela Wilson Audio não batem, mas gosto desse desafio, pois aprendo cada vez mais com a questão do alinhamento temporal). Do último ajuste feito, com as rodinhas para o spike, foi questão de quase 1 metro para a frente em relação a parede atrás das caixas, e mais 30 cm de abertura entre as caixas.

A angulação, como toda Wilson Audio, é maior com a frente das caixas bem viradas para o ponto ideal de audição. Com este ajuste eu já me daria inteiramente por satisfeito, mas o Fernando da Ferrari conseguiu um ajuste ainda mais preciso (como sempre). Voltou as caixas 50 cm para trás, diminuiu 24 cm entre elas e deixou mais 5 graus para o centro o ângulo das caixas para o centro de audição. Com este ajuste ‘matemático’ e milimétrico, ganhei ainda mais profundidade, maior largura e uma altura que ainda não tinha conseguido. O que foi perfeito para grandes orquestras (de qualquer gênero musical). As Yvettes gostam de serem testadas com os volumes próximos ao ideal de cada gravação, e não se intimidam com nada. Se o power acompanhar, meu amigo você estará em perigo, rs! Como o grau de fadiga é zero, ela te convida a explorar volumes que você provavelmente jamais ousou colocar em suas caixas. E o legal é que ela mostra com precisão o volume correto de cada gravação, pois quando você passa do ponto a holografia some imediatamente, como se você tivesse deixado o som ‘transbordar’. Aí basta voltar ao volume correto e tudo volta ser puro deleite.

Um leitor outro dia me perguntou como fazer para não achar sem graça a audição de uma gravação que passamos do ponto, quando precisamos reduzir o volume. Duas coisas precisam ser observadas: primeiro que um sistema com excelente equilíbrio tonal dificilmente você irá passar do ponto, pois o conforto é tão bom que não há nenhuma necessidade de subir ainda mais o volume. Pelo contrário, você fica é surpreso e satisfeito de saber que seu sistema reproduz com total conforto auditivo e energia o disco que você tanto gosta.

Mas, se você se empolgar e tiver que voltar atrás, para não ser decepcionante esta volta, basta pausar, baixar o volume para o ideal, levantar e ir beber uma água, e voltar em 10 minutos. Você irá se surpreender e ainda achará que o volume pode ser um nadinha mais baixo ainda!

Equilíbrio tonal e soundstage são ‘pontos fora da curva’ nesta caixa, mas suas qualidades não se resumem a estes quesitos. Claro que a soma de todas essas qualidades dos oito quesitos define a pontuação de um produto e em qual esfera ele se enquadra, mas alguns produtos conseguem a artimanha de ainda assim se sobressair em algum quesito com tamanho destaque que entram no hall de produtos realmente especiais e que nos marcam para sempre.

A Yvette para mim se destacou de forma inigualável na apresentação de texturas! Sua capacidade de recriar com fidelidade a paleta de cores e nuances, e sua maneira de nos apresentar as ‘intencionalidades’ em todas as suas vertentes, a coloca em uma classe totalmente rara e à parte! Ouvi gravações difíceis de conseguir extrair do todas nuances, que parecem triviais ou sem importância, que nas mãos da Yvette se tornaram cruciais para se notar o grau de preciosismo do solista no ‘sustain’ final de um acorde, ou na delicadeza do ataque de uma nota, ou a técnica de digitação de dois virtuoses como os violonistas Paco de Lucia e Al Di Meola.

Compreender o glissando de um solo do trombonista J.J Johnson, e sua forma incomparável de manter a sustentação da nota até o pianíssimo, como se o homem e o instrumento fossem uma extensão do outro.

Se você almeja ter um sistema digno em termos de fidelidade e não usufruir dessas qualidades, você simplesmente está jogando dinheiro fora, pois o que separa o produto Estado da Arte superlativo do restante dos bons sistemas hi-end, meu amigo, são os detalhes – que nesta caixa brotam como flores de Ypê na primavera!

E só tenho uma justificativa para tamanho preciosismo na apresentação tão exuberante das texturas: sua translúcida região média. É capaz de nos fazer prender a respiração assim que ouvimos vozes e qualquer instrumento acústico bem captado e bem mixado. Os transientes são de primeira grandeza, assim como a dinâmica, tanto a micro quanto a macro.

E buscando resposta para uma micro-dinâmica tão detalhada, duas veem à mente: a qualidade do gabinete, rígido o suficiente para matar ondas espúrias e colorações indevidas, mas sem ser amorfo ou secar o corpo harmônico e, claro, a escolha dos falantes e do crossover aliados sempre ao alinhamento temporal! Essa soma das partes nos remete ao clímax final: organicidade e musicalidade! Poucas caixas conseguem materializar com tamanha desenvoltura o acontecimento musical à nossa frente. Mas esqueçam uma imagem chapada e bidimensional no meio das caixas. Se os solistas se movimentaram em volta do microfone, você verá este movimento – que eu chamo de ‘ver o que ouvimos’. Sim, meu amigo, é isto que realmente ocorre quando estamos diante de um sistema superlativo.

Outro dia recebemos em nossa sala um amigo do engenheiro Ulisses da Sunrise e do nosso colaborador Juan (como não pedi autorização ao visitante, omitirei seu nome). Ele, em determinado momento, virou para o Ulisses e relatou estar vendo o saxofonista se movimentar em frente ao microfone. Fatos assim parecem corriqueiros, mas não são – é preciso que tudo esteja absolutamente ajustado para que este momento mágico ocorra.

E a Yvette necessita de todos esses cuidados e dará em troca, por anos a fios, audições inesquecíveis, acredite! Tão inesquecíveis que fará você querer seguir adiante ajustando mais e mais o seu sistema, a elétrica e a acústica, para ver o teto desta magnífica caixa.

Tudo isto você pode simplificar no último quesito de nossa metodologia: musicalidade! Sim, a Yvette extrapola seu conceito de musicalidade, levando-o a revisitar toda a sua discoteca e a voltar a comprar discos novamente, e até se aventurar em novas mídias como streamer e LPs. Acredite, sua musicalidade é contagiante ou, melhor seria, desafiante.

Uma caixa que, por muito tempo, irá figurar entre as melhores caixas que este velho articulista com mais de 40 anos nesta estrada escutou. Se sempre desejou ter uma Wilson Audio, não poderia lhe dar melhor sugestão: comece pela Yvette, provavelmente você se dará por satisfeito pelo resto de seus dias!


Pontos positivos

Uma caixa Estado da Arte.

Pontos negativos

Exigirá um sistema meticulosamente à sua altura.


ESPECIFICAÇÕES
TipoCaixa de três vias, com duto traseiro
Complemento de driver1 tweeter de 1”, 1 midrange de 7”, 1 woofer de 10”
Resposta de frequência20 Hz a 25 kHz (+/- 3 dB)
Sensibilidade86 dB
Impedância4 Ohms
SPL máximo115 dB
Dimensões (L x A x P) 34 x 104 x 51 cm
CAIXA ACÚSTICA YVETTE DA WILSON AUDIO
Equilíbrio Tonal 12,0
Soundstage 12,0
Textura 12,0
Transientes 12,0
Dinâmica 12,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 12,0
Musicalidade 13,0
Total 97,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADODAARTE



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