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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Nenhuma das consultorias que prestei nos últimos três anos foi para alguém que não fosse leitor da revista. Alguns foram leitores mais recentes, porém a maioria é de longa data.

Clientes que são antes de tudo leitores assíduos e que através dos anos se tornaram amigos, já que tanto o Hi-End Show como os nossos Cursos de Percepção Auditiva nos deram a oportunidade de nos conhecermos pessoalmente.

O sr. Masakazu Hori, de 77 anos, é um leitor de longa data. Para ser exato, desde a edição número zero, já que ele foi o sócio número 15 do Clube do Áudio. Para os numerosos novos leitores é preciso explicar que a Áudio e Vídeo Magazine nasceu como um clube em maio de 1996, e que até o ano de 1999, ela não era distribuída em bancas. Então o único caminho era fazer uma assinatura e receber a revista e seus benefícios, como consultorias grátis, produtos em promoção e participar dos nossos Hi-End Shows, Cursos e Workshops.

Era o final da longa reserva de mercado e qualquer novo produto que chegava ao mercado ou um novo distribuidor que iniciava atividades, era comemorado por todos os associados do Clube como um grande feito.

Éramos como uma família, em que todos dividiam seus conhecimentos e experiências e, desta fase, nasceu a relação de amizade como o Seu Hori e muitos outros que acreditaram neste nosso projeto e estão conosco até hoje. Acredito que não exista nenhum distribuidor ou revenda especializada que, em algum momento, não tenha atendido o Seu Hori. Afinal, nos 23 anos da revista, ele sempre foi um leitor e consumidor extremamente atuante.

Lembro de nosso primeiro contato telefônico, em que ele nos pediu ajuda para montar seu primeiro sistema hi-end, e sua alegria ao ligar o sistema e nos contar que ouvira pela primeira vez o palco sonoro, que desenhávamos na seção CDs do Mês, mostrando o posicionamento de cada instrumento entre as caixas.

Seu Hori começou com um sistema simples constituído por um pré e power valvulado, um par de bookshelfs, toca-discos de entrada e um modesto CD, e por duas décadas foi realizando upgrades degrau por degrau. Meu último contato com ele foi no Hi-End Show de 2014 – depois de lá nunca mais nos falamos. Sabia que ele estava bem, através de outros leitores próximos a ele, ou através dos distribuidores, e sabia que ele havia finalmente chegado ao seu objetivo: um sistema Estado da Arte final.

Muitos de vocês devem ter se incomodado com esta palavra – ‘final’ – pois sabemos que a natureza de todo audiófilo é sempre a busca do ‘algo a mais’, então deletem o uso da palavra ‘final’ de seus vocabulários.

Porém, como ele já está com 77 anos, acreditei que realmente ele havia aposentado a ideia de qualquer novo upgrade. Tanto que quando nos falamos recentemente, e me convidou para ouvir seu sistema e dar minha opinião se algo poderia ser melhorado, eu estranhei.

Mas lá fui eu, já que também na região em que ele mora eu iria iniciar uma nova consultoria, então uni o útil ao agradável e lá fui eu para Maringá passar um fim de semana. Para o amigo leitor ter ideia, do primeiro sistema comprado em 1996 até os dias atuais, Seu Hori teve: Jeff Rowland, Cary Audio, Audiopax, Pass Labs, Transrotor, Dali, Wilson Audio e Dynaudio – essas são marcas que puxei da memória, mas esta lista é bem maior. Em nossas conversas antes da minha visita, ele já havia me dado um descritivo detalhado de seu sistema atual e como ele estava satisfeito com o resultado alcançado.

Com exceção de sua caixa e do seu Music Server, todos os produtos que fazem parte do seu sistema foram testados por nós, então conheço-os bem e sei exatamente o poder de sinergia entre eles.

Seu Hori por diversas vezes ressaltou a importância dos testes, cursos e Hi-End Shows para chegar ao seu objetivo final e o quanto nossas dicas do que observar nos produtos desejados contribuíram para a melhor escolha dentro de seu orçamento e gosto pessoal.

Muito dos nossos críticos insistem em dizer que impomos nosso gosto ao leitor. E quanto mais eu recebo o feedback dos nossos leitores que ‘chegaram lá’, constato que nosso trabalho foi integralmente compreendido por eles, pois seguiram de nós apenas as instruções de como proceder para definir a compra e não o que comprar!

E pelo visto Seu Hori é um dos melhores exemplos que tenho para dar a todos vocês que desejam caminhar com as próprias pernas. Seu Hori sempre levou em consideração tudo que escrevemos sobre os produtos testados, mas jamais comprou algo que não ouviu em sua sala e no seu próprio sistema. Então querer saber minha opinião a respeito do seu sistema, me pareceu acima de tudo uma gentileza entre amigos.

Seu sistema atual é composto de um par de amplificadores Hegel H30, o pré da Luxman CL-38U-SE, caixas YG Sonja 1.3, fonte digital Music Server desenvolvido pelo projetista Wilson José Cordeiro (também de Maringá), e o conversor PS Audio DirectStream DAC. Cabos: Sax Soul, Iridium, Furutech e Sunrise Lab.

A sua sala possui excelentes medidas, bem larga e com excelente profundidade – acredito que tenha aproximadamente uns 40 metros quadrados ou mais. Tratamento acústico com apenas um par de difusores da Hi-Fi Experience, elétrica dedicada com cabo PowerClean e chave seccionadora Siemens, dois pares de TubeTrap nos cantos da sala atrás das caixas e um rack dedicado.

As imponentes YG Sonja 1.3 chamam muito a atenção pelo dois woofers e sua enorme altura. Pedi para Seu Hori me apresentar o sistema com gravações que utilizo nos nossos testes. UAU! Foi a primeira impressão após as primeiras três músicas.

Um excelente equilíbrio tonal, arejamento, palco gigantesco, corpo, precisão nos transientes, micro e macrodinâmica na medida certa! Ouvimos o sistema por mais de 4 horas, todos os estilos musicais, nos volumes corretos das gravações e zero de fadiga auditiva ou qualquer descontrole. Um sistema que prima pela naturalidade e musicalidade.

Fiquei muito surpreso com o Music Server e pedi ao pai da criança que fizesse um breve descritivo, para eu colocar aqui para os nossos leitores. Ele utiliza um processador core i3, clock configurado na bios, memória RAM com clock específico, armazenamento para o sistema operacional em 500 gigabytes tecnologia SSD, armazenamento para arquivos de áudio em 3 terabytes tecnologia SSD, fonte de alimentação chaveada específica para placa mãe e periféricos, placa USB separada para interligação entre DAC e Music Server, regenerador de sinal USB entre o cabo USB do Music Sever e o DAC com alimentação por bateria, placa mãe específica para o projeto. Software: sistema operacional baseado no Windows ou Linux modificado e otimizado para o projeto Music Server, sistema para controle de biblioteca Roonserver da Roon Labs, ripador dbpowerramp ou EAC. Arquivos de áudio: 2000 CDs ripados com alta-qualidade.

O Music server funcionou impecavelmente sem nenhum travamento e me convenceu plenamente como fonte digital. O projetista já me disse que vendeu até o momento 22 Music Servers e que o trabalho de boca em boca e os fóruns o tem ajudado muito na divulgação e novas vendas. Indicaria a todos os interessados que, se puderem ouvir o do Seu Hori, o façam, para ter uma ideia da qualidade e versatilidade deste Music Sever nacional.

Na manhã seguinte, ouvimos o sistema por mais três horas, antes de sairmos para almoçar e me dirigir para o aeroporto. Seu Hori já estava ficando impaciente com os meus elogios cada vez mais efusivos e nada de sugerir nenhum upgrade. Sinceramente, na minha cabeça eu seguia o seguinte raciocínio: “O que indicar em um sistema que já está tão redondo e sinérgico?”. Aí refiz a pergunta: “O que eu faria se herdasse este sistema?”. E vi que faria duas coisas: tentaria refinar ainda mais as duas pontas, caixa acústica e fonte digital, pois ficou claro que o Music Server tinha mais ‘garrafas para vender’ e estava alguns degraus acima do PS Audio.

E a caixa, pelo fato de o fabricante já ter disponibilizado dois upgrades desde o lançamento da Sonja 1.3, ela certamente pode render ainda mais. E sabendo que a YG também melhorou o rendimento dos módulos de grave em 40%, este upgrade certamente trará inúmeros benefícios, aos amplificadores e ao resultado auditivo. E que em uma sala tão boa em termos de baixa frequência e uma caixa com tamanha imponência, certamente será um upgrade muito consistente.

Com muito cuidado, compartilhei com o seu Hori o que faria se fosse o dono de tão belo sistema. O homem me olhou, pensou, pensou e perguntou: “Você consegue que eu ouça os dCS Scarlatti?”. Balancei a cabeça, afirmativamente. E, antes que ele perguntasse, respondi que o upgrade das caixas, infelizmente não consigo.

Resumo da ‘ópera’: Seu Hori ouviu por duas semanas o DAC e o Clock Scarlatti da dCS, e já os instalou no lugar do PS Audio! Segundo o Wilson e o Seu Hori, foram como a cereja do bolo! Maior silêncio de fundo, maior naturalidade e, consequentemente, ampliação do conforto auditivo, que já era excelente! Eu ainda não ouvi, mas pela sua descrição e satisfação, a dica foi certeira. Se ele ainda fará o upgrade nas caixas, não sei.

Mas o conhecendo, tenho certeza que lá no fundo, o ‘comichão’ existente em todo audiófilo deve estar começando a cutucá-lo.

Sempre escrevo que a pior missão é dar o salto final, aquela última fronteira, em que sabemos que se for assertiva, chegamos lá (o problema é que este upgrade final, infelizmente é bastante dispendioso, principalmente em se tratando de sistemas Estado da Arte). Mas se o fizermos, todo esforço, tempo e dinheiro renderão um sistema capaz de proporcionar uma satisfação imensurável!

O Seu Hori agora faz parte desta seleta lista de audiófilos que podem se dar o direito de ouvir seu sistema e dizer a si mesmo: “Eu consegui”!

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