Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Conheço o engenheiro Ulisses Faggi desde antes dele fundar a Sunrise Lab, quando seu pai ainda era vivo e ele me chamou para ouvir uma caixa book que havia feito, e a ouvimos ao ar livre, ligada ao primeiro integrado da Krell que havia sido apresentado no Hi-End Show de 1996!
Ou seja, lá se vão 26 anos que acompanho a carreira deste brilhante projetista, e sempre vi em sua maneira de buscar soluções para problemas complexos, uma enorme humildade e aquela gana de jamais desistir enquanto não houvesse solução para aquela questão.
Como ele havia largado um seguro emprego em uma multinacional para realizar seu sonho de uma carreira solo, por mais de uma década o Ulisses foi técnico do segmento hi-end mais solicitado que conheci.
E esse período foi uma pós graduação de alto nível, pois ele consertou todos os equipamentos hi-end que você possa imaginar, e cada um desses equipamentos foram de enorme valia para ele ir construindo em sua mente circuitos, topologias e maneiras de ampliar e exercitar a ‘engenharia reversa’, para entender no âmago como determinados produtos soavam tão melhores que outros, muitas vezes muito mais caros e complexos.
Mas o Ulisses técnico sempre dedicou um tempo para que o Ulisses projetista existisse paralelamente, ainda que de maneira esporádica, mantendo viva sua grande paixão de criar produtos que tivessem sua identidade e pudesse mostrar ao mercado seus conceitos e virtudes.
Acompanhei como espectador ativo todo esse processo em ebulição, pois sempre fui solicitado a ouvir todos os protótipos feitos pela Sunrise Lab nos seus 20 anos.
E sempre dei muitos ‘pitacos’, propondo desafios cada vez maiores, pois percebi que o potencial a ser lapidado era gigantesco.
Quando ele me comunicou que pararia com a área de manutenção de equipamentos, incentivei ele a ir buscar a realização do seu sonho, pois a vida é tão rápida e não podemos frustrar nossas maiores ambições e desejos.
A partir dessa virada de página, o volume de novos produtos foi cada vez mais consistente, começando com o primeiro integrado, o Music Box, um CD-Player (lembram?), cabos, pré de phono, e o mercado aos poucos assimilou que a Sunrise Lab era um fabricante disposto a galgar um lugar no seleto nicho de produtos top.
Mas produzir algo nesse país é uma coisa tão ‘hercúlea’, que a maior parte da energia é gasta buscando alternativas e soluções, e não usados na evolução dos produtos. Porém, quando temos talento, determinação e conhecimento, não há como impedir que as coisas aconteçam.
E os últimos cinco anos têm sido auspiciosos para a Sunrise Lab, com novos produtos muito mais sofisticados e uma aceitação impressionante, o que propiciou planejamentos ainda mais desafiadores e uma meta a ser alcançada o mais rápido possível: desenvolver no Brasil um amplificador integrado capaz de ombrear com os melhores integrados existentes atualmente no mercado, tanto em termos de robustez como de performance.
Eu acompanhei como uma testemunha ocular e auditiva desde o nascedouro desse projeto e, a cada etapa vencida, e cada protótipo ouvido em nossa Sala de Referência, antes de devolver o produto com as minhas observações, me perguntava: qual o ‘teto’ desse lindo projeto?
Para o leitor ter uma ideia do preciosismo e o tempo gasto com esse projeto, só eu ouvi cinco versões e, na última versão, fui enfático em achar que estava perfeito! Mas todos os meus argumentos não convenceram, e o Ulisses continuou buscando um refinamento na performance do produto que já era de altíssimo nível!
Os meses passaram, a pandemia dificultava as visitas, e para complicar tive o problema que me levou a dez dias na UTI no final do ano.
Em março, o Ulisses me ligou dizendo que agora ele achava que finalmente havia chegado à topologia tão desejada, e me trouxe o produto acabado para escutar. Fiquei emocionado ao ouvir algumas faixas da Metodologia e perceber o grau de refinamento e folga que a Edição de Aniversário havia alcançado.
E ainda que ele tivesse características do penúltimo protótipo que havia tanto apreciado, eu tive que dar a mão à palmatória, pois o resultado geral excedeu em muito ao modelo anterior.
Os leitores que possuem as versões anteriores do V8, tomarão um susto ao ouvir que essa edição especial, muito pouco possui do DNA das gerações anteriores, e por muito tempo o Ulisses e o Juan discutiram internamente se este novo produto deveria ser considerado um V8, ou se deveria romper com a série tão consagrada que vendeu mais de 120 unidades (um fato inédito para qualquer fabricante de áudio hi-end pós 1996, vender mais de 100 unidades).
Completar 20 anos ajudou a acabar com essa dúvida, e acho que esse novo integrado irá consagrar os 20 anos de esforço e dedicação que culminaram com esse produto de nível tão superlativo!
Desculpe minha longa introdução, caro leitor, mas vamos compartilhar com vocês um fato inédito e que também diz respeito a essa revista, afinal o V8 Edição de Aniversário, foi o primeiro integrado testado a bater os 100 pontos!
Ou seja, estamos falando de um integrado genuinamente Estado da Arte de nível Superlativo, e para nossa surpresa ele é feito aqui e custa menos de 6 mil dólares! O que certamente fará uma dança das cadeiras enorme no mercado, principalmente para todos audiófilos e melômanos que sempre acharam que ter uma eletrônica Estado da Arte Superlativa era apenas para os abonados ou herdeiros de grandes fortunas!
Utilizando a frase da campanha de Barack Obama: “Sim você pode”.
Mas como um produto ‘Made in Brazil’ conseguiu essa façanha? Vamos lá, tentarei explicar de forma sucinta e objetiva as sacadas geniais do Ulisses para atingir esse patamar de performance tão refinada e sedutora.
Por fora, o novo V8 Edição de Aniversário possui um novo painel frontal moderno, e com linhas mais suaves e elegantes, sem deixar sua robustez comprovada em 4 gerações anteriores. Agora os novos pés são de alumínio maciço, além de um novo controle remoto em alumínio usinado.
Outra mudança é que a tampa superior agora é em espesso alumínio escovado, cobrindo os dissipadores laterais, além de toda a reestilização no painel traseiro, que ficou com uma melhor disposição das entradas, além de uma segunda entrada XLR.
A entrada IEC é mais robusta e os terminais de caixa são em cobre maciço banhados a ouro. Mas não pense que foram essas mudanças ‘cosméticas’ que elevaram o patamar de performance, pois isso não faria milagre algum.
É ‘debaixo do capô’ que estão as substanciais modificações. Um novo sistema de amplificação que utiliza uma nova tecnologia desenvolvida pela Sunrise Lab, e batizada de APS, que confere maior transparência, naturalidade e musicalidade com extrema compatibilidade com as enormes variações de rede elétrica e de caixas – até então difíceis de serem solucionadas.
Também foi desenvolvido um novo sistema de correção térmica, conferindo um tempo de pré-aquecimento menor, e uma nova etapa de pré-amplificação com fonte de alimentação SSPS, capaz de reduzir em 300 dBs por linha positiva/negativa. E, por último, um novo transformador que possibilita a seleção manual interna da rede elétrica para praticamente qualquer país com 100, 110, 117, 127, 220,230 volts, e 50/60 Hz.
Mas afinal, Andrette, o que é APS?
Um dia a neurociência vai descobrir como os engenheiros denominam suas descobertas, e como as batizam com letras e
números, rs.
APS: ADAPTATIVE POWER SYSTEM
O Ulisses, desde a versão Mk3, se debruça com um problema recorrente que prejudica todos os powers, que é a variação de voltagem na rede elétrica. Esse fator é tão determinante na performance de qualquer amplificador, que todos já vivemos com uma reprodução sem energia em redes abaixo do especificado pelo fabricante, e uma reprodução nervosa e com timbres estranhos em redes acima do nominal. O mesmo ocorre nas frequências de rede de 50 Hz, que tendem a tocar com um timbre pior quando ligadas em 60 Hz, e o inverso (aparelhos de 60Hz tocarem sem vida em 50Hz).
Em sua pesquisa, o Ulisses percebeu que é possível medir variações de até 15 volts em uma instalação em questão de poucas horas, culminando em performances dos amplificadores muito abaixo de seu potencial.
Por dois anos a Sunrise analisou a situação e descartou de imediato a opção de regulagem ou regeneração (por criar outros problemas, também audíveis). E então ele desenvolveu o sistema APS.
Com esse sistema, o V8 Edição de Aniversário corrige os problemas de rede elétrica em tempo real, funcionando como um ‘computador analógico’, monitorando dados de temperatura, voltagem e corrente em vários pontos do circuito, e adapta o circuito a cada situação específica de cada casa e cada instalação.
Pois ele percebeu que, quando um amplificador reproduz um sinal cujo som consome muita energia de suas fontes de alimentação, estas instantaneamente reagem baixando a tensão consideravelmente, que se traduz em uma reprodução mais dura, menos relaxada e natural.
E você pode em questão de segundos, ao colocar suas referências auditivas, constatar o quanto essa música soará mais natural, com maior silêncio de fundo e relaxada.
Eu fiz uma busca por cinco meses para tentar descobrir se algum outro fabricante teve essa brilhante sacada, e pelo que consegui descobrir, jamais nenhum projetista seguiu essa linha de raciocínio até o momento!
E o que é SSPS?
SUPER SILENT POWER SUPPLY
Para ser usada junto com a topologia APS, a Sunrise desenvolveu uma nova topologia para a pré-amplificação. É uma nova fonte de alimentação que conta com seis fontes de corrente de extrema linearidade, e um sistema ativo de auto-cancelamento de ruído.
Cada etapa de filtragem possui o exato amortecimento para os circuitos subsequentes, para que possam funcionar totalmente equilibradas tanto no equilíbrio tonal como na energia. As seis fontes de alimentação conseguem atenuar o ruído da rede em até 300 dB!
Obviamente esse silêncio de fundo vai melhorar audivelmente a resposta de microdinâmica, transparência e detalhes, como a ambiência e planos, principalmente em gravações com inúmeros instrumentos.
O Ulisses foi talvez o único projetista que ‘abraçou’ nossa Metodologia desde que ela foi lançada em 1999. E passou a utilizá-la sistematicamente em suas buscas e estudos. Ele compreendeu de maneira enfática a importância do equilíbrio tonal, e não poupou esforços a cada novo projeto em ir ampliando a qualidade em seus produtos deste quesito.
Mas o patamar alcançado pelo novo V8 é impressionante e, ao mesmo tempo, assustador, pois mesmo os integrados com 98/99 neste quesito, ficam audivelmente comendo poeira! E estamos falando de alguns integrados custando de duas a quatro vezes mais que o V8!
Então, meu amigo, se sua busca em primeiro lugar é pelo melhor equilíbrio tonal possível, sua busca acabou!
Os agudos tem a maior extensão já ouvida em todos os integrados que testamos nos 26 anos da revista, com um decaimento maravilhoso e natural. O corpo dos agudos, assim como a velocidade, são exemplos a serem alcançados! A região média possui a beleza de soar sempre natural e fidedigna ao que foi captado, jamais tendendo a nenhum lado (mais frio ou mais quente). E os graves possuem energia, deslocamento de ar, peso, mas não soam tensos ou nervosos, se comportando unicamente como a gravação foi realizada.
O soundstage tem finesse, com planos consistentes, sem a péssima sensação de frontalização nos crescendos dinâmicos, assim como foco e recorte, cirúrgicos.
Como escrevi acima, a ambiência é digna de nota, possibilitando o ouvinte ter uma ideia exata do ambiente em que a gravação foi realizada.
As texturas são tão ricas que você pode se perder avaliando as intencionalidades e detalhes dos instrumentos e dos músicos.
E os transientes te farão acompanhar cada compasso com os pés, automaticamente, graças à precisão e ao tempo.
Já falei que graças aos 300 dB na eliminação de ruído de rede, a microdinâmica causará sonoros sustos. E a macrodinâmica, idem!
Soberba a apresentação da Sagração da Primavera de Stravinsky, e o Concerto para Dois Pianos e Orquestra de Bartók. Audições com tanto prazer que realmente nos leva a questionar se ainda existe a necessidade de pré e power.
E o corpo harmônico senhores? Esplêndida! A reprodução deste quesito com tamanha precisão só havia escutado em prés e powers Estado da Arte!
E chegamos à materialização do acontecimento musical, a grande ‘mágica’ do hi-end, que nem o sexo feminino fica indiferente!
O V8 edição de aniversário está no mesmo patamar dos melhores prés e powers, e deveria servir como Referência à concorrência, neste quesito.
Ouvi em silêncio absoluto, Ella e Armstrong se materializarem na minha frente por 38 minutos!
Me responda qual o grau de musicalidade deste integrado? Depende exclusivamente de você, amigo leitor, e como são suas referências de música real. Pois se tem algo que o V8 Edição de Aniversário não nos lembra é que estamos ouvindo reprodução eletrônica – pelo contrário, no segundo compasso, seu cérebro já irá lhe agradecer por vocês terem finalmente saído de casa para escutar música ao vivo, não amplificada.
Você viu que não descrevi o sistema utilizado? Não o fiz por um único motivo: eu apenas desliguei nosso pré e power de referência e liguei o V8, por um mês, na nossa caixa de Referência, e nossas fontes de Referência. E posso garantir que viveria feliz pelo resto de minha existência com o setup dessa maneira!
Aliás, eu fiquei com o V8 Edição de Aniversário – e ele será o amplificador utilizado para fechar as notas de todos os produtos até 100 pontos!
Preciso escrever algo a mais?
PONTOS POSITIVOS
O primeiro integrado na história da revista a romper os 100 pontos!
PONTOS NEGATIVOS
Absolutamente nenhum.
ESPECIFICAÇÕES
Entradas | 3 + 1 RCA (sendo 1 direta), 2 XLR |
Impedância de entrada | 20 kOhm (RCA), 20 + 20 kOhm (XLR) |
Saídas | 2 pares de terminais de caixas |
Potência Contínua | • a 8 Ohm: 150 W • a 4 Ohm: 300 W |
Potência de Pico | • a 8 Ohm: 187 W • a 4 Ohm: 343 W |
Resposta de frequência | 2,6 Hz a 150 kHz (-3 dB, 8 Ohm, 50 WRMS) |
Ganho da etapa potência | 26 dB |
Distorção | 0,1% a potência nominal, 8 Ohms |
Headroom dinâmico | 1,35 dB |
Fator de amortecimento | 1150 |
Slew rate | 80 V/us |
Nível de ruído | <-128 dB (50% do ganho) |
Dimensões (L x A x P) | 445 x 105 x 332 mm |
Peso | 17 kg |
AMPLIFICADOR INTEGRADO SUNRISE LAB V8 ANNIVERSARY EDITION | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 13,0 | |||
Soundstage | 12,0 | |||
Textura | 13,0 | |||
Transientes | 13,0 | |||
Dinâmica | 12,0 | |||
Corpo Harmônico | 12,0 | |||
Organicidade | 13,0 | |||
Musicalidade | 13,0 | |||
Total | 101,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
Sunrise Lab
ulisses@sunriselab.com.br
(11) 5594.8172
R$ 29.900
1 Comments
Primeiramente agradecemos a Deus pela sua saúde (em ter passado pela experiência hospitalar) e prla sua existência Andrette!!!!
Você é um cara sensacional que sabe transmitir a emoção de “ESCUTAR”.
Por enquanto eu nunca ouvi o V8, mas em breve ei de escutar. Inclusive prometi ao Juan uma visita na Sunrise. Lembrando que sou vizinho de bairro do Ulisses e vou aproveitar e mandar uma mensagem parabenizando pelo novo projeto, que com certeza fará muito sucesso e trará muita satisfação aos apaixonados por audição como eu.
Muito obrigado por mais essa matéria incrível!!
Fortíssimo abraço e parabéns pela revista….eu a acompanho a anos….