TOP 5 – AVMAG
março 15, 2021
AUDIOFONE – Teste 1: FONE DE OUVIDO GRADO STATEMENT GS3000e
março 15, 2021
PRÉ-AMPLIFICADOR LEBEN RS28CX

Fernando Andrette

Confesso que receber um outro pré valvulado japonês, na sequência de minha experiência com o Shindo (leia Teste 1 na edição 265 de agosto), me pareceu um pouco estranho. Porém ao saber que o fundador da Leben, o Sr Taku Hyodo, também ainda hoje presta serviços como free lancer para a Luxman, e um de seus projetos foi justamente o pré CL-38u (leia teste na edição 218) que tanto apreciei, me fez rever a apreensão inicial e topar o desafio – afinal, no mínimo poderia observar o que de diferente tem na assinatura sônica do Leben para o Luxman, já que se trata do mesmo projetista.

O Sr Hyodo também é violonista profissional, e sempre utilizou de seu instrumento para afinar todos os seus projetos. Começou sua carreira profissional justamente trabalhando para a Luxman e, em suas horas vagas, como hobby, começou a desenvolver protótipos para o seu uso e de amigos.

Procurou sempre baratear ao máximo seus projetos, tentando minimizar custos, sem comprometer a performance. Em uma longa entrevista à Stereo Sound, na virada do século, ele sintetizou sua filosofia da seguinte maneira: “Sempre busquei aliar minhas duas profissões (músico e engenheiro de áudio) buscando atingir um equilíbrio entre musicalidade e design nos meus produtos, para pessoas que amam a música acima de tudo.

Com a procura cada vez mais intensa de seus protótipos, e com o apoio incondicional da família, Hyodo resolveu fundar sua própria empresa de áudio e deu o nome de Leben, que em alemão significa “vida” ou “para viver”. O sucesso dentro do Japão foi tão rápido que logo surgiu um clube batizado de Leben Audio Lovers Club, de proprietários entusiastas que perceberam que agora possuíam sistemas de alta performance, com custos muito menores que as principais marcas audiófilas japonesas.

Para dar conta da demanda cada vez mais intensa, Hyodo planejou desenvolver edições limitadas, que ao término de um componente utilizado, aquele produto sai de linha. Com essa estratégia, os amantes de Leben estão sempre atentos, pois sabem que determinados produtos terão vida apenas enquanto o estoque de peças existir. Esse foi o caso, por exemplo, do integrado Leben CS300X, que se esgotou rapidamente pelo fato de utilizar as válvulas de saída NOS Mullard EL84, e que atualmente encontram-se na mão de colecionadores japoneses e são muito difíceis de achar.

E a coisa se complicou ainda mais quando a Leben foi descoberta fora do Japão, e a procura pelos seus produtos se intensificou ainda mais. Atualmente o Sr Hyodo cresceu o suficiente para administrar sua produção de modo que atenda primeiro o mercado interno e, na medida do possível, o mercado externo. E com as crises mundiais sucessivas, ele vem conseguindo atender ambos mercados bem.

O distribuidor no Brasil, o Fernando Kawabe, tem conseguido fazer um belo trabalho tanto com Shindo como com Leben, afinal ainda que com prazos alongados, ele consegue atender aos seus clientes e também mandar, quando há espaço, produtos para teste.

O pré de linha RS28CX é o modelo top da Leben, e tem recebido inúmeros prêmios internacionais. Além de um pré de linha, também é um excelente pré de phono para cápsulas MM. Projetado com uma fonte externa (justamente para eliminar qualquer ruído espúrio no pré de phono), o Leben foi construído em dois belos gabinetes, com o famoso tom dourado e verde no painel frontal e madeira em suas laterais.

A fonte alimenta o pré por um cabo umbilical com boa metragem, para que a mesma seja colocada o mais distante possível do pré (para o teste o pré ficou em nosso rack principal, e a fonte na última prateleira do rack do sistema analógico, ao lado).

No painel frontal temos, da esquerda para a direita: o seletor de entradas, um segundo seletor de tape monitor (source ou monitor), depois o botão de volume, balanço e a chave de power. No painel traseiro temos: quatro entradas de linha, todas RCA, e uma entrada phono. Este pré também vem com uma saída fixa e uma saída variável. A variável é para o uso e ajuste de um subwoofer ou para ajustar a saída principal combinando a sensibilidade do pré com o power.

No estágio phono, Hyodo é fã da equalização RIAA valvulada tipo CR, por considerar que o som é mais musical e natural que NFB (Feedback Negativo). O Leben RS28CX está equipado com um equalizador RIAA CR com válvulas NOS General Eletric JAN 12AT7, e com componentes de alta qualidade para uma precisão RIAA de +/- 0,3%. E todo o circuito é afinado inteiramente de ouvido.

O pré tem uma tensão de saída muito alta, por meio do tríodo duplo GE 6CG7 (também NOS) regulado por shunt push pull (SRPP), e pode trabalhar com amplificadores de até 80 volts de saída limpa. Segundo o fabricante isso é mais que o dobro da maioria dos prés hi-end, podendo casar perfeitamente com qualquer amplificador de potência, mesmo que a sensibilidade de entrada seja muito baixa.

Sua construção encanta por aquele “ar” de vintage, mas novinho em folha. Tem um apelo de design distinto de um Shindo ou de um Luxman, mas não deixa de ter seu encanto, em minha opinião. Os capacitores utilizados no circuito de pré amplificação são Nichicon eletrolítico e Elna com polipropileno metálico, resistores Riken e um potenciômetro Alps Blue. No bloco de alimentação, junto ao transformador, vemos uma válvula NOS RCA 5Y3WGTA e um sistema de filtragem indutiva, e equalização de estado sólido.

O ganho deste pré pode ir até 25,2dB com uma saída máxima, como já citamos, de 80V. Por isso a necessidade deste pré ter no painel traseiro um potenciômetro para o ajuste de nível adequado de saída para cada amplificador.

As válvulas de estágio de linha são um par de 6CG7 da General Eletric. E no estágio phono, um par de 12AT7 também da General Eletric. E o ganho do pré de phono é de apenas 20dB, o que limita seu uso para cápsulas MM ou demanda o uso de um transformador externo para acoplar uma cápsula MC de saída baixa. Todas as válvulas estão em um compartimento de metal, para evitar microfonia.

O fabricante pede que o aparelho passe por uma queima inicial de pelo menos 100 horas (eu indicaria de 150 a 180 horas) e pelo menos uma estabilização de temperatura de, ao menos, meia hora (eu diria que o ideal é uma hora).

Para o teste utilizamos praticamente o nosso Sistema de Referência da Cavi, com exceção do cabo XLR Apex, que teve que ser substituído pelos RCA: Sunrise Lab Quintessence, Feel Different FDIII, ou o Dynamique Halo 2. E no setup analógico utilizamos a cápsula Ortofon 2M RED.

Minhas experiências com produtos da Leben, foram muito restritas. Escutei o integrado top de linha, o CS-600, testado pelo colaborador Christian Pruks e, na casa de um leitor, os monoblocos também top de linha, porém com o pré da Luxman e não o Leben. Se vocês lerem o teste do integrado CS-600 (leia na edição de julho de 2014) verão que o Christian se rendeu completamente aos seus encantos sonoros, dando-lhe uma pontuação bem consistente!

Se tivesse que descrever em uma frase a assinatura deste Leben, eu diria que é consistente sem ser exagerada. E quando uso o termo “exagerado”, quero dizer de tender para o lado da eufonia ou, então tentar fugir das características inerentes à toda topologia tradicional valvulada. Ele para mim se encontra no limiar entre essas duas antagônicas vertentes, se mantendo de forma muito bem harmoniosa no centro deste tão tênue e sutil equilíbrio. O que é um enorme mérito para um produto feito com tanto esmero e sem custar a hipoteca da casa, da sogra e daquele cunhado chato!

Gosto de entender o objetivo e o desejo do projetista, e quando consigo entender como ele chegou àquela conclusão e por qual caminho, aprecio ainda mais o que estou ouvindo. Não dá para ouvir um produto da Leben sem lembrar que a ideia inicial, a “semente” de tudo, foi a de oferecer produtos com preços muito mais acessíveis, ou seja, por uma fração dos equipamentos top de linha de outras marcas. Estamos falando de Kondo, Shindo, Luxman e, talvez, mais uma ou duas marcas que predominam no topo do mercado japonês por décadas.

Ouvindo o Leben na sequência do Shindo, que tão profundas impressões me deixaram, me coloca em posição confortável de poder expressar o que, “emocionalmente”, o Leben me passou. Sua apresentação não possui a mesma magia e aquela sensação de conforto auditivo absoluta, mas ainda assim mantém a “aura” de que o que estamos ouvindo é emocionante e prazeroso. Quando vem à minha mente o que estou tentando escrever, muitas vezes aparecem imagens. E aqui não foi diferente. Sabe aquela sensação de visitar um lugar inebriante por uma segunda vez? O impacto avassalador daquele pôr do sol não é mais magnífico, mas ainda é belo o suficiente para nos deixar pasmos! O Leben é este segundo encontro, com algo que você já conhece e te deixou profundas recordações.

Se tivermos a capacidade de sempre apreciar, abertamente, algo que nos agrada e nos traz conforto, o Leben será exemplar e pode nos dar audições muito comoventes. Agora, se você é aquele tipo de pessoa que só tem como guardar uma impressão avassaladora uma única vez, você terá uma dúzia de adjetivos para “justificar” suas impressões, ainda que elas sejam todas positivas.
O que importa é que ele jamais o deixará indiferente. Pois seus atributos são consistentes e foi feito com um único propósito: deixa que todos que amam ouvir música reproduzida possam fazê-lo sem gastar o que não se tem, ou não se quer gastar.

Seu equilíbrio tonal é excelente, com graves muito corretos, boa energia e muito precisos. A região média é de uma naturalidade contagiante, principalmente com vozes e instrumentos acústicos. E os agudos possuem muito boa extensão, decaimento suave, corpo e velocidade.

Interessante que o seu soundstage, em termos de foco, recorte e planos, é muito similar ao Luxman CL-38u, mas com menor profundidade que este. Ficando também menos próximo, neste quesito, ao Shindo. Mas em termos de largura e altura, é magnífico como os outros dois.

Suas texturas são exuberantes, ombreando com ambos (Luxman e Shindo), paletas e mais paletas de cores, apresentações explícitas de intencionalidade e uma capacidade audível de observar o grau de virtuosidade dos músicos e a qualidade de seus instrumentos.

Os transientes possuem velocidade, ritmo e excelente marcação de tempo.

A macrodinâmica foi uma das gratas surpresas do Leben, provando o que escrevi acima, sobre seu equilíbrio na corda bamba, pois aqui ele se mostrou um pré valvulado moderno como o Audio Research REF6, que testamos (leia teste na edição 243, de agosto de 2018). E a micro, apesar de sua transparência não ser exemplar, não compromete de forma alguma.

O corpo harmônico foi excelente, tanto com CD como com LP. E a materialização física (organicidade) dependeu exclusivamente das gravações tecnicamente perfeitas.

Interessante que, em todos os testes que li (já que existem testes deste modelo desde 2015), os revisores falam de seu encantamento pelo grau de musicalidade que encontraram neste modelo. Concordo que ele seja muito musical e de uma naturalidade cativante em inúmeros aspectos, no entanto gostei imensamente de um certo grau de neutralidade que ele tem, possibilitando o usuário colocar mais ou menos “tempero”, ao seu gosto.

Como fiz isso? Testando os cabos de força que tinha em mãos (para desespero dos objetivistas, terraplanistas e afins). O cabo que mais deixou a musicalidade “quente e mais sedosa” foi o Sunrise Lab Quintessence. E os que deixaram o som mais neutro foram: Feel
Different FDIII e o Transparent PowerLink. Essa possibilidade de poder “lapidar” a assinatura sônica do Leben me pareceu muito interessante.

Eu também pude ter essa maleabilidade na troca de cabos do Shindo, levando-o da eufonia extrema à neutralidade.

Gosto muito dessa possibilidade, pois isso demonstra duas coisas: o quanto aparelhos deste nível são suscetíveis à troca de cabos de força, e como esses podem alterar um componente da água para o vinho (estou ouvindo terraplanistas e objetivistas urrando, ou foi apenas a caçamba de um caminhão despejando areia e pedra aqui em frente de casa?).

O pré de phono interno do Leben é muito bom. Bastante silencioso e muito preciso. Gostaria de ter outras cápsulas para poder explorar mais este pré, mas o que ouvi, foi muito acima dos prés de phono de até 1000 dólares vendidos avulsamente. Aos interessados, podem considerar o pré de phono como um bônus – o que só valoriza ainda mais a relação custo / performance deste pré de linha!

CONCLUSÃO

Se você deseja um pré de linha com um pré de phono MM, com fonte separada, e feito por um dos melhores projetistas japoneses da atualidade, e que não precisa mais provar nada ao mercado, este Leben é uma opção interessante e competente. Pelo seu valor, há muito poucas opções em um pacote tão bem apresentado.

Sua construção parece ter sido feita para atravessar séculos e mais séculos. E seu ar retrô certamente receberá os elogios e admiração de muitos audiófilos e melômanos.

Seja casado com um power da própria Leben, ou com um power de estado sólido de seu nível de performance e compatibilidade, o resultado será um só: prazer em ouvir sua música sem fadiga auditiva alguma. E como isso é tão procurado e tão pouco encontrado ainda hoje!

Se você sonha com este objetivo, para encerrar a busca sem fim pelo sistema ideal, dê uma chance ao Leben e o escute. Tenho certeza que haverá enorme chance de você se encantar!

Nota: 96,5
AVMAG #267
KW Hi Fi

fernando@kwhifi.com.br
(48) 3236.3385
U$ 9.300

PRÉ AMPLIFICADOR SHINDO AURIEGES L

Fernando Andrette

O falecido revisor da revista Stereophile, Art Dudley, foi sem dúvida alguma o porta voz da Shindo ao mundo, já que até o início do século 21 este fabricante era praticamente desconhecido no ocidente.

O próprio Art Dudley ficou surpreso ao saber que a Shindo existia desde 1977, e que seu fundador, o engenheiro Ken Shindo, antes de abrir o laboratório Shindo em Tóquio, foi por muitos anos um colecionador de válvulas antigas e componentes, hoje considerados vintage.

Dudley, ao conhecer os produtos Shindo no início deste novo século, se tornou um fã incondicional da marca, e criou laços de amizade com a família Shindo (Ken, sua esposa e seus dois filhos). Ele foi capaz de entender como ninguém a arte de Ken Shindo e seus conceitos teóricos e, porque não dizer, filosóficos. E em cada novo produto testado, ele fazia uma longa introdução explicando a seus velhos e novos leitores, os conceitos e ideias do Sr. Shindo e, depois de sua morte (em 2014), o rumo que a empresa tomou nas mãos da viúva e de seu filho mais velho.

Aqui no Brasil também arrisco dizer que a Shindo tem seu “porta voz”: o querido amigo César Miranda, violinista da OSESP, que adquiriu seu pré Shindo Aurieges L, se não me engano, em 2012 (que ele me corrija se estiver errado). E sempre, em nossos encontros, ele me disse enfaticamente: “Você precisa escutar um produto da Shindo”.

O tempo passou, e finalmente o Fernando Kawabe pegou a representação da marca para o Brasil, e cá estou eu com o pré de entrada deste fabricante, por cerca de 90 dias! Mas antes que o César pule no meu pescoço, recorrerei novamente ao falecido Art Dudley para explicar a maneira que o sr Ken Shindo via o áudio de qualidade.

Ele nunca disse que algum produto por ele criado seria de “entrada”, “intermediário” ou o “top de linha”. Para ele, cada produto seu era como um filho, com todas as suas qualidades e limitações. No teste do pré amplificador Vosne-Romanee, de outubro de 2010, Dudley em sua longa introdução nos lembra que o primeiro “mandamento” de Ken Shindo era: que seus produtos não eram desenvolvidos para produzir apenas sons que podem ser ouvidos de um único assento da sala, e nem eram feitos para destacar efeitos espaciais para o entretenimento daqueles que sabem muito sobre equipamentos, mas pouco ou nada sobre música ao vivo não amplificada. E que seus produtos tinham a mera função essencial de ajudar a recuperar a arte de ouvir música, e nada mais que isso.

E, no parágrafo seguinte, Dudley ressalta novamente que o Ken Shindo não considerou jamais um produto seu melhor que o outro, e sim um diferente do outro, para ouvintes diferentes, mas que aspiram ouvir seus discos da melhor maneira possível dentro de seu orçamento e exigência sonora.

Muitos devem estar se perguntando de onde vieram as inspirações para o nome de cada produto? Mais uma vez serei salvo pelo Art Dudley: alguns de sua paixão por nomes de vinhos raros, e outros são termos musicais, e um dos seus produtos recebeu o nome de uma mulher.

O modelo enviado para teste já faz parte da geração produzida agora pelo seu filho mais velho, Takashi Shindo, e suas diferenças em relação ao modelo que o amigo César possui vão além de mudanças no gabinete, como por exemplo os dois grandes botões de volume e seletor de entrada – que, no mais antigo, eram um ao lado do outro – agora ficam um em cima do outro. As válvulas também foram colocadas na frente, no meio do painel, no modelo já produzido pelo filho Takashi.

Alguns componentes também são diferentes, mas neste caso não dá para saber se foi proposital ou se foi pelo componente original não existir mais. Ken Shindo, muitas vezes dentro de um mesmo lote de um mesmo produto, fazia pequenas alterações no circuito para adequar o que havia disponível no estoque, sem jamais perder a assinatura sônica dos seus produtos. Então é comum nos fóruns de discussão de shindomaníacos (termo que eu inventei depois de ler a verdadeira adoração que muitos audiófilos têm pela marca), ver o mesmo modelo, com um número de série bem próximo, com componentes distintos na mesma placa. Isso ocorre com válvulas, capacitores e resistores.

Para a maioria dos audiófilos, que cresceram ouvindo e comprando produtos hi-end de fabricantes que produzem em larga escala, deve parecer estranho que uma empresa ainda desenvolva produtos “personalizados”, ainda que em série. Este foi o grande legado de Ken Shindo: produzir produtos de forma artesanal e utilizando componentes de sua própria coleção pessoal, que ele montou durante quatro décadas, e que seu filho mais velho continua a fazer com maestria. Nos fóruns, os elogios aos novos produtos Shindo pós 2014, são contundentes – até mesmo do falecido Art Dudley, que chegou a temer pela continuidade da Shindo, mas se rendeu ao escutar os produtos desta nova geração.

O Aurieges L chegou em um excelente momento, pois tínhamos dois excelentes powers de estado sólido para serem seu par (Nagra Classic e o CH Precision A1.5). O Kawabe nos confirmou que em breve estarão chegando dois modelos dos powers estéreo, e nos disponibilizará novamente o pré para podermos compartilhar com os leitores a assinatura sônica do pré e power Shindo.

No entanto, adianto que a sinergia alcançada com ambos os powers deu para nos mostrar a impressionante qualidade deste pré. Como veio praticamente com menos de 20 horas de amaciamento, como de praxe fizemos a audição de primeiras impressões, e o colocamos em queima por 80 horas.

Para o teste utilizamos nosso Sistema de Referência, alternando com os dois powers, caixas Wilson Audio Sasha DAW, cabos de caixa Sunrise Lab Quintessence e Feel Different FDIII (leia Teste 5 de áudio na edição 265), e cabos de interconexão RCA Sunrise Lab Quintessence e Feel Different FDIII. Os cabos de força foram três: FDIII, Quintessence, e Transparent Reference G5. Fontes digitais: transporte dCS Scarlatti com os DACs Nagra TUBE DAC e HD.

onte analógica: toca-discos Mark Levinson (teste na edição de setembro) com braço VPI de 12 polegadas e cápsula Ortofon Cadenza Bronze, além do toca-disco Acoustic Siganture Storm com braço SME Series V e cápsula SoundSmith Hyperion 2. Prés de phono: Boulder 508 e CH Precision P1 (teste na edição de setembro).

Se você é daqueles leitores que acha inadmissível um produto hi-end sem controle remoto, pode parar de ler este teste aqui! Agora, se você é “flexível” e aceita que um produto hi-end, se tiver uma performance exuberante, pode cometer esse pecado, me siga!

Se meu pai estivesse vivo, e eu apresentasse este pré a ele, sei com certeza qual seria seu comentário ao final da audição: “Este pré separa os meninos dos homens”. Consigo escutar em minha mente ele falando esta frase, levantando e indo até o pré fazer seu contato físico e visual – que ele só dedicava ao que realmente o havia seduzido e encantado!

Terei que falar de encanto, e não de topologia, amigo leitor. Pois é um pré tão minimalista e feito com tamanha objetividade que só um artista que domina sua arte em todos os estágios será capaz de cumprir tão grande desafio! Tentar explicar as diferenças entre este e tantos outros excelentes prés valvulados será uma perda de tempo, pois a única maneira de ser justo com este produto é ouvindo. Não existe outra maneira (pelo visto), de ser apresentado a um produto Shindo. Você terá que vencer todos os seus preconceitos e desconfianças e ir de mente vazia e coração aberto para essa audição.

Aos que se propuserem a este desafio, garanto uma coisa: sua percepção de ouvir sistemas hi-end mudará para sempre, pois como tão bem escreveu Art Dudley, não se trata de um palco cirúrgico, em uma posição de escuta única – estamos falando de como a música chega até nós na Sala São Paulo, por exemplo, estejamos em uma posição privilegiada nas primeiras filas e ao centro do palco, ou no mezanino lateral. Quem frequenta a Sala São Paulo entenderá muito bem o que estou tentando descrever. A acústica da Sala foi feita para levar o que está acontecendo no palco a toda a plateia, ainda que a inteligibilidade possa ser maior em determinadas posições.

Mas o ouvinte na Sala São Paulo não terá dificuldade de ouvir os instrumentos, suas alturas, variações dinâmicas e muito menos distinguir os instrumentos que estão tocando. É disso que Ken Shindo sempre nos falou e mostrou com seus produtos. A música transcende esses pequenos obstáculos de posições de audições privilegiadas.

Querem uma prova do que acabei de escrever?

Meu querido amigo, e ex colaborador da revista, o Roberto Diniz, me fez uma visita recente e estávamos ouvindo o sistema com o Shindo de pré amplificador, ele se levantou e sentou na lateral da sala no chão para escolher alguns LPs. Estávamos tocando uma obra com a violinista Hilary Hahn, se não me engano o concerto para violino e orquestra do Bernstein, quando ele parou de escolher os LPs e, sentado de costas para as caixas, comentou como era sedutor o timbre do violino da Hilary!

São essas descobertas que o pré Aurieges L nos proporciona. Mas não serão esporádicas, com uma ou outra gravação, e sim com toda a sua coleção de discos. Em tudo haverá uma nuance, uma passagem, um solo que nos fará suspirar e nos perguntar o motivo daquele arrebatamento não ter ocorrido antes com prés muito mais caros, com topologias de última geração…

A vida do audiófilo felizmente tem essas caixinhas de surpresas. Basta que você esteja aberto a viver e conhecer esses produtos que fogem do lugar comum, e muitas vezes de todos os conceitos que você aprendeu sobre o que é certo e errado na audiofilia.

Sempre cito aos leitores mais novos, de um acontecimento que me marcou muito alguns anos atrás. Testamos e publicamos na mesma edição dois integrados na mesma faixa de preço, com topologias distintas, sendo um totalmente minimalista (Etalon) e outro com uma topologia repleta de recursos e circuitos (Plinius). E mostramos ambos abertos, o que escancarou a diferença entre os dois e colocou em discussão calorosa entre os leitores como o Etalon podia custar o mesmo que o Plinius com um décimo de componentes do integrado! Tentei não me intrometer e deixar as discussões rolarem para ver aonde iriam, mas chegou em um ponto em que achei que deveria, como editor, me pronunciar. Pois afinal sempre achei que, se o que o audiófilo busca é a fidelidade máxima e o melhor conforto auditivo, independente da topologia, se o produto o atender e estiver dentro do seu orçamento, nada mais importa (ou deveria importar, no meu modo de ver o hi-end).

O mesmo ocorrerá certamente com este pré da Shindo. Muitos de vocês acharão vultoso um pré minimalista custar 6 mil dólares sem controle remoto e com apenas 4 entradas de linha, e uma única saída – o que impede a bi-amplificação. Mas se derem a chance a este Shindo de mostrar suas inúmeras virtudes sonoras, garanto que suas convicções podem se diluir como gelo ao sol. Mas sei que isso só será possível aos que, em sua busca, estão atrás da música e não artefatos sonoros!

Este pré não sabe nada de artefatos sonoros – como maior foco, recorte ou transparência cirúrgica. Seu objetivo é o mesmo de um instrumento musical de qualidade, em mãos hábeis: fazer a plateia congelar e se concentrar em ouvir apenas a música e mais nada.

Se você já teve algum momento de sua jornada essa experiência de se sentir completamente envolvido pela música a ponto de esquecer quantos minutos ou horas já se passaram, este pré tem muito a lhe mostrar. Caso contrário, esqueça-o, pois ele não terá nada a lhe dizer.

Sua assinatura sônica é tão intensa que foi difícil até mesmo definir as diferenças, tão óbvias em outros prés, de ouvir digital ou analógico. Pois ambos soaram tão orgânicos e divinos que a única dificuldade era terminar as audições e voltar ao cotidiano diário.

Veja que escrevi linhas e mais linhas e não entrei em nenhum momento nos quesitos da Metodologia. Sabe o motivo amigo leitor? É que os quesitos neste caso estão intrínsecos ao todo. Não há como separar: ou você leva o pacote todo, ou esqueça!

Claro que ele não tem a extensão nas duas pontas que o nosso pré de referência apresenta. Seu silêncio de fundo não está entre os melhores da categoria Estado da Arte. Seu soundstage não possui a profundidade dos melhores prés que já testamos.

Porém, aperte o play, ouça as primeiras notas ou os dois primeiros acordes, e você esquecerá integralmente de analisar qualquer quesito. Pois a música, como dizia o meu pai, em alguns produtos sempre nos soa mais alto, mais íntimo e mais emocionalmente contundente!

CONCLUSÃO

É preciso alguma conclusão?

Como tão bem disse Albert Einstein: “A prova só existe para aqueles que não tem certeza”.

en Shindo é um daqueles projetistas que, ainda que descobertos tardiamente pelo ocidente (nos Estados Unidos a marca só começou a ser distribuída efetivamente em 2004), terá um lugar de honra no pódio dos ilustres projetistas de áudio hi-end. Pois sua capacidade, perseverança e sensibilidade estão presentes em todos os seus produtos. Isso certamente explica a veneração que os audiófilos que possuem Shindo expressam em seus testemunhos.

Acho que o audiófilo que escolhe um setup Shindo, sabe que sua escolha foi definitiva!

Nota: 99,0
AVMAG #265
KW Hi Fi

fernando@kwhifi.com.br
U$ 6.000

NAGRA CLASSIC PREAMP

Fernando Andrette

Depois de testar o pré amplificador da Nagra, o HD, e este ter recebido a maior nota da história da revista (110 pontos), fiquei bastante curioso em saber qual seria a pontuação do pré Classic, que custa a metade do valor do HD já com fonte externa. E, claro, poder apreciar como se comporta o conjunto Classic: pré e power.

Foram dois meses de espera, desde a saída do pré HD em novembro, até receber o Classic, primeiro sem a fonte externa e, logo em seguida, a fonte PSU, e o Tube DAC Nagra – que também já está em teste e publicaremos nossas observações na Edição de Aniversário, em maio.

A linha Classic não possui a imponência da linha HD, mas possui o ‘DNA’ de todos os produtos Nagra, que sempre primaram pela qualidade de nível de excelência na parte mecânica, elétrica e acabamento. Desde a década de 80 que todo o Festival de Jazz de Montreux utiliza equipamentos Nagra para a gravação de todas as apresentações e, pela parceria existente, todo o material gravado é disponibilizado para uso interno dos engenheiros da Nagra no ajuste fino de todos os seus produtos (linha pró áudio e doméstica).

Em uma recente entrevista, publicada pelo site Mono and Stereo, o diretor da divisão de áudio da Nagra, Matthieu Latour, contou um pouco da história da empresa e o que a diferencia de todas as outras grandes marcas de produtos Hi-End. Eu aconselharia aos interessados a leitura desta excelente entrevista. Vou pincelar aqui algumas informações que achei bastante pertinentes e que dão uma ideia exata do motivo da Nagra ser tão respeitada no mundo.

Foi em 1997 que a Nagra finalmente se aventurou no mercado hi-end. E foi por um motivo externo e não uma decisão interna. Um cliente solicitou a Nagra que fizesse um gravador de rolo modelo IV-S especial: em vez de um pré amplificador de microfone ele queria um pré de linha estéreo. O resultado impressionou muito a equipe de engenheiros e nasceu o projeto do PL-P, um pré-amplificador valvulado que funcionava com baterias (como os gravadores de rolo Nagra).

E este primeiro produto de áudio doméstico explica o uso do modulômetro (existente em todos os gravadores de rolos, desenvolvidos pela Nagra, e muito mais precisos que todos os VUs fabricados naquela época). Matthieu explica que todo produto Nagra segue uma filosofia de design em que a forma segue a função. Tudo em um produto Nagra tem uma inspiração, como os interruptores ou displays que foram inspirados em veleiros e aeronaves, duas das paixões do fundador da empresa, Stefan Kudelski.

Outra questão que já havia abordado no teste do pré HD e dos powers Classic, é que a maioria dos funcionários e designers da Nagra são músicos ou amantes de música. Sempre envolvidos em muitas sessões de gravações de vários gêneros musicais.

Outro diferencial que ele cita em sua entrevista é que tecnologia e música precisam sempre caminhar juntas. Tudo na Nagra inicia-se por um trabalho teórico árduo antes de passar para todas as etapas de simulação no computador. Quando design e conceito estão alinhados, monta-se os protótipos, para todas as medições e finalmente inicia-se as audições em grupo.

São dezenas de sessões por meses, e o projeto vai avançando.

A Nagra investe muito em um padrão para os participantes descreverem suas observações, para que todos se expressem e se consiga traduzir o emocional em engenharia e vice-versa.

E fecha e ideia afirmando que o equilíbrio nessa combinação é o que diferencia os produtos Nagra de todo o mercado hi-end. “O que nos diferencia”, diz Matthieu, “é a Nagra misturar suas raízes profundas na gravação e reprodução de áudio e som, com um presente com uma grande capacidade de pesquisa e desenvolvimento, que nos permite reunir profissionais talentosos com uma única ambição: a melhor qualidade de som”.

Mais à frente ele aborda a importância de se ter domínio absoluto de todas as etapas de produção, para se atingir o nível de sofisticação e qualidade que se deseja. E conta um detalhe que diz muito do padrão de qualidade Nagra: “Imaginar que muitos ainda usam nossos gravadores construídos nos anos 50, diariamente, quase nos matou nos anos 70, já que ninguém que tinha um gravador Nagra precisava substituir seu gravador!. Toda essa filosofia vem de nossa fundação, quando o grau de exigência para com os nossos fornecedores sempre foi muito alto. Sempre trabalhamos lado a lado com os nossos fornecedores, buscando novas abordagens para sempre subir um degrau na qualidade de nossos produtos. Ao longo do tempo, percebemos que alguns componentes, para se atingir o grau de qualidade desejado, teriam que ser personalizados, e passamos a treinar nosso pessoal e produzir dentro da fábrica. É o caso de todos os nossos transformadores e os componentes que são de fornecedores: compramos uma grande quantidade, os selecionamos e descartamos os que não passam no nosso padrão de qualidade. É o caso de todas as válvulas, em que ficamos com apenas 5% do que testamos! Depois de montados, cada produto Nagra é amplamente medido e antes de ser embalado e enviado para o estoque, realizamos uma queima de 48 a 72 horas, instalado em uma configuração completa Nagra e testado individualmente pelo responsável”.

Ele também falou sobre o porquê dos prés serem valvulados e os powers da linha Classic e HD serem transistorizados (a velha polêmica do que soa melhor). Ele deu a seguinte explicação: “Para nós não é realmente uma pergunta. A verdadeira questão que sempre levantamos é: o que melhor servirá ao som? Não temos uma abordagem religiosa para este assunto. O que é importante, na minha opinião, é saber como projetar esquemas adequados e explorar os pontos fortes das duas topologias. Então usamos válvulas onde eles são a melhor opção, e estado sólido onde será melhor. Para a Nagra, a importância da fonte de alimentação é muito maior que se discutir o que é melhor, válvula ou transistor, ou mesmo digital e analógico. Quando o assunto é fonte de alimentação, somos iconoclastas, pois a fonte de alimentação é essencial para uma reprodução precisa e fiel do som”.

E isso é fácil provar com uma sessão de escuta de dois projetos idênticos, com fontes de alimentação diferentes – independente se existem na Nagra ouvidos sintéticos, analíticos ou com curva de respostas auditivas distintas, é sempre pertinente lembrar este povo que defende essas ideias bizarras que se fosse como eles desejam, os fabricantes que fazem sessões com vários participantes não chegariam nunca a uma conclusão.

“Estamos sempre projetando fontes de alimentação diferentes, pois cada estágio têm demandas distintas. Por exemplo, no HD DAC X geramos mais de 30 voltagens e tipos de energia diferentes para cada sessão, digital e analógica. Os únicos componentes que construímos 100% internamente são os transformadores de áudio. Eles são tão complexos e essenciais ao som que é um segredo bem guardado que mantemos em casa”.

Mas a parte que mais me chamou a atenção, pois define muito bem o DNA da assinatura sônica da Nagra, é quando o jornalista pergunta a ele sua opinião sobre os sistemas ultra transparentes que estão tão em voga nos dias atuais. Ele responde de forma objetiva e direta: “É fácil se perder e esquecer como um instrumento real soa. Eu posso muito bem imaginar o som que você está descrevendo. Pode ser muito impressionante e atraente no começo, mas muitas vezes, se você é um amante da música e assiste a shows, sentirá que está perdendo muito! Para nos impedir de cometer esse tipo de erro, nossos engenheiros e designers, são músicos ou ouvem música ao vivo. E eles ‘tocariam o alarme’ se seguíssemos nessa direção. Pessoalmente, tenho a sorte de tocar música e ter filhos que são instrumentistas, e todos os dias ouço timbres de verdade, como violino e piano, e isso ajuda a restaurar os ouvidos e voltar às raízes. Tive a sorte de gravar um incrível sexteto da Filarmônica de Berlim, todos tocando instrumentos Stradivarius. Fiquei impressionado com o timbre, é claro, mas o que mais me surpreendeu foi a intensidade do som, muito mais forte do que eu esperava”.

E completa seu ponto de vista, afirmando: “Existe uma linha muito tênue entre resolução, transparência e musicalidade. É muito fácil perder esse triângulo ao projetar um produto ou ao montar uma configuração. Mas tão crítico quanto esses três itens são: timbre, tom e cor. O objetivo é replicar o evento real, de um músico tocando na sua frente. E você quer ter certeza de que não está ouvindo os componentes ou a caixa. Se você colorir o som, criará um sentimento de não realismo no cérebro e perderá a emoção da música. Então um produto Nagra expressa todos esses cuidados. Garantimos que eles soem corretos, fiéis aos instrumentos ou sons reais. Para conseguir isso, buscamos um som neutro, este é um campo onde projetarmos gravadores de classe mundial ajudou. Pois você não espera que um gravador mude o som, você precisa capturar um evento o mais fielmente possível”.

Desculpe, amigo leitor, se eu te trouxe tão longe, mas depois de testar e publicar três produtos da Nagra, achei que deveria me aprofundar e tentar explicar de forma exata a ‘assinatura Nagra’, pois ela difere de tudo que já ouvi, tive e testei. Não estou dizendo que é melhor ou pior que outras marcas Estado da Arte – por favor não entenda desta maneira – mas digo que é diferente.

E, creiam, é muito difícil traduzir em palavras estados emocionais propiciados por um setup completo Nagra, como finalmente pudemos fazer no teste deste pré Classic. Pois nos testes anteriores faltava a fonte, o Tube DAC, para termos o set completo e mergulharmos de cabeça nessa viagem sonora.

Ao contrário do Nagra Tube DAC, que necessita de uma fonte externa para ser utilizado, o Classic PREAMP pode ser utilizado sem uma fonte externa. Derivado do PL-P, e do Jazz, o PREAMP utiliza muito da filosofia e do design do HD DAC. Mas, ao contrário do Jazz, o chassi do pré da linha Classic foi estendido para permitir o uso de mais componentes e uma maior filtragem das fontes de alimentação internas.

Os capacitores de polipropileno personalizados, foram criados especialmente para o Classic PREAMP. São utilizados para desacoplamento e estágio intermediário. São utilizadas múltiplas fontes de alimentação, separadas para cada canal, de ruído ultra baixo, para um palco 3D ultra realista.

Ele possui um amplificador de fone de ouvido, idêntico ao utilizado no HD DAC.

Sua fonte de alimentação interna integrada permite conexão direta à rede elétrica. Mas caso o usuário mais tarde deseje, ele pode adquirir a fonte de alimentação PSU que, através de um conector Lemo 12V DC, ligado no painel traseiro, pode ampliar a performance deste pré (na segunda parte deste teste, descrevo minhas observações).

Seu design super slim, é bastante amigável em termos de espaço e ventilação. Possui um painel frontal com tela LCD, para que cada entrada possa ser nomeada. Um menu intuitivo permite acesso a configurações personalizadas, bem como o tempo de operação. Todas a funções são acessíveis através do controle remoto.

Do lado esquerdo do painel frontal temos o famoso Modulômetro Nagra, que mostra o nível de saída dos dois canais, depois temos o seletor de entradas, uma chave de ganho de 0 e 12 dBs, potenciômetro de volume, chave que seleciona fone de ouvido, saída RCA ou XLR, e botão de desliga, mute e liga.

No painel traseiro temos: 1 entrada XLR e 4 entradas RCA, 2 saídas XLR e 1 RCA – caso o usuário opte pela bi-amplificação. Chave de IEC e caixa de porta fusível.

Para o teste utilizamos os powers da linha Classic em ponte, o transporte Scarlatti com o Nagra Tube DAC, pré de phono Boulder, toca-discos Acoustic Signature Storm, cápsula Soundsmith Hyperion 2, e braço SME Series V. Cabos de interconexão: Apex da Dynamique Audio entre o Tube DAC e o Pré, e também Apex entre o pré e o power (ambos XLR). Cabo de força: Sax Soul Ágata 2 e Transparent Powerlink MM2. Cabo de caixa: Quintessence da Sunrise Lab. As seguintes caixas: Revel Performa M126Be e 228Be, Elipson Prestige Facet 34F, e Wilson Audio Sasha DAW.

Para o amaciamento, utilizei por 200 horas só streamer (CXN V2 da Cambridge – leia Teste 2 na edição 261) ligado ao DAC da Nagra (para também ajudar no amaciamento deste). Entre o streamer e o DAC, e o transporte da dCS e o Nagra, utilizei dois cabos idênticos da
Transparent – só que no streamer foi coaxial e no transporte foi AES/EBU.

Como esclareci, primeiramente fomos sem a fonte externa PSU da Nagra. O Classic se mostrou extremamente neutro desde a primeira audição. Extremamente detalhado, preciso em termos de ritmo e andamento, excelente equilíbrio tonal, texturas palpáveis e fidedignas, correto corpo, materialização do acontecimento musical e um conforto auditivo que não estou acostumado a ouvir nas gravações tecnicamente limitadas.

Em comparação com o nosso pré de referência, o Dan D’Agostino, as diferenças poderiam ser traduzidas no maior conforto proporcionado pelo Nagra (independente da qualidade de gravação) e na apresentação do palco muito mais holográfico e preciso (principalmente em música clássica). Difícil definir qual agrada mais, pois ambos são de um nível superlativo muito alto!

Depois da queima total de 200 horas, diria que são praticamente do mesmo campeonato, e certamente terão audiófilos que irão preferir a assinatura sônica do D’Agostino e outros do Nagra.

SEGUNDO ATO – O PONTO FORA DA CURVA

Já devidamente amaciada a fonte (200 horas de queima), colocamos o Pré Classic para ouvir como a Nagra recomenda usar, para se extrair o seu máximo em termos de silêncio e performance: com a fonte externa PSU.

É um outro pré.

O seu silêncio de fundo é tão impressionante que o remete a entrar na sombra do HD e não mais pertencer a linha Classic. A microdinâmica ganha uma apresentação que, tirando o Nagra HD, não escutei em nenhum outro pré.

Interessante que sua apresentação em termos de transparência se iguala ao pré da CH Precision (também excepcional neste quesito), mas possui mais calor – ou musicalidade, como queiram definir o equilíbrio entre transparência e naturalidade.

O palco, que já era excelente, se torna ainda maior, com mais profundidade e mais foco, recorte e ambiência.

Mas junto com a microdinâmica, o que mais chama a atenção é no refinamento do equilíbrio tonal e na extensão nas duas pontas.

Os graves são mais precisos, com melhor deslocamento de ar e energia. Os agudos ampliam o tempo de decaimento, permitindo que sons, ainda que fracos, não sejam cortados com a entrada de novas frequências. Este detalhe ficou explícito ao ouvir uma obra de canto gregoriano, em que as duas vozes agudas que sustentam uma nota são encobertas por vozes mais fortes na região média-alta. Eu já havia anotado esse detalhe na audição do pré HD, e escutado como essa faixa se comportava no nosso pré de referência. O Classic com a fonte externa tem o mesmo comportamento do HD.

Junto com a micro e o equilíbrio tonal, outro quesito muito favorecido são as texturas. UAU! Se o leitor reler o teste do pré HD, verá que fiquei encantado com a forma que aquele pré reproduzia texturas. Uma beleza extrema, tanto em termos de paleta de cores de cada instrumento, como na fidelidade na apresentação da qualidade dos instrumentos e dos músicos. Possibilitando ver e sentirmos o que estamos ouvindo! O Classic é o pré que chegou mais próximo desta resolução, o que é um fato impressionante, já que ele com a fonte externa custa o mesmo que o nosso pré de referência e a metade do pré HD da Nagra!

Os outros quesitos da nossa Metodologia (transientes, corpo harmônico, macro dinâmica e organicidade) não tiveram uma brutal diferença, como os quesitos aqui citados. Mas também foram refinados, ou melhor: lapidados!

O conforto auditivo e a inteligibilidade são outros, quando se instala a fonte. Tanto que não dá para voltar atrás depois de ouvir por semanas com a fonte. Sua musicalidade é tão expressiva e intensa, que a vontade é escutar todos os seus discos o mais rápido possível, pois todos terão alguma coisa a descobrir.

Ficarei com um exemplo só: o CD do João Bosco, Zona de Fronteira, um disco que gosto muito. Porém, como a maioria das gravações nacionais, com mais compressão que o necessário, um som mais frontalizado, foco e recorte confuso e alguns instrumentos com equalização. Ou seja, muita energia na região média do espectro, que dificulta a inteligibilidade de muitos instrumentos, como por exemplo o violão do João Bosco (não é impressionante que isso ocorra?). Pois é, tente acompanhar em todas as faixas o violão do João Bosco e você perceberá que para não perder o violão, você terá que abrir mão do todo.

Este é o tipo de escolha que não deveríamos ter que fazer em uma gravação de MPB, (mas este é um assunto para outro local).

Pois bem, já havia notado que no Nagra HD não se tem que abrir mão do todo para acompanhar o violão em nenhuma das 12 faixas. Tudo está ali, e o ouvinte não precisa realizar nenhum esforço. Nos prés CH Precision e o nosso de referência, algumas faixas (as mais bem captadas ou com menos instrumentos) você consegue ouvir o todo, mas outras só fazendo uma escolha: ou o violão ou o resto.

Pois no Nagra Classic com a fonte externa, você tem o mesmo conforto auditivo do Nagra HD. Outro detalhe: deste disco o que gosto muito são os arranjos de cordas, de muito bom gosto e pontuais. Porém, soam duros na maioria dos sistemas, e com uma tendência a sobressair o médio-alto.

Aqui, só o HD havia feito o milagre de tornar mais ‘palatável’, sem perda de extensão nos agudos. Tanto que antes de testar o HD, já tinha aceito que não havia como extrair um naipe de cordas mais natural neste disco!

O Classic, com a fonte PSU, também torna mais natural o timbre das cordas – aqui não no mesmo patamar do HD, mas próximo. Parecem detalhes de alguém ‘perfeccionista’, mas não encarem por este ângulo. Pois estamos falando de produtos Estado da Arte, que podem custar muito mais que uma casa no Morumbi!

Então se pudermos ‘resgatar’ gravações que amamos – mas que desde que escolhemos esse hobby, a cada novo upgrade, nossa pilha de discos ‘renegados’ cresce – algo está errado, meu amigo. Pois a tecnologia avançou tanto, que agora a direção é justamente de dar a maior inteligibilidade possível, com o melhor conforto auditivo. Então pare e repense!

Ouvi tantos equipamentos nos últimos 30 anos da minha vida, que está difícil memorizar de bate pronto todos que, por algum motivo, estão na minha gaveta de Melhores Produtos. Uma coisa é escutar produtos, outra é montar setups corretos. Se for pela estrada de configurações, aí minha memória ainda funciona.

O que posso reafirmar (já que nas conclusões dos três Nagras já testados eu fui por essa linha de raciocínio) é que um setup Nagra não será o sistema perfeito para todos que buscam musicalidade, pois existem setups mais musicais que ele (entenda por musical um sistema agradável de se ouvir e que nos emocione, OK?).

Também não será o sistema mais transparente que existe (defina transparência pela capacidade de se escutar absolutamente todos os detalhes existentes na gravação).

E também não será um show de pirotecnia (defina isso como sobressaltos a cada crescendo ou na sustentação turbinada de fortíssimos).

Se sua busca está por uma dessas vertentes possíveis, e muito bem apresentadas por inúmeros fabricantes de hi-end, um setup Nagra será apenas o correto e agradável.

Mas se você busca justamente o correto que seja neutro o suficiente para deixar fluir cada gravação com suas qualidades e defeitos, o permita ouvir e diferenciar o bom músico com seu instrumento de qualidade razoável (entenda este ‘razoável’ por boa afinação) de um virtuose, então meu amigo, um setup Nagra precisa estar no seu campo de visão.

Em um setup Nagra nunca a partes são mais importantes que o todo. Não há favorecimento ou escolha por uma qualidade em detrimento de outra. Você pode até estranhar a falta de algo que você tanto preza em uma reprodução hi-end, mas quando você começa a ouvir mais atentamente, a primeira coisa que chama a atenção é que não há esforço para ouvir absolutamente tudo que a gravação captou, os timbres são essencialmente fiéis ao que foi gravado, não há coloração nenhuma no equilíbrio tonal, você se sente tão relaxado que começa a observar as técnicas de digitação de cada instrumentista, a assinatura sônica de cada instrumento, se o músico estava tenso ou relaxado quando fez o take escolhido.

A técnica vocal dos cantores, a qualidade dos microfones, a qualidade da acústica das salas de concerto, os naipes das filarmônicas e sinfônicas, a precisão no andamento, o silêncio entre as notas, os deslizes em gravações descuidadas ou mal finalizadas.

E depois de uma audição de algumas horas, você percebe o quanto de emoção foi introduzido nessa audição e como tudo soou de forma harmônica e sem nenhum tipo de fadiga auditiva. Este é o resumo da assinatura Nagra.

Claro que todos podem descobrir outras, mas encerro por aqui na esperança de ter conseguido descrever as qualidades deste pré Classic, ligado a um sistema todo Classic.
Confesso que fui fisgado integralmente.

Para o último um terço desta minha jornada, não consigo vislumbrar companhia mais perfeita, tanto para desenvolver o meu trabalho, como para as minhas horas de lazer. Como um viajante com saudade de casa, posso dizer que a longa peregrinação acabou! Ter a
oportunidade de conhecer e desfrutar um sistema deste nível, é um verdadeiro troféu para tantos anos de estrada.

Se a sua busca por um setup com essas qualidades e virtudes lhe interessa, só posso dizer: não hesite, ouça!

NAGRA CLASSIC PREAMP
(PRÉ SEM A FONTE EXTERNA)
Nota: 100,0
NAGRA CLASSIC PREAMP
(COM A FONTE EXTERNA PSU)
Nota: 105,0
AVMAG #261
German Audio

contato@germanaudio.com.br
Pré: US$ 28.152
Pré mais a fonte: US$ 52.900
Base anti-vibração da Nagra: US$ 3.672
(vai de brinde, se levar o pré mais a fonte)

AMPLIFICADOR INTEGRADO HEGEL H95

Juan Lourenço

A Mediagear, importadora oficial da Hegel no Brasil, disponibilizou para teste um exemplar do amplificador integrado novo H95, lançado este ano. Ele será o substituto do H90 (2018), testado por nós na edição 237.

Externamente o H95 é igual ao H90, mesma cara, mesmo painel e chassi e mesma tela OLED e saída de fone de ouvido 6,3 mm no painel frontal. A potência é de 2x 60 W em 8 Ω, carga mínima de 2 Ω, resposta de frequência de 5 Hz -100 kHz, relação sinal-ruído maior que 100dB, distorção menor que 0,01% (@ 25 W / 8 Ω / 1 kHz), fator de amortecimento maior que 2.000 (estágio de saída de principal), dimensões de 43 cm x 10 cm x 31 cm (L x A x P), e peso com embalagem de 10,6 kg.

As conexões no painel traseiro continuam as mesmas: duas entradas RCAs, três entradas ópticas Toslink, coaxial digital, USB e rede, além de uma saída variável RCA. O que distingue mesmo o H95 de seu antecessor está na parte interna do gabinete, que culmina em uma sonoridade mais próxima do H120 e H190, já que o H95 compartilha a tecnologia SoundEngine2 e o chip de rede e DAC USB AK4490 de 32 bits, com 2 canais de arquitetura VELVET SOUND, da AKM, que suporta até 768 kHz PCM e 11,2 MHz em DSD, tem suporte ao Spotify Connect e conexão UPnP mais estável, além de compatibilidade com AirPlay e, em breve, AirPlay2 por meio de atualização de firmware. Infelizmente a Hegel insiste em não dar suporte ao Roon como end point. É uma pena, pois este recurso além de ser absolutamente melhor que o MConect como player, oferece um resultado sonoro melhor em todos os sentidos.

O controle remoto é o mesmo do H90 e, sinceramente, acho melhor que o oferecido nos modelos H360 em diante. Não tem a “opulência” do alumínio, mas tem ergonomia, tato e uma precisão que o controle top jamais teve. Você pode literalmente apontar o controle para o teto, pode se afastar lateralmente do aparelho e apontar para um vão enorme e ainda assim o Hegel irá responder aos comandos do controle. Tente fazer isto com o de alumínio.

Aparentemente o H95 também traz o mesmo incremento na sonoridade observado no H120, o que seria uma ótima, pois aquele médio-grave mais coerente no H120, se estiver presente no H95, faria com que as audições se tornassem ainda mais prazerosas.

COMO TOCA

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos, ligados ao amplificador integrado Hegel H95. Fontes: Innuos Zen mini MK3 com fonte externa. Cabos de força: Transparent MM2 e Sunrise Lab Illusion MS. Cabos de interconexão: Sunrise Lab Illusion MS RCA e coaxial digital, USB Curious, e USB Sunrise Lab Illusion. Cabo de caixa: Sunrise Lab Illusion MS. Caixa acústica: Neat Ultimatum XL6 e Q Acoustic 3020i. Fone de ouvido: Sennheiser HD800.

O tempo de amaciamento do Hegel H95 foi de 280 horas, aproximadamente. Suas primeiras músicas em nosso sistema de referência não tiveram o mesmo impacto do H120, que já saiu tocando muito bem. Usando a entrada analógica, o H95 soava como um aparelho realmente novo com zero de amaciamento, duro e sem extensão nos dois extremos. O grave era bastante engessado e com pouca articulação. Por incrível que possa parecer, esta sensação diminuía bastante quando utilizado o DAC interno via USB. Como era de se suspeitar, o DAC realmente evoluiu bastante a ponto de, nas primeiras 100 horas, tocar melhor com mais extensão nos extremos e menos “pilhado” que a entrada analógica.

Após o amaciamento do aparelho, começamos com o disco da Holly Cole Trio – It Happened One Night, faixas 1, 2, 5 e 6. A dureza que havia no início do amaciamento deu lugar à um relaxamento muito interessante: no H90 quando chegou exatamente neste mesmo ponto de relaxamento, algumas destas músicas tinham um dedo de letargia e outras não – já com o H95 aquela sensação de “ao vivo”, de pegada e de que os músicos estavam todos ligados estava presente o tempo todo e em todas as músicas, inclusive na faixa 6 que é uma levada mais calma e cheia de intencionalidades, mesmo no maravilhoso solo do guitarrista que soube captar bem a essência da letra e aquele ar de música do campo, e ainda assim ele está lá ligado fazendo tudo com extrema atenção. A mão direita do piano não ficava no limite de estourar as notas como no H90, e tinha uma disposição no palco sonoro mais coerente, também. O H95 não traz uma revolução, ele é sim uma evolução do H90, ele caminha para frente e não de lado, mas as mudanças são mais no sentido de lapidação da sonoridade que já existia no H90.

O mesmo se apresentou ouvindo Hadouk Trio, disco Air Hadouk faixas 1, 2, 10 e 12. Na faixa 10, em que o percussionista não deixa a nuvem de pratos caírem por nada, o relaxamento na sonoridade dos pratos permite a estes cintilarem, e o sax soprano não soar cansativo.

Mesmo nas faixas 1, 2 e 12, que não é mais sax soprano, mas sim um bambu sax, e neste instrumento tudo fica “craquelado”, estridente e bastante ruidoso, consegue-se extrair um bom conforto auditivo. Querer timbres e texturas neste instrumento é uma tarefa ingrata para qualquer parte de um sistema de áudio, e nos equipamentos mais abaixo é quase impossível. Ainda assim, o H95 não faz feio e entrega um instrumento agradável de ouvir e com ótima extensão.

Os 60W do H95 são suficientes para empurrar uma quantidade enorme de caixas de seu patamar e acima. No caso da Neat, como ela é uma caixa com um falante isobárico e outro virado para baixo, e tem sensibilidade baixa, o H95 teve dificuldade em trazer uma apresentação mais equilibrada, principalmente no que se refere a deslocamento de ar. Já com a book Q Acoustics 3020i, ele se deu muito bem, com fôlego e disposição, em controlar a caixa por completo, apresentando um nível de conforto auditivo e uma apresentação mais calma, menos tensa, na verdade. Por este motivo sugiro fortemente uma book ou torres como a Q Acoustics 3050i, KEF R7 ou a Monitor Audio linha Bronze ou Silver, que são caixas acústicas com maior sensibilidade e falantes mais fáceis de dominar.

No início do amaciamento, observei que o DAC via USB tocava melhor que a entrada analógica, pois após o amaciamento, quando usado o DAC interno do Innuos e a saída RCA do mesmo, há uma leve vantagem para o RCA, mas quando se utiliza poder de fogo real, como é o caso do DAC Hegel HD30, esta diferença cresce exponencialmente em favor do RCA.

Já com fone de ouvido, o resultado é muito bom, à amplificação controla muito bem o fone de ouvido, o que é uma maravilha. Os timbres são ótimos e não falta fôlego para empurrar o fone tirando aquela sensação do palco “de cima da cabeça”.

CONCLUSÃO

A Hegel sabe aonde quer chegar, e com o H95 ela se coloca novamente à frente de seus principais concorrentes. A evolução continua caminhando para frente em pontos em que o consumidor nem sempre espera, mas que, ao ouvir, logo percebe que é aquele o som que desejava e não sabia.

AMPLIFICADOR INTEGRADO HEGEL H95
(COM O USO DO DAC INTERNO)
Nota: 84,0
AMPLIFICADOR INTEGRADO HEGEL H95
(COM O USO DO DAC EXTERNO)
Nota: 87,5
AVMAG #268
Mediagear

(16) 3621.7699
R$ 18.375

AMPLIFICADOR INTEGRADO HEGEL H120

Juan Lourenço

A Mediagear nos trouxe um exemplar do amplificador integrado Hegel H120, o substituto do Hegel Rost. Como é costume com os produtos Hegel, o seu custo/benefício é matador, e com o Rost a Hegel foi um pouco além, colocando em uma caixa minimalista um conjunto de muito bom nível com a amplificação, etapa de pré e DAC em patamares semelhantes.

Com o H120, sucessor natural do Hegel Rost, a empresa mantém a proposta iniciada com ele, adicionando pequenas melhorias ao que já era muito bom.

Seguindo o design atualizado da Hegel com o novo visor OLED, saída para fone de ouvido de 6,3 mm, e novo botão liga/desliga de acionamento rápido localizado abaixo do visor, a empresa mantém seus produtos quase que intocados, mantendo a tradição de que em time que está ganhando não se mexe.

No painel traseiro há dois pares de entradas (RCA) e um par de entradas balanceadas (XLR), e um par de saídas pré (RCA) variáveis. Qualquer uma das entradas analógicas pode ser configurada como “bypass” para home-theater. As entradas digitais começam por três óticas TosLink, uma coaxial S/PDIF, uma porta Ethernet e uma USB Tipo-B.

Os bornes de caixa são postos em U, com os negativos mais para dentro que os positivos. Não sei se, isto é, por falta de espaço interno, mas não ajuda em nada quando falamos de cabos de caixa mais rígidos.

O H120 possui duas fontes de alimentação e dois transformadores toroidais. Ou seja, a amplificação da sessão de power, com seus 75 W por canal em 8 ohms, é totalmente separada da alimentação do DAC e do pré-amplificador – algo que é visto apenas nos
amplificadores topo de linha. O fator de amortecimento de mais de 2000 já virou regra e não seria diferente no H120 já que ele também herdou a tecnologia SoundEngine2, que utiliza um “computador analógico” para inserir um sinal de correção no circuito em cada estágio de amplificação, antes que o sinal seja amplificado pelo próximo estágio, cancelando distorções.

O DAC do H120 é idêntico ao do H190, com o mesmo chip AK4490 da AKM, cercado por fontes de alimentação melhores, circuitos balanceados revisados e mais sofisticados, trazendo mais refinamento ao conjunto digital e se equiparando ao restante do aparelho.

Sabemos que nos sistemas integrados modernos que possuem DAC, este é sempre o calcanhar de Aquiles, ficando alguns passos atrás da amplificação e não restando nada que o pré possa fazer a respeito. No Hegel H120, essa distância cai a níveis ínfimos, passando a ter um custo/benefício realmente atraente, pois em termos de qualidade sonora seu DAC demorará mais para se tornar obsoleto, já que está muito próximo do desempenho sonoro do conjunto analógico.

Como nem tudo são flores, e como manda o velho jargão “não existe almoço grátis”, a Hegel não apostou nas novas tendências digitais, como DSD, deixando de fora também o MQA e o acesso ao Roon como “end point”. Em minha opinião, um erro grotesco que já deveriam ter aprendido lá no lançamento do DAC HD30, que é um aparelho maravilhoso de pontuação altíssima, mas que ficou fora da lista de compras de muitos audiófilos que viram em seus concorrentes maiores possibilidades, pois estes já traziam tais recursos que a Hegel insiste em fazer de conta que é uma modinha passageira. O resultado é um aparelho formidável que só os poucos puristas do áudio, os que ligam para o resultado sonoro, e os menos preguiçosos, vão se interessar. Voltando ao H120 que também não possui tais recursos, o atrativo fica por conta do Airplay, Spotify Connect, IP Control, Control 4 e streaming via UPnP, que não é ruim quando utilizado com aplicativos como MConect ou Bubble UPnP.

O controle remoto é o mesmo que acompanha todos os produtos Hegel, mas o código de operação é diferente – apenas alguns botões são compartilhados entre os aparelhos, como os botões que comandam PC e o botão que desliga a tela.

O H120 vem configurado para desligar após 10 minutos de inatividade, ou em volumes muito baixos. É possível desativar a função de espera pressionando o botão de play PC no controle remoto por 5 segundos, acessando o menu e a função “sleep”. O volume de entrada que vem de fábrica em “20” também pode ser configurado, e assim toda vez que aparelho for ligado o volume estará na sua intensidade preferida.

COMO TOCA

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos ligados ao amplificador integrado Hegel H120. Fontes: Innuos ZENmini 3 com fonte externa, e o próprio streamer interno do H120, e o DAC Hegel HD30. Cabos de força: Transparent MM2, Sunrise Lab Illusion, e Quintessence Magic Scope. Cabos de interconexão: Sunrise Lab Quintessence, e Reference Magic Scope RCA e Coaxial digital, Sax Soul Cables Zafira III XLR, Curious USB, Sunrise Lab Quintessence USB. Cabos de caixa: Sunrise Lab Quintessence, e Reference Magic Scope. Fones de ouvido: Sennheiser HD 700 e HD 800, e Grado Labs The Prestige SR125e. Caixas acústicas: Dynaudio Emit M30, Q Acoustics 3020i, e Neat Ultimatum XL6.

O Hegel H120 veio lacrado, e retirá-lo da caixa dupla é bastante fácil já que o aparelho fica apoiado em duas plataformas de espuma de polietileno. Abaixo dele fica a caixa contendo manual do proprietário, controle remoto, pilhas e cabo de alimentação.

Ao iniciar as audições, logo percebemos que este não era um Hegel como os outros com a sonoridade que estava acostumado a ouvir. Havia algo de diferente nele, que pensei ser coisa de amaciamento, mas não: após 300 horas de amaciamento confirmamos que o Hegel H120 saía um pouco do padrão dos aparelhos de entrada da marca, acrescentando algo que, no início, parecia uma pitada de calor em sua assinatura sônica, mais precisamente no médio-grave.

Com isto, a transição entre a região grave – passando pelo médio-grave – e a região média, que nos Hegels era extremamente clara, limpa e cirúrgica, quase etérea de tão cheia de harmônicos, que tomou o mercado de assalto, no H120 era mais líquida, com uma apresentação mais simplista, no bom sentido. No H120 a clareza estava lá, a folga e os timbres corretos também, mas ele trazia no equilíbrio tonal uma leitura da música mais voltada para o todo, e não era o Hegel com vozes encantadoras e transientes matadores de antes, era o Hegel que apresentava o todo de forma bastante uniforme com um relaxamento em todo o espectro auditivo. Até então conseguia isto gastando duas vezes o valor do aparelho em cabos, então comecei a revisar todos os discos que tinha à mão buscando entender aquela sonoridade.

Vieram os discos Bridges da Dianne Reeves, Below the Fold de Otis Taylor, Black Light Syndrome de Bozzio Levin Stevens, Color of Soil de Tiger Okoshi, e tantos outros discos que ajudaram a dar um sentido para aquilo que ouvíamos.

Não era um calor na região médio-grave, não se tratava de um erro no projeto ou algo do tipo. Era uma folga e uma riqueza tímbrica ainda maior em todas as regiões, que fazia com que o equilíbrio tonal não pendesse para cima como se tudo estivesse um semitom acima. Não que os Hegels tivessem esta característica, mas eles andavam no fio da navalha neste quesito. O que é fantástico para os modelos topo de linha, pois geralmente são acompanhados de cabos e fontes realmente hi-end, que custam até 3 vezes o seu valor e muita experiência de seu proprietário para sacar as necessidades do sistema e remanejar cabos, etc. Mas nos modelos mais abaixo, exigia os dois níveis do Curso de Percepção Auditiva, e mais alguns anos de bagagem, para não ficar na corda bamba e se frustrar com o aparelho, já que na audiófilia é muito fácil perder a mão e desfigurar todo o sistema.

Trocando em miúdos, com o equilíbrio tonal mais correto o aparelho fica mais amigável com cabeamentos que tenham sonoridades e filosofias de projeto diferentes. Algo semelhante ao que a tecnologia SoundEngine2 faz com caixas acústicas, ignorando um pouco de suas manias, pouco se importando com o quão pesada é a bobina de falante, controlando-a da melhor maneira possível. Este equilíbrio tonal, puxando mais para baixo, não é uma aberração, ele está presente nos equipamentos Estado da Arte alto mais modernos, fazendo com que o aparelho reaja melhor à combinações de cabos e equipamentos, dando mais folga para o streamer de áudio e fontes que tendem a sofrer de “digitalite”, como os PC Áudio que costumam ser bastante analíticos neste ponto, e de quebra ganhamos uma apresentação musical mais alinhada com as novas tendências da audiófilia, que vem buscando cada vez mais naturalidade, simplicidade (no bom sentido) na apresentação sem deixarem de ser reveladores, só que agora é o todo que chama a atenção, e não um sino na música que soa maior que um violoncelo.

Um bom exemplo é Colour to the Moon (feat. Chris Jones, Beo Brockhausen, Hans-Joerg Maucksch) onde a frequência que dá início à música em alguns sistemas soa maior que o próprio violão. No H120, a folga dele é tanta que a frequência mantém seu tamanho pequeno e assim segue até findar-se, mesmo com as variações de intensidade da mesma.

No solo de contrabaixo do disco Car Désespérée (Live), de Cécile Verny Quartet, fica bastante evidente como o H120 lida com as intencionalidades. Ele não faz concessões tirando um pouco do tamanho dos pratos para trazer a pujança do baixo, ele não tira o brilho dos assobios da Cecile para dar textura à manobra de espelho do contrabaixista, nem sacrifica a dinâmica e intensidade dos falsetes da cantora para lhe entregar um gritinho que não assusta. O mesmo se aplica ao Joe Zawinul, disco Brown Street, disco 2 faixa 1: uma pedreira e tanto com um naipe de metais vigoroso, um contrabaixo elétrico rápido e vigoroso extremamente bem digitado, mas que em meio à tantos instrumentos e um saxofone em evidência, alguns aparelhos precisam fazer alguma concessão para que o baixo elétrico não desapareça. Com o H120 não tem “mel de açúcar”: a folga e o equilíbrio tonal refinado não escondem o baixista, muito menos abala o ritmo das pausas do baterista que utiliza até o último milissegundo da pausa para soltar a baqueta na pele. Observem que no início da música, o baterista segue um ritmo mais cadenciado e as pausas são normais, mas lá pelo meio da música, quando acontece o primeiro refrão dos metais, e o baixista pega fogo, o baterista passa a dar um pelo a mais na pausa antes da batida na pele. O Rost, neste quesito dava umas bambeadas, hora dando muita ênfase para o baixista, hora ao baterista, os dois nunca ficavam cada um no seu quadrado, era como uma competição interna.

Com fones de ouvido, o H120 se mostra bastante versátil, trazendo uma boa dose de potência e controle sobre os fones da Sennheiser. Com o Grado ele foi bastante gentil em lidar com sua sensibilidade e impedância mais voltadas para smartphones. As características que se ouve nas caixas estão presentes no fone de ouvido. Velocidade e som pulsante são características marcantes. O HD 800 sentiu um pouco, em algumas passagens de música clássica, mas nada que faça perder o desejo de ouvir e querer ir guardar o fone. Já o HD 700 rodou super bem com um arejamento fantástico, timbres muito bonitos e uma precisão rítmica que dava inveja ao meu amplificador de fones de ouvido.

CONCLUSÃO

A transparência que é inerente aos aparelhos digitais, como fontes e conversores de digital para analógico (DAC), já está lá e não precisa buscar, mas fazer com que esta transparência venha acompanhada de folga, timbres e transientes, e decaimentos mais naturais, são o grande desafio para os projetistas que buscam sair do básico. E um aparelho que tem como trunfo um DAC com Streamer de música, como é o caso da maioria dos amplificadores integrados modernos, ter folga para apresentar essa transparência sem roubar a atenção da música como um todo, é de suma importância. E ter um equilíbrio tonal correto que permita ao ouvinte encarar um pouco mais da verdade contida na música ainda mais importante nos dias de hoje.

A Hegel apresenta ao mercado nacional um aparelho de custo/benefício ímpar, que não entrega apenas um bom DAC e um streaming de música decente, ele é capaz de nos aproximar um pouco mais da verdade contida na música. Ele não é mais refinado que o H190, mas é tão correto e realista quanto, sem dúvida.

Nota: 88,5
AVMAG #266
Mediagear

(16) 3621.7699
R$ 24.355

AMPLIFICADOR INTEGRADO PASS LABS INT-25

Fernando Andrette

Fazia tempo que não recebíamos um produto do engenheiro Nelson Pass para teste. De cabeça, lembro apenas do pré top de linha e do pré de phono – também top de linha – mas isso já faz alguns anos.

Então quando o Heber da Ferrari ligou perguntando se, junto com o power da CH Precision A1.5 (leia teste na edição de junho de 2020), tínhamos o interesse de ouvir o INT-25, ouviu um sonoro sim.

Foi ótimo, pois ambos chegaram quando estávamos com uma boa safra de excelentes caixas acústicas, como: as novas Revel da linha PerformaBe (leia testes nas edições de maio e junho de 2020), a bookshelf da Elipson Prestige Facet 8B (leia o teste na edição de abril de 2020), e nossa caixa de referência, a Wilson Audio Sasha DAW.

Também tivemos a oportunidade de ouvir o integrado com três excelentes cabos de caixa: o Sunrise Lab Quintessence, o Reference XL G5 da Transparent, e o Feel Different.

Nelson Pass é talvez, na atualidade, um dos mais prestigiados engenheiros de equipamentos hi-end do mercado norte americano. Basta olhar o número de Revisores Críticos de Áudio nos Estados Unidos que utilizam seus equipamentos como suas referências. Com posições firmes (e muitas vezes até incisivas demais), ele construiu a imagem de sua empresa, e a legião de admiradores é crescente mundialmente.

Ainda que não concorde com algumas de suas “colocações”, entendo perfeitamente que, em uma estratégia de marketing que esteja dando resultados, não há razão para alterar nada.

Uma de suas colocações (que não concordo) encontrei logo no primeiro parágrafo da página dedicada à apresentação do INT-25. Lá está escrito: “Os audiófilos, audiófilos sérios, não vêem um amplificador integrado como um produto digno há mais de 30 anos. A Pass Labs mudou esse paradigma para sempre!”. Me desculpe o Sr. Nelson Pass, mas os fatos estão aí para, no mínimo, mostrar que se tem um segmento que “virou o jogo” nos últimos 20 anos foi justamente o de amplificadores integrados. Não canso de constatar essa “realidade” há mais de uma década, nas páginas desta revista!

Polêmicas à parte, o importante é que posso garantir que o INT-25 é um excelente amplificador integrado e têm excelentes “pergaminhos” para ocupar um lugar de destaque neste universo tão competitivo.

Na página descritiva do INT-25, Nelson Pass nos descreve o que leva seu novo integrado a uma excelente performance:

  • Pontos de operação otimizados para maiores requisitos de energia;
  • Maior versatilidade;
  • Estável em qualquer carga de alto-falante.

A Pass Labs também reforça que o INT-25 utiliza as mesmas topologias dos modelos mais sofisticados, como: componentes da mais alta qualidade em topologia lineares, com grandes fontes, transistores FET e grandes dissipadores, sendo um amplificador estéreo de Classe A menor, a um preço mais baixo, em um circuito simples com menos partes no caminho do sinal, permitindo a eliminação de feedback negativo em todas as etapas do sinal.

Segundo Nelson Pass, os estágios mais simples e com menos ganho melhoram a velocidade e a estabilidade, pois tensões mais baixas significam a capacidade de acionar dispositivos de ganho em correntes de polarização mais altas.

A seção de pré amplificação é uma versão simplificada daquela utilizada no INT-60 e no INT-250, com três entradas de nível de linha. As especificações, segundo o fabricante: ganho de 26 dB, 3 entradas RCA, potência de saída de 25 Watts em 8 Ohms e 50 Watts em
4 Ohms. Distorção de 0,1% (1 kHz a 25 Watts em 8 Ohms), fator de amortecimento >500, corrente de pico de 10A, temperatura em uso adequado de 53 graus, peso 23 kg.

Em seu painel frontal temos o display com led azul (característico da marca), botão de liga/desliga e das três entradas de linha, e à direita o botão de volume. O painel traseiro é tão minimalista quanto: as três entradas de linha, os plugs de caixa de boa qualidade, que aceitam qualquer tipo de terminação no cabo de caixa, e tomada IEC. O seu controle remoto é de excelente qualidade, com as funções de volume e mute.

O INT-25 chegou novinho, lacrado. Fizemos a audição inicial para marcar o “marco zero” do equipamento, ligado às books da Revel PerformaBe, com o Transporte Scarlatti e o Nagra HD DAC X (leia Teste 1 na edição 264), depois e voltamos ao teste do DAC Nagra.

Como todo amplificador de alto nível classe A, será preciso esperar pelo menos 40 minutos antes de realizarmos nossas audições. E quando o produto chega “zerado”, será preciso ao menos 250 horas de queima antes de tirarmos nossas conclusões finais.

Interessante que todo admirador da linha de equipamentos Pass Labs sempre utiliza o seguinte argumento para defender sua escolha: “soam como válvulas, mas possuem a transparência do transistor”. Eu tive a oportunidade de ouvir alguns powers da Pass Labs com maior potência, tanto estéreo como monoblocos (ligados a prés da Pass Labs, ou com outros excelentes prés), e não tive essa sensação que soam como valvulados. Possuem uma assinatura sônica quente, cativante, mas não me remetem à uma comparação com valvulados (falo de powers valvulados como o Audio Research 160M, que foi o último que testei).

Talvez, a referência desses leitores seja de topologias de valvulados mais antigos, com um som mais “eufônico”. O INT-25 possui sim a magia de nos fazer embrenhar nos detalhes das texturas, das sutilezas dos micro-detalhes, sem jamais perder a noção do todo. É um som cativante, eloquente, com muita personalidade, que impõe suas regras aos pares de caixas acústicas, independentes de serem amigáveis ou não.

Essa autoridade sobre as caixas impressiona, e nos faz duvidar que sua potência real seja de apenas 25 Watts por canal em 8 Ohms. Já vi testes de bancada que mostram números acima de todos os powers Pass Labs testados, as vezes com margens superiores a 20% do apresentado na ficha técnica do produto. Nelson Pass deve ter lá suas razões para manter tudo como está.

Seu equilíbrio tonal é de alto nível, agudos muito estendidos, com suave decaimento que nos permite ter uma boa ideia da sala de gravação e acompanhar os micro-detalhes, mesmo no pianíssimo. Sua região média é admirável, pois os instrumentos e vozes são “palpáveis”, com um enorme conforto auditivo e naturalidade. E os graves, não carecem de energia ou deslocamento de ar.

Seu soundstage possui excelente altura e largura, carecendo apenas de uma maior profundidade (essa observação foi feita com as quatro caixas utilizadas no teste). Para pequenos grupos não haverá nenhum comprometimento, apenas para música clássica um pouco mais de planos e respiro seria apropriado.

As texturas são espetaculares, tanto em termos de paleta de cores como no grau de apresentação da intencionalidade. Os amantes de guitarra irão delirar com a capacidade do Pass Labs de apresentar os detalhes de digitação, técnica no uso de palheta e sustentação. Literalmente é uma bela viagem sonora, ouvir as texturas neste INT-25!

Os transientes são excelentes, e mantém ritmo e tempo de forma precisa, independente da complexidade do tema. Ouvi dois discos do baterista Vinnie Colaiuta, onde muitas vezes as mudanças de compasso dão um nó na cabeça. Este integrado consegue “desvendar” esse nó de forma magistral!

O corpo harmônico é excelente. Já citei aqui várias vezes que utilizo sempre gravações de duos de contrabaixo e cello, ou flauta e picollo, para essa avaliação, e às vezes algumas gravações de violino e piano, ou cello e piano. São exemplos matadores para a prova dos nove deste quesito. Se as diferenças forem apenas sutis, pode começar tudo de novo. Até descobrir a razão dos corpos sempre homogêneos. Não há como enganar nosso cérebro de que não é mais reprodução eletrônica, com corpos do tamanho de pizza brotinho! No INT-25, a precisão no tamanho não chega ao nível de nosso amplificador de referência, porém este INT-25 custa uma fração!

Organicidade: a tão desejada materialização física do acontecimento musical em nossa sala, em gravações de alto nível, ocorrerá sem nenhum problema. O INT-25 é muito bom em conseguir nos colocar na sala de gravação!

Em relação a nosso último quesito – musicalidade – o Pass Labs soa tão cativante que é impossível não se deixar seduzir pela sua assinatura sônica (você precisaria ter um coração de lata). Sua sonoridade depois de plenamente amaciado (e levando em conta os 40 minutos de sua estabilização térmica), é sedutoramente musical. Permitindo longas audições sem o menor resquício de fadiga auditiva.

Sua compatibilidade com caixas foi excelente, assim como com todos os cabos de caixa e força que utilizamos. Depois de ouvir o INT-25 com todos os nossos cabos de força de referência, optamos para a avaliação final pelo Feel Different (leia Teste 4 na edição 264), pois a sinergia realçou o melhor de ambos (calor e transparência).

CONCLUSÃO

Se procuras um integrado minimalista, que lhe proponha muitas horas de audição com o maior conforto auditivo possível, o INT-25 deve entrar nesta lista de opções.

Seu grau de compatibilidade com caixas, cabos e fontes é bem alta, o que diminui muito o risco de erro.

Tenha apenas o cuidado de o utilizar em um lugar bem ventilado.

Nota: 89,5
AVMAG #264
Ferrari Technologies

11 5102.2902
US$ 13.900

AMPLIFICADOR INTEGRADO SUNRISE LAB V8 SS

Fernando Andrette

Colocando em uma linha do tempo a trajetória desde o lançamento do V8 MkI, em 2012, percebemos claramente que o engenheiro Ulisses da Sunrise Lab trabalhou incansavelmente para a realização de aprimoramentos neste integrado para que seus clientes pudessem realizar os upgrades de uma série para outra sem trocar o equipamento.

Acho que nem o Ulisses imaginaria o sucesso que o V8 atingiu nesses 8 anos de existência. E não falo do volume de vendas (ainda que seja muito significativo para a realidade do mercado nacional de hi-end), mas sim da possibilidade de se manter o aparelho pagando apenas o valor da atualização – que custa uma fração do valor do produto.

Esta estratégia criou uma fidelidade que se tornou um ‘case’ de mercado e fez com que a Sunrise aplicasse este mesmo processo na sua linha de cabos. Resultado: clientes satisfeitos e crescimento de vendas ano à ano de toda a linha de produtos! Mas nada disto seria possível se realmente o V8 não tivesse uma relação custo/performance surpreendente.

E se todas as descobertas e avanços desenvolvidos pela Sunrise não fossem rapidamente repassados para as novas versões.

O Ulisses compreendeu que os avanços neste segmento hi-end são muito constantes, deixando os equipamentos que não se adequam a esta realidade defasados rapidamente. Como diria meu pai: “Não dá para deitar os louros”, pois quem o fizer será literalmente atropelado pela concorrência.

Testamos o V8 original, a versão MkII, mais recentemente a MkIV e, agora, o V8 SS, que acredito (mas conhecendo o Ulisses, posso errar feio) será a versão final deste incrível integrado. Os que não conhecem o equipamento, mas leram os testes, podem perceber pela pontuação de cada versão o quanto os upgrades foram consistentes e fizeram o V8 pular de patamar. Mas parece que o Ulisses deixou para o ato final sua obra-prima!

E transcrevo aqui o texto que ele nos enviou junto com o aparelho: “Apesar do enorme sucesso do atual, e em produção, V8 MkIV, diante de fontes mais complexas e de caixas mais refinadas, notou-se que havia espaço no mercado para uma versão aprimorada. Foram realizados estudos sistemáticos procurando os limites da atual topologia e suas reais possibilidades de evolução, sempre considerando manter a filosofia da empresa e possibilitar que a nova versão pudesse ser oferecida como upgrade da atual. Este estudo apontou para mudanças radicais na fonte de alimentação e nas etapas de ganho e buffer do pré-amplificador, na filtragem especial da entrada da rede elétrica, na limitação da resposta de frequência da etapa de amplificação e na implementação de suas fontes de alimentação.

Tal conjunto de alterações resultou tecnicamente em aumento considerável na banda passante total e redução de distorção e da rotação de fase, redução do piso de ruído dinâmico e aumento do fator de amortecimento dinâmico. Nas audições críticas, notamos melhor distribuição da energia pelo palco sonoro e ampliação da sensação de força, linearidade e naturalidade de timbre. A capacidade de reprodução de sutilezas até então imperceptíveis, aparece agora com enorme clareza. Os mais de 300 Watts de potência por canal em 4 ohms são, agora, plenamente aproveitáveis, pois a saturação no final da curva de potência ficou praticamente imperceptível. Esteticamente, a única diferença visual encontra-se no VU, com uma nova grafia.”

Transcrevi na íntegra o texto enviado, pois achei que ele pode nos dar uma pista do que ouvir detalhadamente neste teste e também nos ajuda no momento em que colocarmos lado a lado o V8 SS com o V8 MkIV, que a Sunrise gentilmente nos emprestou.

Seria excelente se pudéssemos ter sempre o antecessor do modelo atual de todos os produtos enviados para a realização de nossas observações auditivas, mas isto é uma utopia. Então, quando ocorre, é motivo de comemoração! Afinal, como o Ulisses esclarece, o MkIV continua em linha.

O V8 SS é uma série especial, um pouco mais caro que o V8 MkIV, mas que o leitor verá, ao término deste teste, que o investimento vale cada centavo.

Para o teste utilizamos as seguintes caixas: Boenicke W8 (leia teste 2 na edição 259), W5SE, Rockport Avior MkII e Wilson Audio Sasha DAW. Fontes analógicas: Thorens TD 550 com braço SME Series V, cápsula Transfiguration Proteus, toca-discos Acoustic Signature Storm com braço SME Series V e cápsula Soundsmith Hyperion 2. Pré de phono: Boulder 500. Fonte digital: dCS Scarlatti. Cabos de interconexão: Quintessence da Sunrise Lab, Dynamique Audio Apex e Halo 2, Ágata da Sax Soul. Cabos de caixa: Quintessence da Sunrise Lab, e Halo 2 da Dynamique Audio. Cabos de força: Ilusion e Quintessence da Sunrise Lab, Halo 2 da Dynamique Audio, e PowerLink MM2 da Transparent Audio.

Este setup foi usado em ambos os integrados V8. O que facilitou muito observar todas as diferenças, que são muito audíveis e não precisa ter ‘ouvido de ouro’, ser sintético, analítico, curva personalizada de equalização ou qualquer dessas modas que inventam a todo instante.

Basta sentar e ouvir!

Os interessados no teste do V8 MkIV por favor releiam a edição 234. Lá descrevi em detalhes todas as qualidades do integrado e deixei explícita sua evolução consistente dos modelos anteriores e o quanto sua sua relação custo/performance é difícil de bater em sua faixa de preço (principalmente agora com o dólar acima dos 4 reais).

Mas o V8 SS é de outra estirpe, amigo leitor. Comparar o SS com a versão MkIV é como roubar pirulito de criança. Você não precisa mais que duas ou três faixas para concordar com o que aqui escrevo. Se a política da Sunrise Lab não fosse a de criar uma fidelidade total com os seus clientes, o V8 SS poderia tranquilamente inaugurar uma nova série de integrados deste fabricante, com um novo painel e uma nova fase em termos de refinamento e qualidade.

Tudo soa com maior folga, melhor silêncio de fundo, mais neutro, realista e principalmente correto. Seu equilíbrio tonal é magnífico, possibilitando que os timbres sejam ricos, detalhados e uniformes. No CD Timbres, as diferenças dos microfones são retratadas com tamanha fidelidade que nos remeteu imediatamente aos amplificadores Estado da Arte acima de 95 pontos. Nesses equipamentos, quando ouvimos as faixas com instrumentos de sopros no microfone AKG, alguns desses instrumentos parecem samplers e não o instrumento real! Pois o V8 SS mostrou essas diferenças dos microfones com este grau de realismo!

As texturas são palpáveis e nos apresentam todos os detalhes de intencionalidade existentes na gravação. O soundstage nos mostra os planos com precisão milimétrica, assim como o foco, recorte e a ambiência. Nada de imagens reduzidas ou com aquela sensação de músicos empilhados um por cima do outro. A largura, altura e profundidade é de equipamentos Estado da Arte de nível superlativo.

Assim como o silêncio em volta dos solistas, que fazem como que o nosso cérebro relaxe e aprecie aquele momento com total concentração e admiração!

Os transientes são nocauteadores, tamanha a precisão e correção. Você entende cada nota, por mais complexa que aquela execução seja. Sua dinâmica está entre os melhores integrados que já testamos e com as melhores pontuações, tanto a micro, como a macrodinâmica.

Ouvimos exemplos de macrodinâmica capazes de derrubar powers infinitamente mais caros. E o V8 SS se mostrou impávido e conduziu nestes exemplos à caixa com enorme autoridade e segurança.

O corpo harmônico foi o único quesito em que o V8 MkIV ‘ombreou’ com o V8 SS. Aqui as diferenças foram muito pontuais, somente em duas gravações percebemos que o corpo no V8 SS era ligeiramente maior e mais realista (uma gravação de piano e cello e outra de contrabaixo acústico e cello). Nas demais gravações que usamos para análise deste quesito, ambos se comportaram de maneira idêntica.

No quesito Organicidade, a materialização física do acontecimento musical se faz de maneira muito mais verossímil no V8 SS, com os solistas ali na nossa frente ao alcance de nossas mãos! E na Musicalidade, o conforto auditivo do V8 SS é tão superior, que nos faz, mesmo depois de horas de audição, sair com fadiga zero!

Acredito ter feito uma explanação objetiva das diferenças entre ambos os modelos. Mas preciso acrescentar outras questões que acho de enorme importância. É digno de nota a escolha do engenheiro Ulisses de manter o SS na linha evolutiva do V8. Pois, como escrevi, ele poderia tranquilamente criar uma nova geração de integrados, já que o salto dado neste SS é muito grande em relação ao MkIV.

Talvez, inconscientemente (olha eu utilizando a psicanálise para tentar avaliar a escolha, rs), ele quis dar aos seus clientes a oportunidade de fechar a trajetória deste incrível integrado, brindando-os com esta versão final SS. E se foi esta sua decisão, quem sou eu para dizer se está certo ou errado?

O que posso dizer é que se trata, desde a fundação da revista, do integrado com a melhor relação custo/performance já avaliado. E que certamente entrará para a história da alta-fidelidade nacional como o aparelho que ganhou a melhor pontuação de todos os tempos! E isto é um feito que deve ser comemorado, principalmente por todos que desejam um produto de alto nível que caiba em seus orçamentos.

Este é, para mim, o maior feito deste V8 SS: possibilitar que inúmeros de nossos leitores possam sonhar em ter um integrado Estado da Arte que podem pagar!

A medida que fui realizando o teste, e observando todas as suas inúmeras qualidades e seu alto grau de compatibilidade com todas a caixas e cabos, é que me dei conta que também seria tranquilamente um consumidor para este produto. Pois, para as poucas horas de folga que tenho, colocar meus discos e relaxar esquecendo do mundo, o V8 SS é uma excelente companhia.

E, afinal, também preciso dar uma folga para o nosso Sistema de Referência, que trabalha praticamente os 365 dias do ano, às vezes em jornadas de 10 a 12 horas diárias!

Uma coisa é certa: pretendo, nos futuros Cursos de Percepção Auditiva (que iniciarei no 1º semestre), utilizar no nosso segundo sistema de referência o V8 SS, com certeza. Agora só preciso definir que caixas utilizarei e que fonte. Como irei tirar 15 dias de férias merecidas após o término desta edição, terei tempo para pensar neste setup com enorme carinho. Pois o V8 SS não só merece os melhores pares possíveis, como pode tranquilamente se tornar o integrado definitivo de qualquer melômano e audiófilo.

O Ulisses ainda está em fase de acabamento do novo pré de phono, que pode ser disponibilizado junto com a versão MkIV e com o SS. Eu ainda não escutei esse novo pré, mas pelos relatos do próprio Ulisses e de quem já escutou, é um outro salto em relação ao atual pré de phono da Sunrise. Me comprometo, assim que estiver à disposição, contar para vocês nossas impressões.

O que sei é que o V8 SS que teremos no segundo Sistema de Referência já virá com o pré de phono. Pois assim também daremos uma folga para o Boulder 500.

Gostei também do novo controle remoto, simples, porém com uma melhor ergonomia e possível de usar até mesmo com pouca iluminação na sala – e ao contrário dos que acham sua apresentação ‘espartana’, gosto do seu design simples e objetivo. E garanto que qualquer um que esteja interessado na performance, esquecerá imediatamente o design na hora que começar a escutar o V8 SS.

Não tem como ficar impassível diante de tanta precisão e refinamento!

E para os que ainda tenham dúvidas, lembro que este integrado custa 14 mil reais sem pré de phono e 16.500 com pré de phono MM e MC. Me digam que integrado Estado da Arte importado com 300 Watts em 4 Ohms, pré de phono com entrada MM e MC, custa
4 mil dólares?

Se você colocar na ponta do lápis o que você gastaria para comprar um integrado Estado da Arte antes do V8 chegar ao mercado, seria no mínimo 12 mil dólares. Ou seja, três vezes mais!

Então, meus caros amigos, o V8 SS é um acontecimento para se comemorar e principalmente ouvir. Leve seus discos preferidos e solicite uma audição na Sunrise – você poderá tirar suas próprias conclusões e ver se suas observações batem com as nossas.
Acho que para os audiófilos sedentos por um upgrade no seu integrado, não poderia haver notícia melhor para iniciar 2020!

Nota: 96,0
AVMAG #259
Sunrise Lab

(11) 5594.8172
Sem pré de phono – R$ 14.000
Com pré de phono – R$ 16.500

AMPLIFICADOR INTEGRADO HEGEL H390

Fernando Andrette

Ainda que tenhamos tido um ano completamente atípico, muitas surpresas agradáveis vieram dar uma colorida em um ano tão cinzento e pesado.

A primeira pergunta que me fiz ao desembalar o novo H390 foi: “ele é uma pequena melhora do H360 ou realmente os caras da Hegel se tocaram que poderiam ganhar ainda mais este mercado de integrados, deixando-o mais próximo do H590?”

Pois uma das várias observações que recebi de leitores que ouviram os dois integrados, é que o H360 era muito distante do H590. Então, com essa pergunta na cabeça, lá fui eu tentar descobrir a resposta.

Vendo o site do fabricante, algumas pistas foram dadas, como por exemplo o apelido de “Robin Hood” ou de “Rebelde”. Questionados pela imprensa, os noruegueses da Hegel disseram que o apelido era pelo fato do H390 ser um “redistribuidor de riquezas”, já que mais pessoas poderiam tê-lo gastando um pouco mais de 50% do valor do H590, com muitos dos recursos do top de linha e sua aclamada assinatura sônica!

Lançado em maio de 2019, na feira de Munique, o H390 foi um sucesso instantâneo com pedidos de todos os representantes. E esse sucesso se deu por dois motivos: ele manteve tudo que havia de positivo no H360, como versatilidade e mobilidade, e acrescentou muito da tecnologia do H590, começando pela plataforma de streaming utilizada no H590. Assim, o H390 também é uma opção streaming de rede completo, como o top de linha.

A grande facilidade para o usuário é poder transmitir sinal usando UPnP/DLNA de drives NAS, acessar serviços online incluindo Spotify, Tidal e rádio internet, sob o controle de um aplicativo como Kinsky / Kazoo da Linn, ou o Bubble UPnP. Podendo, se assim desejar, até mesmo transmitir música sem fio para o amplificador através da rede usando o Apple AirPlay.

O H390 também pode ser personalizado usando uma interface de navegador em um computador ou tablet conectado à mesma rede, e ainda receber atualizações de firmware. Permitindo que seja ajustado e aprimorado à medida que haja avanços ou upgrades nesta área.

Uma das melhorias recentes, após seu o lançamento no ano passado, foi o AirPlay 2, com capacidade Roon Ready e compatibilidade de instalação personalizada do Control4.

E, no caso do H390 e H590, os engenheiros da Hegel fizeram atualizações na qualidade do sinal recebido via Ethernet (sendo que este upgrade na minha opinião foi o grande pulo do gato – mais adiante compartilho minhas impressões com vocês).

A seção digital do H390 é muito similar à placa do H590 (não idêntica). O H390 aceita até DSD256 em USB, até DSD64 em todas as outras entradas digitais (usando DSD sobre PCM, ou DoP), e MQA em todas as entradas digitais, sem exceção.

A Hegel se gaba de também ter produzido seus clocks para se conseguir, mesmo em sinais de baixa resolução, um som mais analógico e natural, com um palco mais 3D e maior organicidade (materialização do acontecimento musical).

Segundo o fabricante, o H390 possui 250 Watts por canal em 8 Ohms, e também utiliza a topologia SoundEngine. Essa topologia patenteada visa buscar o total cancelamento de distorção, deixando o ruído de fundo o mais silencioso possível dentro do espectro audível.

Cada fabricante sério neste segmento tem sua fórmula ou seu ponto de vista para defender suas topologias, então o que é importante para cada ouvinte é saber o quanto a topologia A, B ou C, lhe parece mais natural e confortável. Pois caso a escolha se dê apenas por parâmetros objetivistas, ela será muito mais complexa e tortuosa (acredite, têm muitas opções “teoricamente” fabulosas).

E entre o que eu ouço e o que eu meço, ainda fico com o que meu sistema auditivo me mostra!

Como todo Hegel, seu painel frontal é bastante simples com um display centralizado, circundado por dois grandes botões: o da esquerda para escolha da entrada e o direito para o volume. O botão de liga/desliga fica embaixo, mais à direita, bem na frente.

Nas costas, os terminais das caixas, tomada IEC, e 4 entradas (três RCA e uma XLR). E entradas digitais: BNC, coaxial, ótica e USB-B. Também uma entrada “bypass” para processadores de home-theater.

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Toca-discos Timeless Ceres com diversas cápsulas (leia Teste 1 na edição 269), toca-discos Acoustic Signature Storm com braços Origin Live e SME Series V, com as cápsulas Hana ML e Soundsmith Hyperion 2, e pré de phono Boulder 508. Music Server Innuos Zen (leia Teste na edição de janeiro/fevereiro próximo), e transporte dCS Scarlatti com TUBE DAC Nagra. Caixas: Q Acoustics Concept 300, Elipson Legacy 3230, e Wilson Audio Sasha DAW. Cabos de Força: Sunrise Lab Quintessence,
Transparent PowerLink MM2 e Reference G5.

Para o teste, fui buscar minhas anotações tanto do H360 como do H590. Essas anotações sempre me salvaram, pois como anoto tudo minuciosamente, basta ouvir o mesmo disco para “reavivar” a memória e buscar as diferenças e semelhanças. Realmente não sei o que seria de mim sem essas extensas anotações, que às vezes dão mais trabalho do que escrever o teste (principalmente se o produto tem grandes virtudes).

O produto mais uma vez veio lacrado, o que demandou uma longa queima de 280 horas. Como tínhamos também recebido, em conjunto com a Q Acoustics e, na sequência, as Elipson, fizemos um pacote só de amaciamento, o que ajudou a acelerar o processo de queima em conjunto.

Interessante que, se você utilizar o H390 somente como amplificador, a queima será bem menos dramática. Agora se você precisar amaciar simultaneamente o DAC interno, aí se prepare meu amigo, pois a espera será bem mais longa.

Depois de amaciado por 150 horas o amplificador, para acelerar o processo deixava-o ligado de dia com o Inuuos no Tidal na entrada USB, e a noite depois do jantar eu ouvia somente analógico para acelerar a queima das duas caixas e entender o Timeless Ceres com as três cápsulas. Em alguns momentos fiquei completamente atordoado com tantas frentes abertas e os prazos apertados. Mas o prazer de depois ouvir cada um desses produtos, compensou plenamente o esforço!

Comecemos pelas verdades: sim, o H390 está muito mais próximo do H590, e mais distante do H360. Isso é a melhor notícia, na minha opinião, pois certamente possibilitará muito mais consumidores realizarem o sonho de ter um Hegel.

Ele tem mais energia que o H360, é muito mais bem resolvido na macrodinâmica, e a música soa sempre confortável e precisa como no H590. A assinatura sônica é muito semelhante em termos tonais, no corpo, nos transientes e na musicalidade. Deixando aquela sensação de ouvir sempre mais um disco, ainda que os compromissos diários sejam inadiáveis.

As texturas (principalmente do amplificador) são muito refinadas, tanto em termos de detalhes de paletas como de intencionalidade. Acho difícil não se deixar seduzir pela mescla de transparência e musicalidade.

Sua autoridade com caixas distintas, como as três utilizadas no teste, foi muito mais próxima do H590 do que do H360. O que também certamente é uma excelente notícia para os que possuem um maior ecletismo musical.

Já os transientes, achei mais próximos do H360 do que do H590, não que haja alguma coisa de errado, pelo contrário, mas o H590 é um pouco mais preciso neste quesito.

Queria realmente ter um H590 para entender essa diferença. Busquei respostas nas minhas anotações e acabei por optar pelo mesmo cabo de força utilizado no teste do H590 – o Transparent PowerLink MM2. Mas realmente neste quesito, com as referências analógicas, não cheguei lá! Isso é um problema? Logicamente que não, é apenas a busca de “pelo em ovo” que todo revisor tem que fazer. Afinal, se tocasse idêntico, apenas com potência distinta (250W x 310W em 8 ohms), não se venderia mais H590. Pois para a esmagadora maioria das salas atuais, 250 Watts é mais do que suficiente. Por isso que o fabricante escreve na descrição do produto: “muitas qualidades bem próximas do nosso top de linha, e não as mesmas qualidades”.

Faço questão de pontuar as diferenças, para que o leitor entenda que “similar” não é “idêntico”. Em termos de organicidade (materialização física do acontecimento musical) a maior virtude deste quesito da metodologia é que o H390 é muito surpreendente! Pois mesmo com gravações “normais”, a sensação dos músicos ali na sala conosco é impressionante!

E isso se deve a outra excepcional qualidade deste produto: seu soundstage, em termos de foco, recorte e planos. Com LPs, a profundidade e o posicionamento no espaço físico dos músicos foram realmente primorosos! Planos e mais planos dos naipes de orquestra,
reprodução do tamanho da sala de gravação e o silêncio em volta de cada instrumento (principalmente nas gravações dos anos de ouro: 50 à final de 70) de tirar o fôlego!
Faltava ouvir seu DAC interno, seu streamer, e comparar com o Inuuos e com o TUBE DAC. Se saiu melhor que o H360, mas aí a distância não foi tão grande. O que falo ser o maior problema do streamer ainda é justamente a pobreza do soundstage, o corpo harmônico e a apresentação das texturas. Esses quesitos, quando comparados com a mídia física, ainda soam pobres (claro que estou falando de um bom setup Estado da Arte).

O que isso atrapalha? É o que mais ouço de leitores pretensos a só usar streaming. Seu cérebro não se engana, só isso. Ele sabe que algo está faltando. Se seu envolvimento com a música e seu sistema não busca essa “imersão”, você tenha certeza que estará muito bem servido com o DAC interno e o streaming do H390. Agora, se você tiver uma relação com a música mais intensa, eu recomendo o uso de um DAC externo.

E a razão de insistir nessa linha de raciocínio, é pelo fato do amplificador H390 ser muito bom e um genuíno Estado da Arte de bom nível. Então se beneficiar deste amplificador é usar um DAC à altura de sua amplificação.

Agora, se a grana está curta, não há nada de errado em utilizar seus recursos até poder comprar um DAC à altura do amplificador. Pois este pode ser o integrado definitivo para uma legião de audiófilos e melômanos que desejam simplificar seus sistemas e ter algo minimalista e moderno.

CONCLUSÃO

É perceptível o esforço dos genheiros da Hegel, à cada nova série, em dar um consistente passo à frente. E pelos resultados e prêmios conquistados e sucesso de crítica, é inegável que todo esse esforço está gerando enorme reconhecimento.

Para os que desejam, como escrevi, simplificar tudo e ter uma central de entretenimento de alto nível, o H390 é uma opção realmente muito interessante. Se é este o seu caso, não deixe de ouvir o H390, ele pode ser o que você tanto queria para fechar seu ciclo de upgrades!

AMPLIFICADOR INTEGRADO HEGEL H390
(COM DAC E STREAMER)
Nota: 91,0
AMPLIFICADOR INTEGRADO HEGEL H390Nota: 97,0
AVMAG #269
Mediagear

(16) 3621.7699
R$ 59.370

AMPLIFICADOR INTEGRADO NAGRA CLASSIC INT

Fernando Andrette

Minha curiosidade em ouvir o integrado da Nagra só ampliou após o teste do amplificador estéreo publicado na edição 258. E o motivo deste interesse foi justamente saber que a seção de amplificação é a mesma do Nagra Classic AMP.

Então, a dúvida que se instalou em minha mente foi: e a seção de pré-amplificação deste integrado? Se baseia no pré Classic, ou os engenheiros buscaram uma outra alternativa para viabilizar o produto em um mercado tão competitivo como o de integrados Estado da Arte?

Muitos dos fabricantes que desejam uma fatia deste mercado apostam em produtos ‘tudo em um’, com DAC interno, pré de phono e muita potência. A Nagra foi no sentido diametralmente oposto desta tendência. Então, meu caro amigo, se você busca um integrado que seja a unidade central de todo o seu sistema de áudio, esqueça o Nagra Classic INT. Pois ele não possui nenhum desses recursos que tanto agradam aos audiófilos mais jovens.

Para muitos parecerá estranho um integrado de apenas 100 Watts por canal e que sequer o fabricante informa se esta potência dobra ou não em 4 Ohms. Também não especifica por quanto tempo este trabalha em pura classe A antes de entrar em regime classe B.

Mas se o leitor lhe der uma chance, garanto que muitas de suas virtudes serão imediatamente notadas. Mas deixemos esta descrição para mais adiante, e falemos um pouco de suas especificações.

Seu gabinete em termos de tamanho e peso é idêntico ao power Classic AMP. É óbvio que os projetistas pegaram o gabinete do Classic AMP e o adaptaram para receber um pré-amplificador e dotar o aparelho com uma entrada XLR e quatro RCA. Os plugs de caixa são os famosos Cardas de Ródio (também presentes no Classic AMP), tomada IEC, caixa de fusível acima da tomada IEC, e só.

Em sua frente encontramos, à esquerda, o famoso Modulômetro (marca registrada da Nagra) seguido do display que indica as entradas, botão de controle de entradas, uma chave que possibilita o aumento de ganho em 12 dB, volume e a chave de liga / desliga, e mute.

A sensibilidade das entradas pode ser ajustada pelo menu, o que facilita muito o usuário no dia a dia, a não tomar sustos. Todas as funções também podem ser acessadas pelo controle remoto.

Como todo produto deste fabricante, a sensação tátil é a que mais impressiona, pois, interruptores são integralmente macios e livres de clicks, exigindo zero de esforço físico! Seu acabamento é de encher os olhos, e são feitos literalmente para durar por uma vida. Como em todos os projetos, a topologia segue a máxima do ‘menos é mais’. Então o par de transistores mosfet dará cabo de domar a maioria das caixas existentes, e sua potência – que para muitos pode parecer insuficiente – será capaz de atender a salas de até
50 metros quadrados tranquilamente!

Respondendo à pergunta do início deste teste, o pré deste integrado não foi baseado no Classic PREAMP, pois não haveria espaço físico para tanto. Então os engenheiros partiram do zero. Ainda que não tenha encontrado informação nenhuma sobre a topologia do pré, posso garantir que sua sonoridade é em muito semelhante ao Classic PREAMP. E como eu sei? Pelo simples fato de estar com o PREAMP também em teste. Então pude comparar diretamente o conjunto Pré & Power Classic com o integrado Classic, utilizando as mesmas caixas, cabos e fontes. O que ajudou incrivelmente a tirar todas as conclusões e fechar as notas (se tivéssemos a oportunidade de fazer sempre assim, seria uma mão na roda).

Como este Integrado já estava vendido, tivemos 4 semanas para descobrir todas as suas qualidades. O teste foi feito com as seguintes caixas: Rockport Avior II, Boenicke W8 e W5SE, e Wilson Audio Sasha DAW. Cabos de caixa: Dynamique Audio Halo 2 e Sunrise Lab Quintessence. Cabos de interconexão: Sunrise Lab Quintessence, Sax Soul Ágata II, e Dynamique Audio Apex. Fontes analógicas: Thorens TD 550 (leia Teste 2 na edição 260) e Acoustic Signature Storm. Cápsulas: Transfiguration Proteus e Soundsmith Hyperion 2, e braço SME Series V. Pré de phono: Boulder 500. Fontes digitais: streamer Cambridge Audio CXN V2, e setup dCS Scarlatti. Cabos de força: Sax Soul Ágata II, Sunrise Lab Quintessence e Transparent PowerLink MM2.

Colocamos o Integrado da Nagra pelo mesmo tempo do power Classic: 200 horas. Sendo que a cada 50 horas o tirávamos da bancada para ouvir novamente na Sala de Referência. Como a caixa Boenicke W8 também estava em amaciamento, evitamos ouvir o conjunto até que ambos estivessem 100% amaciados. Então, nesta primeira fase, o integrado teve como companhia somente a Sasha DAW.

O Nagra INT precisa das 200 horas de queima para mostrar toda sua versatilidade e refinamento. Li alguns testes em que os articulistas falam em falta de peso ou um caráter mais firme nas passagens de macrodinâmica. Não sei se estes testes levaram em consideração a necessidade de todo o período de queima, pois se existe uma característica que mudou sensivelmente foi justamente o peso e o corpo depois das 200 horas de queima.
Em nossa sala, com o setup de caixas à nossa disposição, o integrado Nagra não teve a menor dificuldade em mostrar toda sua habilidade em conduzir as quatro caixas. E jamais entrou em proteção ou sequer acendeu em seu painel o LED vermelho (que indica que o power está excedendo sua potência) – e olhe que ouvimos exemplos de macrodinâmica ‘cavernosos’.

No começo desta longa jornada de articulista, eu levava muito a sério o que os outros haviam observado. E ficava realmente preocupado quando minhas observações não batiam. À medida em que fomos aplicando a Metodologia e nos cercando de produzir nossas próprias gravações, e construímos duas Salas de Referência (a do querido amigo Victor Mirol e a nossa), fui relaxando. E hoje, quando leio conclusões tão distintas, me atenho mais a observar o setup utilizado pelo articulista e, graças ao YouTube, muitas vezes podemos até conhecer a sala em que o articulista realiza suas observações auditivas. E, creiam, consigo muitas vezes entender o motivo de conclusões tão diferentes.

E, no final, a única coisa realmente importante é a sua opinião a respeito do produto, não a minha ou de qualquer outro articulista. Somos apenas uma bússola, nada mais do que isso! Se quiseres usar esta orientação como um ponto de partida, ótimo! Se não quiseres, não há problema algum.

O que posso dizer a vocês que leram o teste do power Nagra Classic em estéreo e em mono, é que a assinatura sônica é a mesma, presente em toda a linha Classic. O mesmo equilíbrio tonal, tão correto e natural, que nos faz querer ouvir repetidamente aquelas gravações que julgávamos ‘carta fora do baralho’, por nunca conseguirmos apreciar adequadamente pelas suas limitações técnicas.

Outro dia um amigo músico me perguntou: “o que difere um produto de nível superlativo de um excelente produto?”. Sua capacidade de resgatar suas gravações abandonadas, respondi! Mostrar gravações hi-end para vender um produto também hi-end é como chupar picolé, não precisa de nenhum esforço suplementar.

Agora, se você deseja entender o que separa um excelente produto hi-end de um excepcional, demonstre com aquelas gravações que o excelente produto irá ‘resmungar’ ou se negar a reproduzir. O de padrão superlativo não irá transformar ‘água em vinho’ – este milagre não existe – mas ainda assim a audição será palatável, com folga, possibilitando ouvir detalhes, intencionalidade e precisão se artisticamente houverem essas qualidades.

Um exemplo matador são os discos da cantora Nina Simone, tão limitados tecnicamente e tão belos artisticamente. Peça para o vendedor colocar alguns exemplos (pode ser até via streaming) e em um minuto você entenderá a diferença entre o ‘bom’, o ‘excelente’ e o ‘divino’.

Você não precisará ter ‘ouvido de ouro’, descobrir se é ‘sintético’ ou ‘analítico’, e nem fazer audiometria complexa para descobrir a curva de equalização ideal para sua audição. Seu cérebro reconhecerá instantaneamente a diferença entre cada setup em segundos!

E este Nagra integrado pertence a essa estirpe de produtos que nos levam a apreciar a música em sua totalidade e não por partes fracionadas. Aliás, no nosso Curso de Percepção Auditiva, a primeira coisa que desconstruímos é o ‘ouvir fracionado’. Essa coisa de: observe os graves, depois os médios, e agora os agudos, só te levará a perder o gosto de ouvir suas músicas preferidas e passar a ‘radiografar’ equipamentos.

Com um equilíbrio tonal tão exuberante, o que o Nagra lhe entrega é a música, sempre a música, em primeiro plano! Não é tão espetacular quanto o conjunto pré e power Classic, mas os planos, a profundidade, largura e altura é uma referência em termos de integrado.

A apresentação de foco, recorte e ambiência são de tamanha precisão e correção, que nos possibilitam ouvir obras sinfônicas com um conforto auditivo pleno! As salas de gravação são retratadas com absoluto realismo, possibilitando termos uma compreensão exata do tamanho do ambiente e das qualidades acústicas da sala! As gravações da big band do Wynton Marsalis – Jazz At Lincoln Center Orchestra – são todas feitas ao vivo, em distintas salas pelo mundo, e o Nagra INT nos mostra com absurda precisão a qualidade e tamanho de cada uma! Vale a pena ouvir essas gravações – se aceita uma dica, comece por escutar a feita em Cuba. Espetacular em todos os sentidos!

As texturas deste integrado receberam, em meu caderno pessoal de anotações, quatro páginas repletas de detalhes como a possibilidade de se ouvir a técnica vocal e de respiração de todos os cantores e cantoras. Ou a qualidade dos instrumentos de todos os
quartetos de cordas que escutei durante o teste (foram 38 gravações de quartetos, para ser exato). Mas a percepção auditiva deste quesito foi além ao retratar com absoluta fidelidade a escolha dos microfones, a qualidade da execução dos músicos e a dificuldade técnica dos arranjos. Sublime é o único adjetivo para descrever as texturas!

Os transientes são absolutamente semelhantes aos do power Classic. Precisão sem esforço nenhum. Tempo e ritmo que nos faz achar que aquele compasso 8 por 9 é a coisa mais fácil de executar.

Interessante como nenhum produto até aqui testado deste fabricante Suíço coloca luz ou dá maior ênfase a um determinado quesito. Pelo contrário, tudo é tratado homogeneamente. Com a dinâmica ocorre o mesmo. A micro está presente fielmente, mas não haverá uma sobreposição ou destaque adicional, como por exemplo um triângulo ter o mesmo peso que o solista da orquestra.

Os mais jovens precisam compreender que em um sistema em que o detalhe tem o mesmo peso que o principal, a audição depois de um curto espaço de tempo causará fadiga e ficará enfadonha. Pois não haverá folga para quando entrar a macrodinâmica e nem tampouco espaço. Aí que ocorre o endurecimento e aquela necessidade de correr e baixar o volume imediatamente. É o que chamo de uma pirotecnia desnecessária e perigosa para a saúde de nossa audição.

Nunca irei me esquecer de um show da banda alemã de jazz-fusion Passport, que se apresentou no auditório do MASP na Avenida Paulista, em São Paulo, em 1978 e fiquei intrigado ao ver no palco antes da apresentação, nas laterais do palco, apenas 4 pares de monitores de tamanho médio, que pareciam ter a dimensão de 4 caixas JBL Classic 100 empilhadas, e uma mesa de som de apenas 16 canais para sonorizar o quarteto. Achei que teríamos uma apresentação ‘pífia’ para um show de rock progressivo. Meu amigo, foi uma das apresentações mais impressionantes em matéria de inteligibilidade, equilíbrio tonal e conforto auditivo que presenciei na vida! O Passport não era lá muito bom artisticamente, mas a qualidade de som que aquele engenheiro nos proporcionou foi histórica. Tinha peso, equilíbrio, velocidade, tudo!

O que comentei com os amigos, após o encerramento, foi que aquela tinha sido a primeira vez que havia assistido a uma apresentação ao vivo e sai do show sem zumbido ou fadiga auditiva! Exemplar! Descrevi esta passagem de minha vida, rs, para explicar a macrodinâmica do integrado da Nagra.

Esqueça aqueles arroubos de sentir a próstata tremer, ou aquele coice no peito que o fará ter palpitações.

Se esta é a sensação que procura em um sistema, meu amigo será mais barato o senhor comprar um sistema de PA e instalar em sua sala (e não esqueça do protetor auricular, se deseja não ficar surdo aos 30 anos).

Este Nagra, mostrará corretamente os degraus da passagem do piano para um fortíssimo, mas sem perder o fôlego ou ficar no meio do caminho, com aquela sensação de endurecimento e frontalização do acontecimento musical.

O corpo harmônico foi muito ‘esclarecedor’ em relação ao digital e o analógico. Esta continua sendo a ‘pedra no sapato’ do digital. Por mais que tenha avançado, ao fazer um comparativo do mesmo disco analógico versus digital é que entendemos como o digital ainda não chegou lá (será que um dia chegará?).

No analógico, ao ouvir a Nona Sinfonia de Beethoven com o maestro Georg Solti, os contrabaixos ocupam todo o lado direito da sala, para fora das caixas e atrás desta. No CD, os contrabaixos estão dentro da caixa no canal direito, e no Streaming parece que somente um contrabaixista veio a gravação, os outros estavam de licença médica, rs!

Se queres entender um pouco da magia do analógico, observe exatamente o corpo harmônico de cada instrumento. E saberá um dos motivos do analógico encantar a tantos!

A organicidade neste integrado é exemplar. Pois mesmo em gravações não audiófilas é possível materializar o acontecimento musical em nossa sala de audição. Acredito que esta ‘magia’ ocorra pelo silêncio de fundo deste integrado, que é simplesmente o melhor dentre todos os integrados já testados por nós nesses 23 anos! Este silêncio nos permite saber se o solista está em pé, sentado, se cantou estático (no caso de vozes) ou se ala Elis Regina não parava quieta em frente ao microfone. Tudo é materializado, até mesmo o movimento do violinista e do cellista em frente ao microfone!

Sim meu amigo, você ‘vê’, literalmente, o que está escutando!

CONCLUSÃO

Se fizermos uma comparação dos cinco integrados no nosso Top 5, veremos que cada um possui uma assinatura sônica e recursos distintos. Cada um com sua proposta, certamente está aí para atender a um nicho específico de mercado. Os que possuem mais recursos, como DAC interno e pré de phono, levam vantagem em relação aos que nada disso oferecem.

Então o que faz deste Nagra um produto tão distinto? Sua performance e refinamento.
Em tamanho grau, que aqueles que já passaram por todas as etapas da audiófilia provavelmente irão em algum momento poder aportar e ficar.

Diria que este nicho de consumidores é muito distinto de todos os outros, pois tem como referência e objetivo unicamente sentar para ouvir sua música. Não está mais almejando compartilhar seus momentos com os amigos e nem tão pouco colocar seu setup para discussão ou avaliação dos outros. Este período de euforia já terminou!

Agora o objetivo é resgatar toda a sua coleção de discos e poder ouvi-los decentemente e com um grau de envolvimento emocional que só os produtos excepcionais propiciam. Esta é a proposta da Nagra para todos os seus produtos. Desfrutar de momentos inesquecíveis a sós ou apenas acompanhados por aqueles que também clamam por este ‘oasis’ sonoro. Aqui não se avalia mais se este produto soa como válvula ou transistor, ou se é mais transparente ou musical. O que predomina essencialmente é desfrutar a música como se ela estivesse esperando o ouvinte certo no momento certo!

Nota: 99,0
AVMAG #260
German Audio

contato@germanaudio.com.br
R$ 117.360

AMPLIFICADOR CH PRECISION A1.5

Fernando Andrette

Minha experiência com este conceituado fabricante Suíço, se deu logo de cara com a sua linha M, reverenciada no mercado como o que existe de mais superlativo na atualidade em termos de produtos Estado da Arte!

O problema é que, como acontece com a maioria dos produtos ditos ‘superlativos’, seu valor é praticamente proibitivo para 99% dos mortais! Alguns fabricantes, buscando criar uma fidelização, disponibilizam séries com valores mais compatíveis. Porém, quando se trata de produtos muito acima da média, mesmo essas séries ditas de entrada ainda são inviáveis para a esmagadora maioria.

A série A da CH Precision, segundo o próprio fabricante, possui grande parte dos ‘atributos’ da série M, pela metade do preço. Sem abrir mão do acabamento estonteante e de uma performance ainda de nível superlativo.

Assim como a série M sofreu recentes upgrades, com o uso de novos capacitores que elevaram sua relação sinal/ruído para níveis impressionantes, os engenheiros perceberam que poderiam elevar a série A também para um nível de performance ainda mais próximo da série M.

O amplificador A1 já era um dos preferidos nos fóruns audiófilos internacionais, pelas suas excelentes características de fluidez, velocidade, controle férreo das caixas com uma impressionante macrodinâmica – para um power de apenas 100 Watts em 8 Ohms. Com a constatação das melhorias sônicas dos novos capacitores na série M, os engenheiros da CH Precision resolveram ser ainda mais radicais com a série A, e resolveram, trabalhar até no desenvolvimento de um novo gabinete, mantendo a largura e o comprimento do modelo original, porém aumentando em 50% a altura.

As mudanças foram necessárias para receber um novo transformador, ainda maior, e a utilização dos novos capacitores “Red Cap” (este nome decorre de sua cor avermelhada) que são mais altos que os capacitores utilizados anteriormente). A CH Precision justificou ao mercado sua decisão com a seguinte nota: “Como parte do desenvolvimento do novo power A1.5, comparamos uma série de capacitores eletrolíticos de potência de alta qualidade de vários fabricantes de componentes premium. A medição da ondulação do trilho de tensão, a medição do ruído de saída do amplificador e a comparação direta de audição nos permitiram classificar facilmente os modelos testados em termos de micro e macro dinâmica, piso de ruído e controle de baixa frequência. Após aperfeiçoamento e customização adicionais, com o fabricante do melhor modelo que testamos conseguimos finalizar o irmão maior do A1, agora batizado de A1.5”.

Mas as alterações do A1 para o A1.5 não terminaram no gabinete e na implantação dos novos super capacitores. O novo transformador toroidal de 1700 VA aumentou a potência de saída de 100 para 150 Watts em 8 ohms, elevando o desempenho do novo A1.5 para muito mais próximo do M 1.1 (palavras do próprio fabricante).

Outra diferença está no sistema de transporte – para quem não leu os testes do M1, em todos os produtos CH, a fonte de alimentação é inserida em uma placa de metal que é suspensa por molas flexíveis (Silent Blocks), e no A1 era preciso, para inserir ou remover os parafusos para transporte, virar o produto de cabeça para baixo. Agora esse problema foi resolvido, pois você destrava este sistema por cima do gabinete (o que, convenhamos, foi uma medida prudente dado o peso do amplificador).

E a última positiva melhora foi em relação à configuração do feedback global. A CH Precision disponibiliza em seus amplificadores que o usuário escolha a quantidade de feedback e o ganho que deseja utilizar, sendo que na série M as opções eram: 0, 10, 20, 40, 70 e 100%. E na série A as opções eram reduzidas. Agora, o A1.5 tem as mesmas opções oferecidas no power M.

Se você entrar nos fóruns internacionais, assistirá a calorosas discussões do melhor desempenho dos powers CH Precision com o uso do feedback global e o ganho. Como tudo no universo audiófilo, não há consenso absoluto, mas, a maioria concorda que tanto o ganho quanto o feedback não deve ser tão alto (sendo que a maioria prefere entre 10 e 20% de feedback e ganho de 0,5 à 1 dB).

Em termos de recursos, o A1.5 herdou todos do A1: tela de monitor OLED que exibe uma seleção de todos os recursos, como potência debitada, ajuste do feedback, ganho e tudo controlado por botões laterais , tudo de forma inteligente e intuitiva (não é preciso sequer consultar o manual para fazer os ajustes que o usuário deseje).

Minha situação como revisor crítico de áudio, no caso desse teste, não foi das mais ‘confortáveis’. Pois não conheço o novo M 1.1, já que revisei o M1, e nem tão pouco conheci o A1. Então, a sensação é de estar pisando em um terreno desconhecido, em que você vai tateando e se embrenhando com enorme atenção. Claro que sempre que faço um teste de um fabricante que já testei outros produtos, recorro às minhas anotações pessoais e aos discos utilizados, na busca de um senso de direção mais seguro. Porém, para deixar a situação um pouco mais ‘nebulosa’, todos os outros componentes do sistema de referência utilizado também mudaram (caixas, fontes digitais e analógicas, e cabos). Então foi literalmente como tatear no escuro!

O A1.5 veio para nossa sala com apenas 50 horas de uso. O fabricante fala em pelo menos 250 horas de queima (o que me pareceu até modesto, e não se verificou na prática). Com 320 horas houveram mudanças bastante significativas em termos de macrodinâmica e arejamento nas altas frequências. Então minha sugestão é que os possíveis futuros donos desta preciosidade preparem-se para muitas surpresas após as 400 horas iniciais!

O A1.5 foi ligado ao pré da Nagra Classic, aos DACs TUBE DAC e HD (ambos também da Nagra) e ao transporte Scarlatti da dCS, e nosso sistema de referência analógico: Acoustic Signature Storm, braço SME Series V, cápsula Soundsmith Hyperion 2, e pré de phono
Boulder 500. As caixas foram: Wilson Audio Sasha DAW e Revel Performa F228Be. Cabos de caixa: Dynamique Halo 2 e Sunrise Lab Quintessence.

Sua assinatura sônica é muita semelhante ao M1. Principalmente o equilíbrio tonal, transientes, texturas e soundstage. A sensação imediata foi de estar a ouvir uma versão do M1 com menor potência e menor ‘arroubo’ dinâmico nas macros.

Sua autoridade em relação às caixas é uma qualidade à parte. Pega-as com mão de ferro, e não permite nenhum erro quanto a tempo, ritmo e precisão.

Achei sua apresentação de microdinâmica até mesmo superior ao M1 (talvez pelos novos super capacitores?). O grau de inteligibilidade e intencionalidade é de um nível realmente impressionante. Ao ouvir as mesmas passagens de vários instrumentos tocando em uníssono, somos convidados (sem esforço algum), a simplesmente acompanhar cada voz em seu espaço, sem atropelo algum. Sem sobreposição ou aquela sensação de que houve algum atropelo, ou erro na mixagem.

Seu cérebro sente de imediato um conforto auditivo pleno, o que nos faz dedicar um bocado mais de horas a querer escutar nossos discos preferidos, ou descobrir detalhes em gravações que apreciamos, mas tínhamos dificuldade em acompanhar sem um enorme esforço de concentração.

Aos apressados, uma importante dica: aguardem as 400 horas antes de chamar os amigos, pois o A1.5 sofre alterações muito ‘audíveis’ em seu longo amaciamento. A primeira e a mais significativa se dá em relação ao corpo harmônico e ao equilíbrio tonal nas duas pontas. Nas primeiras 150 horas tudo parece soar um pouco frio, e o corpo e invólucro harmônico, sonicamente menores.

Para acompanhar a evolução do corpo harmônico, sugiro escolher umas quatro ou cinco faixas de gravações solo de: piano, contrabaixo, violino, violão e cello. Você ficará surpreso com a evolução deste quesito à medida que a queima ocorre.

Outra evidente necessidade de queima, está na extensão das suas pontas. Nas primeiras cem horas, falta extensão para nos mostrar a fidelidade na captação das salas de gravação (ambiência), assim como decaimentos mais ‘naturais’ de pratos. E, no outro extremo, falta a sustentação da primeira oitava, que nos permite observar a qualidade da captação, execução e qualidade do instrumento.

Aqui neste quesito foram necessárias 250 horas para a completa estabilização do equilíbrio tonal. Mas não pense que isso impede de sentarmos e ouvirmos desde o primeiro momento o A1.5. Descrevo todo este processo para alertar os ansiosos para que não se frustrem, e achem que fizeram a escolha errada. Tudo irá entrar nos eixos, e depois de queimado certamente você se sentirá uma audiófilo realizado.

O A1.5, tem o mesmo ‘DNA’ de todos os produtos CH Precision: Precisão e desempenho. Sua folga é tão absurda que se você não falar a potência para um ouvinte desavisado, ele irá achar que o power possui o dobro de potência. Pois, como escrevi acima, ele possui uma autoridade e um senso de organização do acontecimento musical impecável.

Não houve nenhuma gravação, no quesito macrodinâmica, capaz de o colocar nas cordas. Ouvimos as gravações para este quesito, das mais complexas e contundentes (que geralmente deixamos apenas para os ‘pesos-pesados’) e seu comportamento foi exemplar.

Para os que julgam ser necessário 300 a 500 Watts para se reproduzir macrodinâmica em passagens de fortíssimos de música orquestral, sugiro uma audição criteriosa do A1.5.

A microdinâmica, então, é um verdadeiro deleite para os apaixonados por detalhes e nuances sutis. Ouvindo o pianista Claudio Arrau tocando obras de Debussy, foi possível ‘ver’ o pianista como se estivéssemos a três metros de distância dele. Uma sensação inebriante e de enorme impacto emocional. O mesmo ocorreu com gravações solo de violinistas, em que é possível ‘ver’ os movimentos do músico e do instrumento em relação ao microfone. Essa é uma das mais fortes características que detectei, tanto na série M como agora na série A, e talvez explique a admiração quase ‘religiosa’ dos fãs da CH Precision.

Com tamanha precisão, é quase como ‘chover no molhado’ falar do quesito organicidade de um CH Precision. O acontecimento musical se materializa de tal forma na nossa frente que não precisamos mais recorrer à ‘imaginação’ para vê-lo. Ele está ali, ‘visualmente’ e auditivamente.

Um único quesito que não achei que o A1.5 se aproximou tanto do M1: soundstage. Em termos de largura e profundidade, achei que o M1 é mais impressionante. Principalmente em relação aos planos dos naipes da orquestra e na largura, permitindo observar com maior precisão as cordas (cellos e contrabaixos) bem à frente do naipe de metais.

Aliás esse foi um dos quesitos que mais me chamou a atenção no M1: sua capacidade dos naipes possuírem seu espaço, com enorme precisão de foco e recorte.

Não há nada de errado com a apresentação do A1.5, pois ele ainda apresenta esses planos com enorme espaço e silêncio a volta dos instrumentos, mas não tão próximo do M1 – que passou a ser uma de minhas maiores referências nesse quesito.

Tirando este detalhe e a macrodinâmica – em que no M1 é um ponto totalmente fora da curva – o A1.5 realmente se aproximou ‘perigosamente’ da performance do M1, pela metade do preço deste.

Que elogio mais consistente poderia ser feito ao A1.5?

CONCLUSÃO

Para mim os fabricantes de áudio hi-end Suíços estão em uma classe à parte. Conseguiram estabelecer um novo patamar de produtos Estado da Arte que aliam tecnologia, design e performance inigualáveis!

Essa tradição não se iniciou agora – vêm do século passado – mas atualmente cresceu e se diversificou de tal maneira, que passou a ser a referência a ser batida.

O que mais impressiona é que cada uma dessas empresas consegue ter sua identidade e ainda assim manter o padrão de qualidade no nível mais elevado possível.

O que admiro nos CH Precision é sua capacidade de disponibilizar aos seus clientes uma linha de produtos que pertence ao degrau final de possibilidades neste universo audiófilo. E, ainda que possa não ser o desejado em termos de assinatura sônica, uma coisa é fato: não é possível detectar nada de errado ou falho em sua performance.

O A1.5 está nessa linha de frente, dos melhores powers hoje oferecidos no mercado Estado da Arte. Se você possui ‘verdinhas’ suficientes para fazer este upgrade final, e tudo que aqui relatei bate plenamente como o que você procura para o seu sistema, escute o CH Precision A1.5.

Nota: 102,0
AVMAG #263
Ferrari Technologies

11 5102.2902
US$ 79.000 (cada)

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