Juan Lourenço
Thorens é um dos nomes mais antigos do áudio hi-end. Fundada em 1883 por Hermann Thorens em Sainte-Croix, na Suíça, sua longa trajetória foi forjada por altos e baixos, dificuldades e grandes exitos. A Thorens nos acompanha desde os primórdios do áudio e, de lá para cá, ela jamais perdeu a bússola. Sua paixão é tão intensa quanto um amor de verão – só que na Thorens este amor é eterno. Em sua história vemos vários exemplos de coragem e inovação, sua busca pelo melhor som possível sempre a levou a esticar seus próprios limites.
A Thorens continua transitando muito bem entre o moderno inovador e o clássico com seus bons truques na manga. Seus modelos da década de 60, 70 e 80 ainda fazem audiófilos e melômanos suspirarem, e seus modelos recentes mantêm a mesma magia e engenhosidade do tempo em que o LP reinava absoluto. Prova disto é o TD 550, testado na edição 260 da revista, que mostra que a paixão não diminuiu e que a empresa está mais viva do que nunca, mantendo a tradição na excelência de seus projetos na busca pelo melhor som possível.
Outra tradição que a empresa não deixa de lado é a de produzir bons toca-discos de entrada e, neste quesito, a Thorens é uma das empresas que mais soube entender a importância de um bom conjunto, uma boa base a um custo realmente acessível para que o recém iniciado no mundo do vinil possa se aventurar no hi-fi com segurança. E é sobre estes bons conjuntos que vamos falar agora, avaliando o novo toca-discos de entrada da marca, o TD 202.
O TD 202 é um projeto novo lançado após a empresa passar para as mãos de Gunter Kürten, ex-diretor da Denon e mais recentemente ex-diretor da ELAC. Com um dono tão experiente na alta fidelidade, podemos crer que a empresa está em boas mãos e que o DNA Thorens certamente será mantido.
Este toca-discos foi concebido com o intuito de ser plug-and-play, tendo tudo o que precisamos dentro dele, e até um pouco mais. Vemos, por exemplo, que ele já vem com um pré de phono embutido com a opção de desligá-lo e usar um pré externo, outra boa vantagem é que, diferente dos Rega, ele vem com o tão abençoado borne de aterramento separado dos canais RCA – muitos não imaginam a maravilha que este aterramento pode fazer em um toca-disco! Finalizando, temos uma saída USB caso queiram digitalizar seus discos em um computador.
O TD 202 vem embalado em uma caixa dupla: a primeira é basicamente uma couraça que protege a caixa principal das intempéries. E dentro dela, sim, vemos uma caixa muito bonita com grafias modernas e tudo. E dentro desta temos isopores moldados que garantem uma viagem segura em qualquer condição de transporte.
O arranjo dentro da embalagem é semelhante ao de muitos outros toca-discos: tampa feita em acrílico transparente fica na parte de cima, ladeada por isopores, e abaixo da tampa fica o manual, os cabos RCA com fio de aterramento, e o gabinete do TD 202. O prato em alumínio fica embaixo de tudo e, nas laterais do isopor direito, o contrapeso e o headshell montado em uma cápsula MM modelo AT-95E, da Audio-Technica.
O braço em alumínio de 8,8 polegadas, com sistema do tipo baioneta, já vem montado e fixado à base do toca-disco. Toda a geometria do braço já vem pré-ajustada de fábrica, a única coisa que fica a cargo do proprietário é o ajuste do contrapeso e do anti-skating, que depende deste primeiro para ser feito. Infelizmente estes ajustes não poderiam vir pré-ajustados de fábrica, pois ao chegar aqui no Brasil, tudo estaria desregulado devido aos trancos sofridos no transporte.
O gabinete tem boa rigidez, o acabamento pode ser em preto alto brilho ou mogno alto brilho, os controles de liga/desliga e de troca de velocidade 33-1/3 e 45 RPM dão um toque retrô ao aparelho. O prato em alumínio forjado arremata o design com um acabamento externo em cromo alto brilho. Por dentro do prato, um volumoso anel de borracha auxilia na contenção das vibrações e, acima do prato, o inconfundível tapete de borracha Thorens. A tração por correia fica por conta de uma polia que faz contato com o motor localizado dentro do gabinete. A fonte é externa e é parecida com uma fonte de celular. O conjunto todo pesa aproximadamente 10 kg.
Para o teste foram utilizados os seguintes equipamentos: amplificador integrado Sunrise Lab V8 MkIV Signature Special, Pré de phono Sunrise Lab The PhonoStage II SE. Caixas acústicas: Elipson Prestige Facet 8B, e Neat Ultimatum XL6. Cabos de força: Sunrise Lab Premium Magic Scope, Sunrise Lab Illusion Magic Scope. Interconexão: Sunrise Lab Premium Magic Scope RCA, Sunrise Lab Illusion Magic Scope XLR, Sax Soul Zafira III XLR. Cabo de Caixa: Sunrise Lab Reference Magic Scope e Quintessence Magic Scope.
O TD 202 chegou lacrado, sua montagem foi relativamente fácil, mas é preciso ter em mãos uma balança digital ou uma analógica do tipo da Ortofon para ajuste do contrapeso. Esta balança não vem com o toca-disco, uma falha que não é cometida apenas pela Thorens: quase todas cometem este erro.
A cápsula indica que a força de rastreio vai de 1.5 a 2.5 gramas, eu preferi colocar 1.5 g para fazer o amaciamento que, mesmo conhecendo bem a cápsula, demorou muito para amaciar: mais de 40 horas! Após este período mudei para 1.8 g e o antiskating ficou na posição 1.6.
No início do amaciamento, o som do TD 202 não agrada muito – tudo soa meio bagunçado, as freqüências não parecem se encaixar muito bem, os extremos são bastante velados os médios quase não aparecem direito, não parece que se está ouvindo um toca-discos, não tem aquele calor e som aveludado de um toca-discos, e esta sensação continua por 80% do tempo de amaciamento. Lá no final é que os extremos ganham definição e extensão, a região média ganha luz, a voz aparece sedosa e mais proeminente, dando mais equilíbrio ao conjunto. Algumas pessoas podem estranhar esta demora em tudo se encaixar, mas faz parte do processo, não há como fugir, o melhor mesmo é manter a calma e curtir o brinquedo novo (risos).
Com tudo encaixado e nos conformes, voltamos para os discos, e o primeiro disco foi Natalie Cole, Still unforgettable (DMI Records), para tirar a cisma do equilíbrio tonal, Como que se trata de uma versão gravada digitalmente, que depois passou para vinil, é uma boa pedida para quando estamos desconfiados que o toca-discos não esteja lá muito equilibrado – este disco denuncia rapidamente, pois ele não tem aquela porção extra de harmônicos típica em gravações analógicas, e se o toca-discos estiver ou for ‘mais ou menos’, soará como um CD. Minhas suspeitas não se confirmaram, e o TD 202 conseguiu trazer à superfície uma boa dose de harmônicos do disco. O próximo disco foi Sting, Nothing Like the Sun (A&M Records), última faixa do lado 1. Novamente o TD 202 demonstrou um bom equilíbrio e o violão com bom timbre e as vozes também. Faltou um pouco mais de silêncio de fundo, e um pouco mais de ambiência, para que esta música nos envolvesse como se deve, mas não há nada de desapontador nisto, pois basta que o futuro comprador troque de cápsula – por uma Grado Prestige Red ou Blue 2 por exemplo – para que esta magia apareça.
Uma coisa curiosa é que o TD 202 não casou em nada com o pré de phono Sunrise Lab the Phono Stage II SE. Outra coisa que me incomodou um pouco é que o motor tem apenas a força necessária para manter a rotação estável, mas até passando a escova de cerdas de fibra de carbono o motor desacelera, voltando à rotação normal depois do processo de limpar o disco. Sabemos que este é um toca-disco de entrada, não é um trator neste quesito, não dá para exigir muito principalmente por que ele não foi pensado para que se use clamp pesado. Por este motivo, se quiser fazer um mimo e adicionar um clamp, sugiro os modelos leves por pressão e não por peso, como os modelos Michell ou da Trumpet.
Mais uma vez a Thorens consegue entregar um bom conjunto: bom braço, boa cápsula em um gabinete muito bem estruturado. Ele não é como os antigos da década de setenta até final dos 90, que poderiam durar por cem anos, mesmo porque os materiais dos quais eram feitos já não são abundantes e muito menos baratos hoje em dia. Ainda assim a Thorens construiu um aparelho robusto, confiável e equilibrado o suficiente para iniciar seu sobrinho ou filho no bom e velho vinil.
Nota: 61,0 | |
AVMAG #262 KW Hi-Fi (48) 3236.3385 £1.960 |
Juan Lourenço
Aparelhos ‘tudo-em-um’ não são uma novidade no mercado hi-fi, mas poucos são os que realmente cumprem com o prometido com alguma dignidade. Não que marcas chinesas que vendem toca-discos com cara de móvel antigo em quiosques de shopping, com agulhas que mais parece um prego de alvenaria, prontas para destruir LPs – não tentem este feito. Eles tentam, mas estão mais para um sentimento nostálgico que para apreciação da música.
O Pro-Ject Juke Box E é um sistema ‘tudo-em-um’ que não tenta te convencer pela nostalgia do vinil, aquela vontade que te dá vontade de procurar os discos velhos e mofados na garagem de casa. Ele está mais para pessoas que querem apreciar seus discos com o mínimo de qualidade e segurança para com eles. É também para aqueles que não abrem mão da conveniência da música por streaming, e que possuem pouco espaço e não querem ‘estragar’ o visual da sala de estar com um amontoado de aparelhos e cabos rolando pelo chão.
Começando pelo toca-discos, este é montado em uma base de MDF com acabamento em laca, em três cores: preta, branca ou vermelha. O prato, de compensado de madeira, tem tapete de feltro e a tração é feita por correia com velocidades de 33 e 45 RPM ajustados na polia. O braço de 8,6 polegadas, feito em alumínio, calçado com uma cápsula OM5e da Ortofon, completa o conjunto elevando a qualidade geral do aparelho. Todos os ajustes estão pré-configurados de fábrica, inclusive anti-skating – preocupação zero na hora da montagem. Dentro da embalagem, além da tampa acrílica, também acompanha a fonte de 12V.
Dentro do gabinete encontramos a seção de amplificação, de 50 W por canal em 4 Ohms. Na parte de trás temos bornes de caixa e uma antena Bluetooth 2.1 para streaming e UPnP (já poderia ser a última versão, não?), duas saídas RCA – uma direta (linha) para ligar o toca-discos à um outro amplificador, e uma “phono” caso queira adicionar um pré externo – além de uma entrada de linha caso queira adicionar um CD-Player ou outra fonte digital.
Entre o braço e o prato está uma tela de cristal líquido com informações da seleção entre toca-discos, Bluetooth e entrada Direta.
Na frente, ao centro, o botão seletor de funções e, embaixo do toca discos, duas chaves: uma liga/desliga e a outra que aciona o prato do toca-discos. Ah! Lembram que sempre reclamo que os toca-discos de entrada nunca vêm com balança para aferição da força de rastreio?
ois é, este vem com balança analógica e gabarito para ajuste da posição da cápsula.
Além da comodidade do Bluetooth, o Juke Box E vem com controle remoto, que não é muito amistoso: é um pouco confuso de usar, mas tem funções de ligar/desligar o aparelho, seletor turntable seleção de entrada de linha e ajuste de ‘loudness’, além de volume.
Para este teste utilizamos os seguintes aparelhos. Amplificador: Integrado Sunrise Lab V8 MkIV SS. Fontes digitais: Innuos Zen Mini com fonte separada, smartphone Samsung S10+. Cabo de força: Sunrise Lab Illusion MS, Cabo de interconexão: Sunrise Lab Reference MS. Cabos de caixa originais e Sunrise Lab Premium MS. Caixa acústica: JPW mini monitor e Q Acoustics 3020i.
O aparelho vem embalado em caixa dupla, muito bem acondicionado. A tampa eu nunca uso, então voltou para a caixa de papelão. Tudo vem montado e pronto para usar, após colocar no rack, ligar os cabos de caixa e, por fim, a fonte de alimentação, e pôr o bolachão para rodar.
Com aproximadamente 30 horas, e conhecendo a OM5e, já sabíamos que estava amaciada a cápsula, mas faltava a parte de amplificação e amaciar o restante, o que demorou cerca de 190 horas.
Amaciar todas as entradas e saídas demandou horas de audições, coisas que, em uso normal, não precisaria acontecer com tanta urgência. Seu som é quente e com um pouco de reforço no grave, os ajustes loudness não funcionam muito bem para uma audição mais concentrada, mas se por acaso as caixas forem magrinhas e quiser apenas curtir um bom pop e dançar muito, até que vai bem.
O conjunto do braço não apresenta folgas no manuseio, porém a alavanca do lift não possui uma descida progressiva: é preciso baixar a alavanca toda que, aí sim, o lift desce suavemente. Fora isso, todo o conjunto é suave e sem ruídos.
Tocando todo o conjunto Juke Box E, seu som é bastante honesto, tem médios que não passam do ponto, perde um pouco de foco e o palco não é muito recuado – mas, até aí, como é de se esperar, o papel de trazer tudo isto não é dele e sim do toca-discos mais acima na hierarquia da Pro-ject.
Ele sofreu um pouco para empurrar a Q Acoustic 3020i. O ideal é que se use caixas com sensibilidade acima dos 90 dB e com falantes menores ou mais leves.
Já tocando com amplificador externo, assumindo a forma de uma fonte de áudio apenas, ele se mostrou bastante versátil e com muitas virtudes herdadas de seu irmão maior, o T Line, como por exemplo a clareza na região média e o conforto auditivo.
A Pro-Ject é uma marca de respeito e sabe fazer um aparelho que vai cuidar minimamente bem dos seus discos, e que tem tradição em montar bons conjuntos, confiáveis e com bom compromisso na qualidade de reprodução musical. Com o Juke Box E ela lança algo que pode se tornar uma tendência, um novo nicho, completamente despojado, sem o compromisso de ser uma excelência em reprodução analógica, mas competente em nos dar uma boa dose de musicalidade e qualidade de reprodução. É voltado para quem gosta de ouvir música e não quer bater cabeça procurando amplificadores, pré de phono e um sem fim de cabos. Para estas pessoas o Pro-Ject Juke Box E cai como uma luva!
Nota: 61,0 | |
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Fernando Andrette
“Na audiófilia tudo é possível, só não espere o impossível”, brincava o meu pai com seus poucos amigos audiófilos.
No domínio das impossibilidades, logicamente ele estava falando de valores mais condizentes com a realidade do brasileiro que, naquele tempo pagava suas contas, comia e se vestia recebendo em Cruzeiros. Se os LPs importados já eram exorbitantes, imagine então comprar um toca-discos Thorens, um gravador de rolo Akai, etc.
Aliás, se havia algo que realmente tirava meu pai do sério, era quando falavam da famigerada Reserva de Mercado, e lembravam que uma das promessas do sr. Staub para convencer os militares era justamente que uma indústria de áudio nacional forte iria disponibilizar equipamentos mais baratos e com a mesma qualidade. Com o fim da Reserva, vimos o quanto os produtos nacionais estavam defasados em relação ao que se fabricava lá fora, e o quanto os preços estavam superfaturados. Uma indústria que só sobreviveu pela imposição ditatorial da Reserva de Mercado, e que jamais competiu com o que se fazia de melhor lá fora.
Tenho uma excelente história a respeito dessa falsa igualdade. Era permitido a qualquer brasileiro que visitasse a Zona Franca de Manaus trazer 500 dólares (FOB) em equipamentos sem pagar alíquota de imposto. Todo audiófilo que podia, deu um jeito de arrumar “mulas” pagando a passagem de ida e volta para conseguir burlar a reserva de mercado e comprar sistemas decentes. E com o “jeitinho brasileiro” de se conseguir diminuir o valor das notas nas lojas da Zona Franca, e um “cafezinho” aos fiscais nos aeroportos, teve audiófilo que montou um sistema completo em questão de três a quatro viagens.
Tinha um cliente do meu pai que era um defensor da Reserva de Mercado, que achava que o toca-discos RP-II não devia nada aos melhores importados. Um outro audiófilo, também cliente do meu pai, totalmente contrário à Reserva de Mercado, propôs o seguinte desafio: trazer da Zona Franca um toca-discos Thorens TD 160 com braço original Thorens e cápsula Stanton 500, e colocarem lado a lado no sistema do que tinha o RP-II, e chamar seis amigos para dar o veredicto. Meu pai foi um dos escolhidos para participar dos jurados, e eu fui junto, é claro!
Os discos foram escolhidos a dedo pelos dois donos dos toca-discos, em comum acordo. Eram seis LPs: um de voz feminina (Ella, obviamente), uma voz masculina (Sinatra), uma big band (Count Basie), um piano solo (Arrau), uma sinfonia (Nona de Beethoven), e uma gravação nacional (João Gilberto). Nem o dono do RP-II achou seu toca-discos superior. Como sempre brinco: foi um massacre. Naquele dia , todos saímos convictos de que a Reserva de Mercado havia sido um erro grandioso, pois não era apenas impor ao consumidor o que ele pode ou não comprar – mais grave que isso é dar uma falsa ideia ao fabricante nacional que ele está no mesmo patamar tecnológico do que está sendo fabricado lá fora. Pois quando a reserva acabar, suas chances de competir e sobreviver serão completamente nulas (foi exatamente o que ocorreu).
Desculpe meu desabafo, amigo leitor, mas se tem algo que jamais entendi foi como os militares compraram essa ideia de que proteger a indústria de áudio nacional era assegurar a defesa do estado!
O toca-discos da Mark Levinson é uma daquelas agradáveis surpresas, que dificilmente imaginamos que possam ocorrer até ver o fato concretizado e, depois de ouvir o produto, nos perguntarmos: não poderia ter sido feito antes? Em um mercado aberto à livre concorrência, fusões e parcerias ocorrem aos montes, então nada mais natural que a Mark Levinson, ao decidir que iria produzir seu primeiro toca-discos Hi-End, o fizesse em parceria com um grande fabricante americano de toca-discos: a VPI. Mas todo o processo só se realizou pelo fato da VPI não só comprar a ideia como também aceitar todas as especificações solicitadas pelos engenheiros da Mark Levinson para o projeto do 515.
Ao montar o 515 é que percebemos os cuidados nos detalhes e como a parceria foi positiva. É um belo toca-discos! Possui um motor AC de precisão que aciona o pesado prato totalmente de alumínio, utilizando três correias de borracha. O braço tipo gimbal (e não unipivot, como na maioria dos modelos da VPI) de 12 polegadas é totalmente impresso em 3D e já sai de fábrica equipado com a excelente cápsula Ortofon Cadenza Bronze, uma MC.
Existe a opção de se pedir o toca-discos sem o braço, mas depois de ouvir por dois meses o 515, digo a você que o casamento desse braço com a Cadenza Bronze é o ponto alto do projeto!
A base do toca-discos é feita de MDF de 1/2 polegada de espessura em sanduíche, os pés são feitos em alumínio usinado com almofadas de borracha, muito semelhantes aos pés dos eletrônicos da Mark Levinson. O prato e o rolamento principal são os mesmos utilizados em inúmeros produtos da VPI. O rolamento invertido suporta com larga folga o prato de 5 kg, que é formado à partir de um único tarugo de alumínio, usinado com um grande disco de MDF preso a sua parte inferior com o objetivo de melhorar o amortecimento e diminui as ressonâncias que possam vir da base onde o toca-discos está assentado.
O topo da carcaça do motor é construído em um sanduíche, como a base. O motor é montado diretamente na camada de alumínio. As laterais da caixa do motor são construídas em alumínio de 0,9 mm de espessura, com a vantagem de que o alumínio não é magnético, não sendo influenciado pelo campo magnético gerado pelo motor.
O design foi baseado no modelo Analog Drive System (ADS) da VPI, mas por questões de custos foi otimizado para um único motor. Os engenheiros da Mark Levinson fizeram questão das três correias, alegando que em testes comparativos com uma única correia, houve uma melhor conexão do motor com o prato e um arrasto mais rápido e preciso. O único inconveniente das três correias é que elas podem sair do lugar se o usuário esquecer de parar o prato completamente, para trocar a rotação. Fiz isso umas quatro vezes até me lembrar que não era conveniente, afinal colocar as correias no lugar pela proximidade não é tarefa para apressados!
O braço do 515 tem algumas características exclusivas que não são utilizadas nos toca-discos da VPI. O contrapeso é exclusivo deste modelo, assim como o headshell, criados em 3D e de uso exclusivo do 515. A grande vantagem, segundo a Mark Levinson, é que este design exclusivo elimina um conjunto de conectores no caminho do sinal (o conector Lemo de quatro pinos entre o braço e a base) de modo que os fios do braço vão diretamente para as tomadas RCA na parte traseira do 515.
Seu braço, na minha opinião, é o melhor de tudo deste toca-discos, e está entre os melhores braços de 12 polegadas que já escutei. Eu o teria em meu toca-discos de referência como segundo braço, se a Mark Levinson o vendesse separado, sem pestanejar.
A cápsula Cadenza Bronze é a segunda na hierarquia da série Cadenza. Ela possui a agulha Replicant 100 e um cantilever cônico de alumínio. A bobina é enrolada com o conceituado fio Aucurum, exclusividade da Ortofon, que é um fio de cobre puro de seis noves folheado a ouro. A Ortofon também informa que esta cápsula inclui o processo FSE, elemento de estabilização de campo para uma perfeita linearidade durante passagens de crescendo intensos e complexos.
Tivemos a possibilidade de ouvir o 515 com dois excelentes prés de phono: o nosso Boulder 508 e o CH Precision P1 (leia Teste 1 na edição 266), e ainda escutá-lo com dois excelentes prés de linha (Shindo e Leben), além de nosso Sistema de Referência.
Uma coisa precisa ser dita de imediato: é preciso estar muito bem ajustado o braço, e a altura do motor para que as correias encaixem perfeitamente, antes de sair ouvindo as belezas deste toca-discos. Esse trabalho deixei para o amigo e colaborador André Maltese, que sempre gentilmente se desloca de São Paulo à São Roque para a montagem de cada cápsula e toca-discos em teste. Além de ser um apaixonado pelo que faz, ainda tem aquele olhar de surpresa e alegria ao ouvir os resultados do seu trabalho. O Christian Pruks e o Maltese são, de longe, os melhores ajustadores de toca-discos que conheci depois do meu pai. É trabalho de relojoeiro acima de tudo, e precisa, além de ter exímio conhecimento, ser perspicaz para se realizar o ajuste fino do fino. Pois é esse ajuste final que irá possibilitar extrair o último sumo do setup, e o analógico necessita desse preciosismo, pois o casamento braço/cápsula é sempre bastante crítico.
O cabo entre o braço e os prés de phono foi o Feel Different FDlll (leia Teste 4 na edição 266).
Já tinha escutado a Cadenza Bronze em alguns toca discos e sempre gostei demais de sua assinatura sônica, pela precisão e musicalidade. Ela é uma cápsula que trabalha sempre de maneira relaxada, só mostrando os dentes quando necessário. O que seduz de imediato e nos faz perguntar se realmente precisamos de algo a mais, em matéria de cápsula hi-end. Ela está entre as minhas cápsulas preferidas, e sempre que amigos e leitores me pedem uma cápsula de preço médio, ela sempre está na tríplice escolha. Sua capacidade de ler as “entranhas” dos sulcos é majestosa, no entanto nunca havia notado o quanto ela cresce em todos os quesitos em um braço de 12 polegadas, como este do 515.
O casamento foi literalmente perfeito! Um equilíbrio tonal ainda mais estendido, médios com melhor corpo e camadas e um grave com maior peso e deslocamento de ar.
Muitas vezes escuto discussão sobre a assinatura sônica de determinadas cápsulas como definitivas. Ouço e depois me pergunto será que estavam realmente corretamente ajustadas? Era um braço condizente com as qualidades da cápsula? O pré de phono estava corretamente ajustado para ela? São tantas variáveis em um setup analógico, meu amigo, que muitos não fazem ideia do quanto de paciência e conhecimento são necessários. Principalmente quando se sobe de patamar.
Vou dar um único exemplo. Depois do Maltese ajustar, ligamos o 515 direto no P1, que também estava em teste. Este impressionante pré de phono, de nível superlativo em todos os sentidos, possibilita que o usuário escolha entre as entradas de modo corrente ou tensão (leia mais detalhes no Teste 1). Fomos no mais “descomplicado”, no modo corrente, em que o P1 faz tudo! Ficou espetacular, ouvimos alguns discos juntos, eu e o Maltese, extasiados com a performance, e ele se foi. À noite, me pus a tentar no modo tensão ver se conseguia um “caldinho” a mais. Resumindo, fiquei dois dias debruçado em tentar um resultado melhor e não consegui. Claro, voltei para o modo corrente, que deu um resultado estupendo.
Aí quando voltei nosso toca-discos de referência com a cápsula SoundSmith Hyperion2, fui direto para a entrada de modo corrente e o resultado foi catastrófico, literalmente! A Hyperion 2 tem que ir somente no modo tensão, e a Cadenza somente no modo corrente.
Aí você precisa entender o que aconteceu, se quiser realmente aprender a lição. A SoundSmith é uma cápsula híbrida (nem MM e nem MC), então em modo corrente ficou realmente estranha. Já a Cadenza, ao contrário, por ser uma genuína MC, em modo corrente casou como uma luva! “São demais os mistérios dessa vida”, diria o poeta. E, se tratando de setups analógicos: vivendo e aprendendo sempre!
Voltando ao casamento do braço de 12 polegadas com a Cadenza Bronze, em todos os quesitos da Metodologia ela se saiu muito bem. Como disse, não me lembro de ouvir uma performance tão espetacular desta cápsula com nenhum outro braço de 9 ou 10 polegadas. Li dois testes deste toca-discos publicados lá fora, e ambos os revisores ficaram impressionados com a precisão e a musicalidade. Com essa combinação, como vem de fábrica, o ouvinte só precisa sentar e ouvir todos os seus discos sem nenhum risco de se sentir desapontado. Zero de fadiga auditiva! Um dos revisores até disse que a parte mais difícil do teste era desligar o sistema. Concordo integralmente com ele. Ligado ao P1 da CH Precision, tive um dos três melhores setups analógicos a meu dispor.
Foram centenas de discos revisitados, de todos os gêneros, estilos, discos “ralados” com mais de 40 anos de vida, gravações audiófilas, 33 e 45 RPM, e sempre uma satisfação integral.
Eu sempre lembro aos amigos mais próximos que desejam se aventurar no mundo analógico, que o façam de forma consciente. E busquem montar um setup analógico que seja prático, objetivo e que não precise viver sendo ajustado para extrair o melhor de cada gravação. Os cuidados sejam unicamente com a manutenção dos LPs, assegurando que quando eles forem escutados, estejam limpos, bem limpos.
O 515 pode ser o toca-discos definitivo do jeito que ele vem de fábrica para 90% dos audiófilos que não abriram mão do analógico e que tem uma relação com o vinil que supera a razão. Perfeitamente ajustado, e com um pré de phono à altura do conjunto cápsula/braço, a satisfação será garantida!
Nota: 96,5 | |
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Fernando Andrette
Todo audiófilo e melômano teve ou sonhou ter um toca-discos Thorens em algum momento de sua jornada. Talvez muitos não saibam, mas a Thorens é a mais antiga empresa de áudio do mundo, com mais de 130 anos de existência, dando início à sua bela trajetória criando caixas musicais no fim do século 19!
Em 2009, para comemorar seus 125 anos de existência, foi lançado o TD 550, buscando dar à tão significativa data um toca-discos que mostrasse ao mundo o motivo de ser uma das empresas de áudio mais amadas do planeta.
O TD 550 mantém a filosofia da empresa na construção de seus mais emblemáticos produtos, de ser plataformas montadas em cima de molas, mas introduziu ao TD 550 uma série de novas tecnologias, como a base que suspende o braço utilizar a fibra de carbono.
Ele exala beleza e robustez, por todos os lados. Sua placa frontal de metal é toda polida, com discretos botões para ligar e determinar a velocidade. No centro, o logotipo Thorens em azul permite que o usuário ajuste o brilho. Nas costas do TD 550, temos os parafusos para ajuste de velocidade, e as saídas RCA e XLR.
Se o usuário escolher o braço original, o cabo que vem do braço Thorens TP 125 SE já estará ligado aos terminais. Agora, caso você opte pelo uso de outro braço (como foi o nosso caso, para o teste), as coisas se complicam um pouco, pois será preciso um certo manejo e paciência para escolher a saída que deseja. No nosso caso, como o pré de phono da Boulder só possui entrada XLR, optamos por ligar o cabo do braço SME Series V no terminal XLR do Thorens. Mas o André Maltese teve que fazer relativo esforço e se munir de paciência para resolver esta etapa da montagem do braço no TD 550.
O braço que acompanha o TD 550, se o cliente quiser, é fabricado pela empresa Suíça Da Vinci com especificações dos engenheiros da Thorens. E ainda que pareça um braço ‘minimalista’, é feito com enorme esmero e conhecimento. Como o produto enviado para teste veio sem braço, aos interessados sugiro uma visita ao próprio site da Thorens (www.thorens.com). Seu braço pesando quase 6,5 Kg é feito de alumínio e fornece uma combinação de alto isolamento de massa e suspensão para que o braço possa trilhar o sulco com enorme precisão e conforto.
O acionamento do motor é feito por uma unidade síncrona AC de funcionamento com controle eletrônico de velocidade, totalmente silencioso. Os botões de sensor de toque controlam a função e a seleção de velocidade, e o display LED pode ser ajustado ao gosto do freguês.
A Thorens disponibiliza diversas opções de braços, além do seu próprio braço, como: Rega, SME, Ortofon, e inclui modelos de 9 e 12 polegadas. A montagem do braço é feita através de uma placa suspensa de fibra de carbono de alta densidade.
Os ajustes com o braço escolhido são bem fáceis, já que a altura do subchassis e o nível da plataforma giratória já vem pré ajustada de fábrica.
A Thorens disponibiliza os seguintes acabamentos: folheado de madeira escura Massakar (este foi o acabamento enviado para teste. Nenhuma foto faz jus a beleza deste toca-discos ao vivo!). Ou ainda piano preto brilhante ou cromo polido.
Meu primeiro Thorens, TD 160, comprei em 1980 e fiquei com ele por 8 anos, e depois dei um salto para o TD 124 e, posteriormente, para o TD 125 MKII, ao qual ficou comigo de 1989 a 1997. Comprei este último na Raul Duarte diretamente com o Sr. Cassiano, pai das meninas, e me lembro até hoje de carregar aquele toca-discos na mão por toda a Rua Sete de Abril, até a Avenida Ipiranga, na busca de um táxi que demorou quase 40 minutos! Este veio com um braço SME 3009, estava impecável (tinha sido de um audiófilo muito cuidadoso e que possuía um acervo de mais de 8.000 discos só de música clássica). Foram inúmeras cápsulas utilizadas neste setup: Shure, Denon, Grado, Audio Technica e até uma AudioQuest.
Era sem dúvida o elo forte de meu sistema por quase uma década. E realmente tive com este equipamento uma relação de admiração intensa por tantos anos de bons serviços prestados.
De lá para cá, meus contatos com toca-discos Thorens foram bem esporádicos, e quando o Fernando Kawabe me perguntou se queria testar o TD 550, minha resposta teve um misto de interesse e interrogação! Interesse pelo fato de poder rever uma marca tão lendária e que fez parte por muitos e muitos anos de minha vida de melômano. E interrogação por tentar descobrir em que estágio hoje se encontra a Thorens em um mercado tão competitivo e que evoluiu tanto.
Novos materiais, novas ligas, nova maneira de atacar os problemas inerentes ao contato de leitura por atrito, enfim um novo mundo de soluções que novamente colocaram o analógico no topo das referências audiófilas.
O Thorens TD 550 chegou no final de novembro, e foi imediatamente colocado para teste. Mais uma vez, contei com a ajuda inestimável do amigo André Maltese, que passou uma tarde montando, regulando e apreciando o TD 550 em nossa Sala de Testes. Foi uma tarde, diria, de enormes surpresas!
Quando, nas rodas de audiófilos, escuto posições tão antagônicas referentes a melhor forma de atacar o problema do atrito do braço /cápsula no disco, sempre me lembro de uma frase de ouro do meu pai: “ A melhor maneira é sempre aquela que diminui o ruído de fundo, todas as outras estão erradas” – e com esta frase meu pai ganhava adeptos de ambos os lados, os que defendiam as plataformas com mola e os que tinham toca-discos com braços super pesados e dimensionados e ligas de metais rígidos. Ou seja, as duas escolas possuem exemplos consistentes.
Então, o que realmente importa é o conhecimento e a escolha do setup para se extrair o melhor de cada topologia.
Eu já convivi e testei exemplos de ambas as escolas com excelentes resultados, e se minha experiência serve de algum alento para você leitor, eu afirmo: ambas as soluções estão corretas. Desde, é claro, a escolhida atenda às suas expectativas e, como escrevi acima, o setup (braço, cápsula e TD sejam sinérgicos).
No entanto, minhas observações me ajudam a afirmar que os toca-discos suspensos por molas costumam ser mais ‘condescendentes’ com gravações tecnicamente mais limitadas. E quando se percebe esta característica e o usuário trabalha nesta direção na escolha do braço/cápsula, os benefícios de se extrair maior musicalidade daquelas gravações sofríveis é audível!
Sabendo dessas características inerentes a todos os TD da Thorens, minha opção, com o consenso também do Maltese, foi de começar as audições com a cápsula Transfiguration Proteus com o braço SME Series V, cabos de braço Quintessence da Sunrise Lab e cabos de interconexão também Quintessence, depois Sax Soul Ágata II e, por fim, o Zenith 2 da Dynamique Audio (todos XLR). Posteriormente, utilizamos a cápsula Soundsmith Hyperion 2 com o mesmo braço SME Series V.
O que mais aprecio na cápsula Proteus é sua capacidade de extrair o sumo, mas sem jogar nenhum tipo de luz adicional ao que está no disco. Suas texturas são quentes, precisas, seu equilíbrio tonal perfeito, o que permite que as melhores qualidades do analógico (timbre, corpo e conforto auditivo) se sobressaiam sempre. É o tipo de cápsula que os que buscam a musicalidade plena irão imediatamente apreciar sua assinatura sônica. Arrisco dizer que foi a melhor performance possível este casamento Thorens TD-550, braço SME Series V e cápsula Transfiguration Proteus. A música brotava na nossa sala com enorme descongestionamento e leveza, ainda que estivéssemos a reproduzir gravações complexas e com enorme variação dinâmica. Vozes e pequenos grupos ganham uma presença e uma materialização do acontecimento musical que nos leva a esticar as audições muito além do que fazemos em nosso dia a dia.
A velocidade cirurgicamente precisa, permite que o acompanhamento de tempo e ritmo seja absoluto e o silêncio de fundo do TD 550 o coloca no mesmo patamar de toca-discos com o dobro do seu preço.
Era hora de saber o quanto o TD 550 ainda tinha a oferecer com a nossa cápsula de referência, a Hyperion 2. Ganhamos detalhamento e maior inteligibilidade na microdinâmica, mas perdemos aquela magia do relaxamento e conforto tão interessante da Proteus.
Discos limitados tecnicamente tiveram suas ‘vísceras’ expostas à luz do dia (é o preço que se paga, por maior detalhamento e transparência). Mas ficou claro para nós que o TD 550 possui garrafas para vender, às dúzias! E que se o usuário desejar, ele pode subir de patamar em seus upgrades, que o Thorens garante esta resolução!
Queria muito ter à mão um braço de 12 polegadas para levar o Thorens ao seu limite, pois li em alguns fóruns internacionais que o TD 550 se beneficia muito de um braço de 12 polegadas (e qual toca-discos de alto nível não se beneficiaria, me pergunto…).
Mas a grana está tão curta e o dólar tão nas alturas, que este upgrade terá que ser mais uma vez adiado. Mas ainda hei de conseguir instalar um segundo braço em meu Acoustic Signature Storm, e poder desfrutar de um braço de 12 polegadas e poder tirar esta dúvida para vocês leitores (dúvida que também é minha de longa data).
Voltando ao TD 550, este é um toca-discos que recoloca a Thorens em seu devido lugar na história dos grandes toca-discos hi-end. Posição que ocupou por três décadas (dos anos 60 aos anos 80). Se você sempre foi um amante da marca, não hesite em ouvir o TD 550, pois ele é absolutamente fantástico!
Quando estava finalizando este teste (final de janeiro), veio a notícia que ele foi descontinuado pela Thorens. Ficou a dúvida: aborto o teste, ou publicamos? Passei semanas pensando a respeito. E decidi por publicar, afinal o distribuidor ainda têm este modelo para venda e está tentando com a Thorens ver se consegue mais algum.
Confesso que se tratasse de uma empresa sem o longo histórico da Thorens e da qualidade de seus produtos feitos para durar por décadas, teria desistido de publicar. Mas como o produto é excepcional e foi desenvolvido para comemorar os 125 anos da empresa (comemorados em 2009), creio que muito em breve este modelo seja uma peça de colecionadores, que virá a ser extremamente valorizada e disputada no mercado.
Eu mesmo, se tivesse condições financeiras, não teria dúvida em garantir esta preciosidade! Se você busca o Toca-Discos Definitivo, com todos os atributos aqui descritos, não titubeie, pois agora ele passa a ser peça de colecionador.
Um toca-discos que, na minha opinião, jamais deveria sair de linha, pois ele presta com enorme justiça o legado da Thorens em seus 135 anos de vida!
Nota: 99,0 | |
AVMAG #260 KW HiFi (48) 3236.3385 US$ 17.000 (sem o braço) |
Fernando Andrette
O ano de 2020 certamente marcará nossas vidas para toda nossa existência, seja de uma criança ou de um ancião. Não se passa incólume à uma experiência como essa – todos teremos cicatrizes para carregar pelo resto da vida.
Não sei se felizmente ou infelizmente, o homem tem uma enorme capacidade de “esquecer” ou de excluir de sua memória os fatos traumáticos. Por um lado, certamente que este tipo de “amortecedor” nos permite manter nossa sanidade, porém por outro lado nos faz repetir os mesmos erros, caso algo semelhante ocorra novamente.
A complexidade humana será sempre um oceano de possibilidades, teses e debates infinitos. Alguns aprendem profundamente com as diversidades, já outros simplesmente voltam aos velhos hábitos e não alteram uma vírgula em sua maneira de pensar e agir.
Dizem que o otimista apenas não tomou o tombo necessário para acabar com suas ilusões. Se este for o meu caso, eu ainda continuo mantendo minha fé inabalável no potencial humano e prefiro olhar mais para as suas virtudes do que seus erros.
E neste ano, que finalmente se encerra, tive a oportunidade de ver inúmeros fatos positivos no segmento em que atuo há tanto tempo. Já citei durante o ano alguns, mas para mim o mais significativo de todos os grandes feitos está o do ressurgimento dos projetistas nacionais de áudio hi-end! Eles parecem estar se multiplicando vertiginosamente pelos quatro cantos deste país, e isso é muito salutar!
Pois este movimento ganhou força no momento certo, com todas as condições favoráveis, se olharmos para o horizonte e não para o próprio umbigo.
Arrisco cravar que os próximos anos serão auspiciosos para os projetistas brasileiros e eles irão conquistar uma significativa parcela do mercado. Em meio a uma epidemia que paralisou o planeta, nossos projetistas não se intimidaram e colocaram seus produtos à disposição do consumidor em um momento que o dólar quase bateu nos seis reais!
Presenciei, nesses 12 meses de caos, uma paralisação quase que total de produtos importados, enquanto que, para minha surpresa, nossos leitores nos comunicaram mensalmente de seus novos upgrades, de cabos, caixas, fones, eletrônicos – na sua grande maioria fabricados aqui no Brasil.
O número de projetistas brasileiros que entraram em contato conosco, falando de seus planos para os próximos meses e de sua intenção de enviar seus produtos para teste, nunca foi tão intenso! E dos produtos que já testamos, a safra que virá pela frente é muito impressionante.
Não poderíamos fechar este ano sem testar o toca-discos da Timeless Audio, o primeiro modelo Ceres (em homenagem a este planeta anão do nosso sistema solar).
Mas antes de falar objetivamente deste lindo toca-discos, quero compartilhar a história do desenvolvimento deste belo projeto, pois foi feito a muitas mãos. Mãos de especialistas nessa área e, acima de tudo, pessoas apaixonadas pelo vinil. O CEO da Timeless, o Giovani, tem uma excelente capacidade de descobrir e reunir talentos em prol de um objetivo.
Neste novo modelo de desenvolvimento, a Timeless reuniu especialistas, cada um em sua área de expertise, para compor equipes de desenvolvimento de inúmeros novos produtos. O toca-discos se junta aos racks e cabos da Timeless, mas já no forno, além de um segundo toca-discos já em desenvolvimento, tem um DAC, um amplificador integrado, um power single-ended e uma série de caixas acústicas.
O projeto inicial do toca-discos Timeless foi idealizado pelo arquiteto e empresário Robson Moser, leitor de longa data da revista. Seu contato com toca-discos se deu na mais tenra infância, com um Thorens dos anos 50 que seu avô trouxe da Alemanha. Cresceu em uma família de músicos, com avó violinista e a mãe violonista. Aos 11 anos montou sua primeira caixa acústica e, logo em seguida, comprou seu primeiro toca-discos.
Ao se tornar sócio do Clube do Áudio em 1998, diz ele que sua visão da forma de reproduzir música eletronicamente mudou para sempre. Fascinado com este universo na reprodução musical de qualidade, em 2008 decidiu montar seu próprio toca-discos. Foram alguns anos de ensaio, estudo e pesquisa, até que conheceu de perto o trabalho de Mark Baker da Origin Live, e este encontro acabou por fortalecer sua ideia de construir toca-discos no Brasil.
Em 2017, o Moser conheceu o Giovanni e a amizade propiciou o início de uma parceria para o desenvolvimento do primeiro toca-discos da Timeless. O projeto original foi minuciosamente estudado para que problemas comuns de toca-discos fossem solucionados ainda na prancheta. O Giovanni apresentou ao Robson Moser uma série de novos materiais, mostrando as vantagens do uso de Matriz Composta Fenólica (usada nos racks da Timeless) em relação ao MDF laqueado.
O HPB (High-Pressured Phenolic Board) possui propriedades cuja densidade é tão alta quanto o alumínio, mas com uma “timbragem”, com uma assinatura sônica similar às madeiras nobres. Definida essa etapa, foram agregados ao projeto mais três especialistas: o engenheiro mecânico Billy Silveira, profundo conhecedor de materiais e técnicas de usinagem de precisão. O técnico Fernando Yanaguita, especialista em materiais compostos e montagem e operação de corte a laser e CNC e com enorme habilidade em marcenaria e construção de gabinetes de caixa acústica. E o nosso amigo André Maltese, um dos mais experientes e promissores profissionais na área de áudio analógico, que contribuiu no ajuste fino e soluções do projeto.
Por mais que as fotos deste teste tenham sido feitas por um profissional em fotografia, as imagens não fazem justiça à beleza que é olhar de perto este toca-discos. São tantos detalhes e um design tão impressionante, que um amante de toca-discos perderá mais de uma hora para “saborear” tanto requinte.
Não houve ninguém que esteve na nossa Sala, nos dois meses que o Timeless ficou em teste, que não se admirou com sua performance e design. É tão original e diferente de tudo que já se fez em termos de toca-discos hi-end por este mundo afora, que conhecê-lo vale a pena!
Duas pessoas que viram e ouviram o Timeless, antes mesmo de chegar ao mercado, já fecharam sua compra. Ouso dizer que seu sucesso será retumbante, pois sua relação custo/performance é espetacular!
Mas, vamos, por partes.
O prato escolhido de média massa, pesa 7 kg. É feito em HPB com 43 mm de espessura. O HPB, por ser um material composto de alta densidade, feito de centenas de camadas de fibra de celulose e resina fenólica, confere uma estrutura com características anisotrópicas, fazendo com que a propagação da onda sonora confira ao timbre maior uniformidade e neutralidade, se comparado a materiais sólidos (como alumínio, vidro ou acrílico). O prato do Ceres é produzido em máquina CNC de alta precisão.
Você verá nas fotos uns desenhos geométricos em cima dos pratos. Este material funciona como uma ventosa fazendo com que o LP seja sugado, o que melhora audivelmente sua apresentação dos transientes (falarei disso adiante).
A estrutura do Ceres consiste em dois “layers”: o superior onde se assenta o prato e os dois braços (se o cliente quiser), e o inferior onde estão os pés do toca-discos. Essas duas plataformas são acopladas por um sistema de 18 esferas de cristal e 3 ressonadores intermediários em formato triangular. Foram testados diversos materiais para as esferas e ressonadores, incluindo materiais elastoméricos e materiais de alta absorção. Entretanto, após testes auditivos, as esferas se mostraram mais adequadas, pelo fato delas ao invés de absorverem as vibrações externas, as transferirem o mais rápido possível, com o mínimo de reflexões. As plataformas funcionam como uma espécie de diodo difusor, onde as micro vibrações são transferidas somente em um sentido, com o mais baixo índice de reflexão.
A plataforma superior é feita do mesmo material do prato, entretanto parte dele possui camada dupla (30 mm) unida com parafusos de inox presos com alto torque, com cera de abelha entre as camadas, criando uma estrutura composta extremamente rígida, estável e com absorção controlada.
O armboard padrão do Ceres permite a montagem de braços de 9 a 12 polegadas, além da montagem de dois braços, se assim o consumidor desejar. Podem ser braços da Rega, Pro-Ject, Linn, Clearaudio, Jelco, SME ou Origin Live. Para outros braços, podem ser fabricados armboards específicos sob encomenda.
Uma bela sacada da Timeless é que o conjunto do eixo é invertido, de maneira a posicionar o centro de rolagem do prato o mais próximo possível à altura da agulha. A principal vantagem é minimizar a amplitude das vibrações espúrias. Este eixo trabalha por funcionamento hidrodinâmico: um canal, desenvolvido e calculado em formato de espiral, transporta o fluido de lubrificação para cima ao mesmo tempo em que este, por ação da gravidade, desce vagarosamente, garantindo sempre uma total lubrificação do eixo.
Na parte superior do eixo, encontra-se uma esfera de safira, que apoia o prato sob uma placa de PTFE. O resultado é um eixo com um baixíssimo nível de atrito dinâmico e alta rigidez, para uma reprodução precisa.
O desacoplamento do Ceres da prateleira do rack é feito por spikes de inox apoiados em pucks de HPB com assentos de borracha. Estes spikes permitem regulagem fina de altura, para um nivelamento perfeito.
O motor e o controlador é de ultra baixa vibração, alta precisão e torque em baixa rotação, fabricado na Suíça. Este motor é montado em um gabinete separado de alta massa (aproximado 3 kg), acoplado à um sistema de suspensão para minimizar as vibrações transferidas para a correia. O controle de velocidade de alta precisão fica em um gabinete separado com dois circuitos independentes que controlam a rotação 33,33 e 45 RPM. Um sensor monitora as mais sutis variações na demanda da corrente, decorrentes de variações de rotação, compensando.
O resultado é um nível de vibração extremamente baixo e um wow & flutter tão baixo como dos mais renomados toca-discos de referência Estado da Arte disponíveis no mercado.
O consumidor, que quiser, poderá pedir o Timeless Audio Ceres já com o braço da Origin Live (a Timeless é o distribuidor oficial da marca para o Brasil). Eles foram escolhidos pelo seu casamento e sinergia com o Ceres.
Para o desenvolvimento do projeto foram utilizados vários toca-discos para os testes comparativos e auditivos. Foram eles: Oracle Delphi com braço SME Series V, Avid Diva II SP com SME Series V, e Clearaudio Master Reference com TT2.
As cápsulas mais usadas no desenvolvimento foram: Soundsmith Carmen e Paua, Benz-Micro Wood e Glider, Koetsu Black, Miyajima Shilabe, Transfiguration Axia e Ortofon Red.
Para o nosso teste utilizamos o braço Origin Live modelo Encounter MK3C, e as seguintes cápsulas: Benz Wood, Soundsmith Hyperion 2, e Hana ML. O pré de phono foi o Boulder 508 e os cabos XLR: Dynamique Audio Zenith 2, e Sunrise Lab Quintessence.
A performance do braço Origin Live foi tão impressionante com as três cápsulas, que resolvi depois colocá-lo no nosso toca-discos de referência, o Acoustic Signature Storm, com as três cápsulas para ver o quanto daquela performance magnífica se repetiria no Storm. O resultado foi tão avassalador que em breve sairá o teste do braço e, depois de mais de uma década usando braço SME como minha referência, acabei por realizar um upgrade para um Origin Live de 12 polegadas (sonho em maturação há muito tempo). Nas primeiras edições do próximo ano contarei minhas observações.
Quando você se depara com fontes analógicas de alto nível, duas coisas de imediato chamam a atenção: a fluidez com que a música soa (como se ela tivesse passado por um processo de descongestionamento), e a capacidade de observar detalhes que muitas vezes passam despercebidos. Essas observações foram tão intensas que demorei para entender se este alto nível era do Timeless ou do braço, ou da sinergia de ambos.
Resposta que só veio quando consegui colocar o Origin no Storm. A diferença de preço entre o Timeless para o Storm é muito grande. O Timeless custa menos de um terço do Storm. No entanto, com o mesmo setup de braço Origin, as mesmas cápsulas, cabos e pré de phono, essa diferença fica apenas nos detalhes. Este é o maior feito deste belo toca-discos, saber que você pode economizar em toca-discos e investir mais no conjunto braço / cápsula, pois o Timeless tem inúmeras “garrafas para vender”. O que o torna a melhor relação custo / performance em um toca-discos Estado da Arte que se pode comprar.
E vou além, pois estamos falando de um investimento definitivo Estado da Arte. Em que à medida que você realiza upgrade de cápsula e braço ele irá acompanhar.
Com três cápsulas de níveis tão distintos, é surpreendente o grau de compatibilidade / sinergia do setup completo. O que significa isso? Que a grande maioria já se sentiria realizado com uma cápsula como a Wood em termos de musicalidade e equilíbrio tonal, mas que salta de patamar substancialmente se tiver possibilidade de um upgrade no braço (de um Rega para este Origin Live, que é a primeira opção que a Timeless oferece no pacote completo) e na cápsula (indo para uma Hana ML por exemplo).
Com a Hana ML o nível de realismo e conforto auditivo é absoluto! O mais exigente audiófilo, experiente com grandes setups analógicos de referência, terá que dar o braço a torcer pelo grau de coerência e resultado.
É admirável o que este setup ofereceu de beleza, musicalidade e conforto auditivo. Foram dias e mais dias de prazer auditivo e não de compromisso em fazer e anotar observações para compartilhar com o amigo leitor.
Cansei de me ver ouvindo o disco todo, depois de fazer as anotações da faixa utilizada, pois era impossível ouvir apenas aquela faixa específica.
Quando você se depara com um produto em teste com este grau de prazer e magia, você quer que o mundo lá fora simplesmente o esqueça! Muitos de vocês sabem perfeitamente o que estou dizendo.
A Hyperion 2, em relação à Hana, trouxe mais detalhamento, precisão e também as virtudes e defeitos de cada gravação. Este é um preço que se paga quando queremos o céu (é preciso não se ter vertigem de alturas tão intensas).
O Origin Live no Storm deixou ainda mais evidente as diferenças entre a Hana e a Soundsmith, e natural que assim seja pois, como falei, o Timeless custa um terço do Storm. O que provou o quanto este braço “intermediário” da Origin Live é estupendo!
O que impressiona no Timeless é sua engenharia, seu silêncio, precisão, e sua capacidade de transmitir a música sem artefatos “espúrios” de vibração externa ou variação de velocidade. Você convive com aquela robustez e se certifica que o Ceres foi feito para durar décadas sem o menor vestígio de pane.
Além de, como já escrevi, encher os olhos com sua beleza, que tira o toca-discos de preço intermediário do lugar comum de uma base de MDF envernizada, um prato de alumínio, vidro ou acrílico.
Com o Timeless, o consumidor pode sonhar voos mais ousados e ter como recompensa saber que gastou o necessário apenas para ter um toca-discos definitivo Estado da Arte que deixa uma dezena de toca-discos muito mais caros em situação constrangedora (para ser elegante).
Quem não sonhou em ter um toca-discos definitivo por menos de 20 mil reais (sem o braço), desenvolvido para ter um grau de compatibilidade e um esmero de construção só visto em toca-discos muito mais caro?
Com um design luxuoso e um grau de requinte que, antes, para adquirir este pacote, você gastaria no mínimo 10 mil dólares!
Pois então imagine poder ter este pacote (Timeless, Origin Live e Hana ML), por menos de 40 mil reais! E você não precisa começar com este pacote. Pode perfeitamente iniciar com um conjunto cápsula/braço mais modesto e ir galgando aos poucos, saboreando cada avanço, sem nunca mais ter que trocar o toca-discos.
Este é o grande apelo e trunfo deste toca-discos: oferecer a oportunidade de você ter um setup analógico com o melhor custo/performance da atualidade. Ele é a barganha analógica Estado da Arte desta terceira década que se inicia.
Pode cravar: seu sucesso irá ecoar por muitos e muitos anos. Pois tal feito não ocorre todos os dias!
Nota: 99,0 | |
AVMAG #269 Timeless Audio (11) 98211.9869 Toca-discos: R$ 18.820 Braço: R$ 13.700 Toca-discos + Braço: R$ 29.980 (8% off) |