Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Eu dei uma ‘fuçada’ na pesquisa que postamos na Edição de Aniversário, e em um universo de quase 1500 respostas que já recebemos, há uma tendência que parece solidificada: 50% dos nossos leitores já optaram pelo streamer como sua principal fonte para reproduzir música.
E a outra metade se divide entre fonte analógica e digital, o que mostra como o leitor da revista está sendo mais cauteloso em abrir mão de suas mídias físicas, e embarcar de vez no armazenamento de seus discos nas nuvens!
Acho que essa tendência é irreversível (principalmente entre os leitores mais jovens), mas que sofre maior resistência à medida que o leitor com mais idade não quer cair no erro que cometeu, ao vender sua coleção de LPs por centavos de dólares nos anos noventa!
Então, produtos como o Mark Levinson Nº 5101 são perfeitos para essa fase de transição, em que queremos experimentar o novo sem abrir mão de nossa mídia física (o que soará como música divina para metade dos nossos leitores que querem desfrutar de todas as mídias disponíveis no momento).
O que mais me impressionou no novo 5101, é ele custar menos da metade do 519, o CD-Player de Referência da Mark Levinson, e ainda assim ter o nível de construção, acabamento, versatilidade e performance tão próximo da linha acima! O que faz deste 5101 um ‘Melhor Compra’, em qualquer parâmetro racional que utilizemos para a escolha de um CD-Player com DAC e streamer de alto nível.
Claro que, para o tornar tão competitivo, algumas mudanças teriam que ser feitas, mas a ‘identidade’ que está presente na marca desde os anos oitenta, com um gabinete anodizado preto com um painel frontal arredondado, em destaques prateados e LEDs vermelhos que nos permitem ver os comandos a distância. Para baratear custos, a gaveta de carregamento por slot suporta formatos de discos como: SACD, CD-A, CD-R e CD-RW.
Ele é montado contra choque, em uma unidade de aço, com uma blindagem para redução de ruído elétrico e mecânico. Basta encostar o CD para ele ser ‘sugado’ de maneira segura e com baixo ruído operacional.
O DAC interno é o Precision Link II proprietário, baseado no chip ESS Sabre ES9026PRO de 32-bit, com circuito especial de eliminação de jitter. Ele pode processar arquivos: FLAC, WAV, AIFF, OGG, MP3, AAC e WMA – de até 24-bit/192kHz em PCM, ou DSD128. Existem ainda sete opções de filtros para PCM, e quatro para DSD.
O 5101 também possui uma saída analógica, semelhante à existente nos integrados 5802 e 5805. Segundo o fabricante, os ganhos não são os mesmos utilizados nos integrados.
Cada canal (segundo o fabricante), é construído em torno de estágio de ganho único discreto, acoplado direto e balanceado, fazendo uso de um buffer de tensão proprietário. Segundo os engenheiros, foi feito um longo estudo para manter o nível de ruído o mais baixo possível com o uso de cinco fontes de alimentação individuais apenas para o chip DAC, além de outras quatro (duas por canal), para o fornecimento de energia para o estágio de saída analógica. Uma fonte de alimentação chaveada fornece energia para o drive SACD e todos os circuitos digitais, enquanto outra fonte de alimentação linear, com um transformador toroidal e retificadores Schottky de baixo ruído, fornece energia para os circuitos analógicos.
As fotos mostrando o 5101 por dentro, não fazem justiça ao nível de qualidade de construção e limpeza de todas as etapas do circuito. Mostrando que, mesmo na linha de entrada, os produtos Mark Levinson seguem o mesmo alto padrão da série de Referência.
Seu arsenal de entradas digitais é enorme, como: coaxial, ótica, S/PDIF ou USB (senti falta apenas de uma entrada AES/EBU, para poder usar o melhor cabo digital que dispomos como Referência). Há duas saídas analógicas (RCA e XLR) e saídas digitais (S/PDIF, coaxial e ótica).
Para o uso do streamer, o usuário pode optar pela entrada de rede Ethernet e pelo Wi-Fi (para essa opção é fornecida uma antena para ser conectada ao painel traseiro). A Mark Levinson disponibiliza dois aplicativos: o MusicLife da Harman, que fornece navegação de conteúdo em serviços de streaming (Tidal, QoBuz, Spotify, etc), e o 5Kontrol para quem possui outros equipamentos Mark Levinson no sistema.
Eu penei um pouco para me adaptar ao MusicLife via Android, mas depois de algumas tentativas e erros, entendi a sua ‘lógica’ (estou tão acostumado a ter que usar plataformas tão distintas, que acho que já estou me familiarizando com cada uma delas).
Como todo produto deste fabricante, toda vez que é ligado, ele passa por um padrão de autoteste, antes de ser liberado para uso. E se não for acionado logo após ter sido ligado, ele entra em modo de espera e um LED vermelho ficará piscando como um ’vagalume’.
Para o teste, utilizamos os integrados Arcam SA30 (leia teste na edição 284), Krell 300i (teste na edição de julho de 2022), Stereo 130 da Leak (teste em setembro de 2022), e Sunrise Lab V8 Anniversary (teste em agosto de 2022). Caixas acústicas: Wharfedale Elysium 4 (leia teste edição 281), JBL L82 Classic (leia teste edição 281), Wilson Audio Sasha DAW, Estelon YB Mk2 e JBL L100 Classic (leia Teste 2 nesta edição). Cabos de força: Virtual Reality série Trançado, Sunrise Lab 20th Anniversary (leia teste na edição 284), e Transparent PowerLink MM2. Cabos digitais: USB Anniversary da Sunrise Lab, Kubala Sosna Revelation. Coaxial: 20th Anniversary da Sunrise Lab, e Virtual Reality.
Para o teste, como sempre fazemos em produtos que na verdade possuem um pacote de opções, foi separar no final as notas avaliando-o como CD-Player, DAC e streamer. O que demanda mais tempo de teste, mas permite dar ao nosso leitor uma radiografia do potencial do produto em cada frente de atuação.
O 5101 veio lacrado, o que necessitou de quase 300 horas para amaciarmos (100 horas para o CD-Player, 100 horas para o DAC, e 80 horas para o streamer). A boa notícia é que, como CD-Player o usuário, já poderá ir amaciando, ouvindo com prazer o produto.
Sua assinatura sônica, além de correta, é encantadora, pois está muito mais para o lado da naturalidade e musicalidade, do que para o da transparência e analítico.
Fizemos a primeira audição, para as anotações iniciais, apenas com os discos da CAVI (SACD e CD), e muitas informações preliminares foram feitas, principalmente com o CD Timbres e os dois Genuinamente Brasileiro. Pois não é comum um CD-Player sair da embalagem apresentando esse grau de graciosidade na reprodução de texturas, ambiência e transientes. No CD Timbres, anotei: “excelente nível de diferença entre os três microfones, demonstrando o enorme potencial que aparenta ter esse produto”.
Também não passou incólume a capacidade do 5101 de mostrar a ambiência das salas maior e menor do Teatro Alfa (algo difícil nos players sem amaciamento, por estarem um pouco engessados nas altas quando são colocados para as primeiras horas de audição).
Feito esse primeiro contato, deixei por 100 horas o CD-Player, junto com o integrado Krell 300i e a caixa JBL L100 Classic. Aliás, esse setup proporcionou audições memoráveis no teste em conjunto e na avaliação separada de cada um. O que fez com que, no maior tempo de teste, eu alternasse entre o Krell e o Arcam, para ver como a assinatura sônica do Mark Levinson se comportava com integrados distintos.
É muito bom quando dispomos de um arsenal de eletrônicos e caixas para a realização dos testes, pois isso deixa as avaliações muito mais consistentes e precisas. Gostaria muito que o mercado brasileiro voltasse à normalidade, e pudéssemos ter à disposição mais produtos para fechamento dos testes.
Todos ganhamos se isso ocorrer!
Com 100 horas, ficou claro que poderíamos começar a audição das 80 faixas da Metodologia, e aí me veio a ideia de revezar a avaliação de cada quesito, tocando a mesma faixa no nosso transporte de referência Nagra, e ver se haveria diferenças importantes entre o transporte interno do 5101 e um transporte de alto nível externo. Deu muito mais trabalho, mas pudemos constatar que o DAC do 5101 realmente faz um trabalho impressionante, e ele é a razão deste Mark Levinson soar tão bem. Sendo que, com o transporte da Nagra, permitiu observarmos o grau de silêncio e refinamento do DAC interno da Mark Levinson!
Sei que muitos de vocês podem pensar que um transporte interno fará um trabalho melhor e mais preciso que o uso de um transporte externo, que ainda por cima precisará de um cabo digital para ser acoplado ao DAC, e que, portanto, não deve haver melhorias que possam fazer sentido. Mas quando falamos de transportes de nível superlativo, e DACs de alto nível, garanto que essa experiência deve no mínimo ser levada em consideração.
No nosso caso, a maior diferença ocorreu na reprodução das faixas dos quesitos Soundstage e Corpo Harmônico. Aqui as
diferenças foram muito mais que audíveis, foram ‘palpáveis’. Mas, claro que ninguém em sã consciência investirá em um transporte externo custando quatro vezes mais que o CD-Player, e nem foi por isso que fizemos essa experiência auditiva. E sim para saber o nível do DAC interno do 5101. E posso garantir que ele realmente é excelente!
Com 200 horas, ouvimos novamente as 80 faixas, e algo havia melhorado ainda mais: quando não entendemos muito bem o grau de mudanças, costumamos compactar nossas impressões e nomeá-las, para que se tornem mais plausíveis a nós mesmos. Eu costumo aplicar termos como: ‘maior organização nos planos’, ‘arejamento e silêncio bem mais recortado na apresentação dos solistas’, ‘refinamento’ e ‘inteligibilidade’.
Eu tenho minhas ‘palavras-chave’ pessoais, mas por temer que não sejam o suficiente para explanar minhas observações, procuro ser o mais didático que consigo (como ainda não recebi reclamações, acredito que estejam funcionando).
Pois bem, com 200 horas a grande alteração ocorreu exatamente na organização dos planos, com o silêncio de fundo elevando o grau de inteligibilidade tanto da micro como das passagens com fortes alterações dinâmicas, como também do silêncio em volta dos solistas, que permitem um maior refinamento na apresentação e claro: maior conforto auditivo!
Para os leigos ou os com pouca experiência com produtos Estado da Arte, geralmente a palavra chave para explicar essa ‘agradabilidade sonora’ cai no famoso pacote de Musicalidade. Ok, deixemos que assim seja por mais um ciclo, mas lembre-se que Musicalidade é a soma dos nossos sete quesitos, de forma homogênea e coerente.
E por mais que o 5101 se esforce por ser o mais integral e coeso, seu melhor grau de ‘Musicalidade’ ainda será com gravações de maior qualidade técnica. Ainda que ele tenha folga suficiente para nos brindar, em gravações tecnicamente limitadas, com audições sem constrangimento ou vontade de trocar de disco. Mas para que isso ocorra, seus pares deverão estar no mesmo grau de patamar técnico em que ele se encontra.
Seu equilíbrio tonal é excelente, pois ele permite que o ouvinte tenha extensão e decaimento precisos nas duas pontas, e uma região média rica e natural!
Como eu consigo ouvir essas qualidades (vários leitores me perguntam)? Ouvindo seus discos com um bom equilíbrio tonal em volumes moderados (se sua sala de audição permitir é claro).
Quer um ótimo exemplo para realizar o teste se o equilíbrio tonal de seu sistema está correto? Ouça (em 78 dB de pico) o Quarto Movimento da Quinta Sinfonia de Mahler – se o equilíbrio tonal e as extensões forem corretas, você não fará o menor esforço para escutar tudo! Parece ‘pêra doce’, não é verdade? Eu sei pois já vi o sorriso no canto da boca de muitos de vocês! Mas não é – acredite – exigirá muito de seu sistema, e já vi centenas de audiófilos jogarem a culpa na gravação, para não conseguir o resultado exigido.
E também já vi inúmeras aberrações ao reproduzir este movimento, com os graves saltando sem definição à frente dos violinos e violas, como tiros.
Nos crescendos, em que os naipes de cordas se inflamam sutilmente, em sistemas com pouco arejamento, os violinos parecem ricochetear em paredes imaginárias claustrofóbicas!
Faça, amigo leitor, e tire essa dúvida a respeito do equilíbrio tonal de seu setup!
O soundstage do 5101 é de alto nível, com apresentação de focos e recortes precisos. Os planos também são retratados com excelente altura, largura e profundidade. Deixando o ouvinte extasiado com gravações que tenham captado perfeitamente a ambiência do local da gravação.
Suas texturas, graças ao excelente equilíbrio tonal, nos permitem apreciar toda paleta de cores de todos os instrumentos, e ainda entender o grau de intencionalidade de cada obra.
Seus transientes são muito precisos, e com ótimo senso de tempo e ritmo. A música jamais parecerá letárgica ou desinteressante.
Sua macrodinâmica possui expressividade e escala suficientes para nos fazer sorrir, quando esperamos sustos programados. Mas não será o suficiente aos que querem deslocamento de ar capaz de movimentar a bainha de suas calças!
Já a micro-dinâmica, graças ao seu ótimo silêncio de fundo, nos permite ouvir todos os mais sutis detalhes existentes na captação.
O corpo harmônico, pessoalmente eu gostaria que fosse um pouco mais coeso (mas ficou claro que a questão é o leitor e não o DAC, pois no nosso transporte externo, essa coesão veio sem limitações), mas não se pode ter tudo nessa faixa de preço, acredite.
Mas não pense que é ruim, pois não é! A questão é que ‘o problema do bom é o excelente’, e tivemos a chance de experimentar o excelente. Mas, sem essa referência, garanto que 90% de vocês se darão por satisfeito com este quesito, acreditem!
Mas nosso trabalho é esmiuçar, não é?
Quanto à materialização física do acontecimento musical, o 5101 o fará em todas as excelentes gravações, sem nenhum esforço adicional, para o seu deleite diário!
CONCLUSÃO
Eis um produto que pode atender a uma enorme legião de audiófilos que não estão dispostos a abrir mão de sua mídia física, mas sabem que inúmeras gravações daqui para frente somente em streamer poderão ser apreciadas.
Então, o jeito é investir o mínimo possível e extrair de um único pacote o melhor resultado possível. E, na linha de frente, esse produto é o Mark Levinson Nº 5101 – tenha certeza disso!
Seu nível de qualidade é excepcional e irá satisfazer 90% dos nossos leitores, dos mais exigentes aos mais céticos. Pois, como CD-Player ele além de tocar SACD e CD divinamente, possui um excelente DAC e streamer que se encontram no mesmo patamar dos existentes e de ponta oferecidos ao mercado.
Se a Mark Levinson melhorar sua plataforma streamer para deixar mais fácil e compatível com Android, tenho certeza que será uma opção ainda mais relevante.
Só posso indicar de maneira consistente, a todos que querem manter sua coleção de CDs e SACDs, para ouvirem atentamente o Nº 5101.
Pois ele vai lhe surpreender, como nos surpreendeu!
PONTOS POSITIVOS
Um ‘tudo-em-um’ de alto nível.
PONTOS NEGATIVOS
Sua plataforma de streaming pode ser aprimorada.
ESPECIFICAÇÕES
Formatos suportados | • SACD, CD, CD-RW, CD-R • FLAC, WAV, AIFF, OGG, MP3, AAC e WMA |
Saídas | • Balanceadas XLR • Single-ended RCA |
Entradas | Coaxial e ótica digital, USB-A (para drive externo) |
Controle | RS232, app Mark Levinson 5Kontrol, e streaming e transporte via app MusicLife |
Rede | Ethernet e Wi-Fi |
Voltagem de saída | • 3V RCA • 6V XLR |
Relação sinal/ruído | > 106 dB balanceado > 94 dB single-ended |
Dimensões (L x A x P) | 43.8 x 12.6 x 46.6 cm |
Peso | 16.3 kg |
SACD-PLAYER DAC & STREAMER MARK LEVINSON No.5101 (COMO STREAMER) | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 11,0 | |||
Soundstage | 10,0 | |||
Textura | 10,0 | |||
Transientes | 10,0 | |||
Dinâmica | 10,0 | |||
Corpo Harmônico | 10,0 | |||
Organicidade | 10,0 | |||
Musicalidade | 10,0 | |||
Total | 81,0 |
SACD-PLAYER DAC & STREAMER MARK LEVINSON No.5101 (COMO CD-PLAYER) | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 12,0 | |||
Soundstage | 12,0 | |||
Textura | 12,0 | |||
Transientes | 12,0 | |||
Dinâmica | 11,0 | |||
Corpo Harmônico | 11,0 | |||
Organicidade | 11,0 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 93,0 |
SACD-PLAYER DAC & STREAMER MARK LEVINSON No.5101 (COMO DAC) | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 12,0 | |||
Soundstage | 12,0 | |||
Textura | 12,0 | |||
Transientes | 12,0 | |||
Dinâmica | 11,0 | |||
Corpo Harmônico | 12,0 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 95,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
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