Juan Lourenço
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A linha Edge, da fabricante inglesa Cambridge Audio, foi apresentada ao mundo no Hi-End Show de Munique em 2018, sendo composta por três aparelhos: o Pré DAC e streaming de música Edge NQ, o amplificador estéreo Edge W e o amplificador integrado Edge A.
O amplificador estéreo Edge W foi avaliado na edição 254 da AVMAG, e agora é a vez do amplificador integrado Edge A, no mesmo frasco do power, mas com outras fragrâncias bem mais interessantes.
O amplificador chegou lacrado, e sua embalagem é um verdadeiro bunker de guerra! A primeira camada externa é de papelão duplo de parede grossa. Ao desencaixar as presilhas plásticas que prendem tudo no lugar, descobrimos uma segunda caixa de papelão também de parede dupla. Perfis rígidos curvos ficam nas laterais para proteger a preciosa carga de impactos laterais. Mas isto não é tudo: o Edge A é envolto em um fosso de borracha expandida esculpido à sua imagem e semelhança, onde ele repousa protegido. Além disso, os dissipadores e o tampo são protegidos com um anel de silicone espesso e também por uma capa de tactel, fechada por um zíper e selada com um lacre.
Todos estes mimos em sua embalagem não são um exagero, já que o monstrinho, no bom sentido, pesa 24 quilos! E, como é um produto de classe mundial, precisa mesmo cercar-se de todo cuidado. Ao destrinchar a embalagem do Edge A, pude constatar uma coisa que talvez poucos dessem valor: sua embalagem se equipara à embalagens dos aparelhos mais luxuosos do mercado, e quando digo isto não levo em consideração os aparelhos que utilizam caixa de madeira, pregos e cintas de aço. Refiro-me as jóias raras de verdade, não devendo nada em qualidade de embalagem aos dCS Vivaldi, por exemplo. Na verdade a embalagem é até melhor.
Passada a euforia com a embalagem, volto a observar o aparelho em si e novamente sou surpreendido com o que os engenheiros e designers da Cambridge fizeram. O Edge A trabalha em Classe XA que, segundo a fabricante, desloca o ponto de cruzamento para fora da faixa audível, conferindo ao Edge A níveis de silêncio de fundo e de distorção harmônica de alto nível. Outra peculiaridade da topologia é a eliminação de capacitores na etapa de amplificação. Com isto os Edges não sofrem com variações de assinatura sônica por lote do componente, nem com a deterioração dos mesmos ao longo dos anos de trabalho.
O amplificador é uma usina de força com dois transformadores toroidais simetricamente alinhados que, segundo a Cambridge, cancelam a interferência eletromagnética entre eles. Sua potência é de 100 W em 8 Ohms e 200 W em 4 Ohms.
No painel frontal, apenas o botão liga/desliga, o grande knob de volume e seleção de entradas. O anel interno do botão seleciona entradas e o anel externo gerencia o volume. Mais uma entrada para fone de ouvido (recomenda-se impedância entre 12 e 600 ohms) e só, nenhum botão a mais.
A grafia do painel frontal é feita em baixo relevo com uma perfeição e elegância jamais vistos em qualquer outro aparelho da marca – não contém um errinho sequer, e nem no power Edge W nem no Edge A pude perceber qualquer rebarba nas bordas de cada letra, é um nível de acabamento surpreendente.
Da escolha do tom cinza matte dos painéis frontal, traseiro e do tampo superior, aos discretos dissipadores laterais em preto que desaparecem ao olhar o aparelho de frente, ao chassi feito em aço reforçado capaz de suportar seus 24 kg de peso total, tudo foi pensado com extremo cuidado, elevando a forma e função a um novo patamar em sua categoria.
Na parte traseira as entradas são bem sinalizadas, com a escrita tanto de cabeça pra cima como para baixo. Não tenho certeza se isto ajuda, mas está lá e com certeza pode ser considerado um mimo super bem-vindo.
O Edge A possui uma entrada USB 2.0 que suporta PCM de até 32-bit / 384 kHz e DSD256. Não é possível reproduzir faixas em MQA, mas com o aplicativo da Tidal pode reproduzir arquivos MQA até 24-bit / 96 kHz. Possui entrada Bluetooth 4.1 aptX HD (antena fornecida), duas entradas óticas Toslink 24-bit / 96 kHz, e uma entrada coaxial digital S/PDIF 32-bit / 192 kHz.
Na parte analógica temos uma entrada balanceada XLR e duas RCA, saídas pre-out XLR e RCA. Entrada RS232 para automação, entrada HDMI-ARC para retorno do áudio da TV, e minijacks Link-In/Out de 12 Volts.
Na parte traseira existe uma chave comutadora que merece uma atenção especial. O aparelho vem ‘setado’ para desligar automaticamente caso fique por um período de tempo sem sinal vindo da fonte. Para quem está amaciando o aparelho é um verdadeiro tormento! Então, para não passar raiva, não se esqueça de mudar a posição da chave.
O momento ‘ahhhh!’ Fica por conta de dois pontos que, na minha opinião, a engenharia deixou passar despercebidos. O primeiro é a localização do terminal de caixa direito, que fica logo acima do plug IEC fêmea. Isto não é um grande problema, é mais um incômodo, pois se precisar utilizar um cabo de caixa acústica com terminação spade, será obrigado a utilizar o cabo de cima para baixo e não de baixo para cima, como é comumente utilizado. Para quem tem TOC será um tormento: ou deixa um lado para cima e outro para baixo, ou deixa os dois cabos para cima despontando na carcaça do aparelho. O engraçado é que tomaram cuidado para que a antena Bluetooth não ficasse aparecendo, mas aí o cabo de caixa – se for spade – fatalmente aparecerá.
A segunda pisada na bola é a falta de uma porta Ethernet. Decidir-se pelo Bluetooth e não pela Ethernet LAN é subestimar o poder de percepção auditiva e o nível de exigência a qual o futuro comprador do Edge A está acostumado. Está bem… o Bluetooth cumpre o papel de conectar os aplicativos de música, mas sabemos que o streaming de música via cabo de rede é infinitamente melhor que o Bluetooth. A saída então seria adquirir o NQ, último membro da família Edge: com ele é possível ter um streaming de música mais compatível com a qualidade que se espera do integrado.
O controle remoto é feito em alumínio usinado, pesado e robusto, e nem ele escapou do um mimo: a sacolinha é feita de plástico siliconado, dá até dó de utilizar, peguei um uma embalagem comum ensaquei controle e deixei o ‘toque de seda’ quietinho na caixa.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos ligados ao amplificador integrado Cambridge Edge A. Fontes: CD-Player Luxman D-06, DAC Hegel HD30, Notebook Samsung com JRiver. Cabos de força: Transparent MM2, Sunrise Reference e Quintessence Magic Scope. Cabos de interconexão: Sunrise Quintessence Magic Scope RCA e Coaxial digital, Sax Soul Zafira III XLR, Sax Soul Ágata USB, e Curious USB. Cabos de caixa: Transparent Reference XL MM2, Sunrise Lab Quintessence Magic Scope. Caixas acústicas: Dynaudio Emit M30, Neat Ultimatum XL6.
O amplificador Edge A é um aparelho pesado, ele não pode ficar em qualquer prateleira pois seus quase 25 kg empenam a maioria dos racks comuns existentes no mercado. Sem contar que ele precisa de bastante espaço para ventilação, já que o calor emanado dele é de um típico classe A. Dito isto, vamos ao que interessa de verdade: como toca.
Aquela máxima de que a primeira impressão é a que fica não vale para o Edge A. Seus primeiros sons são literalmente horríveis. Som abafado, sujo, fanho e embotado. A cara é de decepção. Então deixei tocando por 30 horas e, ao fazer uma nova audição, a frustração continuava lá – havia melhorado um pelo apenas. Mais 50 horas e, aí sim, comecei a ver uma luz no final do túnel. O som ganhou corpo, os extremos começaram a se soltar e os médios a recuar e ganhar textura. Se o(a) amigo(a) tem mais de uma fonte, sugiro deixar todos amaciando juntos, pois a cada nova entrada utilizada volta-se para a era da escuridão: o som é muito parecido com o do início das primeiras audições, seja digital ou analógica – precisa paciência para amaciar tudo.
Após o amaciamento, iniciei as audições com o disco Hadouk Trio – Air Hadouk, faixas 11 e 12, justamente para entender melhor a extensão nos decaimentos que antes eram pequenos e de pouca duração. Diria que foi um milagre! Os decaimentos agora tinham uma ótima extensão e timbres bastante corretos. Não havia fadiga na faixa 12, onde o percussionista ou baterista não sabe deixar os pratos quietos nem por um segundo! Tem pelo menos dois ou três pratos soando ao mesmo tempo. Antes do primeiro silenciar, outros dois pratos estão iniciando em seguida.
Com isto pude perceber como o Edge A lida com as altas frequências. Seu silêncio de fundo nesta região não nos deixa sentir fadiga mesmo em condições tão adversas como nesta faixa.
A textura dos outros instrumentos são as melhores possíveis, as camadas e silêncio em volta de todos os instrumentos musicais nos dão uma noção minimalista da intencionalidade de cada músico. O palco é largo tem boa profundidade e um foco muito bom. O Hammond não ficava indo e voltando ou só aparecia nas passagens de maior dinâmica – que seria um sinal claro de falta de foco. Nem tudo são flores, claro que não. O palco é largo, mas não tem tanta profundidade como se espera de um aparelho deste quilate, é um pouco mais apertadinho do que deveria. A região médio-grave carece um pouco de calor para que as texturas das regiões média e grave sejam mais confortáveis, tudo fica bem justo sem sobras. Não podemos esquecer que esta é mais uma característica da sonoridade Cambridge do que um defeito. Portanto é preciso levar isto em consideração no momento da audição.
Utilizando o Edge A pelo computador as surpresas são muitas. Seu DAC interno é bastante refinado e responde bem a troca de cabos. O Ágata USB casou maravilhosamente bem com ele, já que um grande atrativo deste cabo é justamente sua região média e alta mais doce e as texturas mais eufônicas. O Curious deixou o som mais cirúrgico com uma pegada incrível, mas perdeu um pouco da beleza nas vozes femininas. O mesmo acontece quando retira o Zafira III XLR: o som ganha umas coisas e perdem outras, é uma questão de gosto do freguês.
Rodei arquivos ISO pesados ‘ripados’ de vinil, e outros nativos DSD256 com um pé nas costas. Em nenhum momento houve ‘travadinhas’ por excesso de tráfego de informação.
Com o Bluetooth HD tudo roda liso sem problemas, e com qualidade razoável. Achei que precisaria baixar o APP da Cambridge, mas na verdade não precisa, não. Basta emparelhar o SmartPhone e já pode usar.
O DAC interno do Edge A é um melhor que o DAC do CD-Player Luxman D06, porém com o Luxman ganha-se timbres mais confortáveis, suavidade onde precisa ser suave, mostrando que, para um casamento perfeito entre fonte digital e o Edge A, é preciso um cabo de interligação bastante equilibrado que não seja puxado para a ‘digitalite’. Se escolher um cabo quente, irá deixá-lo letárgico, se for para um cabo mais analítico, as audições serão cansativas. É preciso encontrar um ponto de equilíbrio certo para não ‘matar’ as qualidades do transporte que fará par com ele.
Ouvi com o Edge A vários fones de ouvido: Klipsch Mode 40, Sennheiser HD700 e 800, além de um Parrot. As diferenças de impedância e estilo de fones abertos e fechados não fizeram com que a parte dedicada do amplificador se intimidasse nem um pouco. Os fechados tocaram maravilhosamente bem e com bastante sobra de energia e equilibrados, já os Sennheiser foram mais exigentes. Mas, ao final, foram domados e apresentaram uma largura de palco bastante interessante, velocidade e corpo nas altas dignas dos ótimos amplificadores de fone.
O amplificador integrado Cambridge Edge A quebra diversos tabus dentro da própria marca, pisa em terrenos nunca antes explorados e abre uma porta que dá vista para um horizonte totalmente novo aos amantes da marca que, ao percorrer o caminho em direção ao topo do pinheiro, em algum momento precisaram abandoná-la e alçar novos voos. Hoje não mais! O Edge A é um upgrade seguro e um passo mais que consistente em direção à perfeição, se colocando entre gigantes e fazendo que todos o olhem com seriedade e respeito.
Design único. Robustez e beleza na medida certa. Várias opções de conexão. Atende aos novos padrões de automação.
Entrada IEC poderia estar em outro local. Não possui entrada Ethernet LAN.
Potência contínua de saída | 100W RMS em 8 Ohms; 200W RMS em 4 Ohms |
Distorção Harmônica Total | <0.002% (1 kHz, 8 Ohms); <0.02% (20 Hz – 20 kHz, 8 Ohms) |
Resposta de frequência | <3 Hz à >80 kHz (+/-1 dB) |
Relação Sinal/Ruído | 103 dB |
CROSSTALK (@ 1KHZ) | <-100 dB |
Sensibilidade de entrada | Entradas de A1 à A2 (não balanceadas) 380 mV RMS |
Impedância de entrada | Entrada A3 (balanceada) 47 kOhm; Entradas A1 à A2 (não balanceadas) 47 kOhm |
Entradas | Balanceada, Coaxial S/PDIF, Toslink, USB Audio, não balanceadas RCA, Bluetooth, HDMI Audio Return Channel (ARC) |
Saídas | Caixas, pré, fones de ouvido (impedâncias entre 12 e 600 Ohms recomendadas) |
Entrada USB AUDIO | Entrada USB AUDIO |
Bluetooth | USB Audio Class 2.0 (até 32-bit/384kHz PCM, ou até DSD256) |
Entrada Toslink Ótica | 4.1 (Smart/BLE) A2DP/AVRCP suportando até aptX HD |
Entrada Coaxial S/PDIF | 16/24 bits, 32 à 96 kHz |
Consumo | 1000 W |
Consumo em stand-by | <0.5 W |
Dimensões (L x A x P) | 460 x 150 x 405 mm |
Peso | 24.4 kg |
NOTA ADICIONAL
Amigo (a) leitor (a) deve ter percebido que na avaliação do aparelho amplificador integrado Cambridge Edge não mencionei sobre a tensão do aparelho pois, no mesmo existe uma chave seletora 120 / 240V. Porém no manual diz que esta chave não pode ser modificada, apenas a equipe técnica da Cambridge Audio poderá fazer qualquer intervenção na mesma. Questionei o fabricante por meio de seu importador quanto a questão das localidades em que se usa a tensão 220 V (muitas por sinal), o importador enviou minha pergunta à fabrica que só respondeu agora.Pois bem, segundo o fabricante TODOS os aparelhos Cambridge Edge possuem tensão de 127 V 60 Hz (no caso do Brasil), não havendo NENHUM modelo disponível com tensão em 220 V 60 Hz. Então, a chave seletora no painel traseiro dos produtos Edge não podem ser modificadas para 220 V, apenas pela fabricante Cambridge Audio.
Fica aqui o meu muito obrigado a equipe da Mediagear pela atenção dispensada.
AMPLIFICADOR INTEGRADO CAMBRIDGE EDGE A (UTILIZANDO DAC INTERNO) | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 11,0 | |||
Soundstage | 11,0 | |||
Textura | 11,0 | |||
Transientes | 10,5 | |||
Dinâmica | 11,0 | |||
Corpo Harmônico | 10,5 | |||
Organicidade | 11,0 | |||
Musicalidade | 10,0 | |||
Total | 86,0 |
AMPLIFICADOR INTEGRADO CAMBRIDGE EDGE A (UTILIZANDO DAC EXTERNO) | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 11,5 | |||
Soundstage | 11,0 | |||
Textura | 11,0 | |||
Transientes | 11,5 | |||
Dinâmica | 11,5 | |||
Corpo Harmônico | 10,5 | |||
Organicidade | 11,0 | |||
Musicalidade | 10,5 | |||
Total | 88,5 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
Mediagear
(16) 3621.7699
R$ 36.475
1 Comments
Caro Juan. Parabéns pelo belo review. Fiquei curioso para saber em que esse novo integrado difere do Cambridge 851a, que era o integrado top de linha da marca, antes da chegada dessa nova linha Edge. Obrigado e abraço.