Teste 1: CAIXAS ACÚSTICAS KII AUDIO THREE

Teste 2: AMPLIFICADOR INTEGRADO CAMBRIDGE AUDIO CXA81
julho 15, 2021
TOP 5 – AVMAG
julho 15, 2021

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

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Vi, nos últimos anos, diversos vídeos das caixas Kii, com e sem o módulo de grave, e não saberia dizer se era por escolha ou para realçar ainda mais suas qualidades, e sempre com música eletrônica. Este detalhe do repertório me chamou a atenção, e despertou minha curiosidade em conhecer o produto.

Principalmente depois que soube que quem estava por de trás do projeto era o Bruno Putzeys, um engenheiro que está há muitos anos se dedicando ao desenvolvimento dos amplificadores classe D. Bruno, já nos anos 90, estava debruçado nos primeiros projetos desta topologia na Philips, e lá desenvolveu o circuito UCD, tecnologia que a Hypex abraçou pelo seu potencial.

Contratado, na sequência, pela Hypex, lá Bruno desenvolveu os famosos módulos NCore Classe D, amplamente utilizados por diversos fabricantes de áudio profissional e hi-end, como Bel Canto e Jeff Rowland. Cansado de trabalhar para os outros, montou sua própria empresa, a Mola Mola e, ainda por um tempo, foi consultor e colaborador da Grimm Audio (caixa que já testamos na revista).

Atualmente, Bruno paralelamente mantém uma parceria com o engenheiro de áudio Bart van der Laan, e criaram a caixa Kii THREE, tanto para o áudio profissional como para o áudio doméstico. O projeto nasceu de uma calorosa discussão referente à acústica das salas, seja de ambiente tratado na área profissional, quanto das salas domésticas. Dessa discussão nasceu o interesse de construir uma caixa que conseguisse ‘driblar’ os problemas de ressonância dos graves e médio-graves, invertendo o sinal para os drives traseiros e laterais da caixa que estavam desenvolvendo, com um atraso que pudesse atenuar o problema.

Para conseguir isso, os seis drives da caixa THREE são controlados por um crossover DSP que usa antifase nos drivers traseiros para impedir que os graves sejam ‘ampliados’ no contato com a parede atrás das caixas. Algo já tentado por outros fabricantes de caixas, e cada um com um resultado, no mínimo, ‘discutível’.

O software desenvolvido pela Kii promete resolver os problemas de tempo e alinhamento de cada um dos seis falantes e ‘burlar’ os problemas existentes em qualquer sala em que for colocada!

A Kii THREE, como já escrevi, utiliza seis falantes, cada um com seu próprio DSP, conversão D/A e amplificação individual. Cada amplificador é um NCore classe D que tem 250 Watts, combinados para produzir 1.500 Watts por canal, o que é deveras suficiente até mesmo para monitores de estúdio.

Os quatro falantes de graves têm 165 mm (6.5 polegadas), o de médio 127 mm (5 polegadas) e o tweeter de 25 mm com guia de ondas, o fabricante não dá nenhuma pista de que material são os cones dos falantes ou do tweeter.

Pensando em usuários tão distintos (pró áudio e consumer), o fabricante pensou em todas as possibilidades: conexão analógica direta via XLR de um pré amplificador, digital direta com um cabo USB para a AES/EBU de um laptop com Audirvana, ou um software compatível, ou pelo seu controlador Kii (que veio junto com as caixas).

Este controlador Kii é bastante prático e eu o indico como a melhor solução, pois este se conecta a uma das caixas via cabo Ethernet RJ45, e o sinal então é passado para a segunda caixa via um cabo semelhante. Tudo conectado você pode usar este controlador como um pré amplificador para sinais digitais, pois possui entradas óticas, coaxiais e USB, além de ter um botão para o controle do volume, um receptor IR e um display onde vários dos recursos e parâmetros para o ajuste das caixas podem ser escolhidos. Estes ajustes possuem 12 configurações para a definição do melhor resultado para as paredes laterais e por de trás das caixas.

Outra possibilidade é o ajuste das reflexões da sala, além de você poder ajustar a latência, polaridade, programar os presets no controlador e ajustar o equalizador ideal para cada falante individual, o que será necessário se uma caixa estiver em um canto entre duas paredes e a outra em um corredor (algo tão comum na sala de milhares de consumidores mundo afora). O Controlador tem indicadores coloridos para mostrar o status de cada ajuste feito.

A Kii também oferece pedestais dedicados que colocam as caixas na posição ideal em relação ao ouvinte.

Para o teste que ocorreu por longos 90 dias, utilizamos os Innuos Statement (leia teste na edição 274) e o Mini Zen (leia teste na edição de setembro próximo), e no final deste teste o streamer do DAC Gold Note DS-10 (leia teste em outubro próximo). Os cabos USB utilizados foram: Dynamique Zenith 2, Sunrise Lab Quintessence Aniversário, e Oyaide Continental 5S V2.

E depois de 60 dias ouvindo as THREE de todas as maneiras e em dois ambientes completamente distintos (nossa Sala de Referência e nossa sala de home-theater), ouvimos nosso setup analógico através dos prés de phono Nagra Classic Phono (leia teste na edição 273) e o Gold Note PH-1000 (leia teste na edição de setembro próximo).

É admirável que alguém se dedique com tanto esmero e conhecimento na busca de novas soluções e topologias, que faça com que o áudio em suas diversas formas e possibilidades sempre avance. Sabemos que inúmeras ideias no áudio possuem vida curta, por diferentes razões, mas as que vingam ainda assim precisam frequentemente de ajustes e correções de rota durante toda sua existência. Foi assim com o CD-Player, que levou décadas até se ‘aprumar’, e é assim que está sendo com os amplificadores classe D, caixas ativas com seus módulos DSP, e também com o streamer. Então tenho muito cuidado e zelo ao testar tecnologias que ainda estão em desenvolvimento, pois sei da responsabilidade que uma conclusão pode ter em um determinado estágio evolutivo.

Então, antes de iniciar este teste, algumas questões necessitam ficar muito claras, para que não haja interpretações equivocadas.

Avaliei a Kii THREE exclusivamente dentro do nicho de caixas ativas que buscam soluções eficientes para o mais complicado problema para qualquer caixa em um ambiente não tratado acusticamente. E pressuponho que os projetistas tenham levado em conta que este seja um enorme filão a ser trabalhado. Pois a esmagadora maioria dos consumidores, não tem o menor desejo de tratar suas salas.

Se foi este o propósito, ponto para a Kii, pois seu produto realmente tem o ‘poder’ de ‘driblar’ ambientes hostis com enorme reflexão, como de janelas, pisos frios ou salas irregulares em que uma caixa fica entre duas paredes e a outra largada como em uma ilha do pacífico, rodeada de espaços abertos.

O problema, no meu modo de avaliar o mercado como um todo, é em relação ao custo de se conseguir este feito, pois infelizmente pelo seu preço, a Kii é para muito poucos, audiófilos e melômanos. Me parecendo muito mais um produto de nicho, como faz por exemplo a B&O, que buscou no design fisgar seus potenciais clientes.

Ao começar a estudar todas as diversas possibilidades de ajuste, senti que o fabricante tentou oferecer o maior número possível de opções, e isso tanto pode ser um alento, para os que são pacientes, ou um tormento para os que querem tudo em um passe de mágica! E confesso que aí reside o maior problema, pois foram semanas escutando a caixa em diversas posições, mais perto das paredes laterais, e mais próximas da parede traseira, e cada nova posição demandava repassar todos os ajustes mais de uma vez.

E para cada estilo musical, o ajuste era diferente. Quando consegui chegar a um consenso de posição e ajuste, ficou claro que para extrair da caixa todo o seu enorme potencial, era preciso guardar os ajustes para cada estilo, para não se embaralhar.

Aí certamente o leitor mais curioso já deve estar se perguntando o que ocorre no ajuste errado? Muda o equilíbrio tonal, muda o corpo, mudam as texturas e muda até a relação das variações dinâmicas. Então será preciso paciência, determinação e, depois de definida a posição, não mudar mais e anotar os presets ideais para cada estilo musical.

Feito isso, você estará tirando o melhor da caixa. E seus atributos são muitos.

Por exemplo, inteligibilidade. Poucas vezes escutamos caixas monitores com tanta precisão e detalhe, nos fazendo perceber de onde foi gerado o ruído que ficou na gravação de uma partitura tendo a página virada. Ou de movimentos bruscos do solista, ou até mesmo dos movimentos de pés ‘nervosos’ no chão da sala de gravação!

Outra virtude é o silêncio de fundo do acontecimento musical – essa qualidade ficou muito mais perceptível quando passamos a ouvir LPs. Os ‘clicks e plocs’ são muito menos presentes (será a exigência do sinal ao entrar ser transformado em digital antes de ser novamente entregue?). Fiquei até ‘cabreiro’ nos primeiros discos, pois achei que o ajuste que tinha feito estava cortando as frequências dos ruídos.

E a maior virtude, na minha opinião, é a resposta de transientes: simplesmente espetacular! Pois não é só o tempo e andamento que se mostram com maior precisão, mas a música que possui variação rítmica intensa parece que se torna mais vigorosa e intensa. Ouvi inúmeros discos com instrumentos eletrônicos, que não costumo ouvir, como os do Dead Can Dance, e realmente é de impressionar como os transientes em gravações assim soam tão bem na Kii THREE (foi aí que comecei a entender a ênfase deste tipo de música nos em suas demonstrações em hi-end shows).

Li, enquanto ajustava, diversos fóruns e reviews desta caixa, e me chamaram a atenção os depoimentos que falam do estranhamento, em um primeiro momento de audição, e que depois as fichas vão caindo para cada ouvinte. Sou muito cuidadoso com essas conclusões, justamente por saber que cada um fez o ajuste pessoal de seu gosto para ‘extrair’ o melhor em sua sala. Tanto isso é verdade, que quando as coloquei em nossa sala de home-theater, sem nenhum tratamento (estou esperando o Guilherme da Hi-Fi Experience ter um tempo para refazermos o tratamento da sala), as THREE puderam mostrar todo o seu arsenal de possibilidades e ajustes. Pois qualquer outra caixa neste ambiente é inaudível!

Totalmente ajustadas, conseguimos ouvir com prazer diversos discos de vários estilos. No melhor ajuste, senti apenas os graves terem menor extensão e corpo. Mas tudo era muito inteligível e equilibrado!

Quando voltamos para a nossa Sala de Referência, o último teste foi ligar as caixas ao nosso setup analógico. Imediatamente, ao ouvir um LP da Billie Holiday, minha memória auditiva foi transportada para o teste do último amplificador Devialet que publicamos, em que achei o som menos realista e natural que estou acostumado a escutar. Lembro que chamei os representantes da Devialet na sala e mostrei este, e mais discos, passando pelo pré de phono da Devialet e no nosso pré de phono de referência.

As diferenças eram bem audíveis. Ainda que na THREE este ‘efeito’ tenha sido menor, ele ainda estava lá. Eu não tenho a menor dúvida que este ‘resultado’ seja da passagem do sinal para digital, para depois voltar novamente para o analógico. Tanto que os ruídos de fundo também são atenuados. Essa é a descrição correta: tudo parece atenuado!

CONCLUSÃO

Só estou tranquilo em concluir este teste, por ser pública e notória a minha opinião a respeito tanto dos amplificadores classe D, como dos streamers, e que essas duas topologias ainda não chegaram lá!

Vão chegar? Evidente que sim, pois os avanços são significativos e ‘audíveis’.

O mesmo ocorreu com as caixas ativas que, a cada ano, se mostram mais corretas e que caíram no gosto do consumidor de tal maneira, que todos os fabricantes de caixas hi-end embarcaram nesta solução. E, correndo por fora, tem engenheiros como o Bruno aplicando todos seus anos de expertise em produtos que têm a pretensão de revolucionar o mercado com soluções que atendam aos mais diversos tipos de problemas acústicos possíveis.

Podemos afirmar que este já seja um produto definitivo? Claro que não. Mas posso afirmar que o estágio em que o produto se encontra, certamente é o que está mais próximo de encontrar o ponto de equilíbrio entre recursos e performance.

As Kii THREE são o futuro da linha ‘consumer premium’ – elas foram feitas para este perfil de consumidores que querem praticidade, beleza e soluções que não alterem seu ambiente e modo de vida.

E os audiófilos? Se você é um audiófilo que não pode ou não deseja ter uma sala dedicada, e quer simplificar seu sistema, deixando-o o mais minimalista possível, eu sugiro uma audição sim.


PONTOS POSITIVOS

Uma caixa completa com uma infinidade de recursos para se driblar problemas acústicos.

PONTOS NEGATIVOS

O preço desta nova tecnologia.


ESPECIFICAÇÕES

Woofers4x 6.5”
Médios1x 5”
Tweeters1x 1”
Amplificação6x 250 W (módulos NCore customizados)
Filtro de crossoverActive Wave Focusing
Resposta de frequência20 Hz a 25 kHz
Resposta de faseSelecionável (fase linear / latência mínima)
SPL máximo (pico)115 dB
Direcionalidade controlada4.8 dB (54 Hz – 1 kHz, subindo lentamente depois)
EntradasAnalógica, AES/EBU, KiiLink
Correções selecionáveisLivre / Próxima à Parede / Próxima ao Canto (14 posições)
Stand-byAutomático
Dimensões (L x A x P)20 x 40 x 40 cm
Peso19 kg
CAIXAS ACÚSTICAS KII AUDIO THREE
Equilíbrio Tonal 11,0
Soundstage 11,0
Textura 11,0
Transientes 13,0
Dinâmica 11,0
Corpo Harmônico 11,0
Organicidade 10,5
Musicalidade 10,5
Total 89,5
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADODAARTE



Cone Audio
fernando@coneaudio.com.br
O Kit, sem pedestais: R$ 164.330
O par de pedestais Kii: R$ 13.800
O par de pedestais Attack: R$ 7.400

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