Fernando Andrette
Quando achei que já havia dado minha contribuição, testando inúmeros cabos digitais aos longos desses 25 anos de existência da revista, tanto cabos coaxiais, como óticos, BNC e AES/EBU, e ajudando subjetivistas a realizarem suas escolhas, e os objetivistas deixando-os de cabelo em pé, eis que agora é preciso testar cabos USB e ver como se comportam em diferentes fontes digitais (principalmente para a condução do sinal do streamer até os DACs).
Já vejo os objetivistas preparando uma nova ‘fogueira’, a ser erguida no pico das bandeiras, para afirmar que cabos USB bem feitos tocarão todos idênticos, e que se ouvimos diferenças, nada mais é do que nossa imaginação fértil à procura de algo para se distrair.
Ouvi isso nas últimas três décadas, então já sou vacinado e maior de idade para entender perfeitamente a indignação de todos que acham que cabos não tem diferença alguma. E, às vezes, acho que estes que assim pensam são até mais felizes, pois não têm o ‘vírus da dúvida’ a lhe assoprar aos ouvidos, e qualquer cabo irá cumprir o objetivo de trafegar o sinal que por ele passa. Como diria meu pai: a descrença muitas vezes pode ser uma dádiva!
Afinal, se o sujeito está satisfeito com o que tem, certamente poderá fazer outro uso de seu suado dinheiro, do que gastar em cabos e acessórios. Mas aí eu pergunto aos objetivistas de ‘carteirinha’: será que todos os que escutam diferença, estão realmente delirando? E todos simultaneamente? São todos lunáticos consumistas ávidos por comprar ‘placebo’, à torto e à direito?
E volto sempre à velha questão que todos os objetivistas precisam encarar: se o CD-Player era tão bom em seu nascedouro, qual a razão de todos os fabricantes aperfeiçoarem seus erros e defeitos até os nossos dias? Será que existe algum objetivista que ainda acha que o CD-Player não precisava de correção? Um objetivista, se escutar hoje um CD-Player de 1984 e um de 2020, não escutará diferenças significativas?
E quanto aos inúmeros engenheiros projetistas de áudio, que utilizam seus conhecimentos para o desenvolvimento de topologias, mas que não abrem mão das audições críticas – eles estão errados? E deveriam se abster das audições críticas e confiar apenas nas medições e topologias já existentes e comprovadamente bem resolvidas?
Será que algum objetivista já se ateve que talvez as medições atuais apenas não consigam detectar o que nosso cérebro bem treinado escuta? E que haverá um momento em que medições e audições críticas se juntarão? Acho que este dia não está tão distante assim, e certamente teremos muitas respostas antes do final desta década.
O que eu percebo, depois de testar centenas de cabos aqui na revista, é que os cabos melhoraram muito, principalmente no quesito equilíbrio tonal. O que era ‘evidentemente audível’ uma década e meia atrás, nas diferenças de tonalidade entre cabos semelhantes em preço, hoje não ocorre mais. Para ouvirmos um cabo torto tonalmente, ele precisa ser muito mal feito, e as escolhas do fabricante em termos de escolha de material e geometria do cabo, muito amadoras. Pois hoje temos excelentes opções nacionais e importadas, que atende em termos de equilíbrio tonal perfeitamente qualquer sistema hi-end.
E falo de cabos de 500 reais e não de 5000 reais!
Então, se ao amigo leitor a única preocupação é quanto ao quesito equilíbrio tonal, ele realmente não precisa nem andar e gastar muito para ver resolvida a questão do equilíbrio tonal de seu sistema.
Ouvi nos últimos dois anos mais de 15 modelos de cabos USB, de 500 a 20 mil reais. E se tem algo em todas as minhas anotações pessoais sobre esses cabos é: como soaram bem tonalmente. Então, quando o leitor me pede uma ajuda neste item, eu sempre deixo claro que a escolha irá depender muito mais de suas expectativas referentes aos outros sete quesitos da Metodologia e não a este quesito. E aí que o perigo mora, pois se você não souber o que precisa ouvir para avaliar os outros sete quesitos da Metodologia, a chance de você comprar o cabo que não irá lhe atender se amplifica.
Eu separo esses cabos que escutei em dois grupos: os honestos e coerentes, e os corretos e refinados. Não pense que o que define os grupos seja o valor, ou o requinte na construção e material utilizado, e sim a capacidade de amenizar as limitações ainda existentes no Streamer.
E quais são essas dificuldades limitativas? Na minha humilde opinião: corpo harmônico, soundstage e textura. Então, para avaliar esses cabos USB, recorri a dois music servers do mesmo fabricante, para evitar o risco das impressões serem inconsistentes pela assinatura sônica do music server. Foram eles: Innuos Statement (leia teste na edição 274), e Innuos MiniZen (leia teste na edição de setembro próxima). Ambos com o mesmo cabo de força, os mesmos DACs e a mesma configuração de referência (o Sistema da Revista).
Nas próximas edições publicaremos o teste do USB da Sunrise Lab, da Virtual Reality e da Kubala-Sosna.
O primeiro desta série escolhido foi o Oyaide Continental 5S V2, muito reconhecido lá fora em diversos fóruns internacionais pelo seu alto desempenho, construção impecável (como todo cabo deste fabricante japonês) e pelo seu preço. Que está ao alcance da grande maioria de melômanos e audiófilos que possuem um music server de qualidade.
Eu faço uso das tomadas de força Oyaide há muitos anos e, para mim, são a referência de mercado para instalação elétrica, mas nunca antes havia testado algum cabo feito por este renomado fabricante. Minha surpresa e admiração foi tão grande, depois de ouvir o Continental 5S V2, que solicitei ao distribuidor o envio de cabo de força, de caixa e interconexão.
O de força já está em teste, e acredito que consiga publicar sua avaliação em alguma das últimas edições deste ano.
O cabo USB que me foi enviado é de 1,2m. O 5N vem da utilização de fios de prata pura para a transmissão da linha de sinal – a Oyaide defende que para transmissão de sinal em altas velocidades (acima de 450 Mbps), a prata seja o condutor ideal. Todo o processo de laminação é feito a frio, e sofre 19 estágios para que no final se tenha uma cristalização da prata alinhada, e sem tensão ou ruptura nos fios. Todas essas etapas (segundo o fabricante) são para que a transmissão de sinal em alta velocidade de dados não tenha nenhum tipo de perda.
A blindagem utiliza folhas de cobre em vez de alumínio, pois a Oyaide chegou à conclusão que o cobre é superior em termos de eficiência. A capa do cabo utiliza filamentos de seda para uma baixa capacitância estática, e qualquer tipo de vibração espúria no processo de passagem do sinal.
O cabo é compatível com comunicação de alta velocidade USB 2.0, com velocidade de transmissão de 480 Mbps.
Embora a maioria dos fabricantes de cabos USB utilizem bitolas de AWG 28, a Oyaide optou por AWG 25, para diminuir a resistência do condutor e evitar perda de jitter.
Os plugs são banhados a ouro, e de excelente qualidade.
Em uma avaliação meramente visual e tátil, o cabo impressiona pela sua construção, acabamento e maleabilidade.
Ele veio para teste zerado e lacrado. Então fizemos as anotações de primeiras impressões, e o deixamos em queima contínua por 100 horas. Como relatei acima, o equilíbrio tonal é excelente assim que saiu da embalagem. O que faltou nessas primeiras impressões, foi profundidade. Pois tudo que ouvimos foi bidimensional.
Cem horas depois a profundidade, veio e pudemos iniciar nossos testes. Primeiro o colocamos no Statement, ligado ao TUBE DAC Nagra. Suas qualidades ficaram evidentes logo de saída, apresentando um excepcional silêncio de fundo, foco, recorte e planos cirurgicamente bem definidos. Isso nos animou a escutar uma dúzia de gravações de música clássica, escolhidas a dedo no Tidal.
Como o Statement possui muito mais ar, e apresenta os planos de forma mais próxima que a mídia física, pudemos ver que neste quesito o Oyaide se saiu muito bem, se colocando naquele segundo pelotão de cabos corretos e mais refinados.
Os transientes são excepcionais, altíssimo grau de precisão tanto em tempo como andamento, ombreando neste quesito com a nossa referência, o Dynamique Zenith 2.
As texturas são menos ‘realistas’ que no Kubala-Sosna, no Zenith 2 e no Sunrise Lab Quintessence, mas ele custa uma fração do preço de qualquer um desses três, então se lhe falta aquele ‘calor e naturalidade’ a mais nas texturas, ele compensa com uma qualidade na intencionalidade que é de alto nível.
A dinâmica – tanto a micro, quanto a macro – são excelentes, seja ouvindo-o no TUBE DAC Nagra ou no DS-10 da Gold Note.
E o corpo nenhum cabo USB consegue corrigir uma limitação que ainda é da topologia Streamer. Ainda assim, ele não ficou atrás de nenhum dos nossos cabos de referência.
A materialização física foi muito boa, com as melhores gravações que conseguimos encontrar no Tidal para este quesito.
Engana nosso cérebro que os músicos foram materializados? Com um pouquinho de boa vontade, quase lá!
E a musicalidade é um dos quesitos mais interessantes deste cabo USB. Pois sua sonoridade é cativante. Não por acrescentar algum tipo de coloração, e sim por se esforçar para ser o mais neutro possível.
CONCLUSÃO
Se você precisa de um cabo USB que custe menos de 3 mil reais, e faça tudo corretamente, e ajude seu servidor de música a mostrar seus melhores atributos, ouça o Oyaide Continental 5S V2.
Ele é uma pechincha pelo que custa. Um cabo altamente recomendado e que certamente estará entre os melhores do ano.
Vale cada centavo do que custa!
Nota: 79,0 | |
AVMAG #276 KW Hi-Fi (11) 95422.0855 (48) 3236.3385 (1,2 m) – R$ 2.160 |
Fernando Andrette
Se você leu várias das edições de 2021, na descrição de inúmeros testes terá percebido o uso do cabo de força da Oyaide Tunami GPX-R V2. E muitos de vocês devem estar se perguntando o motivo de demorarmos meses para apresentar o teste de cabos (principalmente os de força).
E o motivo é importante: compatibilidade.
Pois ao longo dos anos percebi, consistentemente, que cabos de força muitas vezes possuem baixa compatibilidade com eletrônicas distintas, e por isso procuro ouvi-lo com o maior número possível de equipamentos antes de o colocar em avaliação final.
Claro que os objetivistas acharão tudo isso um preciosismo absurdo, já que para muitos deles, cabos de força bem feitos soam todos iguais. Mas, para os que ‘escutam’ diferenças, sabem o quanto é essencial saber o graus de compatibilidade para uma escolha mais certeira.
Eu nunca tive grande intimidade com os cabos da Oyaide, ao contrário de suas tomadas, que sempre utilizei e indiquei aqui aos nossos leitores. Felizmente agora, com a importação sendo feita pelo Fernando Kawabe, ele nos tem disponibilizado diversos modelos e, além do cabo USB já testado, ele também nos enviou este cabo de força, e em breve chegará o de caixa.
Com essas duas primeiras amostras e os resultados em termos de compatibilidade, qualidade de construção e performance, acredito que muitos dos nossos leitores irão se interessar em conhecer e gostar ainda mais do seu valor.
Mas, antes de descrever minhas avaliações, gostaria de contar um pouco de como a Oyaide chegou a esses resultados tão consistentes, e contar uma história bem interessante de como uma enorme adversidade pode nos empurrar para buscar soluções que mudam completamente o rumo de uma empresa.
A Oyaide, assim como muitos outros fabricantes de cabos japoneses, por décadas basearam todos os seus produtos nos fios de cobre PCOCC-A, produzidos e patenteados pela Furukawa. Era a matéria prima mais utilizada pela maioria dos cabos hi-end fabricados no Japão. E eis que, em março de 2013, no seu aniversário de 130 anos, ela anunciou ao mundo o encerramento da produção de fios PCOCC, levando os fabricantes de cabos japoneses a entrar em desespero.
Muitos fecharam, já que sua produção atendia apenas o mercado doméstico, e os maiores tiveram que achar novos fornecedores para se manterem no mercado. Para o sr Satoru Murayama, CEO da Oyaide Co., só havia uma saída digna e segura para não correr mais riscos nas mãos de fornecedores: produzir seus próprios cabos. Ali se iniciou uma cooperação com a Sansha Electric, para desenvolver um novo tipo de fio, batizado de Oyaide 102 SCC.
Este novo fio demorou um ano e meio para ser lançado, e no seu lançamento o sr Satoru fez uma comunicação ao mercado e aos seus consumidores, explicando o motivo de uma mudança tão radical.
Em sua comunicação ele expos o choque que foi a saída da Furukawa, e as opções existentes que se apresentavam naquele momento, e descreve o enorme desafio que foi assumir do zero a construção de um novo cabo que fosse em tudo superior ao PCOCC-A.
“Começamos nossa jornada investigando profundamente para definir o novo conceito.
Decidimos que a abordagem certa seria produzir cobre da mais alta qualidade já feito, usando as tecnologias mais avançadas disponíveis. O material de base de cobre do 102 SSC é refinado no Japão, e está em conformidade com o padrão industrial JIS C 1011, o mais alto padrão de pureza mundial, sendo utilizado apenas cobre virgem puro que não contém nenhum material reciclado. Isso elimina qualquer chance de contaminação e impurezas. Nosso material de base de cobre virgem é entregue a uma das instalações de trefilação mais modernas do Japão, onde primeiro é enrolado em uma haste e depois levado a um processo de finura de cerca de 1mm, em vários estágios, para minimizar a tensão e deterioração da estrutura cristalina do cobre. Em vez de remover as impurezas existentes no fio de cobre com o uso de ácido (decapagem), que comprovadamente não elimina todos os resíduos, utilizamos o processo de raspagem ou descascamento mecânico, um processo mais demorado e minucioso, mas que controlado 100% remove totalmente as impurezas.
Este é um processo raramente utilizado e demonstra nosso compromisso da mais alta qualidade possível no século 21. Após o descascamento mecânico, o fio é recozido para remover todas as tensões de deformações induzidas pelo processo de trefilação. Aqui nossa abordagem também se diferencia da concorrência, já que em vez do processo de recozimento ‘sino’ comumente usado, mas que deixa resíduo de fuligem, optamos pelo recozimento elétrico em ‘linha’. O que aumenta o nível de condutividade em até 102,3%. Este é o motivo do nosso cabo de cobre receber o nome de 102 SCC. Após todo este processo, o fio recozido é embalado a vácuo para evitar qualquer oxidação. Sendo enviado para a instalação de trefilagem fina. E para alcançar este padrão final de qualidade, contratamos a Sansha Electric Wire Company na província de Aichi. Pois precisávamos de seus artesãos altamente qualificados para dar o acabamento final a todos os nossos esforços. Com a colaboração da Sansha melhoramos a precisão de usinagem e o processo de polimento. Pois queríamos o uso de matrizes de diamantes naturais e não sintéticos, que proporcionam menor tensão e melhor lubrificação, que conseguem a incrível precisão de mais ou menos 1um para a tolerância do diâmetro externo do fio. A Sansha é capaz de monitorar as tolerâncias 1600 vezes por segundo em todo o comprimento de uma única linha de fio. O fator determinante final do projeto foi definir o método ideal de torção. Pois na Oyaide adotamos muitos tipos de trançado dependendo do tipo de produto. As possibilidades são de fios trançados agrupados, torção concêntrica, torção uni-lay, torção de corda, estrutura cilíndrica de núcleo sólido. E foi essencial a ajuda dos artesãos da Sansha para refletir qual seria a melhor opção para os novos fios de cobre. E o escolhido foi o encordoamento 3E (de três elementos) desenvolvido e patenteado para Sansha, que combina três fios de três diâmetros diferentes para aumentar a densidade do fio, diminuindo os espaços entre os fios. O resultado é um condutor com um diâmetro externo menor que um mesmo fio de bitola feito com fios individuais idênticos, além de uma seção transversal mais precisa, estável e perfeitamente circular”.
Não é todo dia que conseguimos informações tão detalhadas do próprio CEO de uma empresa de cabos hi-end. Por isso quase que apresentei na íntegra seu depoimento. E lá se vão sete anos desde a apresentação desta mensagem, e uma nova linha de cabos Oyaide nasceu.
Em uma visualização superficial, não notei grandes mudanças entre a versão antiga do GPX-R e a nova versão GPX-R V2. E sinto nunca ter escutado em nenhum dos nossos sistemas detalhadamente a versão anterior. Mas, pelas observações em inúmeros fóruns, as diferenças são mais de refinamento do que de mudança radical na assinatura sônica (e afirmar que um cabo de força tenha uma assinatura sônica, deve dar gastrite em muitos objetivistas, rs! – por favor leiam o Opinião deste mês, do Christian Pruks, sobre ‘Medições’, e não deixem de fazer a comparação dos divisores de frequência, citada no artigo – essa eu acredito que fará muitos objetivistas mudarem de ideia!).
Pois muito falam que a nova versão manteve as principais características de detalhes, mas perdeu aquela característica de deixar tudo no mesmo plano (o que consequentemente pode causar fadiga auditiva em sistemas desequilibrados e gravações tecnicamente limitadas). A versão V2 (permita-me abreviar), não sofre desta limitação de maneira alguma.
A lista utilizada de equipamentos foi enorme: integrados Cambridge Audio CXA81, Gold Note IS-1000, Sunrise Lab V8 Aniversário, Boulder 866 (leia teste na edição de dezembro) e Nagra Classic. Prés de Phono: PS Audio Statement, Nagra Classic Phono, Gold Note PH-1000 e Luxman EQ-500. Prés de linha: Shindo Auriges L, Nagra Classic e Leben CS-300F. Transportes: dCS Scarlatti e Nagra. Streamers: Innuos Zenith e Mini Zen, e Roon. Amplificador de fone de ouvido: Stax SRM-700T. Além de uso regular em nossa régua da Sunrise Lab.
O que mais gostei neste cabo V2 da Oyaide?
Compatibilidade. Confesso que não esperava este grau de compatibilidade, pois mesmo produtos muito acima de sua pontuação final, ele nunca diminuiu a performance do sistema a ponto de indicarmos ele como o elo fraco que estaria represando o desempenho geral do sistema.
E como isso pode ser possível de ocorrer?
Só existe uma maneira disso ser possível: coerência em todos os quesitos da Metodologia e principalmente um equilíbrio tonal muito correto. E isso o V2 tem de sobra. Pois suas pontas não contêm brilho nas altas e muito menos inchaço nos graves, como inúmeros cabos de força possuem, e que podem agradar em um sistema carente de extensão, mas que se tornam um problema em sistemas com melhor equilíbrio tonal.
Sua naturalidade é excelente, permitindo uma apresentação da região média muito correta e detalhada. A apresentação do soundstage para sua faixa de preço é excelente, com enorme largura, boa profundidade e altura correta. Mas o que mais nos agradou foi sua apresentação de foco e recorte: cirúrgica, limpa e precisa.
Os que estão buscando essas qualidades em seus sistemas, deveriam realizar uma audição cuidadosa com o V2.
As texturas, graças a sua naturalidade nos timbres, são muito corretas, possibilitando ouvir sem esforço a intencionalidade e a paleta de cores dos naipes de uma orquestra e de instrumentos solo em qualquer gravação bem realizada.
Gostei muito da apresentação dos transientes, incisivos e com excelente precisão no tempo e andamento. Ele não se perde nem mesmo em passagens com enorme variação de andamento. Neste quesito, ele sobe muito de patamar, ombreando com cabos muito mais caros.
A dinâmica tem o mesmo resultado surpreendente que os transientes, tanto na macro, com boa folga e deslocamento de ar, como na microdinâmica, já que se mostrou um cabo muito silencioso.
Nenhum problema com a apresentação de corpo harmônico, mostrando com precisão as diferenças de tamanho de corpo em streamer, CD e analógico.
E a materialização física (Organicidade) claramente é muito mais responsabilidade da qualidade técnica da mídia e do sistema do que dele.
CONCLUSÃO
Eis um cabo de força de menos de 3000 reais, que possui um grau de compatibilidade excelente com equipamentos de pontuação maior que a sua. E, o mais importante, alta compatibilidade também com outros cabos de força. Isso graças a uma assinatura muito mais próxima da neutralidade. O que é ótimo quando o que buscamos em um sistema é o maior grau de neutralidade possível, para que a música soe como foi concebida realmente.
Se é este seu caso, e não desejas fazer grandes investimentos em cabos de força (como eu, que já estou com os meus Transparent Powerlink MM2 e os Sunrise Lab Quintessence por muito tempo), eu indico uma audição do V2 da Oyaide, pois ele pode ser a solução definitiva para inúmeros sistemas Estado da Arte.
Nota: 97,0 | |
AVMAG #279 KW Hi-Fi (11) 95422.0855 (48) 3236.3385 R$ 2.700 |
Fernando Andrette
Nos primeiros anos dos nossos Cursos de Percepção Auditiva, no nível 2, dedicado a cabos, o cabo digital era de longe o mais polêmico e o que causava discussões para lá de calorosas.
Lembro de cenas marcantes, e que se tornaram emblemáticas, pois ocorreram situações interessantes como a de um participante que levantou abruptamente e aos berros, proclamou que rasgaria seu diploma de engenheiro se eu conseguisse mostrar a ele e a plateia diferenças entre cabos digitais. Pois cabos bem construídos de 75 Ohms, e sem nenhum defeito, não poderiam jamais soar diferentes!
Não só mostramos as diferenças em termos de equilíbrio tonal e corpo (os quesitos em que as diferenças podem ser bem audíveis), como mostramos uma ‘peculiaridade’ recorrente em diferentes cabos digitais: os transientes! Para mostrar essa diferença, recorria ao exemplo do CD do grupo Uakti – I Ching, faixa 3. As percussões necessitam nesta faixa de serem absolutamente precisas, tanto nas entradas em uníssono, quanto nas saídas. E temos, para complicar a vida dos cabos digitais ‘ruins’ de transientes, um triângulo que possui um andamento distinto e mais longo do que as percussões, mas que as entradas e saídas se encaixam.
Para os participantes entenderem o grau de complexidade, colocava os primeiros 30 segundos no cabo digital correto, e pedia a todos para se concentrarem na precisão na largada de cada novo compasso. Depois de repetir a faixa por quatro, cinco vezes, colocava o cabo digital mais torto em termos de transientes. E a sala vinha abaixo, pois parecia que cada músico havia escolhido seu tempo e andamento “pessoal”, criando um descompasso na música, muito desconcertante auditivamente!
Eu não pedi que o engenheiro rasgasse seu diploma, mas pela sua cara de incredulidade, acredito que pelo menos ele passou alguns meses tentando compreender o fenômeno.
Cabos digitais não são uma classe à parte por lerem apenas zeros e uns!
Por mais que os objetivistas queiram acreditar e até defender que as medições não falham, o que na prática escutamos é que as diferenças são muito audíveis. E por algum motivo que provavelmente morrerei sem saber, cabos digitais e de força são, entre todos os cabos, os que possuem menor compatibilidade, sendo de longe o que devemos ter mais cuidado na hora da escolha.
Cabos de interconexão e caixa são os que, além de maior compatibilidade com os equipamentos eletrônicos, também são bastante ‘amigáveis’ com cabos de outras marcas – desde, é claro, que haja coerência de assinatura sônica e não seja o elo fraco do sistema.
Se levo de dois a quatro meses com cabos de interconexão e caixa, peço sempre o dobro de tempo para avaliação de cabos digitais e de força. Pois é preciso colocá-los na maior quantidade possível de produtos e setups, para se ter certeza de que ouvimos suas qualidades e limitações.
Para o teste do Lightning III, utilizamos ele no Innuos ZEN Mini, ligado tanto na caixa Kii Audio THREE (leia teste na edição de julho), como entre o transporte Nagra e o TUBE DAC Nagra.
Este coaxial é confeccionado com cabo de fabricação americana, com dupla blindagem e condutor de cobre OFHC de alta pureza. O plug no modelo enviado para teste é de excelente acabamento, e a impedância é de 75 Ohms.
Por 590 reais este cabo de 1 metro é um verdadeiro achado! Se você precisa de um cabo coaxial em seu sistema e não quer gastar mais que 600 reais, você precisa colocar em sua lista de audições. Ele foi uma enorme surpresa pelo seu grau de naturalidade e capacidade de organizar de forma correta o acontecimento musical, mesmo em passagens muito complexas com enorme quantidade de informação e variação dinâmica.
Seu equilíbrio tonal permite que mesmo as gravações digitais mais ‘agressivas’ na região alta, se comportem de maneira mais ‘palatável’. Mas não pensem que isso ocorra em detrimento ou corte nas altas, para deixar o som mais aveludado. Ele consegue essa proeza justamente por seu equilíbrio tonal ser muito bom em todo o espectro audível. Ouvimos inúmeras gravações com flautim, violino, trompete, sax soprano, para nos certificarmos que não se tratava de uma ou outra gravação específica. E as melhoras foram realmente dignas de nota!
O soundstage se saiu melhor em termos de foco, recorte e ambiência, e um pouco mais ‘limitado’ em relação a profundidade e largura do palco sonoro.
As texturas seguem a mesma ‘cartilha’ do equilíbrio tonal. Uma gratificante surpresa, para um cabo que custa menos de 600 reais!
Texturas refinadas e muito bem apresentadas, tanto em termos de qualidade dos instrumentos e captação, quanto de intencionalidade.
E na ‘pedra no sapato’ de todo cabo digital, transientes, o Lightning III, saiu-se muito bem! Preciso em termos de andamento, ritmo e tempo. Um deleite ouvir a famosa faixa do disco I Ching do Uakti (aliás ouvi o disco inteiro).
Dinâmica correta, tanto na micro como na macro, mostrando o que já havia escrito sobre a maneira que este cabo organiza o acontecimento musical, sem atropelo e com muito boa inteligibilidade.
O corpo harmônico se mostrou menor que nossos cabos de referência (USB ou AES/EBU), mas estes custam um caminhão de dinheiro a mais que este cabo.
A organicidade dependerá muito da qualidade de gravação, mas se mostrou muito correta em materializar o acontecimento musical, como no disco do José Cura – Anhelo.
Musicalidade: sim o Lightning III é bastante musical, sendo um cabo isento de fadiga auditiva, e nas gravações tecnicamente limitadas possibilita apreciarmos a qualidade artística sem aquela má vontade que não dá para ouvir.
CONCLUSÃO
Aqui encerramos nossa maratona de testes deste fabricante nacional de cabos, a Virtual Reality, que foi uma das mais gratas surpresas dos últimos dois anos.
Pois consegue se posicionar no mercado com produtos de preços e performance quase que imbatíveis. E oferecendo aos leitores, que possuem sistemas Diamante e Estado da Arte, a possibilidade de realizar upgrades definitivos por um custo, inimaginável três anos atrás.
Esperamos sinceramente que a Virtual Reality mantenha essa filosofia de mercado, e nos envie sempre todos seus novos produtos para avaliação.
Se o amigo leitor necessita de um cabo coaxial de excelente nível, ouça-o! A chance de ser a solução que procura pode ser muito alta!
Nota: 85,0 | |
AVMAG #274 Virtual Reality ebertgoulart@icloud.com (12) 99147.7504 1 m – R$ 590 1,5 m – R$ 760 2 m – R$ 930 2,5 m – R$ 1.100 3 m – R$ 1.270 |
Fernando Andrette
Depois da bela surpresa que foi conhecer o cabo de caixa trançado da Virtual Reality, e publicado na edição passada, apresentamos agora os cabos de interconexão RCA e XLR da série Lighting.
Interessante que, ainda que façam parte da mesma série, eles utilizam fios distintos em sua construção, o que nos levou à seguinte indagação: como se comportam separados? E, juntos em um mesmo setup, como será a assinatura sônica, e qual será o predominante?
Puxando pela memória, não me lembro de nenhum outro fabricante de cabos que testamos, que tivesse essa abordagem (de fios distintos) dentro da mesma série.
O cabo RCA, batizado de Lighting I, assim como o de caixa, também é confeccionado com fios de cobre alemão com dupla blindagem, e 4 condutores de cobre de alta pureza sólidos em fechamento tipo “Star Quad”. Conectores Pailiccs australianos banhados a ouro, e com solda sem chumbo com 7% de prata.
Já o cabo XLR, batizado de Lighting II, é confeccionado com fios americanos com e sem blindagem, e condutores de cobre de alta pureza banhados a prata. Isolação de teflon, conectores Pailiccs banhados a ouro, e também solda sem chumbo com 7% de prata.
Sabendo dessas diferenças de escolha de matéria prima, resolvi testá-los separados, e só no final do teste ouvi ambos em nosso Setup de Referência. Eles foram usados mais tempo nos prés de phono que estavam em teste do que em qualquer outro equipamento. Decidi assim, pois a assinatura sônica de cada pré de phono era muito distinta. Isso nos deu a possibilidade de conhecer o grau de compatibilidade dos cabos com esses prés e, ao mesmo tempo, ouvir as diferenças entre eles.
Foi muito instrutiva esta escolha. Pois realmente soam diferentes e, mesmo a troca de posição entre os dois Lighting (hora usando o XLR do pré de phono para o pré de linha, e o RCA do pré de linha para os powers) ficou evidente a assinatura sônica de cada um e como se comportam juntos.
São cabos que, com menos de 100 horas, já soam bastante equilibrados e com boa extensão em ambas as pontas.
Sua construção é excelente, e sua leveza e facilidade de instalação permite, mesmo em espaços reduzidos, eles se adaptarem sem ficarem contorcidos ou com risco de serem danificados. Cada vez mais prefiro cabos que sejam leves e maleáveis, e que não coloquem em risco as tomadas de IEC dos aparelhos. Pois, quando a idade chega, aqueles movimentos contorcionistas que fazíamos diariamente na instalação de cabos, não existem mais – tudo que queremos é mobilidade sem riscos de dores nas costas, ciático ou torcicolo. Meu pai dizia que o idoso quer apenas o “básico” – ele estava coberto de razão.
Ainda que tenha espaço para instalar ou trocar qualquer cabo ou equipamento, os que se encontram na prateleira mais rente ao chão são bastantes incômodos para enxergar sem cometer deslizes.
Para evitar acidentes, atualmente na prateleira mais baixa dos dois racks coloquei estrategicamente o DAC (já que deixo todos os cabos do transporte e do servidor de música Innuos conectados), e no outro rack se encontra a fonte PSU do pré de linha e do DAC.
Começarei o teste falando das semelhanças e virtudes sônicas, antes de apresentar as diferenças. Quando abordo o tema em testes ou artigos técnicos e pessoais, das diferenças sônicas dos cabos, os objetivistas rangem tão forte os dentes e bufam com tamanha intensidade que escuto aqui no meio do mato, rs. Mas não tenho como evitar de tocar neste assunto, já que cabos se comportam de maneira distinta e “audível” em diferentes sistemas, e todos possuem alguma assinatura sônica que pode ou não casar como setup.
Todas as observações finais deste teste foram feitas com os seguintes prés de phono: Boulder 508, PS Audio Stellar, Luxman EQ-500, e por uma semana apenas com o Nagra Phono Classic, que será o teste da Edição de Aniversário.
E pudemos fazer um aXb, simultâneo, alternando entre PS Audio, Nagra e Luxman. O que ajudou a compreender as diferenças e semelhanças muito facilmente.
O toca-discos utilizado foi o Timeless Ceres, já modificado em relação ao que testei, com braço Origin Live Enterprise de 12 polegadas, e cápsula Hana Umami Red. O resto do sistema foi o nosso de referência.
Em todos os quatro prés de phono, achamos o XLR superior em todos os quesitos de nossa Metodologia, porém o RCA no PS Audio teve um grau de compatibilidade maior nas altas frequências, e uma região média neste pré de phono que nos agradou mais em termos de timbre e texturas.
Quando passamos os cabos para atuarem entre o pré de phono e pré de linha, e entre o pré de linha e os powers, achamos que o XLR se “encaixou” melhor sempre entre os prés, e não entre o pré de linha e o power.
Quem fez o Nível II do nosso Curso de Percepção Auditiva sobre cabos, irá se lembrar do famoso efeito “cascata”, que quando temos dois cabos diferentes, o de melhor qualidade nos oito quesitos da Metodologia deve sempre vir em primeiro lugar, ou seja: da fonte para o pré. Seja fonte digital ou analógica. O motivo é dar a melhor qualidade de sinal possível para o pré, para que todas as virtudes sejam preservadas.
Em termos de equilíbrio tonal, o XLR apresentou melhor arejamento nas altas, um decaimento mais suave, realçando as ambiências das gravações (principalmente as da época de ouro do analógico, do final dos anos 50 a meados dos anos 70).
Com o RCA, ganhamos mais calor e maior naturalidade na região média e média alta, mas perdemos esta ambiência, tão essencial para ouvirmos as grandes salas de gravações do estúdio Capitol, por exemplo.
Como sempre digo: tudo são escolhas, nesta faixa de preço, pois ter tudo na mesma proporção custa bem mais caro, seja em termos de eletrônica como em cabos (ouvi tanto ranger de dentes que achei que era uma porta com as dobradiças enferrujadas, rs).
A região média e média-alta do XLR, não tem o mesmo calor, mas tem maior transparência e uma resolução de microdinâmica maior. Os graves de ambos os cabos são bastante semelhantes, mas para ouvir pequenos grupos de blues e rock/pop, apreciei mais a assinatura sônica do RCA.
O soundstage de ambos é muito bom. Ótima largura, altura e profundidade. Foco e recorte muito corretos em ambos. Assim como a apresentação de planos em grandes orquestras.
A textura, para o meu gosto pessoal, foi mais “sedutora” no RCA, mas o grau de transparência do XLR ajudou muito na recuperação da intencionalidade, o que pode, para muitos, ser mais relevante do que a “sedosidade”.
Os transientes em ambos são excelentes. Tempo, andamento, ritmo, tudo preciso e convincente, nos levando a acompanhar o ritmo com total interesse e zero dispersão.
A dinâmica foi corretíssima em ambos, mas a microdinâmica, graças à transparência maior do XLR a evidenciou um pouco mais neste quesito. Já na macro, ambos se saíram muito bem, ombreando com cabos “n” vezes mais caros!
No corpo harmônico, o RCA foi ligeiramente mais fiel, tanto em termos de apresentação do corpo, como na diferença entre os diversos instrumentos. Mas nada que o XLR tenha sido comprometido, pois essas diferenças de corpo só foram “audíveis” escutando ambos simultaneamente.
A materialização física em ambos foi muito boa. Graças a seu excelente soundstage em termos de largura, altura e profundidade, nas gravações tecnicamente impecáveis o resultado foi empolgante.
Quanto ao último quesito, musicalidade, é difícil decidir um vencedor, pois com o Luxman EQ-500, neste quesito o XLR foi “matador”. Já no PS Audio, o RCA se mostrou mais musical. Mas se virmos a topologia destes dois prés de phono, teremos uma boa “pista” do motivo deste resultado. O PS Audio é uma topologia de estado sólido, e o Luxman é valvulado.
Trocando os cabos, o resultado foi ruim? Absolutamente que não. Apenas as virtudes não foram tão evidentes.
CONCLUSÃO
O que impressiona na linha de cabos da Virtual Reality, é o grau de qualidade em todos os sentidos, e com um custo que o coloca como a melhor opção para a maioria dos nossos leitores que possuem um sistema Estado da Arte (acima de 83 pontos na nossa Metodologia) mas que sofrem para realizar upgrades nos cabos, pelos valores dos mesmos muitas vezes ultrapassarem o custo dos seus equipamentos!
Este era um dilema, que não existe mais!
Se este é seu caso, e os cabos é que estão fazendo o papel de freio de mão em seu sistema, ouça estes cabos. Eles podem definitivamente escrever um final feliz para este dilema!
Obs.: como, no final, as diferenças foram mais de compatibilidade com os eletrônicos utilizados, a nota de ambos será a mesma.
Nota: 91,0 | |
AVMAG #272 Virtual Reality ebertgoulart@icloud.com (12) 99147.7504 Cabo RCA: 1 m – R$ 600 1,5 m – R$ 750 2 m – R$ 900 2,5 m – R$ 1050 3 m – R$ 1.200 Cabo XLR: 1 m – R$ 1090 1,5 m – R$ 1285 2 m – R$ 1.480 2,5 m – R$ 1.675 |
Fernando Andrette
Conheci a Virtual Reality através do César Miranda, que um dia em nossas conversas me perguntou se eu já havia escutado algum dos cabos deste fabricante. E que, se eu quisesse, ele poderia me colocar em contato com o Ebert Carlos Goulart, o projetista e fundador. E me enviou uma série de fotos de cabos de caixa, força e interconexão para eu ver o esmero de construção e detalhes.
Marcamos então uma visita do Ebert à nossa sala, junto com o César, e aí pudemos conhecer praticamente toda a linha – exceto o novo cabo de força trançado que ainda estava em revisão auditiva final.
A formação do Ebert é bastante interessante, pois atuou em várias frentes nesses últimos 20 anos. Eletrônico especializado em alta tensão, geração e controle de sistema elétricos, e amante de equipamentos de áudio desde muito cedo. Como todo amante curioso,
sempre quis saber como as coisas funcionam, e daí partiu seu interesse por construir seus próprios equipamentos, desde caixas acústicas até amplificadores.
Aos 20 anos já estava produzindo sistemas de PA, e aí conheceu o áudio Hi-End e descobriu um mundo completamente novo à sua frente. Começou seu estudo deste mercado, querendo entender as diferentes assinaturas sônicas de cabos, percebeu que materiais nobres adquiridos na indústria elétrica de ponta para a produção de cabos de melhor qualidade, era o essencial. Então, o segundo passo foi pesquisar os possíveis fornecedores deste material elétrico para a criação de sua linha de cabos.
Em parceria com Adonias Jr, audiófilo e dono do Estúdio Arsis, que tem em sua carreira dois prêmios Grammy Latino, utilizaram o conhecimento de Adonias para os testes dos futuros produtos da Virtual Reality. Dessa parceria surgiu o cabo USB, configurável, permitindo ajustes finos enquanto se escuta o cabo, algo bastante interessante que desconheço ser utilizado por outros fabricantes de cabos.
Nos últimos três anos, a Virtual Reality já correu o Brasil e conseguiu uma rede de clientes fiéis e apaixonados pelos produtos. Seus testemunhos são eloquentes o suficiente para, ao menos, levantar a curiosidade dos que desconhecem os produtos da empresa.
Então, como sempre fazemos, solicitamos um set completo de cabos para podermos ouvir por meses em todos os produtos que nos chegam para teste, e também para finalizar nota em nosso Sistema de Referência. Como nosso leitor já sabe de nosso procedimento, escolhemos um cabo para iniciar a apresentação e, na sequência, iremos apresentando toda a família. Essa escolha não tem nem um critério pré estabelecido, vai apenas pela urgência ou necessidade de momento.
Então o cabo escolhido foi o cabo de caixa Thunder Trançado, já que estávamos com uma fila de caixas em teste grandiosa para o início do ano. E ele ajudou a amaciar duas caixas Elac da série Debut Reference, que serão apresentadas na edição de Abril e Maio.
Existem dois cabos de caixa Thunder: o Estruturado e o Trançado, com assinaturas sônicas bem distintas, mas que mantêm (obviamente) o mesmo DNA. E que podem ser até usados em conjunto (tanto em sistemas em biamplificação como em bicablagem). Mas por questões de critério, achamos mais conveniente apresentá-los separados, para que o nosso leitor possa fazer sua escolha baseado em suas necessidades e expectativas.
O Thunder Trançado é confeccionado com material produzido na Alemanha, com condutores OHFC de alta pureza e isolação em PE. Utiliza 10 condutores de 1mm2, normalmente configurado como single-wired. O detalhe que me chamou muito a atenção é que este cabo não possui acabamento externo, sendo a própria trama o acabamento do cabo, com isso ele é super leve e fácil de se adaptar à espaços tortuosos e apertados – gostei demais de sua facilidade de uso no dia a dia. As terminações podem ser Banana (ouro ou ródio) ou forquilha (ouro).
O fabricante, em seu site, descreve algumas possibilidades de uso do cabo para determinados sistemas com deficiências ou necessidades de compensação em determinadas frequências. Eu, no entanto, preferi seguir em outra direção ao analisar os cabos da Virtual Reality buscando ouvir seu comportamento dentro dos quesitos de nossa Metodologia. Então deixamos de lado as observações do fabricante (ainda que sejam importantes para o consumidor se situar no que busca e pretende para corrigir seu sistema).
Para o teste utilizamos as seguintes caixas: Elac Debut Reference DBR62 e DFR52 (coluna), Elipson Legacy 3230 (leia teste 1 nesta edição) e Wilson Sasha DAW. Integrados: Sunrise Lab V8 SS, Cambridge Audio CX-A81, e Leben CS-300F. E o nosso Sistema de Referência completo.
Não sei se os cabos vieram ou não com um pré amaciamento, mas saíram tocando muito bem (todos que já estão em processo de análise).
O Thunder trançado possui um ótimo equilíbrio tonal, com as pontas muito bem estendidas e no extremo alto, decaimento correto, que nos permite ouvir em detalhes as ambiências. No outro extremo, graves com corpo, peso e deslocamento de energia. A região média é muito bem apresentada, com excelente equilíbrio entre transparência e naturalidade. Com este equilíbrio tonal, a sensação de conforto auditivo e interesse em acompanhar a música é intenso e muito convidativo.
Foi o casamento ideal para ambas as caixas da Elac, sendo que no caso da book o Thunder ‘evidenciou’ ainda mais a exuberante região média da caixa (leia teste na edição de abril).
O soundstage, em termos de largura, altura e profundidade, se saiu muito bem, permitindo o ouvinte entender os planos e a sensação de 3D em um palco holográfico. Caixas books são primorosas em apresentar este palco 3D quando possuem espaço suficiente à sua volta. E como essa é uma das maiores qualidades da book Elac, novamente aqui o casamento se mostrou primoroso! Nas caixas maiores, essa qualidade do Thunder também se fez presente, mas não com tanta precisão como na book.
As texturas deste cabo são exemplares, pois conseguem ser precisos, fidedignos e ao mesmo tempo naturais. Essa qualidade certamente é consequência direta do seu equilíbrio tonal.
Gostei muito dos transientes, rápidos, corretos e com aquela ’pegada’ tão necessária para o andamento não soar letárgico ou ’descompromissado’. Temos um exemplo matador para fechar a nota deste quesito: Canto Das Águas do André Geraissati, faixa 5, gravação produzida pela Cavi Records e presente no disco que encartamos na Musician também. Quando apresentada em um setup com algum problema na resposta de transientes, parece que o violonista pensou antes de executar e digitar a nota – fica aquela sensação de um músico ensaiando e não gravando ’a boa’. E quando os transientes estão perfeitos, a diferença de apresentação é audível, pois as notas soam com enorme precisão, mostrando o grau de virtuosidade e concentração do músico. Este mesmo fenômeno pode ser dito de outra maneira, como aquele sistema que o faz acompanhar o ritmo com os pés de forma contagiante, ou não.
Interessante observar como os objetivistas descartam as reações psicoacústicas e emocionais, ao ouvirmos música. Pois essas reações nos mostram muitos elementos de como nosso cérebro, o sistema auditivo e nosso corpo reagem a distintos sistemas. E como não somos máquinas e não escutamos ondas quadradas e senoidais em nossos momentos de lazer – e sim música – este ‘pequeno detalhe’ deveria ser levado em consideração pelos objetivistas, ao menos como fonte de estudo. Este é o mote central de nossos Cursos de Percepção Auditiva: mostrar ao participante a diferença abismal entre escutar e ouvir. Mas isso é assunto para os leitores que participarem dos nossos futuros cursos, assim que estivermos todos imunizados.
O cabo de caixa Thunder passou neste quesito com louvor!
A dinâmica também se mostrou muito correta, tanto em termos de micro como macro. Faltou aquela ’impetuosidade’ na precisão auditiva de escala crescente (ou degraus), no forte para o fortíssimo, compensada perfeitamente com um grau de inteligibilidade nas passagens mais complexas, que não torna a audição das macro-dinâmicas cansativas ou resulta na terrível consequência de endurecimento do sinal ou deixa o som nessas passagens bidimensional. A micro, com o seu grau de transparência e equilíbrio tonal é excelente.
O corpo harmônico é outra bela surpresa deste cabo, pois tanto com mídia analógica como digital foram muito fidedignas dentro das qualidades e limitações de cada mídia. O contrabaixo tocado com arco do nosso disco Timbres, tem um corpo muito correto do instrumento (principalmente captado com o microfone B&K 4006), e mesmo na book Elac o resultado foi magnífico.
Muitos leitores ainda julgam este quesito como uma ‘confeitaria’ ou um detalhe de menor importância entre os demais quesitos. Grande engano quem assim pensa, pois, nosso cérebro quando acostumado a ouvir música não amplificada ao vivo, se torna exigente demais para achar que corpos do tamanho de uma ‘pizza brotinho’ irá fazê-lo acreditar que aquilo é uma reprodução fidedigna da realidade. Seu cérebro não pode ser subjugado, amigo leitor, ele sabe exatamente o que o aproxima da realidade ou não, então se ainda não entendeste a importância do corpo harmônico, está na hora de você rever seus conceitos. E o Thunder é muito bom na reprodução do tamanho dos instrumentos em gravações nas quais este detalhe foi bem captado, e não se perdeu na mixagem e na masterização.
A materialização física do acontecimento musical (organicidade), depende muito mais da eletrônica e das caixas do que de um cabo. Mas, às vezes, um cabo com alguma deficiência em um ou dois dos nossos quesitos, pode por este momento ‘mágico’ (de termos os músicos à nossa frente) por terra abaixo. Não foi este o caso do Thunder – ao contrário, este quesito reforçou o quanto este cabo de caixa é eficiente em todos os quesitos de nossa Metodologia e o quanto é consistente e coerente!
Com este alto grau de equilíbrio, o resultado é sempre o mesmo na musicalidade. E o Thunder, no último quesito de nossa Metodologia, se mostrou altamente musical. É o tipo de cabo com o qual o prazer de ouvir música será sempre integralmente correspondido.
E não é isso que todo audiófilo e melômano busca, incansavelmente, pelo longo da vida?
CONCLUSÃO
Ouço por 25 anos (sim, estaremos em maio completando 25 anos de vida! Quem diria!), que somos uma revista elitista que só defende o que é caro e inacessível à esmagadora maioria dos leitores. E esses mesmos ’desafetos’ que teimam em nos criticar, quando apresentamos um produto de excelente performance barato e acessível à esmagadora maioria de nossos leitores (como a coluna Pioneer modelo SP-FS52 by Andrew Jones), somos acusados de estarmos baixando o nível dos produtos testados (como é duro agradar à gregos e troianos!). Ou, pior: dizem que só falamos bem, ou demos a nota que demos, por estarmos sendo ’pagos’ para isso.
Eu realmente relevo esse tipo de comentário, pois o que tem de leitor vivendo feliz com esta Pioneer anula cada uma das críticas, das mais ingênuas às mais virulentas e mentirosas.
Mas iniciei a conclusão abordando este tema, justamente para falar que o mercado acaba de ganhar um cabo de caixa Estado da Arte de excelente custo/performance, que vai permitir a todos que desejam realizar um upgrade seguro, gastar menos de 1.000 reais!
Então não há mais necessidade de achar que nunca será possível montar um sistema de alto nível com um orçamento reduzido, pois este tempo de ‘segregação’ financeira no universo hi-end acabou!
O Thunder Trançado é um cabo surpreendente pelo que soa e pelo que custa, e a Virtual Reality merece todo o apoio e incentivo nosso e dos leitores que acreditam em nossa Metodologia e nossa integridade.
Se você deseja ter um cabo Estado da Arte em um sistema com orçamento limitado, esta é sua chance.
Ouça-o e se surpreenda como nós!
Nota: 91 | |
AVMAG #271 Virtual Reality ebertgoulart@icloud.com (12) 99147.7504 CABO DE 2 METROS: • single com terminal banhado à ouro – R$ 760 • single com terminal banhado à ródio – R$ 800 • com forquilha single – R$ 840 |