Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
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Depois de testar a coluna Legacy 3230 (leia teste na edição 271), fiquei muito curioso em ouvir a book 3210, que recebeu excelentes testes internacionais.
Sou fã de books que encaram o desafio de tocar bem tanto em ambientes modestos, como em ambientes maiores até 25 metros quadrados.
Pois as books que possuam essa versatilidade, e encarem com desenvoltura e graves decentes espaços maiores, terão uma enorme vantagem em relação às books que não conseguem descer muito nos graves, limitando seu uso a salas abaixo de 12 metros quadrados.
Como se trata do segundo teste deste fabricante francês, vale a pena contar novamente (como fiz no teste da 3230) a história da empresa.
A Elipson, nos anos 30, tinha o nome de Multimoteur, e somente na década de 40 seu fundador Henry Bazin, junto com o amigo e engenheiro Maurice Latour, decidiram entrar no mercado de áudio, fabricando caixas acústicas. Sua primeira criação foi o alto-falante BS50, que rapidamente ganhou a admiração do consumidor francês. Mas foi em 1948 que a empresa resolveu dar um salto em termos de design, e lançar sua primeira linha de caixas esféricas. E com isso lançou a linha Elipson (uma junção das palavras Elipse e Som).
Os gabinetes eram moldados em gesso, e foram as estrelas do primeiro evento de áudio em Paris em 1953. A caixa era montada em um tripé de metal, o que a diferenciava de todas as caixas acústicas existentes no mercado. O falante dentro da esfera permitia uma melhor dispersão, e com o surgimento dos LPs estéreo, se tornaram muito populares as ‘esferas da Elipson’, como o mercado as batizaram.
Os maiores eventos artísticos e televisivos dos anos 50 eram todos sonorizados com as caixas Elipson. Até o discurso do General de Gaulle, no lançamento da Maison de La Radio em 1953 , foi feito com a versão da BS50 com um defletor na base da caixa, para uma maior dispersão em ambientes muito grandes.
Com o fim da Segunda Guerra, e a reconstrução da Europa, a Elipson se uniu à ORTF para criar uma divisão de falantes para o pro-audio, e desta parceria nasceram os monitores da Linha Religieuse, em que o gabinete elíptico era constituído de três partes: uma maior para um falante de graves de 12 polegadas, uma menor para os médios de 6 polegadas e, em cima, o mini gabinete para o tweeter. O sucesso foi tão grande que, no início dos anos 60, praticamente essa nova divisão de monitores para estúdio estava presente em todos os estúdios de gravação e de rádio e televisão franceses.
Com a mudança, nos anos 70, do CEO da Elipson, a empresa resolveu entrar com força no mercado hi-end, e lançou de uma só fornada os modelos 1501, 1502 e 1503. E, na sequência, saíram as caixas esféricas da série 402, com um falante de médio-grave de 8 polegadas e um tweeter AMT.
Até a virada do século, as caixas Elipson eram vendidas apenas na França e Bélgica. Em 2001 a Elipson deu uma guinada em sua estratégia de mercado, também entrando no mercado de toca-discos, amplificadores, subwoofers e caixas bluetooth.
E para atender ao mercado mais jovem, a Elipson desenvolveu sua linha Elipson Planet L, com books esféricas, que funcionou como o ‘cartão de visita’ para o mundo conhecer melhor a empresa e sua longa trajetória voltada para o mercado francês e, posteriormente, para o mundo.
O fabricante tem orgulho de dizer que a linha Legacy foi baseada toda nos modelos Religieuse 4050 e 1303.
Diria que o tamanho da 3210 está no limite do que se pode chamar de book. Elas são imponentes e jamais passarão despercebidas em uma sala de audição. Desenvolvida e produzida totalmente na França, a Legacy 3210 possui um gabinete de MDF com espessura de 25 mm em suas paredes e acabamento de folheado de madeira natural, exceto a tampa do gabinete, que é de alumínio. As paredes laterais do gabinete não são paralelas, e as bordas frontal e traseira são arredondadas, para a otimização das ondas sonoras.
Suas medidas são: 26 cm de profundidade, 27,5 de largura e 40 cm de altura. Trata-se de uma caixa bass reflex com o pórtico nas costas do gabinete, o que necessita de um cuidado redobrado com posicionamento das mesmas.
O falante de médio-grave de seis polegadas e meia possui um cone de alumínio revestido por uma micro camada de cerâmica. Segundo o fabricante, este é o melhor dos mundos, e ele está acoplado a uma grande bobina de voz e um ímã de neodímio, para uma resposta mais plana e baixa distorção.
O tweeter é o mesmo da 3230, um AMT (Air Motion Transformer). Este tweeter tem várias dobras, aumentando a área de contato com o ar, fornecendo maior dispersão lateral e velocidade e decaimento mais suave e natural.
Segundo o fabricante a caixa possui uma resposta de 42 Hz a 30 kHz, sensibilidade de 88 dB e o fabricante recomenda o uso de amplificadores acima de 40 Watts. A caixa permite o uso de bi-cablagem ou bi-amplificação, podendo ser usado cabos com forquilha, banana ou fio descascado de boa espessura. Para o teste utilizamos dois pedestais de caixa: o Magis, nosso fiel escudeiro de longa data, e o da Timeless (leia teste na edição de setembro próximo). Os cabos de caixa foram: Virtual Reality Trançado, Apex da Dynamique Audio, e o Quintessence da Sunrise Lab.
A eletrônica, a maior parte do tempo, foram as seguintes. Amplificação: integrados Sunrise Lab V8 Edição de Aniversário, e o
IS-1000 da Gold Note (leia Teste 1 nesta edição), e nosso sistema de referência. Fontes analógicas: toca-discos Origin Live Sovereign Mk 4, braço Enterprise Mk 4, cápsulas Hana Umami Red e ZYX Ultimate Omega G (leia teste na edição de outubro próximo). Prés de phono: Nagra Classic Phono e Gold Note PH-1000 (leia teste na edição de outubro próximo). Fontes digitais: music servers Innuos MiniZen e Statement, transporte Nagra, DACs Gold Note com fonte externa SD-10, e o Nagra TUBE DAC.
Todas as virtudes da coluna 3230 estão presentes em menor escala na 3210, mas sem perder aquela assinatura sônica tão envolvente e sedutora. Médios muito precisos e naturais, agudos sem nenhum resquício de dureza ou brilho (coloração), e graves com enorme autoridade, energia, deslocamento de ar e velocidade.
A 3210 pode tranquilamente ser colocada em salas de até 20 metros quadrados, que o ouvinte não sentirá falta de graves. Diria que os 42 Hz parecem ser modestos em relação ao que ouvimos de fato. Não houve uma gravação de órgão de tubo em que tivemos a sensação que faltou algo.
O que é mais comedida é a sensação de deslocamento de ar, que é mais ‘tímida’, mas nada que comprometa ou nos faça perder o interesse em ouvir órgão de tubo.
E como o médio-grave possui excelente corpo e energia, nada nas baixas frequências soa sem graça.
O grande truque para as salas de 20 metros é diminuir a distância da parede atrás das caixas (mas não ao ponto do grave embolar). Com este truque, como escrevi, a sensação auditiva é que ela desce mais que os 42 Hz.
Como toda excelente book, se posicionada corretamente, ela irá sumir, ficando apenas a música a sua frente. Aqui voltamos elas 15 graus para o ponto ideal de audição. Nessa posição, independente do pedestal utilizado, a sensação é que as caixas não passam de objeto decorativo do ambiente!
As texturas se apresentaram de forma magistral, tanto em termos da qualidade dos instrumentos, como na questão da intencionalidade do solista e seu grau de virtuosidade. Tenho certeza que muito deste grau de refinamento é decorrente do excelente cone de alumínio/cerâmica. Pois você consegue literalmente respostas muito lineares em toda a região do falante, ocasionando um conforto auditivo espetacular!
Os transientes estão no mesmo nível das Persona B da Paradigm, tanto que fui buscar minhas anotações pessoais para verificar o que havia escrito no teste da Persona, em relação a este quesito, e as músicas escutadas para o fechamento da nota. O detalhe é que a Persona B custa o dobro da Elipson!
A dinâmica também, para o seu tamanho e construção, é excelente, deixando o ouvinte em situação confortável mesmo nas passagens de macrodinâmica mais complicadas. Aqui o truque é ouvir em volumes condizentes com a qualidade técnica da gravação.
O corpo harmônico, o problema de qualquer book do mundo, na Elipson se mostrou muito mais pontual – dependendo muito da qualidade de captação do instrumento do que uma limitação física da caixa. Por isso também achei uma grata surpresa a Legacy se posicionar um pouco acima do que ouço nas books, em relação a este quesito da Metodologia. E, ouvindo analógico, a surpresa foi ainda mais positiva – como é assustadoramente superior este quesito no analógico!
A presença física – organicidade – está no mesmo nível das minhas books preferidas (Paradigm Persona B, Boenicke W5SE e
QAcoustics 3030i). O que é uma grande notícia o quanto books mais baratas evoluíram neste quesito, de nos mostrar os músicos à nossa frente, nos permitindo ‘interagir’ com eles.
Se você é um audiófilo ‘tradicionalista’, que está sempre com um pé atrás em marcas pouco conhecidas por estas paragens, o que posso dizer é: ouça a Elipson Legacy 3210 se o que você está procurando é uma book.
Agora, se você como eu, adora ser surpreendido e não tem nenhuma ‘resistência’ em ouvir tudo que estiver ao seu alcance, escute-a!
Adorei a reação do Giovani, da Timeless Audio, ao me trazer seu pedestal de caixa e ouvir a Legacy tocando. Ele ficou muito mais que surpreso, ficou encantado com sua clareza, autoridade, realismo e musicalidade. Atributos no mesmo patamar são mais difíceis de achar nas books na faixa de 10 a 30 mil reais!
Ela entra também para o seleto grupo de books que possuem as qualidades que todo audiófilo deseja em suas salas pequenas (e muitas vezes problemáticas acusticamente), que são: corpo harmônico, macrodinâmica, peso, deslocamento nos graves, naturalidade, musicalidade e conforto auditivo.
Você terá tudo isso com a Legacy 3210, basta que o pedestal tenha a altura correta para que o seu ouvido fique exatamente entre o final do falante de médio/grave e o começo do tweeter, que haja pelo menos 90 cm de espaço da parede às costas da caixa, e entre elas uma distância mínima de 2,40 m. E, claro, um setup a altura da performance dela.
Com todos esses cuidados, não tem como errar na escolha, eu garanto!
Uma book com grande equilíbrio tonal, e com performance de caixas muito mais caras.
Cuidados com o pedestal e posicionamento são críticos para se extrair todo seu potencial.
Tipo | Caixas bookshelf 2 vias Bass-reflex |
Potência | 100 W RMS |
Drivers | • Mid-woofer 6.5” cone de alumínio com cerâmica • Tweeter tipo ribbon-AMT |
Resposta de frequência | 42 – 30.000 Hz (+/- 3 dB) |
Sensibilidade | 88 dB/1W/1m |
Impedância nominal | 6 Ohms (Min : 4,9 Ohm @ 175 Hz) |
Conectores | Bi-cabeamento ou bi-amplificação |
Frequência de corte | 2.800 Hz |
Tipo de crossover | • Passa-alta: 18 dB/oitava • Passa-baixa: 12 dB/oitava |
Gabinete | MDF 22-25mm com travamento |
Dimensões (L x A x P) | 276 x 404 x 360 mm |
Peso | 13,9 kg |
CAIXAS ACÚSTICAS ELIPSON LEGACY 3210 | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 11,0 | |||
Soundstage | 11,0 | |||
Textura | 11,0 | |||
Transientes | 12,0 | |||
Dinâmica | 10,0 | |||
Corpo Harmônico | 10,0 | |||
Organicidade | 11,0 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 88,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
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