Entrevista: DANIEL HASSANY, CEO da Dynamique Audio
novembro 15, 2019
Teste 5: CABOS DYNAMIQUE AUDIO HALO 2
novembro 15, 2019

Parece irônico que um revisor crítico de áudio, que sempre defendeu o desenvolvimento da percepção auditiva para aprendermos a andar com as ‘próprias pernas’, tenha tido a maior experiência sonora de sua vida graças a esta busca infindável pela ampliação de nossa capacidade de ouvir corretamente.

Só posso traduzir este momento como um ‘prêmio’ após tantos anos de dedicação e paixão. E após assimilar esta experiência tão enriquecedora, fico a me perguntar se eu conseguiria reconhecer a magnitude deste produto se não tivesse me preparado suficientemente e por toda uma vida.

A vida nos ensina, de tantas maneiras, as lições que precisamos, que acredito cada vez mais que o acaso é apenas uma desculpa para o que não conseguimos compreender em sua plenitude. E me sinto verdadeiramente realizado por ter tido a chance e a ‘percepção’ necessária para entender que conhecer este pré-amplificador da Nagra seria um divisor absoluto entre ele e todos os prés de linha aqui avaliados até este momento.

Para os que necessitam de uma razão para algo ser tão diferenciado em relação aos seus semelhantes, acomodem-se em suas poltronas, liguem seu sistema e coloquem uma música de fundo que ajude a criar um clima acolhedor e inebriante. Pois este teste será realmente longo. Afinal é preciso ‘compreender’ o que faz do Nagra HD Preamp um produto tão exuberante e único!

Vamos lá!

Com mais de 60 anos de vida, a Nagra é a empresa de áudio suíça mais antiga em atividade. A filosofia da empresa sempre foi dar extrema atenção aos detalhes e ter domínio total das técnicas de fabricação. Com este conceito presente desde sua fundação, inúmeros produtos Nagra feitos há muitas décadas, ainda estão a funcionar perfeitamente e trazem aos seus donos a mesma alegria que fizeram no primeiro dia de uso.

Seus gravadores de rolo (que já deram dois Oscars para a empresa, por seu uso na indústria cinematográfica) são a prova de que esses suíços sabem exatamente o que estão a desenvolver. Mas foi apenas em 1997 que a Nagra deu seu primeiro passo na direção do mercado de áudio hi-end, com o lançamento do pré-amplificador PL-P, um pré valvulado classe A, e seu pré de phono.

Estava estabelecido o pontapé inicial da Nagra no mercado hi-end, para também traçar o mesmo sucesso que alcançaram no segmento de pró áudio. Consumidores satisfeitos e ávidos por acompanhar as novas evoluções e descobertas tecnológicas da empresa: um grau de fidelidade que poucas empresas do segmento atingiram.

Vinte anos depois do PL-P, a Nagra lança o HD Preamp, também valvulado, porém sem ser uma evolução do PL-P. Partindo do zero, o novo pré de referência possui um novo design e várias tecnologias de patentes pendentes (falaremos mais adiantes dessas patentes).

O SOM DO SILÊNCIO

Desde o primeiro momento, os engenheiros da Nagra decidiram que este seria o pré de linha mais silencioso do mercado e estabeleceria um novo parâmetro de referência. O silêncio de um circuito eletrônico é o principal critério de avaliação do ouvinte, seja consciente ou inconscientemente. Nosso sistema auditivo sempre estabelece o ruído de fundo como principal obstáculo para o que estamos a ouvir. Quanto menor o limiar de ruído, maior o espaço em que a gama dinâmica pode se expressar, e nosso cérebro define este ‘espaço’ como aberto, limpo, natural, arejado, etc. (olha novamente a importância da ampliação de nossa percepção auditiva).

Essas qualidades ‘traduzimos’ como um som mais realista, agradável e isento de fadiga auditiva! Depois de se fixarem neste objetivo, a equipe responsável por este novo projeto conseguiu a façanha de estabelecer para o pré HD um piso de ruído de menos 160 dB em toda a largura de banda, algo totalmente inimaginável, para um amplificador valvulado – sendo pelo menos 60 dB a menos que qualquer outro pré valvulado e pelo menos 30 dB a menos que qualquer pré estado sólido!

Tornando-se, neste quesito, o pré ideal e dos sonhos de qualquer audiófilo pela complexidade do feito e a forma com que atingiram tal feito. Todo fabricante de produtos hi-end de padrão superlativo busca soluções de encurtar ao máximo o caminho do sinal, a fim de preservar a fidelidade entre o que entra e o que entrega na próxima etapa. E existem inúmeras maneiras de se conseguir este objetivo. A Nagra optou por uma topologia de circuito mono sem nenhum tipo de gabarito negativo em qualquer lugar ao longo do caminho do sinal.

Um estágio duplo tríodo cuida da amplificação, enquanto a fase de saída de amplificação de tensão é passivamente feita com um transformador de áudio toroidal patenteado e projetado pela própria Nagra, e fabricado por eles. Tornando o grau de verticalidade de produção altíssimo.

Eles são acoplados através de uma bancada de capacitores de filme medida e selecionada após longas sessões de audição. O sinal de áudio do pré HD Preamp não passa por qualquer tipo de potenciômetro. Em vez disso, o ganho total é ajustado aos transformadores especiais cuja a relação de tensão é controlada digitalmente (outra patente já requerida pela Nagra), através de um microprocessador. A variação é de -80 dB a 0 dB em uma base de degraus de 0,5 dB.

A saída do HD Preamp fica ‘flutuando’ através do transformador de áudio, portanto, sem nenhum loop de aterramento.

O primeiro prêmio veio já no lançamento na CES de 2018, outorgado ao engenhoso controle de volume, pela sua brilhante e criativa evolução tecnológica. No texto publicado pela CES em conjunto com a Nagra, a empresa explica: “A amplificação de tensão é feita passivamente com transformadores de áudio toroidais blindados, cuja taxa de tensão é variável e controlada digitalmente. A variação da taxa de tensão é feita comutando os vários enrolamentos dos transformadores. Vários relés são utilizados para este fim, enquanto o circuito alternativo de controle de volume ignora os transformadores e os enrolamentos que estão sendo comutados, impedindo qualquer tipo de ruído de comutação. Com esta técnica simples, porém revolucionária, o sinal de áudio permanece intacto a conversão de tensão-corrente ocorre através do transformador. A transferência de energia fica muito próxima do ideal. Sendo totalmente diferente de qualquer controle de volume baseado em resistor, pelo fato que, nessas tecnologias, parte do sinal é transformada em calor pela resistência atenuante”.

Além desta engenhosa solução, a Nagra disponibilizou dois controles de volume motorizados (um para cada canal) que seguem os passos um do outro. Assim que tocar em qualquer um dos volumes, o outro corresponderá ao que você está movendo. Para ajuste fino do balanço entre os canais, você pode desbloquear temporariamente um controle para compensar o outro, e, em seguida, o outro voltará a acompanhar o deslocamento.

DESCRIÇÃO DOS CHASSIS

O HD Preamp utiliza dois chassis separados, um totalmente dedicado ao circuito de áudio e o outro batizado de HD PSU, a nova fonte.

A linha Classic, para sanar problemas de vibrações externas, disponibiliza suas bases VFS (leia mais detalhes no teste do amplificador Classic. Porém, com o peso do novo pré HD e sua fonte e com seus gabinetes com maior área de placas de alumínio, os engenheiros precisaram rever o conceito e chegaram à conclusão que o ideal para a linha HD seria um conceito ‘flutuante’, em que os componentes dentro dos gabinetes estivessem desacoplados do solo. Da teoria à prática, chegou-se a um gabinete com quatro hastes inseridas em quatro pilares metálicos pesados e rígidos. Com pés ajustáveis em cada canto do chassi, as hastes são mecanicamente isoladas do pilar com material de amortecimento, de modo que não tem nenhum contato direto metal/metal entre as hastes e os quatro pilares. Uma solução engenhosa e de resultados práticos muito convincentes. Já os pilares são fixados a uma base de VFS para uma referência mecânica estável. Os pés de cada chassi são macios, para permitir que os dois fiquem empilhados.

Ambos gabinetes são feitos de alumínio usinado, e a frente e as costas em painéis de alumínio mais grossos (14 mm). Internamente foi colocado um outro chassi de lâminas mais finas, tornando o gabinete ultra rígido. Os pés de ambos gabinetes são feitos de sorbothane e a densidade e espessura só foram definidos após longas sessões de escuta. Os parafusos existentes nos gabinetes foram desenhados e colocados em pontos estratégicos para distribuir inteligentemente para as cargas mecânicas, para que nenhum pico de ressonância apareça em nenhuma frequência audível (afinal estamos falando de um pré valvulado).

Tanto a altura quanto a horizontalidade de cada chassi são ajustados girando cada pé em torno da coluna.

No painel frontal do chassi do pré HD temos, à esquerda, o interruptor de intensidade de luz do modulômetro – é o nome do VU de todos os produtos Nagra – sendo que, para cima, o usuário terá maior intensidade de luz, e para baixo menor intensidade. A Nagra disponibiliza 7 níveis de intensidade. O modulômetro indica o nível de entrada ou saída em dB (referência 0dB= 1V). Depois temos o interruptor de seleção de monitoramento entre o nível de entrada e de saída. Seguido, o controle de volume esquerdo e direito. Sincronização dos dois controles de volume, interruptor de Mute com um LED para lembrar o usuário que o mesmo está acionado. Outro LED de lembrete que o pré está em aquecimento de 2 minutos e meio para a estabilização dos circuitos e das válvulas (este processo é inerente toda vez que o pré é desligado), e a chave de escolha entre as entradas RCA ou XLR. Depois o seletor de liga/desliga e as opções de entradas.

No painel traseiro temos as saídas XLR e RCA, e bypass XLR, tomada IEC, ponto externo de aterramento, e 3 entradas RCA e 2 entradas XLR. Além de entradas RS-232 (para uso de automação), e os terminais dos dois cabos que necessitam ser conectados à fonte de alimentação HD PSU.

Esta longa descrição foi necessária para que o amigo leitor tenha uma ideia do esmero e o requinte de todas as etapas no desenvolvimento deste novo pré de linha. Seu acabamento é deslumbrante e, para se entender a razão de existir uma legião de audiófilos em todos os continentes apaixonados pelo ‘efeito Nagra’, somente tendo a oportunidade de um contato tátil/auditivo para ‘assimilarmos’ essa enorme veneração!

Sem esse contato com o produto Nagra, qualquer tentativa de descrever suas qualidades será o mesmo que explicar o sabor do Cupuaçu para quem nunca sequer viu uma foto desta fruta tão peculiar da região norte deste Brasil.

Gostei da introdução do revisor crítico de áudio da Hi-Fi News, que se defendeu das possíveis críticas ao preço do Nagra HD Preamp ao lembrar aos seus leitores que os jornalistas do mercado automotivo não precisam iniciar sua avaliação pedindo desculpas aos leitores pelo preço da nova Ferrari que estão avaliando. No entanto, nós revisores críticos de áudio temos que ‘pisar em ovos’ ao descrever as qualidades de um produto de nível superlativo, como se fossemos ‘culpados’ pelos seus valores. Como se este mesmo fenômeno não acontecesse no mercado de joias, relógios, canetas, vinhos, etc.

Com a idade, acabei com essas ‘milongas’, afinal compra quem quer e quem pode. E quem não pode, como eu, agradece a oportunidade de poder conviver com ele por três semanas. Este pré de linha deixará muitas ‘cicatrizes’, tanto na memória de curto como na de longo prazo. Posso afirmar que nada mais será como antes, principalmente ao se avaliar outros pré-amplificadores também considerados Estado da Arte, depois deste Nagra. Pois, para ser extremamente honesto com vocês leitores, colocar o Nagra HD Preamp no mesmo nível que os melhores que já tive a oportunidade de testar, ouvir e ter, é uma enorme injustiça para com ele. Pois até o simples fato de definir sua sonoridade é um enorme desafio. É o pré-amplificador valvulado que menos soa como válvula, e ao mesmo tempo passa ao ‘largo’ de soar como um pré estado sólido. Seria preciso criar uma nova classe para poder tentar explicar sua assinatura sônica e todos os seus predicados sonoros.

Com todos os anos dedicados a ouvir equipamentos e compartilhar minhas observações com vocês, meu conhecimento, falta-me palavras que o descrevam de forma simples, objetiva e direta. Então terei que seguir um caminho mais tortuoso para conseguir levar até vocês minhas observações. E deste mosaico de imagens sonoras, espero humildemente que algumas sejam entendidas.

Todos sabem da minha enorme admiração e respeito por pré-amplificadores (de linha e de phono). São, na minha opinião, os produtos que exigem uma expertise e um conhecimento acima do comum dos projetistas mais capacitados. São tantos desafios e obstáculos que até a escolha de que caminho seguir é torturante, pois é preciso levantar todos os prós e contras, muito antes de definir nicho de mercado e preço final do produto.

Imagine pegar um sinal na entrada ínfimo, amplificá-lo sem perda da fidelidade do que entrou e entregar este sinal ao próximo estágio de amplificação sem adulterar nada. E sabendo que existem grandes vilões no meio do sinal chamados potenciômetro, resistores – ou seja lá que topologia o projetista tenha escolhido para monitorar o volume – que irão influir diretamente no sinal, alterando de forma sutil ou não todo o sinal até aquele ponto.

Já vi e ouvi tantas soluções distintas e criativas que até já havia aceitado resignadamente que as opções dos melhores prés eram o que tínhamos de melhor para o momento. Algumas bastantes engenhosas, como do pré da CH Precision, o do Dan D’Agostino (pré que é minha referência atual), dos prés top de linha da japonesa Accuphase (que também utilizei como referência) e, com certeza, pelo menos mais uma dezena de prés Estado da Arte que buscaram as melhores soluções para tão tortuoso problema.

Conseguiram contornar o problema? Claro que sim, alguns de forma muito correta e por vencer este desafio se tornaram referências em sua categoria.

Um ditado popular sempre nos lembra que nossa referência de branco é perfeita até que apareça o branco ainda mais alvo! Ou adoramos os lençóis de nossa cama de 200 fios até dormirmos com os de 400 fios! O ser humano é mesmo um ser inquieto e ávido por descobrir novas maneiras de avançar naquilo que já está consagrado e bem definido.

Pois o pré da Nagra HD é este salto, que coloca tudo que achávamos perfeito de pernas para o ar e não nos permite voltar à ‘normalidade’ após conhecê-lo. O choque foi tão visceral, que para poder voltar à minha rotina de melômano, me poupei de ouvir alguns discos ‘de cabeceira’ nele, pois sabia que os ouvir depois no meu sistema seria impossível. E não falo de detalhes de maior transparência ou de conforto auditivo. E sim de realismo e naturalidade. Este é o ponto crucial que separa todos os grandes prés do Nagra HD: seu grau de realismo e naturalidade. Todas as outras qualidades estão intrínsecas, neste duplo alicerce. Como em uma sólida construção, todo o resto se ergue nesta plataforma. Seja o equilíbrio tonal, as texturas, soundstage, transientes, dinâmica, etc. Se queres realmente alcançar o nirvana sonoro, depois de ouvir este pré em condições ideais, você irá perceber as diferenças entre a física de Newton e de Einstein.

Para nós que aqui estamos neste planeta, a Lei da Gravidade, além de correta, pode ser sentida todos os dias de nossa existência. Mas quando ampliamos este microuniverso que sentimos e vivemos para a imensidão do cosmos, precisamos nos ater às leis da Teoria da Relatividade restrita, para entender e explicar os fenômenos cósmicos que nos cercam.

E aí compreendemos que a Terra, o nosso minúsculo e lindo planeta, é parte destas leis mais abrangentes de tempo e espaço. Desculpe ter ido tão longe, caro leitor, mas para entender o Nagra HD é preciso também entender que todos os 8 quesitos da Metodologia ele ‘executa’ melhor que todos os outros prés semelhantes e concorrentes, por ele ter como base algo que seus concorrentes ainda não alcançaram: realismo e naturalidade!

Seu grau de realismo e naturalidade é tão superior, que os quesitos inerentes a este contexto – para a avaliação auditiva – se fazem de forma tão confortável e com tanta folga, que parece que os outros se esforçam para conseguir realizar o seu trabalho corretamente, enquanto o Nagra o faz com os pés nas costas!

Achava eu que a soma dos oito quesitos de nossa Metodologia é que determinava o grau de realismo e naturalidade de um equipamento Estado da Arte. E descubro, aos sessenta e um anos de idade, que é justamente o contrário. Os cuidados em todos os detalhes e em todas as fases de desenvolvimento e a percepção de que se pode ir além do que já foi feito, é o que solidifica este novo patamar. Elevando o grau de reprodução eletrônica à um novo estágio.

Os audiófilos já escutaram tantas vezes que o produto ‘n’ venceu a fronteira final tantas vezes que, como a história do Menino e o Lobo, ninguém mais acreditou quando o menino, à plenos pulmões, gritou que agora era o lobo de verdade!

Somos bombardeados por um arsenal de marketing tão impiedoso que deixamos até de prestar atenção ao que as empresas nos oferecem como a última e mais incrível novidade.

Estamos anestesiados por tanta informação falsa e verdadeira que esquecemos de dar crédito a informações que nos indicam que determinado produto realmente é distinto de todos os seus concorrentes.

Acompanho a linha HD da Nagra desde seu lançamento, e ainda que os testes e apresentações nos Hi-End Shows pelo mundo sejam muito elogiosos, e as salas da Nagra tenham ganho muitos prêmios de melhor sistema do evento, nada disto foi o que me chamou mais a atenção. E sim o que vinha nas entrelinhas das matérias, que de forma unânime relatavam ser esta linha HD detentora de uma assinatura sônica “distinta” de outros grandes produtos.

Quando você é um articulista de áudio, rapidamente você entende o que outros articulistas deixam transparecer em seus textos, quando um produto os agradou muito. Não falo dos adjetivos explícitos, mas de termos ou analogias que são bastante contundentes, principalmente se o articulista for um cara ‘rodado’ e que já recebeu os melhores produtos em sua sala de audição.

Vou mostrar alguns exemplos. Ken Kessler, que escreveu o teste do pré HD para a revista inglesa Hi-Fi News, dá várias ‘pistas’ aos seus leitores do quanto gostou deste pré. Ele começa sua avaliação compartilhando sua admiração desde o primeiro instante com o produto, e narra este momento da seguinte maneira: “Mesmo para um veterano como eu, a sensação de ocasião era palpável. Demorou, oh, três segundos para perceber que eu estava na presença de algo especial”. Mais adiante, ele abre um novo parágrafo com o subtítulo “Efeito Bola de Neve”, para descrever o efeito que saiu de sua caixa de referência, e escreveu: “Fiquei perplexo, pois aqui havia um pré-amplificador com um som tão quente como se Harvey Rosemberg tivesse descido do céu – quando o material exigiu, havia uma exuberância que devia ser o resultado desses E88CCs” – as válvulas do estágio de amplificação do pré da Nagra.

‘Veteranos’ na avaliação de produtos de áudio, que já ouviram de tudo, costumam ser bastantes comedidos com produtos bons e ótimos, e precisa ser algo como um ‘ponto fora da curva’ para os levarem a sair de suas ‘tocas’ e compartilhar sua descoberta como seus leitores. Se você se interessar, leia também outros testes da linha HD e verá que este encantamento é bastante evidente.

O que significa isto? Como o leitor que está do outro lado da linha, recebe essas informações? Eu realmente não sei, pois com o aumento exponencial do nosso público, toda esta nova legião de leitores provavelmente deva olhar tudo que aqui foi escrito a respeito deste pré-amplificador como se estivesse folheando um artigo de ficção científica. Mas, para os nossos leitores que acompanham a revista há muitos anos, acredito que o desejo de ouvir este produto tenha crescido, pois ainda que seja fora da minha e sua realidade, meu amigo, ter a chance de desfrutar por algumas horas da companhia deste pré-amplificador fatalmente mudará por completo sua maneira de ‘perceber’ o que significa um produto Estado da Arte de nível superlativo.

As consequências são imediatas, pois se for um audiófilo ou melômano que tenha a cultura de música ao vivo não amplificada, ele reconhecerá imediatamente características muito consistentes de uma apresentação muito mais próxima do real, como ele nunca antes ouviu em sistema algum (mesmo que ele tenha um mega sistema até semelhante em preço ao Nagra). E esta apresentação se torna única, por causa do que já escrevi acima: maior realismo e naturalidade!

Os desdobramentos são todos audíveis, mas o mais impressionante é o tamanho do soundstage deste pré. As caixas não somem da nossa sala, por estarem bem posicionadas e serem excelentes em reproduzir planos nas três dimensões (altura, largura e profundidade), mas sim pelo fato deste pré ter uma capacidade de expandir a ambiência e os planos como nenhum outro pré consegue nesta proporção. E não se iludam que ele faça isto com algum truque de turbinar o tamanho (corpo) dos instrumentos. Pelo contrário, o corpo harmônico também é o mais realista de todos os prés que ouvimos ou testamos.

Então como se dá este fenômeno de um palco tão realista? O incrível silêncio de fundo, meu amigo. Volte alguns parágrafos e leia o que descrevo sobre a obsessão dos engenheiros de conseguirem o menor ruído possível de fundo, para justamente ‘libertar’ o sinal de qualquer tipo de amarra.

Mas, prossigamos nas vantagens desse baixo ruído: a recuperação de microdinâmica é a mais impressionante que pudemos ouvir. Não teve um único disco da Metodologia que não nos surpreendeu pelo detalhamento e pela capacidade de resgatar o que parecia inaudível! Só que este descobrimento ‘arqueológico sonoro’ não se dá às custas de uma perda de naturalidade ou musicalidade, pois tudo cresce na mesma proporção (soundstage, microdinâmica, foco, recorte, ambiência).

Imagine novamente pintarmos oito pontos referentes à metodologia em uma bexiga. Milimetricamente distantes um ponto do outro, usando cores distintas para maior visualização desses pontos (bexiga branca, equilíbrio tonal amarelo, soudstage vermelho, textura azul, transientes verdes, dinâmica vermelho, corpo harmônico preto, organicidade lilás, e musicalidade cinza) em um sistema Diamante de entrada, conseguimos com um pouco de esforço separar os pontos, entre eles, para 3 cm. Em um sistema Diamante de Referência, com um pouco mais de esforço, ampliamos a distância entre os pontos para 4 cm. Em um sistema Estado da Arte, fazendo quase que um esforço hercúleo, passamos a ter estes pontos a 6 cm de distância entre eles! E neste Nagra, apenas ligado a excelentes pares Estado da arte (como foi o nosso caso): 10 cm!

Quanto chegaríamos em um sistema Nagra todo HD? Também gostaria de ter esta resposta meu amigo, mas certamente não a saberei nunca!

Usei a analogia com a bexiga e os pontos, para você ter uma ideia, de como este pré não escolhe características que sejam mais agradáveis ou ao gosto dos engenheiros da Nagra.

Na equipe de engenheiros da Nagra, temos músicos, produtores musicais e engenheiros de gravação e masterização, além de uma parceria de anos com os organizadores do festival de Jazz de Montreux, que lhes permite acesso a todas as masters das apresentações anuais.

E isto certamente explica muito a assinatura sônica de todos os novos produtos da Nagra (linha HD e Classic) que são muito semelhantes (leia o teste do power da linha Classic).

Não se optou por assinatura sônica que agrade audiófilos ou que seja ao gosto da equipe de engenheiros da Nagra.

Não, pelo contrário. Como o projeto foi pensado de dentro para fora e do zero, a única referência como já disse foi: realismo e naturalidade como escutamos em um acontecimento musical ao vivo!

Desculpe ser chato e bater pela terceira vez nesta tecla, mas este foi o mote, a essência da ideia, que da teoria, ganhou forma e podemos apreciar seja por algumas horas em um show room, um hi end show ou na casa de um amigo audiófilo “abonado”.

O Fabio Storelli (CEO da German Audio),me pediu para trazer alguns clientes seus para ouvir o pré da Nagra , ligado aos powers Nagra da linha Classic, junto as nossas novas caixas de referencia a Sasha DAW e as fontes digitais dCS Scarlatti e analógica Boulder 500, toca disco Storm e cápsula Hyperion 2 da Soundsmith. Clientes com bastante rodagem em equipamentos tops hi end e uma grande cultura musical de música ao vivo não amplificada. Independente do gosto pessoal de cada um, e suas preferencias por marcas de produtos, todos (unanimemente), compreenderam o que é este ‘ Efeito Nagra’ de naturalidade e realismo.

Aquela sensação de conforto e folga auditiva tão intenso, que não há preferência por parte do pré Nagra HD por estilos musicais ou variações dinâmicas.

Sejam um duo de violões ou uma obra sinfônica de alta complexidade e variação dinâmica e o tratamento é sempre o mesmo. Total controle e nunca se perde a compostura e o conforto auditivo, nunca! Você não vai a Sala São Paulo assistir a Sagração da Primavera temendo que nos fortíssimos a orquestra não dê conta e o som endureça ou se torne agressivo.

Afinal salas de concerto bem construídas acusticamente, foram projetadas para suportar qualquer pressão sonora gerada nela por instrumentos acústicos.

Pois o pré da Nagra HD Preamp, também foi preparado para esses desafios de variações dinâmicas.

Deem uma gravação bem-feita, no volume correto da gravação e os powers e as caixas suportarem, não haverá nenhum sobressalto ou decepção. Nenhum ranger de dentes ou lágrimas de sangue.

E senhores o Nagra HD não foi testado com seus melhores powers os também HD com o dobro de potência do Classic. Então ficarei pelo resto dos meus dias imaginando como soariam a Abertura 1812 ou a Sinfonia Fantástica, nas caixas Alexx da Wilson Audio (me daria por satisfeito com esta, não precisaria ser a Alexandria XLF) e os monoblocos HD.

Como diria meu pai; “Imaginar não se paga nada”!

Para os que duvidam da capacidade na reprodução de dinâmica desta linha Nagra HD, sugiro que ouçam em um bom fone de ouvidos os vídeos feitos pela Nagra e dispostos em seu site da última feira de Munique 2019. Lá você terá um ‘leve’ gostinho do que estou tentando descrever e relatar que ocorreu em nossa sala de referências com um sistema, bem mais modesto que o utilizado em Munique! Um dos quesitos mais críticos de nossa metodologia para qualquer pré-amplificador em teste, é o equilíbrio tonal nas altas. Dificilmente testamos um pré que tivesse excelente extensão, com decaimento correto, que em muitas gravações o agudo na última oitava de determinados instrumentos como: violino, trumpet, flautin, vibrafone e piano, não tragam um certo desconforto de endurecimento ou sensação de frontalidade nesta última oitava.

Já escrevi a este respeito centenas de vezes nesses 23 anos. Em inúmeras seções e nos próprios testes. O que os fabricantes de prés fazem para contornar este problema de tão difícil solução?

Diminuem a extensão e aceleram o decaimento, para contornar ou atenuar o problema.

E o audiófilo o que faz? Tenta amenizar ou esconder debaixo do tapete o problema, com cabos, fonte ou tweeters que não tenham muita ‘ luz’ nesta região, ou em um ato de radicalização: expurgam em definitivo os discos que teimam em mostrar o problema. A questão é que todos esses ‘ acertos’ além de paliativos, são feios.

E a ouvidos ‘ bem treinados’ imediatamente detectam a ‘gambiarra’ e tornam as audições menos prazerosas. Mesmo pré-amplificadores Estado da Arte renomados e aclamados em uma ou outra gravação (principalmente de piano solo), dão suas escorregadas.

Nas três semanas, eu coloquei uma centena (literalmente) de gravações de todos os instrumentos que citei, e o Nagra HD para o nosso espanto, passou em 100% das gravações com louvor!

Aí alguém grita: Perai, perai! É um pré valvulado!

Prés valvulados contornam este problema mais facilmente, pois por topologia, tem menos extensão!

Desculpe meu amigo, volte algumas páginas atrás e leia o que escrevi, sobre a dificuldade de determinar a assinatura sônica do Nagra HD, pois ele não soa como valvulado e muito menos estado sólido. E para nos deixar ainda mais sem chão: possuem a maior extensão e o decaimento mais natural (olha aí de novo), que qualquer pré que já tivemos ou testamos.

E não é um pouco mais de extensão, é muito mais extenso. E seu decaimento é absurdamente lento e de uma precisão cirúrgica! Você escuta os decaimentos dos instrumentos na sala, até a volta do silencio absoluto. Dando-nos a oportunidade de apreciar o acontecimento musical literalmente na integra, tanto em termos de performance como de ideia. Possibilitando uma nova perspectiva também na nossa forma de ouvir e compreender o que escutamos.

Senhores vejam quantas palavras recorri para explicar o que este pré-amplificador possui de diferenciado e como ele forçará a concorrência a se mexer e sair de suas zonas de conforto.

Trata-se de uma revolução que não será nada silenciosa e os próximos atos serão muito interessantes de conhecer. Pois como na fórmula 1 e na corrida aeroespacial, a dinâmica do hi end é bastante semelhante. Nada se mantém por muito tempo sem a concorrência a morder o calcanhar do que se encontra na frente. No entanto, arrisco dizer que a Nagra está alguns passos de vantagem por dois motivos: seu grau de verticalização em seus projetos, que permitem uma autonomia e uma menor dependência de fornecedores e seu staff de projetistas, o que lhes dá uma referência do que buscar , que poucos possuem (de cabeça, na Suíça, somente o fabricante de caixas acústicas Boenickie possui este expertise e também atua nas duas frentes (engenheiro de desenvolvimento de produtos e de gravação).

Se vocês acham pouco ter esta capacidade de se referenciar pela música ao vivo, para o desenvolvimento de produtos hi-end, sugiro que ouçam com mais atenção a assinatura sônica desses fabricantes com as dos fabricantes que vocês mais apreciam. Independentemente de suas conclusões você perceberá que os equipamentos ‘desenvolvidos por esta ‘linha mestre’, são muito mais condescendentes com as gravações tecnicamente inferiores e as gravações primorosas soam com um grau de musicalidade sublime!

A diferença, dos fabricantes de áudio hi-end que seguem este ‘norte’ é abissal em relação aos que apenas se esforçam em aprimorar suas topologias já existentes.

Pois saber como um instrumento ao vivo soa, e transportar essa referência para a reprodução eletrônica é um feito e tanto, almejado por muitos fabricantes, desde que a alta fidelidade nasceu! E atingir este grau de fidelidade que a Nagra conseguiu para seus novos produtos é um feito ainda não alcançado por nenhum outro fabricante de equipamentos eletrônicos Estado da Arte.

Não neste nível de refinamento e musicalidade!

Se puderes por uma hora, ouvir este pré-amplificador, não deixe de fazê-lo meu amigo.

Garanto que todas as suas convicções audiófilas, que você tanto preza, ruirão como castelos de areia!

Nota: 110,0
AVMAG #257
German Audio
contato@germanaudio.com.br
US$ 98.000




AMPLIFICADOR INTEGRADO CAMBRIDGE EDGE A
Fernando Andrette

A linha Edge, da fabricante inglesa Cambridge Audio, foi apresentada ao mundo no Hi-End Show de Munique em 2018, sendo composta por três aparelhos: o Pré DAC e streaming de música Edge NQ, o amplificador estéreo Edge W e o amplificador integrado Edge A.

O amplificador estéreo Edge W foi avaliado na edição 254 da AVMAG, e agora é a vez do amplificador integrado Edge A, no mesmo frasco do power, mas com outras fragrâncias bem mais interessantes.

O amplificador chegou lacrado, e sua embalagem é um verdadeiro bunker de guerra! A primeira camada externa é de papelão duplo de parede grossa. Ao desencaixar as presilhas plásticas que prendem tudo no lugar, descobrimos uma segunda caixa de papelão também de parede dupla. Perfis rígidos curvos ficam nas laterais para proteger a preciosa carga de impactos laterais. Mas isto não é tudo: o Edge A é envolto em um fosso de borracha expandida esculpido à sua imagem e semelhança, onde ele repousa protegido. Além disso, os dissipadores e o tampo são protegidos com um anel de silicone espesso e também por uma capa de tactel, fechada por um zíper e selada com um lacre.

Todos estes mimos em sua embalagem não são um exagero, já que o monstrinho, no bom sentido, pesa 24 quilos! E, como é um produto de classe mundial, precisa mesmo cercar-se de todo cuidado. Ao destrinchar a embalagem do Edge A, pude constatar uma coisa que talvez poucos dessem valor: sua embalagem se equipara à embalagens dos aparelhos mais luxuosos do mercado, e quando digo isto não levo em consideração os aparelhos que utilizam caixa de madeira, pregos e cintas de aço. Refiro-me as jóias raras de verdade, não devendo nada em qualidade de embalagem aos dCS Vivaldi, por exemplo. Na verdade a embalagem é até melhor.

Passada a euforia com a embalagem, volto a observar o aparelho em si e novamente sou surpreendido com o que os engenheiros e designers da Cambridge fizeram. O Edge A trabalha em Classe XA que, segundo a fabricante, desloca o ponto de cruzamento para fora da faixa audível, conferindo ao Edge A níveis de silêncio de fundo e de distorção harmônica de alto nível. Outra peculiaridade da topologia é a eliminação de capacitores na etapa de amplificação. Com isto os Edges não sofrem com variações de assinatura sônica por lote do componente, nem com a deterioração dos mesmos ao longo dos anos de trabalho.

O amplificador é uma usina de força com dois transformadores toroidais simetricamente alinhados que, segundo a Cambridge, cancelam a interferência eletromagnética entre eles. Sua potência é de 100 W em 8 Ohms e 200 W em 4 Ohms.

No painel frontal, apenas o botão liga/desliga, o grande knob de volume e seleção de entradas. O anel interno do botão seleciona entradas e o anel externo gerencia o volume. Mais uma entrada para fone de ouvido (recomenda-se impedância entre 12 e 600 Ohms) e só, nenhum botão a mais.

A grafia do painel frontal é feita em baixo relevo com uma perfeição e elegância jamais vistos em qualquer outro aparelho da marca – não contém um errinho sequer, e nem no power Edge W nem no Edge A pude perceber qualquer rebarba nas bordas de cada letra, é um nível de acabamento surpreendente.

Da escolha do tom cinza matte dos painéis frontal, traseiro e do tampo superior, aos discretos dissipadores laterais em preto que desaparecem ao olhar o aparelho de frente, ao chassi feito em aço reforçado capaz de suportar seus 24 kg de peso total, tudo foi pensado com extremo cuidado, elevando a forma e função a um novo patamar em sua categoria.

Na parte traseira as entradas são bem sinalizadas, com a escrita tanto de cabeça pra cima como para baixo. Não tenho certeza se isto ajuda, mas está lá e com certeza pode ser considerado um mimo super bem-vindo.

O Edge A possui uma entrada USB 2.0 que suporta PCM de até 32-bit / 384 kHz e DSD256. Não é possível reproduzir faixas em MQA, mas com o aplicativo da Tidal pode reproduzir arquivos MQA até 24-bit / 96 kHz. Possui entrada Bluetooth 4.1 aptX HD (antena fornecida), duas entradas óticas Toslink 24-bit / 96 kHz, e uma entrada coaxial digital S/PDIF 32-bit / 192 kHz.

Na parte analógica temos uma entrada balanceada XLR e duas RCA, saídas pre-out XLR e RCA. Entrada RS232 para automação, entrada HDMI-ARC para retorno do áudio da TV, e minijacks Link-In/Out de 12 Volts.

Na parte traseira existe uma chave comutadora que merece uma atenção especial. O aparelho vem ‘setado’ para desligar automaticamente caso fique por um período de tempo sem sinal vindo da fonte. Para quem está amaciando o aparelho é um verdadeiro tormento! Então, para não passar raiva, não se esqueça de mudar a posição da chave.

O momento ‘ahhhh!’ Fica por conta de dois pontos que, na minha opinião, a engenharia deixou passar despercebidos. O primeiro é a localização do terminal de caixa direito, que fica logo acima do plug IEC fêmea. Isto não é um grande problema, é mais um incômodo, pois se precisar utilizar um cabo de caixa acústica com terminação spade, será obrigado a utilizar o cabo de cima para baixo e não de baixo para cima, como é comumente utilizado. Para quem tem TOC será um tormento: ou deixa um lado para cima e outro para baixo, ou deixa os dois cabos para cima despontando na carcaça do aparelho. O engraçado é que tomaram cuidado para que a antena Bluetooth não ficasse aparecendo, mas aí o cabo de caixa – se for spade – fatalmente aparecerá.

A segunda pisada na bola é a falta de uma porta Ethernet. Decidir-se pelo Bluetooth e não pela Ethernet LAN é subestimar o poder de percepção auditiva e o nível de exigência a qual o futuro comprador do Edge A está acostumado. Está bem… o Bluetooth cumpre o papel de conectar os aplicativos de música, mas sabemos que o streaming de música via cabo de rede é infinitamente melhor que o Bluetooth. A saída então seria adquirir o NQ, último membro da família Edge: com ele é possível ter um streaming de música mais compatível com a qualidade que se espera do integrado.

O controle remoto é feito em alumínio usinado, pesado e robusto, e nem ele escapou do um mimo: a sacolinha é feita de plástico siliconado, dá até dó de utilizar, peguei um uma embalagem comum ensaquei controle e deixei o ‘toque de seda’ quietinho na caixa.

COMO TOCA

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos ligados ao amplificador integrado Cambridge Edge A. Fontes: CD-Player Luxman D-06, DAC Hegel HD30, Notebook Samsung com JRiver. Cabos de força: Transparent MM2, Sunrise Reference e Quintessence Magic Scope. Cabos de interconexão: Sunrise Quintessence Magic Scope RCA e Coaxial digital, Sax Soul Zafira III XLR, Sax Soul Ágata USB, e Curious USB. Cabos de caixa: Transparent Reference XL MM2, Sunrise Lab Quintessence Magic Scope. Caixas acústicas: Dynaudio Emit M30, Neat Ultimatum XL6.

O amplificador Edge A é um aparelho pesado, ele não pode ficar em qualquer prateleira pois seus quase 25 kg empenam a maioria dos racks comuns existentes no mercado. Sem contar que ele precisa de bastante espaço para ventilação, já que o calor emanado dele é de um típico classe A. Dito isto, vamos ao que interessa de verdade: como toca.

Aquela máxima de que a primeira impressão é a que fica não vale para o Edge A. Seus primeiros sons são literalmente horríveis. Som abafado, sujo, fanho e embotado. A cara é de decepção. Então deixei tocando por 30 horas e, ao fazer uma nova audição, a frustração continuava lá – havia melhorado um pelo apenas. Mais 50 horas e, aí sim, comecei a ver uma luz no final do túnel. O som ganhou corpo, os extremos começaram a se soltar e os médios a recuar e ganhar textura. Se o(a) amigo(a) tem mais de uma fonte, sugiro deixar todos amaciando juntos, pois a cada nova entrada utilizada volta-se para a era da escuridão: o som é muito parecido com o do início das primeiras audições, seja digital ou analógica – precisa paciência para amaciar tudo.

Após o amaciamento, iniciei as audições com o disco Hadouk Trio – Air Hadouk, faixas 11 e 12, justamente para entender melhor a extensão nos decaimentos que antes eram pequenos e de pouca duração. Diria que foi um milagre! Os decaimentos agora tinham uma ótima extensão e timbres bastante corretos. Não havia fadiga na faixa 12, onde o percussionista ou baterista não sabe deixar os pratos quietos nem por um segundo! Tem pelo menos dois ou três pratos soando ao mesmo tempo. Antes do primeiro silenciar, outros dois pratos estão iniciando em seguida.

Com isto pude perceber como o Edge A lida com as altas frequências. Seu silêncio de fundo nesta região não nos deixa sentir fadiga mesmo em condições tão adversas como nesta faixa.

A textura dos outros instrumentos são as melhores possíveis, as camadas e silêncio em volta de todos os instrumentos musicais nos dão uma noção minimalista da intencionalidade de cada músico. O palco é largo tem boa profundidade e um foco muito bom. O Hammond não ficava indo e voltando ou só aparecia nas passagens de maior dinâmica – que seria um sinal claro de falta de foco. Nem tudo são flores, claro que não. O palco é largo, mas não tem tanta profundidade como se espera de um aparelho deste quilate, é um pouco mais apertadinho do que deveria. A região médio-grave carece um pouco de calor para que as texturas das regiões média e grave sejam mais confortáveis, tudo fica bem justo sem sobras. Não podemos esquecer que esta é mais uma característica da sonoridade Cambridge do que um defeito. Portanto é preciso levar isto em consideração no momento da audição.

Utilizando o Edge A pelo computador as surpresas são muitas. Seu DAC interno é bastante refinado e responde bem a troca de cabos. O Ágata USB casou maravilhosamente bem com ele, já que um grande atrativo deste cabo é justamente sua região média e alta mais doce e as texturas mais eufônicas. O Curious deixou o som mais cirúrgico com uma pegada incrível, mas perdeu um pouco da beleza nas vozes femininas. O mesmo acontece quando retira o Zafira III XLR: o som ganha umas coisas e perdem outras, é uma questão de gosto do freguês.

Rodei arquivos ISO pesados ‘ripados’ de vinil, e outros nativos DSD256 com um pé nas costas. Em nenhum momento houve ‘travadinhas’ por excesso de tráfego de informação.
Com o Bluetooth HD tudo roda liso sem problemas, e com qualidade razoável. Achei que precisaria baixar o APP da Cambridge, mas na verdade não precisa, não. Basta emparelhar o SmartPhone e já pode usar.

O DAC interno do Edge A é um melhor que o DAC do CD-Player Luxman D06, porém com o Luxman ganha-se timbres mais confortáveis, suavidade onde precisa ser suave, mostrando que, para um casamento perfeito entre fonte digital e o Edge A, é preciso um cabo de interligação bastante equilibrado que não seja puxado para a ‘digitalite’. Se escolher um cabo quente, irá deixá-lo letárgico, se for para um cabo mais analítico, as audições serão cansativas. É preciso encontrar um ponto de equilíbrio certo para não ‘matar’ as qualidades do transporte que fará par com ele.

Ouvi com o Edge A vários fones de ouvido: Klipsch Mode 40, Sennheiser HD700 e 800, além de um Parrot. As diferenças de impedância e estilo de fones abertos e fechados não fizeram com que a parte dedicada do amplificador se intimidasse nem um pouco. Os fechados tocaram maravilhosamente bem e com bastante sobra de energia e equilibrados, já os Sennheiser foram mais exigentes. Mas, ao final, foram domados e apresentaram uma largura de palco bastante interessante, velocidade e corpo nas altas dignas dos ótimos amplificadores de fone.

CONCLUSÃO

O amplificador integrado Cambridge Edge A quebra diversos tabus dentro da própria marca, pisa em terrenos nunca antes explorados e abre uma porta que dá vista para um horizonte totalmente novo aos amantes da marca que, ao percorrer o caminho em direção ao topo do pinheiro, em algum momento precisaram abandoná-la e alçar novos voos. Hoje não mais! O Edge A é um upgrade seguro e um passo mais que consistente em direção à perfeição, se colocando entre gigantes e fazendo que todos o olhem com seriedade e respeito.

NOTA ADICIONAL

Amigo (a) leitor (a) deve ter percebido que na avaliação do aparelho amplificador integrado Cambridge Edge não mencionei sobre a tensão do aparelho pois, no mesmo existe uma chave seletora 120 / 240V. Porém no manual diz que esta chave não pode ser modificada, apenas a equipe técnica da Cambridge Audio poderá fazer qualquer intervenção na mesma. Questionei o fabricante por meio de seu importador quanto a questão das localidades em que se usa a tensão 220 V (muitas por sinal), o importador enviou minha pergunta à fabrica que só respondeu agora.

Pois bem, segundo o fabricante TODOS os aparelhos Cambridge Edge possuem tensão de 127 V 60 Hz (no caso do Brasil), não havendo NENHUM modelo disponível com tensão em 220 V 60 Hz. Então, a chave seletora no painel traseiro dos produtos Edge não podem ser modificadas para 220 V, apenas pela fabricante Cambridge Audio.

Fica aqui o meu muito obrigado a equipe da Mediagear pela atenção dispensada.

AMPLIFICADOR INTEGRADO CAMBRIDGE EDGE A (UTILIZANDO DAC INTERNO)Nota: 86,0
AMPLIFICADOR INTEGRADO CAMBRIDGE EDGE A (UTILIZANDO DAC EXTERNO)Nota: 88,5
AVMAG #257
Mediagear
(16) 3621.7699
R$ 36.475




AMPLIFICADOR INTEGRADO HEGEL H590
Fernando Andrette

Muitos dos nossos leitores já haviam perdido a esperança de que testaríamos o integrado top de linha da Hegel ainda neste ano. Eu também, pois foi um ano tão maluco, de tantas idas e vindas, que as duas vezes que o importador conseguiu ter um em estoque, o mercado foi mais rápido em comprá-lo do que eu em pedí-lo para teste.

Então, quando a transportadora chegou trazendo os Edges da Cambridge Audio, as Evokes da Dynaudio e o H590, tratei de colocar ele imediatamente em amaciamento, imaginando que ele não ficaria muito tempo conosco. Felizmente estava enganado, pois já se encontra em nossa sala de testes há dois meses e meio, tempo suficiente para uma queima de 300 horas e um mês inteiro de testes com diversos parceiros em termos de caixa e eletrônica.

Como consumidor de Hegel (já que tenho em nosso sistema de referência um power H30) e por ter testado diversos produtos deste fabricante, já me familiarizei com o ‘jeito’ que todo Hegel tem em fazer sua apresentação inicial: sempre discreto, sem pressa, como se os dias fossem mais longos do que realmente são. Mas sempre já se impondo e mostrando à qualquer caixa acústica que, em suas mãos, terão que sempre apresentar a melhor performance possível.

A Hegel nunca tinha dado um passo nesta direção, de apresentar um integrado acima do H360 – agora já foi lançado o H390 – e de certa forma esta estratégia parece ter sido muito assertiva, pois colocou a empresa ainda mais em evidência no mercado de integrados acima de 12 mil dólares! Um segmento que conta com marcas de peso, como Gryphon, Vitus, darTZeel, Mark Levinson, Krell, etc. Então só podemos elogiar o trabalho da empresa norueguesa em querer uma fatia deste mercado mais acima.

Lendo os testes que começaram a pipocar a partir de novembro de 2018, quando o H590 chegou ao mercado, os elogios são eloquentes e efusivos, exceto com a sua aparência, que para muitos dos articulistas precisava ser revista, já que os concorrentes nesta faixa do mercado cuidam muito bem da aparência e design de seus integrados. Acho pertinente, mas sou da opinião que mais vale o que ouvimos do que o que vemos, em se tratando de equipamentos de áudio. Então, como consumidor, o que irá realmente me fazer levar um produto será o conjunto performance/custo, sempre!

Agora, se neste pacote vier junto um acabamento e design impecáveis, isto para mim é um bônus! E em termos de performance e versatilidade o H590 é impecável! Mas, dos seus atributos sonoros e tecnologia, falarei mais adiante.

O Hegel foi ligado as seguintes caixas: Wilson Audio Yvette, Dynaudio Evoke 50, Wilson Audio Sasha DAW e Kharma Exquisite Midi. Cabos de caixa: Quintessence da Sunrise Lab, Tyr 2 da Nordost, e Halo 2 da Dynamique Audio. Fontes digitais: MSB Select DAC, e Vivaldi e Scarlatti da dCS. Cabos digitais: Transparent Reference Coaxial, Sunrise Lab Quintessence Coaxial. Cabos de força: Sunrise Lab Quintessence, Transparent PowerLink MM2, e Halo 2 da Dynamique Audio.

Segundo o fabricante, o Hegel 590 possui potência de 301 Watts em 8 Ohms. Alguém perguntou ao CEO da Hegel a razão de 301 e não 300 Watts, e a resposta foi: “ Queríamos algo acima de 300 Watts para nos posicionarmos bem nesta faixa do mercado” – parece mais uma brincadeira, mas está lá na ficha técnica 301 Watts em 8 Ohms por canal. Humor é sempre bem-vindo, afinal este mercado tornou-se bastante sisudo.

Outra crítica que li é o fato do H590 não ter um pré de phono ou uma saída de fone de ouvido. Ora, a Hegel sempre defendeu que seus clientes deveriam buscar o melhor pré de phono externo possível, pois o foco da empresa sempre foi no digital e na topologia de suas amplificações. Então acho que esta crítica só seria justa se eles tivessem abandonado esta plataforma, mas não foi este o caso.

A frente continua como em todos os seus integrados: dois enormes botões com a tela de LED ao centro. E a chave de liga/desliga agora se encontra no centro, embaixo do aparelho, e não mais no canto como era no H360.

Atrás, o H590 disponibiliza três entradas RCA e duas XLR no lado analógico, e duas entradas coaxiais (uma BNC), três óticas, uma USB e uma Ethernet, no lado digital – e uma saída coaxial BNC. Aqui faço minha crítica à ausência de uma entrada digital AES/EBU.

Em relação à saída para fone de ouvido, a crítica tem algum sentido, já que a Hegel tem um circuito de amplificação de fone competente e não disponibilizar este recurso em seu integrado top, precisa ter uma excelente justificativa para não tê-lo disposto.

Todas as tecnologias patenteadas pela Hegel, como: SoundEngine, DualAmp (que separa os estágios de ganho de tensão e corrente) e o DualPower (que fornece recursos específicos à fonte de alimentação), e as mais recentes patentes no domínio digital como: SyncroDAC (sincronização em oposição ao assíncrono-upsampling), que trabalha em conjunto com a tecnologia LineDrive (que filtra as altas frequências). Todas são utilizadas e aperfeiçoadas no H590.

Na parte de amplificação, o H590 trabalha em classe AB, mas segundo o fabricante se trata de uma classe AB de alto bias (deixando o H590 em classe A por muito mais tempo que o H360).

Agora são 12 pares de transistor por canal, e um transformador totalmente remodelado para suportar sua fonte de alimentação superdimensionada. Este é o motivo do H590 ser mais alto que o H360.

No domínio digital, o H590 já utiliza o mais recente chipset AKM que disponibiliza a segunda geração de processamento MQA juntamente com PCM para 32-bit/384 kHz e DSD256 (pela entrada USB). Com esta segunda geração, o usuário pode utilizar Tidal via comando do smartphone ou tablet, com um arquivo MQA autenticado diretamente do roteador para a decodificação feita completamente dentro do H590.

Eu continuo afirmando: ainda que o streamer tenha evoluído muito nos últimos 5 anos, este ‘muito’ é pouco quando você tem um setup Estado da Arte para tocar sua coleção física de CDs, e um bom setup analógico. E como estamos muito bem servidos nestas duas frentes (analógico e digital), tratei de usar as duas entradas XLR para ligar, em uma, o Boulder 500 com o toca disco Storm da Acoustic Signature, meu braço SME Series V com a cápsula Soundsmith Hyperion 2. Os cabos XLR utilizados foram: Sax Soul Ágata 2 e Sunrise Lab Quintessence do Boulder para o H590, e o Apex da Dynamique Audio e Transparent Opus G5 dos DACs (MSB,Vivaldi e Scarlatti) para o H590.

É o tipo de amplificador que já sai tocando agradável da embalagem, mas não espere dele, nas primeiras 300 horas, cenas de arroubos pirotécnicos para a admiração de ‘plateias’, pois não ocorrerá. Ele precisa ir se acostumando com o ‘ambiente’ em que foi colocado, com o par de caixas que escolheram para trabalhar em dupla e, principalmente, as fontes que irão fornecer o material sonoro.

Mas, a partir das 200 horas, quando as duas pontas começam a desabrochar, anime-se, pois o despertar do H590 é contagiante. Pois ele nunca se mostra acuado ou sem fôlego para disponibilizar a demanda que lhe for pedida. Mas o faz sem ranger de dentes ou colocar as garras de fora. Tudo com a mais alta finesse e controle integral da situação. Nenhuma caixa utilizada o colocou nas cordas, com nenhum gênero musical ou complexidade dinâmica!

Ele lembra muito o H30 em termos de autoridade e folga. Uma assinatura sônica quente, na fronteira exata entre a topologia de tubos e o estado sólido, que nos encanta por não acrescentar nada e nem tão pouco se omitir.

Uma sonoridade inebriante, que nos faz querer descobrir o limite do volume de cada gravação, e esmiuçar sem receio o ‘âmago’ da captação, mixagem e masterização de cada faixa de cada disco.

Para os nossos leitores que possuem o H160 ou o H360, imaginem tudo que vocês mais admiram nesses amplificadores, e elevem exponencialmente todas essas qualidades ao limite, e terão uma ideia exata do potencial deste integrado.

E aos que não são familiarizados com o ‘DNA’ da Hegel, mas tem enorme curiosidade em conhecer, imaginem a maior folga possível aliada à um conforto auditivo extremo e terão um vislumbre do que o H590 é capaz de fazer em termos de amplificação.

Mas não confundam esta ‘maior folga’ com impetuosidade ou, pior, com pirotecnia, pois o H590 desconhece esses ‘truques’ de tentar turbinar algo mal feito ou repleto de compressão. O que ele oferece é a medida exata do que se é possível extrair em termos de amplificação, com os defeitos e qualidades inerentes a cada disco.

Se você se contenta em colocar a qualidade artística acima da técnica, este integrado pode ser perfeito para você. Mas não se iludam, pois ao subir de patamar para o andar de cima, o H590 se tornou ainda mais seletivo com seus pares (ouço que muitos leitores desistiram do Hegel 300 e 360, por ser preciso colocar cabos corretos para se extrair todo o seu potencial – como se isto fosse um defeito e não uma qualidade).

Mas, voltando aos pares ideais, busque cabos de força, de caixa e de interconexão que possuam a mesma assinatura sônica do H590: quentes sem serem fechados nos agudos. É preciso que tenham arejamento, velocidade, corpo de cima a baixo, e o melhor equilíbrio tonal possível. Com esses cuidados, o resultado, meu amigo será exuberante!

Seu silêncio de fundo permite um resgate da micro-dinâmica que muitos sistemas de pré e power separados não possuem. Seu soundstage (palco, foco, recorte e ambiência) é infinitamente superior ao do H360, o que permitiu audições de música clássica com uma imersão ainda maior.

O que sempre me agradou no H30 é que não há nenhuma faixa do espectro audível em que ele jogue luz, ou tente inventar qualquer coisa. E no H590 neste aspecto é exatamente semelhante, pois seu silêncio de fundo não o torna mais transparente e, consequentemente, mais analítico e frio. Pelo contrário, as audições são sempre confortáveis pela soma de sua folga absurda e sua naturalidade, graças ao excelente equilíbrio tonal.

E este conjunto ‘harmonioso’ de qualidades é que proporciona texturas magníficas e um convite a se ‘memorizar’ todo tipo de timbre de qualquer instrumento – qualquer um! Coloquei o Bolero de Ravel, a gravação que indiquei no meu último Opinião, para escutar no Hegel H590 com as caixas Sasha DAW. A facilidade de acompanhar mesmo os solos de mais de dois instrumentos foram incríveis! Muito próximo do sistema de referência, tanto em termos de conforto auditivo, como de inteligibilidade. O que significa muito em termos de resolução para um integrado!

ANALISANDO O DAC INTERNO

O DAC interno do H590 parece ser de uma outra geração em relação ao DAC que ouvimos no H360.

Mais silêncio, timbres mais reais, melhor foco, recorte, silêncio em volta de cada instrumento, e uma sensação de materialização do acontecimento musical (Organicidade) que não havia no DAC do H360. Realmente os engenheiros da Hegel avançaram substancialmente neste novo DAC, colocando em ‘xeque’ muito DAC externo de grandes empresas.

Musical, preciso em termos de tempo e ritmo, equilíbrio tonal corretíssimo e excelente corpo harmônico. Em relação às nossas referências utilizadas (todos Estado da Arte, custando dez vezes mais) as diferenças estão na materialização do acontecimento musical e no soundstage – tudo soa mais entre as caixas, os planos são menores (altura, largura e profundidade) e falta aquele último grau de 3D na apresentação, deixando as orquestras muito mais bidimensionais.

Volto a ‘enfatizar’ que estamos falando de um comparativo com o suprassumo da referência digital do mercado, então parece até desleal essa comparação. Mas é importante passar para vocês o nível em que o digital se encontra lá no topo, e os avanços atingidos pelo H590 em relação ao H360, pois foi um salto grande!

CONCLUSÃO

Quem tiver o H300 ou o H360 são os mais sérios candidatos a realizar este upgrade, pois além de totalmente seguro, o prazer em descobrir todos os avanços existentes no H590 compensará todo o dinheiro investido, acreditem!

Engana-se quem achar que encontrará apenas mais ‘músculo’, pois não é apenas mais potência que faz do H590 um integrado tão especial. O conjunto de avanços e os cuidados no aprimoramento do que já era muito bem feito, levou a Hegel a pular de patamar e entrar para o hall dos fabricantes que desejam o consumidor que busca o sistema definitivo, e que está disposto a investir neste sonho.

Tirando algumas ‘brechas’ de quem ainda é novo neste segmento mais top, como o design, em matéria de sonoridade o H590 não fica devendo absolutamente nada aos que já estão há anos trabalhando este audiófilo mais exigente.

Se você almeja um integrado definitivo e seu foco é puramente na performance e custo, meu amigo, escute com enorme atenção o H590. Pois, como diria o mineirinho: “É um baita de um amplificador integrado, sô”, com recursos de sobra que atendem a todas as novas demandas digitais e uma autoridade integral com qualquer par de caixas disponível no mercado.

Se é esta solução que você busca para ouvir sua coleção de discos, coloque-o no seu radar de possíveis upgrades futuros e definitivos.

AMPLIFICADOR INTEGRADO HEGEL H590 – NOTA COMO DACNota: 93,0
AMPLIFICADOR INTEGRADO HEGEL H590Nota: 97,5
AVMAG #256
Mediagear
(16) 3621.7699
R$ 78.764




AMPLIFICADOR AL-KTX2
Fernando Andrette

Outro dia um leitor me fez a seguinte pergunta: “A indústria de áudio hi-end nacional tem alguma chance de se reerguer?”. Interessante que, na pergunta, o leitor coloca a questão como se algum dia tivéssemos tido uma indústria de áudio hi-end em nosso território. Muitos confundem a reserva de mercado imposta goela abaixo como um momento auspicioso da Zona Franca de Manaus, produzindo equipamentos capazes de concorrer lado a lado com os importados hi-end.

E sabemos que esta reserva foi uma enorme falácia, pois bastou 4 anos de fim de reserva de mercado, para as empresas de áudio que tiveram 100% do mercado em suas mãos por duas décadas, se desintegrarem.

Tentando responder à pergunta do leitor no contexto atual: sim, acredito que empresas nacionais de hi-end ainda irão florescer por aqui. E este processo, ainda que lento e bastante tortuoso, já se estabeleceu e continuará gerando frutos daqui em diante. Porém de forma pontual e atendendo a nichos específicos como: cabos, amplificadores, racks, condicionadores, materiais acústicos etc. Ou seja, o que já vemos no dia a dia de quem acompanha a revista, mas agora com maior volume de oferta e de empresas concorrendo entre si.

Junta-se à este pequeno grupo o engenheiro eletrônico André Luiz de Lima, que mora em Lins, no interior de São Paulo, e que atua na área há mais de 30 anos e é um apaixonado por válvulas que decidiu aplicar todo o seu conhecimento no desenvolvimento de novos produtos.

Conheci o André graças a uma ligação sua, em que se disponibilizou a escrever artigos técnicos para a revista e também oferecer em seus artigos kits de equipamentos para quem tem o hobby de montar seus amplificadores. Também se disponibilizou a fazer manutenção de aparelhos importados valvulados e ajudar os leitores no que fosse possível.

Entre esta primeira ligação e sua vinda a nossa sala de testes, com 4 produtos seus debaixo do braço, se passaram muitos meses (diria que quase 1 ano, se não me falha a memória). Na sua cabeça, ele iria apenas mostrar produtos dos quais poderiam ser disponibilizados os diagramas na revista, para os leitores comprarem os componentes e montarem.

Mas, ao ouvi-los, percebi duas coisas: eram todos bastante complexos e exigiriam dos interessados muito mais que boa vontade ou alguma afinidade com ferro de solda. E que soavam muito bem pelo que custam.

Aí propus que os quatro produtos ficassem para teste e que pudéssemos apresentá-los a vocês.

Então, nos próximos meses iremos publicar o restante, começando pelo AL-KTx2, que se mostrou o mais profícuo pelo seu custo e performance. Depois, testaremos a versão deste mesmo produto só que com as válvulas KT-88 e, posteriormente um pré-amplificador (que de tão barato e eficiente, acabei pegando para nosso uso, pensando já nos Cursos de Percepção Auditiva que em breve voltarei a ministrar) e, por último, um single ended de 15 Watts por canal.

Animado com toda esta reviravolta em sua ideia inicial, o André não só aceitou minha proposta como já está desenvolvendo uma versão deste estéreo em monoblocos balanceados, como também de um novo pré para fazer par com estes monoblocos.

Como dizia meu pai: “Pessoas talentosas precisam de dois tipos de estímulos: reconhecimento e divulgação”. E a revista existe exatamente para dar este suporte a quem tem talento, garra e deseja ver seus produtos divulgados.

Não vou entrar em detalhes da topologia deste amplificador, pois além de muito técnico são dezenas de páginas descrevendo cada estágio de sua topologia. Para os apaixonados por especificações técnicas e de topologia, sugiro que entrem em contato direto com o André Luiz de Lima.

Em resumo o AL-KTx2 é um amplificador ultralinear push-pull hi-end, com estágios de saída em classe AB, que utiliza por canal um par de KT150 – válvulas que parecem ter caído no gosto da indústria hi-end e que todos os principais fabricantes estão usando (no Brasil, se não estou enganado, o André é o primeiro a utilizar).

Segundo o fabricante a potência é de 160 Watts com baixíssima distorção e uma banda larga. O que levou o André a optar pela KT150 foi seu elevado rendimento com um custo de montagem baixo, o que lhe permitiu desenvolver um amplificador estéreo de valor realmente muito competitivo com os importados.

O AL-KTx2 consiste de cinco estágios, sendo o primeiro o de pré-amplificação que utiliza um tríodo do tipo 12AU7, com uma realimentação negativa em torno de 19 dB. O segundo estágio é um inversor de fase em configuração de seguidor de cátodo, que também utiliza um tríodo do tipo 12AU7. O acoplamento entre os dois estágios é direto (com nível DC). O terceiro estágio é apenas de amplificação, sendo composto por dois tríodos do tipo 12AU7 (um utilizado para cada fase do sinal: 0 e 180 graus).

O quarto estágio é um seguidor de cátodo com acoplamento em nível DC, com intuito de baixar a impedância de saída e adequá-la às KT150. O quinto e último estágio, o de potência do tipo KT150 operando em push-pull ultralinear, uma vez que suas grades g2 (screnn) estão ligadas a taps em 40% do transformador de saída através de resistores limitadores de corrente de 470 Ohms.

Esta configuração cria uma realimentação negativa do sinal, pelo qual as válvulas passam a representar um comportamento entre tríodos e pêntodos. E a sua impedância interna, bem como sua distorção de sinal, é reduzida para praticamente o valor de um tríodo.

A polarização deste estágio é feita por tensão negativa na grade de controle, através dos trimpots P1 e P2, em vez do tradicional resistor de catodo. As fontes de alta tensão dos estágios 1, 2, 3 e 4 são estabilizadas. Na placa do circuito impresso do amplificador, um circuito monitor de bias (com LED), foi implantado para facilitar o ajuste e monitoramento da corrente de polarização (bias) das quatro KT150.

Os transformadores utilizados em todos os projetos são fabricados um a um pelo próprio André. E o que me chamou mais a atenção foi o grau de detalhamento no desenho de todas as suas placas e na limpeza visual de seus circuitos (vejam fotos). O cara é um perfeccionista nos mínimos detalhes de placas e circuitos! Seus transformadores também impressionam pelo acabamento esmerado!

Agora conhecendo um pouco mais o André, diria que ele é um misto de engenheiro ortodoxo (no bom sentido) que está começando a entender como funciona a cabeça e o universo audiófilo, pois seus produtos carecem de pequenos detalhes, mas que dizem muito para o mercado hi-end.

Vamos a esses detalhes: melhorar tomada IEC, os terminais de caixas, fusível, chaves de controle e, claro, o acabamento geral, como placa da frente, grade para proteção das válvulas (principalmente em casa que ainda tem crianças em idade pré-escolar). Fazendo esta lição de casa sem onerar demasiadamente o preço, seus produtos estão prontos para entrar no mercado e agradar uma imensa legião de apaixonados por válvulas. Pois o André realmente entende e conhece o que está fazendo!

Enquanto escrevia este teste, o André me enviou desenhos e fotos do novo monobloco e do novo pré, e fiquei surpreso como ele entendeu as dicas e já colocou em prática tudo que citei que deveria ser aprimorado.

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos: nosso sistema de referência, pré Nagra HD, pré do próprio André (desculpe não citar o modelo, mas ele não tem ainda). Caixas: Wilson Audio Ivette e Sasha DAW, Kharma Exquisite Midi, e Rockport Avior II. Cabos de caixa: Dynamique Audio Halo 2, e Quintessence da Sunrise Lab. Cabos de interconexão: Dynamique Halo 2 (RCA), Sunrise Lab Quintessence (RCA), e Nordost Tyr 2 (RCA). Cabos de força: Dynamique Halo 2, Sunrise Lab Quintessence, e Transparent PowerLink MM2.

O amplificador veio para nossa sala de testes com menos de 50 horas de amaciamento. Então fizemos nossa primeira audição junto com o André e sua esposa, e à noite fiz todas as anotações de nossa primeira impressão. O AL-KTx2, possui uma assinatura sônica bastante incisiva nos médios e nas altas (foi a conclusão que anotei em minhas considerações finais deste primeiro contato).

Como estava amaciando a Sasha DAW para o teste, deixei alternando entre o power valvulado e o integrado Hegel H590. Sempre ligado ao cabo de caixa e de força Halo 2 (pois também precisavam de amaciamento). Com 150 horas o AL-KTx2 voltou para teste e aí ficou.

Sua mudança foi evidente de caráter e de pujança. Ganhou corpo, os graves se tornaram presentes e as duas pontas abriram, apresentando maior extensão e bom decaimento. Mas aquela ‘magia’ e calor sedutor dos médios são realmente sua ‘impressão sonora’. Instrumentos acústicos soam encantadores neste power e o calor e naturalidade que tanto admirei nos monoblocos M160 da ARC, também estão aqui presentes. Arriscaria dizer que este encanto seja inerente às KT150 (li em muitos fóruns internacionais esta mesma conclusão).

Toda região é palpável e de enorme luxúria! Vozes possuem aquela naturalidade e calor que nos fazem esquecer das horas passando. Com 250 horas o AL-KTx2 se estabilizou integralmente e começamos a passar todos os discos da metodologia.

Seu equilíbrio tonal é muito correto (principalmente para seu preço), com excelente extensão nas altas e muito bom decaimento. Os graves, ainda que não tenham grande impetuosidade, são autoritários o suficiente para conduzir com mão de ferro todas as caixas utilizadas no teste.

Seu soundstage, possui mais largura e altura que profundidade. Porém esta falta de maior profundidade é bem compensada com o ótimo foco e recorte. No quesito textura encontramos o ponto alto do AL-KTx2 (leia a seção Opinião da edição 257 em que falo de discos para avaliação de texturas), no novo CD do multi-instrumentista André Mehmari, as cordas soaram de maneira realista e com uma riqueza na paleta de cores impressionante! Os amantes deste quesito de nossa Metodologia certamente ficarão surpresos como um power nesta faixa de preço nos brinda com texturas tão maravilhosas.

Os transientes, além de precisos, possuem o tempo certo em andamento e ritmo. E a dinâmica também é muito boa, tanto na micro, quanto na macro. Achei, à princípio que a micro se sairia melhor, mas depois do amaciamento o AL-KTx2 se mostrou bastante ‘à vontade’ nas passagens mais complexas do forte para o fortíssimo. O que também é surpreendente para uma topologia a válvula, nesta sua faixa de preço!

A apresentação do corpo harmônico é bastante convincente e a coerência entre o tamanho real dos instrumentos muito boa. Ouvindo uma big band, foi excelente o corpo do flautim em relação à flauta transversal, e dos trombones em relação aos trompetes. Muitos de nossos novos leitores nos perguntam se o quesito corpo harmônico em nossa Metodologia não se trata de um ‘preciosismo’ de nossa parte? Minha resposta é que, no estágio em que os produtos Estado da Arte superlativos atingiram, o corpo harmônico faz cada vez mais sentido, pois nosso cérebro para ser ‘enganado’ e ‘sentir’ aquela reprodução eletrônica de música como um acontecimento real, precisa que a apresentação dos instrumentos seja o mais próximo possível da realidade. Do contrário, ele não relaxa e não embarca nesta ‘viagem sonora’. Principalmente os audiófilos e melômanos que têm como referência a música não amplificada ao vivo.

Aos que acham besteira ou perda de tempo ter a música ao vivo como referência, na busca de seu setup ideal, podem se contentar com um contrabaixo acústico do tamanho de um cello (se não soar mais para um violão), ou um piano de cauda soar como um piano de armário. O cérebro deles não tem a menor referência de como soa um contrabaixo tocado com arco, na primeira oitava, a dois metros de distância. Ou a sensação da pressão sonora de um sax barítono a essa mesma distância.

Se ao menos tivessem o CD Timbres, começariam a ter uma ideia do que estou falando. Então, o corpo harmônico não só ganhou notoriedade para todos que buscam reproduzir corretamente em seu sistema os oito quesitos de nossa Metodologia, como é ‘peça’ essencial para aqueles que querem a materialização do acontecimento musical à sua frente. E o AL-KTx2 passa neste quesito com méritos!

A organicidade (‘ver’ o que se escuta) não dependerá exclusivamente de um só componente. Mas com seus devidos pares e em gravações soberbas, foi possível sentir o ‘gostinho’ de estar com os músicos em nossa sala de testes.

E no quesito musicalidade (a soma de todos os 7 quesitos, mais o gosto subjetivo de cada ouvinte) o AL-KTx2 se saiu muito bem.

CONCLUSÃO

Escrevam e me cobrem: o André Luiz de Lima veio para ficar neste mercado. E afirmo essa opinião por dois motivos: talento e conhecimento. E se ele mantiver esta estratégia de desenvolver produtos com este nível de performance a baixo custo, aí não tem erro! Pois a legião de novos leitores que sonham em montar seus sistemas com orçamentos baixos é enorme!

Agora posso finalmente revelar o preço deste amplificador estéreo: R$ 15.000. Menos de 4 mil dólares, por um amplificador capaz de trabalhar com uma infinidade de caixas, bem construído e com excelente performance. E sabem o preço de seu pré-amplificador, que acabei por adquirir para uso em testes e cursos? Menos de 1000 dólares!

Sua intenção é oferecer amplificadores, DACs, prés de linha e de phono, sempre com esta filosofia: o melhor custo e performance possível.

A todos os interessados, fiquem à vontade o conheçam e desfrutem de seus projetos. Garanto que muitos de vocês finalmente farão o upgrade de suas vidas!

Só posso desejar todo o sucesso do mundo para o André Luiz de Lima.

Nota: 81,0
AVMAG #257
André Luiz de Lima
(14) 99134.0330
andrelimarodrigues@gmail.com
R$ 15.000




AMPLIFICADOR AIR TIGHT ATM-300 ANNIVERSARY
Fernando Andrette

Minha paixão pelos produtos deste fabricante japonês é antiga.

Remonta ao tempo em que trabalhava na Audio News, ia pelo menos uma vez por mês almoçar na Liberdade e, depois do almoço, ia ver as mais recentes edições da StereoSound japonesa para conhecer as novidades. Ainda que não entendesse nada do que estava escrito, ver as propagandas e os produtos em teste era suficiente para voltar para casa imaginando como deveriam soar aqueles produtos!

Ainda vivíamos a triste reserva de mercado, então só nos restava sonhar realmente. Por mais otimista que fosse (e sempre fui), jamais poderia imaginar que poucos anos depois estaria eu testando grande parte daqueles equipamentos, que saiam todos os meses nos reluzentes anúncios da StereoSound, como também iria ter, em meu sistema de referência por dois anos, um par de monoblocos ATM-3 da Air Tight!

O mundo realmente dá muitas voltas, e me sinto um felizardo de poder, nesses 23 anos da revista, ter testado mais de 1.200 produtos (sem contar os produtos em que o teste foi abortado), possibilitando levar a você leitor nossas observações, mês a mês. Porém, o mais legal é um mês estar testando um amplificador de estado sólido de 500 Watts, e no mês seguinte ouvir um amplificador de apenas 9 Watts por canal, como este ATM-300 série especial do aniversário de 30 anos da Air Tight. Este era um sonho antigo, ouvir este amplificador já com 15 anos em linha em série especial comemorativa da empresa. Para não me alongar na história deste fabricante, sugiro a leitura dos testes do ATM-1S (edição 190) e do ATM-3 (edição 193).

A Air Tight sempre primou pelo desenvolvimento de produtos que fossem belos não só em sua sonoridade como também em sua aparência. Levando este esmero de construção aos menores detalhes, como por exemplo: a cabeça dos parafusos existentes em seus gabinetes não ficam expostas e visíveis. Parece um detalhe exagerado, mas quando você escuta um Air Tight em um setup correto, você entenderá e apreciará esse ‘pacote’ de preciosismo.

Ainda que o ATM-300 Anniversary possua 9 Watts por canal, e possa empurrar algumas caixas com 91/92 dB de sensibilidade, achei que seria necessário buscar uma caixa de maior sensibilidade, então recorremos ao Fernando Kawabe, que gentilmente nos cedeu, para teste também, as DeVore Orangutan 0/96 (o teste sairá na edição de julho próximo), o que nos permitiu um teste mais adequado para os 9 Watts do amplificador.

Minha relação com amplificadores de baixa potência se resume à audição de um amplificador da – também japonesa – Triode, de 10 Watts. E, claro, minhas audições em companhia do meu pai nos anos 60 de alguns Single Ended empurrando as lendárias caixas da Western Electric – que, confesso, não me encantavam tanto (talvez venha deste período minha dificuldade em ouvir cornetas, pois sempre me vem à memória auditiva, aquele som anasalado na região média-alta). Mas sempre me encantou a sonoridade dos amplificadores valvulados com as também lendárias válvulas WE300B, por dois motivos: sua assinatura sônica sempre natural e sua musicalidade.

A audição mais sublime que escutei da Ella Fitzgerald foi em uma topologia 300B nos anos 60. Foi ali que Ella me conquistou para sempre, tornando-se, de longe, a Cantora que mais escuto em minhas horas de lazer.

Segundo o fabricante, foi graças ao esforço da Takatsuki Electric que a Air Tight desenvolveu esta edição de aniversário, pois conseguiram ‘ressuscitar’ a lendária WE300B, e isto levou a Air Tight a fazer uma edição especial do seu power estéreo ATM-300.

Este amplificador da Air Tight adotou um sistema de feedback incomum e, segundo eles, contrário à tendência geral, que os levou a optar pelo zero feedback (nenhuma realimentação). Mas esta opção teve um preço: exigiu dos engenheiros uma revisão completa de todos os componentes, a começar pelos transformadores, capacitores e resistores, para assegurar o menor ruído de fundo e menor distorção. Na parte de gabinete, o mesmo primor de sempre, com chassis pesado para evitar qualquer tipo de ressonância e sub chassis cortado a laser feito de cobre puro e espesso.

As válvulas utilizadas são duas 300B, uma 5U4GB, duas 12BH7A e duas 12AU7A (ECC82). A distorção é de 1% (1 kHz /1 W / 8 Ohms), a resposta de frequência de 25 Hz a 40 kHz (-1 dB / 1 W) e o peso de 24 Kg.

Ainda que recentemente a Air Tight tenha lançado uma nova versão, o ATM-300R, muitos fãs dos amplificadores 300B ainda preferem esta edição de aniversário, lançada em 2016. Nos fóruns internacionais, a discussão em torno de qual é melhor parece que se baseia nos detalhes e na subjetividade de cada um.

Como não escutei o ATM-300R, não posso opinar, mas fica aqui meu conselho a todos os interessados, porque a briga nos fóruns sobre qual soa melhor é grande e calorosa!

Na frente do painel do ATM-300 temos o interruptor de pressão de liga/desliga, e três pequenos botões, sendo dois de atenuação separados para o canal direito e esquerdo, e um terceiro botão para o ajuste de bias, com as posições: Operate, L e R, para o ajuste fino das 300B.

O Air Tight teve como companhia o pré da Audio Research REF 6 e o nosso pré de referência da Dan D’Agostino. Fontes digitais: sistema dCS Scarlatti, MSB Select DAC e, por uma semana, o DAC e o clock dCS Vivaldi (teste em breve). Caixas acústicas: Kharma Exquisite Midi e DeVore Orangutan 0/96. Cabos de força: Reference Sunrise Lab e Transparent PowerLink MM2. Cabos de interconexão: Transparent Opus G5, Sax Soul Ágata 2 e Sunrise Lab Quintessence.

Como estou sem toca-discos e sem pré de phono, utilizamos apenas CDs para o teste. O Air Tight veio imaculado, e abrir sua caixa lacrada e montar o amplificador (trabalho gentilmente feito pelo Fernando Kawabe, já que continuo proibido de fazer força com o braço direito), me remeteu a uma viagem no tempo. Montado e devidamente ajustado, as primeiras audições foram feitas apenas para anotações, já que a DeVore também estava com menos de 20 horas de amaciamento (e ela necessita de, no mínimo, 500 horas).

Ouvir um amplificador, de baixa potência, necessita de alguns cuidados – e não estou falando de volume e sim de postura do ouvinte, que necessita entender que se trata de uma outra viagem sonora, repleta de introspecção, e não de arroubos pirotécnicos.

Então, se você é um grave dependente ou amante de volumes que façam a bainha de sua calça deslocar com a pressão sonora, esqueça e nem perca seu tempo, pois irá se decepcionar. E nada pior que a decepção de um audiófilo, pois ele sairá daquela audição soltando os cachorros pelo resto de sua existência.

Gostei muito da observação feita pelo articulista Art Dudley ao revisar este amplificador, na nova versão. Ele escreveu: “Criticar um amplificador 300B por seu baixo poder é como criticar um haiku por sua narrativa limitada”. Ou ainda: “Reclamarem por não ter uma cena de perseguição de carros no filme O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman”.

Então, meu caro amigo, sua forma de encarar um 300B é que irá determinar se será uma audição repleta ou não de prazer. O aviso foi dado.

Às vezes, quando nos propomos a sair do nosso espaço habitual, podemos nos deparar com experiências gratificantes, e ouvir um 300B pode ser uma delas. Pois quem opta por este amplificador abriu mão de uma série de quesitos que, para muitos audiófilos, são essenciais – sua busca se encontra em uma outra direção.

Meu pai dizia que, onde muitos focam o todo, alguns prestam a atenção nos detalhes. E todo bom amplificador 300B é feito para os detalhes. Se você ainda é capaz de entrar em um bosque e apreciar, sem pressa alguma, as cores, formas, texturas e cheiros, e se comover com esses alimentos para os sentidos e a alma, então você é um sério candidato a se apaixonar por um 300B, pois a magia que ele expressa é de nos apresentar aquela inflexão vocal que muda completamente nosso entendimento daquela passagem, ou o trinado do arco no violino em um longo pianíssimo, que nos leva a prender a respiração tamanho o controle do músico sobre o instrumento, ou apenas perceber o silêncio que, de tão perfeito, nos prepara para o próximo compasso.

Os excelentes 300B possuem uma luz própria – e não falo de colorações, falo de formas e texturas. E o Air Tight vai além ao exprimir um caráter sônico intenso e emotivo. A música ganha contornos únicos, em que a transparência é excelente, mas são as texturas que prevalecem sempre, proporcionando ao ouvinte uma infinita paleta de cores.

Se fizesse uma analogia com as estações do ano, este 300B da Air Tight seria a mais bela representação da luz de outono, naquele azul intenso que só enaltece a paisagem à sua volta. Em uma luz que ao mesmo tempo que é intensa, possui uma suavidade e um calor na medida certa. Este equilíbrio tão raro e tão desejado por muitos, é perfeito nos melhores 300B, e este Air Tight faz parte desta seleta legião.

Engana-se aqueles que, preconceituosamente, acham que amplificadores valvulados de baixa potência jogam suas fichas todas em uma região média molhada e sedosa. Erro grosseiro, diria meu pai! Este 300B possui agudos maravilhosos, limpos e com excelente corpo, extensão e decaimento. E na outra ponta, seus graves também são encorpados, corretos e precisos.

Seu palco, em termos de profundidade e largura, se mostrou excelente, e o silêncio entre as notas possibilitou um foco e recorte milimétricos.

A apresentação de texturas é dos deuses! Diferente de tudo que já escutamos, você ficará horas apreciando a qualidade de cada instrumento de diversos quartetos de cordas (mesmo que seja o mesmo quarteto em diversas gravações ou obras), e descobrindo como soam em diferentes salas de gravação, com diferentes microfones.

Passará a ficar mais atento à qualidade dos instrumentos e à técnica dos músicos.
Passei duas semanas só ouvindo quartetos, quintetos, e obras para violino e orquestra, com diversos solistas e diferentes orquestras. A assinatura sônica deste 300B amplia as texturas como uma potente lente de aumento, possibilitando audições inebriantes.

Diria que este Air Tight vai te conquistando aos poucos – é preciso paciência para o conhecer na intimidade, nada está explícito ou exposto de uma forma grosseira. Mas, depois de estabelecida a sedução, difícil mesmo será abandoná-la!

Os transientes, ainda que totalmente corretos, não impõe aquela precisão de desfile militar dos exércitos asiáticos, preferindo mais o andamento de uma coreografia clássica de uma obra como o Quebra Nozes: correta, precisa, mas com delicadeza e sensibilidade.

Os 300B não foram feitos para ouvir rock, diria um amigo meu baterista. Tenho que concordar com ele, mas um blues bem tocado soará belamente.

A dinâmica dependerá obviamente da sensibilidade da caixa ligada a ele. Uma DeVore soou muito mais correta nas passagens de macrodinâmica que a Kharma. Aqui, quanto maior a sensibilidade da caixa, melhor será o resultado na resposta de macro-dinâmica. Já a microdinâmica é excelente!

O corpo harmônico foi uma grande surpresa, pois eu não esperava um resultado tão bom! Corpos com os tamanhos bem corretos e bem proporcionais ao real (música ao vivo acústica, sem microfonação).

A organicidade também é muito boa, mas diria que muito mais intimista do que realista. Nada daquela materialização física à nossa frente, mas sim uma apresentação mais despojada e que nos prende pela musicalidade e não pelo realismo físico. Sua musicalidade, junto com as texturas, são o ponto mais alto deste 300B. É o tipo de apresentação para quem quer ouvir seus discos por uma outra perspectiva, livre de detalhes que nos desconcentram e atentos ao essencial.

Um amigo, também músico e amante de 300B, sempre me lembra que quando ele senta para ouvir seu sistema ele não quer se sentir no meio da orquestra (isto ele já faz todo santo dia, afinal é seu trabalho), ele quer ouvir a ideia e a execução musical, compartilhar a genialidade do compositor, do arranjador e dos músicos. Quer apenas estar ali ouvindo o que gosta sem se preocupar se poderia ser melhor a macrodinâmica daquela passagem ou se o triângulo poderia ter mais corpo e extensão! Sua viagem musical é para o âmago da concepção e não para o resultado na superfície.

Dizem que os audiófilos são todos loucos, pois pagam um preço alto para ‘experimentar’ em seus sistemas sensações para lá de subjetivas. Visto de fora, certamente esta é a conclusão mais óbvia. Mas, quando o audiófilo na sua essência é um melômano, toda esta busca torna-se muito mais objetiva. Separo muito bem o puro audiófilo do audiófilo/melômano. O audiófilo é apaixonado por equipamentos. Ainda que utilize a música para dar um rumo à sua busca, o equipamento está acima de sua paixão pela música. Este jamais terá algum interesse por um 300B.

O audiófilo/melômano está na contramão deste objetivo. Ele reconhece que um bom sistema pode proporcionar a ele ouvir seus discos de uma maneira que o leve à mais profunda imersão e concentração! Para este, um 300B é uma possibilidade que está dentro do seu campo de interesses.

Por isso que o segmento audiófilo abriga tantas tribos distintas e tão ecléticas! Na Ásia, o 300B é uma febre que já dura 50 anos! E essa ‘febre’ parece que anda a se espalhar por todos os continentes! E chega ao Brasil de maneira tímida, mas com uma legião de fãs dispostos a fazer com que os amplificadores 300B venham para ficar.

Claro que, se houver uma maior variedade de caixas de alta sensibilidade para atender esta demanda, o mercado será ainda maior.

É dar tempo, para ver o que acontece.

CONCLUSÃO

O ATM-300 Anniversary da Air Tight é um belo amplificador. Sua construção é impecável, e faz jus a comemoração de 30 anos deste fabricante japonês, que desde sua fundação nos brinda com produtos de nível superlativo.

Para quem sempre desejou possuir um 300B, mas temia pela procedência ou confiabilidade, eis uma opção que alia competência e performance como muitos poucos podem oferecer. Ligado a uma caixa de sensibilidade acima de 92dB, pode proporcionar audições inesquecíveis!

Se é isto que você tanto deseja, não perca tempo e procure fazer uma audição!

Nota: 83,5
AVMAG #252
Alpha Áudio e Vídeo
(11) 3255.2849
R$ 68.900




AMPLIFICADOR CAMBRIDGE AUDIO EDGE W
Fernando Andrette

A Cambridge Audio foi fundada pelo professor Gordon Edge em 1968. Seu primeiro produto foi o amplificador integrado P40, e seu grande diferencial em relação a concorrência foi o uso de um transformador toroidal que possibilitou ao P40 um som muito mais limpo e com menor distorção que qualquer produto concorrente. O sucesso veio imediatamente!

Gordon era um visionário que não se deixava iludir com o sucesso, e sempre buscou formas de atrair seu público-alvo. E teve a brilhante ideia de realizar, todas as sextas-feiras no final do expediente, shows com música ao vivo para mostrar como uma apresentação ‘real’ soa, e como a Cambridge buscava ‘captar’ parte desta magia em seus produtos.

Essas apresentações se tornaram históricas e eram disputadas por uma legião de admiradores e jornalistas.

O professor Edge também defendia a filosofia de que seus produtos deveriam atingir o maior número possível de consumidores, e esta visão norteou o desenvolvimento de uma série de produtos bons e baratos.

Para comemorar os 50 anos da Cambridge Audio, e homenagear seu fundador, foi colocado o seguinte desafio para os engenheiros da empresa: desenvolver uma linha comemorativa à altura do feito do professor Edge, sem restrições de preço e com os melhores componentes existentes para cada parte do caminho do sinal. E assim nasceu a série Edge, composta do amplificador de potência, um pré amplificador com streamer e um integrado. Os engenheiros designados para o projeto definiram que o essencial era fazer com que o sinal percorresse o menor caminho possível (no power, da entrada do sinal até a entrega para as caixas, são apenas 14 etapas).

Recebemos em conjunto o power e o pré amplificador, mas assim que vimos o nível de ambos equipamentos, resolvemos desmembrar o teste, apresentando primeiro o power e, mais tarde, o pré amplificador.

O power Edge W foi construído em um belíssimo chassi de tom acinzentado, com cantos arredondados e dissipadores de calor inseridos nos lados. No painel frontal, apenas o botão de acionamento do power com um led discreto. No painel traseiro, conexões RCA e XLR, saída de looping para a ligação de outros powers Edge W em ponte, tomada IEC, chave de mudança de voltagem e terminais de caixa de excelente qualidade.

Pesando 24 kg, o audiófilo imediatamente perceberá que o Edge W foi projetado sob cuidados rigorosos. Este peso incomum para produtos deste fabricante é devido aos dois transformadores toroidais de potência. Os engenheiros definiram que seria importante o uso de um transformador para cada canal, para que o Edge W fosse absolutamente silencioso. Eles descobriram uma maneira dos transformadores não gerarem ruído colocando-os em pé e alinhados milimetricamente, para os campos magnéticos que geram ruído se anularem
mutuamente.

Na parte de amplificação, o Edge W debita 100 Watts em 8 ohms e 200 Watts em 4 ohms. A topologia é a mesma utilizada também na série Azur, a classe XA. Patenteada pela marca, esta topologia XA roda em classe A quando as demandas musicais do amplificador são baixas e, segundo o fabricante, a passagem para classe B quando a demanda aumenta é feita de forma mais linear e sem distorção audível dos classe AB existentes.

O fabricante fala em 200 a 300 horas de queima, antes de você ter uma ideia exata da performance deste power. Precisamos de quase 400 horas para poder iniciar nossas avaliações e, depois de totalmente amaciado, acabamos optando por trabalhar com ele em 220 V (pois ele se tornou mais silencioso e ganhamos um pouco mais de calor e corpo na região média-alta).

Para o teste, além do pré Edge, também utilizamos o pré Dan D’Agostino Reference, e as seguintes fontes digitais: dCS Scarlatti, dCS Vivaldi (DAC e clock) e MSB Select (DAC e fonte). Fonte analógica: toca-discos Basis Debut IV, braço SME Series V, cápsula Transfiguration Protheus e pré de phono Boulder 508. Caixas: DeVore O/96, Dynaudio Evoke 50, Wilson Audio Yvete e Kharma Exquisite Midi. Cabos de interconexão: Nordost Tyr 2 (RCA), Sunrise Lab Quintessence (RCA e XLR), Sax Soul Ágata 2 (XLR) e Transparent Opus G5 (XLR). Cabos de caixa: Nordost Tyr 2 e Sunrise Lab Quintessence. Cabos de força: Transparent PowerLink MM2 e Reference Mk2 da Sunrise Lab.

Ao desembalar o Edge W de uma caixa bem inteligente (sempre com a ajuda de alguém, pois com a embalagem são mais de 38 kg) nos deparamos com o produto armazenado em uma caixa de tecido de feltro com zíper. É impossível não perdermos alguns minutos olhando aquele gabinete impecável com desenhos e formas suaves, que mostram o esmero e a dedicação no desenvolvimento do produto.

Devidamente instalado, fizemos uma primeira audição de quase 6 horas para escrever as primeiras impressões e lá foi o Edge W para a primeira parte de amaciamento de 100 horas. O primeiro contato com o Edge W poderá ser frustrante, pois sua beleza cria uma enorme expectativa em relação à sua performance. Mas o power soou frio e sem alma! Como se tivesse vindo da Sibéria e estivesse ainda em estado de hibernação! Enfatizo esta avaliação pois para muitos a primeira impressão é a que fica, o que é um erro grotesco, se tratando de equipamento de áudio hi-end. Pois à medida que a queima vai sendo completada, os equipamentos mudam da água para o vinho (os corretos e bons obviamente).

Com 100 horas, nova rodada de avaliação, com os mesmos discos, mesmo setup, mesmo volume. Pouca coisa mudou – ganhamos mais extensão nos graves, mas o som ainda era frio e sem magia alguma. Como a Evoke 50 já havia terminado seu período de amaciamento, inverti a ordem. Voltei o power para a queima e comecei os testes da caixa Dynaudio.

Com 200 horas, finalmente o Edge W pareceu querer acordar de sua longa hibernação. Os agudos ganharam extensão, a região média ganhou corpo e características de sua assinatura sônica como silêncio de fundo e capacidade de apresentar uma micro-dinâmica detalhada e refinada, apareceram!

Faltava, no entanto, o médio-grave ganhar peso e corpo, e os graves maior poder de articulação e energia.

Resolvi então radicalizar e deixar em queima o power Edge W por mais 100 horas, já que a Evoke 50 estava se saindo cada vez melhor em sua avaliação. Quando já estávamos nos finalmentes da Evoke 50 e o Edge W já com 308 horas de queima, resolvemos ligar o conjunto e ver como funcionavam em conjunto (Edge pré e power, com cabos Ágata e Quintessence, com cabos de caixa Nordost Tyr 2 e fonte digital dCS Scarlatti). E finalmente o Edge W deu o ar da graça, com os graves bem recortados e focados, com excelente extensão. Mostrando todas as qualidades da caixa Evoke 50.

Porém, aquele corpo tão desejado no médio-grave ainda era tímido, fazendo com que gravações com um equilíbrio tonal puxando para o médio-alto ficassem muito frontalizadas e cansativas em volumes próximo ao ideal da gravação.

Aí tomei a atitude drástica: trocar para 220 V o Edge W, e deixar mais 100 horas em queima.

Interessante que, em 220 V, o Edge trabalhou menos quente (depois de 4 a 5 horas de queima) porém seu som nos pareceu muito mais correto (já tive e testei alguns powers que realmente trabalham melhor em 220 V, mais silenciosos e com um som mais natural, então já estou acostumado com esses ‘rompantes sonoros’).

Com 408 horas, a primeira coisa que fiz foi ouvir as mesmas 6 faixas que havia escutado no pré Edge e caixas Evoke 50, com o mesmo cabeamento e nas duas voltagens (110 V e 220 V) e batemos o martelo que, em nossa sala, o Edge W se sentiu mais à vontade trabalhando em 220 V. Definida a voltagem, iniciamos o teste do produto.

O Edge W foi um privilegiado em termos de configurações digitais, pois teve a companhia da nata da nata! Como diria o meu amigo Rui: “Um banquete dos deuses”!

Para se conseguir o melhor resultado possível em termos de equilíbrio tonal e corpo, sugiro ao leitor paciência com os seguintes itens: amaciamento, que deverá ser longo e paciente, escolha de voltagem (depois de amaciado completamente), cabo de força, e cabo de caixa. Esses cuidados podem fazer toda a diferença na performance final do Edge W.

Músculo não falta: enganam-se aqueles que acham que 100 Watts serão pouco. Com todas as caixas utilizadas o Edge as conduziu com enorme autoridade e firmeza.

Seu equilíbrio tonal é muito correto, mas se o leitor não acreditar que cabos fazem diferença e não buscar os que sejam mais adequados para ele, as coisas podem desandar.

Com um cabo de força original, as pontas perdem extensão, velocidade e corpo. Falta arejamento, principalmente nas altas, deixando a ambiência sempre em segundo plano, ou em gravações mais limitadas tecnicamente sem respiro nas altas. Os cabos de interconexão também são importantes. O ideal é que sejam muito equilibrados, não tendendo a serem muito transparentes, pois o Edge W não precisa de nenhuma ‘ajudinha’ no quesito transparência.

Seu silêncio de fundo é impressionante, ombreando com powers Estado da Arte infinitamente mais caros. Sua resolução em micro-dinâmica é espetacular, abrindo um horizonte à nossa frente, sem nenhum obstáculo.

Para os amantes de música clássica, que clamam por audições que possam acompanhar cada detalhe executado pela orquestra, o Edge W será provavelmente a opção mais barata neste quesito dos Estados da Arte de preço intermediário.

Seu soundstage também é bem amplo, tanto em abertura do palco como em profundidade. E sua apresentação de foco e recorte é irrepreensível! Os planos são muito bem delineados entre as caixas e o silêncio em volta dos instrumentos são muito bem apresentados.

Sua velocidade (transientes) também é excelente, permitindo acompanhar cada execução sem nenhum atropelo ou falta de inteligibilidade.

As texturas não possuem aquela riqueza de apresentação da intencionalidade, porém primam pela competência em nos mostrar a qualidade dos instrumentos e a virtuosidade dos músicos (para extrair mais detalhes da textura será preciso um cuidado extremo com os cabos e as fontes).

A macro-dinâmica foi bastante convincente (mesmo nas caixas com sensibilidade de 85 a 86 dB (como a Yvete e a Evoke 50), e com as caixas de sensibilidade acima de 90 dB (DeVore e Kharma) foi uma verdadeira ‘pêra doce’. Controle, autoridade, escala do forte para o fortíssimo sem nenhuma sensação de dureza ou clipagem, mesmo nas gravações mais difíceis deste quesito.

O corpo harmônico, como já citei, dependerá do ajuste fino do setup e cabos, porém se você leitor deseja um corpo (principalmente um corpo nos médios-graves e graves mais próximo do real), o Edge W não o irá atender neste quesito. Pois ainda que bastante proporcional aos tamanhos reais do corpo dos instrumentos, o Edge W possui um corpo mais homogêneo (exemplo: as diferenças de tamanho entre cello e contrabaixo acústico, neste amplificador, são menores que no nosso power de referência o Hegel H30). Mas isto é um problema? Evidente que não. Mas é um preciosismo que equipamentos Estado da Arte podem oferecer.

Mas fica a critério de cada um definir se este quesito é uma prioridade ou não. O que ocorre é que nosso cérebro, quando tem a referência da música ao vivo, se torna mais criterioso nas suas observações na reprodução eletrônica e não irá se satisfazer ou deixar se enganar que aquele acontecimento musical esteja próximo do real! O mesmo ocorre quando temos pouco espaço e optamos por caixas bookshelfs: o corpo harmônico sempre será menor. Então tudo é apenas uma questão de escolha e critério.

Organicidade: graças à sua impressionante transparência, gravações com excelente qualidade como o disco Anhelo do tenor José Cura, o cantor irá se materializar em sua sala, na sua frente!

CONCLUSÃO

Em uma data tão importante, os engenheiros da Cambridge não só aceitaram o desafio como conseguiram dar vida à uma série que faz jus ao legado de seu fundador.

Aos consumidores dos produtos da Cambridge, que são muitos espalhados em todos os continentes, não deixa de ser uma surpresa uma empresa que sempre objetivou atendê-los com produtos justos e com ótima performance, lançar uma linha que coloca a Cambridge em um patamar acima.

Quem irá se beneficiar são justamente os audiófilos que sempre desejaram um produto Estado da Arte a um preço mais condizente com a nova realidade mundial. Então a Cambridge Audio acertou em cheio, na minha opinião, pois consegue com méritos, cravar um pé no segmento mais disputado do mercado por fabricantes com longa história no áudio hi-end, com uma proposta de custo-performance muito competitiva.

Esperamos que esta estratégia não se limite apenas a uma data comemorativa e outras séries baseadas na linha Edge, que mantenha a Cambridge com um pé fincado neste patamar.

Aliado a um design impecável e uma construção e apresentação digna dos fabricantes suíços de áudio hi-end, a Cambridge Audio prestou uma bela homenagem ao seu fundador.

Se você busca uma solução hi-end Estado da Arte para o seu sistema definitivo, ouça a série Edge – suas qualidades são audíveis!

Nota: 86,5
AVMAG #254
Mediagear
(16) 3621.7699
R$ 24.316




AMPLIFICADOR MONOBLOCO AUDIO RESEARCH 160M
Fernando Andrette

Muitos me julgam um homem que gosta mais de amplificadores de estado sólido do que de tubos incandescentes! E como diria meu pai: “depois que uma imagem gruda, é pior do que chiclete em sola de sapato!”. Não perca tempo em tentar mudar a opinião das pessoas depois que elas já estão cristalizadas, diria uma grande amiga minha. Então não usarei as linhas deste teste tentando convencer o leitor do contrário.

Mas já tive oportunidade de mostrar exatamente o quanto aprecio topologia de tubo, ao expor no último Hi-End Show nosso Sistema de Referência composto de um par de monoblocos ATM-3 da Air Tight. E pude apreciar o ar de espanto e de incredulidade, no rosto de muitos, ao ver o Fernando Andrette utilizando válvulas em seu sistema!

Ainda assim, quando tive que me desfazer dos monoblocos, voltei a ser o homem dos amplificadores de estado sólido! Deixe estar, disse a mim mesmo, pois o grande barato de ser articulista de produtos hi-end é que um dia você está testando um amplificador de 300 Watts e no outro um power single-ended de 8 Watts! E esta dinâmica e oportunidade de escutar tantos projetos tão distintos é que faz desta profissão um deleite sem fim.

Lembro que, quando meus primos mais velhos me perguntavam o que gostaria de fazer quando adulto, eu desde muito cedo já sabia que não desejava nada que fosse feito de rotina. Ia ao banco, supermercado ou escritórios de contabilidade e ficava olhando aquelas pessoas sentadas, sempre dentro de uma rotina e aquilo me incomodava demais.

Ao crescer, entendi que meu talento estava todo direcionado para a comunicação e que poder trabalhar com algo que tivesse um desafio diário era tudo o que mais se encaixava em minhas aspirações profissionais.

A vida vai se moldando às suas habilidades, e muitas vezes quando você julga ter fechado um ciclo, definitivamente, e lá na frente ele reaparece e se encaixa como uma engrenagem na qual falta uma única peça, e bingo! Você descobre o melhor jeito de mostrar todas as suas habilidades e conhecimento.

O Fabio Storelli da German Áudio, antes de me enviar os aclamadíssimos 160M, me enviou um calhamaço de reviews, prêmios e material técnico do produto. Como todo bom descendente de italiano da gema (para quem o conhece), Storelli é uma figura adorável. De gestual intenso, frases impactantes e adjetivos expressos na medida exata de sua linha de raciocínio. Foi um bombardeio tão intenso que pensei com meus botões: vou receber o melhor power valvulado que ouvi em minha vida!

Mas como sou macaco velho e sei como cada importador atua em defesa de suas marcas, ouvi, agradeci e esperei… Foram semanas entre o bombardeio verbal e de material e a entrega pela Jamef das duas imponentes caixas com os famosos monoblocos 160M.

Quando o Storelli pegou a marca, eu o questionei se ele tinha conhecimento dos inúmeros problemas que a Audio Research havia tido no passado no Brasil? Problemas com a nossa rede, que danificavam os transformadores, causando enorme dor de cabeça aos clientes.
Ele não só estava ciente como, para assegurar a marca, teve a garantia do fabricante que os produtos importados legalmente para o Brasil sairiam de fábrica, com transformadores dimensionados para a nossa rede.

Velho é pior que São Tomé. E eu por lei agora já sou um idoso, e posso tomar a vacina de gripe, estacionar na vaga de idosos, ter preferência nos caixas dedicados aos mais velhos (alguma vantagem tinha que haver, hehe!). E, antes de testar os 160M, quis testar o integrado Audio Research VSi75, o pré Audio Research Ref 6 e o power estéreo Audio Research Ref75, e utilizá-los em condições extremas (como 16 horas ligados, por dia) e constatar que estavam aptos a variações de voltagem de 119 V a 132 V!

Conseguir este compromisso do fabricante foi realmente um gol de letra do Storelli!

Ainda que as embalagens sejam gigantes, os amplificadores mono são fáceis de manobrar e instalar. Precisam de uma segunda ajuda, mas são instalados sem sofrimentos físicos como: dor nas costas, agravamento de hérnia de disco, etc.

Com a minha mão direita ainda imprestável, lá foi meu filho e o Willian, nosso funcionário, desembalar e deixar os 160M em condições para eu instalar as válvulas, fazer as ligações e colocá-los para funcionar. Como já havia instalado as KT150 no power estéreo e no integrado, foi pêra doce refazer este mesmo procedimento.

Muitos leitores apaixonados por válvula me perguntaram se as KT150 são tudo isto que o mundo vem escrevendo? Sim, tive a mesma constatação, mas deixo para a própria Audio Research responder a razão de estar, em todos os seus novos projetos, usando as KT150.

“Sonicamente gostamos muito do que essas novas válvulas fazem. São mais dinâmicas, tem uma textura mais refinada, fornecem mais informação, um palco mais correto, melhora significativa na ambiência, e autoridade na condução das caixas acústicas. Duram mais tempo, passando das 2000 horas das antigas KTs para 3000 horas (alguns outros fabricantes como a Octave e Jadis falam em torno de 4000 horas).”

Essas são as observações do fabricante. As minhas vão um pouco mais longe, pois acho que mesmo as EL34 (válvulas que adoro a timbragem e a maneira com que trabalham a dinâmica) não são páreo para as KT150. Trata-se de uma evolução consistente dos tubos há muito tempo sem um upgrade tão significativo!

Alguém no fundo da sala gritou, já com a jugular inchada: “Peraí, e as válvulas da KR?”. Sim, meu amigo, elas também entram no hall da evolução das válvulas, mas não são comercializadas para o uso de produtos concorrentes. Estou falando de válvulas em produção em massa, para uso de quem queira! As KT150 vieram para revolucionar o mercado e dar uma chacoalhada na mesmice.

Os Reference 160M são bonitos de se ver e apreciar os detalhes. No painel frontal há quatro botões: Power, Meter Light, Tube Monitor e Ultralinear/Triode. Quando você liga o power, um LED verde ficará piscando até que as quatro válvulas estejam todas estabilizadas, e o amplificador esteja pronto para trabalhar.

Mas o que é realmente deslumbrante nos 160M é o painel frontal, com duas placas de acrílico e entre elas o medidor de energia iluminado (VU). Você tem a visão deste VU a metros de distância (é de longe o VU mais original e vistoso de todos que já vi, tive ou testei!). O terceiro botão, quando pressionado, mostra se todas as válvulas estão ajustadas, iluminando um led verde para cada válvula. Assim o usuário pode se certificar sempre se tudo está ok com as quatro KT150.

O segundo botão é para o usuário regular a intensidade de luz do VU, em três níveis de iluminação ou desligado. E o quarto botão alterna entre os modos Ultralinear (150 W por canal) ou Triode (75 W por canal). No Ultralinear o LED é verde e no Triode o LED passa para azul.

Nas costas dos 160M temos, à esquerda, a tomada IEC de 20 Amperes, fusivel, uma pequena janela com um relógio que indica o tempo de uso do equipamento (ótimo para você monitorar o tempo de vida das válvulas), pequenas chaves acima desta janela do relógio para determinar a velocidade do ventilador de resfriamento (alta ou baixa – utilizei o tempo todo a baixa e não foi, em nenhuma circunstância, audível, nem na calada da noite. Já em ‘alta’ o ventilador era bem audível nas passagens em pianíssimo).

A outra chave ativa o desligamento automático (após 2 horas sem sinal), e a terceira chave alterna entre XLR ou RCA. Ao centro temos as duas opções de entrada (XLR e RCA) e mais à direita os terminais de caixa para 4, 8 ou 16 ohms. O fabricante indica de 400 a 600 horas de queima, antes de estar à plena performance.

Mas, aviso aos apressados que tiverem o gosto de escolher esses monoblocos para passar o resto de suas vidas escutando música de maneira avassaladora, que com 100 horas eles já lhes proporcionarão muitas e muitas noites acordados!

Para o teste, tivemos um arsenal de bons produtos – esses também em teste. Fontes digitais: dCS Scarlatti, dCS Vivaldi (DAC, Upsampler e Clock) e MSB Select (DAC e Fonte). Cabos digitais: Transparent Reference XL, Crystal Cables Absolute Dream. Cabos de força:
Sunrise Lab Quintessence, Kubala Sosna Elation e Emotion, Transparent Opus G5 e PowerLink MM2. Cabos de interconexão: Sunrise Lab Quintessence (XLR e RCA), Sax Soul Ágata 2 e Transparent Opus G5. Pré-amplificadores: Dan D’Agostino Momentum e Audio Research Ref 6. Caixas Acústicas: Revel Performa3 M105, DeVore Orangutan 0/96, e Kharma Exquisite Midi. Cabos de caixa: Nordost Tyr 2 e Sunrise Lab Quintessence.

Os Reference 160M são os powers valvulados mais silenciosos que já escutei na vida. Sendo muito mais silenciosos que inúmeros amplificadores top de estado sólido. Esta foi minha primeira anotação, nas primeiras impressões que observei.

Zero, com apenas 5 horas de uso, esta característica já se mostrou tão evidente que, com o passar dos dias, a cada nova subida de patamar, lá estava a constatação do quanto este silêncio de fundo contribuiria para a performance geral dos Reference 160M.

Com 50 horas de uso, outra característica se apresentou: texturas tão realistas e palpáveis que nos levou, com poucas horas ouvindo os melhores exemplos deste quesito, à constatação de ser o amplificador com as texturas mais impressionantes que já escutamos! Passei das 50 horas de queima às 110 horas só ouvindo gravações que pudessem realçar esta beleza na forma e no conteúdo de apresentar texturas. A sensação é um misto do ouvinte atento a poucos metros dos instrumentos e da perspectiva do microfone. Você chega ao requinte de ‘ver’ a intencionalidade, o cuidado, a técnica e a qualidade do instrumento! Tudo é explicitamente revelado, mas sem luz adicional ou nenhum tipo de coloração adicional. Você literalmente vê o que está a ouvir!

Foram 60 horas inesquecíveis, escutando quartetos de cordas, cello e piano, violino ou viola e cravo, peças só com percussões em que era possível ver a tensão das peles, o movimento ondular das peles após a batida, seus decaimentos, as sutis variações dos arcos em pianíssimos nas obras de Paganini ou nos quartetos de Mozart, Beethoven ou de Schuman. Audições inesquecíveis que encheram uma dezena de páginas de meu caderno pessoal de anotações.

Sabe aquela sensação de: ‘vivi para ouvir isto!’ – pois foram assim as noites em que convivi com os Reference 160M!

Com 150 horas, os monoblocos dão a nítida sensação de estarem acordando nas pontas, com os graves ganhando corpo, consistência e energia. E, no outro extremo, os agudos, também se encorpam, ganham maior extensão e arejamento. Era o sinal que precisava para começar a ouvir obras sinfônicas, como a Sinfonia Fantástica de Berlioz e a Sagração da Primavera de Stravinsky.

Os 160M não se fazem de rogados, vão logo colocando suas fichas na mesa e, como um jogador habilidoso, dando as cartas e mostrando a que vieram.

As três caixas se sentiram confortáveis. Sendo que o casamento entre os monoblocos e a Kharma foi magistral! Elas se dão muito bem com qualquer topologia, mas se mostram inteiramente à vontade com pares que as direcione com total autoridade.

Foi a deixa para dar mais um passo e escutar órgão de tubo! Que presença, que energia impressionante nas baixas frequências fundamentais em termos de sustentação, inteligibilidade e corpo! UAU! Rendido por tamanho grau de precisão e autoridade, dei-me por satisfeito e comecei a escutar os exemplos de cada quesito de nossa metodologia.

O vídeo que produzimos dará uma pálida ideia do que os 160M são capazes de aprontar – mas, com um bom fone, valerá a pena ouvir. Ele foi feito com 200 horas de amaciamento, a metade do que o fabricante indica. Mas esses monoblocos já tocam tão bem com 200 horas, que brinquei com um amigo meu que dali para a frente é só bônus! Eles irão mudar com as 400 horas de uso, sim, mas as mudanças serão pontuais, como foram no integrado e no estéreo!

O que mais mudará será o soundstage, com um palco mais largo, mais profundo, mais alto, e maior silêncio entre os instrumentos. Eis aí novamente o mote, das primeiras impressões: seu silêncio de fundo. É tão magistral que a sensação que o ouvinte têm, e que o seu cérebro percebe, é que o som brota daquele silêncio. E com tamanha desenvoltura e naturalidade, que o grau de relaxamento do ouvinte é instantâneo!

Não precisa da música certa ou apropriada. Pode ser qualquer gênero musical (desde que minimamente bem gravado) para (mesmo o audiófilo não experiente) perceber que aquela audição será feita com realismo, naturalidade e conforto auditivo pleno! Espanta, aos menos familiarizados com este tipo de topologia, a velocidade (transientes) dos Reference 160M.

Tempo e ritmo são peculiarmente muito precisos, a ponto de, em algumas passagens, ficarmos na dúvida como ele resolveu tão bem aquela passagem tão complexa (Al di Meola tem inúmeras gravações que nos mostram como é difícil acompanhar certas passagens se os transientes não estiverem corretos e precisos).

A cada quesito avaliado, a pilha de discos ultrapassava e muito o número que costumamos utilizar, pois tínhamos o desejo de descobrir como este power resolveria cada um. Quando chegou a vez da avaliação de dinâmica, já sabíamos que na micro os Reference 160M, graças à seu magistral silêncio de fundo, não teriam a menor dificuldade, passando como trator em todos os nossos exemplos. E na macro-dinâmica, como se comportariam? Pegamos pesado, acredite, e os Reference 160M não tiveram nenhuma dificuldade em resolver nenhuma passagem.

Alguns reviews falam na falta daquele ‘folego final’ de um corredor de maratona nos 100 metros finais, o sprint – aquela sustentação na última oitava que nos faz pular na cadeira. Concordo que ele não tem este ‘pingo’ a mais que os melhores powers estado sólido têm.

Em compensação, ele consegue surpreender, fazendo deste obstáculo um trampolim para uma passagem mais harmoniosa e inteligível como, por exemplo, o gran finale da Nona de Beethoven, em que muitas vezes se escuta uma enorme energia final, mas tudo parece ter passado por um moedor de carne.

Do começo ao fim, independente do grau de variação dinâmica, o que esses monoblocos proporcionam é um grau de inteligibilidade absurdo (eis aí, novamente, o resultado de seu silêncio de fundo). E, convenhamos, sustos com macro-dinâmica em reprodução eletrônica é como piada: funciona bem só na primeira vez! Depois que já conhecemos, o que mais será desejado é que a obra que ouvimos possa ser acompanhada detalhadamente da capo ao fim.

Meu pai dizia: “deixe a pirotecnia seduzir aos jovens audiófilos, e aos experientes o refinamento e a musicalidade”! Os Reference 160M atendem ao segundo grupo e não ao primeiro. Mas, sempre haverá tempo e razão para mostrar que os equipamentos que sobrevivem na audiófila e fazem história são aqueles que não desejam reinventar a roda e sim aprimorá-la.

CONCLUSÃO

Engana-se o que achar que os Reference 160M ganharam tantos prêmios pelo conjunto da marca, por estarem há meio século no mercado. Os 160M estão inaugurando uma nova etapa deste conceituado fabricante de áudio.

Não deitou louros, pelo contrário: utilizou de toda o sua expertise e história para avançar e apresentar um amplificador de características surpreendentes e que mantém o que melhor a topologia de válvulas oferece há anos, e apresenta evoluções onde a válvula tinha maior dificuldade de ser aprimorada. Conseguir este equilíbrio tão buscado e desejado é um mérito que entrará para a galeria de feitos deste fabricante.

Se você sempre desejou ter um amplificador valvulado por todos os seus atributos sônicos, porém sempre teve algum tipo de restrição, esqueça meu amigo. Pois os Reference 160M vieram para mudar esta regra definitivamente.

Um power com todos os atributos desejáveis por todas as qualidades desejáveis! Se você pode ir para um power neste patamar de refinamento, não perca seu tempo procurando em outras paragens!

Nota: 102,0
AVMAG #251
German Audio
contato@germanaudio.com.br
R$ 198.000




NAGRA CLASSIC AMP ESTÉREO/MONO
Fernando Andrette

O teste com o Nagra Classic AMP foi feito em duas etapas: primeiro em modo estéreo e, posteriormente, em modo mono. Então, na conclusão final, haverão duas pontuações separadas, para que o leitor possa ter uma ideia exata de nossas observações em ambas as situações de uso.

Muitos leitores que assistiram os últimos vídeos da caixa Wilson Sasha DAW e do pré da Nagra HD, perceberam que ambos já haviam sido feitos com o power Nagra Classic AMP em modo mono, levando à um número grande de dúvidas – por isto, esta abertura do teste com as devidas explicações.

A série Classic, ao contrário do que muitos que acompanham a marca deduziram, não é anterior a linha HD (os amplificadores top de linha deste fabricante suíço), e sim derivada da HD. Com o conhecimento e a performance atingidos com os power HD (este sim apenas em versão mono), os engenheiros da Nagra perceberam que poderiam aplicar toda esta nova topologia em um modelo mais acessível ao mercado.

Como escrevi no teste do pré HD, a Nagra goza de enorme reputação no mundo do áudio, desde sua fundação em 1951 com seu primeiro gravador de rolo portátil para gravações de áudio externas. É, ainda hoje, uma referência em captação de áudio em ambientes abertos e são usados tanto pela indústria cinematográfica como por inúmeros ornitólogos (estudiosos de pássaros).

Minha paixão pela marca remonta aos anos 70, quando trabalhei como sonoplasta em uma peça de teatro e o diretor possuía um Nagra que levava à tiracolo para todos os lugares. Ele usava para gravar os ensaios da peça, e depois mostrar aos atores a entonação que ele desejava do personagem. Ficava eu ali sentado escutando as falas reproduzidas e impressionado com a fidelidade e a qualidade de captação, mesmo com os atores no palco e ele sentado na plateia. Impressionante a robustez mecânica e a precisão dos comandos de um gravador de rolo fabricado em 1964 e que não tinha jamais visto qualquer tipo de manutenção!

Em 1996, a Nagra desenvolveu seu primeiro produto de áudio hi-end, aplicando a expertise do áudio profissional em soluções inovadoras para este novo nicho de mercado. Ainda hoje suas oficinas de fabricação de áudio profissional e do hi-end são compartilhadas por ambas as equipes de desenvolvimento, com o objetivo de garantir uma abordagem única na busca de soluções para a marca de forma integral.

A filosofia da Nagra continua a mesma desde sua fundação: projetos voltados para a preservação da integridade total do sinal. Os seus engenheiros buscam soluções que possibilitem manter o sinal, depois de trabalhado, o mais próximo da fonte original. Para atingir esta meta, a Nagra trabalha obviamente com as soluções racionais e comprovadamente eficientes, mas incentiva seu grupo de projetistas a ‘pensar fora da caixa’, com projetos inovadores e muitas vezes sem nenhuma relação aparente com o projeto em desenvolvimento.

Como brotam dessas ideias muitas soluções em que os fornecedores não conseguem participar, estes componentes acabam por serem desenvolvidos dentro da própria empresa. Este exercício levou a Nagra à uma expertise de mecânica e eletrônica de alta precisão, e acabamento de todos os componentes fabricados por eles, que lhes rendeu, junto ao seu público cativo, um grau de confiabilidade e robustez que pouquíssimas empresas no mercado hi-end alcançaram!

Certamente todo este esforço explica a grande fidelização e admiração que muitos possuem pela marca. Em 2012, a divisão Nagra Audio tornou-se uma empresa independente. Os filhos e filhas de Stefan Kudelski, fundador da Nagra, é que administram a empresa, sendo o CEO Pascal Mauroux (genro de Kudelski), e Marguerite Kudelski a vice-presidente.

O amplificador Nagra Classic AMP foi projetado para trabalhar com a grande maioria das caixas acústicas existentes no mercado (seja em estéreo ou mono). Ele oferece 100 Watts RMS por canal em 8 Ohms e, quando usado em ponte, 200 Watts RMS em 8 Ohms mono (a Nagra não utiliza bridge quando trabalhando em mono, e sim em paralelo, portanto a potência não dobra em 4 Ohms como os projetos em bridge). Esta potência foi considerada pelos engenheiros da Nagra como perfeitamente adequada para atender a esmagadora maioria das caixas hi-end atuais (mais adiante explorarei este assunto).

Os engenheiros da Nagra levam muito à sério a questão do ‘menos é mais’. Para eles, evitar qualquer complexidade desnecessária em seus circuitos de amplificação será sempre o primeiro passo no desenvolvimento de um novo projeto, se você objetiva a máxima transparência e fidelidade. Pois, na eletrônica, se você quiser mais potência terá que trabalhar com vários transistores, que fatalmente criam dificuldades em termos de estabilidade, fornecimento de energia, casamento entre os pares de transistores, emissão de calor e envelhecimento prematuro, etc.

Para os engenheiros envolvidos no projeto do power HD e do Classic, a abordagem central tinha que focar na questão das curvas de impedância, muitas vezes irregulares das caixas acústicas. Pois os amplificadores sofrem com essas variações abruptas de impedância, afetando a estabilidade dos circuitos. Para garantir uma condução do sinal inabalável, sob todas as circunstâncias, a fonte de alimentação deve poder reagir instantaneamente a um aumento da demanda de corrente e ainda assim manter os níveis de tensão estáveis.

A solução novamente foi encontrada ‘em casa’, com o desenvolvimento de uma fonte de alimentação que incorpora um sistema ativo de correção, batizado de PFC – Power Factor Correction.

Para muitos, ao olharem o Nagra Classic AMP, sempre virá à mente o MSA (lançado em 2009). No entanto, o Classic é muito mais que uma evolução do antigo modelo. Pois tem aproximadamente o dobro de potência do MSA, para justamente permitir uma fonte de alimentação maior, três vezes mais condensadores de filtragem e maior dissipação de calor.

E em relação a especificações técnicas o Classic possui: 400 VA fornecimento de energia (em vez de 200 VA do MSA), 141.000 uF de capacitores de desacoplamento (84.000 uF no MSA), maior extensão de trabalho em classe A (quase 50% a mais que o MSA).

NO CORAÇÃO DO CLASSIC AMP

O Classic AMP incluiu em sua montagem muito do que foi desenvolvido para o HD AMP. Uma placa-mãe na parte inferior do amplificador, para maior dissipação do calor, circuitos secundários de entrada, controle, filtragem de energia e correção do fator de potência PFC (uma placa por canal), número de conexões com fio reduzidos ao mínimo restrito, e os transistores da fonte, para serem precisamente refrigerados, são montados de cabeça para baixo nesta placa-mãe. O transformador principal é fixado acima da placa mãe em uma segunda placa de sustentação, mais grossa, e isolada para não haver nenhum um tipo de vibração.

O Classic AMP possui uma fonte de alimentação em duas etapas: uma tradicional com um transformador, diodos de retificação e condensadores de filtragem, seguido por um PFC – Power Factor Corrector (uma fonte de alimentação/comutação). Assim, a corrente elétrica é sempre mantida em tensão de fase, em uma curva sinusoidal perfeita (segundo o fabricante), sem picos de interferência. Do ponto de vista da rede, este tipo de fonte de alimentação é visto como uma resistência pura, mantendo a limpeza da corrente mesmo em situações extremas.

O Power Factor Corrector é construído de forma a não comutar fontes de alimentação. Ele é alimentado por um transformador toroidal de 400 VA que reduz o nível de tensão para se adequar ao estágio de potência (+- 47V) e do qual todas as outras tensões são derivadas. Este transformador funciona na frequência da rede elétrica, evitando gerar qualquer ruído residual.

A seção de filtragem também gerou inúmeros testes de audição em que toda a equipe envolvida no projeto participou (leia no teste do pré da Nagra HD a formação dos principais projetistas e sua relação com a música ao vivo). No final foram escolhidos capacitores de polipropileno. O circuito de entrada permite que a sensibilidade de tensão de entrada seja ajustada a 1 ou 2 V, e determine o modo em que a unidade funcionará (estéreo, paralelo ou duplo mono – em caso de bi-amplificação). Este circuito também inclui um mecanismo de detecção, encarregado de ligar a unidade assim que um sinal atinge os terminais de entrada e, para desarmar o modo, após espera de 15 minutos sem sinal. Este mecanismo atua assim que o modo automático é ativado através do seletor no painel frontal. No modo de espera, o consumo é reduzido para menos de 2 Watts.

A seção de amplificação ocupa praticamente o centro todo do gabinete, e utiliza um par de transistores tipo Mosfet montados um por canal. O Classic AMP está equipado com todas as salvaguardas necessárias para protegê-lo contra os principais problemas – utilizando um banco de sensores e circuitos de vigilância, irá detectar se está ocorrendo sobre-aquecimento ou sobrecarga no estágio de saída. Assim que uma anomalia é detectada, o circuito de controle desativa todas as entradas, desencadeando uma sequência que desliga os circuitos de energia.

Para total segurança, o Nagra também utiliza um circuito que garante que os relés só comecem a ser acionados alguns segundos depois da unidade ter sido ligada, para evitar que o ruído de comutação atinja os alto-falantes.

O circuito de controle encontra-se logo atrás do painel frontal, utiliza um microprocessador para lidar com todas as funções do power como: iniciar, parar, automático, silenciar e o sinal do modulômetro (o nome utilizado pela Nagra para o seu VU).

O gabinete do Nagra é feito totalmente de alumínio anodizado finamente escovado, dentro do rigoroso padrão da marca. O dissipador, não aparente externamente, é uma complexa placa de alumínio extraída de um bloco moído de alumínio maciço de 10 kg que fica, no final do processo, com 6 kg. Sua construção desempenha um papel fundamental na estabilização dos estágios de amplificação: ao atuar como um espaço de armazenamento de energia para que os transistores possam liberar sua capacidade de pico sem temer um aumento repentino de temperatura.

O painel frontal utiliza uma placa de alumínio de 11 mm de espessura, também usinada a partir de um bloco sólido, enquanto os lados e o painel traseiro são feitos de folhas dobradas.

No painel frontal temos, da esquerda para a direita: o modulômetro que apresenta os níveis de saída de potência do amplificador e um interruptor de alternância da intensidade de iluminação do VU. Depois temos um pequeno led bicolor laranja ou vermelho que atua como ‘sentinela’ se os estágios de energia atingirem saturação. E, na outra ponta: do lado direito temos o seletor rotativo para ligar e desligar, ativar modos manual ou automático, e mute.

No painel traseiro temos, da direita para esquerda: tomada IEC, caixa de suporte de fusível, terminais de caixas da Cardas (versão Rhodium) e duplos terminais de caixa tipo banana, também para serem usados para acomodar o jumper de ponte paralela para uso em mono. Na seção input estão disponíveis conectores XLR e RCA, ajuste por chave de sensibilidade de 1 ou 2 V RMS, e chaves para seleção de modo estéreo, normal, ponte ou bi-amplicação (mono duplo). A seção remota permite, no modo automático, que os amplificadores estejam interligados a um sistema de automação (cabo jack de 3,5 mm).

O Classic AMP trabalha em classe AB, com passagem estendida em classe A na maior parte do tempo (no entanto a Nagra não específica até que potência o amplificador opera em pura classe A).

O Classic AMP é muito menor do que as fotos podem mostrar. Seu tamanho é de 17,4 cm de altura, 27,7 cm de largura e 39,5 cm de profundidade, e seu peso é de apenas 18 kg. Mas não se iluda, meu amigo, pois debaixo deste ‘pequeno capô’ tem uma energia e uma beleza descomunal! Diria que a Nagra é uma das empresas deste mercado que mais levaram adiante a questão do “menos é mais”.

Basta olhar cuidadosamente as fotos internas deste amplificador, para até um leigo observar como a sua construção é limpa, simplificada e sem excesso de componentes. Perto do nosso amplificador de referência, o Hegel H30, o Classic AMP não deve ter um décimo dos componentes utilizados pelo fabricante norueguês. Estão, literalmente, em posições diametralmente opostas de como chegar lá em termos de alta-fidelidade.

Por isso o hi-end é tão eclético, pois as diversas correntes, ainda que se ‘cruzem’, são muito distintas, como água e óleo. Capazes de ocupar o mesmo espaço, porém sem nunca se misturarem. Sempre adorei esta diversidade, desde muito jovem, quando passei a conviver com os sistemas dos clientes do meu pai, que soavam de forma tão diferente com as mesmas músicas.

Às vezes o que mudava era um único componente, como a caixa, ou a cápsula do toca-discos, ou o amplificador, mas a reprodução era tão diferente que me fazia questionar se não existiriam ‘versões’ da mesma música. São memórias dos meus 8 a 10 anos de idade, mas que ainda hoje voltam à tona quando tenho à minha frente, para uma comparação, dois produtos Estado da Arte que seguiram por caminhos distintos, para alcançar o mesmo objetivo (a maior fidelidade possível).

Recebemos o Classic AMP juntamente com o Nagra Pré HD, mas como o pré tínhamos um prazo de apenas 3 semanas antes de ser entregue ao seu dono, tratamos de amaciá-lo e, depois das 100 horas iniciais, ligamos ele diretamente em nosso Sistema de Referência – enquanto o Classic AMP iniciava seu amaciamento. Dois dias depois, chegou o segundo Classic AMP, aí deixamos ambos amaciando e passamos a ouvir o Pré HD exclusivamente ligado no Hegel H30.

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Prés: Nagra HD e Dan D’Agostino Momentum. Fonte digital: dCS Scarlatti. Fonte Analógica: pré de phono Boulder 500, toca-discos Acoustic Signature Storm MkII com cápsula Soundsmith Hyperion 2. Caixas Acústicas: Wilson Audio Yvette e Sasha DAW, Boenicke W8 e Rockport Avior II.

Cabos de interconexão: Dynamique Audio Halo 2 RCA e XLR, e Dynamique Apex XLR, Sunrise Lab Quintessence (XLR) e Sax Soul Ágata 2 (XLR). Cabos de caixa: Dynamique Halo 2 e Sunrise Lab Quintessence. Cabos de força: Sunrise Quintessence, Transparent PowerLink MM2 e Dynamique Halo 2.

Só conseguimos utilizar os Classic AMP na última semana de teste do Pré HD da Nagra (quando ambos já estavam com aproximadamente 280 horas de queima). Primeiro o escutamos em estéreo, substituindo o nosso power H30. Foi possível observar, em modo estéreo, um maior refinamento no invólucro harmônico, maior silêncio entre as notas, um arejamento muito maior e mais realista na apresentação de ambiências. Melhor recorte, foco e planos, mas sobretudo um Equilíbrio Tonal mais natural e verossímil.

O que o Nagra Classic AMP em estéreo perdeu para o H30 foi em relação ao deslocamento de ar e a energia na macrodinâmica mais complexa. Ainda assim, nos chamou muito a atenção o fato de que apenas com 100 watts por canal, jamais conseguimos acender o LED laranja que indica que o amplificador está chegando no seu ponto de saturação de potência (isto com ambas as caixas da Wilson Audio e com a Rockport). Nos outros quesitos, como corpo, textura, transientes, organicidade e musicalidade, o Classic AMP se mostrou superior ao Hegel H30, não com enorme vantagem, mas tudo mais organizado e com melhor conforto auditivo.

Como sabíamos que corríamos contra o tempo, e precisava fazer todas as anotações possíveis e responder todas as dúvidas, colocamos o segundo power para ouvi-los em mono e ver o que ocorreria.

Foi um salto quântico!

Pois aquela energia a mais, que era a única coisa que faltava ao modo em estéreo, veio com tamanha volúpia e autoridade e folga que nos deixou perplexo! Ampliando ainda mais a distância para o nosso power de referência.

Interessante poder observar tão precisamente o quanto um amplificador parece estar sempre ‘em alerta’ para não ser pego de surpresa, enquanto o outro mantém-se sempre atento, mas ‘relaxado’, apenas esperando para ser exigido. Este foi o caso do Hegel e os Nagras em modo mono. A sensação é que o Hegel, como um excelente cão de guarda, não relaxa nunca, estando sempre pronto para responder a uma ‘surpresa’. Já o Nagra se comporta de forma totalmente oposta, fazendo o serviço com tamanha folga e precisão, que você chega a duvidar que ele reproduziu aquela complexa variação dinâmica com o mesmo desempenho que o Hegel. Esta dúvida, no entanto, só dura alguns preciosos segundos, pois seu cérebro te informa que, além de ter conseguido uma inteligibilidade muito maior, seu esforço para acompanhar foi zero.

E quando você descobre que consegue ouvir mais, com menor esforço e ainda pode até abusar um bocadinho mais no volume (se a gravação permitir, é claro), meu amigo você está em sério apuro. Pois seu padrão de referência e exigência acabou de mudar de patamar.

Pois bem, quem ainda não leu o teste do pré da Nagra o HD, sugiro a leitura, para que possa entender o grau de sinergia entre ambos e como o pré da Nagra foi essencial para podermos fechar a nota do Classic AMP em estéreo e mono. Pois, sem ele, teríamos algumas dificuldades. Pois ao voltar ao nosso pré de referência, as observações tão nítidas como a luz do sol do meio dia, já ficaram um pouco mais ‘crepusculares’.

Para os nossos novos leitores é sempre bom lembrar: nos produtos Estado da Arte, 3 pontos para cima, são como subir consistentemente um degrau acima. Agora imagine 10 pontos acima, como foi o caso do pré da Nagra em relação ao nosso pré de referência? São três degraus a mais! Então, certamente, sem a ajuda deste pré nossa tarefa em desvendar todos o potencial deste power Nagra seria muito mais árdua.

VOLTANDO AO NOSSO PRÉ DE REFERÊNCIA

Com os Classic AMP totalmente amaciados (300 horas), voltamos a ouvir primeiro em estéreo, e depois novamente em mono, comparando com o nosso power de referência. As observações feitas com o nosso pré de referência se mantiveram. Maior refinamento e naturalidade em todos os quesitos da Metodologia, exceto na macrodinâmica, em que o Hegel se mostrou mais convincente em termos de energia (não de inteligibilidade e conforto auditivo).

E quando ligado em modo mono, as diferenças também deram um salto em relação ao estéreo e ao Hegel H30.

O equilíbrio tonal é exuberante, de ponta a ponta. Imediatamente você faz uma associação com o que se escuta ao vivo, a três metros de distância.

O que mais me encanta na assinatura sônica dos produtos da Nagra que testamos, é que mesmo em gravações tecnicamente limitadas, o grau de naturalidade ainda está presente.

Escutei propositalmente uma dezena de CDs tipo ‘the best of’, e no meio daquele excesso de equalização e compressão, ainda é possível notar nuances que em outros sistemas não estão mais presentes. Essas coletâneas, como são extraídas de vários discos, fatalmente estão repletas de gravações muito desniveladas tecnicamente (principalmente se for a coletânea de artistas com uma longa carreira de sucesso), fazendo com que o ouvinte pule muitas das faixas mais inaudíveis. No conjunto Nagra foi possível ouvir todos esses ‘caça-níqueis’ na íntegra. E no conjunto Classic AMP com Dan D’Agostino, quase todos.

Não existe excesso em nenhuma frequência, nada de pirotecnia ou reforço. Tudo é tão exemplarmente harmonioso, que o ouvinte pode desfrutar com o mesmo prazer audições com o volume bem reduzido, que ainda assim ele escutará tudo com peso, corpo e presença.

Seu soundstage só posso dizer ser o mais próximo do 3D que já escutei. Os planos são precisos, colocando os naipes de uma orquestra enfileirados um após o outro como vemos em um espetáculo ao vivo. É possível escutar os naipes de percussão e os metais como trompa e trombone soando para muito além da parede atrás das caixas. Tudo com enorme arejamento, sem nunca ter a sensação de que os músicos estão amontoados dentro de um elevador.

O foco e recorte são tão corretos, que se materializam como se em cima de cada solista estivéssemos iluminando. E não falo de gravações de referência audiófila, falo de gravações normais de selos comerciais como Naxos, London, EMI, etc. Tudo é ampliado, fazendo com que a sua sala de audição, como em um passe de mágica, coloque abaixo as paredes!

As texturas meu amigo, as texturas! O que dizer delas, depois de escutar esses Nagras. Ouvimos as características inatas de cada instrumento em conjunto com todas as intencionalidades, como se estivéssemos ali ao lado do músico, e ele pedindo a nossa opinião sobre a qualidade do seu instrumento e sua sonoridade. Confesso que, nos 23 anos da revista, jamais havia testado uma eletrônica capaz de nos proporcionar este grau de fidelidade na apresentação deste quesito. Pois não soa como válvula e nem tampouco como transistor. Soa como o instrumento real à sua frente.

O mesmo ocorre com a apresentação dos transientes. Sua precisão e domínio de tempo e ritmo nos leva a nos perguntar como é possível termos inúmeras gravações para a avaliação deste quesito (algumas feitas por nós) e ainda assim observar detalhes em termos de precisão e ataque nunca antes notados? “Nos Nagras, a sensação é que os músicos estão em sua melhor performance sempre!” – essa foi a definição de um amigo baterista ao ouvir dois solos que ele sempre traz como sua referência pessoal do instrumento. E tenho que concordar com ele!

Em modo estéreo, a macrodinâmica está, como já disse, um degrau abaixo do modo mono, mas nada que desabone ou comprometa. Pois se o ouvinte ficar atento, verá que ainda que não tenha aquele chute no peito ou coice, como queiram, a forma com que ele trabalha esta variação e a forma com que ele entrega esta passagem é de uma inteligibilidade impressionante! Então é uma questão também de ponderar o que é mais interessante: sentir o ‘coice’ ou entender o ‘coice’?

Cada um tem sua preferência. Eu, na idade que me encontro, prefiro entender o ‘coice’, pois já passei há muito tempo de qualquer pirotecnia auditiva. Mas fica aqui a observação para que o leitor entenda de maneira clara esta menor pressão sonora na macrodinâmica do Nagra em estéreo.

Já em mono, você sente o coice e entende o coice. Ou seja, tens em mão o melhor dos dois mundos! Se assim o quiseres é claro! O detalhe é que, na macro, o conforto e a folga auditiva são tão impressionantes que se você se não estiver acostumado com esta nova geração de powers Estado da Arte, que possuem esta qualidade, certamente estranhará um pouco. Mas depois que se acostumar e entender que esta folga é altamente benéfica para audições prolongadas e de zero fadiga auditiva, você também será fã de carteirinha, te garanto.

O corpo harmônico consegue lhe mostrar de maneira fidedigna todo o esforço que o engenheiro de gravação fez na escolha do microfone e no posicionamento deste em relação ao músico. E se o trabalho foi bem feito: você terá o músico com o seu instrumento em sua sala, no tamanho real do instrumento e até a altura certa do instrumentista. Se o cantor estava em pé, sentado em um banquinho, o corpo exato do flautim, do violino, da viola, do cello, do piano, da trompa, etc, etc. Seu cérebro, como criança em uma festa surpresa em que se pode pegar o que quiser na loja de brinquedos, irá ficar exultante. Pois nunca desfrutou de uma audição em que os corpos dos instrumentos fossem tão precisos e reais! O problema é que seu cérebro ficará totalmente viciado nessa mordomia e mimos sonoros, que será doloroso fazer o caminho de volta à realidade.

Então, meu amigo, todo cuidado é pouco ao ouvir estes powers (seja em estéreo ou mono). Junte todos os quesitos até aqui descritos de nossa Metodologia e vá para os últimos dois: Organicidade (materialização física do acontecimento musical) e Musicalidade. Acredito que todos já terão uma ‘vaga’ ideia do que o Classic AMP é capaz de nos proporcionar nestes dois quesitos, que muitos consideram ser a cereja do bolo! A materialização do acontecimento musical neste Nagra pode se dar de duas formas: os músicos virem à sua sala, ou você ser teletransportado para o local da gravação. Estas duas possibilidades só dependerão da caixa que estiver ligada a ele. Se for a Boenicke W8 (o teste será publicado na edição Melhores do Ano, em janeiro próximo), você será teletransportado. Se sua caixa for uma Wilson ou a Rockport, os músicos virão até sua sala! Tamanho o grau de capacidade que este power tem de materializar o acontecimento musical a nossa frente!

E a musicalidade também só dependerá dos pares em termos de fonte e pré. Queres um som mais quente e sedoso, veja suas melhores opções em termos de fonte e pré. Queres maior transparência, só definir os que possuem esta mesma assinatura. Eles se adaptam perfeitamente a qualquer uma dessas opções, ao gosto do freguês.

CONCLUSÃO

Este não é o amplificador que levará a maior pontuação na história da revista, mas certamente foi o que mais nos impressionou pelo seu desempenho, versatilidade e compatibilidade. Seja em estéreo ou em mono, sua performance está certamente entre os melhores powers de última geração Estado da Arte feitos nesta segunda década do século 21.

E ainda que seja muito caro para os padrões da nossa realidade (com o dólar acima dos 4 reais), ele em modo estéreo atenderá a 90% dos audiófilos que almejam ter um power deste conceituado fabricante suíço.

Para os que possuem como referência a música ao vivo não amplificada, não consigo pensar em muitas outras opções tão excelentes quanto este Nagra. Se é o que você tanto procura para fechar seu ciclo definitivo de upgrades em termos de powers, ouça-o. Não tem como se decepcionar com tamanho grau de performance absoluta (principalmente se houver a possibilidade de uso em mono).

NAGRA CLASSIC AMP ESTÉREONota: 100,0
NAGRA CLASSIC AMP MONONota: 104,0
AVMAG #258
German Audio
contato@germanaudio.com.br
Estéreo: R$ 117.000
Monoblocos: R$ 234.000

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