Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
O teste com o Nagra Classic AMP foi feito em duas etapas: primeiro em modo estéreo e, posteriormente, em modo mono. Então, na conclusão final, haverão duas pontuações separadas, para que o leitor possa ter uma ideia exata de nossas observações em ambas as situações de uso.
Muitos leitores que assistiram os últimos vídeos da caixa Wilson Sasha DAW e do pré da Nagra HD, perceberam que ambos já haviam sido feitos com o power Nagra Classic AMP em modo mono, levando à um número grande de dúvidas – por isto, esta abertura do teste com as devidas explicações.
A série Classic, ao contrário do que muitos que acompanham a marca deduziram, não é anterior a linha HD (os amplificadores top de linha deste fabricante suíço), e sim derivada da HD. Com o conhecimento e a performance atingidos com os power HD (este sim apenas em versão mono), os engenheiros da Nagra perceberam que poderiam aplicar toda esta nova topologia em um modelo mais acessível ao mercado.
Como escrevi no teste do pré HD, a Nagra goza de enorme reputação no mundo do áudio, desde sua fundação em 1951 com seu primeiro gravador de rolo portátil para gravações de áudio externas. É, ainda hoje, uma referência em captação de áudio em ambientes abertos e são usados tanto pela indústria cinematográfica como por inúmeros ornitólogos (estudiosos de pássaros).
Minha paixão pela marca remonta aos anos 70, quando trabalhei como sonoplasta em uma peça de teatro e o diretor possuía um Nagra que levava à tiracolo para todos os lugares. Ele usava para gravar os ensaios da peça, e depois mostrar aos atores a entonação que ele desejava do personagem. Ficava eu ali sentado escutando as falas reproduzidas e impressionado com a fidelidade e a qualidade de captação, mesmo com os atores no palco e ele sentado na plateia. Impressionante a robustez mecânica e a precisão dos comandos de um gravador de rolo fabricado em 1964 e que não tinha jamais visto qualquer tipo de manutenção!
Em 1996, a Nagra desenvolveu seu primeiro produto de áudio hi-end, aplicando a expertise do áudio profissional em soluções inovadoras para este novo nicho de mercado. Ainda hoje suas oficinas de fabricação de áudio profissional e do hi-end são compartilhadas por ambas as equipes de desenvolvimento, com o objetivo de garantir uma abordagem única na busca de soluções para a marca de forma integral.
A filosofia da Nagra continua a mesma desde sua fundação: projetos voltados para a preservação da integridade total do sinal. Os seus engenheiros buscam soluções que possibilitem manter o sinal, depois de trabalhado, o mais próximo da fonte original. Para atingir esta meta, a Nagra trabalha obviamente com as soluções racionais e comprovadamente eficientes, mas incentiva seu grupo de projetistas a ‘pensar fora da caixa’, com projetos inovadores e muitas vezes sem nenhuma relação aparente com o projeto em desenvolvimento.
Como brotam dessas ideias muitas soluções em que os fornecedores não conseguem participar, estes componentes acabam por serem desenvolvidos dentro da própria empresa. Este exercício levou a Nagra à uma expertise de mecânica e eletrônica de alta precisão, e acabamento de todos os componentes fabricados por eles, que lhes rendeu, junto ao seu público cativo, um grau de confiabilidade e robustez que pouquíssimas empresas no mercado hi-end alcançaram!
Certamente todo este esforço explica a grande fidelização e admiração que muitos possuem pela marca. Em 2012, a divisão Nagra Audio tornou-se uma empresa independente. Os filhos e filhas de Stefan Kudelski, fundador da Nagra, é que administram a empresa, sendo o CEO Pascal Mauroux (genro de Kudelski), e Marguerite Kudelski a vice-presidente.
O amplificador Nagra Classic AMP foi projetado para trabalhar com a grande maioria das caixas acústicas existentes no mercado (seja em estéreo ou mono). Ele oferece 100 Watts RMS por canal em 8 Ohms e, quando usado em ponte, 200 Watts RMS em 8 Ohms mono (a Nagra não utiliza bridge quando trabalhando em mono, e sim em paralelo, portanto a potência não dobra em 4 Ohms como os projetos em bridge). Esta potência foi considerada pelos engenheiros da Nagra como perfeitamente adequada para atender a esmagadora maioria das caixas hi-end atuais (mais adiante explorarei este assunto).
Os engenheiros da Nagra levam muito à sério a questão do ‘menos é mais’. Para eles, evitar qualquer complexidade desnecessária em seus circuitos de amplificação será sempre o primeiro passo no desenvolvimento de um novo projeto, se você objetiva a máxima transparência e fidelidade. Pois, na eletrônica, se você quiser mais potência terá que trabalhar com vários transistores, que fatalmente criam dificuldades em termos de estabilidade, fornecimento de energia, casamento entre os pares de transistores, emissão de calor e envelhecimento prematuro, etc.
Para os engenheiros envolvidos no projeto do power HD e do Classic, a abordagem central tinha que focar na questão das curvas de impedância, muitas vezes irregulares das caixas acústicas. Pois os amplificadores sofrem com essas variações abruptas de impedância, afetando a estabilidade dos circuitos. Para garantir uma condução do sinal inabalável, sob todas as circunstâncias, a fonte de alimentação deve poder reagir instantaneamente a um aumento da demanda de corrente e ainda assim manter os níveis de tensão estáveis.
A solução novamente foi encontrada ‘em casa’, com o desenvolvimento de uma fonte de alimentação que incorpora um sistema ativo de correção, batizado de PFC – Power Factor Correction.
Para muitos, ao olharem o Nagra Classic AMP, sempre virá à mente o MSA (lançado em 2009). No entanto, o Classic é muito mais que uma evolução do antigo modelo. Pois tem aproximadamente o dobro de potência do MSA, para justamente permitir uma fonte de alimentação maior, três vezes mais condensadores de filtragem e maior dissipação de calor.
E em relação a especificações técnicas o Classic possui: 400 VA fornecimento de energia (em vez de 200 VA do MSA), 141.000 uF de capacitores de desacoplamento (84.000 uF no MSA), maior extensão de trabalho em classe A (quase 50% a mais que o MSA).
O Classic AMP incluiu em sua montagem muito do que foi desenvolvido para o HD AMP. Uma placa-mãe na parte inferior do amplificador, para maior dissipação do calor, circuitos secundários de entrada, controle, filtragem de energia e correção do fator de potência PFC (uma placa por canal), número de conexões com fio reduzidos ao mínimo restrito, e os transistores da fonte, para serem precisamente refrigerados, são montados de cabeça para baixo nesta placa-mãe. O transformador principal é fixado acima da placa mãe em uma segunda placa de sustentação, mais grossa, e isolada para não haver nenhum um tipo de vibração.
O Classic AMP possui uma fonte de alimentação em duas etapas: uma tradicional com um transformador, diodos de retificação e condensadores de filtragem, seguido por um PFC – Power Factor Corrector (uma fonte de alimentação/comutação). Assim, a corrente elétrica é sempre mantida em tensão de fase, em uma curva sinusoidal perfeita (segundo o fabricante), sem picos de interferência. Do ponto de vista da rede, este tipo de fonte de alimentação é visto como uma resistência pura, mantendo a limpeza da corrente mesmo em situações extremas.
O Power Factor Corrector é construído de forma a não comutar fontes de alimentação. Ele é alimentado por um transformador toroidal de 400 VA que reduz o nível de tensão para se adequar ao estágio de potência (+- 47V) e do qual todas as outras tensões são derivadas. Este transformador funciona na frequência da rede elétrica, evitando gerar qualquer ruído residual.
A seção de filtragem também gerou inúmeros testes de audição em que toda a equipe envolvida no projeto participou (leia no teste do pré da Nagra HD a formação dos principais projetistas e sua relação com a música ao vivo). No final foram escolhidos capacitores de polipropileno. O circuito de entrada permite que a sensibilidade de tensão de entrada seja ajustada a 1 ou 2V, e determine o modo em que a unidade funcionará (estéreo, paralelo ou duplo mono – em caso de bi-amplificação). Este circuito também inclui um mecanismo de detecção, encarregado de ligar a unidade assim que um sinal atinge os terminais de entrada e, para desarmar o modo, após espera de 15 minutos sem sinal. Este mecanismo atua assim que o modo automático é ativado através do seletor no painel frontal. No modo de espera, o consumo é reduzido para menos de 2 Watts.
A seção de amplificação ocupa praticamente o centro todo do gabinete (veja foto), e utiliza um par de transistores tipo Mosfet montados um por canal. O Classic AMP está equipado com todas as salvaguardas necessárias para protegê-lo contra os principais problemas – utilizando um banco de sensores e circuitos de vigilância, irá detectar se está ocorrendo sobre-aquecimento ou sobrecarga no estágio de saída. Assim que uma anomalia é detectada, o circuito de controle desativa todas as entradas, desencadeando uma sequência que desliga os circuitos de energia.
Para total segurança, o Nagra também utiliza um circuito que garante que os relés só comecem a ser acionados alguns segundos depois da unidade ter sido ligada, para evitar que o ruído de comutação atinja os alto-falantes.
O circuito de controle encontra-se logo atrás do painel frontal, utiliza um microprocessador para lidar com todas as funções do power como: iniciar, parar, automático, silenciar e o sinal do modulômetro (o nome utilizado pela Nagra para o seu VU).
O gabinete do Nagra é feito totalmente de alumínio anodizado finamente escovado, dentro do rigoroso padrão da marca. O dissipador, não aparente externamente, é uma complexa placa de alumínio extraída de um bloco moído de alumínio maciço de 10 kg que fica, no final do processo, com 6 kg. Sua construção desempenha um papel fundamental na estabilização dos estágios de amplificação: ao atuar como um espaço de armazenamento de energia para que os transistores possam liberar sua capacidade de pico sem temer um aumento repentino de temperatura.
O painel frontal utiliza uma placa de alumínio de 11 mm de espessura, também usinada a partir de um bloco sólido, enquanto os lados e o painel traseiro são feitos de folhas dobradas.
No painel frontal temos, da esquerda para a direita: o modulômetro que apresenta os níveis de saída de potência do amplificador e um interruptor de alternância da intensidade de iluminação do VU. Depois temos um pequeno led bicolor laranja ou vermelho que atua como ‘sentinela’ se os estágios de energia atingirem saturação. E, na outra ponta: do lado direito temos o seletor rotativo para ligar e desligar, ativar modos manual ou automático, e mute.
No painel traseiro temos, da direita para esquerda: tomada IEC, caixa de suporte de fusível, terminais de caixas da Cardas (versão Rhodium) e duplos terminais de caixa tipo banana, também para serem usados para acomodar o jumper de ponte paralela para uso em mono. Na seção input estão disponíveis conectores XLR e RCA, ajuste por chave de sensibilidade de 1 ou 2V RMS, e chaves para seleção de modo estéreo, normal, ponte ou bi-amplicação (mono duplo). A seção remota permite, no modo automático, que os amplificadores estejam interligados a um sistema de automação (cabo jack de 3,5 mm).
O Classic AMP trabalha em classe AB, com passagem estendida em classe A na maior parte do tempo (no entanto a Nagra não específica até que potência o amplificador opera em pura classe A).
O Classic AMP é muito menor do que as fotos podem mostrar. Seu tamanho é de 17,4 cm de altura, 27,7 cm de largura e 39,5 cm de profundidade, e seu peso é de apenas 18 kg. Mas não se iluda, meu amigo, pois debaixo deste ‘pequeno capô’ tem uma energia e uma beleza descomunal! Diria que a Nagra é uma das empresas deste mercado que mais levaram adiante a questão do “menos é mais”.
Basta olhar cuidadosamente as fotos internas deste amplificador, para até um leigo observar como a sua construção é limpa, simplificada e sem excesso de componentes. Perto do nosso amplificador de referência, o Hegel H30, o Classic AMP não deve ter um décimo dos componentes utilizados pelo fabricante norueguês. Estão, literalmente, em posições diametralmente opostas de como chegar lá em termos de alta-fidelidade.
Por isso o hi-end é tão eclético, pois as diversas correntes, ainda que se ‘cruzem’, são muito distintas, como água e óleo. Capazes de ocupar o mesmo espaço, porém sem nunca se misturarem. Sempre adorei esta diversidade, desde muito jovem, quando passei a conviver com os sistemas dos clientes do meu pai, que soavam de forma tão diferente com as mesmas músicas.
Às vezes o que mudava era um único componente, como a caixa, ou a cápsula do toca-discos, ou o amplificador, mas a reprodução era tão diferente que me fazia questionar se não existiriam ‘versões’ da mesma música. São memórias dos meus 8 a 10 anos de idade, mas que ainda hoje voltam à tona quando tenho à minha frente, para uma comparação, dois produtos Estado da Arte que seguiram por caminhos distintos, para alcançar o mesmo objetivo (a maior fidelidade possível).
Recebemos o Classic AMP juntamente com o Nagra Pré HD, mas como o pré tínhamos um prazo de apenas 3 semanas antes de ser entregue ao seu dono, tratamos de amaciá-lo e, depois das 100 horas iniciais, ligamos ele diretamente em nosso Sistema de Referência – enquanto o Classic AMP iniciava seu amaciamento. Dois dias depois, chegou o segundo Classic AMP, aí deixamos ambos amaciando e passamos a ouvir o Pré HD exclusivamente ligado no Hegel H30.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Prés: Nagra HD e Dan D’Agostino Momentum. Fonte digital: dCS Scarlatti. Fonte Analógica: pré de phono Boulder 500, toca-discos Acoustic Signature Storm MkII com cápsula Soundsmith Hyperion 2. Caixas Acústicas: Wilson Audio Yvette e Sasha DAW, Boenicke W8 e Rockport Avior II (leia Teste 2 nesta edição). Cabos de interconexão: Dynamique Audio Halo 2 RCA e XLR, e Dynamique Apex XLR (leia Teste 3 nesta edição), Sunrise Lab Quintessence (XLR) e Sax Soul Ágata 2 (XLR). Cabos de caixa: Dynamique Halo 2 e Sunrise Lab Quintessence. Cabos de força: Sunrise Quintessence, Transparent PowerLink MM2 e Dynamique Halo 2.
Só conseguimos utilizar os Classic AMP na última semana de teste do Pré HD da Nagra (quando ambos já estavam com aproximadamente 280 horas de queima). Primeiro o escutamos em estéreo, substituindo o nosso power H30. Foi possível observar, em modo estéreo, um maior refinamento no invólucro harmônico, maior silêncio entre as notas, um arejamento muito maior e mais realista na apresentação de ambiências. Melhor recorte, foco e planos, mas sobretudo um Equilíbrio Tonal mais natural e verossímil.
O que o Nagra Classic AMP em estéreo perdeu para o H30 foi em relação ao deslocamento de ar e a energia na macrodinâmica mais complexa. Ainda assim, nos chamou muito a atenção o fato de que apenas com 100 watts por canal, jamais conseguimos acender o LED laranja que indica que o amplificador está chegando no seu ponto de saturação de potência (isto com ambas as caixas da Wilson Audio e com a Rockport). Nos outros quesitos, como corpo, textura, transientes, organicidade e musicalidade, o Classic AMP se mostrou superior ao Hegel H30, não com enorme vantagem, mas tudo mais organizado e com melhor conforto auditivo.
Como sabíamos que corríamos contra o tempo, e precisava fazer todas as anotações possíveis e responder todas as dúvidas, colocamos o segundo power para ouvi-los em mono e ver o que ocorreria.
Foi um salto quântico!
Pois aquela energia a mais, que era a única coisa que faltava ao modo em estéreo, veio com tamanha volúpia e autoridade e folga que nos deixou perplexo! Ampliando ainda mais a distância para o nosso power de referência.
Interessante poder observar tão precisamente o quanto um amplificador parece estar sempre ‘em alerta’ para não ser pego de surpresa, enquanto o outro mantém-se sempre atento, mas ‘relaxado’, apenas esperando para ser exigido. Este foi o caso do Hegel e os Nagras em modo mono. A sensação é que o Hegel, como um excelente cão de guarda, não relaxa nunca, estando sempre pronto para responder a uma ‘surpresa’. Já o Nagra se comporta de forma totalmente oposta, fazendo o serviço com tamanha folga e precisão, que você chega a duvidar que ele reproduziu aquela complexa variação dinâmica com o mesmo desempenho que o Hegel. Esta dúvida, no entanto, só dura alguns preciosos segundos, pois seu cérebro te informa que, além de ter conseguido uma inteligibilidade muito maior, seu esforço para acompanhar foi zero.
E quando você descobre que consegue ouvir mais, com menor esforço e ainda pode até abusar um bocadinho mais no volume (se a gravação permitir, é claro), meu amigo você está em sério apuro. Pois seu padrão de referência e exigência acabou de mudar de patamar.
Pois bem, quem ainda não leu o teste do pré da Nagra o HD, sugiro a leitura, para que possa entender o grau de sinergia entre ambos e como o pré da Nagra foi essencial para podermos fechar a nota do Classic AMP em estéreo e mono. Pois, sem ele, teríamos algumas dificuldades. Pois ao voltar ao nosso pré de referência, as observações tão nítidas como a luz do sol do meio dia, já ficaram um pouco mais ‘crepusculares’.
Para os nossos novos leitores é sempre bom lembrar: nos produtos Estado da Arte, 3 pontos para cima, são como subir consistentemente um degrau acima. Agora imagine 10 pontos acima, como foi o caso do pré da Nagra em relação ao nosso pré de referência? São três degraus a mais! Então, certamente, sem a ajuda deste pré nossa tarefa em desvendar todos o potencial deste power Nagra seria muito mais árdua.
Com os Classic AMP totalmente amaciados (300 horas), voltamos a ouvir primeiro em estéreo, e depois novamente em mono, comparando com o nosso power de referência. As observações feitas com o nosso pré de referência se mantiveram. Maior refinamento e naturalidade em todos os quesitos da Metodologia, exceto na macrodinâmica, em que o Hegel se mostrou mais convincente em termos de energia (não de inteligibilidade e conforto auditivo).
E quando ligado em modo mono, as diferenças também deram um salto em relação ao estéreo e ao Hegel H30.
O equilíbrio tonal é exuberante, de ponta a ponta. Imediatamente você faz uma associação com o que se escuta ao vivo, a três metros de distância.
O que mais me encanta na assinatura sônica dos produtos da Nagra que testamos, é que mesmo em gravações tecnicamente limitadas, o grau de naturalidade ainda está presente.
Escutei propositalmente uma dezena de CDs tipo ‘the best of’, e no meio daquele excesso de equalização e compressão, ainda é possível notar nuances que em outros sistemas não estão mais presentes. Essas coletâneas, como são extraídas de vários discos, fatalmente estão repletas de gravações muito desniveladas tecnicamente (principalmente se for a coletânea de artistas com uma longa carreira de sucesso), fazendo com que o ouvinte pule muitas das faixas mais inaudíveis. No conjunto Nagra foi possível ouvir todos esses ‘caça-níqueis’ na íntegra. E no conjunto Classic AMP com Dan D’Agostino, quase todos.
Não existe excesso em nenhuma frequência, nada de pirotecnia ou reforço. Tudo é tão exemplarmente harmonioso, que o ouvinte pode desfrutar com o mesmo prazer audições com o volume bem reduzido, que ainda assim ele escutará tudo com peso, corpo e presença.
Seu soundstage só posso dizer ser o mais próximo do 3D que já escutei. Os planos são precisos, colocando os naipes de uma orquestra enfileirados um após o outro como vemos em um espetáculo ao vivo. É possível escutar os naipes de percussão e os metais como trompa e trombone soando para muito além da parede atrás das caixas. Tudo com enorme arejamento, sem nunca ter a sensação de que os músicos estão amontoados dentro de um elevador.
O foco e recorte são tão corretos, que se materializam como se em cima de cada solista estivéssemos iluminando. E não falo de gravações de referência audiófila, falo de gravações normais de selos comerciais como Naxos, London, EMI, etc. Tudo é ampliado, fazendo com que a sua sala de audição, como em um passe de mágica, coloque abaixo as paredes!
As texturas meu amigo, as texturas! O que dizer delas, depois de escutar esses Nagras. Ouvimos as características inatas de cada instrumento em conjunto com todas as intencionalidades, como se estivéssemos ali ao lado do músico, e ele pedindo a nossa opinião sobre a qualidade do seu instrumento e sua sonoridade. Confesso que, nos 23 anos da revista, jamais havia testado uma eletrônica capaz de nos proporcionar este grau de fidelidade na apresentação deste quesito. Pois não soa como válvula e nem tampouco como transistor. Soa como o instrumento real à sua frente.
O mesmo ocorre com a apresentação dos transientes. Sua precisão e domínio de tempo e ritmo nos leva a nos perguntar como é possível termos inúmeras gravações para a avaliação deste quesito (algumas feitas por nós) e ainda assim observar detalhes em termos de precisão e ataque nunca antes notados? “Nos Nagras, a sensação é que os músicos estão em sua melhor performance sempre!” – essa foi a definição de um amigo baterista ao ouvir dois solos que ele sempre traz como sua referência pessoal do instrumento. E tenho que concordar com ele!
Em modo estéreo, a macrodinâmica está, como já disse, um degrau abaixo do modo mono, mas nada que desabone ou comprometa. Pois se o ouvinte ficar atento, verá que ainda que não tenha aquele chute no peito ou coice, como queiram, a forma com que ele trabalha esta variação e a forma com que ele entrega esta passagem é de uma inteligibilidade impressionante! Então é uma questão também de ponderar o que é mais interessante: sentir o ‘coice’ ou entender o ‘coice’?
Cada um tem sua preferência. Eu, na idade que me encontro, prefiro entender o ‘coice’, pois já passei há muito tempo de qualquer pirotecnia auditiva. Mas fica aqui a observação para que o leitor entenda de maneira clara esta menor pressão sonora na macrodinâmica do Nagra em estéreo.
Já em mono, você sente o coice e entende o coice. Ou seja, tens em mão o melhor dos dois mundos! Se assim o quiseres é claro! O detalhe é que, na macro, o conforto e a folga auditiva são tão impressionantes que se você se não estiver acostumado com esta nova geração de powers Estado da Arte, que possuem esta qualidade, certamente estranhará um pouco. Mas depois que se acostumar e entender que esta folga é altamente benéfica para audições prolongadas e de zero fadiga auditiva, você também será fã de carteirinha, te garanto.
O corpo harmônico consegue lhe mostrar de maneira fidedigna todo o esforço que o engenheiro de gravação fez na escolha do microfone e no posicionamento deste em relação ao músico. E se o trabalho foi bem feito: você terá o músico com o seu instrumento em sua sala, no tamanho real do instrumento e até a altura certa do instrumentista. Se o cantor estava em pé, sentado em um banquinho, o corpo exato do flautim, do violino, da viola, do cello, do piano, da trompa, etc, etc. Seu cérebro, como criança em uma festa surpresa em que se pode pegar o que quiser na loja de brinquedos, irá ficar exultante. Pois nunca desfrutou de uma audição em que os corpos dos instrumentos fossem tão precisos e reais! O problema é que seu cérebro ficará totalmente viciado nessa mordomia e mimos sonoros, que será doloroso fazer o caminho de volta à realidade.
Então, meu amigo, todo cuidado é pouco ao ouvir estes powers (seja em estéreo ou mono). Junte todos os quesitos até aqui descritos de nossa Metodologia e vá para os últimos dois: Organicidade (materialização física do acontecimento musical) e Musicalidade. Acredito que todos já terão uma ‘vaga’ ideia do que o Classic AMP é capaz de nos proporcionar nestes dois quesitos, que muitos consideram ser a cereja do bolo! A materialização do acontecimento musical neste Nagra pode se dar de duas formas: os músicos virem à sua sala, ou você ser teletransportado para o local da gravação. Estas duas possibilidades só dependerão da caixa que estiver ligada a ele. Se for a Boenicke W8 (o teste será publicado na edição Melhores do Ano, em janeiro próximo), você será teletransportado. Se sua caixa for uma Wilson ou a Rockport, os músicos virão até sua sala! Tamanho o grau de capacidade que este power tem de materializar o acontecimento musical a nossa frente!
E a musicalidade também só dependerá dos pares em termos de fonte e pré. Queres um som mais quente e sedoso, veja suas melhores opções em termos de fonte e pré. Queres maior transparência, só definir os que possuem esta mesma assinatura. Eles se adaptam perfeitamente a qualquer uma dessas opções, ao gosto do freguês.
Este não é o amplificador que levará a maior pontuação na história da revista, mas certamente foi o que mais nos impressionou pelo seu desempenho, versatilidade e compatibilidade. Seja em estéreo ou em mono, sua performance está certamente entre os melhores powers de última geração Estado da Arte feitos nesta segunda década do século 21.
E ainda que seja muito caro para os padrões da nossa realidade (com o dólar acima dos 4 reais), ele em modo estéreo atenderá a 90% dos audiófilos que almejam ter um power deste conceituado fabricante suíço.
Para os que possuem como referência a música ao vivo não amplificada, não consigo pensar em muitas outras opções tão excelentes quanto este Nagra. Se é o que você tanto procura para fechar seu ciclo definitivo de upgrades em termos de powers, ouça-o. Não tem como se decepcionar com tamanho grau de performance absoluta (principalmente se houver a possibilidade de uso em mono).
Uma organização e uma harmonização do acontecimento musical raríssimas.
Em modo estéreo não é dos amplificadores mais ‘musculosos’ do mercado.
Classe | AB |
Potência | – 100 W RMS por canal em 8Ω – 200 W RMS mono em ponte |
Banda | <10 Hz à 80 kHz (+0 / -3 dB) |
Crosstalk | 70 dB |
Relação sinal/ruído | Normalmente 110 dB |
Distorção harmônica total | 0,05% @100 W |
Impedância de entrada | 100 KΩ |
Impedância de saída | 60 mΩ / 30 mΩ em ponte |
Conectores de entrada | XLR balanceado / RCA / Jack 3,5mm / Remoto externo (in & out) |
Monitoramento | Medidor estéreo de nível |
Indicação de clipping | – Led vermelho/ laranja no painel frontal – Temperatura, saturação e mudo |
Início automático | Para nível de entrada >10 mV |
Proteção | Superaquecimento – Acima de 60°C (140°F) |
Proteção de DC para os alto-falantes | Acima +/-2.5V DC |
Conectores de saída | Banana Cardas CPBP de ródio |
Consumo | 400 W máximo (menos de 2 W em espera) |
Peso | 18 kg |
Dimensões (L x A x P) | 39,5 x 27,7 x 17,4 cm |
NAGRA CLASSIC AMP ESTÉREO | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 13,0 | |||
Soundstage | 13,0 | |||
Textura | 13,0 | |||
Transientes | 13,0 | |||
Dinâmica | 11,0 | |||
Corpo Harmônico | 12,0 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 13,0 | |||
Total | 100,0 |
NAGRA CLASSIC AMP MONO | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 13,0 | |||
Soundstage | 13,0 | |||
Textura | 13,0 | |||
Transientes | 13,0 | |||
Dinâmica | 12,0 | |||
Corpo Harmônico | 13,0 | |||
Organicidade | 13,0 | |||
Musicalidade | 14,0 | |||
Total | 104,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
German Audio
contato@germanaudio.com.br
Estéreo: R$ 117.000
Monoblocos: R$ 234.000