Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br
Todo mês um LP com boa música & gravação
Gênero: Clássico / Eletrônico / Clássico Moderno / Rock
Formatos Interessantes: Vinil Importado
Como fã de música clássica, world music, rock progressivo em várias vertentes, e de jazz – entre outros – sinto-me sempre atraído por música bem elaborada, pensada e arranjada.
Acho divertido quando vou ler críticas sobre músicos e discos que eu gosto – e eu faço isso sempre depois de gostar (ou não) de
algum disco ou músico ou banda. Como costumo dizer nas minhas colunas sobre música: não sou um crítico musical, e como o que me interessa é sempre o resultado final e como aquele trabalho mexe comigo (ou não), divirto-me lendo algumas críticas ‘profissionais’. Um exemplo é o disco Will Power do músico inglês Joe Jackson, que é um expoente de pop e rock com influência de jazz, que já brincou com a música clássica, com o formato erudito e orquestral, pelo menos quatro vezes (incluindo Will Power). É um disco que gosto inteiro, que ouço inteiro, e que o faço desde que ouvi pela primeira vez.
Críticas à Will Power incluem: “auto-indulgente”, e eu acho que todo músico deveria fazer música primeiro para ele mesmo, e depois para o público, então… Também dizem que é “pretensioso”, e eu penso que ele conseguiu fazer um trabalho decentemente elaborado e que agradou a muitos, então… E também é chamado de “melodramático” e “pomposo”, entre muitos outros adjetivos. Mas Will Power não vive só de críticas negativas, também recebeu elogios, e é querido por vários críticos e ouvintes!
Nascido em 1954 em Staffordshire, na Inglaterra, David Ian Jackson começou a aprender violino e depois, mais seriamente, piano, o qual tocava em bares no final da adolescência. Logo foi estudar composição na Royal Academy of Music, em Londres. Seu apelido de “Joe” foi por sua semelhança com o personagem principal da série televisiva de marionetes Joe 90 (dos mesmos produtores da mais bem sucedida Thunderbirds Are Go!). Em 1978, Jackson assinou com a gravadora A&M Records com quem lançou oito álbuns de estúdio, até fazer Will Power, que é sua primeira incursão na música instrumental clássica.
Este disco – chamado por muitos críticos de relaxante, bem composto e bem feito – é produzido, arranjado, orquestrado e escrito pelo próprio Joe Jackson onde ele, também, toca piano, sintetizadores e percussão. É um disco que faz o uso de sintetizadores de maneira orgânica com a orquestra e outros músicos – não fazendo destoar pelo uso de timbres estranhos ou ‘modernos’, se atendo à formatos bastante acessíveis e, por vezes, com um ‘jeitão’ de trilha sonora – que é, afinal de contas, um dos maiores responsáveis pela disseminação de música orquestral em tempos modernos.
Acompanham Jackson, na empreitada, uma equipe de quase 80 músicos, tocando fagote, cello, clarone, clarinete, baixo, contrabaixo acústico, bateria, guitarra, oboé, percussão, piano (outro além do próprio Jackson), flauta, flautim, sax soprano, sax tenor, sax alto, trompa, trombone, trompete, viola e violino – e, curiosamente, uma das violinistas foi a americana Marin Alsop que, décadas depois foi regente titular da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP) e diretora artística da Sinfônica de Baltimore! E um dos violistas foi Lamar Alsop, pai de Marin!
Como curiosidade: a faixa Will Power foi originalmente composta como ‘Overture For Two Pianos’, para as irmãs pianistas Katia e Marielle Labeque. E a faixa Symphony in One Movement é uma versão reescrita da trilha orquestral feita para o filme japonês Shijin No Ie (Casa do Poeta), exibido na feira Expo ‘85 Science, em Tsukuba, no Japão.
O disco Will Power foi gravado nos estúdios da RCA, em Nova York, entre fevereiro de 1986 e janeiro de 1987, usando um gravador digital de fita magnética Sony PCM-3324, de 24 canais, e finalizado e masterizado no sistema PCM-1630 – que registrava sinal digital estéreo em um gravador especialmente modificado de fita magnética de vídeo tipo U-matic.
Para quem é esse disco? Para os fãs de Joe Jackson, para os fãs de música instrumental de alta qualidade, fãs de trilhas sonoras e de música clássica moderna melódica e acessível.
Infelizmente este vinil não saiu nacional (nem em CD). Jackson teve discos de pop/rock que saíram no mercado nacional, mas este acho que é muito ‘pérola’ pouco reconhecida, para poder ser lançado aqui. No entanto, não é impossível de ser encontrado em LPs de origens de primeira qualidade, como prensagens americanas, inglesas, alemãs e até o eterno ‘santo graal’ vinílico: prensagens japonesas. Não houve, até onde consegui apurar, nenhuma prensagem da ‘Era 180g’, ainda. Já cheguei a vê-lo em sebos no Brasil, assim como no Mercado Livre. Uma das prensagens americanas, feitas na Electrosound no estado da Indiana, nos EUA, vinha em vinil de melhor qualidade, e que era também preto translúcido.
Bom maio! E que a música não acabe nunca mais!