Editorial: QUEM QUER A VOLTA DA FITA K7, LEVANTE A MÃO!

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Um velho amigo me enviou, esses dias, um vídeo falando da volta de gravadores /reprodutores de fita K7 – indo no embalo do ressurgimento dessa mídia, tão popular até o começo dos anos noventa. Ele me enviou o vídeo com uma mensagem indignada, pois na sua opinião trata-se de um retrocesso tão ou maior que do MP3! No vídeo, o apresentador utiliza um longo tempo falando dos lançamentos da Teac, Tascam (também do grupo Teac, só que mais conhecida no segmento do pro-audio) e Marantz, que no embalo do crescimento de fitas virgens e gravadas, achou que poderiam lucrar oferecendo aos consumidores desta ‘velha mídia’ opções novas, já que o consumidor que desejar ‘resgatar’ a fita K7 ou precisaria ter herdado um gravador em bom estado, ou correr as lojas de usados vintage para satisfazer seu desejo. No final do vídeo, o apresentador mostra alguns gravadores de fita K7 feitos no mercado chinês, muito semelhantes aos lançados pela Teac, Tascam e Marantz, o que nos leva a entender que todos os novos modelos saíram da mesma ‘fornada’ (inclusive com dados técnicos muito semelhantes senão idênticos). E fecha o vídeo com a pergunta correta: qual a razão dos novos modelos serem em tudo inferiores aos grandes decks dos anos 70, 80 e 90? Dados que me chamaram muito a atenção, nos novos tape-decks, foi a relação sinal/ruído e a resposta de frequência, que estão aquém até dos decks ‘medianos’ das décadas de ouro da fita cassete, e muito mais semelhantes aos decks que eram oferecidos nos sistemas três-em-um. E aí comecei a conjecturar o perfil do consumidor que entrará nesta ‘roubada’, e qual seu histórico com esta mídia? O que levaria alguém a gastar seu suado dinheiro com uma mídia que nem no seu apogeu era considerada hi-end? E depois de muito refletir, me caiu a ficha: o mesmo consumidor que comprou as ‘vitrolas’ de mil reais será o consumidor desses novos tape-decks. Que é o mesmo consumidor que não escuta diferença entre uma reprodução Flac ou MP3, e o mesmo que está satisfeito com o fone de ouvido falsificado que ele compra no camelô no centro da cidade em que ele mora. E não acredito que ele aja assim apenas por modismo ou desinformação. Ele o faz por não escutar realmente diferenças entre o mais correto e o errado. Pois a grande maioria dos consumidores ‘escuta’ música, não ‘ouve’ música! Este é um tema no qual todos nós deveríamos nos aprofundar, para entender a diferença de comportamento entre esses dois mundos. Para os que ‘escutam’ música, ela é um complemento de suas atividades diárias, então o meio em que ela está sendo executada é muito pouco relevante. Já para o sujeito que ‘ouve’ música, este irá cessar qualquer tipo de atividade que lhe tire a concentração de seu sentido auditivo. E somente o que ouve irá se preocupar com a qualidade que a sua música é reproduzida. Se tivermos bem claro em nossas mentes essa distinção dos dois grupos, vitrolas, MP3, fones de ouvidos desequilibrados tonalmente e fitas K7, eles não nos tirarão do sério. Pois entenderemos que o mercado ‘consumer’ existe, justamente para atender este público que é exponencialmente maior do que o grupo que nos lê mensalmente. Mas algo precisa ficar muito bem claro a todos: nascemos escutando música e, à medida que percebemos o quanto ela nos faz bem e nos ajuda a enfrentar a luta diária e as incertezas, é que vamos gradualmente aprendendo a ouvir. E quando iniciamos este processo de deixar de escutar para ouvir, é que nos damos conta de como é difícil ‘afinar’ nosso sistema auditivo, pois estamos acostumados apenas a fazer uso de todos os nossos sentidos de forma mecânica, como se estivéssemos no ‘piloto automático’. Então, meu caro amigo leitor, não se iluda de que apenas pelo fato de você cada dia gostar mais de dedicar algumas horas do seu dia, sentando para escutar seus discos preferidos – este processo muda automaticamente, como se fosse apenas trocar a posição de uma chave, e pronto: deixamos de escutar e passamos a ouvir! Como tudo em nossos sentidos, é preciso exercitar, refinar e aprimorar, e com sorte e dedicação plena, um dia aquela música que tanto apreciamos irá lhe tocar de maneira tão profunda, que finalmente você entenderá a diferença entre ‘escutar’ e ‘ouvir’.

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