Teste 4: CABO COAXIAL DIGITAL LIGHTNING III DA VIRTUAL REALITY
junho 15, 2021
Teste 2: CAIXA ELAC DEBUT REFERENCE DFR52
junho 15, 2021

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Tenho tido excelentes notícias este ano, com marcas que sequer imaginei que viriam a ser distribuídas por essas bandas tropicais. A primeira bela surpresa foi com a Origin Live, que comentei no Teste 1 de nossa Edição de Aniversário, e agora na sequência outra excelente notícia: a chegada da ZYX no Brasil!

Essa é outra marca que acompanho desde 2010, e sempre tive enorme curiosidade de ouvir. Principalmente os modelos mais ‘sofisticados’, que possuem aquela esfera azul na frente da cápsula para dar o ponto exato de equilíbrio, colocando-o literalmente na ponta da agulha. Segundo o fabricante, e as centenas de testemunhos que li, o resultado em termos de precisão de leitura é estupendo, fazendo com que o ouvinte ouça detalhes nunca antes ‘trilhados’ e expostos!

Essa grande sacada colocou a ZYX no radar de inúmeros audiófilos que ‘clamam’ por extrair de seus discos o sumo do sumo! O idealizador deste diferencial é Nakatsuka-san, que além de fundador é o principal engenheiro. Sua expertise tem quase meio século de estrada, com trabalhos e desenvolvimento de cápsulas, com inúmeras inovações tecnológicas e de performance, como: a primeira cápsula ótica do mercado, e o desenvolvimento para a Ortofon do modelo MC-20.

Depois de mais de 20 anos trabalhando para inúmeros fabricantes no Japão, Europa e Estados Unidos, onde desenvolveu as principais cápsulas para a Monster Cable, Nakatsuka-san, montou sua própria empresa, a ZYX, que tem seu nome originário dos elementos analógicos que compreendem Tempo (Z), Amplitude (Y) e Frequência (X). Sua linha é bastante extensa, com 7 séries no total, mais um pré de phono e acessórios analógicos.

No Japão, a ZYX é reverenciada e certamente este grau de admiração acabou chamando a atenção, no início do século 21, do ocidente e rapidamente se tornou uma referência para inúmeros audiófilos ocidentais.

Ainda que a esfera azul seja um enorme diferencial, e seja visualmente exótica em termos de solução para se achar o ponto de equilíbrio da agulha, ao ouvir uma ZYX é que se entende o grau de soluções que realmente colocaram a leitura dos sulcos um passo adiante.

Quando o Fernando Kawabe me disse que havia pego a marca para o Brasil, pedi de imediato que ele nos enviasse dois modelos: o de entrada, para podermos entender de que patamar a mais simples oferece, e uma nas séries mais altas, para entendermos o grau de melhora que a esfera azul resulta em relação à concorrência.

Assim ele nos mandou a Bloom 3 High, a de entrada, que custa lá fora 1300 dólares e, na sequência, testaremos a Omega G, uma das cápsulas mais comentadas e desejadas nos fóruns internacionais!

Ainda que seja uma cápsula de entrada, os cuidados e as atenções em sua construção seguem rigorosamente a filosofia do seu projetista, de inovar em tudo que for possível e necessário, dentro de sua limitação orçamentária.

A cápsula, como todas as ZYX, é feita de uma resina plástica muito resistente, e não metálica, pois Nakatsuka-san acredita que esta seja a melhor forma de impedir a formação de correntes parasitas que possam afetar a sonoridade. O cantilever é de alumínio preto rígido, equipado com uma agulha feita e lapidada à mão. Segundo o fabricante, a Bloom 3 usa uma força de rastreamento de 2 gramas, impedância interna de 4 Ohms e uma impedância de carga recomendada de pelo menos 100 Ohms. O peso total da cápsula é de 5 gramas, e sua resposta de frequência é de 10 hz a 100 kHz.

Muitos que nunca tiveram um contato de ‘terceiro grau’ com uma cápsula, irão admirar a construção e a possibilidade de olhar a cápsula por dentro, já que as laterais são transparentes o suficiente para se admirar a construção interna desta ‘joia’.

Para o teste, instalamos a ZYX no TD da Origin Live Sovereign Mk4 (leia Teste 2 na Edição de Aniversário deste ano), braço também da Origin Live, Enterprise C, de 12 polegadas, e os seguintes prés de phono: Luxman EQ-500, Boulder 508 e Nagra Phono Classic (leia Teste 1 na Edição de Aniversário deste ano). Os cabos utilizados entre os prés de phono e os prés de linha: Quintessence da Sunrise Labs, e Apex da Dynamique Audio.

Mais uma vez, todo o trabalho de tirar a cápsula Hana Umami Red (leia Teste 3 na Edição de Aniversário), foi do nosso querido colaborador André Maltese, e fazer o ajuste fino da Bloom 3, trabalho que levou pelo menos três horas, antes de sentarmos e realizarmos juntos uma primeira impressão.

Aos interessados nessa excelente cápsula, uma primeira dica: seu tempo de amaciamento é o maior de todas as cápsulas por nós já testadas, ou que tive para uso pessoal. As mais demoradas jamais passaram de 50 horas, jamais! A Bloom 3, com 70 horas, ainda
estava se ‘acomodando’ e ocasionando surpresas! Então, meu amigo, tenha um bocado mais de paciência, pois cápsulas não são como amaciar digital, que o sujeito coloca no repeat e sai para trabalhar, podendo deixar em queima por uma semana com o mesmo disco sem problema.

O que nos leva à seguinte conta rápida: se sentares apenas duas horas por dia, serão 40 dias de queima aproximadamente para se extrair desta belezura todo seu potencial! Ou 4 horas diárias por 20 dias.

Neste período, nada de mostrar o ‘upgrade’ aos amigos, pois como diz o ditado popular: “quem tem pressa, come cru”.

Outro detalhe no tempo de amaciamento, que muito me chamou a atenção, é que a Bloom 3 começa com um ‘ímpeto’ lá no alto, parecendo uma cápsula ‘nervosa’ com baixo grau de equilíbrio e refinamento, e que à medida que os dias vão passando ela vai amansando e achando seu ponto de equilíbrio. Então, fique ‘na moita’ e não convide ninguém, aguente firme essa fase, e se municie de toda paciência do mundo, pois dependendo da assinatura sônica do seu sistema, principalmente se ele for mais para ‘fogos de artifício’, você duvidará que ela irá assentar e se tornar muito musical e equilibrada.

No Boulder 508, parecia que este momento jamais chegaria, já no Luxman EQ-500 e no Nagra, este ‘rito de passagem’ de impetuosidade para o relaxado foi sinalizado a partir das 40 horas de amaciamento. No Boulder, mesmo depois das 80 horas, as pontas em gravações tecnicamente mais limitadas nunca foram das mais ‘confortáveis’. Já com os outros dois prés, nenhum disco foi expurgado ou deixado para trás! Seu equilíbrio tonal é muito correto, com enorme extensão, corpo e velocidade em ambas as pontas.

A região média é de enorme detalhamento e transparência, possibilitando que o ouvinte escute com enorme prazer seus discos e tenha belas surpresas em termos de inteligibilidade! Este é seu maior mérito: manter o DNA sonoro de todas as cápsulas ZYX em termos de precisão e detalhamento, mesmo sendo a ‘de entrada’ deste fabricante!

O soundstage é impressionante em termos de foco e recorte, com um grau de precisão e 3D que nos faz imaginar estarmos escutando uma cápsula muito mais cara!

Suas texturas são detalhadas, ricas e de enorme naturalidade – falta apenas aquele último grau de refinamento que encontramos nas cápsulas de nível superlativo, mas é preciso lembrar que certamente o usuário desta Bloom 3 terá como companhia um setup bem mais simples, e não os prés de phono utilizados no teste.

Senti muito não ter mais conosco o pré da PS Audio, o Stellar, pois acho que este seria o par ideal, ou mesmo o Gold Note PH-10, ambos muito mais coerentes em termos de valores com a Bloom 3. Mas isso não invalida de maneira alguma nossas observações, já que com os três prés de phono foi possível perfeitamente ‘entender’ sua assinatura e ouvir suas virtudes e limitações.

Os transientes são arrebatadores! O grau de precisão e autoridade é realmente uma bela surpresa, fazendo com que a Bloom 3, neste quesito, possa ser comparada tranquilamente com cápsulas até três vezes mais caras.

Outro grande mérito é sua dinâmica, tanto a micro, quanto a macro. Obras complexas, como a Sagração da Primavera de
Stravinsky, ou Sinfonia Fantástica de Berlioz, soaram com enorme folga, tanto nas passagens mais sutis como nos fortíssimos! O melômano e o audiófilo, se estão à procura de uma cápsula que resolva essa questão da dinâmica, devem colocar como opção número um ouvir essa cápsula em seu sistema.

Meu filho me emprestou um LP do Metallica (um de capa azul – eu não conhecia), fiquei realmente impressionado com a maneira que a Bloom 3 ‘driblou’ aquela ‘parede’ de compressão – os VUs do Luxman e do Nagra simplesmente ficam estáticos, como se tivessem sido travados! Uma pena que se use tanta compressão em uma gravação em pleno final do século 20. Será que os engenheiros de heavy metal desconhecem os microfones B&K ou DPA? Com esses microfones não seria necessária tanta compressão, que além de estragar o equilíbrio tonal, deixa tudo bidimensional. Mas a Bloom 3, com sua impressionante ‘energia’, consegue deixar aquela ‘massa sonora’ muito mais palatável e interessante. Se você é um fã do gênero, você precisa ouvir essa cápsula, meu amigo.

O corpo harmônico da Bloom 3 é uma grande referência para inúmeras cápsulas concorrentes na sua faixa de preço, e também para muitas acima de sua faixa de preço. Tudo soa do tamanho exato que foi captado e mixado. Nas gravações de jazz dos anos 60, é um deleite ouvir os sopros como soam quando estamos dentro da sala de gravação, com os músicos. Eu nunca abri mão de estar ali dentro nas nossas gravações, é uma sensação indescritível, meu amigo, sentir no peito aquela pressão de um saxofone barítono, ou um contrabaixo tocado em arco! Com a Bloom 3, o ouvinte terá sonoros sustos com a veracidade do corpo de excelentes gravações dos anos 60!

A materialização física é outro ‘desbunde’ nesta cápsula. Para não ficar preso apenas às melhores referências feitas nos anos 60, fui buscar gravações dos anos 70, 80 e 90, da Blue Note, Pablo e Verve. E a materialização física está presente, fazendo nosso cérebro mergulhar de tal forma que, só se você não quiser continuar a ‘viagem’, que seu cérebro irá lembrar que aquilo é reprodução eletrônica e não a realidade!

Brinco que vou levar o ouvinte à uma máquina do tempo, nessas oportunidades, pois só o analógico para nós permitir este grau de ‘realismo’!

Sua musicalidade dependerá muito mais dos seus pares do que dela mesmo. Como escrevi linhas acima, será preciso ‘domar’ sua energia quase juvenil – ela possui um grau de impetuosidade que pode muito bem ‘assustar’ aos que buscam uma cápsula em outra direção.

Mas isso não necessariamente é um defeito, e pode perfeitamente se transformar em enorme qualidade. Principalmente se os estilos musicais tiverem também essa ‘impetuosidade’. Mas não pensem que essa impetuosidade não pode ser domada, pois para nós ficou mais do que claro que pode. Para isso será o suficiente um setup analógico que tenha excelente equilíbrio tonal e enorme folga. Pois assim associamos o melhor dos dois mundos. Algo tão utilizado por décadas, como misturar um pré valvulado com um power transistorizado. Isso não é nenhuma heresia – pelo contrário, feito com conhecimento e critério, pode ser uma excelente solução. Principalmente para aqueles que têm um orçamento mais apertado para a realização de upgrades em cápsulas mais top.

A questão é como se montar a receita certa, feito isso, os resultados podem ser surpreendentes.

CONCLUSÃO

A ZYX Bloom 3 é uma cápsula que possui méritos suficientes para estar na lista de todo audiófilo que está à procura de uma cápsula Estado da Arte de até 8 mil reais!

Claro que, nesta faixa de preço, as opções são inúmeras (mesmo aqui no Brasil). Se o amigo possui um toca-discos que julga ser o definitivo dentro de seu orçamento, e seu pré de phono o atende integralmente, mas a cápsula ainda gera ‘incertezas’ dependendo do gênero musical ou da qualidade técnica, ouça a ZYX.

A Bloom 3 possui a ‘magia’ de extrair um grau de informação que outras cápsulas concorrentes nem ‘ousam’ imaginar que isso seja possível. E com um outro benefício importante: precisão!

Se essas são duas qualidades que tanto procura, a Bloom 3 pode ser a solução definitiva para sua busca!


PONTOS POSITIVOS

Excelente performance para sua faixa de preço.

PONTOS NEGATIVOS

Impetuosa, necessita de um setup muito equilibrado e coerente.


ESPEFICICAÇÕES
TipoMC Moving Coil
Sistema geradorREAL STEREO
Tensão de saída0,24 mV (modelo LOW)
0,48mV (modelo HIGH)
Resposta de frequência10 Hz a 40 kHz
Separação de canal25 dB (1 kHz)
Equilíbrio entre canais<0,5 dB (1 kHz)
Força de rastreamento recomendada2,0 g
Faixa de força de rastreamento1,8 g a 2,5 g
Compliâncias15 x 10-6 (horizontal) & 12 x 10-6 (vertical)
Impedância interna4 Ohms (LOW) & 8 Ohms (HIGH)
Impedância de carga recomendada100 Ohms
Material do cantileverTubo de ALMg5 com 0,38 / 0,3 mm diâmetro
Diamante perfilLine-contact
TerminaisBanhados a ouro
Peso5,0 g
CÁPSULA ZYX R50 BLOOM 3 HIGH
Equilíbrio Tonal 12,0
Soundstage 12,0
Textura 12,0
Transientes 12,0
Dinâmica 11,5
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 12,0
Musicalidade 12,0
Total 95,5
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADODAARTE



KW HiFi
(11) 95422.0855
R50 Bloom 3 LOW: R$ 7.300
R50 Bloom 3 HIGH: R$ 7.830

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