A KW Hifi, importadora de produtos para áudio hi-end, traz para o Brasil mais uma grande marca de peso e de enorme prestígio mundial, a Grado Labs. Uma empresa familiar com mais de 60 anos de tradição na fabricação artesanal de fones de ouvido e cápsulas fonográficas.
Nesta nova leva de importação feita pela KW HIFI veio o fone de ouvido Grado Reference RS1e, um produto icônico que teve início em 1996: o primeiro fone da Grado com corpo em madeira de mogno tratado. A escolha do mogno vai muito além da estética – as qualidades audíveis da madeira, em especial do mogno, ébano, e do jacarandá baiano são bastante conhecidas no meio musical, pois são utilizadas em instrumentos musicais até hoje! E mesmo com tanta tecnologia, nenhuma conseguiu produzir um material artificial que emulasse suas características sônicas de maneira convincente. Alguns clarinetes, por exemplo, utilizam o ABS (Grafotnite) como uma alternativa economicamente viável ao ébano, mas a diferença no timbre é gritante! Temos no Brasil um fabricante de acessórios hi-end que utiliza jacarandá em seus produtos. Temos racks, tomadeiros e uma infinidade de desacopladores para toca-discos, fontes e amplificadores, feitos de madeira. Todos em algum grau alteram o equilíbrio tonal, para melhor ou para pior, e isto vai depender muito da abordagem do fabricante. No caso da Grado, a escolha foi muito bem-sucedida, pois trouxe ao conjunto RS1 um calor nos timbres e tamanho do corpo harmônico essenciais para um fone de referência.
A série Reference vem evoluindo com o passar dos anos, e a versão ‘e’ trouxe melhorias estéticas e funcionais muito interessantes, como o mogno mais claro que o utilizado no fone anterior, combinando melhor com as cores das roupas, etc, e um processo de cura da madeira melhorado que trouxe mais equilíbrio entre as frequências. Com isto, ganhou-se um deslocamento de ar mais natural nos graves, as transições entre as frequências ficaram mais suaves e os timbres mais reais, principalmente no médio-grave, o que ajudou muito a conseguir um equilíbrio tonal ainda mais correto.
Os drivers do tipo dinâmico de 50mm utilizam bobinas de cobre de alta pureza, com uma tolerância máxima entre eles de 0,5 dB, o que é extremamente baixo para um produto feito à mão! A impedância é de 32 Ohms a 1 kHz, e a sensibilidade de 98 dB, o que é maravilhoso para ouvir com smartphones e notebook.
O cabo que liga os drivers possui 8 filamentos de cobre puro OFC, da própria Grado. O cabo em Y tem comprimento aproximado de 2 metros e terminação P2 3,5 mm, e também é fornecido mais um cabo extra com terminação fêmea/macho de aproximadamente 4 metros e um adaptador P2/P10.
Para maior conforto, o RS1e possui espuma injetada que se molda perfeitamente ao ouvido, e o descanso de cabeça em couro flexível, muito tradicional nos headphones da marca, ajuda no conforto e no estilo também, além de ser muito durável. Os ajustadores de altura em metal permitem que o fone gire em 360 graus com muita facilidade. O fone é muito leve, aproximadamente 250 gramas, muito bom para longas audições.
Para o teste utilizamos os seguintes produtos.Fonte: CD-Player Luxman D06. Amplificadores para fones de ouvido: HIFIMAN EF2C e Micromega Myzic. Cabo de interligação: Sunrise Lab Quintessence Magic Scope RCA, e Sax Soul Zafira III. Cabo de força: Sunrise Lab Reference Magic Scope (para o Micromega).
O fone de ouvido Grado RS1e chegou novinho, e rapidamente o colocamos para amaciar por aproximadamente 60 horas. Suas primeiras horas de audição são bastante gostosas de acompanhar, a região média não soa áspera nem demasiado frontal. Os extremos, como sempre, têm pouca extensão, mas a pegada no grave está lá nos dando uma idéia do que o amaciamento ainda esconde. Após as 60 horas, o fone era outro, o equilíbrio tonal ficou ótimo! Tudo em seu devido lugar, a região média recuou, os graves agora tinham mais harmônicos e mais extensão. As vozes ainda eram o ponto alto do fone, e sua autoridade ao lidar com passagens complexas agora estava ainda maior!
Então começamos a diversão pelo disco da Dianne Reeves, Bridges, faixa 4. Nesta faixa o silêncio de fundo apresentado pelo Grado RS1e é simplesmente maravilhoso. A percussão se mostra delicada, mas com bastante intencionalidade, as batidas são firmes e no tempo preciso. A voz dela brota de uma escuridão de tirar o fôlego, e a cada palavra ouve-se o engolir de saliva com uma clareza e sutileza que causa espanto. Os timbres das peles batidas com feltro, do contrabaixo que anuncia o violão perfeitamente digitado, quase nos leva ao êxtase auditivo, e quando o piano entra, então somos arrebatados de vez! Toda a exuberância da música é apresentada pelo RS1e de uma maneira calma e progressiva, mostrando o quão azeitados os músicos estavam no momento da gravação. Como diz o Fernando, “era a boa” e o Grado soube nos mostrar isso sem deixar margens para dúvida.
Seu som é quente na medida, sem soar ‘valvulado’ demais, claro, limpo e inteligível sem o risco de soar frio ou analítico principalmente em gravações comprimidas. Ele nos mostra o que há na gravação, ao mesmo tempo em que consegue fazer concessões em músicas mal gravadas – dentro de um limite, claro.
O palco sonoro é muito bom, mas não tão bom quanto o restante dos quesitos. Por exemplo: no disco do Lalo Schifrin, Jazz Meets The Symphony, faixa 4, os contrabaixos ficam quase na porta do quintal no canto direito, com o Grado RS1e eles ficam quase no meio da cozinha, ou seja, é muito bom, mas não é excepcional como é o caso das extensões e corpo nas altas, texturas de cima a baixo. Nestes quesitos, ele é irrepreensível. A caixa da bateria com vassourinha é soberba, os ataques são rápidos e consistentes com a energia certa. Nada passa em branco aos nossos ouvidos, ao mesmo tempo em que nada soa pirotécnico ou desproporcional, puxando nossa atenção para uma única coisa na música, mas para o todo. Este é, sem dúvida, um fone de referência!
Com tantas surpresas boas, foi inevitável não compará-lo com o meu Sennheiser HD 700, e para o meu desespero o Grado se saiu melhor. Então pensei comigo que tenho uma última cartada: música clássica! Se ele for melhor, então danou-se. Comecei por Mahler, meu compositor favorito, mas não por suas obras mais famosas, pois ainda estava apreensivo. Comecei pelo disco Des Knaben Wunderhorn, com a regência de George Szell, selo EMI, faixa 1. Nele o Grado soou como sempre, mais imponente, controlando melhor os graves, seu silêncio de fundo trouxe os contrabaixos e tímpano em piano com um deslocamento fantástico. Em vozes, foi um verdadeiro banho: toda a potência, variação tonal e dicção do barítono Dietrich Fischer-Dieskau foi apresentada com um realismo de cair o queixo. Novamente ficou devendo em palco sonoro. Neste quesito ele é bom, mas não tão bom como eu gostaria que fosse.
Se para jazz, MPB e música clássica ele era matador, faltava ouvir um pouco de rock para me declarar oficialmente de queixo caído. Jeff Beck, disco Truth, faixas 5 e 7 – escolhi justamente por ser uma gravação de 1968 com suas belezas e imperfeições… Tem até barulho de fita mastigada ou magnetizada na música. Rod Stewart está simplesmente fantástico, sua voz rouca e potente se destaca com texturas que parecem que estamos ouvindo caixas acústicas top. Um deleite só! Não poderia deixar passar um pouco de música eletrônica também, então fui de Skrillex e Deadmau5. O equilíbrio tonal e o conforto auditivo do Grado RS1e é muito bom para ouvir música eletrônica, mesmo com toda a pressão sonora, compressões e afins, o fone transborda conforto e musicalidade. O ‘senão’ fica por conta dos graves mais profundos e em excesso neste estilo musical que o Grado não se dá tão bem. Eu não considero isto um problema – ao contrário, é uma característica que está presente em muitos dos fones de referência. Ele desce bem, só não desce cheio em todas as freqüências. Depois dos 50, 45 Hz dá uma leve emagrecida, nada que tire o prazer de ouvir este e outros estilos musicais grave-dependentes.
O fone de ouvido Grado RS1e é um fone que faz jus ao legado da marca. Suas qualidades superam qualquer expectativa sem esforço. É um fone moderno feito para audiófilos modernos com as facilidades que o mundo de hoje exige sem deteriorar o que há de mais sagrado para o amante da música: a música!
Nota: 90,5 | |
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