Fernando Andrette
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Dizem que quando envelhecemos, todas as nossas virtudes e defeitos se inflamam. Acredito que este ditado popular tenha, sim, um pouco de ‘verdade’. Tenho feito um enorme esforço para não me transformar em um velho ranzinza, chato e metódico, mas a luta que tenho que travar comigo mesmo é cada vez mais intensa.
Pois, com essa pandemia, tudo acabou por ficar ‘exacerbado demais’, e parece que a afetuosidade perdeu de feio para a descrença e o desrespeito. Felizmente, minha natureza sempre foi impulsionada por ser um agregador e jamais desacreditar no potencial humano. Morrerei assim (seja um defeito ou uma qualidade), pois aonde querem nos fazer ver apenas retrocesso, eu sempre vejo uma possibilidade de mudança.
Pois basta observar como o ser humano se comporta nos momentos de crises agudas, para percebermos o enorme potencial que o homem carrega em si. E percebo este ‘potencial’ em todas as áreas de atuação humana, até mesmo neste pedacinho de mercado chamado de áudio hi-end.
Deixe-me explicar a você meu ponto de vista.
Mas teremos que voltar à 1984, quando ouvi em uma apresentação dedicada a audiófilos, o tão aclamado e idolatrado Compact Disc. Foi na casa de um cliente do meu pai, que havia voltado de uma viagem à Europa e trouxe um CD-Player da Sony e dois discos que vinham de cortesia. Nunca vou esquecer os discos: um era do flautista Rampal e o outro As Quatro Estações, de Vivaldi.
O anfitrião estava verdadeiramente eufórico de ser o primeiro a adquirir a nova tecnologia, que iria mudar para sempre a forma de escutarmos, gravarmos e armazenarmos música em nossas casas. Além do meu pai e eu, foram convidados mais cinco amigos audiófilos. Escolhemos por unanimidade iniciar a audição pelo Rampal, já que era uma gravação conhecida e que muitos (inclusive o anfitrião) tinham em LP – uma excelente gravação.
O que lembro com exatidão, foi o enorme constrangimento e incredulidade de todos, após ouvirmos a primeira faixa do disco. Caiu-se um silêncio funerário na sala, e algum dos convidados, para quebrar o silêncio, levantou a hipótese de ter algo errado, ou até mesmo que o CD-Player estivesse com defeito, ou a remasterização do disco tivesse algum problema. Pois era tão ruim o resultado, que era difícil acreditar que esta nova topologia sequer pudesse ser chamada de Hi-Fi.
Na dúvida de que pudesse ser o disco, o anfitrião colocou o segundo disco. Este não escutamos sequer a primeira faixa toda! Pois os violinos soaram tão duros e incorretos, que toda a vontade de ouvir o resto se dissipou.
Saímos de lá confusos, com inúmeras perguntas sem respostas.
Minha cabeça era um caleidoscópio de imagens e pensamentos, pois tínhamos acreditado em tudo que as mídias escreveram a respeito, que para mim era impossível somente nós oito presentes naquela demonstração termos ouvido o quanto era ruim!
Depois desta apresentação catastrófica, todos voltamos aos LPs, mais certos ainda que para o Compact Disc desbancar o LP, ele teria que suar muito e, antes de tudo, corrigir todas as limitações que para nós eram tão explícitas!
Façamos um pulo no tempo, e estamos em 1994, eu já na Audio News escrevendo testes e resenhas musicais, e eis que sem aviso prévio, as gravadoras param de me enviar os LPs Promocionais e passam a enviar apenas CDs. E eu não tinha um CD Player para ouvir esses lançamentos. Quando contei o meu problema na redação, todos me olharam com enorme surpresa, pois achavam que eu teria sido o primeiro a embarcar neste ‘avanço’ tecnológico que, para todos ali, representava o ‘futuro’ do áudio!
Não teve jeito, iniciei uma maratona de dois sábados à procura de um CD-Player que tivesse a ‘dignidade’ de não ‘ferir’ meu sistema auditivo. E depois de muito pesquisar, vi que a Philips havia optado por uma linha que foi batizada de bitstream, que as mídias especializadas diziam ter dado uma ‘suavizada’ nos agudos, deixando a região média-alta menos dura.
Aqui me permitam fazer um adendo, e defender as mídias especializadas de áudio, que felizmente observaram os grotescos erros, forçando os projetistas a voltarem às suas pranchetas e não confiarem apenas nos resultados de medições de ondas senoidais e afins. Pois se não existissem essas mídias meu amigo, estaríamos até hoje com um retrocesso de 50 anos!
Então, quando os objetivistas começam com suas ‘ladainhas’, eu sempre tenho a mesma pergunta a todos eles: Por que vocês não foram capazes de perceber o quanto ainda estava ‘cru’ o Compact Disc quando foi lançado? E a resposta é óbvia: pelo simples fato de eles acreditarem muito mais em medições do que nos seus sistemas auditivos. Pois se tivessem um bom par de orelhas calibradas, e com excelente referência de música não amplificada, ao ouvir a flauta do Rampal perceberiam imediatamente que o timbre era torto, duro, seco, agressivo, e que o corpo dos instrumentos era absolutamente incorreto!
Mas, para o objetivista isso é um mero detalhe, ou melhor: subjetivo demais para ser levado a sério!
Em 1994, em minha peregrinação na busca de um CD-Player para fazer minhas resenhas musicais, o CD-Player e os disquinhos platinados já tinham uma década, então eu queria acreditar que aquela terrível impressão de dez anos atrás havia sido dissipada. Para resumir: acabei comprando um CD Philips, e o primeiro disco que toquei ao chegar em casa foi Tutu do Miles Davis, que estava no pacote de lançamentos da Warner naquele mês.
Quando o Miles deu a primeira nota, soou como se uma broca de dentista estivesse à procura do meu tímpano. Como eu tinha a versão em LP, coloquei-o no meu velho e fiel parceiro, o Thorens TD 160, e constatei que uma década não havia sido o suficiente para se corrigir nenhum dos principais defeitos do CD-Player.
Por precaução, passei a usar o CD Player apenas para escrever as resenhas mensais e jamais para sentar e fazer minhas audições diárias.
Desculpe todo este desabafo, mas era preciso para iniciar o teste do Innuos Statement, o top de linha deste conceituado fabricante de Streamers / Servidores de Música. Pois assim como ao CD-Player, minha posição em relação ao streamer não é tão ‘efusiva’ como a de muitos articulistas mundo afora!
Vacinado com as agruras por duas décadas e meia com o CD-Player, me fizeram ser ainda mais precavido com o surgimento do Streamer. E não é novidade para quem me acompanha que minha posição é bem clara a respeito. Sei que irá chegar a um nível alto, mas assim como a topologia Classe D, eu ainda sinto que falta chão!
Claro que concordo com o colaborador e amigo Christian Pruks, que para a maioria esmagadora dos consumidores o nível que o streamer se encontra já é mais do que bom. Mas o meu papel é o do ‘advogado do diabo’, pois se temos uma Metodologia e uma Referência de sistema, precisamos posicionar o patamar atual desta nova topologia, para que o nosso leitor entenda o que escrevemos mensalmente aqui. Independente do nosso leitor já ter embarcado nesta topologia ou não!
O que posso dizer de positivo é que o Streamer já se encontra em um patamar acima e muito mais consistente que na primeira década do CD-Player, o que mostra de forma inquestionável que se as plataformas melhorarem a qualidade do serviço oferecido (leiam mais a respeito no Opinião deste mês), em no máximo cinco anos certamente teremos inúmeros servidores de música Estado da Arte –
algo que no CD-Player só se conseguiu duas décadas após seu lançamento.
É por essa ‘ótica’ que desejo que você, leitor, entenda minhas avaliações de todos os servidores de música e streamer que forem testados por nós. Pois sem a evolução do Tidal, Qobuz, Apple Music, Spotify, etc, de nada irá adiantar os fabricantes de servidores e streamers aprimorarem seus produtos, pois tudo precisa estar no mesmo patamar de qualidade e performance.
Ufa! Finalmente poderemos falar a respeito deste incrível servidor de música da Innuos.
Para ter meu primeiro setup digital decente, levei 25 anos desde o lançamento, em final de 1983, do CD-Player. Caso quisesse incorporar um servidor de música compatível com o Sistema de Referência da Editora, o Innuos Statement certamente seria uma das melhores opções atuais. O que diz muito em relação a este servidor top de linha da Innuos!
Como o produto é um servidor de música, achei que seria muito mais justo avaliar ele como servidor de música, em que você pode copiar (ripar) toda a sua coleção de CDs nele e, como streamer, utilizando para o teste as plataformas Tidal e Qobuz. Assim, me sinto muito mais à vontade para descrever meus três meses de convivência com ele.
Como servidor de música, este é de longe o melhor que ouvi e testei na revista. E seu grau de praticidade é simplesmente estupendo! O usuário só tem que colocar o CD e em poucos minutos ele estará copiado. Parece mágica, mas não é – trata-se de um software desenvolvido pela Innuos que reconhece a mídia, consulta uma ampla gama de bancos de dados online já especificados no programa, navega por FreeDB, MusicBrainz, Discogs e GD 3, a procura por metatags idênticas, ou adicionais, antes de tomar a decisão qual será a melhor. Depois de escolhido, o servidor inicia a extração dos dados convertendo os sinais PCM no formato de áudio desejado, e o armazena em uma memória SSD. A versão mais simples possui 1 terabyte, o que dá para armazenar 2000 discos não compactados (WAV ou AIFF). No formato FLAC pode-se armazenar até 2880 discos. Mas, a Innuos pode fornecer até 4 terabytes, mas essa capacidade de armazenamento ainda pode ser expandida de várias maneiras. O transporte é uma unidade TEAC em uma versão spin-off.
O Streaming deste servidor traz Internet Radio, Tidal, Qobuz e Spotify.
O Statement é composto de duas unidades: na mais fina encontra-se o leitor, o servidor e streamer, e na mais robusta está a fonte externa de alimentação. Os cabos de alimentação (são dois, um por canal), são ‘propositalmente’ curtos, para forçar a trabalharem juntos (com o servidor em cima da fonte). Ambos os gabinetes são visualmente simples e sem a ostentação de nenhum display.
No centro se encontra a gaveta, e um botão no canto direito embaixo, para ligar e desligar o servidor. A fonte não tem nenhum comando no painel frontal. Ao centro do painel traseiro a tomada IEC o botão de liga desliga, e nas pontas os cabos para serem ligados no servidor.
Na parte de trás do servidor nas duas pontas, a entrada dos cabos de alimentação, portas Ethernet e USB, uma porta USB para a ligação no DAC externo, e conexões para Serviço e Backup. Nenhuma outra saída digital possui o Statement.
Para os próximos meses, a Innuos promete o lançamento de seu próprio aplicativo remoto em todas as plataformas – que comandará tanto o modo de configurar, como de reproduzir. Ele poderá ser usado como Roon Core (que é hoje a melhor opção para se usar qualquer versão do Innuos). Como sou um admirador do Roon, quero ver para crer se o app da Innuos irá superar este em termos de praticidade e organização de toda a biblioteca. Quando sair, escreverei minhas impressões.
Essa super máquina está preparada para todos os formatos existentes, desde o MP3, Flac, Apple Losless, AAC, WAV e AIFF. Com capacidade de resolução de 16 a 32 bits e a taxa de amostragem de 44,1 a 384 kHz – e decodificação de MQA e DSD.
Para o teste, utilizamos dois cabos USB: Zenith 2 da Dynamique Audio, e o Kubala Sosna Realization. Cabos de força: Transparent Reference G5 e PowerLink MM2. Conversor analógico/digital: TUBE DAC da Nagra. E todo o Sistema de Referência da Editora.
Minha curiosidade, depois de testar o ZEN, era o quanto o Statement em termos de streaming poderia acrescentar, e o quanto seria possível ouvir de avanço nesta plataforma.
Antes de escrever minhas observações auditivas, deixe-me esclarecer os pontos em que acho que o streamer ainda precisa evoluir para chegar mais próximo da mídia física CD. Por mais que esteja escutando as opções Masters no Tidal ou a alta resolução no Qobuz, sinto falta de planos mais tridimensionais (principalmente em profundidade e largura), melhor foco e recorte, corpo harmônico (que consegue ser menor que na mídia física digital) e mais extensão nas duas pontas.
Então, por mais que esteja ouvindo uma ‘excelente’ gravação técnica e artística, esses ‘obstáculos’ me impedem de fazer aquela imersão tão necessária para o meu cérebro saber que o que está escutando é reprodução eletrônica. Não sei se isso é um problema só meu, ou se alguns de vocês também tem este grau de exigência. E nenhum streamer que escutei conseguiu ‘driblar’ este obstáculo.
Pois o Statement, com o cabo Kubala Sosna Realization (em breve publicarei seu teste), em alguns momentos resolveu esse impasse de maneira muito segura. Foram algumas poucas gravações pontuais (apenas quatro), mas já foi um passo promissor.
Interessante que o fato ocorreu com duas gravações reproduzidas no Tidal e duas no Qobuz. Cito este detalhe, pois tudo no teste do Zen, que ficou mais próximo do ideal, foi apenas no Qobuz.
O que no Statement foi superior ao ZEN? Todos os quesitos da Metodologia soaram muito melhores no Statement. Com destaque para equilíbrio tonal, transientes, texturas e organicidade. Nesses quatro quesitos a diferença foi muito grande.
As gravações ganharam maior refinamento, precisão, transparência, detalhe e naturalidade. Itens importantes (pelo menos para mim), para poder ouvir por mais tempo streamer e com maior prazer.
Pois, como com fones de ouvido, o máximo que eu conseguia até a chegada para testes do Statement, era ouvir as novas gravações selecionadas, e olha lá! Com o Statement, estendi as audições por pelo menos mais uma hora, também navegando em gravações já selecionadas, para reouvir e comparar os cabos USB e como ele soou em relação ao modelo Zen.
O que posso confirmar é que, com o Statement, o audiófilo que abriu mão de toda e qualquer mídia física, se tiver arquivado nele seus discos antes de fazer a festa dos sebos (que pagaram uma ninharia nos seus discos e estão lucrando mais de 100%), se dará por satisfeito em ter feito este investimento. Pois como servidor de música, ele se encontra em um outro patamar.
Ripei uma dúzia de gravações feitas para a CAVI Records, e referências que me acompanham há muitos anos. E o resultado foi muito além do satisfatório!
Tem diferenças, quando comparado com a mídia física tocando em nosso setup digital? Sim, mas são muito mais sutis que os arquivados no Zen ou em qualquer outro computador. Em relação às nossas gravações, e em especial ao CD Timbres, o que falta é um nadinha a mais de invólucro harmônico, para dar aquele ‘acabamento’ final em termos de textura e corpo.
Mas no resto, é exemplar!
Ao contrário do streamer, que sofre em ser pobre em termos de planos, recorte e foco, a cópia é muito fiel neste quesito. Dificultando em um teste cego A x B saber o que é o original da cópia. Isso é um baita elogio (principalmente vindo de um cara tão chato como eu, rs) e que para a esmagadora maioria dos audiófilos será muito mais que satisfatório, será unir a comodidade, com praticidade de tudo a mão e com uma performance Estado da Arte!
O Statement da Innuos é um servidor de música que pode ser considerado um divisor de águas entre o Estado da Arte e o
Superlativo!
Ainda que caro como um Estado da Arte Superlativo, ele pode com enorme consistência ser a plataforma para quem deseja colocar toda a sua coleção de mídia física em um único local, e ainda desfrutar de streaming de qualidade – e que tende a melhorar ainda mais nos próximos anos.
E se pensarmos que as mídias físicas estão cada vez mais difíceis em termos de lançamentos, fatalmente em algum momento só nos restará essa opção para conhecer novos trabalhos. Então é salutar que o streamer esteja avançando a passos largos para se tornar uma referência de alto nível.
Se querem minha opinião, acho que o streamer ‘chega lá’ antes dos amplificadores Classe D!
O Innuos Statement é um pacote muito sedutor, e pode perfeitamente ser a solução de todos que querem performance e praticidade em um único equipamento!
Excelente servidor de música Estado da Arte Superlativo.
Preço (como sempre).
Saídas digitais | • USB 2.0 re-clocked (USB Audio Class 2, DoP, DSD e MQA) • Ethernet re-clocked |
Ethernet | 2x RJ45 (Gigabit Ethernet) |
USB | 2x USB 2.0 (1x re-clocked, 1x não-reclocked), 1x USB 3.0 (para Backup) |
Formatos de CD | Red Book |
Compatibilidade discos | CD, CD-R, CD-RW |
Formatos de áudio armazenados do CD | FLAC (zero compressão), WAV |
Formato de áudio aceitos para reprodução | WAV, AIFF, FLAC, ALAC, AAC, MP3, MQA (quando ligado a DACs com suporte MQA) |
Taxas de amostragem | 44.1 kHz, 48 kHz, 88.2 kHz, 96 kHz, 176.4 KHz. 192 kHz, 352.8 KHz, 384 KHz, DSD64, DSD128, DSD nativo até DSD512 (em DACs selecionados) |
Profundidade de bits | 16 bit, 24 bit, 32 bit |
Interface Computador | Browsers de internet para iOS, Android (4.0 e superior), Windows e Mac OS X |
SERVIDOR DE MÚSICA & STREAMER INNUOS STATEMENT (COMO STREAMER) | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 13,0 | |||
Soundstage | 12,0 | |||
Textura | 13,0 | |||
Transientes | 13,0 | |||
Dinâmica | 12,0 | |||
Corpo Harmônico | 12,5 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 12,5 | |||
Total | 100,0 |
SERVIDOR DE MÚSICA & STREAMER INNUOS STATEMENT (COMO SERVIDOR DE MÚSICA) | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 14,0 | |||
Soundstage | 13,0 | |||
Textura | 13,0 | |||
Transientes | 14,0 | |||
Dinâmica | 12,0 | |||
Corpo Harmônico | 12,0 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 13,0 | |||
Total | 103,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
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