Melhores do Ano 2021: CABOS
dezembro 15, 2021
Teste Fone 1: FONE DE OUVIDO BLUETOOTH EDIFIER X5
dezembro 15, 2021
HEADPHONE EDIFIER W800BT Plus

Juan Lourenço

A fabricante chinesa de produtos de áudio Edifier, lançou este ano uma atualização para o seu fone W800BT, que passa se chamar
W800BT Plus, dando continuidade ao ótimo trabalho realizado no W800.

A Edifier vem comendo pelas beiradas, e abocanhando uma fatia do mercado de fones de entrada, antes pertencente a JBL e Sony. Não é nada difícil encontrar os modelos Edifier pelas ruas e metrôs, etc. A marca acertou tão bem no design, que acabou sendo vítima do seu próprio sucesso, sendo copiada em muitos modelos encontrados em lojinhas e shoppings populares, fenômeno antes visto apenas com as marcas mais badaladas do mercado.

Não é novidade alguma que os produtos Edifier sempre tiveram uma qualidade acima da média entre seus concorrentes alvo. Seus kits de caixas para computador com subwoofer, caixas wireless e fones de ouvido, são produtos que agregam design e preço competitivo numa faixa específica do mercado. Para brigar no topo juntamente com marcas que são referência mundial, a Edifier jogou pesado, adquirindo o sonho de consumo de nove entre dez amantes de fones de ouvido: a japonesa Stax, o ‘santo graal’ em fones hi-end. Se alguém tinha alguma dúvida sobre a seriedade e competência dessa empresa chinesa, cai por terra aqui.

Voltando a falar do W800BT Plus, trata-se de um fone Wireless Bluetooth com drivers de 40 mm, chip Qualcomm AptX e Bluetooth 5.1, bateria para até 55 horas de uso, carga completa da bateria em até três horas, além do novíssimo App Edifier connect – nele você pode parear o fone, ligar e desligar, consultar manual, acessar o equalizador ou utilizar os modos pré definidos e até utilizar o App como controlador de alguns serviços de streaming de música.

O fone é construído em ABS para ser leve, possui boa robustez, é resistente a riscos e arranhões, as espumas das conchas têm boa memória e são revestidas com couro sintético de toque macio, e o mesmo material é encontrado no arco, melhorando o conforto em longas horas de audição.

Na concha direita fica um grande botão que liga/desliga e também sincroniza o fone – este mesmo botão dá play/pausa – e os controles de volume, que também mudam as faixas das músicas, além da entrada USB-C anterior para carregamento da bateria uma importante evolução para o modelo. Na concha esquerda, apenas a entrada para cabo de fone do tipo 3.5 mm, o popular P2.

A embalagem é feita em papel cartão de qualidade, com blister que acomoda o fone e os cabos e manual na parte de baixo.

COMO TOCA

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Fontes: Astell & Kern modelo KANN, smartphones Samsung S10 plus, e iPhone 8 Plus.

O fone W800BT Plus precisa de 150h para tocar plenamente. A característica sonora que mais chama atenção é que não tem uma região privilegiada, não sobressaem os médios, nem qualquer outra região, mesmo. O palco sonoro não decepciona, embora os músicos estejam sempre muito próximos, o foco compensa esta característica – e, por sinal, é um foco muito bom!

As extensões são boas, e os decaimentos honestos. Se os transientes tivessem mais velocidade, com certeza seria bem-vindo. Não há excesso de graves, que é um erro bastante comum em fones nesta faixa de preço, que tentam compensar falta de clareza nas altas com um grave retumbante que bagunça tudo. O W800BT Plus não comete este erro, o que considero um grande feito! Graças a este tipo de cuidado, é possível ouvir Dianne Reeves com boa inteligibilidade e sem fadiga. Quando partimos para estilos musicais mais pesados, como rap e rock, este equilíbrio nos graves ajuda muito a ouvir o disco inteiro e não apenas algumas músicas. É claro que este grave não é perfeito, falta um pouco de textura e extensão para que este grave ‘escorregue’ e mostre os harmônicos de forma progressiva. Sinto falta desta extensão nas frequências altas, mas poderia ser pior, poderia ter frequências altas cheias de brilho, grave apagado e médio saltando no colo – só que não, todo o espectro audível está com a mesma presença, o que é muito bom.

O conforto é um fato bem positivo. Como não há muitas partes metálicas, o peso total do fone ficou baixo, a pressão das conchas também é muito boa, dá para ouvir música por horas sem sentir-se apertado, graças à boa memória das espumas ao redor das conchas, que também garantem um bom isolamento interno e não esquentam muito as orelhas.

Quando ouvimos o W800BT Plus por cabo, a sua boa eficiência e sensibilidade torna a tarefa dos celulares mais fáceis na hora de empurrar o fone. Não há qualquer esforço para reproduzir partes complexas na música que, com certeza, sofreriam com outros fones. Sei que o wireless é uma conveniência e tanto, mas por cabo ouvem-se mais detalhes e o fone assume uma postura mais relaxada.

CONCLUSÃO

A Edifier manteve o bom desempenho do W800BT e nesta versão Plus fez importantes atualizações como o novo chip Qualcomm, entrada USB-C e, mantendo a sonoridade, design já consagrado e a leveza do fone. É, sem dúvida, uma excelente opção para quem curte música sem maiores preocupações.

Nota: 57,0
AVMAG #278
Edifier
contato@edifier.com.br
(11) 5033.5100
R$ 289

FONE DE OUVIDO JBL LIVE FREE NC+ TWS

Juan Lourenço

Em 2021, a JBL completa 75 anos de muito sucesso e estilo, e para comemorar a empresa realizou um evento online para seus revendedores e para a imprensa especializada, detalhando seus próximos passos para continuar líder no mercado de fones de ouvido TWS. Além de detalhar toda a parte de marketing e vendas, o evento contou com o pessoal técnico que deu ótimas explicações sobre as linhas de fone, explicando o funcionamento de muitas das tecnologias embarcadas, o lado humano dos colaboradores – alguns deles músicos – que contribuíram para o acerto na sonoridade JBL e, o foco na experiência do usuário.

Uma das estrelas dessa live pela Internet foi o JBL Live Free NC+,um fone de ouvido true wireless com cancelamento de ruído ativo, ele possui 21 horas de bateria (7 horas do fone e mais 14 horas do case) com indicativo de carga da bateria e carregamento por USB-C, carregamento sem fio no padrão Qi, as tecnologia SmartAmbient, Ambient Aware e TalkThru (para permitir a passagem de sons externos durante conversas e em ambientes abertos), certificação IPX7 que garante ser resistente a chuva fraca e suor, e é compatível com Alexa e Google Assistente.

O Live Free NC+ foi lançado o ano passado, sendo um dos primeiros modelos da nova geração de fones TWS (True Wireless Stereo) da JBL, continuando em linha logo abaixo do Club PRO TWS. As cores disponíveis são: preta, azul, branca e rosé – cores vibrantes, mas sem aquele exagero dando um toque de sofisticação ao produto.

COMO TOCA

Utilizamos o Astell & Kern modelo KANN, e os celulares Samsung S10+ e iPhone 8 Plus.

O fone Live Free NC+ se encaixa muito bem no ouvido, e para o meu caso preferi utilizar o abafador de silicone pequeno, mantendo o fone firme sem escorregar. A conectividade com os celulares mantém o padrão ótimo da marca, o pareamento é super fácil – bastando abrir a tampa do case para iniciar. Após o período de acomodação, quem assumiu o comando foi o DAP Astell & Kern KANN, começamos as audições com Norah Jones passamos por Dominique Fils-Aimè, e seguimos por Eagles até chegar no hip-hop – percebe-se que o fone tem bom desempenho, seus graves não soam exagerados como em muitos casos em que tentam dar ao fone um grave de concha, nada disto: os graves possuem peso, mas não ficam te lembrando que estão ali como um luz vermelha piscando.

Nestes fones, a região média é sempre a protagonista e aqui não é diferente, e as vozes ficam levemente destacadas. A JBL tomou cuidado em não ressaltar demais os médios e agudos. Há um bom equilíbrio entre os dois, o que resulta em uma boa abertura sem fatigar. O Live Free não soa exagerado em nenhum estilo musical selecionado, não tem excessos – talvez quem procure algo turbinado não se encante pelo fone, mas nada que uma passada no App JBL Headphone, na sessão de equalização, não resolva. Outra característica interessante: sua vivacidade, as músicas soam pulsantes rápidas e com bastante entusiasmo, e o cancelamento de ruído funciona com excelência ajudando a se concentrar apenas na música.

CONCLUSÃO

O Live Free NC+ vai na mesma direção do Club PRO + TWS, um pouco menos revelador, mas com a mesma essência. Sua ergonomia e clareza equilibrada, aliada ao cancelamento de ruído ativo, ajudam muito na inteligibilidade da música, e as 14 horas de bateria do case dão conta da diversão o dia inteiro.

Nota: 57,5
AVMAG #279
JBL
www.jbl.com.br
R$ 869

FONE DE OUVIDO BLUETOOTH JBL CLUB PRO+ TWS

Juan Lourenço

A JBL, líder mundial em fones de ouvido e caixas de som Bluetooth, nos cedeu para avaliação o seu novo fone intra-auricular Club Pro+ TWS (True Wireless Stereo), um fone de ouvido Bluetooth Premium com cancelamento de ruído adaptativo, que promete entre outras coisas um som refinado e mais audiófilo.

O fone vem recheado de novidades, e algumas delas são muito aguardadas desde o Live300 TWS, como duração da bateria de até 32 horas de uso, carregamento sem fio e drives de 6,8 mm. A certificação IPX é de classe 4, resistente a gotas d’água (chuva fina) e suor, uma classificação menor que a do Live 300 TWS, mas que na prática não muda nada entre os dois fones em termos de proteção contra líquidos, até porque aqui o foco é na qualidade da reprodução musical, o que sempre aumenta bastante os custos.

O Club Pro+ TWS possui Bluetooth 5.1 e drivers de 6.8 mm com resposta de freqüência de 10 Hz a 20 kHz, dando uma boa folga para lidar com todas as frequências. Possui interação com os assistentes pessoais Alexa, Siri e outros. A bateria do fone possui
55 mAh e dura até 8 horas de reprodução contínua, já o case possui 660 mAh e mais 24 horas de bateria. Mesmo com esta boa potência, o case é bastante leve, e não incomoda carregá-lo.

A embalagem externa é feita em papel cartão com ótima impressão, padrão que já estamos acostumados com a JBL. É pequena e resistente, e dentro dela encontramos o case com o fone, cabo USB tipo C (não acompanha carregador) e adaptadores feitos em silicone que se ajustam ao ouvido nos tamanhos P M G, além do manual de instruções e encartes.

O case tem ótima sensação ao toque, não escorrega e nem fica grudando no bolso da calça quando requisitado. A espessura do material me parece mais confiável que no Live 300, que passa uma sensação oposta. O carregamento também é mais rápido e o LED indicador não agride os olhos. Uma coisa bacana é o modo de pareamento: basta abrir o case que aparecerá o fone no seu celular ou dispositivo de reprodução. O pareamento aconteceu de primeira em todos os aparelhos que tentei.

O app My JBL, disponível nas principais lojas de apps, é muito fácil de usar e conta com vários ajustes pré configurados, o que facilita muito na hora de ajustar o som.

A configuração dos assistentes pessoais, como Siri, Google Assistente e Alexa, são bastante intuitivos também, não há o que errar. Atender e efetuar chamadas telefônicas também é super fácil – os três microfones embutidos cancelam o ruído externo melhorando a clareza na voz e o entendimento da dicção, tornando as conversas ainda mais agradáveis.

COMO TOCA

Para o teste utilizamos celulares Samsung S10+ e Apple iPhone 8, e DAP Astell & Kern modelo KANN.

Por ser um fone mais refinado, exige do proprietário um pouco mais de paciência com o amaciamento – ele toca levemente engessado e duro no início. Após 50 horas ele estabiliza, e então se pode desfrutar de todo o seu potencial.

Ele realmente se mostra melhor na execução de músicas mais complexas, como Jazz, blues, bossa nova e música de câmara, que o Live 300, evidenciando sua qualidade. Não chega a ser um salto, mas é perceptível. Esta superioridade também se traduz em uma maior compatibilidade com estilos musicais mais agressivos, como rock e hip-hop. Seu grave é vigoroso sem ser exagerado. Aliás, ele não soa nada exagerado neste quesito, privilegia um pouco a região média, como a maioria dos fones fazem.

Para quem está acostumado com ‘somzão’, ‘gravão’ e tudo ‘ão’, este fone pode não agradar, embora seu desenvolvimento tenha sido observado por DJs. Inclusive, no app My JBL tem equalizações personalizadas por Armin Van, Ryan Marciano, Sunnery James e outros – tiveram a sensibilidade de não dar ênfase a um estilo musical ou outro. Ele é mais equilibrado e flat que o normal para este estilo de fone, até para a JBL.

Agradou-me bastante utilizá-lo no dia a dia, é confortável e não fica caindo frequentemente da orelha. Os sistemas Talkthru para volume baixo em ambientes quietos e Ambient Aware para ambientes mais ruidosos, ajudam bastante a equilibrar as audições de acordo com o ambiente, e o cancelamento de ruído adaptativo fecha com chave de ouro.

Não diria que o Club Pro+ é discreto – seu tamanho não permite. Talvez os projetistas não tivessem opção para abrigar drivers de
6,8 mm e uma bateria tão potente, ainda sim fizeram um ótimo trabalho com as formas e a cor preta, sendo possível passar despercebido na orelha.

CONCLUSÃO

Os smartphones são bons pares para o JBL Club Pro+. Ele meio que ignora um pouco das deficiências dos celulares, e isto é um grande trunfo. Mas quando acompanhado de uma boa fonte, ele realmente brilha mostrando melhor seu refinamento e beleza nos timbres. É incrível que, mesmo por Bluetooth, uma boa fonte faz toda a diferença, talvez não seja a intenção da maioria dos futuros compradores carregar mais um aparelho na mochila, muito embora os DAPs estejam em alta, mas se quer extrair mais qualidade de suas músicas com o JBL Club Pro+ TWS, ele te permite ir além.

Nota: 58,0
AVMAG #274
JBL
www.jbl.com.br
R$ 1.200

FONE DE OUVIDO RELOOP RHP-30

Juan Lourenço

A Reloop é uma empresa de áudio alemã fundada em 1996, que rapidamente conquistou um lugar de destaque na cena musical eletrônica. Seus produtos são pensados principalmente para DJs, profissionais de estúdio e para todos que amam música.

A Reloop desenvolve de mixers e mesas controladoras para DJs, de microfones e toca-discos de vinil à fones de ouvido, além de uma parceria com a Ortofon para comercialização de cápsulas com design visual Reloop. Tivemos a oportunidade de passar bons momentos com dois produtos da marca: os toca-discos de vinil Turn 2, avaliado na edição 244 da CAVI, uma ótima surpresa capaz de brigar com o Rega Planar P1 de igual para igual, e o toca-discos Turn 5 com seu visual clássico na edição 247. Agora a Alpha AV, que traz os produtos Reloop para o Brasil, nos cedeu o fone de ouvido RHP-30, um fone de ouvido premium voltado para DJs e, claro, para quem não abre mão da boa qualidade de som e de construção dos fones profissionais. Além da série RHP, com os modelos RHP-20, 30 e um mono, existem mais quatro linhas: SHP, RH, Airphones e INP esportivo intra-auricular.

O RHP-30 segue a velha escola, ou seja, é um fone minimalista, diria até discreto no visual, com ‘pegada’ profissional, o que me agrada bastante, pois tem personalidade e o design é bem resolvido, combinando bons materiais duráveis, bonitos e que passam uma sensação de robustez ao toque.

O RHP-30 combina bem o ABS com leve toque acetinado como material principal, e metais em pontos chave onde a maior resistência é exigida, como as articulações da concha, e no arco de cabeça.

Por falar em conchas, estas são bastante confortáveis na orelha, embora não girem na horizontal – algo seria de se esperar em um fone para DJs – elas possuem um bom ângulo de inclinação na vertical. As almofadas têm ótima sensação na pele e boa ‘memória’ de retorno. A espessura da parede das almofadas é que achei serem um tanto exageradas, entendo que sejam assim para reduzir barulho externo, mas poderia ser só um pouco mais finas para acomodar melhor na orelha.

Os drivers de quarenta milímetros possuem impedância de 40 ohms, faixa de freqüência de 10Hz a 24 kHz e potência máxima admissível de 1.000 mW. O peso total do fone é de 355 g. Para acompanhar o fone a Reloop disponibilizou três cabos de interconexão: um cabo flat de 1,2 metro, um cabo comum com microfone embutido também de 1,2 metro, e um cabo helicoidal de três metros comumente utilizado por DJs.

A embalagem do RHP-30 inspira proteção, expondo sua qualidade sem deixar detalhe algum de fora. O acabamento em papel cartão de alta qualidade acomoda o fone sem folgas, graças às proteções internas em espuma e polietileno. A tampa tem fechamento por imã e toda a embalagem é protegida por um encarte com grafias modernas, tudo compatível com o nível de acabamento do fone.

COMO TOCA

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Fontes: Astell & Kern modelo Kann, smartphone Samsung S10 Plus, iPhone
8 Plus, e streamer Innuos Zen mini com fonte externa. Amplificador para fone de ouvido: Teac HA-501. Cabos de força: Transparent MM2. Cabo de interconexão: Sunrise Lab Illusion Magic Scope RCA.

Como o RHP-30 é um fone para DJ, começamos os testes utilizando o cabo helicoidal, e com músicas eletrônicas como Minimum
Maximum do Kraftwerk, Deadmau5, Whities 024 do Anunaku, e Infected Mushroom que amo de paixão! Devo dizer que o RHP-30 surpreende positivamente, trazendo uma clareza e foco muito bons, mas tudo estava um pouco letárgico demais para o meu gosto, então resolvi colocar o cabo flat, e foi aí que a mágica aconteceu! A letargia foi embora, apareceram transientes mais rápidos, a dinâmica agora tinha vigor e uma progressividade muito boa. Para um dia de trabalho como DJ é impossível não utilizar o cabo helicoidal, mas para audições em casa, opte pelo cabo flat, pois ele realmente mostra o melhor do fone! Os detalhes brotam com mais facilidade e o fone revela boas doses de sutilezas e intencionalidades contidas nas músicas. A região alta, os agudos, não são ásperos têm boa definição, e à medida que as frequências vão descendo, as transições se mostram mais suaves, o que é correto acontecer.

Os graves têm boa qualidade e fluidez, mas falta uma pitada de textura para ficar na mesma medida que a região média, que é realmente o ponto alto deste fone. De vozes a efeitos, tudo é percebido com clareza na região média sem sobrecarregar o cérebro com tendências artificiais que causariam fadiga auditiva, diminuindo o tempo de uso do fone. Pelo contrário, o prazer em ouvir música só aumenta!

CONCLUSÃO

A Reloop fez um ótimo trabalho neste fone dando à ele um bom equilíbrio entre conforto auditivo, ergonomia e durabilidade. É um fone que vai bem para quem deseja se aventurar nas mesas e pick-ups, e para quem apenas deseja curtir suas músicas favoritas com estilo e qualidade.

Nota: 58,5
AVMAG #272
Alpha Áudio e Vídeo
(11) 3255.2849
R$ 890

FONE DE OUVIDO KUBA DISCO

Fernando Andrette

Muitos leitores estavam nos cobrando o teste do fone nacional Kuba Disco. O nosso colaborador Juan entrou em contato, mas não obteve retorno, então parti para o plano B: solicitar a algum leitor que nos emprestasse o fone para teste.

E o amigo/leitor, Nivaldo dos Santos Furlan, nos cedeu prontamente para três semanas de teste. Só posso agradecer publicamente sua generosidade em nos disponibilizar o fone por quase um mês.

Enquanto aguardava o envio, procurei ler e assistir a todos os vídeos referentes ao fabricante e, como existe um vasto material a disposição, à medida que fui conhecendo o produto, fui me interessando cada vez mais em conhecer este fone feito inteiramente no Brasil, graças ao empreendedorismo e paixão de quatro jovens. Ainda que, pelos vídeos mais recentes que vi, da equipe inicial só tenham restado o ‘mentor’ do projeto, Leonardo Drummond, e sua sócia, pelo visto o futuro da Kuba está garantido.

Em várias entrevistas, Leonardo Drummond fala de sua paixão pela música e fones de ouvido, e que desde muito tempo sabia que este era o seu caminho profissional. E, ao conhecer os detalhes com que este primeiro produto foi desenvolvido, fica evidente o grau de atenção que o Leonardo deu a todas as etapas de desenvolvimento.

Por exemplo: o cuidado com o arco com cinco camadas de madeira, como das pranchas de skate, com o acabamento de resina de babosa para impermeabilizar a madeira. Ou os cuidados com o meio ambiente, na escolha das espumas do fone com couro sintético, e do respeito ao consumidor, com a possibilidade de substituição de qualquer parte do fone. E o mais importante: 1 ano de garantia!
São detalhes louváveis, e que merecem todo o nosso respeito e admiração.

Cabos destacáveis, que possibilitam upgrades se o consumidor desejar, e o mais impressionante: o preço final! Algo em torno de
140 dólares, o que o coloca na briga direta com fones de 100 a 250 dólares! Que é o grande mercado de fones com maior qualidade.
Segundo o Leonardo, o Kuba Disco foi concebido para atender tanto o mercado de áudio profissional quanto o consumer. E seu design e filosofia no atendimento ao cliente, me lembraram muito a empresa de fones dinamarquesa AIAIAI Audio, que também tem esta política de peças substituíveis, produtos preocupados com o meio ambiente, e possuem uma enorme aceitação no segmento de DJs.

Ao receber o fone, e o colocar ao alcance das mãos e da vista, pude entender um pouco mais as positivas resenhas recebidas até o momento. Pois ainda que tenha uma enorme preocupação com custos, as soluções foram no mínimo interessantes. Ele possui ‘personalidade’ e não é uma cópia em termos de design de nenhum fone concorrente – isso me lembrou a Audiopax, com seu design minimalista, mas de uma genialidade por trás do conceito do Timbre Lock, que fez história mundial.

E o fone Kuba Disco também tem sua ‘sacada’ de regulagem dos graves, mas falarei disso mais adiante. Não que esta regulagem seja inédita, pois outros fones também já ofereceram este recurso, mas nesta faixa de preço, penso eu ser algo inédito.

Gostei das almofadas, de sua textura, e que se encaixam perfeitamente nas orelhas. Achei o arco de madeira com flexibilidade suficiente para se encaixar na cabeça, no entanto senti rapidamente que a parte central acolchoada não foi o suficiente para me acomodar. Se a Kuba aceita críticas, acho que poderia em uma versão futura ser revisto este acabamento para permitir maior tempo de audição.

Quanto ao isolamento do ruído externo, o arco e as almofadas reduzem consideravelmente o contato com o mundo externo, mesmo antes de se apertar o play.

Para o teste utilizei meu celular, e os amplificadores de fones de ouvidos do DAC Gold Note DS-10 (leia Teste 1 nesta edição), e do pré de linha Classic da Nagra. Ouvi streamer (Tidal e Qobuz), CDs e LPs. Além das quase 100 faixas da nossa Metodologia.

O Nivaldo havia nos dito que o fone estava com aproximadamente 70 horas de uso. Como é de praxe, acabei deixando mais 30 horas (só escutando streamer) para ver se haveria ainda alguma mudança na sonoridade do fone.

Minha primeira impressão, com o celular, foi de que tinha que abrir quase todo o volume para ter uma pressão sonora razoável. Como havia lido em um teste que o revisor também sentiu essa ‘limitação’ no volume, acabei por ouvir em outros celulares da ‘família’ para ver se ocorria o mesmo. Infelizmente, nos quatro celulares utilizados, o volume sempre teve que passar da margem de segurança, o que também acho que poderia ser corrigido em uma nova versão. Afinal, imagino que a maioria dos usuários irá utilizar o Disco no celular e não apenas em casa.

Já nos dois DACs utilizados, pude voltar ao volume correto e seguro sem nenhum problema.

Passado as 30 horas, a primeira coisa que quis ouvir e entender foi o ajuste de graves, que é feito de maneira mecânica, bastando colocar a alavanca, que fica na parte de cima da cuba do fone, no meio (para teoricamente deixar em flat), ou acionar a alavanca para se ter mais ou menos graves. O truque é aumentar ou diminuir o orifício da cuba para se ajustar ao gosto do freguês.

Vi em um vídeo, no próprio canal do YouTube do Leonardo, onde ele explica que quis dar uma assinatura sônica (dentro de determinados compromissos de preço/performance) que ele gosta nos fones que tem e aprecia. E que por isso disponibilizou o ajuste de graves, pois para ele o ideal é um grave um pouco menos acentuado, médios bem reveladores e agudos brilhantes, mas sem excesso.

Independente de compromissos, qualquer produto de áudio terá a ‘concepção’ e o gosto do projetista, isso é quase inevitável – exceto nas maiores empresas de áudio hi-end, em que o resultado é o consenso dos vários projetistas envolvidos.

Até aí não vejo nenhuma novidade, mas por outro lado se o produto ‘personificar’ acentuadamente o gosto do seu criador, haverá certamente prós e contras. Pois os que se identificam com aquela assinatura irão ficar satisfeitos, e os que não se identificam recusarão. Por isso que sou adepto do correto e o mais neutro possível, e para isso caímos na questão do equilíbrio tonal, pois este ou está correto ou não está.

É como a história da falsa grávida. E o fone Kuba Disco não é um produto que prime por este quesito. Os graves no ‘teoricamente’ flat, na posição central, carecem de energia, fundamental e boa extensão nos harmônicos. Atenuar, complica ainda mais. E acentuar o grave, acentua as fundamentais e suja os harmônicos.

Para chegar a essa conclusão, usei somente nossas gravações e, principalmente, o disco Timbres – as faixas do contrabaixo e do clarone. Comparando com os nossos fones de referência, e o fone da Grado recentemente testado, ficou evidente que o ajuste do grave, em nenhuma das opções existentes, conseguia o equilíbrio correto para se apreciar a gravação.

E quando se tem dificuldade para o ajuste dos graves, os médios também são comprometidos. Pois aquela presença tão interessante que atingimos quando o ajuste dos graves se encontra no centro, se perde, assim que acentuamos o grave. Não tem magia que dê jeito na questão do equilíbrio tonal – ou buscamos ser o mais correto ou estaremos fadados a ter músicas que soarão bem, e muitas que não.

É a famosa desculpa de colocar a culpa na gravação, eximindo o equipamento.

Ouvindo pequenos grupos sem a presença de graves muito presentes (na escrita do arranjo), foi possível ouvir com muitos detalhes na região média, que se mostra bastante proeminente e com ótima microdinâmica. E os agudos, ainda que tenham um certo brilho, não me pareceram excessivos a ponto de causar fadiga.

Porém, o que mais senti falta nos agudos foi de extensão (principalmente se optarmos por acentuar os graves): com pouco arejamento e ambiência.

Mas ainda que tenha levantado todas essas questões, é preciso lembrar, meu amigo, que estamos falando de um fone de menos de 140 dólares! Ou seja, ainda que ele não possa ser considerado uma referência hi-end, ele está acima de muitos fones importados até mais caros que ele.

E o que acho mais importante: é um projeto que pode e certamente (se o fabricante desejar) evoluir, e muito! A questão é saber se existe essa intenção por parte do fabricante, de mudar algo que parece estar dando muito bom resultado comercialmente.

Mas fica aqui minha sugestão: que tal usar dos mesmos critérios, paixão e respeito ao consumidor, e fazer uma versão (ainda que custe o dobro), mais equilibrada tonalmente e neutra, para também atender a um público mais exigente? Ainda que este novo produto suba para 300 dólares, com todos estes ‘ajustes finos’ ainda será muito competitivo!

Pois o DNA de construção de fones e a paixão já são evidentes, então avançar é uma mera questão de vontade, interesse e de concordar que este caminho sugerido possa ser trilhado.

Independente de minhas observações (entendo que pareçam contundentes demais), desejo a esta empresa sucesso cada vez maior e, acreditem, tem o meu total respeito e desejo de vida longa, e que possam fazer história no mercado de áudio.

Nota: 61,0
AVMAG #277
Kuba
https://kuba.audio/
R$ 699

FONE DE OUVIDO SENNHEISER HD 660S

Fernando Andrette

Introduzir um novo modelo em uma série que é uma referência no mercado de áudio hi-end, como foi por uma década com os modelos HD 600 e HD 650, é um desafio e tanto.

Mas a Sennheiser sabe muito bem o que faz, e sentiu em 2017 que estava na hora de mostrar que os avanços obtidos no HD 800 deveriam ser também oferecidos em uma nova geração da série 600.

Tive o HD 650 por um bom par de anos, antes de ir para o HD 800, e sentia que a distância entre ambos era muito grande (o que dirá então para o HD 600). Mas, ainda assim, o DNA Sennheiser fica evidente em ambos com algumas horas de audição com um bom amplificador de fone.

O interessante da série 600 é que, ou o audiófilo ama sua sonoridade e construção, ou a abomina. Raramente presenciei, com outros fones, posições tão “demarcadas”. O que eu sempre questionei aos que nunca deram uma “boa chance” para a série 600, é que não dá para querer os benefícios e a qualidade da série 800 pelo preço que custa a linha 600.

Esqueça “preço Brasil”, em que tudo é exorbitantemente fora da realidade. O produto em teste custa menos de 500 dólares lá fora, e aqui no Mercado Livre é vendido acima de 4000 reais! Como diria o Caetano Veloso: “Alguma coisa está fora da ordem”. E está mesmo, ou melhor, sempre esteve, e enquanto este país for fechado ao mundo (não precisa ter uma reserva de mercado, basta ter alíquotas exorbitantes) para fazer o trabalho sujo e ainda assim não ser criticado pela OMC (Organização Mundial do Comércio).

Não sei se viverei para ver este país ter alíquotas de importação justas, para se acabar de vez com o contrabando e as falsificações indecentes vendidas nos camelôs das cidades.

Mas esse não é o meu trabalho, então voltemos ao HD 660S, em termos estéticos as mudanças foram bastante pontuais. Continua sendo um fone confortável, com quase toda estrutura de plástico (mas que nunca tive nenhum problema de trinca ou quebra de alguma parte). Aos que atacam ele ser de plástico, gostaria de lembrar que este é um dos motivos dele ser leve e permitir audições mais prolongadas.

Como todo fone, os cuidados precisam ser redobrados com relação à almofada, pois de tempos em tempos será preciso trocá-las (principalmente os que vivem deixando o HD 660S, pegando sol ou fora de sua embalagem).

Li também que muitos consumidores reclamam que o cabos de 3 metros ser difícil de colocar de novo na embalagem (um consumidor até usou o termo “rebelde” para reclamar do cabo), e pensei com os meus botões: se este consumidor um dia tiver um fone Grado, ele enlouquece, rs).

Outras reclamações dos “orelhudos” é que o diâmetro da espuma poderia ser maior para que parte das orelhas não fiquem sobrando para fora. Eu fiquei olhando as espumas do HD 660S e achei que para isso ocorrer a orelha terá que ser realmente grande!

O HD 660S vem com dois cabos, um com a terminação de ¼, e o outro é um cabo 4,4 mm balanceado. No pacote a Sennheiser também inclui um adaptador de 1/4 para cabo de 3,5 mm. Segundo o fabricante, a impedância é de 150 Ohms e a sensibilidade de
104 dB, e resposta de 10 Hz a 41 kHz.

A única mudança visual digna de nota é que saiu o cinza chumbo da série 600, e agora o preto fosco é que irá prevalecer.

Para o teste, utilizamos nosso amplificador de fone que está incluso no pré de linha do Nagra Classic. O fone já veio integralmente amaciado, com mais de 500 horas de uso. O que nos facilitou enormemente, pois só tivemos o trabalho de selecionar as faixas para avaliação de cada um dos quesitos da Metodologia.

Por ser um fone aberto, é sempre importante o usuário levar em conta o ambiente à sua volta, pois ele pode realmente incomodar as pessoas à volta! Então, se este for seu caso, pense nas consequências na calada da noite enquanto os outros dormem, o volume que você irá utilizar para escutar suas músicas.

Uma reclamação recorrente que sempre escutei na série 600 era ter pouco grave. E tenho que concordar que no HD 600 esta limitação era mais evidente, que no HD 650 melhorou “sutilmente”. E agora no HD 660S?

Bem, se o amigo for um rato de informação como eu, e ler quatro a cinco testes, ficará mais confuso que bêbado no cemitério! Pois li resenhas desancando os graves e revisões elogiando os graves do HD 660S. Em quem acreditar? Quem tem maior credibilidade e conhecimento para dizer se tem ou se falta? Eu só posso lhe dizer como eu separo o “joio do trigo”: vejo atentamente os equipamentos que o revisor tem ou usou, e principalmente as músicas utilizadas para a avaliação auditiva. Aí eu consigo ter um norte razoável.

Um dos caras que desancou os graves, teve a sutileza de afirmar que “falta sub grave” no fone! UAU! Imagino quais sejam seus fones de referência para avaliar graves, pois se me oferecerem um fone que reproduz “subgraves” eu nem coloco na cabeça!

Outro escreveu que os graves eram tímidos e sem dinâmica. Aí fui olhar a lista de discos dos dois “formadores de opinião”, e fui ouvir suas referências. O do sub grave utiliza gravações eletrônicas e o famoso “bate estaca” em todas as gravações citadas. Ele jamais deveria perder seu tempo com um fone Sennheiser. E o outro é um pouco mais “comedido”, mas suas referências pop são altamente turbinadas e comprimidas.

Detalhe: ambos também criticaram os agudos, afirmando que falta “brilho” e “clareza”! Bem, meu amigo, se estes são os caras que irão lhe orientar na compra só seu futuro fone, não leia mais uma linha deste teste, pois tudo que observei vai na contramão do que eles observaram e escreveram.

Os graves não são de um HD 800, ou de um Classic Meze. Mas são melhores que as versões da série 600 anteriores, com uma melhor extensão e sustentação (principalmente na reprodução de órgão de tubo, que deixou nítido esta melhora) e mais peso e definição a partir dos 60Hz, que é onde se define o médio-grave no primeiro, segundo e terceiro harmônico!

Com isso, o HD 660S deu um passo significativo à frente.

Os médios, como em todos os fones da série HD 600, são excelentes. Transparência, recuperação de micro detalhes, planos e uma facilidade de organizar os naipes de forma magistral.

O amigo leitor quer saber quanto os médios de seu fone de ouvido são bons? Ouça corais à capela bem gravados, sejam os grandes corais russos ou de música sacra. Nos crescendos é que o bicho pega. Se seu fone separar os naipes com precisão, possibilitando acompanhar todas as vozes sem perder o todo, creia que seu fone passará em qualquer teste.

E os agudos que os revisores citados disseram que faltava “brilho”, felizmente estão certíssimos! Esta “falta de brilho” é que faz do HD 660S um fone com excelente equilíbrio tonal nas altas. O amigo poderá ouvir flautins, pratos, trompete com surdina, pianos, violinos com o melhor conforto auditivo possível!

Também ouvi críticas à dinâmica do fone. Não sei o que os críticos imaginam ser uma boa dinâmica para um fone hi-end, mas eu diria que o HD 660S cumpre com méritos as passagens do forte para o fortíssimo como todos os bons fones hi-end desta categoria.

E outra crítica que li (esta por mais de um revisor) é que o soundstage não é bom! Bem, aqui somos a única revista que aboliu este quesito da Metodologia de fones, pois em fone nenhum o soundstage é bom. Desculpem, a música não foi gravada para tocar em volta da nossa cabeça, ou o cantor aparecer na ponta do meu nariz. Essa discussão eu já tinha na revista Audio News, quando fui convidado para ser jurado do primeiro campeonato de som automotivo hi-end no Brasil. Foi tão constrangedor dar nota para um item que não existe nos carros que jurei a mim mesmo, nunca mais passar por aquilo!

Fone de ouvido é a mesma coisa. O soundstage necessita de arejamento, espaço, corpo harmônico, silêncio em volta de cada instrumento. Isso não existe nem na acústica de um carro e muito menos em um fone de ouvido!

CONCLUSÃO

O HD 660S é um passo muito consistente à frente em sua série. Em um nicho tão disputado como o de fones na faixa de 500 dólares, muitas concessões tiveram que ser feitas em termos de acabamento e tecnologia.

Mas o importante, na minha opinião, é que algumas limitações foram resolvidas e o colocam mais perto da série 800 que todos os seus antecessores.

E isso é bom? Para quem busca um fone de ouvido hi-end nesta faixa de preço, certamente que sim.

E o que mais prezo neste avanço que o aproximou do HD 800, foi seu conforto auditivo! Algo tão essencial e tão relegado a segundo plano, por quem nunca ouviu um fone hi-end equilibrado.

Se o sujeito quer furar os tímpanos e perder sua audição aos 40 anos, existem baciada de opções para lhe deixar surdo! Mas se o sujeito quer apenas ouvir suas músicas com conforto e prazer, o HD 660S faz parte deste grupo, que felizmente ainda é significativo.
Então, meu amigo, se é um fone desse “perfil” que estás procurando, escute-o com a atenção que ele merece.

Nota: 62,5
AVMAG #273
Sennheiser
(11) 3136.0171
R$ 4.071

FONE GRADO PRESTIGE SERIES SR325x

Fernando Andrette

Outro dia, um leitor nos perguntou a razão de testarmos vários modelos de um mesmo fabricante, e se não seria mais interessante ‘diversificar’ as escolhas para teste.

Já tratei deste assunto em alguns dos nossos editoriais, mas acho que é importante responder sempre que a questão for levantada. Temos como linha editorial só testar produtos que tenham importação legal no país. Só aí, já limitamos muito os testes que serão publicados, e o segundo item, e não menos importante: só testamos produtos que atendem o mínimo de exigências da OMS (Organização Mundial da Saúde), que alerta há anos do perigo de se ouvir música em fones de ouvidos em volumes exagerados.

Então, seguindo esses dois protocolos, o universo de modelos disponíveis e seguros é ainda menor.

E, por fim, falando especificamente da marca Grado, ela atende a todos os dois requisitos de maneira correta, além de disponibilizar ao mercado excelentes fones. Então, essa será uma marca que vocês irão ler dezenas de testes aqui.

A linha X veio substituir a linha E, um produto que tenho e uso como uma de minhas referências há muitos anos! E quando o distribuidor nos disse que já tinha à disposição para teste a série X, não tive dúvida em começar a avaliar essa nova geração justamente pelo modelo que tão bem conheço: o SR325.

Enquanto esperava o envio do produto, li e assisti a diversos testes do novo SR325x, falando dos avanços feitos com a nova espuma mais plana, a tão criticada faixa de cabeça que, para muitos, era desconfortável e que agora se tornou mais firme e melhor acolchoada, e do tão ‘difamado’ cabo grosso e pouco maleável.

Com certeza a Grado se redimiu de sua insistência em manter, por anos a fio, esse cabo, e finalmente colocou um cabo mais maleável (ainda que de uma bitola semelhante a anterior) mas muito mais bem acabado, o que dá uma sensação de ‘modernidade’ que o fone Grado nunca teve.

Mas as mudanças maiores se deram internamente com: uma nova bobina de diafragma totalmente revista, buscando melhorar ainda mais a eficiência do fone (que na minha opinião já era excelente), e baixar ainda mais a distorção.

Uma velha discussão que acho que nunca haverá consenso, é quanto ao conforto e design ‘retrô’ dos fones Grados. É uma questão de ame ou odeie. Não pressinto que haverá, um dia, o meio termo, e como para mim o que é crucial é sempre a performance sonora, eu não sou a pessoa mais indicada para palpitar nesta discussão ad infinitum.

Mas se serve de ’consolação’, a sensação é que com a nova espuma, e as 340 gramas finais deste Grado, e a nova fita de sustentação melhor acolchoada, tudo parece amenizar um pouco os que acham esses fones desconfortáveis.

Eu como estou acostumado com eles, demorei apenas para ajustar eles em volta do meu par de orelhas – que vem crescendo ano a ano (gostaria de que alguém me explicasse o motivo do nariz e orelhas continuar crescendo, enquanto o resto todo definha. Será uma idiossincrasia da existência?). E, depois de devidamente ajustado, não achei nem melhor ou pior que o meu de referência.

Para o teste, utilizei o celular e o amplificador de fone do meu pré de linha Nagra Classic e, no final do teste, o DAC Gold Note DS-10. Nas três condições achei excelente sua performance. Eu irei na ‘contramão’ de diversos articulistas, que consideraram o SR325x uma evolução do SR325e. Pois considero ‘evolução’ um produto que supera em tudo ou quase tudo, o seu antecessor. E, sinceramente falando, este não foi o caso.

Acho sinceramente que a Grado buscou ‘atualizar’ o novo modelo, atendendo mais a um nicho de mercado mais jovem, que está acostumado com fones com sonoridade mais aberta (o que para muitos é definido como ‘transparência’), e com as duas pontas mais extensas.

Isso comprometeu o equilíbrio tonal do novo modelo? De maneira alguma. E acho que esta tendência cairá no gosto de muitos consumidores mais jovens, que só escutam música em fones de ouvidos.

A assinatura Grado manteve-se intacta, com inteligibilidade excelente em todo o espectro audível, equilíbrio tonal preciso permitindo ouvir em volumes seguros, sem faltar peso, energia e velocidade nos graves. Região média orgânica, realista e muito natural. E agudos com enorme extensão, sem nenhum resquício de brilho (coloração), ou falta de arejamento.

Os amantes de fones fechados reclamam dos graves de fones abertos – e se querem mudar de opinião, ou ao menos ver que a ‘fila anda’ também em termos de tecnologia, ouçam este SR325x em um bom amplificador de fone, e descubram como seus graves são corretos e decentes!

E se a pessoa for consciente, e ouvir nos volumes seguros, mesmo sendo aberto, o vazamento não incomodará tanto as pessoas em volta.

Os transientes são espetaculares, assim como a escala dinâmica do pianíssimo ao fortíssimo, mostrando o acerto, em termos de menor distorção, dos novos diafragmas.

Ele também me pareceu com menor ruído de fundo – será a nova fiação de fio de puro cobre criogenado? Independente do que seja, foi audível em diversas gravações de música clássica essa melhora na inteligibilidade da microdinâmica.

Sempre gostei do meu fone Grado (e de todos que testei dessa marca), por não inventarem moda turbinando os graves ou acentuando brilho no médio-alto para impressionar em uma primeira audição. Pelo contrário, todos que tive ou testei primam pela naturalidade e musicalidade dos timbres, levando-o a ser ‘descartado’ pelo público mais jovem como fones ‘sem graça’ (ouvi isso de inúmeros novos leitores), e só entendi essa crítica quando comecei a perguntar quais os fones de referência desses leitores. Aí entendi aonde o ‘bicho pega’: todos estão acostumados com fones com hiper-graves selados e com um equilíbrio tonal catastrófico.

Esses leitores só entenderão a beleza de uma assinatura Grado, se reeducarem seus ouvidos e abrirem o leque do seu universo musical. Do contrário, qualquer fone Grado ou de outros fabricantes que estejam nessa direção de total equilíbrio tonal, sempre soarão sem sal e sem açúcar – não haverá solução para este problema.

E aí caímos em uma outra discussão: a vaidade humana. Muitos não aceitam que precisemos nos educar auditivamente para compreender o que estamos fazendo de certo ou errado em nossas escolhas. Alguns leitores se sentem ofendidos quando entro neste tema, mas essa é uma premissa verdadeira: não nascemos sabendo. Nossos cinco sentidos precisam ser educados e refinados a vida toda. E ouvir um conselho de alguém mais rodado, não significa nenhum tipo de intromissão, pois pode ou não ser acatado.

O que não posso deixar de dizer, no caso específico de fones de ouvido, é que os ruins exigem – para dar algum ‘barato auditivo’ – serem colocados em alto volume. E os corretos em termos de equilíbrio tonal, não! Então não se trata de uma questão de gosto ou imposição, e sim de saúde auditiva!

E se procura um fone com as qualidades necessárias nesta direção, a Grado é um fabricante que trilha este caminho.

Voltando à questão inicial, de não ter achado o fone uma evolução integral do seu antecessor, é que sou um velho chato, rabugento e exigente que, ouvindo ambos por quase três meses, sentiu falta no novo modelo do calor e a inteligibilidade das texturas tão divinas do SR325e. Texturas palpáveis, bem definidas e com um grau de transparência na intencionalidade, que muitos fones muito mais caros não possuem.

E este é o principal fato de eu nunca ter me desfeito deste Grado. Pois para mim, a apresentação das texturas do SR325e se mostrou superior ao novo modelo.

Aí, falando com meu filho, que pedi para ouvir os dois e ver se eu não estava sendo muito ‘crica’, me disse o seguinte: “Pai, se o leitor não tiver com os dois modelos em mão, ele jamais vai perceber este ‘detalhe’”. Adoro quando os filhos não querem bater de frente ou pisar no nosso calo, quando amenizam algo que achamos importante à um ‘detalhe’.

Aí pensei, ponderei e concordei. O SR325x não tem nenhum problema na apresentação de texturas, só não tem aquele ‘detalhe’ de maior calor e realismo, que nos leva a perceber as nuances por de trás de toda intencionalidade, e isso me é tão caro, e demorou tanto a atingir este nível em meus sistemas de referência, que realmente posso ter me tornado um chato, quanto a este ‘detalhe’.

CONCLUSÃO

Acho que a Grado foi muito feliz nas alterações feitas na linha Prestige, a mais vendida e a que mais deu visibilidade a marca no mundo. Esta série possui o mérito de uma relação custo/performance muito alta.

E aos que apreciam fones com excelente equilíbrio tonal, realismo, naturalidade e musicalidade, se ainda não conhecem, precisam ouvir esta nova geração.

Acho também que as pontas mais estendidas agradarão em cheio aos jovens que querem um fone com transparência absoluta, mas com calor suficiente para não tornar a audição fatigante.

Se é nesta direção que deseja encontrar seu novo fone de ouvido, ouça o SR325x com enorme atenção!

Nota: 76,5
AVMAG #276
KW Hi-Fi
(11) 95422.0855
(48) 3236.3385
R$ 2.200

FONE DE OUVIDO MONTBLANC MB 01

Juan Lourenço

O fone de ouvido MB 01 da Montblanc é a primeira tentativa da célebre marca alemã no áudio hi-end. A marca é famosa pelos instrumentos de escrita e uma série de produtos de luxo, como relógios, bolsas de couro e muitos outros. Para não correr riscos, a Montblanc passou a tarefa para o mago dos fones de ouvido Alex Rosson, fundador da Audeze – um nome de peso e que, por vezes, surpreendeu o mercado audiófilo com verdadeiras gemas em forma de fones.

O MB 01 é um fone de ouvido Bluetooth com cancelamento de ruído ativo, possui drivers de neodímio de 40 mm com resposta de frequência de 70 Hz a 18 kHz, impedância 21 Ohms (±10% a 1 kHz), sensibilidade de 104,3 dB ± 2,5 dB (1 mW / 1 kHz), THD inferior a 1% (a 1 mW / 1 kHz) e codecs aptX Adaptive, e vários formatos de áudio como Flac e AAC inclusos. Possui Bluetooth 5.0 multiponto para até dois aparelhos, com alcance de 10m, Wireless e Wired. Conectividade com Smartwatch e Google Assistant, além do próprio app nas lojas de aplicativos Android e Apple, para configuração de parâmetros de equalização e ajuste do cancelamento de ruído ativo. A bateria possui duração de até 20 horas de uso contínuo. O fone vem equipado com dois cabos: um USB A/C para carregamento da bateria, e outro USB C / 3.5 mm – o popular P2.

O acabamento e o design são de muito bom gosto. Parece uma enorme redundância dizer que tudo neste fone exala bom gosto e sofisticação, mas em se tratando de fones Bluetooth, o nível costuma ser baixo, com algumas poucas marcas se aventurando ‘fora da caixinha’ e, como era de se esperar, a Montblanc fez mais que seu dever de casa, superando as expectativas e elevando o nível de sofisticação à um novo patamar. Da embalagem, em papel cartão com ótima gramatura, para manter uma estrutura rígida contra impactos, e com textura acetinada, a harmonia entre os materiais escolhidos para o fone, o toque e a sensação que cada um provoca, tudo no MB 01 nos faz sentir especial. Do alumínio da armação, com três opções de acabamento anodizado brilhante, ao copo com três acabamentos: preto, cinza e dourado com textura aveludada – mas não é qualquer aveludado, tem a maciez correta e nem de longe parece aquele emborrachado barato. O dedo desliza como se estivesse tocando em alcântara. Os botões de comando play/pause, e controle de ruído ativo (ACN), ficam na concha direita, possuem boa localização e ótima sensação tátil. Logo após os botões, temos a entrada USB-C e o LED indicativo da bateria. O couro escolhido para as almofadas das conchas e o encosto de cabeça, é de altíssimo padrão e, como era de se esperar da Montblanc, foge completamente ao que estamos acostumados em fones – até mesmo em fones top de linha de outras marcas. É tão macio, sedoso e ao mesmo tempo firme, que é difícil acreditar que seja couro natural, mas é! As almofadas possuem pouca ou quase nenhuma ondulação, isolando os ouvidos de ruídos externos com muita eficiência. A memória da espuma é muito boa, copiando a pele ao redor das orelhas sem incômodos, a pressão exercida pelas conchas está em um nível próximo da perfeição, e o peso baixo do fone garante conforto extra para ouvir música por horas e horas sem fadiga.

Talvez seja em nome deste conforto ímpar, que Alex Rosson limitou a bateria em 20 horas. Não existe almoço grátis, e a tecnologia ainda não fez as baterias perderem tanto peso assim. Mais horas de uso significam mais peso, sem dúvida. Carregar este peso extra para ter horas a mais, sendo que a média de uso de fones de ouvido gira em torno de 4 a 5 horas/dia, talvez não valesse a pena, e devo dizer que penso como o Mr. Rosson: eu prefiro o conforto – afinal, é um fone também para viagens.

A função Play/Stop nada mais é que um sensor que detecta quando o fone está na cabeça ou no pescoço, pausando ou iniciando a música conforme a pessoa tira ou põe o fone. Esta função vem desativada de fábrica – para ativá-la, basta manter pressionados simultaneamente os botões ‘menos’ e ANC.

COMO TOCA

Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Fontes: Astell & Kern modelo KANN, smartphone Samsung S10+, iPhone 8 Plus.
Após retirar o fone MB 01 da embalagem, deixei carregando por duas horas para estabilizar a bateria e iniciar os testes, e me atentar para a duração da mesma, que chegou às 20 horas prometidas mesmo com cancelamento de ruído ativado. Após este período, iniciei as audições com o Astell & Kern: o som é muito bom logo nos primeiros acordes, seu equilíbrio tonal é realmente superior, não deixando dúvidas quanto ao que virá após o amaciamento.

Deixei o MB 01 amaciando por cerca de 100 horas, revezando entre cabo e Bluetooth. Após as 100 horas, o fone ganhou extensão nos extremos das frequências altas e baixas, ganhou uma profundidade e largura de palco, e com isto uma naturalidade estonteante! A separação dos instrumentos e o ar entre eles chegam a nos pegar de surpresa, pois não é comum ouvir este tipo de detalhamento em fones Bluetooth – era coisa de fone aberto, e o mais legal é que este comportamento não se altera quando utilizamos o ANC.

Iniciei os testes com o jazz da Dianne Reeves, disco Bridge, e Tribute to Ellington com Daniel Barenboim & Guests. O MB 01 soa completamente descongestionado, com a região média recuada e extremamente clara, sem jamais soar fria ou dura. As texturas do piano, do contrabaixo acústico e do violão são excelentes, muito acima do que esperava, e o palco amplo e com ótimo foco e recorte permite um nível de relaxamento que, novamente, só nos fones com fio. Parece fone aberto mesmo, de tão natural que é. É possível perceber rebatimentos dos locais de gravação, e o tamanho dos instrumentos e vozes elevam o nível de realismo que a música pode alcançar.

Cada coisa está em seu devido lugar, com seu tamanho próximo do ideal, as freqüências baixas não sobram, como acontece em
muitos fones concorrentes deste. Devo dizer que, quem está acostumado com Sony e JBL, realmente sentirá falta dos excessos, pois como o MB 01 é um fone pensado para o amante da fidelidade – vide os projetos para a Audeze – não há em sua configuração padrão nada que sobre. Mas se gostar de uma pitada a mais de grave, não tem problema, é possível ajustar os parâmetros de equalização no aplicativo. É melhor ter como adicionar do que não ter como tirar, como acontece muitas vezes.

É muito fácil trocar as bolas e achar que o MB 01 tem menos extremos, mas não é este o caso. Ouvido hip-hop, reggae e samba na configuração padrão, o fone desce bem nos graves e as altas estão no ponto certo para não espirrar e fazer do fone um picador de gelo nos ouvidos. A questão é que ele desce sem borrar, melhor dizendo, ele desce sem que o grave se torne de ‘uma nota só’, o que permite boas audições por muito mais tempo e uma total inteligibilidade do acontecimento musical, das intenções dos músicos e do diretor de gravação. E a música é feita disso, do contrário seria só música ambiente de elevador.

CONCLUSÃO

O grande trunfo na manga do Montblanc MB 01 é a sua versatilidade em transitar entre os diferentes estilos musicais, pois foi concebido para ir além da diversão e do comercial, foi feito com uma assinatura sônica mais para o neutro. Ele aceita muito bem qualquer estilo musical, enquanto alguns dos fones mais badalados vão bem apenas com pop, hip-hop e um jazz mais pulsante, um fone mais próximo do correto comporta todos os estilos sem fazer refém, tocando de música sacra à erudita, de black metal à jazz, de blues à salsa.

Este é o MB 01, um fone para quem não abre mão de sentir a música.

Nota: 77,0
AVMAG #275
Montblanc
www.montblanc.com.br
R$ 4.800

FONE DE OUVIDO GRADO STATEMENT GS3000E

Fernando Andrette

Outro dia, um grande amigo e músico me falou algo que eu nunca tinha pensado com o devido interesse. Que as pessoas sabem muito pouco do que realmente desejam e buscam em um fone de ouvido. E fechou sua conclusão afirmando que a maioria dos seus amigos escolheu seu fone mais pelo conforto, ou por “modismo”, e não exclusivamente pela sua performance.

Dei corda e perguntei a razão de sua conclusão tão contundente, e ele me disse que sempre que lhe pedem ajuda para a indicação de um bom fone, as “resistências” levantadas às sugestões sempre são: preço, ergonomia e design, e que é uma marca “desconhecida”. E fechou sua argumentação, indignado, como a performance se encontra em segundo ou terceiro plano.

Não deixo de tirar sua razão, mas eu acrescentaria que muitos consumidores estão acostumados com fones como produtos descartáveis, que recebem como um acessório na compra de um celular, ou herdam dos irmão mais velhos, parentes, amigos, ou compram seus fones “falsificados” nos camelôs das grandes cidades.

Eu gosto muito de observar tudo que está à minha volta, e quando vou a São Paulo e me locomovo de metrô, costumo olhar atentamente os fones das pessoas, o volume que elas usam para escutar suas músicas e as marcas e modelos.

É lastimável o que vejo nas ruas: jovens com um volume absurdamente alto, estragando sua audição silenciosamente. Minha vontade sempre foi de abordar e explicar o perigo de exposição a volumes acentuados em tão curto espaço de tempo, mas evito fazer isso pois minha calvície e cabelos brancos certamente darão uma imagem deturpada de minha intenção. Pois “jovem” não está nem aí para pessoas da minha idade!

Se esses consumidores soubessem que um bom fone de ouvido com correto equilíbrio tonal é um investimento de longa data, e que preservaria sua audição, acredito que dicas de consumidores mais conscientes como o meu amigo músico, seriam muito úteis.

E o mais triste é que fones com excelente equilíbrio tonal não são necessariamente caros, ou apenas dedicados a audiófilos.
O teste deste mês tem bastante a ver com o tema que utilizei para fazer a introdução desta avaliação.

O Grado Statement GS3000e também é um fone que divide opiniões em termos de design, e por não ser um fone selado, o que consequentemente faz com que a pessoa ao seu lado escute o que você está ouvindo, como também não isola o ouvinte do ambiente externo.

O que esses críticos esquecem é que fones selados possuem um outro tipo de problema: o equilíbrio tonal não é tão bom como o de fones abertos (claro que para toda regra existe exceção, mas elas são poucas e caras).

Ri muito ao ler em um review que o articulista afirma que, com o GS3000e, o ouvinte precisa se isolar em um ambiente para não atrapalhar as outras pessoas (fiquei imaginando as famílias que possuem filhos adolescentes fechados em seus quartos ouvindo heavy metal a ponto de furar nossos tímpanos, ou os maridos audiófilos escutando pela décima segunda vez a mesma faixa da cantora Jacinta). Essas famílias soltariam rojões se o filho ou o marido audiófilo comprasse este fone da Grado, mesmo com todo vazamento de som! Não tenham dúvida meus amigos. Claro que seria muita maldade usar este fone na hora que a esposa esteja dormindo e você deite ao seu lado para desfrutar das novidades da semana no Tidal, mas em qualquer outro ambiente, o Grado certamente seria muito bem recebido como um bálsamo!

Um fone Grado você reconhece a metros de distância, pois seu design retrô lembra aqueles fones utilizados por telefonistas ou radioamadores dos anos 40/50. É o tipo do design que você ama ou odeia instantaneamente. Um outro amigo, fã dos fones Grado, sempre diz que se as pessoas dessem um crédito e ouvissem suas inúmeras qualidades, essa questão de design cairia por terra.
Concordo plenamente, tanto que tenho um fone da Grado como referência há mais de dez anos!

A aparência do GS3000e segue o design “padrão Grado”, mas por ser da série Statement (a top de linha) possui um acabamento premium com uma estrutura mais bem acabada com forração coberta de couro, muito mais confortável que o meu modelo. Possui espumas de grande dimensão, que colocadas na cabeça parecem realmente estranhas pela dimensão e por cobrir totalmente as orelhas.

Seu peso total é de apenas 300 gramas (o que, para um fone Grado, é algo surpreendente). Na grande maioria de seus fones, a Grado utiliza mogno ou uma combinação de madeiras para a construção do invólucro do fone.

Neste modelo, no entanto, a Grado optou pelo uso de uma madeira tropical chamada Cocobolo, também utilizada no corpo das cápsulas de algumas de suas cápsulas para toca-discos. Além da sua maior leveza para o driver de 50mm, o fabricante afirma que a sonoridade desta madeira se mostrou muito eficiente em termos acústicos e no equilíbrio tonal do fone (deste aspecto, falaremos adiante).

Para os que já estão imaginando as desvantagens do uso de espuma em vez de couro nas bordas do fone, a Grado disponibiliza kits de almofadas para venda avulsa por uma fração do custo do fone (aproximadamente 50 dólares o par de espumas).

Outra vantagem dos fones abertos (além do equilíbrio tonal), é que você não estará com ele molhado de suor depois de duas horas de audição, como costuma acontecer com os fones fechados, e nem tampouco com as orelhas quentes.

Para o teste utilizamos exclusivamente o pré de fone do Nagra Classic.

Outro ponto muito discutido nos fóruns é que os cabos dos fones da Grado são muito grossos e desajeitados (fato que tenho que concordar), porém respeito a decisão do fabricante em usá-los, pois sua performance justifica a escolha.

Claro que temos outros excelentes fones concorrentes que encontraram outras soluções de cabos muito mais leves e maleáveis, mas se estivermos levando em consideração apenas a performance sonora, temos que admitir que os cabos usados pela Grado são muito corretos.

O GS3000e vem com um adaptador para celulares, mas eu não acho que ninguém em sã consciência utilizaria um fone desse naipe para ouvir em um celular, mas…

Tivemos o prazer de ter sua companhia por seis semanas, e foi uma experiência marcante e que deixará muitos questionamentos futuros do que necessariamente um fone hi-end necessita de fazer de essencial para ser considerado uma referência absoluta.

Se você responder que precisa ter o melhor equilíbrio tonal possível, diria que você está 70% correto. O que afirmou que além de um excelente equilíbrio tonal, precisa primar pela musicalidade e baixa fadiga auditiva, diria que avançamos para a casa de 90%.

Mas, para se atingir os 100% (se é isto possível), ou o mais próximo deste tão cobiçado objetivo, é preciso que a soma de todos os 8 quesitos tenha um grau de equilíbrio tão intenso e coerente, que ao escutar este resultado, percebamos que o cérebro parou de avaliar e está apenas desfrutando do que está ouvindo.

Muitos levam este resultado para o lado da subjetividade, quando nada tem de subjetivo. Ao contrário, para se chegar a este resultado é preciso uma expertise de muitos anos de estrada e saber o que precisa se buscar para se atingir este grau de preciosismo. Este Grado encontra-se neste patamar, dos fones que chegaram lá passando etapa por etapa desta evolução.

O interessante dos produtos que atingem o topo, é que não o fazem por terem uma única característica que sobressai em relação à concorrência. Ao contrário, eles são a conjunção de vários fatores, que se juntam para oferecer um resultado impecável! E esmiuçar essas qualidades não é tarefa fácil para nenhum revisor, pois corremos o risco de tirar conclusões erradas ou precipitadas.

Claro que sempre achamos um jeito de tentar expressar nossas conclusões em uma frase ou adjetivo, mas isso está longe de resolvermos o problema.

Outra maneira é ser objetivo e direto, solicitando que o leitor escute o equipamento, na esperança que ele observe o mesmo que eu observei. E sabemos que também não funciona, desta maneira simplória.

Este é o tipo de produto que, quando chega a nós, já sabemos que trará o dobro de responsabilidade e trabalho. Mas acredite, vale muito a pena!

Todo melômano e audiófilo com mais experiência, irá observar que o Grado GS3000e tem um grau de “musicalidade” impressionante, que o convida a ouvir o dobro de tempo de qualquer outro fone. Perceberá também que a organização da música em nossa mente se faz sem pontos escuros (estou falando de inteligibilidade) ou passagens difíceis de entender, mesmo as mais complexas. Perceberá também que as texturas são magistrais, pois possuem um nível de fidelidade e apresentação “real” dos timbres – e que poucos fones tem essa ambição.

Entenderá, perplexo, que ainda que possa achar que as pontas poderiam ser mais imponentes, elas não são, por uma única razão: estão isentas do menor resquício de coloração.

Essa é uma discussão muito antiga, e que as pessoas só entenderão quando tiverem a coragem de ter como referência absoluta a música ao vivo não amplificada. Aí será possível se falar como soa realmente um picolo na última oitava, um violino, um trompete com surdina, um piano, etc. As pessoas esquecem que muitas das gravações que usam como referência absoluta são “turbinadas”, comprimidas, e sabe-se mais o que!

Em um dos últimos Cursos de Percepção Auditiva ministrado no Hi-End Show, falei que a primeira característica audível de uma gravação que foi equalizada é que seu cérebro percebe (se tiver como referência música ao vivo não amplificada) que as texturas são pobres. E apresento duas gravações com vozes (do mesmo cantor) uma com um reberb digital que mudou o equilíbrio tonal da voz, e outra sem este maldito reverb digital. A diferença de textura e timbre é gritante.

Neste fone, as diferenças foram ainda mais intensas, mostrando que ele não será nada condescendente com as estrepolias cometidas pelos engenheiros de som que se consideram “semi deuses” e acham que não usar uma equalização aqui, outra ali irá diminuir sua importância como engenheiro de gravação.

Outra característica que sempre chamo a atenção nos cursos: é do “menos é mais”. Em toda a cadeia de captação do áudio e reprodução do áudio, este é o único caminho para não perder fidelidade.

O GS3000e certamente é um grande defensor desta qualidade, de preservar a fidelidade em todas as etapas, e caso haja algum deslize ele irá colocar o dedo na ferida sem dó!

Então, meu amigo, a primeira pergunta que certamente já pairou em sua cabeça, após essa descrição em detalhes de seus atributos é: “este fone é para todo mundo?”. Certamente que não – começando pelo seu valor, que assustará a maioria dos mortais.

Mas aos amantes de música não amplificada, ou mesmo amplificada corretamente e com parcimônia, este fone é uma das melhores opções do mercado sem dúvida alguma!

Ouvimos todos os gêneros musicais possíveis, e seu grau de precisão, equilíbrio e fidelidade é surpreendente em qualquer ângulo de análise. Sua assinatura sônica é sempre em favor da musicalidade, sem pirotecnias ou arroubos que encantam os “marinheiros de primeira viagem” e depois se tornam enfadonhos e repetitivos.

Com o GS3000e, o ouvinte sempre será levado a ouvir a música plenamente (sem elucubrar se aquela passagem deveria ter mais peso, ou soar na frente da cabeça). Pois é o tipo de dúvida que se torna irrelevante, tamanho o grau de refinamento com que a música é apresentada.

Colocar defeitos em um fone desse nível é uma tarefa difícil, e será fora da esfera da performance. A única coisa que ouvi dos amigos que mostrei o GS3000e foi do cabo, que realmente assusta pela bitola. Mas que passou instantaneamente assim que apertei o Play. Você simplesmente submerge em sua apresentação, para não querer sair mais daquele estado de êxtase, de ouvir música de forma tão emblemática e emocionante!

CONCLUSÃO

Existem produtos que nos tocam por inúmeros motivos, e muitos têm este encanto por algum tempo, e depois nos abandonam (ou será ao contrário), e existem aqueles produtos de áudio que estabelecem em você um novo nível de referência que torna seu encanto “atemporal”.

E cada vez que você tiver a oportunidade de revisitá-lo, as mesmas sensações se farão presentes. O GS3000e encontra-se neste grupo tão pequeno que quase pode ser contado nos dedos das duas mãos.

Se é isso que você busca em um fone de ouvido, ouça-o, urgente!

Nota: 95,0
AVMAG #271
KW HiFi
(11) 95442.0855
US$ 2.600

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