Editorial: A SUBJETIVIDADE É UMA PORTA AO ALCANCE DE NOSSAS MÃOS

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Lendo o artigo do engenheiro de áudio australiano Adrian Sardi, cujo título é “A música soa melhor em um LP ou Streaming digital?”, me veio a ideia deste editorial. A maioria dos artigos que toca neste ‘velho’ tema (analógico versus digital), busca destrinchar o tema, primeiramente com a descrição minuciosa de como cada topologia funciona, e fecha geralmente com conclusões subjetivas como: “o LP em seu formato permite capas mais artísticas e fichas técnicas mais detalhadas”, “temos que sentar para ouvir, pois a cada 20 minutos é preciso levantar para virar o disco”, e por aí vai. Já os defensores do outro lado da trincheira, nos lembram do incômodo com o cliques e plocs, o custo para se manter um setup analógico decente e, claro: a comodidade do CD e agora, ainda mais, do streaming, em que o ouvinte tem toda sua biblioteca musical ao alcance de suas mãos! O que, para dizer em português claro, me irrita nessas discussões infindáveis é que os pontos centrais das diferenças ‘audíveis’ nunca são descritos. E aí sempre me perguntei: as diferenças não são descritas por não serem conhecidas pelos autores dos artigos, ou por não acharem ‘relevante’ para os seus leitores? Afinal, ouvir as diferenças de uma mesma gravação em ambos os formatos é uma tarefa das mais simples, que até uma criança de 10 anos consegue ouvir, se gostar de música e tiver um conhecimento do timbre dos instrumentos.

Para escrever este editorial, peguei três gravações apenas: Billie Holiday – Songs For Distingué Lovers, do selo Verve (faixa 1 do lado A, Day In, Day Out), The Police – Ghost In Machine, A&M Records (faixa 1 do lado A, Spirits In The Material World), e Duke Ellington – Blues in Orbit, Columbia Records (faixa 4 do lado B, The Swinger’s Jump). E escutei as três faixas nos três formatos (LP, CD e Streaming por Spotify e Tidal, no Streamer da Cambridge Audio CXN V2). Todos os formatos com os mesmos cabos, no nosso Sistema de Referência. E no caso do Cambridge Audio, ouvimos passando pelo seu pré digital e também pelo nosso pré de linha de referência. As perguntas que todos certamente farão: Existem diferenças audíveis? Sim. São possíveis de serem reproduzidas infinitamente? Sim. Todos, independente de terem ouvidos treinados ou não, observarão as diferenças? Sim. Então por que essas questões nunca são colocadas na centena de artigos que lemos a respeito? Sinceramente, não sei. Quero crer que a falta de uma Metodologia universal para se falar sobre áudio seja a resposta, mas não sei se o ‘gargalo’ esteja somente aí. Ou se os editores acreditem que a polêmica crie maior interesse na leitura desses artigos (afinal o LP voltou a vender significativamente e se tornou os ovos de ouro para as gravadoras novamente). Voltando ao nosso comparativo dessas três faixas, e utilizando a Metodologia da Cavi, as diferenças em quatro quesitos de nossa Metodologia são tão evidentes como o intenso calor em nossa face ao sol do meio dia! E estes quesitos são: Equilíbrio Tonal, Textura, Transientes e, no caso do LP, seu Corpo Harmônico! O pior dos três formatos em todos esses quatro quesitos é, de longe, o streamer (principalmente no Spotify no pacote mais em conta que oferecem e tem uma taxa de compressão absurda. O Tidal em modo Hi-Fi é bem superior, e no modo Master para faixas realmente em 24-bit/96 kHz, é bem mais ‘palatável’ sonicamente). Mas, esmiuçando esses quatro quesitos nestas três faixas, o que mais chama a atenção é a qualidade do Equilíbrio Tonal do LP, que permite um conforto auditivo pleno, com melhores apresentações das texturas (principalmente nos discos do Duke Ellington e da Billie Holiday), e o Corpo Harmônico dos instrumentos. Os instrumentos de sopro soam com o tamanho real de instrumentos de sopro, e não como uma pizza (grande no CD, e brotinho no Streamer). O ar em volta dos instrumentos mostra um grau de realismo e de proximidade com o músico e a sala de gravação instantaneamente! Esta sensação, que os leigos que não conhecem uma metodologia dizem ser o som mais ‘quente’ e próximo do LP em relação ao digital. Mas existe um outro quesito que muitos não entendem, e que é crucial na observação das diferenças entre o analógico e o digital: os Transientes. Neste quesito, para ir direto ao ponto, gosto de mostrar a caixa de bateria da faixa 1 do disco do The Police. Alguns não acostumados com a resposta de Transientes do analógico, chegam a se assustar com a precisão e velocidade da caixa, e chegam a piscar ao ouvir a primeira entrada da caixa com a precisão de um tiro. Enquanto no CD esta mesma caixa parece estar a ser reproduzida em ‘câmera lenta’, sem a mesma extensão, velocidade, peso e realismo, no streamer na resolução mais comprimida a sensação é que o baterista está tocando displicentemente! Talvez, se os artigos sobre as diferenças fossem realizados objetivamente e com demonstrações para os jornalistas leigos, esses artigos sairiam do lugar comum e poderiam ser um pouco mais ‘esclarecedores’. As pessoas precisam entender que nosso cérebro tem uma capacidade de registrar em sua memória o real do artificial, de forma minuciosa. E depois que ele codificou esta informação, ele não será mais facilmente enganado. O resultado está aí para quem quiser entender. O LP e a fita de rolo (que ainda tem enorme vantagem sobre o LP, já que não têm os Cliques e Plocs), sobreviveram e continuarão a existir, simplesmente por lembrar a todos nós que são formatos que nos trazem parte do realismo que escutamos todas as vezes que ouvimos música ao vivo não amplificada. E só os que não entendem o que está por detrás desta ‘magia’ é que recorrerão à subjetividade. Entendo que assim seja para o leigo e que esta porta esteja sempre ao seu alcance! Mas para os que desejam colocar esta questão as claras e à luz da atualidade, não há razão para recorrer mais à esta saída. Três faixas em um sistema bem ajustado serão suficientes para se virar este disco e seguirmos em frente!

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