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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Quando testei a Boenicke W5SE, escrevi que estávamos ouvindo uma bookshelf que não se comportava como uma caixa de estante e, assombrado com sua performance, a coloquei naquela gaveta de ‘produtos especiais’ que ampliam nossa sensibilidade auditiva e nos fazem repensar uma série de ‘conceitos’.

Os anos passaram e eu me tornei um admirador do engenheiro de gravação suiço Sven Boenicke, pela sua maneira de pensar o hi-end e construir seus produtos (caixas acústicas e amplificadores). Para inúmeros leitores que fizeram sua estréia na feira de hi-end de Munique, e para os nossos parceiros comerciais, cansei de indicar: visitem a sala da Boenicke e depois me passem suas impressões.

Minha esperança era de algum importador admirar-se da performance no evento e fechar a distribuição novamente para o Brasil. E, como diz o ditado “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, que finalmente o Fábio Storelli da German Áudio se convenceu da performance da marca e oficializou sua representação para o Brasil.

E mandou de uma só fornada três modelos: a W5 (para eu matar saudades, só que agora com o seu pedestal), a W8 e a W11. Nesta edição, falaremos da W8 e, na edição de abril, publicaremos o teste da W11.

Foi um final de ano para articulista nenhum botar defeito. Tantos produtos de nível superlativo, que me senti como uma criança em uma loja de brinquedos sem nenhuma restrição orçamentária! Sugiro aos interessados a leitura do teste da W5SE na edição 211, pois lá o leitor poderá ter uma ideia cristalina do impacto que o teste daquela diminuta bookshelf me causou e ainda me causa!

Mas, finalmente, terei a honra de ouvir em simultâneo os modelos tipo torre: W8 e W11 – e compartilhar minhas impressões com o amigo leitor.

Sven Boenicke, desde que decidiu aplicar seus conhecimentos profissionais e atuar do ‘outro lado do balcão’, deixou bem claro que não iria construir caixas acústicas seguindo a receita de bolo tradicional – gabinetes de MDF ou materiais exóticos, drivers hi-end, acabamento em laca de piano, etc, etc… Seu desejo era oferecer caixas acústicas ‘únicas’ para pessoas com gosto muito definido e que, como ele, tivesse a música ao vivo como sua referência maior!

Ainda que Sven recorra a máquinas CNC para o acabamento de seus gabinetes, eles são extraídos de árvores específicas e esculpidos (com a ajuda dos roteadores CNC) para dar a aparência final de cada produto. O consumidor escolhe a árvore: nogueira, carvalho, freixo ou cerejeira.

Para chegar ao produto final, o gabinete parte de duas partes sólidas da madeira, e então ela é totalmente esculpida, criando os labirintos (que lembram uma linha de transmissão, visto em um corte lateral, mas que Sven diz ser apenas o desenho para o posicionamento de cada falante). Cada lado é idêntico ao outro, como se fosse espelhado, e depois de pronto ambos lados são colados (é possível, com um olhar atento, observar no meio de cada gabinete, o encaixe perfeito de cada lado, numa obra de marcenaria artesanal).

O interessante é que cada gabinete (dependendo da escolha da madeira), terá um peso final diferente. E ao contrário da esmagadora maioria dos fabricantes de caixas hi-end, que colocam como ‘sine qua non’ o uso de materiais inertes e sofisticados para a construção dos seus gabinetes, a Boenicke caminha na direção contrária. Coloque o seu ouvido do lado da caixa e verá ela soar, como se o ouvinte estivesse atrás da porta do local onde ocorre o acontecimento musical.

A W8 enviada para teste foi no gabinete de nogueira. Todo ouvinte, ao ver uma Boenicke ao vivo, se espantará com o seu tamanho e sua altura. Não têm nenhum ouvinte que não reaja com admiração e dúvidas se algo tão pequeno e slim, possa realmente ter uma performance tão alta. Isso me remete à situação que passei ao receber da transportadora a W5SE e duvidar com o entregador que naquela caixa, que mais parecia uma caixa de presente com meia dúzia de vinhos, tivesse um par de W5SE. Cheguei ao ridículo de fazer a transportadora esperar eu falar com o importador e confirmar que alí se encontrava um par de bookshelfs. Micos que todos passamos frente a um fato totalmente novo!

O interessante é que a reação feminina é justamente a oposta: “Nossa, que lindas!” ou “Esta eu deixaria entrar na nossa sala”. Já me acostumei com ambas reações e, felizmente para a Boenicke, basta uma audição bem feita para ambos os gêneros (masculino e feminino) se certificarem que ‘tamanho não é documento’!

Em todas as caixas de Sven, os woofers são dispostos na parte lateral (mesmo na W5SE) e todos os modelos utilizam um woofer Tang Band de 164 mm (6,5 polegadas). E está afixado bem próximo ao chão, bem próximo do pórtico que fica logo acima dos bornes de caixa.

Na parte frontal da W8, bem em cima, encontra-se abaixo o falante de médio, também da Tang Band, com cone de 70mm (4 polegadas), com um plugue arredondado no centro do cone de madeira. O crossover para este falante de médio está protegido para não receber informações do woofer, mas sem corte determinado em sua passagem para o tweeter (este é um dos grandes mistérios que a Boenicke guarda a sete chaves e não dá muitas pistas nem em seu site e muito menos na ficha técnica dos seus produtos).

O tweeter (ou como a Boenicke denomina: defletor de alta frequência) é uma unidade da Fountek F85 com cone de alumínio de 52mm e um imã de ferrite e uma bobina de cobre com 20 mm de diâmetro. A Fountek específica que o F85 responde de 300 Hz até acima de 20 kHz, funcionando como um falante full range (como é o caso da W5SE, que também utiliza este mesmo modelo).

Na parte traseira, a W8 possui um tweeter modelo Manacor DT-25N, com imã de neodímio e domo de tecido macio de seda de 25mm. Este tweeter tem a função de apenas trabalhar a ambiências das gravações e sua performance dependerá muito do posicionamento das caixas na sala, e principalmente da distância da parede atrás das caixas (falaremos mais adiante a respeito).

A rede de crossover usa somente capacitores Mundorf (no total são três por caixa). Dois indutores de núcleo de ar (espaçados o suficiente para que não haja interação magnética entre eles) e um único resistor de 10W. Nada de placa na montagem do crossover, sendo todos conectados ponto a ponto e depois colocados dentro do gabinete. Os terminais das caixas são os WBT-0703CU NextGen, afixados em uma pequena placa de metal.

Seu peso é de apenas 11 kg por caixa, o que facilita em muito o posicionamento e a troca de lado das caixas para definir se os woofers devem trabalhar para dentro ou para fora.

Quanto às especificações técnicas, o fabricante especifica que as W8 possuem sensibilidade variável de 84 a 88 dB SPL, dependendo da frequência, e que sua impedância é nominal 4 ohms. A W8 possui três versões: a Standard que recebemos para teste, a W8SE e a W8SE+. As diferenças estão somente na base das três versões, sendo que na Standard a base de alumínio é apenas encaixada em um orifício ao pé do gabinete, e nas versões mais sofisticadas a caixa fica suspensa por cabos e traquitanas (até neste quesito a Boenicke inovou, ao provar que suas caixas quando trabalham suspensas e sem contato com o chão, mudam de patamar de performance – enquanto outros fabricantes se contentam em utilizar bons spikes para diminuir a área de contato com o piso de suas caixas, a Boenicke, partiu para tirá-las totalmente do contato com o piso nos modelos SE e SE+ da W8).

Para o teste tivemos a companhia dos seguintes equipamentos. Prés de linha: Nagra Classic e Dan D’Agostino. Power: Nagra Classic. Integrados: Sunrise V8 SS (leia teste 1 nesta edição) e Nagra Classic Integrado. Fonte analógica: toca-discos Thorens TD 550 e Acoustic Signature Storm. Braço SME Series V e cápsulas: Soundsmith Hyperion 2 e Transfiguration Proteus. Pré de Phono: Boulder 500. Cabos de interconexão: Dynamique Audio Apex, Halo 2 e Zenith 2, Sax Soul Ágata2 e Sunrise Lab Quintessence RCA e XLR. Cabos de Força: Dynamique Audio Halo 2, Transparent PowerLink MM2, Sax Soul Ágata 2 e Sunrise Lab Quintessence e Ilusion. Fonte digital: sistema dCS Scarlatti. Cabos de caixa: Dynamique Halo 2 e Sunrise Lab Quintessence. Cabos digitais: Transparent Reference XL e Sunrise Lab Quintessence.

Foi uma longa espera entre o teste da W5SE e agora a retomada com a W8. E, sabendo da longa espera de amaciamento dessas caixas (o fabricante fala em 300 horas, mas pode ampliar para 400 horas tranquilamente, amigo leitor), liguei elas ao V8 SS, separei 8 discos para as primeiras impressões, certo que aquele primeiro contato acabaria em 1 hora!

Ou o fabricante andou mudando seu procedimento e fazendo um pré amaciamento, ou essas W8 são muito diferentes da W5SE. Pois os 8 discos viraram 16, que viraram 24, e as primeiras impressões se estenderam por cinco horas ininterruptas! E se não fosse pelos compromissos ainda pendentes do dia, teria tranquilamente adentrado a madrugada escutando o setup Thorens, V8 e W8!

Claro que as pontas estavam sem extensão e os graves engessados, mas a finesse da região média, que foi um dos pontos altos da W5SE, estavam ali presentes desde o primeiro acorde do primeiro disco, ainda com maior transparência, calor e beleza que na W5SE.

Fui então buscar minhas anotações pessoais da W5SE, e logo na segunda linha escrevi: “Como uma caixa tão diminuta, pode ter um corpo tão impecável e tão real?”. E uma página adiante: “Os médios me remetem a sensação que não são os músicos que aqui estão e sim, que fui transportado para a sala de gravação”.

Na W8, o corpo dos instrumentos é ainda mais realista e a sensação de ‘teletransporte’ para o local da gravação é ainda mais verossímil! Os meus críticos irão odiar o que aqui escreverei – pois se sentem desconfortáveis quando afirmo que é possível ouvir em detalhes a troca de um único cabo de um sistema bem ajustado – e possivelmente ficarão com a face ruborizada ao ouvir que caixas acústicas de alto nível podem ser separadas por dois tipos de assinatura sônica: as que trazem o acontecimento musical até nossas salas, e as que nos transportam para a sala em que a gravação ocorreu.

Minha atual caixa, a Wilson Sasha DAW, trás o acontecimento musical até a nossa Sala de Referência. A Kharma era um misto, mas ainda assim pendendo mais para trazer a gravação para a sala. A Boenicke é o oposto: nos transporta para cada sala em que a gravação foi realizada. Acho isto notável, pois não é um resultado do acaso. Isto foi pensado e planejado em detalhes, para que assim fosse.

Aprecio as duas maneiras de escutar e, se pudesse, certamente teria em minha sala as duas opções. Pois com gravações sinfônicas de obras complexas com muitos instrumentos (como a Nona de Beethoven), poder ir para a sala em que a gravação foi realizada me parece a escolha certa. Pois se for uma gravação de alto nível tecnicamente, sentir como se estivesse ali naquele momento é uma sensação psicoacústica indescritível!

Fiz esta experiência com diversas versões que possuo da Nona de Beethoven, depois da W8 plenamente amaciada, e apreciei demais o conforto, o grau de inteligibilidade e a sensação espacial de que a nossa sala simplesmente não existe.

Mas, como toda regra possui uma exceção, gravações de estúdio em multicanal (típicas dos anos 70 a 90), em que até o reverb para cada canal ficava ao gosto do engenheiro, na W8 soam estranhas, pois sem a ambiência natural da sala de gravação, aquela sensação de teletransporte não existe.

Feito este primeiro contato, a W8 foi para a sala de tortura com o integrado da Nagra, que também havia chegado na mesma semana. Foram 100 horas para voltar para uma nova audição, ainda com o V8 SS e o Thorens TD 550. Mais uma rodada de audições, com gravações de grandes salas de concerto espalhadas por toda Europa. Ainda que os extremos apresentassem, ainda, pouca extensão, foi possível observar os médios mais encaixados com os graves, possibilitando ouvir alguns discos de Jazz e Rock Progressivo. Pois já era possível sentir mais peso e corpo nos graves. Foram dois dias ouvindo primeiro só LPs e, no segundo dia, começando a escutar também CDs.

Resolvi esticar o amaciamento direto para as 300 horas, tanto do integrado da Nagra quanto da W8, e voltei ao fechamento da edição de dezembro. Quem pensa que nossa vida é só música e diversão, precisaria passar um dia em nossa sala ou na redação, vendo a loucura para cumprir prazos, devolver equipamentos, abrir os que chegam, embalar os que vão, atender a todos os e-mails diários que chegam (uma média de 20 a 30 por dia), cumprir com os compromissos de consultoria e eventos das empresas e ainda cuidar da filha, do filho, dos cachorros, etc, etc…

Quando você tem 40 anos, seu pique para enfrentar esta maratona diária é um, mas quando você já passou dos 60, meu amigo, o bicho pega e pega com voracidade. Então aquela disposição de tirar o produto da queima e colocar novamente para escutar de 50 em 50 horas, é absolutamente descartável, pois agora você precisa também ser um administrador de tempo e de bom senso. Então, a W8, depois de mais 200 horas de queima, voltou para a sala para finalmente ficar.

Tudo foi para o lugar. Os graves apareceram, encorparam e ganharam velocidade e definição. Os agudos abriram e ganharam uma baita extensão e um decaimento muito natural e convincente. Chamo de decaimento convincente o agudo que não ceifa o pianíssimo de um prato de condução que ainda esteja soando. Ou o decaimento de um triângulo ainda soando no meio de outros instrumentos. Este decaimento suave será de fundamental importância para a qualidade da inteligibilidade e conforto auditivo. Pois se a caixa não tem este refinamento, seu cérebro não irá se enganar e sentirá falta de ambiência, de naturalidade nos agudos e de conforto auditivo para relaxar e apreciar seus discos preferidos.

Isto me remete ao tempo em que as pessoas tentavam ‘domar’ tweeters brilhantes com cabos de puro cobre ou CD-Players valvulados com menor extensão nas pontas. Eu ouvia, coçava a cabeça, e pensava com os meus botões: “ainda se essas medidas fossem pontuais e domassem apenas o que incomoda, mas mudam todo o equilíbrio tonal, comprometendo todo o espectro audível. Será que essas pessoas não escutam?”. E cheguei à conclusão que elas não percebiam, por faltar à elas a referência de música ao vivo.

Aliás, falando em ter como referência música ao vivo não amplificada, é impressionante a quantidade de asneiras que se escreve nos fóruns, aqueles que acham que a música ao vivo não serve como parâmetro para o ajuste de seus sistemas. Fico lembrando do sujeito que um dia foi a minha casa com um CD de gravações de copos e pratos sendo jogados ao chão. Este era seu disco de referência para desenvolver suas caixas e amplificadores.

Barbaridade!

Tem a do ‘expert’ em acústica que tinha um CD surrado do Tamba Trio, da década de 1960, que era sua referência para avaliar salas e sistemas.

Parece que o tempo passa, mas os erros audiófilos das gerações passadas passam para as novas gerações. Como conhecer a qualidade de um bom vinho sem degustar, ou o cheiro de uma essência sem cheirar. Ou as sutis diferenças da luz em diferentes estações do ano, sem olhar? E o audiófilo quer ajustar um sistema sem ouvir como soam os instrumentos reais? Depois, quando usam o termo audiófilo de forma pejorativa, o sujeito se aborrece.

Acho que me empolguei, rs!

Voltando às W8, com 300 horas ela estará muito perto da plena estabilização. O resto será atingido com o seu posicionamento e escolha dos pares (cabos e amplificação). Em um dos testes que li da W8, o articulista cita que andando na sala o comportamento da caixa era muito parecido, estando na posição de escuta ideal ou não. Concordo. Este é um dos seus maiores méritos. E este mesmo articulista se surpreendeu ao se posicionar atrás das caixas e o equilíbrio tonal ser tão bom com ouvindo de frente para elas! Também é fato e já havia percebido essa maleabilidade na posição de escuta com as W5SE.

No entanto, para se ter esta ‘versatilidade’, o ouvinte vai penar um pouco para achar a posição ideal da W8 na sala de audição. Pois com os woofers virados para o centro ela tem uma performance, e para fora outra. Posicionada muito próxima às paredes, um equilíbrio tonal. Mais distante das paredes, outro equilíbrio. Ou seja, para se extrair o máximo dessas jóias sonoras, duas coisas serão necessárias: definir o posicionamento ideal das paredes e a posição dos woofers, e que elas sejam colocadas milimetricamente iguais em relação à todas as paredes. Nada de fazer no olhometro – precisa de uma fita métrica e disposição para este ajuste fino.

Porém, se o amigo fizer todo este procedimento, o prêmio será de valor inestimável, acredite!

Na nossa sala, os woofers da W8 ficaram apontados para as paredes laterais e não para o centro. Nesta posição ideal, os graves ganharam peso, corpo e maior inteligibilidade. As caixas ficaram afastadas 1,70 m da parede às suas costas, e a 3 m entre elas. Com um ângulo de apenas 20 graus para o ponto ideal de audição. Na nossa sala, assim, as W8 literalmente ‘sumiram’.

Pareciam estar sempre desligadas, principalmente nas gravações de orquestra em que o que ouvíamos, não batia com o que víamos: caixas minúsculas gerando uma massa sonora de caixa muito maior! Todos que ouviram, saíram incrédulos das audições! É realmente é uma experiência difícil de assimilar, pois estamos acostumados a ouvir apresentações impactantes em caixas de tamanhos avantajados. Este grau de impacto com caixas pequenas eu só tinha visto antes com as caixas da Neat – em que as pessoas chegavam a colocar a orelha perto da caixa para se certificar de onde vinha o sinal.

Agora, quanto à Boenicke, deve haver certamente outras caixas que consigam chocar pelo seu tamanho diminuto e a grandiosidade da performance – mas no grau de refinamento que a Boenicke realiza, eu desconheço. Pois a Neat faz tudo certo, mas possui um limite de volume em que você não pode ultrapassar, com risco do cone bater. Na W8, a danada não só aceita como continua tocando com enorme folga e segurança, como se não fosse com ela. A W5SE já tinha essa característica de ousar ir muito além de seu limite físico. E a W8 ampliou esta ousadia ainda mais! Fico imaginando o que não fará a W11 (em abril iremos saber).

Além desta notável característica de nos transportar para a sala de gravação, a W8 nos brinda com um equilíbrio tonal admirável de caixa full-range, mas sem os problemas dessas caixas (que é deixar o corpo de todos os instrumentos com o mesmo tamanho e limitar o posicionamento do ouvinte entre as caixas).

Seu soundstage é o que podemos chamar literalmente de 3D, pois os planos são retratados com absoluta fidelidade, tanto em largura como profundidade. Assim como o foco e recorte.

A ambiência é um caso à parte, pois é de longe a melhor apresentação do local de gravação que já ouvimos em uma caixa acústica, independente do preço e topologia. É a referência das referências neste quesito.

As texturas, graças ao seu excelente equilíbrio tonal, estão entre as melhores que já escutamos. Sobre o grau de detalhamento e refinamento deste quesito, poderíamos escrever uma tese à respeito. Mas, para simplificar, só diria em defesa de minha opinião que as melhores caixas que possuem o melhor grau de fidelidade deste quesito são de projetistas que têm profundo conhecimento e intimidade com a música ao vivo! Isto lhes dá uma segurança para refinar o equilíbrio tonal e texturas de seus produtos que são facilmente percebidos por todos que também utilizam a música ao vivo como referência para as suas escolhas de setup.

O Sr. Boenicke possui em seu currículo como engenheiro de gravação mais de 300 obras. Isto certamente corrobora com a minha tese (talvez um dia vire um artigo na Seção Opinião).

Talvez estes fatos ajudem aqueles que estão começando sua trajetória audiófila, e ficam confusos quando escutam dos mais velhos audiófilos que a música ao vivo não tem a menor valia, a repensar sua opinião. Se o fizerem, garanto que a trajetória será menos tortuosa e muito mais prazerosa!

Uma vez li um artigo sobre as vantagens de falantes pequenos para uma melhor resposta de transientes. Não sei se foi o fundador da Rega falando de suas caixas, que utilizavam falantes de médio pequenos, ou se foi outro fabricante – só sei que foi um inglês. Não é a velocidade dos transientes da W8 que me impressionam, mas sim o tamanho desses falantes, a precisão de tempo, ritmo e velocidade com o corpo harmônico que reproduzem. Como é possível? Foi a pergunta que mais me fiz, enquanto estiveram em teste.

A dinâmica é surpreendente para o seu tamanho, mas haverá um ponto de limite. E a física está aí para nos lembrar sempre. Então não abusem. Mas em volumes corretos da gravação, nada de sustos ou sobressaltos, e a micro dinâmica é simplesmente maravilhosa! Você escuta sem o mínimo esforço, esteja encoberto ou não por mais instrumentos.

O corpo já pincelei em tantos lugares deste artigo, que só vou ressaltar a capacidade desta mini torre, mostrar com enorme coerência os tamanhos de um cello e um contrabaixo acústico ou uma flauta e um flautim.

Sua materialização física do acontecimento musical se faz de forma contrária a que estamos acostumados. Não é o músico que vai até sua sala, e sim você que vai até os músicos. Então o processo é literalmente invertido. O que posso dizer é que seu cérebro sente algo fora do lugar nos primeiros minutos, mas depois tudo se encaixa em tal ordem de grandeza e conforto, que passamos a admirar esta possibilidade, tanto quanto a que estamos acostumados a ter.

E em termos de musicalidade, o que dizer de uma caixa que nos brinda desde o primeiro instante com zero de fadiga auditiva e uma imersão integral no que estamos escutando? Que é o melhor dos mundos. Pois mesmo com gravações tecnicamente mais limitadas, é possível ouvir com prazer tudo sem discriminação alguma!

CONCLUSÃO

Quando termino este teste, ainda não ouvi a W11, mas agora, depois de conhecer a W5SE a W8, sei o tipo de surpresa que me espera. As caixas Boenicke não são para qualquer tipo de audiófilo.

Os que querem um som com enorme deslocamento de ar e sustos e sobressaltos nas variações dinâmicas, acharão as pequeninas W8 opções fora do baralho. Mas para os audiófilos acostumados a viajar o mundo e conhecer as melhores salas de espetáculos e as melhores orquestras e pequenos grupos musicais, e possuem uma sala aconchegante, e tudo que desejam é ‘reviver’ esses momentos inesquecíveis nessas salas, a W8 será sua nave para serem teletransportados quando quiserem reviver essas emoções.

Creia, isto não é balela ou jogada de marketing da minha parte. É o que ocorre quando você coloca uma gravação da orquestra de Berlim ou de Munique, gravadas em suas esplêndidas salas de concerto, ou da nossa querida OSESP na Sala São Paulo, e aperta o play. Você estará literalmente lá, novamente! Sentirá tudo que ocorreu naquele momento sublime da gravação, com a vantagem de poder repetir esta sensação ad infinitum!

Se é isto que você deseja de suas caixas acústicas, sua busca terminou!


Pontos positivos

Construção artesanal e som superlativo.

Pontos negativos

Sua baixa sensibilidade necessita de um power potente.


ESPECIFICAÇÕES
VersãoStandard
Sensibilidade87 dB / Watt / m
Impedância nominal 4 Ohms
Woofer6.5” de curso longo sem crossover
Midrange4” midbass com crossover de primeira ordem, cone de madeira de bordo, plugue de fase de macieira, sem corte de alta frequência
Tweeter frontal 3” cone de metal com crossover passa-alta de primeira ordem, com ressonador paralelo eletromecânico proprietário
Tweeter traseiroDomo de seda, para ambiência
Fiação internaLitz com dielétrico de seda, com direcionalidade otimizada
BornesWBT NextGen de cobre
Dimensões (L x A x P)114 x 776 x 260 mm
Peso10.5 kg (cada)

CAIXA ACÚSTICA BOENICKE W8
Equilíbrio Tonal 12,0
Soundstage 13,0
Textura 12,0
Transientes 11,0
Dinâmica 10,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 11,0
Musicalidade 13,0
Total 94,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADODAARTE



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