AUDIOFONE – Teste 1: FONE DE OUVIDO GRADO STATEMENT GS3000e

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Outro dia, um grande amigo e músico me falou algo que eu nunca tinha pensado com o devido interesse. Que as pessoas sabem muito pouco do que realmente desejam e buscam em um fone de ouvido. E fechou sua conclusão afirmando que a maioria dos seus amigos escolheu seu fone mais pelo conforto, ou por “modismo”, e não exclusivamente pela sua performance.

Dei corda e perguntei a razão de sua conclusão tão contundente, e ele me disse que sempre que lhe pedem ajuda para a indicação de um bom fone, as “resistências” levantadas às sugestões sempre são: preço, ergonomia e design, e que é uma marca “desconhecida”. E fechou sua argumentação, indignado, como a performance se encontra em segundo ou terceiro plano.

Não deixo de tirar sua razão, mas eu acrescentaria que muitos consumidores estão acostumados com fones como produtos descartáveis, que recebem como um acessório na compra de um celular, ou herdam dos irmão mais velhos, parentes, amigos, ou compram seus fones “falsificados” nos camelôs das grandes cidades.

Eu gosto muito de observar tudo que está à minha volta, e quando vou a São Paulo e me locomovo de metrô, costumo olhar atentamente os fones das pessoas, o volume que elas usam para escutar suas músicas e as marcas e modelos.

É lastimável o que vejo nas ruas: jovens com um volume absurdamente alto, estragando sua audição silenciosamente. Minha vontade sempre foi de abordar e explicar o perigo de exposição a volumes acentuados em tão curto espaço de tempo, mas evito fazer isso pois minha calvície e cabelos brancos certamente darão uma imagem deturpada de minha intenção. Pois “jovem” não está nem aí para pessoas da minha idade!

Se esses consumidores soubessem que um bom fone de ouvido com correto equilíbrio tonal é um investimento de longa data, e que preservaria sua audição, acredito que dicas de consumidores mais conscientes como o meu amigo músico, seriam muito úteis.

E o mais triste é que fones com excelente equilíbrio tonal não são necessariamente caros, ou apenas dedicados a audiófilos.

O teste deste mês tem bastante a ver com o tema que utilizei para fazer a introdução desta avaliação.

O Grado Statement GS3000e também é um fone que divide opiniões em termos de design, e por não ser um fone selado, o que consequentemente faz com que a pessoa ao seu lado escute o que você está ouvindo, como também não isola o ouvinte do ambiente externo.
O que esses críticos esquecem é que fones selados possuem um outro tipo de problema: o equilíbrio tonal não é tão bom como o de fones abertos (claro que para toda regra existe exceção, mas elas são poucas e caras).

Ri muito ao ler em um review que o articulista afirma que, com o GS3000e, o ouvinte precisa se isolar em um ambiente para não atrapalhar as outras pessoas (fiquei imaginando as famílias que possuem filhos adolescentes fechados em seus quartos ouvindo heavy metal a ponto de furar nossos tímpanos, ou os maridos audiófilos escutando pela décima segunda vez a mesma faixa da cantora Jacinta). Essas famílias soltariam rojões se o filho ou o marido audiófilo comprasse este fone da Grado, mesmo com todo vazamento de som! Não tenham dúvida meus amigos. Claro que seria muita maldade usar este fone na hora que a esposa esteja dormindo e você deite ao seu lado para desfrutar das novidades da semana no Tidal, mas em qualquer outro ambiente, o Grado certamente seria muito bem recebido como um bálsamo!

Um fone Grado você reconhece a metros de distância, pois seu design retrô lembra aqueles fones utilizados por telefonistas ou radioamadores dos anos 40/50. É o tipo do design que você ama ou odeia instantaneamente. Um outro amigo, fã dos fones Grado, sempre diz que se as pessoas dessem um crédito e ouvissem suas inúmeras qualidades, essa questão de design cairia por terra.

Concordo plenamente, tanto que tenho um fone da Grado como referência há mais de dez anos!

A aparência do GS3000e segue o design “padrão Grado”, mas por ser da série Statement (a top de linha) possui um acabamento premium com uma estrutura mais bem acabada com forração coberta de couro, muito mais confortável que o meu modelo. Possui espumas de grande dimensão, que colocadas na cabeça parecem realmente estranhas pela dimensão e por cobrir totalmente as orelhas.

Seu peso total é de apenas 300 gramas (o que, para um fone Grado, é algo surpreendente). Na grande maioria de seus fones, a Grado utiliza mogno ou uma combinação de madeiras para a construção do invólucro do fone.

Neste modelo, no entanto, a Grado optou pelo uso de uma madeira tropical chamada Cocobolo, também utilizada no corpo das cápsulas de algumas de suas cápsulas para toca-discos. Além da sua maior leveza para o driver de 50mm, o fabricante afirma que a sonoridade desta madeira se mostrou muito eficiente em termos acústicos e no equilíbrio tonal do fone (deste aspecto, falaremos adiante).

Para os que já estão imaginando as desvantagens do uso de espuma em vez de couro nas bordas do fone, a Grado disponibiliza kits de almofadas para venda avulsa por uma fração do custo do fone (aproximadamente 50 dólares o par de espumas).

Outra vantagem dos fones abertos (além do equilíbrio tonal), é que você não estará com ele molhado de suor depois de duas horas de audição, como costuma acontecer com os fones fechados, e nem tampouco com as orelhas quentes.

Para o teste utilizamos exclusivamente o pré de fone do Nagra Classic.

Outro ponto muito discutido nos fóruns é que os cabos dos fones da Grado são muito grossos e desajeitados (fato que tenho que concordar), porém respeito a decisão do fabricante em usá-los, pois sua performance justifica a escolha.

Claro que temos outros excelentes fones concorrentes que encontraram outras soluções de cabos muito mais leves e maleáveis, mas se estivermos levando em consideração apenas a performance sonora, temos que admitir que os cabos usados pela Grado são muito corretos.
O GS3000e vem com um adaptador para celulares, mas eu não acho que ninguém em sã consciência utilizaria um fone desse naipe para ouvir em um celular, mas…

Tivemos o prazer de ter sua companhia por seis semanas, e foi uma experiência marcante e que deixará muitos questionamentos futuros do que necessariamente um fone hi-end necessita de fazer de essencial para ser considerado uma referência absoluta.

Se você responder que precisa ter o melhor equilíbrio tonal possível, diria que você está 70% correto. O que afirmou que além de um excelente equilíbrio tonal, precisa primar pela musicalidade e baixa fadiga auditiva, diria que avançamos para a casa de 90%.

Mas, para se atingir os 100% (se é isto possível), ou o mais próximo deste tão cobiçado objetivo, é preciso que a soma de todos os 8 quesitos tenha um grau de equilíbrio tão intenso e coerente, que ao escutar este resultado, percebamos que o cérebro parou de avaliar e está apenas desfrutando do que está ouvindo.

Muitos levam este resultado para o lado da subjetividade, quando nada tem de subjetivo. Ao contrário, para se chegar a este resultado é preciso uma expertise de muitos anos de estrada e saber o que precisa se buscar para se atingir este grau de preciosismo. Este Grado encontra-se neste patamar, dos fones que chegaram lá passando etapa por etapa desta evolução.

O interessante dos produtos que atingem o topo, é que não o fazem por terem uma única característica que sobressai em relação à concorrência. Ao contrário, eles são a conjunção de vários fatores, que se juntam para oferecer um resultado impecável! E esmiuçar essas qualidades não é tarefa fácil para nenhum revisor, pois corremos o risco de tirar conclusões erradas ou precipitadas.

Claro que sempre achamos um jeito de tentar expressar nossas conclusões em uma frase ou adjetivo, mas isso está longe de resolvermos o problema.

Outra maneira é ser objetivo e direto, solicitando que o leitor escute o equipamento, na esperança que ele observe o mesmo que eu observei. E sabemos que também não funciona, desta maneira simplória.

Este é o tipo de produto que, quando chega a nós, já sabemos que trará o dobro de responsabilidade e trabalho. Mas acredite, vale muito a pena!

Todo melômano e audiófilo com mais experiência, irá observar que o Grado GS3000e tem um grau de “musicalidade” impressionante, que o convida a ouvir o dobro de tempo de qualquer outro fone. Perceberá também que a organização da música em nossa mente se faz sem pontos escuros (estou falando de inteligibilidade) ou passagens difíceis de entender, mesmo as mais complexas. Perceberá também que as texturas são magistrais, pois possuem um nível de fidelidade e apresentação “real” dos timbres – e que poucos fones tem essa ambição.
Entenderá, perplexo, que ainda que possa achar que as pontas poderiam ser mais imponentes, elas não são, por uma única razão: estão isentas do menor resquício de coloração.

Essa é uma discussão muito antiga, e que as pessoas só entenderão quando tiverem a coragem de ter como referência absoluta a música ao vivo não amplificada. Aí será possível se falar como soa realmente um picolo na última oitava, um violino, um trompete com surdina, um piano, etc. As pessoas esquecem que muitas das gravações que usam como referência absoluta são “turbinadas”, comprimidas, e sabe-se mais o que!

Em um dos últimos Cursos de Percepção Auditiva ministrado no Hi-End Show, falei que a primeira característica audível de uma gravação que foi equalizada é que seu cérebro percebe (se tiver como referência música ao vivo não amplificada) que as texturas são pobres. E apresento duas gravações com vozes (do mesmo cantor) uma com um reberb digital que mudou o equilíbrio tonal da voz, e outra sem este maldito reverb digital. A diferença de textura e timbre é gritante.

Neste fone, as diferenças foram ainda mais intensas, mostrando que ele não será nada condescendente com as estrepolias cometidas pelos engenheiros de som que se consideram “semi deuses” e acham que não usar uma equalização aqui, outra ali irá diminuir sua importância como engenheiro de gravação.

Outra característica que sempre chamo a atenção nos cursos: é do “menos é mais”. Em toda a cadeia de captação do áudio e reprodução do áudio, este é o único caminho para não perder fidelidade.

O GS3000e certamente é um grande defensor desta qualidade, de preservar a fidelidade em todas as etapas, e caso haja algum deslize ele irá colocar o dedo na ferida sem dó!

Então, meu amigo, a primeira pergunta que certamente já pairou em sua cabeça, após essa descrição em detalhes de seus atributos é: “este fone é para todo mundo?”. Certamente que não – começando pelo seu valor, que assustará a maioria dos mortais.

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Mas aos amantes de música não amplificada, ou mesmo amplificada corretamente e com parcimônia, este fone é uma das melhores opções do mercado sem dúvida alguma!

Ouvimos todos os gêneros musicais possíveis, e seu grau de precisão, equilíbrio e fidelidade é surpreendente em qualquer ângulo de análise. Sua assinatura sônica é sempre em favor da musicalidade, sem pirotecnias ou arroubos que encantam os “marinheiros de primeira viagem” e depois se tornam enfadonhos e repetitivos.

Com o GS3000e, o ouvinte sempre será levado a ouvir a música plenamente (sem elucubrar se aquela passagem deveria ter mais peso, ou soar na frente da cabeça). Pois é o tipo de dúvida que se torna irrelevante, tamanho o grau de refinamento com que a música é apresentada.

Colocar defeitos em um fone desse nível é uma tarefa difícil, e será fora da esfera da performance. A única coisa que ouvi dos amigos que mostrei o GS3000e foi do cabo, que realmente assusta pela bitola. Mas que passou instantaneamente assim que apertei o Play. Você simplesmente submerge em sua apresentação, para não querer sair mais daquele estado de êxtase, de ouvir música de forma tão emblemática e emocionante!

CONCLUSÃO

Existem produtos que nos tocam por inúmeros motivos, e muitos têm este encanto por algum tempo, e depois nos abandonam (ou será ao contrário), e existem aqueles produtos de áudio que estabelecem em você um novo nível de referência que torna seu encanto “atemporal”.

E cada vez que você tiver a oportunidade de revisitá-lo, as mesmas sensações se farão presentes. O GS3000e encontra-se neste grupo tão pequeno que quase pode ser contado nos dedos das duas mãos.

Se é isso que você busca em um fone de ouvido, ouça-o, urgente!


PONTOS POSITIVOS

Um fone Estado da Arte de Referência.

PONTOS NEGATIVOS

Bitola do cabo.


ESPECIFICAÇÕES
Tipo de transdutorDinâmico
Princípio OperacionalAr Livre
Resposta de frequência4 a 51.000 Hz
SPL (1mW)99,8 dB
Impedância nominal32 Ohms
Casamento dos drivers0,05 dB
FONE DE OUVIDO GRADO STATEMENT GS3000e
Conforto Auditivo 11,0
Ergonomia / Construção 11,0
Equilíbrio Tonal 12,0
Textura 13,0
Transientes 13,0
Dinâmica 11,0
Organicidade 11,0
Musicalidade 13,0
Total 95,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADODAARTE



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