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Opinião: UMA GRAVAÇÃO QUE VALE POR MUITAS
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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

GRAVAÇÕES QUE NOS AJUDAM NO AJUSTE FINO DO SOUNDSTAGE.

Alguns leitores me questionaram se existem gravações de música clássica no Tidal que possam ajudar na avaliação de soundstage de seus sistemas.

Se quiser ter a garantia de avaliações precisas, o ideal será sempre a mídia física (provavelmente ainda por uns bons anos). Porém, aos que já se desfizeram de seus CD-Players, a única alternativa então é pesquisar no Tidal as gravações que nos possam ajudar nessa difícil avaliação de foco, recorte, planos, altura, largura, profundidade e ambiência!

Se você me pedir dez gravações impressionantes para a avaliação deste quesito em mídia física, eu tenho umas cinquenta gravações de música clássica para te indicar. No entanto, na hora que me propus ao desafio de escolher 10 gravações excelentes no Tidal, o desafio foi hercúleo! Pois reunir todos os tópicos avaliados neste quesito é o problema. E quando falamos de streamer, temos um outro problema: profundidade. Tudo reproduzido em streamer possui muito menos profundidade que na mídia física (menor que em CD e ainda mais distante do LP).

Em termos de altura e largura, foco e recorte, achei dezenas de gravações que nos atenderiam. Mas, em termos de profundidade e ambiência, o gargalo é enorme.

Ouvi literalmente 217 gravações para achar 5 para este mês! Felizmente essas cinco gravações atendem perfeitamente a todos os tópicos deste quesito, algumas com maior ênfase na ambiência que na profundidade. No entanto todas são perceptíveis auditivamente que em um sistema correto não soarão bi-dimensionais.

Caso isso não ocorra no seu setup, não acuse as gravações, pois elas realmente conseguem nos dar bons planos dos naipes da orquestra, e não termos aquela sensação, nos crescendos, dos planos mais atrás das cordas virarem para cima, como uma onda ao tocar na borda da areia.

Quanto ao foco, recorte, largura e altura, todas as cinco gravações reproduzem com facilidade esses tópicos. Diria que será verdadeira “pêra doce” ouvir sem nenhum esforço o posicionamento correto dos solistas, o recorte (arejamento) entre os instrumentos e os naipes que estão mais nas pontas do palco (contrabaixo no lado direito e violinos do lado esquerdo).

E se o seu sistema estiver coerente, terá a grata surpresa de ouvir os planos com os naipes de sopro de madeira ao centro do palco, os metais posicionados atrás dos cellos e das madeiras e, por último, a percussão.

E no caso de um exemplo com um instrumento solo, como no caso do City Lights (violino) e do Century Rolls (piano), será possível escutar as percussões e os metais ainda mais atrás, ao fundo do palco.

Pronto para o desafio? Desejo sucesso a todos.

E caso os resultados não sejam satisfatórios, antes de sair chutando o sofá ou vociferando palavras de baixo calão, lembre-se que o posicionamento correto das caixas simetricamente instaladas, podem fazer verdadeiros milagres. Já realizei ajustes finos no posicionamento de caixa que resultaram em verdadeiros “milagres” sem precisar alterar nenhum componente do sistema.

As caixas bookshelf, quando instaladas simetricamente na sala em um bom pedestal, tem uma enorme facilidade em sumirem da sala e nos proporcionar palcos bastantes tridimensionais.

Já as colunas são bem mais exigentes com posicionamento, toe-in, arejamento entre as paredes, tratamento acústico para a afinação dos graves, etc.

Então se tiver dúvidas se suas caixas estão bem posicionadas, utilize essas cinco discos para a “prova dos nove”.

Mãos à obra:

OUÇA CITY LIGHTS – LISA BATIASHVILI, NO TIDAL.
1- CITY LIGHTS – LISA BATIASHVILI, VIOLINO.
Selo: Deutsche Grammophon

O conceito do disco é muito interessante: usar um tema para descrever as luzes das cidades como Paris, Londres, New York, Buenos Aires, etc.

A escolha dos temas foi óbvia, mas interessante, já que os arranjos são primorosos e de muito bom gosto, e Lisa é uma excelente violinista, pois toca com graciosidade e leveza temas mais populares como Chaplin e Morricone.

É um disco que permite observar a qualidade do solista no meio do palco em pé (lembre-se disso) enquanto a orquestra, obviamente, está toda sentada.

Caso seu sistema não mostre este “detalhe” imediatamente, esqueça de avaliar o resto e só curta este excelente disco! Agora, se seu sistema passou por este teste inicial, então aproveite e perceba o naipe de cordas em arco à volta de Lisa, e como é possível observar o foco perfeito dos violinos a esquerda até quase a metade do centro do palco, seguido pelas violas (bem ao centro), seguido pelos cellos já próximos da caixa à direita, e os contrabaixos soando dentro do canal direito e levemente para fora da caixa. Logo atrás dos violinos e violas, mais ao centro flautas, flautim, oboés, clarinetes, fagotes, etc. Mais atrás, os trombones, tubas, trompetes, etc. E do centro para esquerda, a harpa e as percussões.

Claro que não serão todas as faixas em que toda a orquestra tocará. No entanto, se o leitor gostar do disco, ele poderá fazer essa visita auditiva e conhecer todos os belos arranjos e ver como os naipes soam perfeitamente em sua posição no momento da gravação.

O segundo exemplo já é bem mais complexo e exigirá mais do seu sistema. Para música clássica, minha referência máxima em termos de qualidade técnica sempre foram as gravações do Professor Keith O. Johnson do selo Reference Records. Eu jamais ouvi uma gravação deste mestre em engenharia soar torta ou com algum problema técnico audível. Seu nível de perfeccionismo beira ao absoluto (se é possível o ser humano atingir este grau de qualidade).

Porém agora tenho visto gravações de um outro engenheiro de gravação, que me dá esperanças que o legado do professor Johnson não termine com ele. Este excelente engenheiro chama-se John Newton. Ele tem sido solicitado por diversos selos de música clássica e seu nível técnico vem sendo lapidado a cada nova gravação.

De suas gravações mais impressionantes, escolhi a feita para o Selo Erato (um selo também de referência de qualidade neste universo clássico).

OUÇA THE AGE OF ANXIETY – LEONARD BERNSTEIN, NO TIDAL.
2- BERNSTEIN – THE AGE OF ANXIETY / COPLAND – APPALACHIAN SPRING MINNESOTA ORCHESTRA – EDO DE WAART, REGENTE
Selo Erato

Sempre tive longas e calorosas conversas com o querido amigo Christian Pruks, a respeito dos detalhes com que as gravações do selo Reference Recordings soam tão superiores a qualquer outra gravação bem feita.

Melhor foco, recorte, ambiência, micro e macrodinâmica, respiro, folga… São tantas virtudes que me levou à uma conclusão: “ok, o Professor Johnson é único”, a Orquestra de Minnesota é excelente, assim como seu regente Eiji Oue, mas tem que ter mais algum detalhe crucial para fechar essa equação! E ouvindo essa gravação, que não conhecia, descobri a resposta.

Afinal a orquestra deste é a de Minnesota, e o regente não é o Eiji Oue – mas se trata de um excelente maestro também. O engenheiro de gravação é o expoente John Newton, e eis que o nível de qualidade da gravação conseguiu ombrear com as da Reference Records.

Então a resposta só pode ser uma: a sala em que a Orquestra de Minnesota grava e se apresenta é o ponto fora da curva. Já havia lido um artigo na Diapason muitos anos atrás, sobre as dez melhores salas de concerto nos Estados Unidos e ela, se não me engano, estava em nono lugar.

Diria que os que julgaram as salas, não prestaram muito a atenção nos detalhes de como esta sala possui um arejamento e um decaimento, provavelmente muito mais lento que a maioria das salas de concerto do mundo. Pois a qualidade e folga na macrodinâmica é muito distinta de outras salas excepcionais.

E não resta dúvida que o Professor Johnson sacou esse diferencial imediatamente e por este motivo 90% de seus discos sempre são gravados nesta sala de concerto, seja com a orquestra de Minnesota ou com grupos menores.

O engenheiro John Newton soube explorar com maestria essas qualidades acústicas e nos presenteou com uma gravação maravilhosa!

Aqui, se o sistema tiver “garrafas” para vender, soará com folga, arejamento, planos precisos e foco e recorte cirúrgico.

O disco não foi gravado todo na sala de Minnesota, e nem tão pouco foi o engenheiro John Newton o responsável por todo o projeto. Então minha sugestão é que o leitor utilize as seis primeiras faixas para avaliar seu soundstage com este disco. Mas escute o disco todo, pois é belíssimo artisticamente!

Bem, não dá para falar em Professor Johnson, Orquestra de Minnesota, e não falar de uma das gravações mais espetaculares deste selo, sob regência do japonês Eiji Oue.

OUÇA BOLETO! – EIJI OUE / MINESSOTA ORCHESTRA, NO TIDAL.
3- BOLERO
MINNESOTA ORCHESTRA / EIJI OUE, REGENTE
Selo Reference Recordings

Acredito que todo audiófilo que tenha um bom sistema e goste de música clássica, tenha esse disco em sua coleção.

Fiquei surpreso com a boa qualidade do streamer. Dos cinco discos escolhidos, este foi o que conseguiu melhor profundidade. Longe da mídia física, mas com profundidade suficiente para, nos crescendos dinâmicos, não causar o efeito de virar bidimensional.

Se quiser uma faixa para iniciar os testes de profundidades nos planos, minha dica é a singela faixa 7 – Slavonic Dances, do compositor Dvorak. Pois se não tem “arroubos” dinâmicos, seus crescendo são suaves, permitem que você possa perceber claramente se os instrumentos se amontoam ou se mantém seu foco e recorte intactos.

Mas o disco é uma obra prima em termos artísticos e técnicos. Então aproveite, meu amigo, pois este padrão de qualidade técnica é raro no Tidal.

Nosso quarto disco é uma gravação mais contemporânea.

OUÇA CENTURY ROLLS – JOHN ADAMS, NO TIDAL.
4- CENTURY ROLLS – JOHN ADAMS, COMPOSITOR E REGENTE – COMPOSTA PARA PIANO SOLO – EMANUEL AX, PIANO

Vá direto para a faixa 4 – Lollapalooza, e prepare-se para fortes emoções! Se o seu sistema passar no quesito soundstage (em todos os tópicos aqui já descritos), meu amigo, seu sistema está pronto para qualquer hecatombe sonora!

Falando sério, este é um dos exemplos mais complexos, pois exige muito de todos os quesitos de nossa Metodologia (equilíbrio tonal, textura, transientes, dinâmica, corpo harmônico e organicidade), fora o soundstage tão cobiçado por 100% dos audiófilos do mundo!

Antes de iniciar o teste, certifique-se que o volume esteja com folga para se ouvir perfeitamente os pianíssimos (que são poucos momentos) e os fortíssimos, sem o sistema jogar a toalha.

Lembre-se os naipes de metais e a percussão não podem saltar dos falantes direto para o colo do ouvinte, ok?

O sistema passando nessa prova de fogo máxima, ele estará pronto para qualquer desafio!

Nosso último disco é do selo Exton, do qual existe muito pouca informação disponível, apenas que produzem gravações de alta qualidade em prensagens com preços altos, praticamente só de artistas japoneses – com algumas exceções como as orquestras de Sidney e de Pittsburgh – e lançam os discos no concorrido mercado japonês.

OUÇA SCHERAZADE – RIMSKY-KORSAKOV – KEN-ICHIRO KOBAYASHI, NO TIDAL.
5- SCHEHERAZADE – RIMSKY-KORSAKOV – ARNHEM PHILHARMONIC ORCHESTRA / KEN-ICHIRO KOBAYASHI, REGENTE
Selo Exton

Excelente captação, com várias faixas que podem ser usadas para avaliação de soundstage. Eu sugiro as faixas mais tranquilas, com bastante informação no centro do palco (entre os naipes de cordas e madeiras). Assim você poderá ajustar com precisão o foco, recorte e ouvir a ambiência das salas de gravação.

Agora, deixo com os nossos leitores mais cinco playlists. Pelo número de playlists que nos chegam semanalmente, acertamos em cheio. Algo de bom para se falar nessa pandemia.

Um forte abraço, e se cuidem todos!

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