Fernando Andrette
Meu último componente para proteção e filtragem de rede foi Shunyata, e o AC Organizer, e isso lá se vão muitos anos!
Talvez, se ainda morasse em São Paulo, faria uso de um dispositivo desta natureza, mas aqui no meio do mato em uma zona rural, em que o parque industrial mais próximo está a mais de 50 km de distância, e não tenho grandes variações de pico de energia, abandonei por completo a ideia de proteção para o sistema. O que fiz foi apenas assegurar que, em caso de queda de energia, o sistema se mantenha desligado até que eu pessoalmente volte a ligá-lo.
Para isso, contei com a maestria do Ulisses da Sunrise Lab, que me montou uma régua dedicada que desarma todo o sistema quando a energia é cortada (mesmo que seja por uma fração de segundo). E como tinha um antigo gabinete de um velho regenerador da PS
Audio no depósito, pedi que ele mantivesse o voltímetro existente neste gabinete, apenas para eu monitorar a voltagem. Sendo que todas as tomadas foram substituídas por Oyaide de melhor qualidade, assim como a tomada IEC, e estou satisfeito com essa escolha.
Outra decisão mais recente foi trocar o cabeamento da instalação elétrica dedicada, substituindo o Furutech original pelo novo cabo de elétrica da Sunrise Lab, assim como os fusíveis originais da chave seccionadora Siemens pelos fusíveis também da Sunrise Lab, com excelentes resultados (em breve escreverei um artigo).
Então, nem sei dizer com exatidão quantos anos fazem que não testo um condicionador de energia, me sentindo completamente desatualizado em relação ao que o mercado hi-end oferece atualmente.
Em uma rápida troca de mensagens, o Fábio Storelli perguntou se haveria interesse em testar um condicionador produzido na Polônia, e que ele estava garantindo a representação para o Brasil! Claro que aceitei, afinal nutro um enorme interesse em ver o que está sendo produzido “fora” dos principais centros hi-end do mundo – pois nos 24 anos de vida, tivemos o prazer de ouvir alguns produtos fora do “eixo”, e tivemos boas surpresas (lembram da Etalon?).
O PC-4, condicionador de energia EVO+ da GigaWatt, é o seu modelo top de linha. E o produto com mais testes internacionais feitos até o momento.
Ao receber o produto, surpreendeu-me o tamanho do gabinete que, além de grande e pesado, possui um acabamento impressionante. Os cuidados são visíveis, como: gabinete de baixa ressonância, pés de isolamento anti-vibratório, e um painel enorme que permite ao usuário monitorar a rede elétrica à distância de até 5 metros do aparelho.
O PC-4 EVO+ possui doze soquetes de energia proprietários de alta qualidade, com enormes contatos de superfície, que foram submetidos ao tratamento criogênico e desmagnetizados. O chapeamento dessas tomadas são de prata, sem o uso de metais intermediários como cobre ou níquel.
O produto está equipado com um bloqueador de deslocamento de corrente contínua, proteção contra sobrecarga, e proteção contra surtos.
Não existem elementos de proteção tradicionais, como fusíveis térmicos ou de sopro, que (segundo o fabricante) estrangulam o fluxo de energia. A proteção contra surtos é fornecida por centelhador de plasma e varistores da nova geração UltraMOV. A proteção contra sobrecarga é fornecida por um interruptor magnético-hidráulico de dois pólos da Carling Technologies, fabricado sob especificações dos engenheiros da GigaWatt.
A interferência eletromagnética é atenuada por blocos de filtragem do tipo RLC, construídos em torno de capacitores proprietários para áudio e filtros de núcleo HF (High Flux).
Segundo o fabricante, existem três ramos de filtragem independentes, que fornecem três seções, compostas por quatro soquetes de saída cada. Essa filtragem interna também não é normal em condicionadores (segundo o fabricante), sendo que as principais novidades são os capacitores anti-interferência e as baterias de compensação para os circuitos de buffer, fabricados pela empresa Miflex de acordo com especificações da GigaWatt.
A distribuição interna entre as seções é feita de maneira configurada em estrela, por meio de trilhos de distribuição maciços, feitos de lâminas polidas de cobre OFC (OFHCC 10100 com 99,97% de pureza), banhado à prata. O voltímetro utilizado no painel é resistente à erros de distorção e medição. Seu display pode ser em vermelho, verde, azul ou branco (o cliente escolhe).
Nas costas do condicionador, há um LED que acende quando existe falha no terra, ou se a polaridade é conectada invertida.
Segundo o fabricante, internamente o PC-4 EVO+ suporta transferência de carga de 25 Amperes e picos de 90 Amperes – esta reserva é necessária para cargas de picos e impulsos. Para essa resposta máxima de impulsos, o PC4 EVO+ vem equipado com um circuito buffer duplo com baterias de compensação. Este circuito aumenta a saída de corrente com cargas não lineares, como amplificadores de potência, e elimina a diferença de potência entre a entrada e saída do condicionador. Isso possibilita recursos de impulsos quase que
ilimitados, em relação a outros condicionadores existente no mercado, sejam ativos ou passivos (segundo o fabricante).
O condicionador para teste foi fornecido com o cabo de alimentação GigaWatt, o modelo LC-3 EVO, topo de linha – mas existem mais duas opções mais baratas, possíveis de serem utilizadas neste condicionador. O cabo também possui uma apresentação e uma construção impecáveis!
Não sou o primeiro revisor de áudio que, ao longo do tempo, abandonou o uso deste componente na cadeia de áudio. O fiz, conforme descrevi, por não ver mais nenhum benefício onde moro.
Outros contam suas experiências com condicionadores ativos e passivos, e justificam suas escolhas por considerarem que se tratam de dispositivos que parecem um “cobertor de pobre” (solucionando alguns problemas, porém criando outros). A lista é longa, desde a compressão macrodinâmica, diminuição na precisão dos transientes, timbres com menor naturalidade, etc, etc….
O que chama a atenção neste condicionador é que o fabricante sugere o seu uso por justamente deixar mais precisos todos os problemas que os outros condicionadores criam. O que leva qualquer revisor crítico de áudio a querer ouvir para crer (a princípio achei que era pura jogada de marketing, para tornar o produto conhecido no mundo hi-end).
Não gosto de ler, antes de fazer minha avaliação, review nenhum. Apenas depois de todas as minhas anotações feitas e conclusões tiradas é que começo a ler, para então ver se as minhas avaliações tiveram “eco” nas impressões de outros revisores críticos de áudio.
Como as minhas observações foram muito consistentes, não foi surpresa alguma ver que para outros três articulistas as conclusões foram muito semelhantes.
Vamos a elas….
O PC-4 EVO+ precisa de pelo menos uns dez dias para mostrar o máximo de suas qualidades. E não adianta apenas deixá-lo ligado à tomada – é preciso que os equipamentos estejam todos sendo alimentados por ele.
Eu não achei tão “cinzento” como um dos revisores descreveu, o primeiro contato com o produto. Achei o som “diferente”, com maior silêncio de fundo, maior arejamento e uma certa tendência a se mostrar nervoso em passagens que não necessitava estar tão vigilante. Mas não houve nenhum tipo de desequilíbrio tonal, perda de corpo, ou de materialização física do acontecimento musical.
E, para a minha surpresa, a compressão dinâmica (tão comum a qualquer condicionador), não existiu. E olha que de cara coloquei o concerto para piano e orquestra do Bartok!
Como estava em fechamento da edição de junho pude, enquanto escrevia os testes, ir ouvindo com calma o condicionador, alimentando todos os equipamentos em processo de queima.
Muito importante o GigaWatt disponibilizar 12 tomadas, ainda que elas sejam dedicadas de 4 em 4 para: alta corrente (amplificadores), média corrente (prés de linha e phono), e baixa corrente (fontes digitais). Então tive tomada de sobra, para alimentar todos os produtos sem atropelo algum.
Para o teste utilizamos: os monoblocos da Nagra, o power CH Precision A1.5, e os integrados Pass Labs Int25 e Sunrise Lab V8 SS. Prés: Shindo (leia Teste 1 na edição 265), Pré Classic Nagra. Prés de phono: Boulder 508 e CH Precision P1 (teste na edição de setembro). Fontes digitais: streamer Cambridge Audio Azur 851N (leia Teste 3 na edição 265), e o TUBE DAC e HD da Nagra, e suas respectivas fontes. O cabo de força é proprietário da GigaWatt, não podendo ser substituído por um cabo comum.
Para perceber muitas de suas qualidades (acredite amigo leitor, são inúmeras e todas audíveis), diria que cinco dias de amaciamento serão suficientes. À medida que o amaciamento se ajusta, a ampliação do palco ganha uma outra dimensão em termos de profundidade e largura.
É nítido o quanto isso contribui para audições de música clássica e de grandes grupos. Os planos se tornam muito mais focados, possibilitando-se perceber o espaço físico de cada naipe e o respiro entre a orquestra e os solistas. Essa ampliação do espaço físico do palco traz imediatamente um conforto auditivo interessante, pois o esforço para acompanhar todo o acontecimento musical, desaparece!
A inteligibilidade simplesmente emerge de forma tão clara, que vários instrumentos tocando em uníssono parecem que foram distanciados (fisicamente) para que se tenha uma real dimensão do todo sem se perder as partes.
Aquela sensação do primeiro momento parecer tudo mais nervoso, some a partir do quinto dia, deixando o som muito mais relaxado sem alterar os transientes ou a variação dinâmica.
A microdinâmica é muito favorecida pelo impressionante silêncio de fundo, que faz com que os sons brotem do silêncio, e ganhem corpo e entrelaçamento com o acontecimento musical. Ficou muito nítido como instrumentos como o triângulo, pequenos sinos e chocalhos, continuam soando e seu decaimento é audível mesmo com inúmeros instrumentos soando a volta. Essa virtude, aumenta exponencialmente a capacidade de acompanharmos as intencionalidades do compositor e as virtudes dos músicos e seus instrumentos.
Outro ponto que pode levar muitos à conclusões equivocadas, é que os graves à princípio parecem ter menos peso. Mas se o ouvinte tiver familiaridade com música ao vivo não amplificada, irá perceber rapidamente que o que ocorreu foi uma limpeza entre as fundamentais e os harmônicos (principalmente nos contrabaixos e cellos). A nota fundamental além de mais nítida e precisa, permite que tenhamos a ideia exata da digitação e técnica do músico.
E sem o GigaWatt, a fundamental e harmônicos soam mais borradas, impedindo muitas vezes de termos o entendimento exato da complexidade em execução de solos com as passagens complexas. Para se ter a confirmação do que escrevi, basta notar que o deslocamento de ar existente nas baixas frequência se torna ainda maior, e não o contrário (que seria a resultante de um peso menor na região dos graves).
Na outra ponta o efeito é o mesmo: em solos de violino ou flautim, em que as fundamentais são tão precisas que conseguimos literalmente ver o que o instrumentista está fazendo (desde que você tenha o mínimo de familiaridade com esses instrumentos).
Isso nos leva diretamente à observação de texturas, que com o GigaWatt são simplesmente magníficas! Nunca antes me deleitei tanto ao ouvir minhas gravações de quarteto de cordas preferidas. É inebriante perceber todos os detalhes de uma gravação bem feita executada por grandes músicos, e entender o grau de dificuldade de cada composição e como foi entendida e gravada. Aos apaixonados por este quesito como eu, terão no GigaWatt a possibilidade de ampliar sua percepção das “intencionalidades” como nunca antes foi possível.
Mas seus atributos não se encerram aí. Os amantes da materialização física do acontecimento musical (organicidade), terão a oportunidade de constatar o nível de uma gravação excelente de uma boa. O disco do José Cura – Anhelo, pelo selo Erato é uma das melhores gravações para avaliação deste quesito de nossa Metodologia: ele é utilizado para o fechamento de nota de todo produto categoria Diamante para cima. Se pegarmos o número de produtos que foram classificados na categoria Diamante e Estado da Arte nos últimos cinco anos, o leitor terá a exata ideia de quantas vezes ouvimos este disco para fechar a nota do quesito Organicidade.
Ao ouví-lo no nosso Sistema de Referência, ligado ao GigaWatt, o grau de materialização física do José Cura foi muito maior que em qualquer outro setup. Tanto que para ter certeza do grau de “holografia sonora”, repeti o teste duas vezes (colocando todo o setup de Referência em nossa régua e depois voltando para o GigaWatt). A materialização física do cantor é tão realista que não há o menor esforço para se ver o que está se ouvindo.
O mesmo “fenômeno auditivo” ocorreu com o Será Una Noche volume 1, com a excepcional gravação do selo MA Recordings – elevando o grau de materialização física à um patamar nunca antes experimentado em nossa sala, com nenhum outro setup ou tratamento elétrico!
Claro que um condicionador de energia deste nível não se destina a sistema mais modestos (pois o seu valor pode tranquilamente ser o dobro do sistema modesto). No entanto, em sistema hi-end Estado da Arte Superlativo, sua colocação pode elevar todo o sistema à um outro patamar.
Pois o que ele faz em termos de limpeza da rede, proteção, resulta em um melhor desempenho de todo o sistema.
O que mais me chamou a atenção é que, intermitentemente (às vezes por alguns segundos, outras vezes por horas) em vários produtos em teste se escuta seus transformadores vibrarem e causarem um ruído em consequência desta vibração. No período de quase 70 dias em que tivemos o GigaWatt, este problema não ocorreu nenhuma vez. Zero de ruído de transformador em todos os produtos ligados à ele. O fabricante cita este como um dos grandes benefícios de seu condicionador, e pude realmente verificar que ele cumpre o que promete.
Quanto à questão da compressão da macrodinâmica, este foi o primeiro condicionador que conseguiu, mesmo em situações de enorme variação dinâmica, não causar nenhuma compressão no sinal.
Para os que moram em locais com enorme variação e picos de energia, e com todas as consequências de uma rede muito suja, valerá a pena escutar o que o GigaWatt pode fazer pelo seu sistema Estado da Arte.
Existem modelos mais em conta, como os modelo 3 e 2, que podem perfeitamente casar com um orçamento mais modesto.
Diria que a GigaWatt achou seu caminho, e certamente está criando uma nova geração de condicionadores que conseguem fazer o que os outros fazem tão bem, porém sem nenhum dos efeitos colaterais que muitos audiófilos reclamam.
É um produto que, pelas suas qualidades e benefícios, é praticamente imprescindível para os que desejam extrair o máximo de seus sistemas!
Nota: 111,0 | |
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