Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
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Já testei inúmeros produtos da Cambridge Audio nos 25 anos da revista – com certeza mais de uma dezena. O que me dá o ‘direito’ de dizer que acompanhei de perto todas as mudanças e tendências que este renomado fabricante inglês utilizou em cada nova série lançada neste um quarto de século.
O que faz desta marca uma das mais engajadas em oferecer produtos considerados ‘de entrada’ para o universo hi-end, mas que buscam atender seus clientes da melhor maneira possível em termos de custo/performance.
E o CXA81 não é uma exceção à regra da Cambridge – pelo contrário, pois debaixo de seu capô se esconde um rico arsenal de possibilidades, para aqueles que buscam um integrado que possa ser uma central de entretenimento musical. Então, se você olhou para ele como apenas mais um integrado, volte novamente e o veja em detalhes.
Ele possui um DAC que converte até 32-bits de arquivos e streamer, converte DSD256 que é entregue via DoP, possui entrada USB assíncrona e Bluetooth para o uso de dispositivos portáteis, e um bom amplificador de fone de ouvido.
O gabinete é bem construído em alumínio, e seu peso é considerável (12 kg). Seu painel frontal segue a tendência atual de limpeza, com poucos botões. À esquerda temos o de liga/desliga, o visor ao centro, de acrílico com LEDs para indicar a entrada (são 4), uma luz de indicador de proteção (para curto-circuito, superaquecimento e sobretensão). Além de um botão para indicar as saídas A ou B dos falantes, um de mute, e indicadores das três entradas digitais (D1, D2 e D3). Ao lado deste painel, um pequeno botão para acionamento da entrada USB, e o maior botão o de volume. E tudo pode ser comandado pelo controle remoto – ainda que, com a minha idade, eu quase precise de uma lupa, para ler os diminutos comandos.
No painel traseiro temos a tomada IEC, os terminais de caixas A e B, logo acima o conector RS323C, e a entrada IR. Seguidos das entradas digitais na parte superior do painel, uma antena Bluetooth, uma entrada USB, três entradas S/PDIF (uma RCA e uma TosLink), e abaixo uma saída de subwoofer (RCA), seguida de um par de conectores pré, saída RCA, e as quatro entradas analógicas (RCA) e uma entrada (XLR).
A potência especificada pelo fabricante é de 80 Watts por canal em 8 ohms, e 120 Watts em 4 ohms. Funcionando em classe AB, sem, no entanto, especificar quando passa de classe A para B.
Ainda segundo o fabricante, os canais são separados simetricamente, e além deste diferencial em relação ao modelo anterior, o CXA80, o caminho do sinal analógico ficou mais curto e a seção de pré amplificação agora utiliza amplificadores operacionais JRC. E a fonte de alimentação, e toda a cadeia de sinal, utilizam agora capacitores Wima, Rubycon e Nippon Chemicon, que audivelmente são superiores aos utilizados no modelo anterior.
Juro que tentei achar um CXA80 para um teste ‘aXb’, para poder ‘ouvir’ as diferenças, mas não consegui.
Para o teste utilizamos o Innuos Zen Mini e os cabos USB: Dynamique Zenith 2, Oyaide Continental 5S V2, e o Sunrise Lab Quintessence Aniversário. No transporte da Nagra utilizamos o coaxial Sunrise Lab Quintessence, e um velho (e sempre à mão) Chord. Este aparato todo foi para avaliarmos seu DAC interno.
Para a avaliação de seu amplificador, utilizamos o transporte Nagra ligado via cabo AES/EBU (Crystal Cable Absolute Dream, e Transparent Audio Reference) ligado ao DAC Gold Note DS-10, e ligado ao integrado da Cambridge através dos cabos Sunrise Lab Quintessence (RCA e XLR).
As caixas foram: Elac Debut Reference bookshelf (leia teste na edição 272), Elac Debut Reference DFR-52BK (leia teste na edição 274), e a desconcertante Elipson Legacy 3210 (leia teste na próxima edição). Os cabos de caixa foram: o Trançado da Virtual Reality (leia teste na edição 271).
O Cambridge veio lacrado (ainda com a fita do próprio fabricante na embalagem, o que significa que não foi aberto para averiguação na alfândega). Assim que chegou fiz a audição de primeiras impressões, ainda com a book da Elac que já estava em finalização do teste, e o deixei em queima por 100 horas.
Comecei por ouvir seu DAC interno, para ter uma ideia de que ponto sairíamos e qual estratégia de avaliação seguiríamos (de avaliar em conjunto amplificador e Dac ou separados). Depois de totalmente amaciado (240 horas), vimos que seria prudente dar a pontuação separadamente, pois o amplificador está ligeiramente à frente do DAC interno. É comum isso ocorrer, até com os integrados mais caros e mais sofisticados – nunca ouvi o DAC interno estar no mesmo nível do amplificador.
Talvez nos integrados bem mais ‘caros’ haja este padrão, mas no mercado de maior concorrência algumas concessões são necessárias, pois senão seu concorrente o atropela sem piedade. E a Cambridge sabe muito bem o que precisa fazer para manter sua fatia de mercado – e basta ver os inúmeros prêmios EISA recebidos nos últimos anos, para confirmar essa tese.
Começarei o teste avaliando o integrado e seu amplificador de fone, e por último passarei para o DAC interno, ok?
A assinatura sônica dos integrados da Cambridge, ainda que sofram ‘lapidações’ nas novas séries, mantém o legado de serem amplificadores para quem deseja uma sonoridade limpa, detalhada e mais relaxada. Se sua praia é uma sonoridade com a ‘faca nos dentes’ o tempo todo, que chega a beirar o visceral, esqueça-o! Aqui estamos falando de uma sonoridade que não será ‘letárgica’ quando as variações dinâmicas ocorrerem, mas sem nenhum vestígio de ’fogos de artifício’ ou coices no peito no retumbar dos tímpanos. Como diria uma amiga minha pianista, ele está mais para uma paisagem de pôr do sol.
Agora, se você aprecia uma perspectiva mais ‘intimista’, e seu interesse é apenas sentar e ouvir sua música sem elucubrações metafóricas musicais (rs…), você irá apreciar o CXA81. Pois ele é detalhado e equilibrado tonalmente para apresentar a música de forma prazerosa. Seu ponto de equilíbrio entre detalhamento e precisão nunca atravessa a fronteira para o lado do analítico, mantendo sempre o ouvinte atento ao todo.
Ouvindo os mesmos exemplos de quartetos de cordas, ficou evidente que agora podemos ‘degustar’ com maior prazer as intencionalidades presentes em cada gravação, tanto em termos de técnica instrumental, como da qualidade do instrumento ou da escolha do engenheiro de gravação no microfone utilizado. Algo que para sua faixa de preço é uma novidade!
Ouvindo, por exemplo, o disco do pianista Italiano Giovanni Guidi – Avec Le Temps, lançado pelo selo ECM em 2008, na faixa título tem um trabalho feito nos pratos que costuma ser pouco sutil em equipamentos pobres em textura. E também no solo do baixista, que é feito quase todo em pianíssimo – o que dificulta entender o grau de precisão de cada nota deste solo. É a versão não cantada de Avec le Temps mais sublime que já escutei! Pois bem, o Cambridge foi bastante competente nesta apresentação, pois ainda que não tenha o silêncio de fundo, como de outros amplificadores mais caros, conseguiu resolver de maneira ‘honesta’ este desafio.
Em termos de equilíbrio tonal, o CXA81 melhorou consideravelmente em relação ao antecessor, pois ganhou mais ar em cima, melhor decaimento e mais corpo. E os graves ganharam maior ‘fundação’ na primeira oitava, o que permite maior conforto em obras com muita variação dinâmica e informação nas duas primeiras oitavas nos graves. A região média continua sendo um dos pontos altos de todo Cambridge (isso desde sempre) – soa sempre muito correta e natural, e com o maior equilíbrio nas pontas, deixou de aparecer mais frontalizada como em alguns modelos anteriores.
Com isso o ouvinte pode até desejar, em boas gravações, testar o limite do volume da gravação sem comprometer a audição.
O soundstage ainda é mais ‘tímido’ que alguns de seus concorrentes diretos, mas nada que impeça, em gravações que tenham boas profundidade, largura e planos, acompanhar com prazer o acontecimento musical. Fará falta mais em música clássica do que em outros gêneros.
As texturas foram o maior avanço deste novo modelo, e este resultado é devido à melhora significativa no equilíbrio tonal, pois como sempre apresento nos Cursos de Percepção Auditiva, um está ligado ao outro como se fossem complementação direta.
Como escrevi algumas linhas acima, agora o prazer de acompanhar a ‘intencionalidade’ inerente em cada apresentação se tornou possível. E a segunda grande melhora foi a reprodução de transientes, que com maior precisão deixam as audições mais ‘intensas’.
Tanto em termos de precisão de tempo e andamento como de autoridade, foram aprimoradas.
Foi fácil observar essa melhora significativa, tanto no disco I Ching do Uakti, como no Canto das Águas do André Geraissati.
A dinâmica ainda continua sendo melhor na micro, do que na macro, porém como também já escrevi acima, a melhora na fundação do grave, ajudou a macro a ficar um pouco mais precisa e com as escalas de forte para o fortíssimo mais bem definidas. O problema continua sendo nos fortíssimos, onde falta aquela ‘impetuosidade’ para a sustentação. Mas querer este feito de um amplificador nesta faixa de preço, ainda não escutei.
O corpo harmônico continua semelhante ao do modelo anterior, não sendo ruim e nem tampouco homogêneo (o que é fatal para as pretensões de enganarmos nosso cérebro que aquilo não é reprodução eletrônica). Mas as diferenças de tamanho entre um cello e um contrabaixo, ou um pícolo e uma flauta transversal se fazem audíveis.
A tão famosa materialização do acontecimento musical à nossa frente (organicidade), dependerá e muito da qualidade da gravação. Aqui o mais próximo desta ‘materialização’ consegui apenas com o José Cura – Anhelo.
Depois de ouvir todos os discos usados para fechar a nota dos quesitos de nossa Metodologia, repassei novamente todos, agora ouvindo pelo DAC interno do Cambridge. Achei-o, em termos de assinatura sônica, muito parecido ao DAC interno do Streamer CXV2 (leia teste na edição 265). Mais refinado em termos de equilíbrio tonal, porém com menos profundidade, menos textura e um equilíbrio tonal que voltou algumas casas.
Diria que esta opção só deve ser usada se o consumidor não tiver um DAC externo de melhor qualidade. Ou esteja passando por um momento de transição em que precise simplificar o sistema. Neste caso, sugiro que seja criterioso na escolha do cabo digital, para não ‘salientar’ as limitações.
É audível? Claro que sim, mas imaginemos as próprias limitações do streamer ou do transporte, se o usuário ainda utilizar mídia física. O que já limita ainda mais a performance no todo. Agora, se o DAC estiver sendo usado muito mais para música ambiente, o resultado será mais do que satisfatório.
É notório o esforço que os fabricantes que atuam na linha de entrada do áudio doméstico estão fazendo para dar um salto em termos de qualidade final.
As melhorias a cada nova série são perceptíveis. O grande entrave, na minha opinião, é que esses produtos precisam ser um ‘pacote’ cada vez mais completo, e com preços cada vez mais competitivos. E aí que mora o perigo, pois se manter vivo requer estar sempre mais atento à concorrência do que ao consumidor. É como querer dirigir olhando para o próprio umbigo.
O que algumas dessas empresas estão fazendo? Procurando criar alguns produtos que fujam a essas margens tão estreitas, e sinalizem ao consumidor que aquele valor um pouco acima traz vantagens.
Acho que o CXA 81 é um pouco isso, pois a própria Cambridge tem modelos abaixo, para brigar com a concorrência.
O fabricante que conseguir emplacar essa estratégia, e convencer o consumidor que vale a pena este investimento adicional, se dará bem. Se tivesse que apostar, diria que a Cambridge é um candidato, tanto pela sua história como pelo seu conhecimento deste disputado segmento.
O tempo nos dirá.
Antes de encerrar minha conclusão: gostei muito do amplificador de fone embutido – este é um outro importante diferencial deste produto. Muito correto tonalmente, com um bom fone também com essa qualidade, o prazer nas audições será garantido.
Se o orçamento é curto, amigo leitor, e seu desejo é um upgrade em sua amplificação que seja uma solução de um pacote integral, ouça o Cambridge CXA81. Se o que deseja é uma assinatura sônica refinada e sem arroubos pirotécnicos, ele pode ser o seu ‘oásis sonoro’.
Uma sonoridade limpa, correta e coerente.
Não é o amplificador indicado para os que gostam de uma pegada mais visceral.
ESPECIFICAÇÕES
Potência de saída | 80 W RMS em 8 Ohms, 120W RMS em 4 Ohms |
DAC | ESS Sabre ES9016K2M| |
Resposta de frequência | <5 Hz – 60 kHz (+/-1 dB) |
Entradas analógicas | 1x XLR / 4x RCA| |
Entradas digitais | 1x S/PDIF coaxial, 2x óticas, 1x USB audio, Bluetooth |
Compatibilidade | • Ótica (16/24 bit 32-96 kHz PCM) • S/PDIF (16/24 bit 32-192 kHz PCM) • USB audio (32 bit 384 kHz PCM / DSD256 ou DoP256) • Bluetooth 4.2 A2DP/AVRCP aptX HD (24bit 48 kHz) |
Bluetooth aptX HD | Sim |
Saídas | Caixas A+B, fone de ouvido 3.5 mm, Preamp, Subwoofer |
Controle remoto | Sim |
Consumo | 750 W |
Consumo em stand-by | <0.5 W |
Dimensões (L x A x P) | 430 x 115 x 341 mm |
Peso | 8.7 kg |
AMPLIFICADOR INTEGRADO CAMBRIDGE AUDIO CXA81 (DAC INTERNO) | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 9,5 | |||
Soundstage | 9,5 | |||
Textura | 9,5 | |||
Transientes | 10,0 | |||
Dinâmica | 9,0 | |||
Corpo Harmônico | 9,0 | |||
Organicidade | 9,0 | |||
Musicalidade | 9,5 | |||
Total | 75,0 |
AMPLIFICADOR INTEGRADO CAMBRIDGE AUDIO CXA81 | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 11,0 | |||
Soundstage | 10,0 | |||
Textura | 11,0 | |||
Transientes | 11,0 | |||
Dinâmica | 9,5 | |||
Corpo Harmônico | 9,5 | |||
Organicidade | 9,0 | |||
Musicalidade | 10,0 | |||
Total | 81,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
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